Este livro foi digitalizado por Raimundo do Vale Lucas ... - OpenDrive
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Passavam cargueiros de farinha, os comerciantes <strong>do</strong> Pilar com as caixas de fazenda e miudezas. E o barbeiro<br />
Henrique no quartão ruço. Era homem de muito falar. Parou<br />
então para conversar com o mestre, enquanto o italiano se despedia.<br />
-Éste bicho gemeu no facão. menino novo.<br />
-E o tenente <strong>por</strong> onde anda, Seu Henrique?<br />
Eu soube que chorava como<br />
fogo morto 75<br />
-Me disseram que a tropa dêle subiu para as bandas <strong>do</strong> Ingá: Um sujeito que estava em minha casa me disse que<br />
viu a fôrça <strong>do</strong> Tenente Maurício na estação de Itabaiana.<br />
0 Capitão Antônio Silvino que abra o ôlho. A coisa está apertan<strong>do</strong>. Isto agora não é como no tempo <strong>do</strong> Major<br />
Jesuíno.<br />
-Pois Seu Henrique, ainda acredito na cabeça <strong>do</strong> homem. Ele sabe de buraco que tatu não conhece.<br />
-É, mas o tenente jurou pegar o homem.<br />
Depois saiu, esquipan<strong>do</strong>, de estrada abaixo. Obarbeiro Henrique pararia no Santa Fé, no Santa Rosa, antes de<br />
chegar na sua tenda de S. Miguel. José Amaro não gostava<br />
muito <strong>do</strong>s seus mo<strong>do</strong>s. Homem sério não tinha que andar alcovitan<strong>do</strong> a ninguém. Diziam que o Dr. Juca <strong>do</strong><br />
Santa Rosa servira-se dêle para negócio de mulher. Mas a verdade<br />
era que to<strong>do</strong>s o procuravam. A fôrça tomara o trem para o sertão. E o Capitão Antônio Silvino ali em cima, a<br />
menos de uma légua. Se Alípio aparecesse, levaria uma<br />
boa notícia. Já estava senta<strong>do</strong>. Odia começava a esquentar quan<strong>do</strong> apareceu o velho Vitorino numa burra<br />
escura..<br />
-Muito bom dia, meu compadre. -Bom dia. Montaria nova?<br />
-Nada. Isto é <strong>do</strong> Coronel Anísio <strong>do</strong> Recreio. Cheguei lá ontem de madrugada, depois duma viagem puxada, e a<br />
minha égua não agüentou. E o homem me ofereceu êste animal<br />
para acabar a viagem. Fiquei com uma pena danada de deixar a égua <strong>por</strong> lá. Mas era o jeito. Tinha que tratar<br />
com o Dr. Samuel de um assunto muito sério. E êle estava<br />
de viagem para Goiana. Cheguei a tempo. Odiabo desta burra me machucou to<strong>do</strong>. Tem uma pisada de pedra.<br />
-É animal de cangalha, compadre?<br />
-Não é não. Um cabra <strong>do</strong> Pilar me disse que esta burra pertenceu a um cigano. A bicha nas mãos <strong>do</strong> cigano<br />
andava de baixo, tinha passos de animal fino. OCoronel Anísio<br />
comprou <strong>por</strong> um dinheirão. E é esta desgraça que está aí.<br />
Depois Vitorino mu<strong>do</strong>u de assunto. A coisa da eleição ia pegan<strong>do</strong> fogo. ODr. Samuel havia recebi<strong>do</strong> um<br />
telegrama <strong>do</strong> Coronel Rêgo Barros. Ohomem vinha para a Paraíba<br />
com o 14, o batalhão de mais fama <strong>do</strong> Brasil. ODr. Santa<br />
76 josé lins <strong>do</strong> régo<br />
Cruz <strong>do</strong> Monteiro já tinha para mais de mil homens no cangaço.<br />
-Eu disse ao Dr. Samuel: "Se é para brigar, conte comigo". Isto de eleição para matar boi e fazer festa não é<br />
comigo. Gosto de eleição com faca, com tiro, com cheiro<br />
de pólvora. Já dei muita surra em cabra safa<strong>do</strong>.<br />
Os passarinhos cantavam nas cajàzeiras, os <strong>por</strong>cos fossavam, o bode berrava alto, enquanto o Capitão Vitorino<br />
falava para o compadre que não dava uma palavra.<br />
-Olhe, meu compadre José Amaro, no tempo da monarquia eu fui a uma eleição <strong>do</strong> Itambé, e lá dentro da igreja<br />
quebrei uma uma. Era môço neste tempo e meu chefe era<br />
o Dr. Joaquim Lins. Lutei muito, mas os liberais correram. Neste tempo, quan<strong>do</strong> havia homem duro, era só me<br />
mandar chamar. Agora estou velho, esta história de República<br />
é esta leseira que se vê. Eleição aqui no Pilar é de acôr<strong>do</strong>. Agora, não. ODr. Samuel está com vontade de virar<br />
isto de papo para o ar. Êle me man<strong>do</strong>u chamar. E eu<br />
lhe disse: "Dr. Samuel, eu não quero entrar nesta encrenca. Porque quan<strong>do</strong> Vitorino Carneiro da Cunha se mete<br />
numa encrenca vai até os confins". Ohomem me agrada,<br />
tem disposição para a luta.<br />
-Compadre, me diga uma coisa: êste Dr. Samuel não é filho <strong>do</strong> Dr. Belarmino de Goiana?<br />
-É êle mesmo. É gente de João Alfre<strong>do</strong>.<br />
-E o compadre acredita que êle vá brigar com êste povo da Várzea? É gente da mesma laia.