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II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

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normativo capaz de desencadear-se de uma contada estória, marca o final da novela<br />

e confere-lhe o verdadeiro sentido. (Idem, p.91-2 – grifos nossos)<br />

Em “Campo Geral”, contando apenas oito anos, Miguilim convive com a<br />

melancolia da mãe, o comportamento violento do pai e o envolvimento extraconjugal, que<br />

ele é capaz de intuir, da mãe com o tio. Este último acaba por assumir o papel paterno<br />

diante de Miguilim, na medida em que com ele compartilha experiências as mais diversas,<br />

desde a primeira viagem, para a crisma no Sucurijú, até a armação de arapucas para<br />

passarinhos, para logo em seguida serem libertados, conversas sobre saudade e outros<br />

sentimentos.<br />

Apesar da pouca idade, o menino ainda tem de enfrentar situações trágicas, como a<br />

morte de Dito, o irmão que tanto admira e com quem tem mais afinidade, o assassinato de<br />

Luisaltino, trabalhador da fazenda, pelo pai, por motivo de ciúme, e o suicídio deste. Para<br />

lidar com tal sorte de acontecimentos e com outros não tão graves, mas que exigem uma<br />

postura, uma tomada de atitude, ou que provocam um profundo desagrado, para vencer seus<br />

medos, angústias e compreender a si mesmo, o outro e o mundo, Miguilim recorre às<br />

estórias. Além da necessidade de ouvi-las, o menino quer e precisa inventá-las. Por meio da<br />

ficção, ele pode reelaborar os fatos para enfim buscar compreendê-los e, se for o caso,<br />

aceitá-los.<br />

Em conhecida entrevista a Gunter Lorenz, em 1965, declarou o autor:<br />

Nós, os homens do sertão, somos fabulistas por natureza. Está no nosso sangue<br />

narrar estórias; já no berço recebemos esse dom para toda a vida. Desde pequenos,<br />

estamos constantemente escutando as narrativas multicoloridas dos velhos, os<br />

contos e lendas, e também nos criamos num mundo que às vezes pode se<br />

assemelhar a uma lenda cruel. Deste modo a gente se habitua, e narrar estórias corre<br />

por nossas veias e penetra em nosso corpo, em nossa alma, porque o sertão é a alma<br />

de seus homens. Assim, não é de se estranhar que a gente comece desde muito<br />

jovem. Deus meu! No sertão, o que pode uma pessoa fazer do seu tempo livre a não<br />

ser contar estórias? A única diferença é simplesmente que eu, em vez de contá-las,<br />

escrevia. (COUTINHO, 1991, p.69)<br />

À parte o que pode haver de autobiográfico em “Campo Geral”, como podemos<br />

depreender das palavras de Vicente Guimarães em Joãozito. Infância de Guimarães Rosa

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