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Açúcar" - José Lins <strong>do</strong> Rego - e o ponto de vista de Paulo Pra<strong>do</strong> não pode ser fàcilmente desmenti<strong>do</strong>, num<br />
romancista que em geral tem si<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong> sob o signa da memória e da imaginação, ou <strong>do</strong> regionalismo, tal<br />
como o faz, <strong>por</strong> exemplo, o crítica José Aderal<strong>do</strong> Castelo, no seu estu<strong>do</strong> sobre o cria<strong>do</strong>r de Fogo Morto. E sua<br />
infância livre de Menino de Engenho, título <strong>do</strong> seu primeira <strong>livro</strong>, marca a etapa inicial, no adulto, dessa<br />
procura das raízes perdidas no tempo, dessa reconstituição de um mun<strong>do</strong> em contínua fuga. Foi breve, <strong>por</strong> sinal,<br />
a liberdade de infância, logo sofreada com as primeiras letras no Instituto Nossa Senhora <strong>do</strong> Carmo, em<br />
Itabaiana, e a seguir, em 1912, com os estu<strong>do</strong>s ginasiais no Colégio Diocesano Pio X, na capital <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,<br />
onde também começam a revelar-se seus pen<strong>do</strong>res literários, seus gostos iniciais de leitor. É de 1916, <strong>por</strong><br />
exemplo, o primeiro contacto com O Ateneu, de Raul Pompéia, obra <strong>por</strong> sinal que deve ter ti<strong>do</strong> em seu espírito<br />
profunda repercussão, dada a natureza <strong>do</strong> tema que aborda. Em 1918, aos 17 anos <strong>por</strong>tanto, José Lins trava<br />
conhecimento com Macha<strong>do</strong> de Assis, através <strong>do</strong> Dom Casmurro, e publica seu primeiro artigo, ten<strong>do</strong> como<br />
tema Rui Barbosa.<br />
Nesse mesmo ano faz amizade com Olívio Montenegro, que lhe revela as obras de Rousseau e Stendhal. Dois<br />
anos depois, matriculan<strong>do</strong>-se na Faculdade de Direito <strong>do</strong> Recife, José Lins amplia seus contactos com o meio<br />
literário pernambucano, tornan<strong>do</strong>-se amigo de José América de Almeida, Osório Borba, Luís Delga<strong>do</strong>, Aníbal<br />
Fernandes e outros.<br />
Gilberto Freyre, voltan<strong>do</strong> em 1923 de uma longa tem<strong>por</strong>ada de estu<strong>do</strong>s universitários nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s,<br />
marcou uma nova fase de influências no espírito de José Lins, através das idéias novas que o mestre de Casa-<br />
Grande & Senzala já então defendia sobre a formação social brasileira. Além disso, através desse convívio<br />
intelectual ampliou-se o campo de leituras <strong>do</strong> futuro romancista, que passou a interessar-se também pelo vasto<br />
mun<strong>do</strong> da literatura inglesa. Em 1923 José Lins começa a assinar os primeiros trabalhos revela<strong>do</strong>res de<br />
autêntica vocação de escritor, publican<strong>do</strong>-os no semanário de crítica política e literária Dom Casmurro, funda<strong>do</strong><br />
<strong>por</strong> Osório Borba, e recebe afinal o diploma de bacharel em Direito. Aos 22 anos, <strong>por</strong>tanto, estava José Lins <strong>do</strong><br />
Rego diante de uma nova vida, alterada um ano depois pelo casamento com a filha <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>r Massa, Filomena<br />
Massa (Naná). Desse casamento adviriam três filhas: Maria Elisabeth, Maria da Glória e Maria Christina.<br />
Bacharel, com leitura intensa e sonhos acalenta<strong>do</strong>s de uma literatura própria, José Lins vai agora experimentar a<br />
magistratura. Em 1925 é nomea<strong>do</strong> promotor público em Manhuaçu, Minas Gerais, onde entretanto não se<br />
demora. O jornalismo e a literatura já se haviam imposto em sua formação intelectual, e José Lins não se sentia<br />
adapta<strong>do</strong> aos deveres que o exercício profissional da justiça lhe impunha. Por essa época suas leituras favoritas<br />
eram Thomas Hardy e Marcel Proust, a que se acrescentariam naturalmente alguns nomes novos <strong>do</strong><br />
modernismo já vitorioso, embora ainda meio confina<strong>do</strong> ao ambiente paulistano.<br />
Desistin<strong>do</strong> afinal de fazer carreira na magistratura, Lins <strong>do</strong> Rego transferiu-se em 1926 para a capital de<br />
Alagoas, onde passa a exercer as funções de fiscal de bancos.<br />
Em Maceió, passa a fazer parte de um grupo, o grupo de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Aurélio<br />
Buarque de Holanda, Jorge de Lima, Valdemar Cavalcanti, Aloísio Branco, Carlos Paurílio e outros. E <strong>foi</strong> ainda<br />
em Maceió que Lins <strong>do</strong> Rego escreveu seu primeiro <strong>livro</strong> - Menino de Engenho*- chave de uma obra que se<br />
revelou de im<strong>por</strong>tância fundamental na história <strong>do</strong> moderno romance brasileiro. Éle mesmo, certa vez, em<br />
artigo de jornal, contou alguma cousa a respeito desse <strong>livro</strong> de estréia:<br />
"O <strong>livro</strong> <strong>foi</strong> ofereci<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s os editôres nacionais, e de to<strong>do</strong>s recebeu um não seco, quan<strong>do</strong> não me deram o<br />
cala<strong>do</strong> como resposta. Só mais tarde uma editora desconhecida, com dinheiro <strong>do</strong> meu bolso, publicaria a novela.<br />
Havia <strong>por</strong> este tempo a revolução de São Paulo e, apesar da convulsão, esgotou-se em três meses. Uma edição<br />
de 2.000 exemplares <strong>foi</strong> quase toda vendida no Rio." E a crítica de João Ribeiro, diz ainda Lins <strong>do</strong> Rego, <strong>foi</strong> <strong>por</strong><br />
ele recebida como um presente <strong>do</strong> céu, a tal ponto que <strong>do</strong>rmiu com o recorte no bolso <strong>do</strong> pijama. Tinha razão o<br />
emotivo José Lins, muito embora autor e crítico nem de longe suspeitassem de que ali começava a existir um<br />
grande romancista brasileiro. "Bem examinadas as cousas", dizia João Ribeiro a propósito de Menino de<br />
Engenho, "este <strong>livro</strong> pungente é de uma realidade profunda. Nada há que não seja o espelho <strong>do</strong> que se passa na<br />
sociedade rural e na das cidades <strong>do</strong> Norte e <strong>do</strong> Sul <strong>do</strong> Brasil. É de to<strong>do</strong> o Brasil e um pouco de to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>."<br />
Mas não ficou nisso a estréia feliz <strong>do</strong> novo romancista. Além das opiniões elogiosas da crítica, o <strong>livro</strong> mereceu<br />
também o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, o que consoli<strong>do</strong>u sem dúvida a posição <strong>do</strong> estreante,<br />
que então se lança ao trabalho com maior entusiasmo e ímpeto cria<strong>do</strong>r, para oferecer no ano seguinte-1933-o<br />
segun<strong>do</strong> <strong>livro</strong> <strong>do</strong> "Ciclo da Cana-de-Açúcar"-Doidinho-tlue alguns críticos aproximaram <strong>do</strong> Ateneu, de Raul<br />
Pompéia, e que em verdade contém alguma cousa de<br />
• Ver, a respeito, Valdemar Cavalcanti, em Jornal Literário, Livraria José Olympio Editôra, 1960.XV