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LITÍASE BILIAR EM CRIANÇA APÓS O USO DE CEFTRIAXONA

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RESUMO<br />

<strong>LITÍASE</strong> <strong>BILIAR</strong> <strong>EM</strong> <strong>CRIANÇA</strong> <strong>APÓS</strong> O <strong>USO</strong> <strong>DE</strong> <strong>CEFTRIAXONA</strong>:<br />

RELATO <strong>DE</strong> CASO<br />

Gallstone Disease in the Child after the use of Ceftriaxone:<br />

Case Report<br />

Djalmir Lacerda I , Waldemar Naves do Amaral II<br />

O objetivo deste artigo é relatar a evolução clínica e ultrassonográfica em dois pacientes<br />

que tiveram litíase biliar após o tratamento com ceftriaxona e a importância do exame de<br />

ultrassonografia na detecção deste efeito colateral. Ceftriaxona é uma cefalosporina de 3ª<br />

geração que se tornou comumente usada em pacientes pediátricos com infecções graves,<br />

devido às suas características farmacológicas, porém pode causar a deposição de sedimento<br />

biliar, já que a eliminação do fármaco faz-se 60-70% por via renal e os restantes 30-40%<br />

por via biliar, o que favorece a formação de litíase biliar.<br />

PALAVRAS CHAVE: Ceftriaxona, litíase biliar, ultrassonografia<br />

ABSTRACT<br />

The aim of this paper is to report the clinical and ultrasound in two patients who had<br />

gallstones after treatment with ceftriaxone and the importance of screening ultrasound in<br />

the detection of this side effect. Ceftriaxone is a 3rd generation cephalosporin that has<br />

become commonly used in pediatric patients with serious infections due to its<br />

pharmacological characteristics, but may cause the deposition of sediment bile, since the<br />

elimination of the drug makes up 60-70% renally and the remaining 30-40% via bile,<br />

which favors the formation of gallstones<br />

KEYWORDS: Ceftriaxone, Gallstone, Ultrasound<br />

I Pós-Graduanda (Especialização Latu Sensu) em Ultrassonografia Geral – Schola Fértile / PUC Goiás;<br />

Médica, Clínica Geral.<br />

II Professor Titular do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade<br />

Federal de Goiás, Vice Presidente nacional da Sociedade Brasileira de Ultrassonografia, Mestre IPTESP-<br />

UFG, Doutor pelo IPTESP-UFG, Presidente Nacional da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.<br />

1


INTRODUÇÃO<br />

Ceftriaxona um antibiótico semissintético, tornou-se comumente usado em<br />

pacientes pediátricos com infecções graves, devido às suas características farmacológicas<br />

tais como: espectro amplo, um intervalo de administração e boa penetração no líquido<br />

cerebrospinal. Esse antibiótico é geralmente bem tolerado, mas os efeitos adversos foram<br />

relatados em aproximadamente 10% dos pacientes que receberam a droga necessitando<br />

apenas de 2% na sua interrupção.<br />

A ceftriaxona pode causar a deposição de sedimento biliar, com sintomatologia,<br />

como consta em diversos trabalhos da literatura médica. Porém, isso pode passar<br />

despercebido pelo médico. A utilização dessa cefalosporina de 3ª geração em crianças tem<br />

sido frequente devido a sua meia-vida biológica prolongada, permitindo o uso de uma dose<br />

diária única. 4<br />

A Litíase biliar origina-se do depósito de sais biliares especialmente na topografia<br />

da vesícula. Tem correlação frequentemente definitiva, e por esta razão o ato operatório<br />

com a retirada desse órgão é a terapia mais praticada. No entanto, existem condições novas<br />

onde a evolução da “pedra” é temporária, podendo desaparecer com preservação do<br />

referido órgão.<br />

O objetivo desse artigo é relatar a evolução clínica e ultrassonográfica em dois<br />

pacientes que tiveram litíase biliar após o tratamento com ceftriaxona e a importância do<br />

exame de ultrassonografia na detecção desse efeito colateral.<br />

RELATO <strong>DE</strong> CASO<br />

Caso nº 1:<br />

M.E.R.S, 4 anos e 11 meses, branca, sexo feminino, foi internada em 03 de<br />

setembro de 2009, com quadro clínico compatível à pneumonia; na ocasião a paciente foi<br />

medicada com ceftriaxona IM por dois dias. No 2º dia, iniciou com quadro de dores<br />

abdominais e vômitos que foram medicados com sintomáticos, obtendo melhora. No dia 05<br />

de setembro de 2009 a menor recebeu alta hospitalar. Em casa a mesma voltou a apresentar<br />

dores abdominais e vômitos e foi novamente levada ao hospital. O médico solicitou uma<br />

ultrassonografia abdominal que revelou imagens ecogênicas com sombra acústica na<br />

2


vesícula biliar. A hipótese diagnóstica foi de pseudolitíase biliar. A paciente foi novamente<br />

medicada sintomaticamente, com melhora.<br />

O Exame ultrassonográfico de controle realizado em 21 de setembro de 2009<br />

revelou vesícula biliar sem cálculos. Paciente assintomática no momento do exame.<br />

Figura 2 - USG do Abdome<br />

Superior: Vesícula Biliar<br />

Normal<br />

Caso nº 2:<br />

Figura 1 - USG do Abdome<br />

Superior: Calculose Biliar<br />

P.H.M.S., 4 anos, branco, sexo masculino, fez tratamento para meningite bacteriana<br />

com ceftriaxona IM por 10 dias em outubro do ano de 2009. Após 15 dias da alta<br />

hospitalar, iniciou quadro de dor abdominal e vômitos, sendo novamente internado. Na<br />

ocasião, realizou-se ultrassonografia abdominal que revelou inúmeras pequenas imagens<br />

ecogênicas com sombra acústica. Iniciado tratamento sintomático, houve melhora do<br />

paciente que recebeu alta hospitalar após 2 dias.<br />

3


O exame ultrassonográfico de controle realizado em 24 de fevereiro de 2010<br />

mostrou desaparecimento das imagens ecogênicas da vesícula biliar. Paciente<br />

assintomático no momento do exame.<br />

Figura 4 - USG do Abdome:<br />

Vesicula Biliar Normal<br />

DISCUSSÃO<br />

Figura 3 - USG do Abdome<br />

Superior: Calculose Biliar<br />

Paciente com litíase transitória ou pseudolitíase é assintomático, mas uma pequena<br />

proporção pode desenvolver dor no quadrante superior direito, náuseas, vômitos e mesmo<br />

colecistite. O exame ultrassonográfico mostra muitas partículas ecogênicas na vesícula<br />

biliar que não podem ser diferenciadas dos cálculos de outra natureza. Existem relatos de<br />

intervenções cirúrgicas nestes casos, que são desnecessárias. 4<br />

4


A ocorrência da litíase biliar como uma complicação do uso do ceftriaxona foi<br />

descrita pela primeira vez em um paciente de 18 anos, portador de doença granulomatosa<br />

crônica. A partir daí, vários relatos têm sido publicados com esse tipo de complicação,<br />

tanto em crianças com em adultos. 5<br />

Desde a introdução do ceftriaxone no mercado, em 1984, a sua prescrição tem<br />

aumentado na população pediátrica. Diversos estudos associam o uso desse fármaco ao<br />

aparecimento de colelitíase. As séries mostram que entre 12% a 45% dos doentes tratados<br />

com a cefalosporina desenvolve cálculos biliares. Esse efeito é mais frequente nas crianças,<br />

pois recebem doses mais elevadas que os adultos. 2<br />

Diferente da maioria das outras cefalosporinas, a ceftriaxona possui uma alta<br />

afinidade pelas proteínas, porém, o deslocamento da bilirrubina dos sítios de ligação<br />

protéicos é controverso. A longa meia-vida da ceftriaxona, aproximadamente 6 a 9 horas<br />

nos adultos e 5 a 18 horas em crianças, possibilita a administração da droga em apenas 1<br />

ou 2 doses diárias. 3<br />

A eliminação do fármaco faz-se 60-70% por via renal e os restantes 30-40% por via<br />

biliar. A concentração na vesícula biliar pode exceder a concentração sérica e a formação<br />

do cálculo deve-se à grande afinidade do antibiótico pelo cálcio, que por sua vez forma sais<br />

que podem precipitar. Os cálculos aparecem, geralmente, entre o 4º e o 22º dia, e<br />

desaparecem espontaneamente, em média 15 dias (pode chegar aos 2 meses) após a<br />

suspensão do fármaco, recebendo por isso a designação de pseudocolelitíase. 2<br />

As complicações biliares têm sido raramente descritas em pacientes tratados com<br />

esse antibiótico, mas há relatos de sintomas clínicos e de complicações cirúrgicas, daí a<br />

importância da avaliação ultrassonográfica durante e após o uso de ceftriaxona. 3<br />

O uso de ceftriaxona frequentemente está associado ao aparecimento de imagens<br />

ecográficas sugestivas de litíase biliar que são geralmente assintomáticas e que<br />

normalmente desaparecem após 02 meses do termino da medicação, como aconteceu nos<br />

dois casos relatados nesse artigo. Porém, em outras vezes o uso do medicamento pode vir<br />

acompanhado de cólica biliar que deve ser reconhecida a fim de evitar cirurgias<br />

desnecessárias.<br />

5


CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />

O diagnóstico ecográfico da litíase biliar associado alterações do metabolismo e<br />

excreção de medicamentos permitem a conduta expectante de sucesso na pseudolitíase<br />

biliar.<br />

6


REFERÊNCIAS<br />

1. Babulal J. Colelitíase e Coledocolitíase em Doente Jovem: Revisão Bibliográfica.<br />

2009; tese de mestrado. UP: Porto, Portugal.<br />

2. Bustos BR, Barrientos OL, Fernández RP. Pseudolitiasis biliar inducida por<br />

ceftriaxona: a case report. Rev. chil. pediatr. 2001; 72(1): 40-44.<br />

3. Costa D L, Barbosa MDO, Barbosa MTO. Colelitíase associada ao uso de<br />

ceftriaxona. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 2005; 38(6): 521-523<br />

4. Machado AR. Pseudolitíase biliar após terapia por ceftriaxona: relato de caso.<br />

Pediatria (São Paulo) 2001;23(4):346-8<br />

5. Rebello CM, Rossi FS, Troster EJ, Ramos JLA, Leone CR. Calculose biliar<br />

associada com o uso de ceftriaxone em recém-nascidos. Relato de dois casos.<br />

Jornal de Pediatria 1994;70(2): 113-14<br />

7

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