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II Seminário Brasileiro Livro e História Editorial

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(1972) 3 , e da predileção do escritor pela estória de Miguilim, conforme relata à prima em<br />

entrevista, o hábito da contação e fabulação de estórias pelo sertanejo é reconhecido pelo<br />

autor como dom, adquirido e reforçado na infância, que se leva por toda a vida. O “menino<br />

poeta” 4 , como Henriqueta Lisboa apropriadamente se refere a Miguilim, faz sua<br />

aprendizagem dos mistérios do homem e da vida, questionando, refletindo e amadurecendo<br />

também na medida em que reelabora suas incertezas e angústias em arte, em ficção.<br />

Em “Uma estória de amor”, encontramos Manuelzão, perto dos sessenta anos de<br />

idade, especulando sobre os (des)acertos de sua vida, em meio à festa de “fundação” da<br />

Samarra, fazenda de gado que chefiava e na qual “valia como único dono visível, ali o<br />

respeitavam” (ROSA, 1956, p.144), mas que não lhe pertencia de fato.<br />

Antes de se estabalecer naquelas terras, sua vida era “sem pique nem pouso” (Idem,<br />

p.145), de trabalho árduo e contínuo, sem tempo para amar e ser amado. Sente-se só e<br />

resolve levar para morar com ele a mãe, Dona Quilina, já velhinha, que morre pouco tempo<br />

depois, e, em seguida, o filho, Adelço, com quem praticamente até então nenhum contato<br />

tivera. Ganha, assim, uma família já pronta, a nora Leonísia e sete netos. Nessa família<br />

faltava, porém, a esposa. A nora ocupa uma espécie de entre-lugar no coração da<br />

personagem e no dia-a-dia da fazenda. Manuelzão a respeita, embora julgue o sentimento<br />

por parte do filho um “amuo de amor” 5 , nela idealizando a companheira perfeita. Na<br />

fazenda, Leonísia faz as vezes de dona da casa, até por ser, de fato, a única mulher da<br />

família.<br />

Mas o protagonista sente fortes dores no peito, falta de ar, cansaço e fraqueza,<br />

desconforto para caminhar dado um “machucão num pé” (Idem, p.142). Percebe enfim que<br />

a saúde começa a fraquejar e que não lhe resta muito tempo para pôr termo a seu projeto de<br />

comprar a Samarra, tornar-se bem sucedido e afamado. Depois de uma vida dedicada ao<br />

trabalho, de costas para assuntos do coração, “De todo não queria parar, não quereria<br />

suspeitar em sua natureza própria um anúncio de desando, o desmancho, no ferro do<br />

3 “A alegoria do menino usando os óculos do doutor, colega em miopia, aproveitou o escritor para descrevê-la<br />

em cena apresentada no conto “Campo Geral”. Quase toda verdadeira, existida mesmo, exceção feita de<br />

alguns nomes.” (GUIMARÃES, 1972, p.16)<br />

4 LISBOA, 1991, p.174<br />

5 “Leonísia era linda sempre, era a bondade formosa. O Adelço merecia uma mulher assim? Seu cismado,<br />

soturno caladão, ele encabruava por ela cobiças de exagero, um amuo de amor, a ela com todas as grandes<br />

mãos se agarrava. Nem a gente podia aquilo moderar, não se podia repreender, com censuras e indiretas, pois<br />

não era a mulher dele?” (ROSA, 1956, p.176)

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