ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br
J&ÜJD^<br />
RURAL<br />
Órgão Oficial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo — Junho de 1980<br />
1 nidü o que soDi<br />
ESTAMOS<br />
DE LUTO.<br />
(última página).<br />
Posseiros de Andradína<br />
também sabem usar a fala<br />
Uma bela Missa de So-<br />
lidariedade foi celebrada<br />
dia 18 de maioem Andra-<br />
dina em apoio aos possei-<br />
ros da Fazenda Primave-<br />
ra. No início do mês, uma<br />
comissão deles denunciou<br />
na Assembléia Legislativa<br />
(foto ao lado) e ao Secre-<br />
tário da Segurança Públi-<br />
ca, os problemas que en-<br />
frentam. (Pag. 4)<br />
Passeata nas ruas de<br />
Presidente Prud<br />
A população de Presidente Prudente recebeu com interesse e apoiou a passeata<br />
que os trabalhadores rurais da região (Grupo Regional 10) fizeram no dia 17 de<br />
maio, logo após a concentração, em que protestaram contra a política agrícola do<br />
Governo, reclamando Reforma Agrária, mostrando que o êxodo rural tende a piorar.,<br />
Mostraram que os produtos industriais sobem de foguete e os preços dos produtos<br />
agrícolas ficam vendo, no chão. 18 Sindicatos participaram. (Pag. 5).<br />
João Paulo II, polonês, filho de operá-<br />
rios, também foi operário. Nym País sub-<br />
desenvolvido como o Brasil, quando ele<br />
falar no Nordeste, deverá r repetir ou<br />
ampliar o que ele disse na abertura do<br />
debate mundial que houve no ano passa-<br />
do, em Roma, promovido pela FAO. A<br />
agricultura, segundo êle, é a base de<br />
tudo; mas a base da base é o camponês, o<br />
trabalhador rural. Por isso ele é a favor<br />
da Reforma Agrária.<br />
Pela primeira<br />
vem um papa<br />
vai estar<br />
no Brasil.<br />
O que ele tem<br />
a dizer aos<br />
trabalhadores<br />
rurais?<br />
Veja na pág. 3
( MICROFONE ABERTO ) (t)0 EDITOR) A pyp/jjfpyyj f<br />
Moda Matuta<br />
E Se Faltar Comida?<br />
Precisa fazer metrô?<br />
Não vamos dizer que não.<br />
Precisa de mais usinas.<br />
De asfalto, de "Ceholão"?<br />
Precisam de Capitais,<br />
E novas, Porque que não?<br />
Mas, de que serve o metrô,<br />
A Usina e o "Ceholão".<br />
De que serve o combustível<br />
E a atomização,<br />
Se faltar o principal<br />
Que é a alimentação?<br />
Precisa'Lei. portaria.<br />
Precisa constituição:<br />
Precisa, para o trabalho,<br />
Nova Consolidação:<br />
E o Estatuto da Terra<br />
Precisa de aplicação.<br />
Precisam novos partidos.<br />
Liderança? - muito bom<br />
Precisa-se de assistência<br />
Precisa recreação.<br />
Mas o Estatuto da Terra<br />
Precisa de aplicação.<br />
Precisa,<br />
Precisam de muitas guerras<br />
Boicotes, atomização?<br />
Precisa, sim, combustível,<br />
Prá nossa locomoção.<br />
Precisa, é muito claro.<br />
Telecomunicação.<br />
A concentração do poder<br />
do solo de produção<br />
somente nos leva a crer<br />
Que toda a população<br />
Não terá o que comer<br />
Não vai tardar muito não.<br />
Precisa divórcio, sim,<br />
E "topless" - sensação -<br />
Se issòjbr importante<br />
Até andar nu, por que não?<br />
Mas, o Estatuto da Terra<br />
Precisa de aplicação.<br />
Precisam de olimpíadas<br />
De jovens fortes - tá bom<br />
As terras agricultáveis<br />
Precisam distribuição<br />
Mas, o Estatuto da Terra<br />
Precisa de aplicação.<br />
precisa sim.<br />
Precisa, tá muito bom!<br />
Mas, o Estatuto da Terra<br />
Precisa de aplicação.<br />
Agudos, fev/80 - Inácio Albertini<br />
O DIEESE começa a ver<br />
o nosso ganho e perda<br />
Há pouco tempo, numa<br />
reunião dos integrantes das<br />
três Comissões Estaduais da<br />
Fetaesp, foi apresentado um<br />
plano do Departamento In-<br />
tersindical de Estatísticas e<br />
Estudos Socio-Econômicos<br />
(DIEESE) para começar a<br />
envolver os nossos Sindica-<br />
tos num amplo sistema de le-<br />
vantamento de preços de co-<br />
mercialização dos principais<br />
produtos que estão na mesa<br />
do trabalhador da cidade e<br />
do campo.<br />
Para quem não sabe, o<br />
DIEESE, fundado em 1955 é<br />
uma entidade do sindicalis-<br />
mo urbano, e agora também<br />
do sindicalismo rural conjun-<br />
tamente, e se destina a levan-<br />
tar dados estatísticos que nos<br />
interessam para acompanhar<br />
de perto o custo de vida e vi-<br />
giar o Governo para que ele<br />
não faça contas erradas,<br />
como em 1973.<br />
A apresentação do plano<br />
foi feita pelo técnico José<br />
Maurício Gomes e pela en-<br />
genheira agrônoma Marilena»<br />
Lazzarini, esposa de Walter<br />
Lazzarini Filho, presidente<br />
da Federação das Associa-<br />
Pág. 2 Realidade Rural — Junho de 1980<br />
ções de Engenheiros Agrô-<br />
nomos do Brasil (FAEAB).<br />
O que acontece é que, em<br />
primeiro lugar, existe um va-<br />
zio muito grande entre o<br />
produtor e o consumidor, de<br />
tal forma que o produtor ga-<br />
nha pouco e o consumidor<br />
paga muito. E, em segundo<br />
lugar, como o preço da co-<br />
mida pesa sobre o custo de<br />
vida, esses níveis de preços<br />
precisam ser compesados<br />
nos reajustes dos salários e<br />
não ficar abaixo, como o Go-<br />
verno tem feito durante mui-<br />
to tempo.<br />
Da parte do trabalhador<br />
rural produtor há a necessida-<br />
de do seu trabalho ser com-<br />
pensado com justiça e não fi-<br />
car engordando os interme-'<br />
diários na moleza.<br />
Como esses levantamentos<br />
estatísticos são caros, o<br />
DIEESE quer começar com<br />
alguns Sindicatos que se dis-<br />
ponham a colaborar, de boa<br />
vontade, fornecendo pe-<br />
riodicamente os níveis de<br />
preços que os produtores es-<br />
tão recebendo por seus pro-<br />
dutos.<br />
Este homem é que é o<br />
ministro da Agricultura!<br />
Há pouco tempo, durante<br />
e depois da chamada "greve<br />
da soja", líderes agrícolas<br />
gaúchos reivindicaram a<br />
queda dos Ministros do Pla-<br />
nejamento, Delfim Nctto, e<br />
da agricultura, mas de outros<br />
setores.<br />
Quanto ao Ministro da<br />
Agricultura, particularmen-<br />
te, o que se pode dizer e que<br />
ele anda cada vez mais en-<br />
graçado, mostrando que esta<br />
completamente desprepara-<br />
do para ser um Ministro da<br />
Agricultura, num País como<br />
o Brasil. Para ele, a agricul-<br />
tura se resume nos médios e<br />
grandes produtores. Em sua<br />
opinião, a agricultura não<br />
tem problemas asnão ser a<br />
necessidade de elevar a pro-<br />
dutividade. Os problemas<br />
dos trabalhadores rurais, os<br />
anseos dos trabalhadores ru-<br />
rais, não interessam ele.<br />
Exemplos bem claros da<br />
sua desinformação é desco-<br />
nhecimento dos problemas,<br />
do campo são as entrevistas<br />
que ele concedeu no dia 16<br />
de maio, na sede dos latifun-<br />
diários (a Sociedade Rural<br />
Brasileira) e ao jornal patro-<br />
nal "O Estado de São Paulo"<br />
no dia 11 de maio.<br />
NÃO PISE NOS TRABA-<br />
LHADORES RURAIS,<br />
MINISTRO!<br />
Na sede dos latifundiários,<br />
ao -comentar o documento<br />
"A Igreja e os problemas da<br />
terra", que os bispos fizeram<br />
há pouco tempo defendendo,<br />
entre outras coisas, uma Re-<br />
forma Agrária Autêntica, o<br />
Ministro tirou a máscara. Em<br />
primeiro lugar, ele pisou nos<br />
trabalhadores rurais sem dó<br />
nem piedade. Disse que a<br />
idéia do Governo não é a Re-<br />
forma Agrária "porque isso<br />
requer grandes recursos e<br />
não sabemos se trará benefí-<br />
cio para a produtividade ou<br />
se, ao contrário, trará desor-<br />
ganização na produção".<br />
Com essa idéia maluca, o<br />
Ministro mostra que o Go-<br />
verno não tem dúvidas nem<br />
dificuldades em bater nos<br />
metalúrgicos e colocar seus<br />
líderes na cadeia para cum-<br />
prir leis caducas, do tempo<br />
do arco-da-velha, mas cum-<br />
prir a lei do Estatuto da Ter-<br />
ra, que manda fazer Reforma<br />
Agrária, isso não, isso dá pre-<br />
juízo...<br />
Para esse Ministro desin-<br />
formado e despresprepara-<br />
do, o aue interessa, antes de<br />
tudo, é levar ao campo tran-<br />
qüilidade e o aumento da<br />
produtividade. Se há escravi-<br />
dão, se há miséria, se com<br />
isso o Governo está pisando<br />
nos direitos de milhões de ci-<br />
dadãos com os mesmos direi-<br />
tos dele, inclusive de ter ter-<br />
ra, não, isso não interessa.<br />
VEJAMSÓQUE IDÉIAS<br />
TÊM ESSE HOMEM!<br />
Na verdade, a desinformação<br />
e o despreparo do Ministro<br />
são de arrepiar. Em primeiro<br />
lugar, na entrevista<br />
que ele deu ao jornal patronal<br />
"O Estado de São Paulo".Slabil£<br />
antmdao Ia<br />
rffenlo<br />
mado PLACAR - Plano da<br />
Casa Rural. E sabem para<br />
que? De um lado (este lado<br />
até pode ser positivo), para<br />
financiar a construção da<br />
casa própria do pequeno<br />
proprietário. De outro, fi-<br />
nanciar ao fazendeiro a cons-<br />
trução de casas aos colonos,<br />
fazer agrovilas nos latifún-<br />
dios. E também para finan-<br />
ciar a construção de casas na<br />
periferia das cidades onde<br />
residem os volantes ("boias-<br />
frias")! Para isso tem dinhei-<br />
ro, mas para resolver o<br />
problema com uma Reforma<br />
Agrária não tem... E vejam o<br />
disparate: a Embrater, que<br />
deveria cuidar de assistência<br />
técnica e extensão rural, vai<br />
entrar no apoio!<br />
Nessa mesma entrevista,<br />
ele mostra que pensa mesmo<br />
como um banqueiro ou em-<br />
presário. Diz, ele, por exem-<br />
pb, que 70% dos alimentos<br />
são produzidos por pequenos<br />
produtores. E comenta, sem<br />
vergonha; "Para se chegarão<br />
pequeno não é fácil. Temos<br />
que trazer o pequeno ao ban-<br />
co para começar a usar o<br />
crédito bancário, para se in-<br />
corporar num processo de<br />
produção mais racional".<br />
Para ele, tudo se resume nis-<br />
so... Em sua opinião, "o agri-<br />
cultor tem que ganhar di-<br />
nheiro para que ele, real-<br />
mente, se transforme num<br />
bom trabalhador, numa for-<br />
ça de compra de produtos<br />
industrializados"...<br />
Mas o Ministro não tem<br />
receios de pisar na Igreja<br />
também. O Ministro, que<br />
não concorda com a Refor-<br />
ma Agrária ("senão em áreas<br />
de tensão"), não tem o me-<br />
nor escrúpulos em recomen-<br />
dar à Igreja para que ela use<br />
seus imóveis (que somam, ao<br />
todo, 0,12% dos latifúndios),<br />
para implantação de projetos<br />
de colonização. Esse pedido<br />
seria até simpático, se o Go-<br />
verno desse o exemplo.<br />
Acontece que a Igreja tem<br />
178 mil hectares, enquanto<br />
que está cheio de latifúndios<br />
por aí, aprovados pelo IN-<br />
CRA, com 400, 500 mil hec-<br />
tares, um milhão, dois, três<br />
milhões de hectares ou mais,<br />
e nas mãos de multinacio-<br />
nais! Além disso, de vez em<br />
quando há projetos do Go-<br />
verno, aprovados depressi-<br />
nha, autorizando grandes<br />
projetos de colonização a<br />
empresa que não tem nada a<br />
ver com a roça!<br />
E um homem desses está<br />
aí, controlando a agricultu-<br />
ra...<br />
A Abra diz que Stabile<br />
se vinga, pelo governo.<br />
A entrevista do Ministro<br />
Stabile, na sede dos latifun-<br />
diários, a Sociedade Rural<br />
Brasileira , no dia II, não<br />
a ^|Jte-assou desapercebida tam-<br />
bém para o pessoal da dire-<br />
ção da Associação Brasileira<br />
de Reforma Agrária<br />
(ABRA), que emitiu uma<br />
curta mas clara nota, sob<br />
título "A ESPERADA VIN-<br />
DITA DO MINISTRO DA<br />
AGRICULTURA", onde ela<br />
denuncia as meias-verdades<br />
do Ministro e esclarece a<br />
opinião pública sobre erros<br />
que ele cometeu.<br />
Deixando claro que a Igre-<br />
ja não precisaria da ajuda da<br />
ABRA, a direção da entida-<br />
de, no entanto, esclarece que<br />
"dentro do estilo que tem ca-<br />
racterizado o período delfi-<br />
niano da história recente do<br />
País, começa o Governo a<br />
adotar as primeiras represá-<br />
lias contra os Bispos de Itaici<br />
e sua corajosa posição no re-<br />
cente documento "A Igreja e<br />
os problemas da Terra". E o<br />
governo faz isso, segundo a<br />
ABRA "por sua voz menos<br />
autorizada - um Ministro da<br />
Agricultura cujo mérito até<br />
agora foi o de ter conservado<br />
exemplar mutismo".<br />
"O DASP foi mole demais<br />
com Stabile"<br />
Na nota, a ABRA repreen-<br />
de Stabile; "Conhecera po-<br />
sição que a Igreja adotou a<br />
respeito de suas próprias ter-<br />
ras, seria o mínimo a esperar<br />
de uma autoridade, disposta<br />
a deitar falação". Isso por-<br />
que muito antes do Governo<br />
pensar, a Igreja já se com-<br />
prometia a dar a suas terras<br />
um fim social, já havendo<br />
ELEIÇÕES EM SINDICATOS<br />
De Janeiro a Abril deste ano, tomaram<br />
posse novas Diretorias nos Sindicatos de<br />
Limeira, Potirendaba, Pereira Barreto,<br />
Junqueirópolis, Lavínia, Santa Cruz do<br />
Rio Pardo, Rancharia, Pirajuí, Brotas,<br />
Ibitinga, Pontal, Jaú, Fartura, Tupã e<br />
Matão.<br />
.No mês de Maio, destacamos a posse<br />
de novas Diretorias;<br />
Dia 8 - Sarapuí, Diretores eleitos, Os-<br />
car Machado de Morais, Ari Gomes e<br />
Nelson Teodoro Sampaio - eleitos depois<br />
da renhida disputa entre duas chapas<br />
concorrentes;<br />
Dia 18 - Nova Granada, Diretores elei-<br />
tos; José Pereira dos Santos, Manoel<br />
Ledo de Matos e Francisco Pereira Costa<br />
Praxedes;<br />
Dia 22 - Capão Bonito - Diretores elei-<br />
tos, José Alves de Lima, João Cosme de<br />
Oliveira e João Souto Ferreira - chapa vi-<br />
toriosa, vencendo oposição concorren-<br />
te;<br />
Dia 22 - Cotia - Itapevi, Diretores elei-<br />
tos. Lázaro Quintino de Lima, Enildo<br />
Conceição Monteiro e Antônio Bispo Fi-<br />
lho;<br />
Dia 24 - Apiaí, com Diretores eleitos,<br />
José Rodrigues Silva, André Bogucheski<br />
e Olívio Coelho de Oliveira;<br />
Dia 27 - São Roque, Diretores eleitos;<br />
Geraldo Moysés, Paulo Pecze e Alcides<br />
Cruzados:<br />
Dia 30 - Presidente Prudente, Diretores<br />
eleitos; Valdemar Nodaeli, JoãoAltino<br />
Cremonezi e Luiz Seiki Kaku.<br />
Para o mês de Junho, estão programa-<br />
dos posses nos Sindicatos de Jaboticabal<br />
(dia 5), Teodoro Sampaio (dia 5), Taqua-<br />
rituba(dia 11), Auriflama(dia 12), Cajurú<br />
(dia 15), Itapetininga (dia 26) e Urupês<br />
(dia 26).<br />
Nossos cumprimentos às novas Direto<br />
rias e o desejo de que o seu trabalho i<br />
frente dos sindicatos seja coroado de êxi<br />
to, correspondendo à confiança demons<br />
trada pelos eleitores e servido à causa do<br />
Sindicalismo de trabalhadores rurais pau-<br />
lista.<br />
DEPARTAMENTO DE ORIENTAÇÃO<br />
SINDICAL FETAESP<br />
dioceses que começaram a<br />
dispor seus imóveis rurais em<br />
favor dos homens sem terra.<br />
E depois de repreender o<br />
Ministro, a ABRA também<br />
dá um puxão de orelhas no<br />
DASP (que é o órgão federal<br />
que contrata os funcionários<br />
públicos). Diz a ABRA que<br />
"ter lido o Estatuto da Terra<br />
deveria ser também o teste<br />
de suficiência que o DASP<br />
deveria exigir de um Minis-<br />
tro".<br />
— Na verdade -indaga a<br />
ABRA - como pode tal auto-<br />
ridade, a não ser pelo dever<br />
de repetir o mestre (Delfim<br />
Netto), declarar que uma<br />
Reforma Agrária "vai desor-<br />
ganizar a produção" quando<br />
ajei brasileira prevê a aplica-<br />
ção do processo principal-<br />
mente nos latifúndios que<br />
nada produzem?<br />
Por fim, a A BR A comenta<br />
que as terras da Igreja (que<br />
são também de outras enti-<br />
dades religiosas, não católi-<br />
cas) representam apenas<br />
0,12% dos latifúndios cadas-<br />
trados no 1NCRA. Por que<br />
não aproveitar tambérn o<br />
resto dos latifúndios, "estes<br />
sim a verdadeira matéria pri-<br />
ma para uma autêntica Re-<br />
forma Agrária no Brasil"?<br />
Diretoria<br />
RURAL<br />
Roberto Toshio Horiguti<br />
Presidente.<br />
Francisco Benedito<br />
Rocha<br />
Secretário Geral.<br />
Mário Vatanabe<br />
I 9 Secretário<br />
Emílio Bertuzzo<br />
2' Secretário<br />
Orlando Izaque Birrer<br />
Tesoureiro Geral<br />
José Bento de Santi<br />
I 9 Tesoureiro<br />
Antônio David de Souza<br />
2 9 Tesoureiro<br />
Editor Responsável<br />
José Carlos Salvagni (SJP<br />
5177)<br />
Relações Públicas<br />
João Ferreira Neto<br />
Rua Brigadeiro Tobias,<br />
118, 36' andar - Conj.<br />
3.607<br />
CEP 01032 -<br />
End. Tetegráfico:<br />
FETAESP<br />
- Telefones: 228-983?<br />
228-9353 - São Paulo -<br />
Ç 0 "*""* « w*»«*«o MI Oficiua da<br />
Am* CfWctt Cuiri VA. Hodovw<br />
«Mil I ■ fmmíum
O que esperar<br />
da visita do Papa?<br />
Pela primeira vez na histó-<br />
ria, um Papa estará no Brasil,<br />
dia 30 de junho ( e dia 4 de<br />
julho em São Paulo). João<br />
Paulo II, polonês, foi operá-<br />
rio, trabalhando primeiro<br />
numa pedreira e depois numa<br />
indústria química, durante a<br />
ocupação de seu País pela<br />
Alemanha, na Segunda<br />
Guerra Mundial. Antes dele,<br />
o Brasil recebeu a visita de<br />
então Cardeal Giovanni<br />
Montini, depois Papa Paulo<br />
VI, no final do Governo Jus-<br />
celino Kubitschek.<br />
O Brasil é um País do cha-<br />
mado Terceiro Mundo. É um<br />
Pais subdesenvolvido. E<br />
como aconteceu no México<br />
e na África, o Papa virá preo-<br />
cupado com a religião, é cer-<br />
to. Mas também estará muito<br />
atento à pobreza, a miséria<br />
ao desrespeito aos direitos<br />
humanos e continuará mos-<br />
trando que todos os homens<br />
têm o direito de se beneficia-<br />
rem dos bens da terra para<br />
terem uma vida digna.<br />
O QUE A VISITA SIGNI-<br />
FICA PARA O NOSSO<br />
SINDICALISMO ?<br />
Além de haver tomado nos<br />
últimos tempos posições<br />
francamente favoráveis aos<br />
trabalhadores rurais brasileiros,<br />
a Igreja no Brasil tem<br />
colaborado muito conosco,<br />
tendo dado um impulso<br />
enorme, ao lado de outras<br />
forças, para que o nosso sindicalismo<br />
se implantasse e se<br />
desenvolvesse. Hoje mesmo,<br />
ela tem uma entidade, chamada<br />
Comissão de Pastoral<br />
da Terra (CPT), que atua ao<br />
lado dos companheiros trabalhadores<br />
rurais posseiros e<br />
mesmo índios, na defesa das<br />
terras e tem apoiado muito o<br />
sindicalismo no seu esforço<br />
de renovação.<br />
É preciso lembrar, no entanto,<br />
que embora a maior<br />
parte dos associados seja de<br />
católicos, temos também associados<br />
que são luteranos,<br />
metodistas, enfim, de outros<br />
credos, razão pela qual o Sindicato<br />
deve ser aberto a todos<br />
os pensamentos ( mesmo<br />
K<br />
aue a Diretoria nao concor-<br />
de), respeitar a vida particu-<br />
lar dos associados e os seus<br />
direitos. Sindicato é Sindica-<br />
to, religião é religião, partido<br />
é partido.<br />
A Igreja católica particu-<br />
larmente, tem colaborado<br />
Realidade Rural — Junho de 1980<br />
com o sindicalismo, sem de-<br />
sejar que sele se torne "fun-<br />
do de sacristia", dependente,<br />
mas apenas esperando um<br />
trabalho autêntico.<br />
E é por isso que para o<br />
nosso sindicalismo ( e não<br />
apenas para os católicos as-<br />
sociados) a visita do Papa é<br />
muito importante. Além do<br />
mais, ele é um homem bem<br />
informado, sabe das injusti-<br />
ças que os milhões de ho-<br />
mens de campo estão sofren-<br />
do da parte de uma minoria<br />
de tubarões desse País. E por<br />
isso ele virá levar a nós a sua<br />
solidariedade, como ele fe/<br />
com os índios e camponeses<br />
no México. E o Papa é um<br />
homem cuja opinião pesa<br />
muito entre os Governos das<br />
Nações.<br />
'O TRABALHADOR<br />
NÃO PRECISA DE ES-<br />
MOLAS E SIM DE UMA<br />
AJUDA EFICAZ"<br />
O México também é um<br />
País do Terceiro Mundo. É<br />
um país subdesenvolvido. E<br />
quando o Papa esteve lá,<br />
para participar de um encon-<br />
tro muito importante dos<br />
Bispos da América Latina no<br />
ano passado (Puebla), ele fa-<br />
lou aos índios e o que ele dis-<br />
se serve para nós, também.<br />
Disse o Papa que o traba-<br />
lhador está desconsolado e já<br />
não pode continuar a esperar<br />
que respeitem a sua dignida-<br />
de e que não lhe tirem o pou-<br />
co que eles têm. Já é hora do<br />
trabalhador receber o seu<br />
devido valor. Como disse o<br />
Papa, o trabalhador "tem di-<br />
reito a que sejam suprimidas<br />
as barreiras da exploração,<br />
feitas freqüentemente de<br />
egoismos intoleráveis e con-<br />
tra os quais se chocam seus<br />
melhores esforços de promo-<br />
ção".<br />
E foi bem claro mostrando<br />
que o valor a que o trabalha-<br />
dor tem direito não pode ser<br />
confundido com esmolas ou<br />
migalhas de justiça mas deve<br />
ser transformado em ajuda<br />
eficaz, que o ajude melhorar<br />
a vida e seu trabalho.<br />
E foi também no México<br />
que o Papa João Paulo II dis-<br />
se um negócio que ficou en-<br />
gasgado na garganta dos tu-<br />
barões. Disse ele lá que "ao<br />
direito de propriedade corres-<br />
ponde uma hipoteca social".<br />
Trocando em miúdos, ele<br />
disse que não é certo os lati-<br />
fundiários terem tanta terra.<br />
(^NOSSA POSÍCÃO^) Está começando a nossa campanha salarial<br />
AGORA É A NOSSA VEZ<br />
Estamos no início da nossa quinta<br />
campanha salarial. Pelo quinto ano, o<br />
Movimento Sindical dos Trabalhadores<br />
Rurais se mobiliza por melhores salá-<br />
rios e melhores condições de vida para<br />
o trabalhador rural.<br />
Ao nosso modo de ver, devemos ini-<br />
ciar essa campanha com muito otimis-<br />
mo. Não há razões para não haver oti-<br />
mismo. Afinal, mesmo que não tenha-<br />
mos conseguido, em nível de Federa-<br />
ção, nenhum acordo com os^ patrões<br />
da FAESP, o fato importante é que os •<br />
dissídios coletivos estão sendo levados<br />
a prática.O que os patrões nos negam<br />
na mesa de negociação, nós ganha-<br />
mos lá na prática.<br />
Pouco importa que eles fechem a<br />
cara e se recusem a dialogar conosco.<br />
E o início desta campanha salarial é<br />
um bom momento para trocarmos uma<br />
idéia sobre o momento brasileiro.<br />
Os entendidos sabem: quando o<br />
braço e o suor do homem passa a ter<br />
menos valor do que o dinheiro, do que<br />
o luxo, do que os interesses dos ricos,<br />
aí então o que sobra é fome, atraso de<br />
vida, desentendimento.<br />
E é isso que está acontecendo no<br />
Brasil de hoje. O braço do trabalhador,<br />
o seu suor, não tem nenhum valor, nem<br />
explorando-a mal. A terra é<br />
um bem de todos e tem que<br />
servir a todos. Ter terra e<br />
não usá-la em benefício de<br />
todos é, na verdade, um rou-<br />
bo que se comete contra os<br />
que não têm terra e querem<br />
viver honestamente do traba-<br />
lho na lavoura.<br />
HOJE O QUE É PRECI-<br />
SO É REFORMA AGRÁ-<br />
RIA MESMO.<br />
Depois do México, o Papa<br />
João Paulo II fez um pronun-<br />
ciamento que foi muito co-<br />
mentado em todo o mundo.<br />
Foi quando houve a "Confe-<br />
rência Mundial sobre Refor-<br />
ma Agrária e Desenvolvi-<br />
mento Rural", em julho do<br />
ano passado, em Roma.<br />
Houve uma audiência com o<br />
Papa, da qual participaram<br />
de um lado, contente, o pre-<br />
sidente da nossa CONTAG,<br />
José Francisco da Silva, e de<br />
outro lado, de cara amarra-<br />
da, o então Ministro da Agri-<br />
cultura, Delfim Netlo, e o<br />
Presidente da Incra. Paulo<br />
Yokota ( que são contra a<br />
Reforma Agrária).<br />
O Papa, durante a audiên-<br />
cia, disse umas boas aejuem<br />
é contra a Reforma Agraria e<br />
contra o trabalhador rural<br />
(como Delfim e Yokota).<br />
Disse êle; "No Estado atual<br />
das coisas, dentro de cada<br />
País, tem-se que prever uma<br />
Reforma Agrária que impli-<br />
que numa reorganização da<br />
propriedade das terras e a<br />
distribuição do terreno pro-<br />
dutivo aos lavradores, de for-<br />
ma estável e com usufruto di-<br />
reto".<br />
Quer dizer: é preciso ocu-<br />
par os economistas desocu-<br />
pados para fazer a Reforma<br />
Agrária e ocupar os agrôno-<br />
mos desocupados para dar<br />
assistência técnica e uma<br />
verdadeira extensão rural a<br />
quem não tem terra a quem<br />
poderia produzir mais com a<br />
terra que tem. Há quem diga<br />
que Delfim e Yokota deram<br />
uma engasgada...<br />
Ao contrário de ficar fa-<br />
lando aue a solução é a ele-<br />
vação da produção e da pro-<br />
dutividade, como se fala lá<br />
nos gabinetes confortáveis<br />
de Brasília, o Papa falou é da<br />
necessidade da elevação hu-<br />
para o pessoal dó Governo, nem para<br />
os donos e administradores das<br />
'empresas, e para os fazendeiros.<br />
Para o Governo e para os fazendei-<br />
ros, quanto mais trabalhadores estive-<br />
rem na filado emprego, melhor. Assim<br />
os salários ficarão mais baixos.<br />
Mas não é bem assim. Essa inflação<br />
elevada, esses preços que ficaram lou-<br />
cos, esse desemprego, tudo isso é"<br />
consequênca do desprezo pelo traba-<br />
lho. Tem muita gente grande e impor-<br />
tante nesse País que prefere ganhar<br />
fortunas na moleza, com a especula-<br />
ção, do que valorizando o ganho<br />
honesto, aquele que vem do trabalho e<br />
do suor. E quando não se planta trigo,<br />
não se tem farinha para o pão...<br />
Para nós, trabalhadores rurais, que<br />
estamos começando em São Paulo<br />
mais uma campanha salarial, é impor-<br />
tante essa idéia. O trabalhador brasilei-<br />
ro, afinal, não pode aceitar essa ten-<br />
dência de aumentarem as filas dos<br />
homens em busca de emprego, quan-<br />
do se fosse feita uma Reforma Agrária<br />
e outras mudanças nesse País, haveria<br />
emprego de sobra e ótimos salários. É<br />
preciso acabar com essa história de<br />
ganhar fortunas na moleza e tirar o pão<br />
mana das populações agrícolas<br />
em consonância com o di-<br />
reito ao crescimento da vida<br />
individual e coletiva da po-<br />
pulação rural.<br />
Também tem Ministro lá<br />
em Brasília que fica falando<br />
em classe média rural, es-<br />
quecendo que a maioria é<br />
pobre mesmo. Ao contrário,<br />
o Papa recomendou "refor-<br />
mas para reduzir as distâncias<br />
entre a prosperidade dos ricos<br />
e a siquietante riqueza dos<br />
pobres".<br />
A TERRA NÃO É UMA<br />
FÁBRICA DF COMIDA:<br />
É NATUREZA. QUE O<br />
LAVRADOR ENTENDE.<br />
João Paulo II falou da im-<br />
portância do associativismo<br />
no campo, recomendando<br />
que ele dê mais atenção ao<br />
jovem e à mulher, para<br />
mantê-los no campo e evitar<br />
um excessivo êxodo rural,<br />
porque na cidade faltam em-<br />
pregos. Vejam o que ele dis-<br />
se:<br />
— Urge que se concreti/e o<br />
objetivo do direito ao traba-<br />
lho, com todos os pressupos-<br />
tos requeridos para ampliar<br />
as possibilidades de absorção<br />
OPINIÃO DE<br />
CABOCLO<br />
Há muitos modos de se<br />
agredir alguém.<br />
Por cima. por baixo, pela<br />
frente, pelas costas, por den-<br />
tro, por fora. pelos lados e<br />
até pelo pensamento.<br />
A ilha é um pedaço de ter-<br />
ra cercada de água por to-<br />
dos os lados.<br />
O trabalhador rural tam-<br />
bém é uma ilha.<br />
Ilha sim. compadre, por-<br />
que de todos os lados, ele es-<br />
tá cercado de agressão.<br />
O caminhão de bóia-fria<br />
agredido pelo caminhão de<br />
bois. como ocorreu , há pou-<br />
co, em Presidente Vences-<br />
lau.<br />
A lavoura invadida, quan-<br />
da grande quantidade de<br />
mão-de-obra agrícola dispo-<br />
nível e reduzir o desempre-<br />
go. Ao mesmo tempo, fazer<br />
com que os trabalhadores as-<br />
sumam uma atitude de res-<br />
ponsabilidade no funciona-<br />
mento dos estabelecimentos<br />
agrícolas, a fim de criar, tam-<br />
bém, o quanto seja possível,<br />
uma relação particular entre<br />
o trabalhador da terra e a<br />
terra que ele trabalha.<br />
Em outras palavras, o agri-<br />
cultor não planta apenas<br />
para sustentar a sua família,<br />
mas também porque se sente<br />
bem com a terra. E isso deve<br />
continuar.<br />
A BASE DE UMA ECO-<br />
NOMIA SADIA É A<br />
AGRICULTURA. NÃO A<br />
INDUSTRIA.<br />
Para quem acha, enfim,<br />
que João Paulo II é de ficar<br />
aceitando soluções tapa-<br />
buracos, é útil, por fim<br />
lembrar que ele também<br />
como Paulo VI que dizia ser<br />
necessário "exigir transfor-<br />
mações audaciosas, profunda-<br />
mente inovadoras" no desen-<br />
volvimento dos povos. (Será<br />
da boca dos que trabalham honesta-<br />
mente.<br />
As campanhas salariais vem sendo<br />
importantíssimas para a nossa categoria<br />
porque os assalariados e volantes, de<br />
modo particular, que vivem de salários,<br />
acabam descobrindo que eles não são<br />
escravos, mas cidadãos com igual<br />
importância e iguais direitos aos gran-<br />
des, aos tubarões. Acabam des-<br />
cobrindo que o que vem de cima é<br />
chuva, granizo, faíscas. Não vale a<br />
pena esperar pelo que vem de cima,<br />
seja de Governo ou dos patrões. Eles<br />
se dão conta de que a vida nasce de<br />
baixo para cima. Cada trabalhador uni-<br />
do dá ao Sindicato uma força de briga<br />
muito maior. E é assim que os nossos<br />
companheiros descobrem que embora<br />
não consigam forças os patrões a<br />
darem aumentos maiores do que<br />
aqueles que o Governo acaba fixando,<br />
os trabalhadores podem conseguir<br />
indenizações maiores, podem conse-<br />
guir melhores condições de trabalho,<br />
podem brigar pela fiscalização do<br />
Ministro do Trabalho.<br />
Estamos avançando, não há dúvi-<br />
das. E muito, graças à firmeza dos Sin-<br />
dicatos.<br />
FETAESP<br />
que o ITR seria uma "solu-<br />
ção audaciosa"?).<br />
João Paulo II também se<br />
dirigiu aos Governos das na-<br />
ções, recomendando a eles,<br />
que, à luz de problemas tão<br />
graves nos países subdesen-<br />
volvidos, esses Governos de-<br />
volvam "à agricultura o lugar<br />
que lhe cabe no âmbito do<br />
desenvolvimento interno e<br />
internacional, modificando a<br />
tendência que, num processo<br />
de industrialização, tem leva-<br />
do, até tempos recentes, a<br />
privilegiar os setores secun-<br />
dário ( indústria) e tercíário<br />
(serviços).<br />
E para mostrar que ele<br />
sabe ver muito bem os<br />
problemas da cidade e do<br />
campo, João Paulo II con-<br />
cluiu, esclarecendo:<br />
- O amor pela terra e pelo<br />
trabalho do campo é um con-<br />
vite não a uma volta nostálgi-<br />
ca ao passado, mas a uma<br />
afirmação da agricultura<br />
como base de uma econo-<br />
mia sadia, no conjunto do<br />
desenvolvimento e do pro-<br />
gresso social de um País e do<br />
mundo.<br />
Tomara que o pessoal de<br />
Brasília, que toma decisões,<br />
que nos dizem respeito, sem<br />
nos consultar, reflita um<br />
pouco nisso...<br />
A ilha da agressão<br />
Sf^V.<br />
do não substituída pelo mes-<br />
mo gado.<br />
Os chamados defensivos.<br />
Mercúrio, por exemplo, ata-<br />
cando por dentro e por fora.<br />
A ecologia pisada.<br />
A lei desrespeitada.<br />
A justiça emperrada.<br />
Eleição adiada.<br />
Aperreado está o trabalha-<br />
dor, no meio de tanta agres-<br />
sã>.<br />
Diálogo com patrão, quase<br />
não existe.<br />
E o silêncio lambem é uma<br />
forma de agressão.<br />
Vamos nos defender, com-<br />
padre?<br />
Assim não dá: estamos<br />
cercados por todos os lados.<br />
Será que não há salda?<br />
J.F.N.<br />
Pig.3
OS POSSEIROS DE ANDRADINA VÃO EM FRENTE<br />
A Comissão dos Posseiros na<br />
denúncia para os deputados.<br />
ssembléia Legislativa. Olair lê<br />
Os posseiros vieram<br />
a São Paulo cobrar<br />
atenção ao seu drama<br />
Enquanto resistem pacifi-<br />
camente às malandragens e<br />
safadezas dos jagunços dos<br />
Abdalias (que se julgam do-<br />
nos da Fazenda Primavera),<br />
os Posseiros de Andradina<br />
aprenderam a usar uma nova^<br />
ferramenta: a palavra. E por<br />
isso estão se tornando muito<br />
conhecidos em todo o Esta-<br />
do e em outros-Estados, ser-<br />
vindo como exemplo de ação<br />
para outros trabalhadores<br />
em dificuldades.<br />
Eles não falam como man-<br />
da a gramática, nem andam<br />
na gravata, e avisam até que<br />
nem sabem direito o que sig-<br />
nificam palavras como sub-<br />
versivos, comunistas, que a ja-<br />
gunçada e seus patrões di-<br />
zem para eles. E foi isso mes-<br />
mo aue disseram ao Secretá-<br />
rio da Segurança Pública do<br />
Estado, Otávio Gonzaga Jú-<br />
nior, no dia 6 de maio, mos-<br />
trando as mãos cheias de ca-<br />
los, quando estiveram na ca-<br />
pital para cobrar um puxão<br />
de orelhas na lerda polícia de<br />
Andradina:<br />
// POSSEIROS LARGA-<br />
RAM O SERVIÇO E VIE-<br />
RAM A SÃO PAULO<br />
FALAR.<br />
Os Posseiros não tiveram<br />
dúvidas em largar o serviço<br />
para vir a São Paulo falar<br />
como chefe da polícia do Es-<br />
tado, o Secretário da Segu-<br />
rança Pública, Otávio Gon-<br />
zaga Júnior e com os deputa-<br />
dos estaduais, para mostrar<br />
suas dificuldades com os pre-<br />
tensos donos da Fazenda Pri-<br />
mavera e cobrar a desapro-<br />
priação da terra em seu fa- -<br />
vor.<br />
Eram 11, membros da Co-<br />
missão de Representantes<br />
dos Posseiros: Olair Queiroz<br />
dos Santos, Lourenço Quei-<br />
roz dos Santos, José Nunes<br />
Pereira, Manuel Batista, Ma-<br />
riano Feitosa, José Severo,<br />
Valdecir Rodrigues de Oli-<br />
veira, José Lopes, Osvaldo<br />
Pereira das Neves, Manuel<br />
de Oliveira e Rostílio Pereira<br />
da Silva. E estavam acompa-<br />
nhados pelo Presidente da<br />
Fetaesp, Roberto Toshio<br />
Horiguti, pelo advogado<br />
Herber Reis (da Fetaesp), e<br />
pelo deputado Franco Baru-<br />
selli, presidente da Comissão<br />
de Agricultura da As-<br />
sembléia Legislativa.<br />
Denunciaram as agressões<br />
dos jagunços, inclusive aos<br />
seus filhos, e reclamaram da<br />
moleza .e do pouco caso da<br />
polícia de Andradina com<br />
suas queixas. O Secretário da<br />
Segurança ficou bem impres-<br />
sionado com os posseiros e<br />
prometeu cobrar mais aten-<br />
ção, tendo ainda buscado ex-<br />
plicações do Incra quanto à<br />
desapropriação falada da Fa-<br />
Pág. 4 —Realidade Rural — Junho de 1980<br />
zenda (que anda na Presidên-<br />
cia da Republica).<br />
NA CASA DOS DEPUTA-<br />
DOS ELES DEIXARAM<br />
SEU RECADO<br />
No dia seguinte, 7 de<br />
maio, à tarde, os onze Pos-<br />
seiros compareceram à Casa<br />
dos Deputados estaduais, (a<br />
Assembléia Legislativa), onde<br />
o deputado Franco Baruselli<br />
havia convocado uma reu-<br />
nião extraordinária da Co-<br />
missão de Agricultura só<br />
para ouvi-los.<br />
A essa reunião compare-<br />
ceu quase toda a Diretoria<br />
da Fetaesp, desde o Presi-<br />
dente, Roberto Toshio Hori-<br />
gutti, aos Diretores Francis-<br />
co Benedito Rocha, Mário<br />
Vantanage, Emílio Bertuzzo,<br />
Antônio David de Souza,<br />
além do companheiro Her-<br />
ber Reis, do Depto,. Jurídi-<br />
co,. Até o prefeito Reinaldo<br />
Albertini (Secretário do S<br />
TR. de Regente Feijó), com-<br />
pareceu.<br />
A vontade, os posseiros<br />
denunciaram a queima de<br />
uma casa, as ameaças dos ja-<br />
gunços (citando um, chama-<br />
do "Volta Seca") de que ha-<br />
veriam mais problemas,<br />
agressões. Malharam não<br />
apenas os Abdalias e seus ja-<br />
gunços, mas também o pre-<br />
feito de Andradina (que é<br />
meio parente dos Abdalla) e<br />
a Delegacia de Polícia, reve-<br />
lando que existem suspeitas<br />
de envolvimento de um de-<br />
putado federal. Depois que<br />
eles falaram, o Presidente da<br />
Fetaesp fez uma exposição<br />
sobre as informações do In-<br />
cra quanto à desapropriação.<br />
Por fim os posseiros leram<br />
uma carta-convite aos depu-<br />
tados para participarem da<br />
Missa de Solidariedade, dia<br />
17 de maio.<br />
Além do deputado Baru-<br />
selli (que prometeu todo o<br />
apoio dos parlamentares e<br />
divulgar o depoimento dos<br />
posseiros), participaram da<br />
reunião também os deputa-<br />
dos Marco Aurélio Ribeiro,<br />
Goro Hama, Irmã Passoni,<br />
Eduardo Suplicy Mattaraz-<br />
zo, Doreto Campanari.,<br />
Mauro Bragatto e Rubens<br />
Costa de Lara.<br />
Uma beleza, a missa de solidariedade<br />
Era uma beleza, (pena<br />
que não possamos mostrar<br />
as fotos). No dia 18 de<br />
maio, a Igreja Nossa<br />
Senhora das Graças, em<br />
Andradina, estava decora-<br />
da com faixas que falavam<br />
dos problemas dos possei-<br />
ros entre as quais uma dizia<br />
que "onde o boi come, o<br />
povo passa fome" e outra,<br />
"Primavera, solução urgen-<br />
te". Outra faixa dizia: "A<br />
lei é dos homens, a justiça é<br />
de Deus"; outra: "Temos<br />
sede de Justiça" e "Terra,<br />
arma do lavrador". Haviam<br />
também faixas falando na<br />
necessidade de uma Refor-<br />
ma Agrária para o Brasil<br />
para solucionaro problema<br />
de minhões de outros pos-<br />
seiros e famílias sem terra<br />
ou com pouca terra.<br />
Às 13 horas a beleza fi-<br />
cou maior ainda, com o iní-<br />
cio da Missa de Solidarie-<br />
dade aos Posseiros da Fa-<br />
zenda Primavera. A Igreja<br />
ficou lotada de homens,<br />
mulheres , jovens e crian-<br />
ças; aproximadamente<br />
2.500 pessoas, participando<br />
da missa concelebrada, ten-<br />
do como figura principal o<br />
bispo D. Pedro Paulo<br />
Koop, de Lins que disse<br />
palavras bem claras e enér-<br />
gicas em apoio aos possei-<br />
ros - ver matéria abaixo.)<br />
UM FOLHETO ESPE-<br />
CIAL. FALANDO DE<br />
REFORMA AGRÁRIA.<br />
No inicio da missa, uma<br />
surpresa: o folheto bonito<br />
era especial para a missa, e<br />
o primeiro canto , o pessoal<br />
cantou de boca cheia: "Asa<br />
Branca", de Luiz Gonzaga.<br />
Na leitura (epístola), em<br />
vez de Antigo Testamento,<br />
foi lido um trecho (o início)<br />
do documento "A Igreja e<br />
os Problemas da Terra",<br />
feito no início deste ano pe-<br />
los Bispos em Itaici, defen-<br />
dendo uma Reforma Agrá-<br />
ria Autêntica. O Evangelho<br />
falava da ascenção de Jesus<br />
ao céu, depois de dar suas<br />
últimas recomendações aos<br />
apóstolos. No canto da co-<br />
munhão, um trecho dizia:<br />
"São poucos com tanta coisa<br />
e muitos que nada têm. Este<br />
mundo é esbanjado sem ser-<br />
vir para ninguém".<br />
No final, antes da palavra<br />
dos posseiros e outras' per-<br />
sonalidades, houve mais<br />
quatro cantos. Um canto<br />
dizia, num trecho: "Os ja-<br />
gunços da Fazenda tão an-<br />
dando tudo armado. E a gen-<br />
te não agüenta mais de dar<br />
queixa ao delegado". O últi-<br />
mo canto foi um bem famo-<br />
so: "Prá não dizer que não<br />
falei de flores", do Geraldo<br />
Vandré.<br />
Depois da missa,<br />
membros da Comisssão de<br />
Posseiros agradeceram pela<br />
Missa de Solidariedade e<br />
pela grande presença, e<br />
aproveitaram para repetir<br />
suas denúncias contra a fa-<br />
zenda e os jagunços, ex-<br />
O Presidente da Fataesp transmitiu as informações que colheu no<br />
INCRA.<br />
Ao lado. Diretores da Fataesp.<br />
pressando sua confiança<br />
numa solução. Depois fala-<br />
ram o Padre René Parren,<br />
que acompanha os possei-<br />
ros; o deputado Franco Ba-<br />
ruselli, presidente da Co,-<br />
missão de Agricultura da<br />
Assembléia Legislativa; e o<br />
advogado Herber Reis, da<br />
Fetaesp. . Da Federação,<br />
inclusive, estavam presen-<br />
tes o Presidente, Roberto<br />
Toshio Horiguti, o Diretor,<br />
Emílio Bertuzzo, Presiden-<br />
te do STR. de Mirandópolis,<br />
e o companheiro José An-<br />
tônio Puncotti, do Departa-<br />
mento Jurídico. Estavam<br />
presentes também o Presi-<br />
dente do STR. de Andradi-<br />
na, João dos Santos Alves<br />
Sobrinho e o presidente do<br />
STR. de Dracena.<br />
No final, duas cerimônias<br />
bonitas: a entrega aos pos-<br />
seiros da coleta da Campa-<br />
nha da Fraternidade (Cr$<br />
8,000,00), pela coordena-<br />
ção da Campanha e seu<br />
Manuel Messias de Brito<br />
com sua esposa, dona Flor,<br />
(ele no violão) cantaram<br />
várias músicas em dupla,<br />
entre as quais "Bom Jesus<br />
de Pirapora".<br />
O Secretario da Segurança prometeu mais atenção da policia<br />
em favor das queixas dos posseiros.<br />
"A terra é vossa",<br />
diz o bispo D.Pedro<br />
O bispo D. Pedro Paulo Koop, de Lins tem 75 anos e tem<br />
problemas de saúde,tanto que não agüentou até o fim da missa<br />
e teve de sair. Ele é muito conhecido na região |)tlas suas posi-<br />
ções firmes e claras e emocionou muita gente durante a missa<br />
quando ele pronunciou em sua homília, palavras de apoio aos<br />
posseiros. Vale a pena ler o que ele disse, principalmente<br />
alguns que andam falando mal dos posseiros, achando que eles<br />
estão errados.<br />
QUE CRISTÃOS SÃO ESSES, QUE TENTAM<br />
SUBIR NAS COSTAS DOS OUTROS?<br />
"Amigos e Irmãos'!<br />
Venho trazer-lhe minha<br />
solidariedade e vocês, às suas<br />
famílias e a todos os que<br />
estão com vocês!<br />
Impossível honrar a Deus,<br />
ser Cristão de verdade, sem<br />
preocupar-se com a sorte dos<br />
humildes como vocês! Uma<br />
Igreja que não considera a<br />
religião como vinda do reino<br />
de Deus a este mundo, - que<br />
não vai seguindo os passos de<br />
Jesus,- que não promove jus-<br />
tiça e salvação de gente viva<br />
para gente concreta, tal Igre-<br />
ja não merece fé...<br />
O primeiro dever de Cris-<br />
tão, hoje e aqui, é preocupar-<br />
se com a sorte do povo humil-<br />
de, pobre, injustiçado e inde-<br />
feso. Cumpro meu dever de<br />
cristão, de ajuda e apoio a<br />
vocês que sofrem o efeito das<br />
estruturas injustas, faltando-<br />
lhes o absolutamente neces-<br />
sário para sobreviver, no<br />
caso: terra para lavrar e<br />
colher.<br />
Somos seguidores de Jesus<br />
Cristo que não veio pregar<br />
uma doutrina nova sobre<br />
Deus, mas veio corrigir um<br />
conceito falso sobre Deus<br />
inventado por uma religião<br />
farisaica que funciona para<br />
proveito egoísta, que funcio-<br />
na socialmente em prejuízo<br />
dos humildes. Que cristãos<br />
são esses, que tentam subir<br />
nas costas dos outros?"<br />
"A mensagem cristão é a<br />
do Deus da bondade e justi-<br />
ça, do Deus da libertação e<br />
da fraternidade. Seu filho<br />
Jesus Cristo viveu ele mesmo<br />
essa mensagem que lhe veio<br />
de Deus Seu Pai. Por pregar<br />
e viver essa mensagem, foi<br />
condenado à morte! Ainda<br />
hoje há os que, matando pro-<br />
fetas, pensam prestar serviço<br />
a Deus!<br />
D. Pedro Paulo Koop, doente,<br />
deixou um belo recado.<br />
Amigos, louvamos e apoia-<br />
mos a união e perseverança<br />
de vocês na luta pela reconhe-<br />
cimento de seus invioláveis<br />
direitos de legítimos proprie-<br />
tários da terra em que, há<br />
longos anos vocês, pais e<br />
filhos, trabalham para o seu<br />
sustento, pobre e honesto.<br />
Seus direitos são reconhe-<br />
cidos por lei, direitos de pos-<br />
se e uso produtivo que vocês<br />
reivindicam, lutando de modo<br />
leal e ordeiro, pacificamente<br />
unidos e conscientes.<br />
Não é justo que vocês e<br />
suas famílias fiquem sem<br />
terra e sem casa, nem tendo<br />
para onde ir. De justiça, é<br />
vossa essa terra.<br />
Pecam gravemente os que<br />
vivem ameaçando a vocês<br />
com suas famílias, espalhan-<br />
do medo e terror, invadindo<br />
o que lhes não pertence.<br />
A vocês, e a todos que, ao<br />
lado de vocês, lutam por<br />
vocês, nossa solidariedade, e<br />
nosso protesto contra as<br />
violações e pressões de que<br />
são vítimas por parte dos que<br />
se julgam donos sem o serem.<br />
Deus está do lado de vocês.<br />
A Justiça divina jamais<br />
falha!"<br />
PRES. PRUDENTE-17/05/80<br />
Revoltados, os trabalhadores<br />
exigem atenção do governo<br />
e mostram prejuízos enormes<br />
Para entender porque os trabalhado-<br />
res rurais foram à concentração de<br />
Presidente Prudente, no dia 17 de<br />
maio, promovida pelos Sindicatos do<br />
Grupo Regional 10, basta acompanhar<br />
alguns dados que eles mesmo levanta-<br />
ram, mostrando quanto está valendo<br />
hoje o trabalho na roça. Depois vale a<br />
pena ver a que conclusões os próprios<br />
trabalhadores rurais, que falaram na<br />
concentração, chegaram a respeito de<br />
seu futuro.<br />
Roque Aquino Bagli, trabalhador ru-<br />
ral produtor de Presidente Prudente<br />
fez um levantamento dos custos do<br />
adubo e os comparou com os preços do<br />
amendoim. Em 26 de novembro de<br />
1977, por exemplo, o adubo (fórmula<br />
4/14/8) custava Cr$ 2.816,00 a tonelada.<br />
Em 23 de outubro do ano seguinte, es-<br />
tava em Cr$ 3.408,00. No dia 11 de ju-<br />
lho de 1979 já tinha subido para Cr$<br />
5.240,00. No dia 9 de novembro do ano<br />
passado, estava em Cr$ 7.397,00, subin-<br />
do para CrS 9.408,00. E o adubo que<br />
será entregue no dia 30 de junho, será<br />
pago no valor de CrS 11.229,00.<br />
Já o preço do amendoim no dia 1 3 de<br />
abril de 1977 era de CrS 200,00, caindo<br />
para CrS 135,00 no dia 8 de junho; para<br />
CrS 108,00 no dia 28 de agosto do ano<br />
seguinte, subindo para CrS 120,00, no<br />
dia 3 de janeiro, para subir de novo<br />
para CrS 120,00 no dia 16 de abril. O<br />
preço mínimo deste ano, em maio, era<br />
de CrS 210,00. Ou seja, CrS 10,00 a<br />
mais que em abril de 1977!<br />
HÁ TRÊS ANOS, O ÓLEO DE<br />
AMENDOIM VALIA CRS 18,00<br />
O LITRO; HOJE, 45,50...<br />
Antônio Prado, de Alvares Machado<br />
(base do STR de Presidente Prudente),<br />
lembrou que há três anos o óleo de<br />
amendoim industrializado valia CrS.<br />
18,00, e este ano, no supermercado,<br />
não se encontra a menos de CrS 45,50.<br />
E se mostrava espantado que o preço<br />
do amendoim, de onde sai o óleo, te-<br />
nha ficado no mesmo valor (porque se<br />
contar a inflação, não vale quase na-<br />
da...).<br />
Ele contou outra coisa: há quatro<br />
anos, um litro de "Azodrin" (um pro-<br />
duto muito usado na lavoura de amen-<br />
doim) valia Cr$ 35,00; hoje subiu para<br />
CrS 900,00. "Vejam o absurdo!"- disse<br />
ele. "E a mercadoria não teve alta!"<br />
Antônio Prado comentou que ele<br />
teve ainda sorte este ano de poder ven-<br />
der seu amendoim mais tarde, tendo<br />
conseguido CrS 240,00. Mas, segundo<br />
êle, 70% de seus companheiros na re-<br />
gião não conseguiu mais do que CrS<br />
210,00, outros mesmo Crt 200,00, e<br />
com os descontos, segundo ele, cai<br />
para CrS 170,00.<br />
adubos em geral, subiram em média<br />
300%!<br />
"CULPADO E O PRESIDENTE<br />
DA REPÚBLICA E SEU MINIS-<br />
TÉRIO!"<br />
O grande destaque da concentração<br />
foram ,os trabalhadores. Aqueles que<br />
falaram não precisaram de ensaio, nem<br />
precisaram quebrar muito a cabeça<br />
para pensar no que dizer, porque a si-<br />
tuação deles é tão ruim que o difícil<br />
mesmo é escolher o que dizer. Nin-<br />
guém falou tão bem como eles na con-<br />
centração. Aliás, foi a concentração<br />
em que o trabalhador dominou mais.<br />
Os trabalhadores deixaram bem cla-<br />
ro que alguma coisa precisa ser feita<br />
urgentemente pelo nosso Movimento<br />
Sindical, e com urgência, ou logo logo<br />
não haverá mais nem pequenos pro-<br />
prietários. Eles estão sentindo-se como<br />
pipoca em frigideira.<br />
José Antônio da Silva, de Caiabú (ba-<br />
se do STR de Regente Feijó) previu<br />
que a atual safra de amendoim levará o<br />
agricultor ao caos, se o Governo não<br />
tomar uma providência. Disse também<br />
que está acontecendo uma situação<br />
hoje que deveria ser pensada: nos tem-<br />
pos passados, a gente podia ir a falên-<br />
cia na cidade, mas na roça sempre ia<br />
em frente. Hoje não. "Se falia na cida-<br />
de, voltava prá lavoura e começava<br />
tudo de novo". Hoje, na lavoura os<br />
mmmmmmmmg§\<br />
Os trabalhadores rurais viram que o povo da cidade acompanhou com carinho a pas<br />
seata e apoiou o protesto contra a política agrícola e agrária do Governo. Estavam tão<br />
animados que uns queriam ir até o centro de Presidente Prudente...<br />
José Antônio da Silva, de Caiabu,<br />
também falando sobre o êxodo rural,<br />
disse que essa situação de êxodo, de<br />
desânimo, de falta de uma política fun-<br />
diária capaz de manter o homem do<br />
campo, é uma situação péssima: "Isso<br />
é mau para nós, mau para a nossa for-<br />
mação, e a formação de nossos filhos, e<br />
sobretudo é mau para a formação de<br />
uma Nação que está crescendo!"<br />
José Antônio comentou, preocupa-<br />
do, que "se o Governo não tem cora-<br />
gem de tomar uma providência para<br />
que essa situação acabe, vai ver ama-<br />
nhã uma mortandade de gente por não<br />
ter o que comer nesse País".<br />
NÃO SOMOS BICHOS! SOMOS<br />
GENTE, MERECEMOS RESPEI-<br />
TO!<br />
José Antônio revelou que fica espan-<br />
tado com outra coisa: tem muita gente<br />
na lavoura que quer trabalhar e não<br />
Durante a concentração, numa atração à parte foi o alto nível dos trabalhadores que<br />
falaram. Mostraram que sabem porque passam por tantos apertos.<br />
preços dos produtos dos pequenos não<br />
pagam nem os custos de produção, e,<br />
muito menos o trabalho.<br />
José Soares de Oliveira, de Alfredo<br />
Marcondes, disse que o Governo tem<br />
muita culpa nessa história, tanto que,<br />
em sua opinião, "foi justamente o se-<br />
nhor Ministro da Agricultura que jo-<br />
gou nós aqui hoje, porque estamos<br />
cobrando aquilo que nós fomos até<br />
Brasília reivindicar, em janeiro, quan-<br />
do o amendoim estava em Cr$ 180,00.<br />
Ele prometeu que até esta safra ele to-<br />
maria alguma solução e até hoje não<br />
disse nada para o Sindicato de Presi-<br />
dente Prudente!".<br />
A única falha no Ginásio de Esportes foi que os trabalhadores ficaram um pouco lon-<br />
ge dos oradores. Mas nem por isso eles deixaram de aplaudir e de se manifestar. E<br />
entenderam o recado...<br />
E quem completou bem estes dados<br />
foi o Presidente do Sindicato dos Tra-<br />
balhadores Rurais de Presidente Pru-<br />
dente, Altino Cremonezi, que falou em<br />
nome dos dirigentes sindicais do Grupo<br />
Regional 10.<br />
Disse ele que, de novembro do ano<br />
passado até hoje, o preço de um produ-<br />
to químico chamado "Folidol" (2%),<br />
muito usado na lavoura de amendoim,<br />
passou de CrS 230,00 para 800,00! E,<br />
citando dados de uma revista especiali-<br />
zada, disse que de agosto do ano passa-<br />
do até maio deste ano, os insumos bási-<br />
cos, tais como sulfato de amo/lia, clo-<br />
reto de potássio, salitre do Chile, uréia.<br />
Disse José Soares que "lá em Brasí-<br />
lia nós dissemos a ele que não quería-<br />
mos preço mínimo, mas preço justo,<br />
porque o preço mínimo nada resolve.<br />
O que interessa a nós é preço justo e<br />
compensador".<br />
Ele comentou uma outra coisa: "Há<br />
quatro anos -disse- se fizéssemos uma<br />
concentração, nós encheríamos este<br />
estádio com 5 vezes mais de trabalha-<br />
dores. Mas hoje eles estão dispersos na<br />
cidade, como migrantes". E esta situa-<br />
ção de desânimo, de êxodo rural, tem<br />
culpado, em sua opinião: "é o senhor<br />
presidente da Republica e o seu Minis-<br />
tério, que expulsam nós da terra".<br />
tem como, porque falta terra, falta ser-<br />
viço. E confessou que perdeu as estri-<br />
beiras há algum tempo: é que ele ouviu<br />
o Ministro Delfim Netto, do Planeja-<br />
mento, dizer que os líderes dos traba-<br />
lhadores rurais que fizeram a chamada<br />
"greve da soja" no sul eram "míopes",<br />
vesgos, que não estavam enxergando<br />
bem as coisas. "Isso desabafou José<br />
Antônio - é um crime que se faz contra<br />
o homem do campo. Se hoje nós somos<br />
taxados de míopes, de escravos, de lou-<br />
cos, é uma afronta ao homem da Na-<br />
ção, que é a base forte, que são todos<br />
os lavradores aqui presentes".<br />
E Francisco Domingues, um compa-<br />
nheiro de Palmital, recomendou (nu-<br />
mildemente) que se apoie cada vez<br />
mais os Sindicatos, para procurar os<br />
nossos direitos "porque o Governo só<br />
vive tirando cada vez mais o direito do<br />
povo".<br />
- Ele fala em abertura- comentou<br />
Francisco. Mas quando se fala em gre-<br />
ves, quando se falam certas verdades,<br />
eles vêm de pau prá cima de nós.<br />
Francisco disse que o trabalhador<br />
rural paga o preço de sempre calar:<br />
- Não podemos baixar a cabeça com<br />
essa corrupção que existe no nosso Go-<br />
verno. Vocês estão vendo o caso dos<br />
metalúrgicos. Não puderam fazer na-<br />
da. Fizeram greve, tudo agüentaram<br />
durante muito tempo, vários dias, e o<br />
Governo pôs o líder dos operários, o<br />
Lula, na cadeia. Não é assim que se faz<br />
com o trabalhador, tratando nós como<br />
bichos. Não somos bichos. Somos gen-<br />
te. Nós merecemos todo o respeito das<br />
nossas autoridades!<br />
"ESTÁ NA HORA DE DIZER;<br />
CHEGA!"<br />
Depois dos trabalhadores (só desta-<br />
camos alguns, por falta de espaço), fa-<br />
laram os dirigentes sindicais.<br />
Todos os oradores procuraram des-<br />
tacar uma coisa: a necessidade do pró-<br />
prio homem do campo levantar a cabe-<br />
ça e mudar por conta própria a situa-<br />
ção.<br />
E como? Paulo Silva comentou que<br />
se houvessem 5.000 trabalhadores reu-<br />
nidos em Presidente Prudente (e não<br />
apenas 800), e outro tanto em cada um<br />
dos mais 9 Grupos Regionais, seriam<br />
50,000 trabalhadores rurais buscando<br />
soluções e isso pesaria na balança das<br />
autoridades. Disse que é necessário um<br />
trabalho de base, de núcleos sindicais,<br />
de ligação entre c trabalhador, o Sindi-<br />
cato e a Federação, "pois do contrário<br />
ficaremos sempre nessa lenga-lenga",<br />
nessa iastimação de que tudo o que<br />
vem para nós, tem valor, porque os ou-<br />
tros se unem, formam as correntes e<br />
eles taxam o que nos vendem e tam-<br />
bém taxam o que nos compram".<br />
E completou: "Está na hora de dizer,<br />
chega!". E mostrou aos trabalhadores<br />
que eles tem que dizer "Graças a<br />
Deus" não se há médico ou dentista<br />
que consulta no Sindicato" mas se há<br />
nos sindicatos pessoas para lutar pelos<br />
nossos direitos" porque quando o tra-<br />
balho e a produção tem valor, o traba-<br />
lhador terá dinheiro para escolher seu ■<br />
médico ou dentista.<br />
O deputado Mauro Bragatto falou<br />
curtinho, levando sua-solidariedade,<br />
mostrando que o Governo é anti-<br />
nacional e anti-populare que isso se re-<br />
flete na agricultura, onde "o Ministro<br />
Stabile nada mais é do que represen-<br />
tante das multinacionais".<br />
Altino Cremonezi, Presidente do Sin-<br />
dicato de Presidente Prudente, comen-<br />
tou satisfeito que valeu a pena fazer a<br />
concentração, apesar de todas as difi-<br />
culdades, falhas, porque é o começo de<br />
uma nova luta para fazer o homem da<br />
lavoura levantar a cabeça, defender<br />
sua profissão de trabalhador rural, uma<br />
vez que com todas as mudanças na ro-<br />
ça, hoje estão desaparecendo o arren-<br />
datário, o parceiro agrícola, o forma-<br />
dor de café, estão desaparecendo as<br />
culturas do amendoim e do café e a ú-<br />
nica saída é o pessoal se tornar volante.<br />
Então é preciso começar a brigar.<br />
Por fim, o Presidente da Fetaesp,<br />
Roberto Toshio Horiguti. Ele mostrou<br />
com clareza que o governo ultimamen-<br />
te tem dado destaque à posição de que<br />
"Exportar é o que interessa ao Pais",<br />
atendendo com isso não ao interesse<br />
do povo mais necessitado mas dos ri-<br />
cos, do poder econômico e, particular-<br />
mente, das multinacionais. Não inte-<br />
ressa o sacrifício de que nós, povo bra-<br />
sileiro, tenhamos que sofrer.<br />
Roberto mostrou que o sindicalismo<br />
é a saída para uma virada na situação e<br />
disse que se cada pai ou mãe de família<br />
pensar nos seus filhos, no futuro deles,<br />
eles vão entender porque precisam<br />
participar do sindicalismo e deixar de<br />
colocar o chapéu embaixo do braço<br />
para pedir ao banco uma migalha de<br />
assistência técnica, para reivindicar<br />
uma política agrícola e econômica que<br />
interesse a nós e não aos grandes lati-<br />
fundiários, etc.<br />
SINDICATOS PRESENTES<br />
Flórida Paulista (4 pessoas); Regente<br />
Feijó (150); Ranchana (22); Quatá(l);<br />
Marilia (I); Dracena (2); Avaré (2);<br />
Palmital (21); Presidente Bernardes<br />
(21); Teodoro Sampaio (3); Itaí (I);<br />
Bernardino de Campos (2); Cravinhos<br />
(I); Presidente Epitacio (30); Junquei-<br />
rópolis (24); Pacaembú, Mirante do<br />
Paranapanema. De Alvares Machado<br />
(220) e Alfredo Marcondes (70), ambas<br />
bases do STR. de Presidente Prudente.<br />
Da Fetaesp estiveram presentes o Pre-<br />
sidente e o Secretário Geral, respecti-<br />
vamente Roberto Toshio Horiguti e<br />
Francisco Benedito Rocha, além do<br />
companheiro José Antônio Pancotti,<br />
assessor jurídico.<br />
Campanha Salarial<br />
O nosso sindicalismo já está se movimentando,<br />
desencadeando nova campanha salarial em todo o<br />
Estado de São Paulo.<br />
Nos dias 24 e 25 de maio houve, em Agudos, no<br />
Instituto Técnico e Educacional para Trabalhadores<br />
Rurais no Estado de São Paulo (ITETRESP) um<br />
encontro de todos os advogados dos Sindicatos com<br />
os advogados da Federação, durante o qual foram<br />
analisadas as quatro campanhas salariais havidas até<br />
agora, foram analisadas também as mudanças na<br />
política salarial e estudados itens novos, que pode-<br />
riam ser sugeridos aos Sindicatos, na montagem da<br />
pauta de reivindicações.<br />
No dia seguinte, 26 de maio, uma segunda-feira, o<br />
Conselho de Representantes da Fetaesp se reuniu no<br />
ITETRESP para analisar as ponderações dos advo-<br />
gados e estudar sugestões de mudanças para a mon-<br />
tagem da pauta de reinvindicações referentes à quin-<br />
ta campanha salarial, que está começando.<br />
No dia 12 de junho, se realizará na sede da<br />
FETAESP uma Assembléia Geral, em que a próxima<br />
campanha salarial será o item principal do encontro.<br />
Dessa reunião farão parte dirigentes de todos ps Sin-<br />
dicatos de Trabalhadores Rurais do Estado.<br />
APESAR DOS PATRÕES, AVANÇAMOS MUITO<br />
Como comentamos na "NOSSA POSIÇÃO", na<br />
página 3, as campanhas salariais estão modificando<br />
para melhor o nosso sindicalismo. Os patrões até<br />
agora só fizeram cara feia para nós, não quiseram<br />
diálogo. Sempre preferiram a solução cômoda do<br />
Tribunal Regional do Trabalho (TRT) decidir quanto<br />
iríamos ganhar e que mudanças haveriam nas condi-<br />
ções de trabalho dos companheiros.<br />
A esperança é de que este ano os patrões, especial-<br />
mente, a Federação patronal (a FAESP), aceite ao<br />
menos dialogar. De qualquer forma, no entanto, os<br />
Sindicatos de Trabalhadores Rurais, estão se empe-<br />
nhando em executar à risca os acórdãos, com deci-<br />
sões da Justiça do Trabalho.<br />
Na Bahia, uma greve<br />
legal e bem organizada<br />
Os trabalhadores volantes, vinculados ao Sindicato dos Tra-<br />
balhadores Rurais de Vitória da Conquista, na Bahia, que nor-<br />
malmente trabalham nas fazendas de café, na colheita da pro-<br />
dução, não estão mais dispostos a continuar engordando a<br />
patronagem na moleza.<br />
E foi com essa disposição de ânimo que eles decidiram este<br />
ano colocar um ponto final no passado de cabeça baixa e resol-<br />
veram fazer uma campanha salarial conjunta, envolvendo tam-<br />
bém a base de Barra do Choça e conseguiram deflagrar uma<br />
greve, que a justiça considerou legal, uma vez que os patrões<br />
nem se dignaram a ouvi-los, esperando que os trabalhadores<br />
não agüentassem muito tempo parados, uma vez que depen-<br />
diam do ganho semanal.<br />
Mas os trabalhadores agüentaram firmes e contaram com o<br />
apoio da CONTAG, dos Sindicatos da Bahia, Federação de<br />
Minas e outras, e foram formados dois Comitês de Solidarie-<br />
dade segundo a imprensa: um em Salvador (a capital), outro<br />
em Vitória da Conquista, para arrecadar mantimentos e<br />
dinheiro para os trabalhadores em greve, como aconteceu no<br />
ABC, em São Paulo.<br />
Quando a greve é legal, a polícia não pode prender ninguém,<br />
muito menos bater, e nem os patrões podem sustituir os traba~<br />
lhadores em greve. Mas a polícia lá tomou o partido dos<br />
patrões, escoltando os caminhões dos "gatos" que levavam<br />
substitutos para os patrões. Os "gatos" tentavam enganar os<br />
trabalhadores, prometendo boa remuneração e depois desmen-<br />
tiam, no caminho da fazenda e quem não quisesse aceitar, vol-<br />
tava a pé, conforme a imprensa. Houve uma assembléia com<br />
3.500 trabalhadores presentes, entre os quais o Presidente da<br />
CONTAG, José Francisco da Silva, um representante da<br />
Federação de Minas e dirigentes sindicais de trabalhadores<br />
rurais da Bahia.<br />
Depois de mais de 10 dias paralizados, os trabalhadores vol-<br />
taram ao serviço, aguardando o julgamento do Tribunal Regio-<br />
nal do Trabalho. Eles reivindicam CrS 155,00, os patrões con-<br />
trapropõem Crí 130,00 e o Juiz da Junta de Conciliação e Jul-<br />
gamento sugere CrS 142,00. Os trabalhadores reivindicam ain-<br />
da o cumprimento da legislação trabalhista e igualdade de<br />
salários entre homem, mulher e criança. Até há pouco tempo os<br />
homens ganhavam CrS 108,00, e as mulheres CrS 60/70.00!<br />
Malandros tentam<br />
grilar em Angatuba<br />
Uma Comissão de Traba-<br />
lhadores Rurais Produtores do<br />
bairro Faxinai, em Angatuba,<br />
acompanhada do Presidente<br />
do Sindicato, Alcides Berto-<br />
lai, e da advogada Marta Al-<br />
ves, esteve na Fetaesp e denun-<br />
ciou indivíduos inescrupulosos<br />
que, aliados a cartórios deso-<br />
nestos, fizeram uma sobrepo-<br />
sição de escrituras, pretenden-<br />
do com isso grilar as terras dos<br />
companheiros. Em Maio, in-<br />
clusive, foi feita uma correição<br />
(uma fiscalização do próprio<br />
juiz), no cartório de Angatu-<br />
ba, para acertar os ponteiros<br />
lá. Os trabalhadores rurais<br />
produtores acompanharam. A<br />
trama nasceu em cima de um<br />
pedacinho de terra num bairro<br />
chamado CORRUPÇÃO, em<br />
Itapetininga... Na próxima<br />
edição divulgaremos o depoi-<br />
mento dos trabalhadores, do<br />
Sindicato e da advogada).<br />
Realidade Rural — Junho de 1980—Pág. 5
A GREVE DA SOJA<br />
Sindicato/Cooperativa,<br />
a fórmula que fez o<br />
Governo recuar no sul.<br />
Nos fins de março, pouco antes de<br />
começar a greve dos-metalúrgicos, o<br />
Brasil todo acompanhou uma inten-<br />
sa e surpreendente movimentação<br />
dos pequenos e médios produtores de<br />
soja do Sul do País, incluindo o<br />
Mato Grosso do Sul. A movimenta-<br />
ção tinha por objetivo mostrar a opi-<br />
nião pública o descontentamento dos<br />
agricultores em relação ao injusto<br />
confisco cambial, imposto pelo Gover-<br />
no sobre as exportações no fim do<br />
ano e que prejudicava os agriculto-<br />
res.<br />
Os agriívltores haviam decidido<br />
não vender a soja enquanto o Gover-<br />
no não acabasse, com o confisco. E<br />
venceram.<br />
Por trás de toda a movimentação,<br />
que foi uma verdadeira greve dos<br />
agricultores, estavam uma poderosa<br />
"AS BASES É QUE TO-<br />
MA RAM ESSA POSI-<br />
ÇÃO"<br />
Orgenio Roth inilita no<br />
nosso sindicalismo desde<br />
seu início, ia pelos idos de<br />
l%l/62. Foi Presidente<br />
do Sindicato dos Traba-<br />
lhadores Rurais de Ijuíee<br />
nos últimos anos, corno<br />
vice-presidente da<br />
FETAG-RS, era o res-<br />
ponsável pelo trabalho de<br />
educação sindical. Nos úl-<br />
timos anos surgiram no<br />
Rio Grande do Sul divi-<br />
sões regionais de Sindica-<br />
tos, a exemplo dos nossos<br />
Grupos Regionais em São<br />
Paulo. E esse trabalho<br />
tem propiciado um impul-<br />
so novo ao sindicalismo<br />
naquele Estado.<br />
É exatamente este as-<br />
pecto que Orgenio faz<br />
questão de, destacar,<br />
como fundamental na gre-<br />
ve dos agricultores: "A-<br />
cho que a movimentação<br />
toda foi altamente válida<br />
- diz ele - porque justa-<br />
mente as bases é que to-<br />
maram esSa posição e não<br />
aconteceu por acaso, por-<br />
que a partir do momento<br />
em que o Delfim decretou<br />
o imposto, os agricultores<br />
começaram a discutir<br />
com os Sindicatos uma<br />
saída"<br />
Pág. 6<br />
Das discussões, surgi-<br />
ram subsídios para a FE-<br />
TAG que elaborou um<br />
documenlo, enviando-o<br />
ao Governo. Mas não ob-<br />
teve resposta. O Ministro<br />
do Planejamento não deu<br />
satisfação. E como a safra<br />
se aproximava, com boas<br />
perspectivas o que anima-<br />
va os produtores quejá vi-<br />
nham de duas safras ante-<br />
riores frustradas de soja e<br />
uma de trigo e esperavam<br />
recuperar-se em parte dos<br />
prejuízos nesta safra. Era<br />
também por isso que o<br />
confisco irritava tanto.<br />
Segundo o Presidente,<br />
dois Grupos Regionais de<br />
Sindicatos, particular-<br />
mente, partiram na dian-<br />
teira. Passo Fundo e Ijuí,<br />
ganhando de imediato, e a<br />
nível estadual, um impor-<br />
tante aliado: o movimento<br />
cooperativista, através da<br />
poderosa FECOTRIGO.<br />
que domina a produção e<br />
comercialização da soja<br />
do Sul do País. E através<br />
das cooperativas, foi mais<br />
fácil o movimento dos<br />
produtores chegar a Santa<br />
Catarina, Paraná e Mato<br />
Grosso do Sul.<br />
A aliança entre sindica-<br />
tos e cooperativas (onde<br />
80% dos associados são fi-<br />
liados a nossos Sindica-<br />
rede de cooperativas e um conjunto<br />
de sindicatos de trabalhadores rurais<br />
bastante ativos. Só alguns sindicatos<br />
patronais participaram, mas cairam<br />
fora da briga antes do fim, com<br />
medo das reações do Governo.<br />
E a coordepação de toda a movi-<br />
mentação foi do Movimento Sindical<br />
dos Trabalhadores Rurais, através<br />
da nossa Federação co-irmã do Rio<br />
Grande do Sul (EEIAG-RSj. onde<br />
estava assumindo o novo Presidente,<br />
Orgenio Rothide Ijuí - foco princi-<br />
pal do movimento}, substituindo a<br />
Ge lindo Zulmiro Ferri, que assumi-<br />
ria dias depois a Secretaria Geral da<br />
CONTAG.<br />
Dada a grande repercussão do<br />
movimento. Realidade Rural publica<br />
nesta edição entrevista com o Presi-<br />
dente da EETAG.<br />
Orgênio defende maior inte-<br />
gração nacional do nosso sin-<br />
dicalismo.<br />
tos), e toda a movimenta-<br />
ção, logo sensibilizou urna<br />
área importante: os políti-<br />
cos, inclusive os governis-<br />
tas colocaram-se a favor<br />
do movimento e o pró-<br />
prio Secretário da Agri-<br />
cultura do Estado se<br />
também posicionou logo<br />
favorável às reivindica-<br />
ções dos agricultores.<br />
Aliás, sobre a participa-<br />
ção dos políticos, Orgenio<br />
Roth conta um fato muito<br />
interessante: "No dia 21<br />
de março, em Ijuí, foi rea-<br />
lizada uma grande con-<br />
centração, de aproxima-<br />
damente 8.000 agriculto-<br />
res, com a presença de 84<br />
Sindicatos e 32 cooperati-<br />
vas. Também participa-<br />
ram políticos de todos os<br />
partidos atuais, mas estes<br />
não puderam falar porque<br />
os agricultores não lhes<br />
deram oportunidade, ale-<br />
gando que eles poderiam<br />
ouvir os reclamos mas<br />
que não lhes era permiti-<br />
do o uso da palavra".<br />
Assim os políticos tive-<br />
ram de ouvir tudo. de<br />
boca fechada. É bem ver-<br />
dade que depois, segundo<br />
Orgenio. alguns apoia-<br />
ram, mas sem abrir o jogo.<br />
Mas, em compensação, os<br />
outros políticos se im-<br />
pressionaram tanto com a<br />
firmeza do comportamen-<br />
to dos agricultores que<br />
logo a própria Assembléia<br />
Legislativa criou uma Co-<br />
missão Especial da Soja.<br />
convidando representan-<br />
tes das Assembléias de<br />
Santa Catarina. Paraná e<br />
São Paulo. "Então - con-<br />
ta Orgenio - a partir daí<br />
a gente verificou que tam-<br />
bém foi um grande apoio,<br />
o da área politicagem fa-<br />
vor dos agricultores".<br />
SIND1CATO-<br />
COOPERATIVA. UMA<br />
ALIANÇA QUE DA<br />
CERTO NO SUL<br />
E bem verdade que o<br />
cooperalivismo não tem<br />
lá tanta democracia inter-<br />
na como pode parecer.<br />
São poucas as cooperati-<br />
vas que se empenham de<br />
fato em incentivar e pro-<br />
piciar a mais ampla possí-<br />
vel participação dos seus<br />
associados nas suas deci-<br />
sões. Mas nos últimos<br />
tempos tem surgido um<br />
fato novo. que vem for-<br />
çando as cooperativas a<br />
entrarem nos eixos: a<br />
atuação dos Sindicatos.<br />
Como diz Orgenio. cer-<br />
ca de 80 u „ dos associados;<br />
das cooperativas são vin-<br />
culados aos Sindicatos<br />
dos Trabalhadores 'Rurais<br />
e por isso o sindicalismo e<br />
os trabalhadores rurais<br />
tem forçado as cooperati-<br />
vas a seguir uma linha<br />
política favorável a eles. E<br />
a própria existência desse<br />
cooperalivismo dominado<br />
por pequenos, segundo<br />
Orgenio, foi que propi-<br />
ciou essa movimentação<br />
dos agricultores. Não fos-<br />
sem as cooperativas, a so-<br />
ja, que estava na época<br />
sendo vendida acima de<br />
Cr$ 500,00, estaria sendo<br />
vendida a aproximada-<br />
mente Cr$ 300,00, tal o<br />
poder de controle do mer-<br />
cado pelas multinacio-<br />
nais.<br />
Nos cursos de educação<br />
sindical . o cooperativis-<br />
mo é um dos pontos de<br />
Sindicalismo e cooperalivismo: um casamento possível?<br />
honra: "Sempre mostra-<br />
mos o Sindicato como ór-<br />
gão de representação, e a<br />
cooperativa, como a defe-<br />
sa econômica do nosso<br />
trabalhador" — diz Orge-<br />
nio.<br />
FALTA DE TERRA.<br />
QUE UMA REFORMA<br />
AGRÁRIA RESOLVE-<br />
RIA.<br />
No seu comodismo de<br />
sempre, o INCRA diz que<br />
a fronteira agrícola gaú-<br />
cha se esgotou, e com isso<br />
quer argumentar qúc não<br />
há porque falarem Refor-<br />
ma Agrária, em redistri-<br />
buição de terras nesse Es-<br />
tado. Há certas áreas no<br />
Estado, particularmente<br />
nas regiões de pecuária,<br />
onde a produção é primi-<br />
tiva ainda, utilizando-se<br />
imensas áreas de terra que<br />
poderiam ser melhor usa-<br />
das com a agricultura dos<br />
pequenos produtores sem<br />
terra, que são milhares<br />
também no Rio Grande<br />
do Sul, embora eles te-<br />
nham muito bons conhe-<br />
cimentos de técnica e pro-<br />
dutividade.<br />
Há também o crime de<br />
se fazer florestamento em<br />
áreas ótimas de agricultu-<br />
ra, ou, como acontece na<br />
região metropolitana de<br />
Porto Alegre e às margens<br />
de outras grandes cidades<br />
(a exemplo de São Paulo),<br />
ocorre que terras muito<br />
boas que serviriam para<br />
hortigranjeiros, são des-<br />
perdiçadas por causa da<br />
especulação imobiliária.<br />
Ocorre um fato que mere-<br />
ce reflexão: 70",, do arroz<br />
gaúcho é produzido por<br />
pequenos agricultores'em<br />
terras arrendadas de gran-<br />
des proprietários, a 30",,<br />
da produção.<br />
Se não houver logo uma<br />
redistribuição de terras no<br />
Estado, conta Orgenio, o<br />
êxodo rural que já é gran-<br />
de, vai aumentar ainda<br />
mais, podendo até mesmo<br />
desaparecer a pequena<br />
propriedade e encarecer<br />
perigosamente o custo da<br />
comida.<br />
OS SINDICATOS BRI-<br />
GAM POR UMA POLÍ-<br />
TICA AGRÍCOLA<br />
MAIS CLARA E SEGU-<br />
RA<br />
Apesar da tendência de<br />
aumentar o número de as-<br />
salariados no campo, e<br />
mesmo de se acentuar o<br />
surgimento de trabalha-<br />
dores volantes nas áreas<br />
de trigo e soja, as maiores<br />
preocupações do sindica-<br />
lismo de trabalhadores ru-<br />
rais no Rio Grande do Sul<br />
é com a política de produ-<br />
ção e preços. Tanto que,<br />
segundo Orgenio. "os Sin-<br />
dicatos não vão parar sua<br />
movimentação e vão bus-<br />
car mais soluções no sen-<br />
tido de reivindicar princi-<br />
palmente a adoção de<br />
uma política agrícola cla-<br />
ra e segura".<br />
Orgenio, por fim, fala<br />
também do Movimento<br />
Sindical a nível nacional.<br />
Ele diz que não há ainda<br />
um entendimento muito<br />
grande entre as diversas<br />
regiões, mas a tendência,<br />
em compensação, é cada<br />
vez mais o Movimento<br />
Sindical se integrar, uma<br />
vez que, no fundo, os<br />
problemas são os mesmos<br />
e a reivindicação pela ter-<br />
ra une de Norte a Sul.<br />
O grande desafio do<br />
Movimento Sindical, se-<br />
gundo ele, é encontrar<br />
uma fórmula para desen-<br />
volver uma ampla educa-<br />
ção sindical nas bases, o<br />
que dará ao trabalhador<br />
maiores condições de par-<br />
ticipar das decisões que<br />
lhe dizem respeito.<br />
Ele acha também que<br />
movimentos, do tipo da<br />
"greve da soja"', são mui-<br />
tas vezes mais importan-<br />
tes do que congressos,<br />
uma vez que muitas reso-<br />
luções de congressos aca-<br />
bam ficando no papel, en-<br />
quanto que as movimen-<br />
tações despertam os tra-<br />
balhadores rurais, os edu-<br />
cam muito mais.<br />
Realidade Rural — Junho de 1980
O professor sugeriu visitas a cooperativas<br />
Em Penápolis,<br />
uma bela aula<br />
sobre cooperativas<br />
O professor Guttierez, do<br />
Incra, é muito conhecido no<br />
interior, onde até ajudou a<br />
fundar alguns sindicatos,<br />
como ele diz. E no final de<br />
abril ele fez uma palestra na<br />
sede do Sindicato dos Traba-<br />
lhadores Rurais de Penápo-<br />
lis, sobre cooperativismo,<br />
para delegados dos Núcleos<br />
Sindicais de base e outros<br />
trabalhadores interessados.<br />
Ele começou sua palestra<br />
lembrando um ditado do<br />
homem da lavoura: "Começo<br />
da cantiga é um assobio..."<br />
Então explicou sua idéia.<br />
Lembrou que anos trás os<br />
trabalhadores eram acanha-<br />
dos, não trocavam idéias en-<br />
tre si. Tinham medo. Quando<br />
começavani a se organizar,<br />
tinha sempre alguém cha-<br />
mando de comunista, de sub-<br />
versivo. Só os grandes é que<br />
podiam se organizar.<br />
Mas, apesar disso, os tra-<br />
balhadores fundaram o Sin-<br />
dicato. Ai deram o primeiro<br />
passo de união e através do<br />
Sindicato, começaram a lu-<br />
tar por seus direitos.<br />
Só que o Sindicato não re-<br />
solve todos os problemas;<br />
porexemplo, o Sindicato não<br />
pode comercializar a produ-<br />
ção do lavrador, nem ter loja<br />
para vender para o lavrador<br />
a preços mais baixos o que<br />
ele precisa. É por isso que os<br />
trabalhadores de l\-nápolis<br />
precisam dar agora um se-<br />
gundo passo: vão ter que se<br />
dar as mãos também na parte<br />
econômica.<br />
Como primeiro passo, eles<br />
fundaram o Sindicato. Como<br />
segundo passo na defesa dos<br />
seus diritos e do seu trabalho<br />
eles precisam pensar no coo-<br />
perativismo. Como diz o pro-<br />
fessor, "é mais fácil vender<br />
um lote de mil sacas de café<br />
do que só cinco sacas". E<br />
com apenas 20 ou 30 produ-<br />
tores, pode surgir uma coo-<br />
perativa e comprar uma má-<br />
quina de beneficiar café e ga-<br />
nhar com melhores preços.<br />
O "ASSOBICT. COME-<br />
ÇA VISITANDO COO-<br />
PERATIVAS.<br />
É bem verdade que o pro-<br />
fessor vai avisando que não<br />
está sugerindo que os produ-<br />
tores fundem uma cooperati-<br />
va. Isso Já seria Ia/era canti-<br />
ga. Afinai, não é tão fácil as-<br />
sim tambéin fundar uma coo-<br />
perativa. É preciso um sujei-<br />
lo honesto, competente, que<br />
todo o mundo aceite, que te-<br />
nha capacidade de adminis-<br />
trar. E preciso refletir muito<br />
antes. Mas os trabalhadores<br />
rurais podem começar a as-<br />
sobiar enquanto isso, através<br />
O Presidente do Sindicato<br />
é contra grandes conosco<br />
O companheiro Antônio da<br />
Silva, presidente do Sindicato<br />
dos Trabalhadores Rurais de<br />
Penápolis, ouviu atentamente o<br />
professor Gutierrez e também<br />
resolveu expor seu ponto de<br />
vista.<br />
Para começar, ele não con-<br />
corda com cooperativas com<br />
pequenos e grandes junto, por-<br />
que, em sua opinião, os gran-<br />
des sempre acabam se benefi-<br />
ciando em prejuízo dos direitos<br />
dos pequenos.<br />
Mas o caminho, para ele,<br />
não é outro: é o cooperativismo<br />
mesmo. Existem ai grandes<br />
grupos econômicos que estão<br />
querendo explorar os trabalha-<br />
dores rurais, produtores e<br />
assalariados. Os trabalhado-<br />
res rurais têm condições de<br />
enfrentar esses grupos, só que<br />
não pode ser do jeito que os<br />
trabalhadores estão hoje: "Se-<br />
parados como estamos - alerta<br />
ele - não passamos de meros<br />
números, sem resistência algu-<br />
ma".<br />
"O CORPO HUMANO<br />
NOS ENSINA A NOS<br />
DEFENDER"<br />
Antônio disse a seus compa-<br />
nheiros que em cooperativis-<br />
mo. como no sindicalismo, a<br />
gente não pode falar eni eu<br />
mas sim eni nós. Por isso ele<br />
foi alertando o pessoal: "Não<br />
quero ser nenhum fundador de<br />
cooperativa. Mas tem que ser<br />
nossa íe não minha I. E tem<br />
que ter um grupo maior de tra-<br />
balhadores rurais füiados tam-<br />
bém".<br />
Os pequenos produtores<br />
hoje estão numa difícil situa-<br />
ção. Segundo Antônio, "não<br />
podemos mahaceitaressa situa-<br />
ção, porque os que ficarem na<br />
roça. vão ter que sair ama-<br />
nhã".<br />
A í então, ele usou um exem-<br />
plo, muito simples, para expli-<br />
car sua idéia: "É como quando<br />
a gente tem um ferimento: as<br />
outras células do corpo se jun-<br />
do Sindicato, formando gru<br />
pos para visitar as cooperati<br />
vas da região, verificando<br />
sua organização, verificando<br />
o quanto ganhariam com o<br />
cooperativismo. Fazendo<br />
perguntas para os dirigentes<br />
das cooperativas.<br />
O professor Guttierez vai<br />
provocando água na boca<br />
dos trabalhadores presentes<br />
com suas sugestões, desper-<br />
tando o interesse. Segundo<br />
ele, "a cooperativa é como<br />
uma balança: ela existindo o<br />
comércio em geral acompa<br />
nha seus preços. Se ela não<br />
existir, o pessoal do comér-<br />
cio nada de braçada...". E<br />
para completar, explica que<br />
tudo o que os trabalhadores<br />
pensarem fazer em matéria de<br />
cooperativismo. pode ser<br />
feito, inclusive vender na<br />
cooperativa tudo o que se<br />
vende num armazém ou su-<br />
permercado. E com vanta<br />
gens para os associados.<br />
O BREJO SE ENCHE<br />
DE SAPOS, QUANDO<br />
TEM COBRA PERTO...<br />
O Sindicato surgiu porque<br />
os trabalhadores se uniram,<br />
não agüentando mais tanto<br />
aperto e dificuldades. Para<br />
não serem esmagados, os tra-<br />
balhadores se uniram para se<br />
defender.<br />
O professor lembra que<br />
era bom a gente usara cabe-<br />
ça para se defender antes do<br />
que ficar esperando o aperto<br />
e o atropelo. E o homem da<br />
lavoura ás vezes é meio duro<br />
de cabeça, por isso apanha,<br />
como diz o professor: "Acho<br />
que o roceiro tem que apa-<br />
nhar no relho para aprender,<br />
porque não quer se unir. Por<br />
que os professores unidos<br />
conseguem aumento? Por<br />
que os operários de São Pau-<br />
lo se uniram e lêm aumento?<br />
E por que tem a forca da<br />
união".<br />
O professor tem esperanç;<br />
de que os lavradores acaben.<br />
entendendo um dia até onde<br />
eles podem chegar. De qua.<br />
quer maneira, secundo ele. o<br />
tempo vai se encarregar de<br />
dar uma mão. Para dar um;<br />
idéia, ele fala que vai aconte<br />
cer como acontece na beir;<br />
do brejo: se a gente joga um;.<br />
pedra no meio do capim o<br />
brejo logo se enche de sapos<br />
que pulam para dentro. É<br />
por que eles têm medo de<br />
cobra... Sapo descuidado e<br />
teimoso acaba na barriga da<br />
cobra.<br />
tam para defender a ferida e<br />
assim elas defendem o corpo. E<br />
assim também nós: separados<br />
nós vamos perecer, com nossas<br />
propriedades sendo anexadas<br />
ao latifundiário. Ele nos sol-<br />
tam uma boiada e vamos ter<br />
que sair correndo''.<br />
Em S. Carlos,<br />
Santa Casa só atende<br />
às portas do céu<br />
. A Santa Casa de São Carlos só está atendendo trabalha-<br />
dores rurais às portas do céu... A denúncia é do Presidente<br />
do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, José Garcia Dias,<br />
que vem encontrando enormes dificuldades para encami-<br />
nhar ao hospital os trabalhadores rurais que têm direito a<br />
um atendimento digno.<br />
No Bairro das Corujas, em<br />
Juquiá, no Vale do Ribeira,<br />
há famílias que residem lá,<br />
tendo recebido a terra de<br />
seus bisavós que tinham pas-<br />
sado a viver por lá há mais de<br />
100 anos, começando na<br />
lavoura da banana. E como<br />
acontece em todo o Vale do<br />
Ribeira, eles não se preocu-<br />
param muito em providen-<br />
ciar títulos para suas terras,<br />
porque era uma complicação<br />
muito grande. Naquele tem-<br />
'po, além disso, havia muita<br />
terra e não era costume rou-<br />
bar a terra dos outros.<br />
Mas em março último a<br />
situação de calma e de paz<br />
que havia no Bairro, onde<br />
vivem 100 famílias aproxima-<br />
damente, começou a mudar.<br />
Cada família, em média, tem<br />
10 alqueires. Por aí se pode<br />
ver que a área é bem grande.<br />
E qual não foi a surpresa em<br />
VALE DO RIBEIRA<br />
Grileiro inferniza<br />
vida em Juquiá.<br />
março quando, por Tapirai,<br />
no sítio do nissei Tadao, um<br />
grupo de grileiros e jagunços<br />
começou a cercar áreas!<br />
Três posseiros cuidaram logo<br />
de cortar as cercas e foram<br />
presos pelo delegado, porque<br />
pensava que eles iam prati-<br />
car agressão. Quando des-<br />
cobriu que eram pacíficos,<br />
soltou-os.<br />
Segundo o Presidente do<br />
Sindicato dos Trabalhadores<br />
Rurais de Juquiá, Edgar<br />
Alves da Costa, não se sabe<br />
ao certo o nome do grileiro.<br />
Dizem que é um tal Manoel<br />
Cruz. Mas não foi ainda<br />
comprovado. Segundo se<br />
conta, ele pretende grilar 800<br />
alqueires e vender a uma<br />
pessoa de São Paulo.<br />
De qualquer forma, os<br />
posseiros logo se movimenta-<br />
ram, ainda mais que com eles<br />
reside o Secretário do Sindi-<br />
Lídia é líder de bairro;<br />
veja como ela pensa.<br />
Dentro da recomendação<br />
do III Congresso Nacional<br />
dos Trabalhadores Rurais,<br />
realizado em Brasília no ano<br />
passado, de que é necessário<br />
fazer com que toda a família<br />
do trabalhador rural e não<br />
apenas ele participe da vida<br />
do Sindicato, Realidade<br />
Rural publica mais uma<br />
entrevista, com uma mulher.<br />
I ídia do Espírito Santo, é<br />
solteira e reside no Bairro<br />
Guabiru, Ribeira Abaixo, em<br />
Registro. Ela foi escolhida<br />
como líder dh bairro, delega-<br />
da sindical desse Núcleo. Na<br />
edição anterior publicamos<br />
uma entrevista com Maria<br />
José de Sou/a Vidal, que<br />
também é líder de bairro do<br />
Sindicato de Registro. E nas<br />
próximas edições continua-<br />
remos a publicar entrevistas<br />
com mulheres que partici-<br />
pam da vida de outros Sindi-<br />
catos. Seria muito bom que<br />
as leitoras do Realidade Ru-<br />
ral, que acompanham estai<br />
entrevistas, nos escrevessem,<br />
fazendo comentários, suges-<br />
tões e mesmo críticas.<br />
A reunião de que falamos<br />
nessa entrevista foi feita em<br />
abril, com os primeiros 10 lí-<br />
deres de bairro do Sindicato<br />
de Registro (a próxima reu-<br />
nião deles será dia 14 de<br />
junho).<br />
Fizemos questão de publi-<br />
car a entrevista toda, porque<br />
através de respostas curtas,<br />
Lídia foi mostrando seu<br />
mundo, o que pensa, mos-<br />
trando que os Sindicatos, tão<br />
logo formem seus Núcleos<br />
Sindicais e sejam escolhidos<br />
pelos trabalhadores os seus<br />
delegados (ou líderes de bair-<br />
ro), precisam pensar num<br />
bom curso de educação sin-<br />
dical, para desinibir os dele-<br />
gados e despertar neles capa-<br />
cidade de organização, ini-<br />
ciativa e liderança.<br />
"ISSO DEVIA ESTAR<br />
ACONTECENDO HÁ<br />
MAIS TEMPO"<br />
P. Parece que a mulher não<br />
tem participado muito da vida<br />
do Sindicato. Ela vai buscar<br />
assistência médica e dentária,<br />
ela vai até mais ao Sindicato<br />
do que o marido, vai buscar<br />
assistência para ela e para os<br />
filhos. É ela enfim quem mais<br />
visita o Sindicato. No entanto,<br />
há muito mais para a mulher<br />
fazer no Sindicato. Ê o que<br />
você por exemplo, começa a<br />
descobrir, ao ser escolhida<br />
como líder do seu bairro, como<br />
delegada do seu Núcleo Sindi-<br />
cal.<br />
O que nos interessa nessa<br />
conversa é saber da sua opi-<br />
nião sobre o papel da mulher<br />
na vida do Sindicato. Você<br />
acha que a mulher está mesmo<br />
participando da vida do Sindi-<br />
cato?<br />
Lídia: Por enquanto eu não<br />
estou vendo muita participa-<br />
ção, não. Estou vendo mais<br />
homem que mulher no Sindica-<br />
to.<br />
P. E como é que você acha que<br />
a mulher deveria participar na<br />
vida do Sindicato?<br />
Lídia: Não sei bem, ao certo.<br />
E a primeira vez que eu partici-<br />
po de uma reunião como esta.<br />
Mas antes eu nem pagava o<br />
Sindicato. Comecei a pagar no<br />
mês passado. Antes de eu<br />
pagar, vinha sempre ao Sindi-<br />
cato com a carteirinha do meu<br />
pai.<br />
P. Você estaria disposta a aju-<br />
dar as esposas dos trabalhado-<br />
res rurais lá onde você reside,<br />
divulgando o Sindicato, trans-<br />
mitindo aquilo que você está<br />
vendo no Sindicato, como, por<br />
exemplo, a reunião de hoje?<br />
Acha que é válido aquilo que<br />
você ouviu hoje aqui?<br />
Lídia: Acho muito válido e<br />
acho que isso devia estar acon-<br />
tecendo há muito mais tempo.<br />
Devia ter há mais tempo uma<br />
pessoa tá no meu bairro repre-<br />
sentando o Sindicato. Tem<br />
muita gente que precisa de<br />
esclarecimento, de orientação.<br />
P. Daquilo que você ouviu aqui<br />
hoje, alguma coisa serve para<br />
lhe ajudar a conversar com a<br />
esposa de outro trabalhador?<br />
Lídia: Serve muito.<br />
P. Acho muito difícil entender<br />
o que foi dito, ou não?<br />
Lídia: Eoi fácil de entender.<br />
P. Você teria condições de<br />
transmitir alguma coisa do que<br />
ouviu para as esposas dos tra-<br />
balhadores e para os próprios<br />
trabalhadores?<br />
Lídia: Eu acho que daria, sim.<br />
COMO ASSOCIADA,<br />
UMA SENSAÇÃO DE<br />
VALOR<br />
P. Como é que você acha que<br />
os homens lá no seu bairro vão<br />
receber a sua indicação como<br />
líder de bairro, delegada sindi-<br />
cal? Vão participar das reu-<br />
niões que você convocar?<br />
Lídia: Eu acho que sim. Lá<br />
quase ninguém fala em Sindi-<br />
cato, pelo que eu vejo.<br />
cato, que logo procurou<br />
recomendar organização. E<br />
no dia 27 de abril houve uma<br />
reunião no local, com pre-<br />
sença de toda a Diretoria do<br />
Sindicato e um membro do<br />
Conselho Eiscal, em que o<br />
Sindicato ouviu os posseiros<br />
e garantiu, de imediato, todo<br />
o apoio, recomendando aos<br />
posseiros para que o colocas-<br />
se a par de tudo quanto ocor-<br />
resse.<br />
Conforme conta Edgar,<br />
"os posseiros reagiram muito<br />
bem. Muitos deles, que não<br />
sabiam do trabalho do Sindi-<br />
cato e por isso não procura-<br />
vam o Sindicato, logo se ani-<br />
maram e pediram colabora-<br />
ção total".<br />
Segundo Edgar, o Sindica-<br />
to está apressando um amplo<br />
levantamento da área dos<br />
posseiros, verificando o<br />
tamanho das posses, o nome<br />
das pessoas residentes na<br />
área, benfeitorias, etc. Este<br />
levantamento de fôlego logo<br />
estará pronto. Com ele, o<br />
Sindicato vai tomar as provi-<br />
dências cabíveis.<br />
P. Mas os trabalhadores lá do<br />
bairro são unidos, não?<br />
Lídia: Sim.<br />
P. Como é que você acha que a<br />
mulher poderia participar<br />
mais da vida do Sindicato?<br />
Hoje você diz que a mulher<br />
está participando pouco. Acha<br />
que com este trabalho que está<br />
surgindo, com líderes de bair-<br />
ro, deveria estar acontecendo<br />
há mais tempo. Mas deve.<br />
saber que passamos um certo<br />
período no País, difícil, com<br />
um general atrás do outro, que<br />
dificultou as atividades do sin-<br />
dicalismo. Como é que a<br />
mulher poderia participar<br />
mais?<br />
Lídia: Geralmente as mulheres<br />
não se interessam pelo Sindi-<br />
cato. É mais os homens. Por-<br />
que, no caso. eu também não<br />
me interessava, porque meu<br />
pai era associado e a carteiri-<br />
nha dele servia para mim.<br />
Agora não serve mais e por<br />
isso me associei.<br />
P. Mas você está gostando de<br />
poder pagar e poder chegar<br />
aqui no Sindicato com a sua<br />
carteirinha?<br />
Lídia: Sim.<br />
P. Que sensação que você tem,<br />
sendo você mesma associada?<br />
Lídia: Uma sensação de liber-<br />
dade, parece. Não precisa mais<br />
do pai.<br />
P. Você já pensou num plano<br />
de trabalho lá para o seu Nú-<br />
cleo Sindical, o seu bairro?<br />
Lídia: Vou procurar fazer o<br />
possível para melhorar o pes-<br />
soal de lá, para que eles<br />
paguem o Sindicato também,<br />
que é para colaborar mais.<br />
P. Você tem alguma idéia para<br />
unir mais as mulheres do seu<br />
bairro?<br />
Lídia: A gente tem que fazer<br />
uma reunião lá para ver, né,<br />
Porque sem conversar com<br />
elas, a gente não pode falar.<br />
Realidade Rural — Junho de 1980 Pág. 7
PRESIDENTE VENCESLAU 20/05/1980<br />
Descansem em paz, companheiros!<br />
Francisco de Oliveira<br />
Aparecido Alves de Souza,<br />
Antônio José da Silva de Celles<br />
José Aparecido de Celles,<br />
Cicero Morales,<br />
Marta Aparecida Ribeiro da Silva,<br />
Maria dos Anjos Silva<br />
Neli Ferreira de Souza,<br />
Verônica Maria dos Santos (16 anos)<br />
José Antônio Borges dos Santos (13 anos)<br />
Fátima Lúcia dos Santos.<br />
Vocês nio precisam mais<br />
esperar o caminhão de gentel<br />
Nesse dia, 11 volantes<br />
deixaram esse Pais ín/usto<br />
O Movimento Sindicai<br />
dos Trabalhadores Rurais<br />
no Estado de São Paulo,<br />
mais uma vez, está de<br />
luto. Nada menos do que<br />
11 companheiros volan-<br />
tes, por aí chamados de<br />
"boias-frias", morreram<br />
no dia 20 de maio, num<br />
acidente envolvendo um<br />
caminhão de gente e um<br />
caminhão de bois, no km<br />
62 da Rodovia da Integra-<br />
ção (SP-563) entre Mara-<br />
bá Paulista e Presidente<br />
Venceslau.<br />
Conforme o nosso com-<br />
panheiro Mituro Mizuka-<br />
wa, do Departamento<br />
Jurídico da Fetaesp<br />
(atuando na região), que<br />
está encaminhando os<br />
processos das famílias, o<br />
acidente ocorreu na ponte<br />
do rio Santo Anastácio,<br />
quando o caminhão dos<br />
trabalhadores (um F.600,<br />
79, da fazenda Malvina),<br />
com 58 pessoas, foi atingi-<br />
do violentamente na tra-<br />
seira pelo caminhão boia-<br />
deiro, dirigido por José<br />
Piva Fernandes, sendo o<br />
caminhão de gente desgo-<br />
vernado e jogado no rio, 8<br />
metros abaixo.<br />
HÁ 15 ANOS,<br />
OUTRO ACIDENTE<br />
TÃO GRAVE. E O<br />
POVO DA CIDADE<br />
NÃO ESQUECEU.<br />
Segundo Mituro, o<br />
caminhão de gente vinha<br />
da Fazenda Malvina, de<br />
propriedade de José Pinto<br />
Lima (empresa Oeste-<br />
plan). Os companheiros<br />
volantes haviam trabalha-<br />
do na colheita de crotolá-<br />
ria (um produto para fazer<br />
papel fino em geral). Eles<br />
estavam até contentes,<br />
haviam recebido o cheque<br />
com a remuneração do<br />
dia. O caminhão da fazen-<br />
da (com lona preta e bran-<br />
co só nas laterais) ia bus-<br />
cá-los normalmente na<br />
cidade, pois 50% trabalha-<br />
vam habitualmente na<br />
fazenda. No dia 20, depois<br />
do serviço, o caminhão<br />
partiu para a cidade (que<br />
tem 80 mil habitantes),<br />
mas logo depois de deixar<br />
a estrada de acesso á<br />
fazenda e entrar na rodo-<br />
via, numa baixada, o<br />
caminhão de gente foi<br />
colhido pelo caminhão de<br />
bois, que não conseguiu<br />
frear a tempo. O caminhão<br />
de gente caiu no rio e o<br />
caminhão de bois caiu logo<br />
adiante, matando alguns<br />
animais. Os dois motoris-<br />
tas feriram-se.<br />
A cidade ficou revolta-<br />
da com o que aconteceu.<br />
Segundo o noticiário da<br />
imprensa, milhares de<br />
pessoas acompanharam<br />
os 5 carros fúnebres que<br />
levaram os corpos dos 9<br />
primeiros companheiros<br />
que faleceram. Inclusive<br />
100 carros. A população<br />
recordava que outro aci-<br />
dente semelhante havia<br />
ocorrido há mais de 15<br />
anos, matando 12 compa-<br />
ATE QUANDO ESSA HUMILHAÇÃO?<br />
Dirigentes sindicais dizem<br />
o que viram na tal<br />
"Cooperativa de Volantes"<br />
Numa reunião dos dirigentes sindicais no<br />
Instituto Técnico e Educacional para Traba-<br />
lhadores Rurais no Estado de São Paulo (ITE-<br />
TRESP), em Agudos, em fevereiro, o Presi-<br />
dente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais<br />
de Santa Fé do Sul, Valdomiro Cordeiro, con-<br />
tou que, quando o Sindicato se opôs à coope-<br />
- rativa de volantes que o Governo pretendia<br />
implantar no município e conseguiu impedir<br />
sua implantação, ouviu do então Secretário<br />
das Relações do Trabalho, Maluly Netto, uma<br />
espécie de puxão de orelhas: "Vocês não<br />
querem instalar a cooperativa que eu dei,<br />
hein..."<br />
Pois a opinião unânime dos nossos dirigen-<br />
tes sindicais é de que essas coisas que decidi-<br />
ram chamar de "cooperativas" são, na verda-<br />
de, um "presente de grego", como se diz na<br />
gíria, uma verdadeira bomba contra o Sindi-<br />
cato e contra o trabalhador.<br />
Aliás, não é de se estranhar que um jorna-<br />
lão patronal tradicional da capital faça tanta<br />
propaganda de uma dessas "cooperativas", a<br />
de Franca. E vários dirigentes sindicais deci-<br />
diram visitar a tal "cooperativa", para ver de<br />
perto a "maravilha".<br />
CRISPIM:"É O TROÇO MAIS NOJEN-<br />
TO QUE JÁ VI".<br />
Uma comissão de dirigentes, -do Grupo<br />
Regional 9, visitou a "cooperativa" no início,<br />
deste ano. Em março, uma outra comissão de<br />
dirigentes, do Grupo Regional 4, também visi-<br />
tou a cooperativa. Ambas as comissões volta-<br />
ram a seus municípios arrepiadas com o que<br />
viram e ouviram. Antônio Crispim da Cruz,<br />
presidente do STR de Cravinhos, por exem-<br />
plo, que expôs as conclusões de sua comissão<br />
(Grupo Regional 9), não encontrou palavras<br />
• macias: "E o troço mais nojento que já vi"-<br />
disse êle. "É o paternalismo implantado ofi-<br />
cialmente pelo Governo".<br />
E a Comissão do Grupo Regional 4, integra-<br />
da por representantes dos Sindicatos de<br />
Mirassol, Votuporanga e Santa Fé do Sul, em<br />
seu relatório encaminhado à Comissão de<br />
Questões Trabalhistas e Previdenciárias, da<br />
Fetaesp, diz que voltou "com uma idéia muito<br />
pior a respeito das cooperativas" do que a que<br />
seus integrantes já tinham. "Neste processo-<br />
diz o relatório da comissão - o trabalhador é<br />
um objeto, uma espécie de máquina, onde tra-<br />
balha por um parco salário, recebendo tudo o<br />
que mais necessita da cooperativa ou do Esta-<br />
do. É bom lembrar que a nosso ver as coope-<br />
rativas de trabalhadores rurais "avulsos"<br />
deturpam até os princípios do cooperativis-<br />
mo. Nesse processo, cooperativa e Estado se<br />
confundem".<br />
OS DIREITOS TRABALHISTAS VÃO<br />
PARA O BREJO...<br />
Antônio Crispim mostrou que o paternalis-<br />
mo do Governo (que sempre tem custado<br />
muito caro aos trabalhadores). De vez em<br />
quando o Governo injeta recursos na "coope-<br />
rativa", para mantê-la de pé. Além dos Cr$<br />
500.000,00, que recebeu na sua fundação,<br />
estavam recebendo por ocasião da visita, mais<br />
Cri 500.000,00, a assistência é melhor que o<br />
Funrural, há cobertura para os acidentes de<br />
trabalho, é isenta de impostos. Tem um presi-<br />
dente, que se diz trabalhador rural, mas quem<br />
dirige mesmo é um técnico do Governo, e<br />
Reforma Agrária, para ambos, não interessa.<br />
Não é por nada que, conforme mostrou<br />
Crispim, eles fazem propaganda do Governo,<br />
colocando a "cooperativa" lá em cima. E o<br />
que é de ver para crer, disseram a Crispim que<br />
até havia um elemento da Organização Inter-<br />
nacional do Trabalho (OIT) para ver a expe-<br />
riência e implantar lá fora.<br />
O "truque" mesmo é o assistencialismo,.<br />
tanto que apregoam que a assistência da coo-<br />
perativa é como a do Sindicato ou mais.<br />
E tudo isso tem um preço: "O trabalhador -<br />
segundo Crispim - só está sabendo que traba-<br />
lha na cooperativa na sexta-feira, na hora do<br />
pagamento".<br />
Para Crispim, o que existe "é uma grande<br />
vergonha":<br />
- Na hora de pegar o trabalhador, ele não<br />
tem vínculo empregatício. Na hora de aposen-<br />
tar, então, é preciso atestado do Presidente do<br />
Sindicato e do Delegado de Polícia.<br />
VEJAM ESSE RELATÓRIO, DO<br />
GRUPO REGIONAL 4:<br />
Segue abaixo um trecho do relatório da comis-<br />
são do Grupo Regional 4. sobre suas impressões<br />
da visita à "cooperativa" de Franca.<br />
"No dia 19 (de marco), de manhã, conversa-<br />
mos com alguns trabalhadores no local onde<br />
esperam a condução para serem conduzidos ao<br />
local de trabalho. Conversamos com José Rober-<br />
to, fiscal de uma turma, nos disse que os traba-<br />
lhadores ganham CrS 160,00 por dia, que não<br />
são registrados, que não recebem férias, I3 Ç salá-<br />
rio e nem os dias de chuva. Que numa ocasião<br />
tiveram que aumentar a diária para poder con-<br />
correr com os fazendeiros que nãa-usam a coope-<br />
rativa.<br />
Um trabalhador, cujo nome não anotamos,<br />
nos informou "que não trabalha para a coopera-<br />
tiva porque ela faz muito rolo. Que ganha mais<br />
que na cooperativa. Que prefere trabalhar para o<br />
fazendeiro. " Pelo que pudemos obervar, não é<br />
cumprido o dissídio coletivo no que diz respeito<br />
ao transporte e à jornada de trabalho incluindo o<br />
persurso vai além das 8 horas diárias.<br />
Parece ser muito grande o número de traba-<br />
lhadores volantes em Franca. Na maioria os tra-<br />
balhadores são transportados por combi. Vimos<br />
trabalhadores transportados por ônibus, mas não<br />
eram da cooperativa.<br />
Fomos à sede da cooperativa que funciona a<br />
rua Comandante Salgado, n? 1574 e é presidida<br />
por Antônio Machado. Fomos bem recebidos e<br />
convidados, a esperar o técnico, num diálogo<br />
aberto o presidente Antônio Machado nos infor-<br />
mou:- "que a cooperativa está crescendo, que<br />
receberam CrS 400,00 (quatrocentos mil cruzei-<br />
ros) do Governo. Que está sendo instalado um<br />
posto da COBAL para os cooperados. Que neste<br />
posto o trabalhador terá a oportunidade de pagar<br />
de 45% a 50% a menos do que o preço da praça.<br />
Que para ser cooperado o trabalhador precisa<br />
assinar um livro. Que a aposentadoria é paga<br />
pelo FUNRURAL, mas que a cooperativa tem<br />
um convênio com a ORMEDI, que dá assistência<br />
total aos cooperados. Enquanto conversáva-<br />
mos, vimos diversos trabalhadores buscar guias<br />
para a ORMEDI. Que do que o trabalhador<br />
ganha é descontado Cr$ 10,00 para a cooperati-<br />
va. Que tem um seguro para o caso de acidente<br />
de trabalho. O sr. Antônio confirmou o que disse-<br />
ram os trabalhadores, que a cooperativa não<br />
paga férias, 13 9 salário, domingo remunerado.<br />
Em outras palavras, o trabalhador recebe apenas<br />
o dia trabalhado. Que a cooperativa paga CrS<br />
160,00 por dia, mas que garante este preço o ano<br />
todo. Informou ainda que a cooperativa é admi-<br />
nistrada por um presidente eleito por quatro<br />
anos. juntamente com o secretário, tesoureiro e<br />
um conselho fiscal. A diretoria é eleita pelos coo-<br />
nheiros na ocasião e ferin-<br />
do 15.<br />
Outros dois companhei-<br />
ros, feridos gravemente,<br />
faleceram até o final de<br />
maio.<br />
"NA LUTA POR UM<br />
SINDICATO NA<br />
CIDADE (SINDI-<br />
CATOS FORAM<br />
SOLIDÁRIOS)<br />
Companheiros dirigen-<br />
tes dos Sindicatos de Pre-<br />
sidente Prudente e Presi-<br />
dente Epitácio, conforme<br />
soubemos, estiveram na<br />
cidade, levando sua soli-<br />
dariedade às famílias e<br />
colocando seus Sindicatos<br />
à disposição para o que<br />
fosse necessário.<br />
Segundo o companhei-<br />
ro Mituro, há um grupo<br />
de trabalhadores rurais<br />
em Presidente Venceslau,<br />
apoiados pela Igreja e até<br />
pelo prefeito, que querem<br />
fundar o Sindicato dos<br />
Trabalhadores Rurais na<br />
cidade. Mas a luta está<br />
difícil e precisariam con-<br />
tar com o apoio do Movi-<br />
mento Sindical na região.<br />
O Sindicato é extrema-<br />
mente necessário, porque<br />
a região é de pecuária, há<br />
muitos assalariados, mas o<br />
maior número de compa-<br />
nheiros é volante.<br />
perados. Que tem um administrador. Disse o<br />
Presidente que a assembléia é convocada pelo<br />
Presidente, mas quem toma as decisões é o dire-<br />
tor: Disse que os trabalhadores comparecem às<br />
assembléias. Para montagem do armazém da<br />
COBAL disse que receberam recursos do Gover-<br />
n'o. mas que uma parte édacooperativa. queparao<br />
emprego desse dinheiro não foram consultados<br />
os cooperados. Por volta das 10 horas chegou o<br />
técnico, prof. César Augusto Marques. Pergunta-<br />
mos - porque a cooperativa de trabalhadores<br />
avulsos e não de volantes? Respondeu que o tra-<br />
balhador rural volante é um trabalhador avulso,<br />
que nunca teve direitos trabalhistas, que as coo-<br />
perativas os amparam. Que não adianta os Sindi-<br />
catos se apegarem tanto às leis existentes, por-<br />
que elas não são cumpridas. Disse mais que o<br />
grande anseio do trabalhador rural é a previdên-<br />
cia social. Que a portaria rfi 2. de 616179. vincula<br />
os cooperados avulsos à previdência social urba-<br />
na. Que a execução da Portaria está sendo objeto<br />
de estudo para implantação. Pelo sistema o<br />
empregador rural paga 8% e o trabalhador coo-<br />
perado H%. Que o FUNRURAL não ampara o<br />
trabalhador rural.<br />
Perguntamos sobre o vínculo de emprego e<br />
fomos informados que pelo Art. 90. da Lei 5.764.<br />
de 16112171, o cooperado não tem vínculo de<br />
emprego, nem com a cooperativa, nem com o<br />
proprietário rural. Logo após chegou o Secretá-<br />
rio da cooperativa, José Ferreira, que sentou à<br />
mesa dos debates, mas não participou dos deba-<br />
tes. Continuou o técnico dizendo que o objetivo é<br />
construir uma creche, um galpão para as mulhe-<br />
res aprenderem a costurar sapago. Que estão<br />
estudando meios legais para que os trabalhado-<br />
res possam executar outras atividades não liga-<br />
das ao meio rural, para o caso de falta de traba-<br />
lho.<br />
Ouvidos os representantes do STR de Franca,<br />
trabalhadores rurais e os representantes da coo-<br />
perativa, é essa a nossa conclusão:<br />
Organização de cooperativas de mão de obra<br />
representa o típico comodismo do nosso governo.<br />
Preocupados com a grande massa de desempre-<br />
gados, hoje bem conceituados pela CNBB como<br />
migrantes. Com a exploração do trabalhador<br />
pelo dono da terra, os idealizadores das coopera-<br />
tivas buscam a solução do problema com o<br />
emprego da lei do menor esforço. Não percebe-<br />
ram ainda que o remédio empregado pode matar<br />
o doente.<br />
As cooperativas, nos moldes que vem sendo<br />
organizadas, põem por terra as conquistas dos<br />
trabalhadores, pois de fato o Art. 90, da Lei n?<br />
5.764, tira qualquer possibilidade de vínculo de<br />
emprego. Sufoca qualquer esperança da espera-<br />
da Reforma Agrária: estimula o êxodo Rural".<br />
Este é o relatório. A conclusão do grupo, últi-<br />
ma, é a de que as cooperativas agridem a finali-<br />
dade dos Sindicatos e a sugestão da comissão é a<br />
de que "devemos lutar com todos os nossos<br />
recursos para que as famigeradas cooperativas<br />
de Trabalhadores Avulsos tenham um fim".