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a invenção do conceito de barroco literário e sua ... - pucrs

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local uma vez que há nesse processo <strong>de</strong> transferência cultural um choque <strong>de</strong> culturas<br />

fazen<strong>do</strong> que as teorias transferidas <strong>de</strong> um território a outro se <strong>de</strong>senvolvam<br />

diferentemente.<br />

O interesse atual pelo <strong>conceito</strong> se justifica certamente porque o processo <strong>de</strong><br />

colonização da América Portuguesa, assim como da América Latina 6 , foi <strong>barroco</strong>, o<br />

<strong>conceito</strong> ajuda a explicar o nosso processo <strong>de</strong> formação como povo e como nação e a<br />

enten<strong>de</strong>r os rumos toma<strong>do</strong>s pela nossa literatura <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse amplo processo <strong>de</strong><br />

transferência cultural.<br />

Alexandre Fernan<strong>de</strong>s Corrêa vai mais longe, ele aponta a expressão popular<br />

barroca como símbolo da nossa mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>:<br />

Encontra-se a plasticida<strong>de</strong> da expressão popular barroca a to<strong>do</strong> o<br />

momento em varia<strong>do</strong>s exemplos: na <strong>de</strong>coração <strong>do</strong>s interiores das<br />

igrejas e capelas <strong>do</strong> catolicismo colonial, na música popular sertaneja,<br />

caipira, crioula e cabocla, nos movimentos <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> hip-hope no<br />

rap, na arquitetura popular criativa <strong>de</strong> bricolages ousa<strong>do</strong>s e, mais<br />

especialmente, no tom espetacular <strong>do</strong>s rituais religiosos e na pompa<br />

dionisíaca das festivida<strong>de</strong>s carnavalescas e juninas (CORRÊA, 2009<br />

:29-30)<br />

Dito <strong>de</strong> outra forma, mesmo sen<strong>do</strong> o <strong>barroco</strong> um programa <strong>de</strong> pensamento e<br />

<strong>de</strong> ação, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social e cultural brasileira se diferencia da portuguesa pelo seu<br />

caráter compósito. O <strong>barroco</strong> <strong>literário</strong> brasileiro exprime uma nova representação<br />

coletiva, uma linguagem híbrida 7 que leva em conta o surgimento <strong>de</strong> uma nova cultura,<br />

um “novo idioma” 8 : o português <strong>do</strong> Brasil. Portanto, o <strong>barroco</strong> brasileiro é resulta<strong>do</strong><br />

das imagens dialéticas, <strong>do</strong> conflito que se estabelece entre aquilo que é importan<strong>do</strong> <strong>de</strong><br />

Portugal e o novo meio autóctone.<br />

A <strong>de</strong>speito das ambigüida<strong>de</strong>s e incertezas quanto à extensão, avaliação e<br />

conteú<strong>do</strong> preciso <strong>do</strong> termo <strong>barroco</strong>, ele tem <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> e continuará a <strong>de</strong>sempenhar<br />

importante função. Revisan<strong>do</strong>-se o <strong>conceito</strong> <strong>de</strong> <strong>barroco</strong> <strong>literário</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> panorama da<br />

História da Literária Luso-brasileira e analisan<strong>do</strong> seus <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramentos buscamos, nesta<br />

6 Para Janice Theo<strong>do</strong>ro, o processo <strong>de</strong> colonização da América Latina é <strong>barroco</strong>. Ler a esse propósito:<br />

THEODORO, Janice. América barroca: temas e variações. São Paulo: Ed. Nova Fronteira, 1992.<br />

7 As obras <strong>de</strong> autores como Eucli<strong>de</strong>s da Cunha e Jorge Ama<strong>do</strong> expressam a nossa linguagem híbrida, o<br />

português <strong>do</strong> Brasil, são a marca da sobrevivência <strong>de</strong> uma escritura barroca em nossa Literatura. Po<strong>de</strong>mos<br />

citar alguns exemplos: O segun<strong>do</strong> Fausto <strong>de</strong> Goethe é uma das obras mais barrocas <strong>de</strong> todas as<br />

literaturas; as Iluminações <strong>de</strong> Rimbaud, como obra-prima da poesia barroca, os cantos <strong>de</strong> Mal<strong>do</strong>ror <strong>de</strong><br />

Lautréamont,e a inesquecível prosa <strong>de</strong> Marcel Proust como prosa barroca, sem nos esquecermos <strong>de</strong><br />

Shakespeare em seu ser ou não ser, uma obra que traz a angústia sem fim e o vazio fundamental que nos<br />

funda como seres humanos.<br />

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