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24<br />

24<br />

Projeto<br />

Projeto<br />

Pedagógico<br />

edagógico<br />

6- 6- Caminhos Caminhos e e descaminhos descaminhos do do ensino ensino de de Matemática<br />

Matemática<br />

Diante de justificativas tão contundentes <strong>para</strong> que<br />

a Matemática esteja no currículo escolar é necessário<br />

que a nossa atuação pedagógica seja canalizada <strong>para</strong><br />

garantir que os conhecimentos matemáticos sejam realmente<br />

apropriados por estudantes.<br />

Como garantir essa aquisição?<br />

Acreditava-se durante algum tempo que a<br />

metodologia ideal <strong>para</strong> as aulas de Matemática consistia<br />

em estimular desempenhos. Professores ensinavam<br />

alguns conceitos de um determinado assunto e, a partir<br />

daí , mostravam por meio de exercícios, algumas de<br />

suas aplicações ressaltando técnicas operatórias necessárias<br />

<strong>para</strong> resolvê-los. Fixavam a aprendizagem dando<br />

vários exercícios repetitivos e verificavam o que foi<br />

“aprendido” por meio de provas e trabalhos com questões<br />

padronizadas que deveriam ser resolvidas “corretamente”<br />

de forma esperada.<br />

Os alunos aceitavam passivamente o que lhes foi<br />

ensinado e tentavam reproduzir de forma mais parecida<br />

possível aquilo que lhes foi dito. Em algumas situações<br />

de verificação, procuravam lembrar algumas regras <strong>para</strong><br />

se saírem bem. Preocupavam-se em mecanizar alguns<br />

exercícios e treiná-los sem necessidade de compreendêlos.<br />

Parece que as aulas ministradas somente desta<br />

forma, não alcançaram bons resultados e continuam trazendo<br />

dificuldades até os dias de hoje. Vários órgãos,<br />

não somente as secretárias de educação, têm comprovado<br />

o mau desempenho dos nossos alunos em Matemática.<br />

Será que existe pelo menos uma metodologia que<br />

pudesse solucionar esse problema?<br />

Sabemos que não existe um caminho identificado<br />

como único e melhor <strong>para</strong> o ensino de qualquer disciplina<br />

e, em particular, da Matemática. Existem sim<br />

diversas possibilidades de trabalho em salas de aula, pois<br />

aprender é também vivenciar e adquirir experiências.<br />

Fazer com que estudantes encontrem situações<br />

7- 7- Reunindo Reunindo experiências: experiências: um um trabalho<br />

trabalho<br />

com com a a fase fase inicial inicial do do Ciclo Ciclo I I do do Ensino Ensino Fundamental<br />

Fundamental<br />

OS PRIMEIROS CONTATOS<br />

Nossa experiência foi realizada em uma classe<br />

de alunos multirrepetentes da antiga 1ª série, em<br />

uma escola estadual carente, cujo nome preferimos<br />

deixar no anonimato por diversas razões.<br />

Monitoras de Língua Portuguesa e de Alfabetização,<br />

fomos chamadas, como, em várias ocasiões,<br />

<strong>para</strong> dar atendimento a uma professora cujos<br />

alunos eram apáticos e indisciplinados: “Como podem<br />

aprender a ler e escrever se não pensam?”<br />

O primeiro contato que tivemos com a classe<br />

e a professora foi desastroso. “Esses são casos<br />

perdidos. Vocês deveriam vir à tarde, que a classe é<br />

bem melhor!” (Isso tudo em frente aos alunos!)<br />

Não será preciso dizer que nossa tentativa de conhecer<br />

o problema foi catastrófica. A professora<br />

acusava os alunos e eles abaixavam as cabeças, como<br />

se já houvessem interiorizado que eram deficientes<br />

e que o estudo não era mesmo <strong>para</strong> eles.<br />

De volta à Diretoria de Ensino, tentamos<br />

analisar a situação e projetar nossa próxima visita.<br />

Relemos... E as crianças eram difíceis, de Eglê<br />

Franchi, e o “Projeto Ipê” que a CENP produziu<br />

sobre o Ciclo Básico. Seriam aquelas crianças realmente<br />

deficientes? Incapazes de aprender?<br />

Na segunda visita à classe, programamos uma<br />

reunião entre a professores e a monitora de alfabetização,<br />

que conversariam e discutiriam textos sobre<br />

“linguagem” e “avaliação”. Enquanto isso, eu,<br />

monitora de Português, entraria na classe e conver-<br />

adequadas <strong>para</strong> seu aprendizado, utilizando-se <strong>para</strong> isso<br />

os mais variados recursos didáticos e diferentes enfoques<br />

metodológicos, podem levá-los a descobrir fatos e soluções.<br />

Por exemplo, no estudo da Geometria podemos<br />

solicitar aos estudantes que observem as formas presentes<br />

na natureza, as formas dos objetos que nos rodeiam,<br />

as formas das embalagens que usamos e construam diversos<br />

modelos concretos com diferentes materiais como<br />

cartolinas, varetas ou madeira. Isto pode <strong>para</strong> auxiliar<br />

na criação das representações mentais dos objetos de<br />

estudo, na descoberta e reconhecimento de algumas<br />

propriedades geométricas.<br />

O fundamental, qualquer que seja a metodologia,<br />

é desenvolver uma postura, que permita aos alunos<br />

explorarem, organizarem, reelaborarem seus conhecimentos<br />

de acordo com suas vivências, experiências,<br />

competências cognitivas e caminhem em direção às suas<br />

reais necessidades.<br />

Um primeiro passo, nesse caminho, é constatar,<br />

por meio de levantamentos, os conhecimentos que já<br />

possuem e não usar a falta de pré-requisitos como um<br />

empecilho <strong>para</strong> prosseguimento de seus estudos. Certamente<br />

não estaremos acumulando mais dificuldades, se<br />

desenvolvermos a postura de retomá-los e construí-los<br />

todas as vezes que forem diagnosticados. Retomar e<br />

construir os pré-requisitos não significa revê-los com<br />

foram vistos nas séries anteriores, mas sim iniciar com<br />

estudantes um novo processo de aprendizagem efetiva e<br />

significativa das idéias fundamentais envolvidas nos<br />

conceitos dos assuntos abordados.<br />

Desse modo é equivocada a fala, muito comum<br />

entre professores de Matemática, de que muitos alunos<br />

não aprendem porque não sabem as quatro operações<br />

básicas. Se isto realmente fosse o grande problema,<br />

bastaria permitir que eles usassem uma calculadora<br />

e as dificuldades estariam sanadas. Para que os estudantes<br />

aprendam Matemática com significado é importante<br />

que eles estabeleçam conexões entre os diferentes<br />

PARTE PARTE I<br />

I<br />

Janeiro/2002<br />

Janeiro/2002<br />

temas matemáticos e também entre estes e as demais<br />

áreas do conhecimento e situações do cotidiano.<br />

Enriquecer e ampliar os conhecimentos com o<br />

objetivo de transformá-los em saber com significado e<br />

compreensão não é uma tarefa simples pois demanda<br />

tempo e paciência. Requer que os estudantes, ao tomar<br />

contato com qualquer tipo de conhecimento matemático,<br />

criem registros próprios <strong>para</strong> comunicar seu relacionamento<br />

com esses conhecimentos, decodifiquem os<br />

novos códigos que por eles são criados, ou a eles são<br />

apresentados. Também incorporem à linguagem e às<br />

formas de argumentação habituais as diferentes representações<br />

matemáticas tais como representações numéricas,<br />

geométricas e algébricas.<br />

Se pretendemos nortear nosso trabalho rumo à<br />

formação de indivíduos que se apropriam conhecimentos<br />

matemáticos e os usam <strong>para</strong> ler o mundo à sua volta,<br />

é indispensável que a escola seja um espaço permanente<br />

onde os corpos docente e discente criem inquietações<br />

em relação a esses conhecimentos, a respeito de<br />

sua validade, de sua significância, da sua importância,<br />

de suas aplicações e de seus aspectos formativos.<br />

Precisamos de professores com postura crítica e<br />

criativa em relação aos processos ensino/aprendizagem<br />

e, <strong>para</strong> isso, necessitamos de um trabalho conjunto da<br />

comunidade escolar e da sociedade <strong>para</strong> resgatar o respeito<br />

aos professores e aos estudantes, o respeito dos<br />

alunos, respeito de todos pelo conhecimento.<br />

__________<br />

Dulce Satiko Onaga<br />

Autora de livros didáticos e<br />

<strong>para</strong>didáticos de Matemática da Editora Saraiva.<br />

Professora de Pratica de Ensino da Matemática do<br />

Ensino Superior. Assessora de Matemática de públicas<br />

e particulares. Membro do Centro de Educação Matemática<br />

(CEM), São Paulo.<br />

saria apenas com os alunos.<br />

De um contato inicial arredio, por parte das crianças,<br />

propusemos uma atividade: “Se cada um<br />

fosse dono de uma varinha de condão, que mudaria<br />

em sua vida?” 80% das meninas, já adolescentes,<br />

falaram em transformar seus quartos. Os meninos<br />

queriam ser jogadores de futebol, donos de<br />

lotecas, técnicos de TV ou donos de supermercados<br />

(ninguém quis ser professor!). Da conversa,<br />

pudemos aprender a importância da relação professor-aluno.<br />

Realmente, lá faltava a interação. Tive<br />

consciência disso através da fala de uma menina:<br />

“Mas a prô sabe tanto! Como é que vô falá cum<br />

ela?” Nesse dia, aprendemos com as crianças como<br />

viviam, quais seus sonhos, falamos dos nossos e<br />

começamos a interagir realmente. Aquelas crianças<br />

falavam e liam, criticamente, o mundo! Seus<br />

textos eram críticos e criativos! Por que, então, as<br />

observações da professora? Por que eram marginalizadas<br />

pela escola? Uma das crianças disse:<br />

“Sabe, tia, nós somos assim mesmo. Todas as tias<br />

fala que sempre somo os mais burro”.<br />

RESPEITO À LINGUAGEM<br />

DAS CRIANÇAS<br />

A conversa com a classe sugeriu uma possibilidade<br />

de trabalho: cuidar do autoconceito daqueles<br />

alunos, aproveitando aquilo que já conheciam e respeitando<br />

o registro de linguagem através do qual se

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