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Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas ... - OpenDrive

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Vitorino tremia-se to<strong>do</strong>. Os olhos azuis fuzilavam. Onegro veio banzeiro, não deixava de gritar:<br />

-Papa-Rabo.<br />

0 seleiro havia marcha<strong>do</strong> para a estrada e empurrava José Passarinho para fora.<br />

-Suma-se.<br />

-Não me empurre, mestre Zé. Eu não fiz nada. Ovelho quer se desgraçar comigo. Eu mato êste velho.<br />

fogo morto 79<br />

Parara gente na estrada para ver o barulho. Vitorino berrava, com desespêro<br />

-Solta o negro, deixa êle que eu lhe tiro a catinga de uma vez. Comadre, negro só mesmo no chicote. Um<br />

homem branco como eu não se rebaixa a trocar desafôro com<br />

uma desgraça desta.<br />

Passarinho, leva<strong>do</strong> pelo mestre, caminhou para as cajàzeiras. Um cargueiro chamou-o. E se foram, às gaitadas. -<br />

Compadre, fique para o almôço-convi<strong>do</strong>u Dona Sinhá.<br />

-Eu fico. OAugusto <strong>do</strong> Oiteiro vai ficar dana<strong>do</strong>. Está me esperan<strong>do</strong> lá para o almôço.<br />

Nisto apareceu na <strong>por</strong>ta o pintor Laurentino que descia para S. Miguel. Parou e puxou logo conversa.<br />

-Estão dizen<strong>do</strong> que o Dr. Samuel está de briga com o padre. Foi <strong>por</strong> causa dum filho <strong>do</strong> juiz que está de namôro<br />

com a sobrinha <strong>do</strong> vigário.<br />

-É mentira-falou Vitorino. É mentira. -Não ofenda, Seu Vitorino.<br />

-Dobre a língua: Capitão Vitorino. Paguei patente. -Está certo, capitão. Mas eu não sou homem de mentira.<br />

Omestre Amaro, que não se mostrava satisfeito com a che<br />

gada <strong>do</strong> pintor, entrou na conversa.<br />

-Seu Laurentino, aqui nesta minha casa intrigas.<br />

-Mestre Zé, eu estou sòmente contan<strong>do</strong>.<br />

-Contan<strong>do</strong> ou não. Oque eu lhe digo é que nesta casa não pegam os mexericos <strong>do</strong> Pilar. Que se danem to<strong>do</strong>s.<br />

Um lugar que tem um ladrão de terra como Quinca Napoleão<br />

como chefe, não é terra.<br />

-Está ofenden<strong>do</strong> muito, mestre Zé. Está ofenden<strong>do</strong> muito. -0 que eu digo aqui digo em tôda a parte.<br />

-É um ladrão, pode dizer, compadre, é um ladrão. Laurentino sentiu-se ataca<strong>do</strong>, furiosamente, <strong>por</strong> tôda parte.<br />

-Não vim aqui para estrada e vim conversar senhor, mestre Zé.<br />

não se vive de<br />

brigar com ninguém. Passei pela com o mestre Zé. Não fiz mal ao<br />

$Q josé fins <strong>do</strong> rêgo<br />

.-Não quero saber de prosa de cabra-respondeu Vitorino -Na minha <strong>por</strong>ta não pára.<br />

0 seleiro fixou os olhos amarelos em Laurentino e falou com a voz mansa, de raiva trancada<br />

-Seu Laurentino, eu sei que o senhor é homem de bom proceder, de seu ofício, e etc. De tu<strong>do</strong> isto eu sei. Pois<br />

que se fique pra lá. Viva no seu Pilar e deixe o pobre<br />

mestre José Amaro no seu canto.<br />

-Está certo, mestre Zé. Eu vou sain<strong>do</strong>. -Já podia ter saí<strong>do</strong>-resmungou Vitorino. -Está certo, Seu Vitorino.<br />

-Dobre a língua. -Capitão.<br />

-E não me faz favor.<br />

-Ah, eu ia até me esquecen<strong>do</strong>. OSargento Damião estava até à procura <strong>do</strong> capitão.<br />

-De mim?<br />

-Do senhor mesmo. Éle disse que queria quebrar a ponta <strong>do</strong> seu punhal.<br />

-Do punhal de Vitorino Carneiro da Cunha? -Parece que é. Vitorino só tem o senhor. -Capitão, já lhe disse.<br />

-0 sargento pega o senhor, capitão. Éle quan<strong>do</strong> puxa um foguinho fica terrível.<br />

-Não me mete mê<strong>do</strong> ; vá dizer a êste mata-cachorro que eu agüento. Sou homem, cabra. Sou homem.<br />

Laurentino já estava na estrada e falou em voz alta -Oh, capitão, e esta burra? Cadê a rabo dela, capitão? Quem<br />

papou o rabo da burra, capitão?<br />

Vitorino ergueu-se, violentamente<br />

-Vai perguntar à tua mãe quem papou o rabo dela. Laurentino sorria. A fúria <strong>do</strong> velho não o molestava. De<br />

muito longe escutava-se a voz de Passarinho no canto. A<br />

velha Sinhá apareceu para chamar o mari<strong>do</strong> para o almôço. Havia sol no terreiro <strong>do</strong> mestre José Amaro,<br />

brilhan<strong>do</strong> nas fôlhas da pitombeira, inflaman<strong>do</strong> as flôres <strong>do</strong><br />

cardeiro. Um vem-vem lá de cima era como falasse. Quem viria? Oque êle anunciava?<br />

fogo morto 81

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