11.06.2013 Views

Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas ... - OpenDrive

Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas ... - OpenDrive

Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas ... - OpenDrive

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

de bôca. Lá pra cima não tem nada. Ocapitão man<strong>do</strong>u êste dinheiro para o senhor comprar uma manta de carne,<br />

e uma<br />

fogo morto 83<br />

<strong>por</strong>ção de cigarros e farinha. Eu venho buscar na têrça-feira. Era só isto, mestre.<br />

-Pode vir na têrça.<br />

Quan<strong>do</strong> o homem saiu, o mestre ficou alarma<strong>do</strong>. Como poderia comprar aquela carne e aquela quantidade de<br />

cigarros, sem dar na vista? A noite já vinha chegan<strong>do</strong> e Sinhá<br />

o chamou para a janta. Não deu uma palavra. Dentro de casa não pôde ficar. Ouviu a cantoria de José<br />

Passarinho que só aquela hora voltava da feira. Não podia se<br />

servir daquele negro para coisa nenhuma. Não conhecia ninguém que lhe pudesse ajudar. E mesmo não queria<br />

ajuda de ninguém. Otrabalho era dêle. Tinha no bôlso a<br />

nota de cem mil-réis, bem nova, estalan<strong>do</strong>. Era dinheiro <strong>do</strong> Capitão Antônio Silvino. Teria que se mexer. Na<br />

têrça-feira o <strong>por</strong>ta<strong>do</strong>r estava na sua <strong>por</strong>ta para levar<br />

as merca<strong>do</strong>rias. Foi quan<strong>do</strong> lhe veio na cabeça a idéia. Diria a Salu que os aguardenteiros corri<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s fiscais<br />

tinham lhe pedi<strong>do</strong> para comprar aquêle mantimento,<br />

pois êles viviam na catinga, fora das estradas reais. E como se tivesse tira<strong>do</strong> um pêso de chumbo <strong>do</strong>s ombros o<br />

mestre José Amaro saiu para ver a noite, para sentir-se<br />

só na noite que era de lua cheia. A estrada branqueada pelo luar cheirava a cajá maduro. As moitas de cabreiras<br />

tinham ramas de algodão pelos galhos espinhentos.<br />

Havia passa<strong>do</strong> comboio de lá para a estação. A noite dava vida ao coração <strong>do</strong> mestre. Ali êle se sentia numa<br />

intimidade fácil com as coisas. An<strong>do</strong>u para as bandas <strong>do</strong><br />

Santa Rosa. Pisou nas terras <strong>do</strong> velho que odiava. Viu os parti<strong>do</strong>s de cana gemen<strong>do</strong> na ventania, o mar de cana<br />

madura com os pendões flori<strong>do</strong>s. Era tôda a riqueza <strong>do</strong><br />

velho, era o seu mun<strong>do</strong> que êle tocava. Quantas vêzes não tivera vontade de sacudir fogo naquela grandeza. Era<br />

besteira. Outra vez as terras dariam aquêles mesmos<br />

parti<strong>do</strong>s, o massapê encheria a barriga <strong>do</strong> ricaço. Tinha até raiva de olhar aquelas coisas. O Coronel Lula fazia<br />

plantas de camumbembe, não tinha fôrça de furar a<br />

terra com ganância, com mão de homem de fôlego. Agora não tinha mais raiva <strong>do</strong>s parti<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Santa Rosa. Êle<br />

trabalhava para um homem que era maior que o Coronel José<br />

Paulino, que era <strong>do</strong>no de to<strong>do</strong>s os parti<strong>do</strong>s,<br />

84 josé lias <strong>do</strong> rêgo<br />

senhor de to<strong>do</strong>s os senhores de engenho. Oque o Capitão Antônio Silvino queria, fazia como era de seu gôsto.<br />

Meteu a mão no bôlso e sentiu a nota nova, o papel duro,<br />

a riqueza <strong>do</strong> seu homem. Deixou a estrada <strong>por</strong>que ouviu que vinha gente falan<strong>do</strong>. Escondeu-se atrás duma<br />

cabreira para não ser visto. Era um grupo de homens levan<strong>do</strong><br />

um defunto numa rêde. Devia ter si<strong>do</strong> alguma morte de briga. Desceu mais para a beira <strong>do</strong> rio e <strong>foi</strong> andan<strong>do</strong>,<br />

despreocupa<strong>do</strong>. A lua clareava tu<strong>do</strong> como se fôsse de dia.<br />

Agora tinha um motivo para os restos de seus dias. Pouco se im<strong>por</strong>tava que a filha fôsse um fracasso, que a<br />

mulher não lhe desse coisa alguma. Parou um inst"e vara<br />

respirar, sorver o a ' ária ue vií,-,, dac 'rvnres_ das e q.iàzeiras co er as e frutos. Cheirava o á, cheirava a<br />

terra sue ele nunca plantara. ora o so<br />

_ __ _erra_ lhe era distante. Viu a várzea lavoura. olhava as vazan es, osnunca re<br />

coberta<br />

parara que- -u3o-a uiló era o homem. aia que o h,<br />

a terra aria u o. -ó_ ág depois de velho era que pu era<br />

compreender aquela beleza de uma n o-1 é--a -<br />

sem ã agressivi a e a uz quente.<br />

anhava-lhe de ... carne adentro. Sentia solidão. Oque êle ,queria era viver s'_ Tu<strong>do</strong> o que o igava a casa, à vi<br />

sua casa; e oía, era como uma facada que lhe entrava no corpo. Porque não tivera um filho, <strong>por</strong>que não fôra<br />

como seu pai, capaz de matar, de ser um homem de<br />

coragem, de espírito pronto. Omestre Amaro viu uma luz na beira <strong>do</strong> rio. Seria na certa Margarida, na pescaria.<br />

Parou mais tempo <strong>por</strong> debaixo <strong>do</strong> marizeiro grande.<br />

Por debaixo dêle <strong>do</strong>rmiam os aguardenteiros que fugiam para o sertão. Os galhos enormes, à luz da lua,<br />

moviam-se, serenos, com uma majestade de rei. Havia cinza,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!