14.06.2013 Views

ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br

ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br

ESTAMOS DE LUTO. - cpvsp.org.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

J&ÜJD^<<strong>br</strong> />

RURAL<<strong>br</strong> />

Órgão Oficial da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de São Paulo — Junho de 1980<<strong>br</strong> />

1 nidü o que soDi<<strong>br</strong> />

<strong>ESTAMOS</strong><<strong>br</strong> />

<strong>DE</strong> <strong>LUTO</strong>.<<strong>br</strong> />

(última página).<<strong>br</strong> />

Posseiros de Andradína<<strong>br</strong> />

também sabem usar a fala<<strong>br</strong> />

Uma bela Missa de So-<<strong>br</strong> />

lidariedade foi cele<strong>br</strong>ada<<strong>br</strong> />

dia 18 de maioem Andra-<<strong>br</strong> />

dina em apoio aos possei-<<strong>br</strong> />

ros da Fazenda Primave-<<strong>br</strong> />

ra. No início do mês, uma<<strong>br</strong> />

comissão deles denunciou<<strong>br</strong> />

na Assembléia Legislativa<<strong>br</strong> />

(foto ao lado) e ao Secre-<<strong>br</strong> />

tário da Segurança Públi-<<strong>br</strong> />

ca, os problemas que en-<<strong>br</strong> />

frentam. (Pag. 4)<<strong>br</strong> />

Passeata nas ruas de<<strong>br</strong> />

Presidente Prud<<strong>br</strong> />

A população de Presidente Prudente recebeu com interesse e apoiou a passeata<<strong>br</strong> />

que os trabalhadores rurais da região (Grupo Regional 10) fizeram no dia 17 de<<strong>br</strong> />

maio, logo após a concentração, em que protestaram contra a política agrícola do<<strong>br</strong> />

Governo, reclamando Reforma Agrária, mostrando que o êxodo rural tende a piorar.,<<strong>br</strong> />

Mostraram que os produtos industriais sobem de foguete e os preços dos produtos<<strong>br</strong> />

agrícolas ficam vendo, no chão. 18 Sindicatos participaram. (Pag. 5).<<strong>br</strong> />

João Paulo II, polonês, filho de operá-<<strong>br</strong> />

rios, também foi operário. Nym País sub-<<strong>br</strong> />

desenvolvido como o Brasil, quando ele<<strong>br</strong> />

falar no Nordeste, deverá r repetir ou<<strong>br</strong> />

ampliar o que ele disse na abertura do<<strong>br</strong> />

debate mundial que houve no ano passa-<<strong>br</strong> />

do, em Roma, promovido pela FAO. A<<strong>br</strong> />

agricultura, segundo êle, é a base de<<strong>br</strong> />

tudo; mas a base da base é o camponês, o<<strong>br</strong> />

trabalhador rural. Por isso ele é a favor<<strong>br</strong> />

da Reforma Agrária.<<strong>br</strong> />

Pela primeira<<strong>br</strong> />

vem um papa<<strong>br</strong> />

vai estar<<strong>br</strong> />

no Brasil.<<strong>br</strong> />

O que ele tem<<strong>br</strong> />

a dizer aos<<strong>br</strong> />

trabalhadores<<strong>br</strong> />

rurais?<<strong>br</strong> />

Veja na pág. 3


( MICROFONE ABERTO ) (t)0 EDITOR) A pyp/jjfpyyj f<<strong>br</strong> />

Moda Matuta<<strong>br</strong> />

E Se Faltar Comida?<<strong>br</strong> />

Precisa fazer metrô?<<strong>br</strong> />

Não vamos dizer que não.<<strong>br</strong> />

Precisa de mais usinas.<<strong>br</strong> />

De asfalto, de "Ceholão"?<<strong>br</strong> />

Precisam de Capitais,<<strong>br</strong> />

E novas, Porque que não?<<strong>br</strong> />

Mas, de que serve o metrô,<<strong>br</strong> />

A Usina e o "Ceholão".<<strong>br</strong> />

De que serve o combustível<<strong>br</strong> />

E a atomização,<<strong>br</strong> />

Se faltar o principal<<strong>br</strong> />

Que é a alimentação?<<strong>br</strong> />

Precisa'Lei. portaria.<<strong>br</strong> />

Precisa constituição:<<strong>br</strong> />

Precisa, para o trabalho,<<strong>br</strong> />

Nova Consolidação:<<strong>br</strong> />

E o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />

Precisam novos partidos.<<strong>br</strong> />

Liderança? - muito bom<<strong>br</strong> />

Precisa-se de assistência<<strong>br</strong> />

Precisa recreação.<<strong>br</strong> />

Mas o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />

Precisa,<<strong>br</strong> />

Precisam de muitas guerras<<strong>br</strong> />

Boicotes, atomização?<<strong>br</strong> />

Precisa, sim, combustível,<<strong>br</strong> />

Prá nossa locomoção.<<strong>br</strong> />

Precisa, é muito claro.<<strong>br</strong> />

Telecomunicação.<<strong>br</strong> />

A concentração do poder<<strong>br</strong> />

do solo de produção<<strong>br</strong> />

somente nos leva a crer<<strong>br</strong> />

Que toda a população<<strong>br</strong> />

Não terá o que comer<<strong>br</strong> />

Não vai tardar muito não.<<strong>br</strong> />

Precisa divórcio, sim,<<strong>br</strong> />

E "topless" - sensação -<<strong>br</strong> />

Se issòj<strong>br</strong> importante<<strong>br</strong> />

Até andar nu, por que não?<<strong>br</strong> />

Mas, o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />

Precisam de olimpíadas<<strong>br</strong> />

De jovens fortes - tá bom<<strong>br</strong> />

As terras agricultáveis<<strong>br</strong> />

Precisam distribuição<<strong>br</strong> />

Mas, o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />

precisa sim.<<strong>br</strong> />

Precisa, tá muito bom!<<strong>br</strong> />

Mas, o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

Precisa de aplicação.<<strong>br</strong> />

Agudos, fev/80 - Inácio Albertini<<strong>br</strong> />

O DIEESE começa a ver<<strong>br</strong> />

o nosso ganho e perda<<strong>br</strong> />

Há pouco tempo, numa<<strong>br</strong> />

reunião dos integrantes das<<strong>br</strong> />

três Comissões Estaduais da<<strong>br</strong> />

Fetaesp, foi apresentado um<<strong>br</strong> />

plano do Departamento In-<<strong>br</strong> />

tersindical de Estatísticas e<<strong>br</strong> />

Estudos Socio-Econômicos<<strong>br</strong> />

(DIEESE) para começar a<<strong>br</strong> />

envolver os nossos Sindica-<<strong>br</strong> />

tos num amplo sistema de le-<<strong>br</strong> />

vantamento de preços de co-<<strong>br</strong> />

mercialização dos principais<<strong>br</strong> />

produtos que estão na mesa<<strong>br</strong> />

do trabalhador da cidade e<<strong>br</strong> />

do campo.<<strong>br</strong> />

Para quem não sabe, o<<strong>br</strong> />

DIEESE, fundado em 1955 é<<strong>br</strong> />

uma entidade do sindicalis-<<strong>br</strong> />

mo urbano, e agora também<<strong>br</strong> />

do sindicalismo rural conjun-<<strong>br</strong> />

tamente, e se destina a levan-<<strong>br</strong> />

tar dados estatísticos que nos<<strong>br</strong> />

interessam para acompanhar<<strong>br</strong> />

de perto o custo de vida e vi-<<strong>br</strong> />

giar o Governo para que ele<<strong>br</strong> />

não faça contas erradas,<<strong>br</strong> />

como em 1973.<<strong>br</strong> />

A apresentação do plano<<strong>br</strong> />

foi feita pelo técnico José<<strong>br</strong> />

Maurício Gomes e pela en-<<strong>br</strong> />

genheira agrônoma Marilena»<<strong>br</strong> />

Lazzarini, esposa de Walter<<strong>br</strong> />

Lazzarini Filho, presidente<<strong>br</strong> />

da Federação das Associa-<<strong>br</strong> />

Pág. 2 Realidade Rural — Junho de 1980<<strong>br</strong> />

ções de Engenheiros Agrô-<<strong>br</strong> />

nomos do Brasil (FAEAB).<<strong>br</strong> />

O que acontece é que, em<<strong>br</strong> />

primeiro lugar, existe um va-<<strong>br</strong> />

zio muito grande entre o<<strong>br</strong> />

produtor e o consumidor, de<<strong>br</strong> />

tal forma que o produtor ga-<<strong>br</strong> />

nha pouco e o consumidor<<strong>br</strong> />

paga muito. E, em segundo<<strong>br</strong> />

lugar, como o preço da co-<<strong>br</strong> />

mida pesa so<strong>br</strong>e o custo de<<strong>br</strong> />

vida, esses níveis de preços<<strong>br</strong> />

precisam ser compesados<<strong>br</strong> />

nos reajustes dos salários e<<strong>br</strong> />

não ficar abaixo, como o Go-<<strong>br</strong> />

verno tem feito durante mui-<<strong>br</strong> />

to tempo.<<strong>br</strong> />

Da parte do trabalhador<<strong>br</strong> />

rural produtor há a necessida-<<strong>br</strong> />

de do seu trabalho ser com-<<strong>br</strong> />

pensado com justiça e não fi-<<strong>br</strong> />

car engordando os interme-'<<strong>br</strong> />

diários na moleza.<<strong>br</strong> />

Como esses levantamentos<<strong>br</strong> />

estatísticos são caros, o<<strong>br</strong> />

DIEESE quer começar com<<strong>br</strong> />

alguns Sindicatos que se dis-<<strong>br</strong> />

ponham a colaborar, de boa<<strong>br</strong> />

vontade, fornecendo pe-<<strong>br</strong> />

riodicamente os níveis de<<strong>br</strong> />

preços que os produtores es-<<strong>br</strong> />

tão recebendo por seus pro-<<strong>br</strong> />

dutos.<<strong>br</strong> />

Este homem é que é o<<strong>br</strong> />

ministro da Agricultura!<<strong>br</strong> />

Há pouco tempo, durante<<strong>br</strong> />

e depois da chamada "greve<<strong>br</strong> />

da soja", líderes agrícolas<<strong>br</strong> />

gaúchos reivindicaram a<<strong>br</strong> />

queda dos Ministros do Pla-<<strong>br</strong> />

nejamento, Delfim Nctto, e<<strong>br</strong> />

da agricultura, mas de outros<<strong>br</strong> />

setores.<<strong>br</strong> />

Quanto ao Ministro da<<strong>br</strong> />

Agricultura, particularmen-<<strong>br</strong> />

te, o que se pode dizer e que<<strong>br</strong> />

ele anda cada vez mais en-<<strong>br</strong> />

graçado, mostrando que esta<<strong>br</strong> />

completamente desprepara-<<strong>br</strong> />

do para ser um Ministro da<<strong>br</strong> />

Agricultura, num País como<<strong>br</strong> />

o Brasil. Para ele, a agricul-<<strong>br</strong> />

tura se resume nos médios e<<strong>br</strong> />

grandes produtores. Em sua<<strong>br</strong> />

opinião, a agricultura não<<strong>br</strong> />

tem problemas asnão ser a<<strong>br</strong> />

necessidade de elevar a pro-<<strong>br</strong> />

dutividade. Os problemas<<strong>br</strong> />

dos trabalhadores rurais, os<<strong>br</strong> />

anseos dos trabalhadores ru-<<strong>br</strong> />

rais, não interessam ele.<<strong>br</strong> />

Exemplos bem claros da<<strong>br</strong> />

sua desinformação é desco-<<strong>br</strong> />

nhecimento dos problemas,<<strong>br</strong> />

do campo são as entrevistas<<strong>br</strong> />

que ele concedeu no dia 16<<strong>br</strong> />

de maio, na sede dos latifun-<<strong>br</strong> />

diários (a Sociedade Rural<<strong>br</strong> />

Brasileira) e ao jornal patro-<<strong>br</strong> />

nal "O Estado de São Paulo"<<strong>br</strong> />

no dia 11 de maio.<<strong>br</strong> />

NÃO PISE NOS TRABA-<<strong>br</strong> />

LHADORES RURAIS,<<strong>br</strong> />

MINISTRO!<<strong>br</strong> />

Na sede dos latifundiários,<<strong>br</strong> />

ao -comentar o documento<<strong>br</strong> />

"A Igreja e os problemas da<<strong>br</strong> />

terra", que os bispos fizeram<<strong>br</strong> />

há pouco tempo defendendo,<<strong>br</strong> />

entre outras coisas, uma Re-<<strong>br</strong> />

forma Agrária Autêntica, o<<strong>br</strong> />

Ministro tirou a máscara. Em<<strong>br</strong> />

primeiro lugar, ele pisou nos<<strong>br</strong> />

trabalhadores rurais sem dó<<strong>br</strong> />

nem piedade. Disse que a<<strong>br</strong> />

idéia do Governo não é a Re-<<strong>br</strong> />

forma Agrária "porque isso<<strong>br</strong> />

requer grandes recursos e<<strong>br</strong> />

não sabemos se trará benefí-<<strong>br</strong> />

cio para a produtividade ou<<strong>br</strong> />

se, ao contrário, trará desor-<<strong>br</strong> />

ganização na produção".<<strong>br</strong> />

Com essa idéia maluca, o<<strong>br</strong> />

Ministro mostra que o Go-<<strong>br</strong> />

verno não tem dúvidas nem<<strong>br</strong> />

dificuldades em bater nos<<strong>br</strong> />

metalúrgicos e colocar seus<<strong>br</strong> />

líderes na cadeia para cum-<<strong>br</strong> />

prir leis caducas, do tempo<<strong>br</strong> />

do arco-da-velha, mas cum-<<strong>br</strong> />

prir a lei do Estatuto da Ter-<<strong>br</strong> />

ra, que manda fazer Reforma<<strong>br</strong> />

Agrária, isso não, isso dá pre-<<strong>br</strong> />

juízo...<<strong>br</strong> />

Para esse Ministro desin-<<strong>br</strong> />

formado e despresprepara-<<strong>br</strong> />

do, o aue interessa, antes de<<strong>br</strong> />

tudo, é levar ao campo tran-<<strong>br</strong> />

qüilidade e o aumento da<<strong>br</strong> />

produtividade. Se há escravi-<<strong>br</strong> />

dão, se há miséria, se com<<strong>br</strong> />

isso o Governo está pisando<<strong>br</strong> />

nos direitos de milhões de ci-<<strong>br</strong> />

dadãos com os mesmos direi-<<strong>br</strong> />

tos dele, inclusive de ter ter-<<strong>br</strong> />

ra, não, isso não interessa.<<strong>br</strong> />

VEJAMSÓQUE IDÉIAS<<strong>br</strong> />

TÊM ESSE HOMEM!<<strong>br</strong> />

Na verdade, a desinformação<<strong>br</strong> />

e o despreparo do Ministro<<strong>br</strong> />

são de arrepiar. Em primeiro<<strong>br</strong> />

lugar, na entrevista<<strong>br</strong> />

que ele deu ao jornal patronal<<strong>br</strong> />

"O Estado de São Paulo".Slabil£<<strong>br</strong> />

antmdao Ia<<strong>br</strong> />

rffenlo<<strong>br</strong> />

mado PLACAR - Plano da<<strong>br</strong> />

Casa Rural. E sabem para<<strong>br</strong> />

que? De um lado (este lado<<strong>br</strong> />

até pode ser positivo), para<<strong>br</strong> />

financiar a construção da<<strong>br</strong> />

casa própria do pequeno<<strong>br</strong> />

proprietário. De outro, fi-<<strong>br</strong> />

nanciar ao fazendeiro a cons-<<strong>br</strong> />

trução de casas aos colonos,<<strong>br</strong> />

fazer agrovilas nos latifún-<<strong>br</strong> />

dios. E também para finan-<<strong>br</strong> />

ciar a construção de casas na<<strong>br</strong> />

periferia das cidades onde<<strong>br</strong> />

residem os volantes ("boias-<<strong>br</strong> />

frias")! Para isso tem dinhei-<<strong>br</strong> />

ro, mas para resolver o<<strong>br</strong> />

problema com uma Reforma<<strong>br</strong> />

Agrária não tem... E vejam o<<strong>br</strong> />

disparate: a Em<strong>br</strong>ater, que<<strong>br</strong> />

deveria cuidar de assistência<<strong>br</strong> />

técnica e extensão rural, vai<<strong>br</strong> />

entrar no apoio!<<strong>br</strong> />

Nessa mesma entrevista,<<strong>br</strong> />

ele mostra que pensa mesmo<<strong>br</strong> />

como um banqueiro ou em-<<strong>br</strong> />

presário. Diz, ele, por exem-<<strong>br</strong> />

pb, que 70% dos alimentos<<strong>br</strong> />

são produzidos por pequenos<<strong>br</strong> />

produtores. E comenta, sem<<strong>br</strong> />

vergonha; "Para se chegarão<<strong>br</strong> />

pequeno não é fácil. Temos<<strong>br</strong> />

que trazer o pequeno ao ban-<<strong>br</strong> />

co para começar a usar o<<strong>br</strong> />

crédito bancário, para se in-<<strong>br</strong> />

corporar num processo de<<strong>br</strong> />

produção mais racional".<<strong>br</strong> />

Para ele, tudo se resume nis-<<strong>br</strong> />

so... Em sua opinião, "o agri-<<strong>br</strong> />

cultor tem que ganhar di-<<strong>br</strong> />

nheiro para que ele, real-<<strong>br</strong> />

mente, se transforme num<<strong>br</strong> />

bom trabalhador, numa for-<<strong>br</strong> />

ça de compra de produtos<<strong>br</strong> />

industrializados"...<<strong>br</strong> />

Mas o Ministro não tem<<strong>br</strong> />

receios de pisar na Igreja<<strong>br</strong> />

também. O Ministro, que<<strong>br</strong> />

não concorda com a Refor-<<strong>br</strong> />

ma Agrária ("senão em áreas<<strong>br</strong> />

de tensão"), não tem o me-<<strong>br</strong> />

nor escrúpulos em recomen-<<strong>br</strong> />

dar à Igreja para que ela use<<strong>br</strong> />

seus imóveis (que somam, ao<<strong>br</strong> />

todo, 0,12% dos latifúndios),<<strong>br</strong> />

para implantação de projetos<<strong>br</strong> />

de colonização. Esse pedido<<strong>br</strong> />

seria até simpático, se o Go-<<strong>br</strong> />

verno desse o exemplo.<<strong>br</strong> />

Acontece que a Igreja tem<<strong>br</strong> />

178 mil hectares, enquanto<<strong>br</strong> />

que está cheio de latifúndios<<strong>br</strong> />

por aí, aprovados pelo IN-<<strong>br</strong> />

CRA, com 400, 500 mil hec-<<strong>br</strong> />

tares, um milhão, dois, três<<strong>br</strong> />

milhões de hectares ou mais,<<strong>br</strong> />

e nas mãos de multinacio-<<strong>br</strong> />

nais! Além disso, de vez em<<strong>br</strong> />

quando há projetos do Go-<<strong>br</strong> />

verno, aprovados depressi-<<strong>br</strong> />

nha, autorizando grandes<<strong>br</strong> />

projetos de colonização a<<strong>br</strong> />

empresa que não tem nada a<<strong>br</strong> />

ver com a roça!<<strong>br</strong> />

E um homem desses está<<strong>br</strong> />

aí, controlando a agricultu-<<strong>br</strong> />

ra...<<strong>br</strong> />

A A<strong>br</strong>a diz que Stabile<<strong>br</strong> />

se vinga, pelo governo.<<strong>br</strong> />

A entrevista do Ministro<<strong>br</strong> />

Stabile, na sede dos latifun-<<strong>br</strong> />

diários, a Sociedade Rural<<strong>br</strong> />

Brasileira , no dia II, não<<strong>br</strong> />

a ^|Jte-assou desapercebida tam-<<strong>br</strong> />

bém para o pessoal da dire-<<strong>br</strong> />

ção da Associação Brasileira<<strong>br</strong> />

de Reforma Agrária<<strong>br</strong> />

(ABRA), que emitiu uma<<strong>br</strong> />

curta mas clara nota, sob<<strong>br</strong> />

título "A ESPERADA VIN-<<strong>br</strong> />

DITA DO MINISTRO DA<<strong>br</strong> />

AGRICULTURA", onde ela<<strong>br</strong> />

denuncia as meias-verdades<<strong>br</strong> />

do Ministro e esclarece a<<strong>br</strong> />

opinião pública so<strong>br</strong>e erros<<strong>br</strong> />

que ele cometeu.<<strong>br</strong> />

Deixando claro que a Igre-<<strong>br</strong> />

ja não precisaria da ajuda da<<strong>br</strong> />

ABRA, a direção da entida-<<strong>br</strong> />

de, no entanto, esclarece que<<strong>br</strong> />

"dentro do estilo que tem ca-<<strong>br</strong> />

racterizado o período delfi-<<strong>br</strong> />

niano da história recente do<<strong>br</strong> />

País, começa o Governo a<<strong>br</strong> />

adotar as primeiras represá-<<strong>br</strong> />

lias contra os Bispos de Itaici<<strong>br</strong> />

e sua corajosa posição no re-<<strong>br</strong> />

cente documento "A Igreja e<<strong>br</strong> />

os problemas da Terra". E o<<strong>br</strong> />

governo faz isso, segundo a<<strong>br</strong> />

ABRA "por sua voz menos<<strong>br</strong> />

autorizada - um Ministro da<<strong>br</strong> />

Agricultura cujo mérito até<<strong>br</strong> />

agora foi o de ter conservado<<strong>br</strong> />

exemplar mutismo".<<strong>br</strong> />

"O DASP foi mole demais<<strong>br</strong> />

com Stabile"<<strong>br</strong> />

Na nota, a ABRA repreen-<<strong>br</strong> />

de Stabile; "Conhecera po-<<strong>br</strong> />

sição que a Igreja adotou a<<strong>br</strong> />

respeito de suas próprias ter-<<strong>br</strong> />

ras, seria o mínimo a esperar<<strong>br</strong> />

de uma autoridade, disposta<<strong>br</strong> />

a deitar falação". Isso por-<<strong>br</strong> />

que muito antes do Governo<<strong>br</strong> />

pensar, a Igreja já se com-<<strong>br</strong> />

prometia a dar a suas terras<<strong>br</strong> />

um fim social, já havendo<<strong>br</strong> />

ELEIÇÕES EM SINDICATOS<<strong>br</strong> />

De Janeiro a A<strong>br</strong>il deste ano, tomaram<<strong>br</strong> />

posse novas Diretorias nos Sindicatos de<<strong>br</strong> />

Limeira, Potirendaba, Pereira Barreto,<<strong>br</strong> />

Junqueirópolis, Lavínia, Santa Cruz do<<strong>br</strong> />

Rio Pardo, Rancharia, Pirajuí, Brotas,<<strong>br</strong> />

Ibitinga, Pontal, Jaú, Fartura, Tupã e<<strong>br</strong> />

Matão.<<strong>br</strong> />

.No mês de Maio, destacamos a posse<<strong>br</strong> />

de novas Diretorias;<<strong>br</strong> />

Dia 8 - Sarapuí, Diretores eleitos, Os-<<strong>br</strong> />

car Machado de Morais, Ari Gomes e<<strong>br</strong> />

Nelson Teodoro Sampaio - eleitos depois<<strong>br</strong> />

da renhida disputa entre duas chapas<<strong>br</strong> />

concorrentes;<<strong>br</strong> />

Dia 18 - Nova Granada, Diretores elei-<<strong>br</strong> />

tos; José Pereira dos Santos, Manoel<<strong>br</strong> />

Ledo de Matos e Francisco Pereira Costa<<strong>br</strong> />

Praxedes;<<strong>br</strong> />

Dia 22 - Capão Bonito - Diretores elei-<<strong>br</strong> />

tos, José Alves de Lima, João Cosme de<<strong>br</strong> />

Oliveira e João Souto Ferreira - chapa vi-<<strong>br</strong> />

toriosa, vencendo oposição concorren-<<strong>br</strong> />

te;<<strong>br</strong> />

Dia 22 - Cotia - Itapevi, Diretores elei-<<strong>br</strong> />

tos. Lázaro Quintino de Lima, Enildo<<strong>br</strong> />

Conceição Monteiro e Antônio Bispo Fi-<<strong>br</strong> />

lho;<<strong>br</strong> />

Dia 24 - Apiaí, com Diretores eleitos,<<strong>br</strong> />

José Rodrigues Silva, André Bogucheski<<strong>br</strong> />

e Olívio Coelho de Oliveira;<<strong>br</strong> />

Dia 27 - São Roque, Diretores eleitos;<<strong>br</strong> />

Geraldo Moysés, Paulo Pecze e Alcides<<strong>br</strong> />

Cruzados:<<strong>br</strong> />

Dia 30 - Presidente Prudente, Diretores<<strong>br</strong> />

eleitos; Valdemar Nodaeli, JoãoAltino<<strong>br</strong> />

Cremonezi e Luiz Seiki Kaku.<<strong>br</strong> />

Para o mês de Junho, estão programa-<<strong>br</strong> />

dos posses nos Sindicatos de Jaboticabal<<strong>br</strong> />

(dia 5), Teodoro Sampaio (dia 5), Taqua-<<strong>br</strong> />

rituba(dia 11), Auriflama(dia 12), Cajurú<<strong>br</strong> />

(dia 15), Itapetininga (dia 26) e Urupês<<strong>br</strong> />

(dia 26).<<strong>br</strong> />

Nossos cumprimentos às novas Direto<<strong>br</strong> />

rias e o desejo de que o seu trabalho i<<strong>br</strong> />

frente dos sindicatos seja coroado de êxi<<strong>br</strong> />

to, correspondendo à confiança demons<<strong>br</strong> />

trada pelos eleitores e servido à causa do<<strong>br</strong> />

Sindicalismo de trabalhadores rurais pau-<<strong>br</strong> />

lista.<<strong>br</strong> />

<strong>DE</strong>PARTAMENTO <strong>DE</strong> ORIENTAÇÃO<<strong>br</strong> />

SINDICAL FETAESP<<strong>br</strong> />

dioceses que começaram a<<strong>br</strong> />

dispor seus imóveis rurais em<<strong>br</strong> />

favor dos homens sem terra.<<strong>br</strong> />

E depois de repreender o<<strong>br</strong> />

Ministro, a ABRA também<<strong>br</strong> />

dá um puxão de orelhas no<<strong>br</strong> />

DASP (que é o órgão federal<<strong>br</strong> />

que contrata os funcionários<<strong>br</strong> />

públicos). Diz a ABRA que<<strong>br</strong> />

"ter lido o Estatuto da Terra<<strong>br</strong> />

deveria ser também o teste<<strong>br</strong> />

de suficiência que o DASP<<strong>br</strong> />

deveria exigir de um Minis-<<strong>br</strong> />

tro".<<strong>br</strong> />

— Na verdade -indaga a<<strong>br</strong> />

ABRA - como pode tal auto-<<strong>br</strong> />

ridade, a não ser pelo dever<<strong>br</strong> />

de repetir o mestre (Delfim<<strong>br</strong> />

Netto), declarar que uma<<strong>br</strong> />

Reforma Agrária "vai desor-<<strong>br</strong> />

ganizar a produção" quando<<strong>br</strong> />

ajei <strong>br</strong>asileira prevê a aplica-<<strong>br</strong> />

ção do processo principal-<<strong>br</strong> />

mente nos latifúndios que<<strong>br</strong> />

nada produzem?<<strong>br</strong> />

Por fim, a A BR A comenta<<strong>br</strong> />

que as terras da Igreja (que<<strong>br</strong> />

são também de outras enti-<<strong>br</strong> />

dades religiosas, não católi-<<strong>br</strong> />

cas) representam apenas<<strong>br</strong> />

0,12% dos latifúndios cadas-<<strong>br</strong> />

trados no 1NCRA. Por que<<strong>br</strong> />

não aproveitar tambérn o<<strong>br</strong> />

resto dos latifúndios, "estes<<strong>br</strong> />

sim a verdadeira matéria pri-<<strong>br</strong> />

ma para uma autêntica Re-<<strong>br</strong> />

forma Agrária no Brasil"?<<strong>br</strong> />

Diretoria<<strong>br</strong> />

RURAL<<strong>br</strong> />

Roberto Toshio Horiguti<<strong>br</strong> />

Presidente.<<strong>br</strong> />

Francisco Benedito<<strong>br</strong> />

Rocha<<strong>br</strong> />

Secretário Geral.<<strong>br</strong> />

Mário Vatanabe<<strong>br</strong> />

I 9 Secretário<<strong>br</strong> />

Emílio Bertuzzo<<strong>br</strong> />

2' Secretário<<strong>br</strong> />

Orlando Izaque Birrer<<strong>br</strong> />

Tesoureiro Geral<<strong>br</strong> />

José Bento de Santi<<strong>br</strong> />

I 9 Tesoureiro<<strong>br</strong> />

Antônio David de Souza<<strong>br</strong> />

2 9 Tesoureiro<<strong>br</strong> />

Editor Responsável<<strong>br</strong> />

José Carlos Salvagni (SJP<<strong>br</strong> />

5177)<<strong>br</strong> />

Relações Públicas<<strong>br</strong> />

João Ferreira Neto<<strong>br</strong> />

Rua Brigadeiro Tobias,<<strong>br</strong> />

118, 36' andar - Conj.<<strong>br</strong> />

3.607<<strong>br</strong> />

CEP 01032 -<<strong>br</strong> />

End. Tetegráfico:<<strong>br</strong> />

FETAESP<<strong>br</strong> />

- Telefones: 228-983?<<strong>br</strong> />

228-9353 - São Paulo -<<strong>br</strong> />

Ç 0 "*""* « w*»«*«o MI Oficiua da<<strong>br</strong> />

Am* CfWctt Cuiri VA. Hodovw<<strong>br</strong> />

«Mil I ■ fmmíum


O que esperar<<strong>br</strong> />

da visita do Papa?<<strong>br</strong> />

Pela primeira vez na histó-<<strong>br</strong> />

ria, um Papa estará no Brasil,<<strong>br</strong> />

dia 30 de junho ( e dia 4 de<<strong>br</strong> />

julho em São Paulo). João<<strong>br</strong> />

Paulo II, polonês, foi operá-<<strong>br</strong> />

rio, trabalhando primeiro<<strong>br</strong> />

numa pedreira e depois numa<<strong>br</strong> />

indústria química, durante a<<strong>br</strong> />

ocupação de seu País pela<<strong>br</strong> />

Alemanha, na Segunda<<strong>br</strong> />

Guerra Mundial. Antes dele,<<strong>br</strong> />

o Brasil recebeu a visita de<<strong>br</strong> />

então Cardeal Giovanni<<strong>br</strong> />

Montini, depois Papa Paulo<<strong>br</strong> />

VI, no final do Governo Jus-<<strong>br</strong> />

celino Kubitschek.<<strong>br</strong> />

O Brasil é um País do cha-<<strong>br</strong> />

mado Terceiro Mundo. É um<<strong>br</strong> />

Pais subdesenvolvido. E<<strong>br</strong> />

como aconteceu no México<<strong>br</strong> />

e na África, o Papa virá preo-<<strong>br</strong> />

cupado com a religião, é cer-<<strong>br</strong> />

to. Mas também estará muito<<strong>br</strong> />

atento à po<strong>br</strong>eza, a miséria<<strong>br</strong> />

ao desrespeito aos direitos<<strong>br</strong> />

humanos e continuará mos-<<strong>br</strong> />

trando que todos os homens<<strong>br</strong> />

têm o direito de se beneficia-<<strong>br</strong> />

rem dos bens da terra para<<strong>br</strong> />

terem uma vida digna.<<strong>br</strong> />

O QUE A VISITA SIGNI-<<strong>br</strong> />

FICA PARA O NOSSO<<strong>br</strong> />

SINDICALISMO ?<<strong>br</strong> />

Além de haver tomado nos<<strong>br</strong> />

últimos tempos posições<<strong>br</strong> />

francamente favoráveis aos<<strong>br</strong> />

trabalhadores rurais <strong>br</strong>asileiros,<<strong>br</strong> />

a Igreja no Brasil tem<<strong>br</strong> />

colaborado muito conosco,<<strong>br</strong> />

tendo dado um impulso<<strong>br</strong> />

enorme, ao lado de outras<<strong>br</strong> />

forças, para que o nosso sindicalismo<<strong>br</strong> />

se implantasse e se<<strong>br</strong> />

desenvolvesse. Hoje mesmo,<<strong>br</strong> />

ela tem uma entidade, chamada<<strong>br</strong> />

Comissão de Pastoral<<strong>br</strong> />

da Terra (CPT), que atua ao<<strong>br</strong> />

lado dos companheiros trabalhadores<<strong>br</strong> />

rurais posseiros e<<strong>br</strong> />

mesmo índios, na defesa das<<strong>br</strong> />

terras e tem apoiado muito o<<strong>br</strong> />

sindicalismo no seu esforço<<strong>br</strong> />

de renovação.<<strong>br</strong> />

É preciso lem<strong>br</strong>ar, no entanto,<<strong>br</strong> />

que embora a maior<<strong>br</strong> />

parte dos associados seja de<<strong>br</strong> />

católicos, temos também associados<<strong>br</strong> />

que são luteranos,<<strong>br</strong> />

metodistas, enfim, de outros<<strong>br</strong> />

credos, razão pela qual o Sindicato<<strong>br</strong> />

deve ser aberto a todos<<strong>br</strong> />

os pensamentos ( mesmo<<strong>br</strong> />

K<<strong>br</strong> />

aue a Diretoria nao concor-<<strong>br</strong> />

de), respeitar a vida particu-<<strong>br</strong> />

lar dos associados e os seus<<strong>br</strong> />

direitos. Sindicato é Sindica-<<strong>br</strong> />

to, religião é religião, partido<<strong>br</strong> />

é partido.<<strong>br</strong> />

A Igreja católica particu-<<strong>br</strong> />

larmente, tem colaborado<<strong>br</strong> />

Realidade Rural — Junho de 1980<<strong>br</strong> />

com o sindicalismo, sem de-<<strong>br</strong> />

sejar que sele se torne "fun-<<strong>br</strong> />

do de sacristia", dependente,<<strong>br</strong> />

mas apenas esperando um<<strong>br</strong> />

trabalho autêntico.<<strong>br</strong> />

E é por isso que para o<<strong>br</strong> />

nosso sindicalismo ( e não<<strong>br</strong> />

apenas para os católicos as-<<strong>br</strong> />

sociados) a visita do Papa é<<strong>br</strong> />

muito importante. Além do<<strong>br</strong> />

mais, ele é um homem bem<<strong>br</strong> />

informado, sabe das injusti-<<strong>br</strong> />

ças que os milhões de ho-<<strong>br</strong> />

mens de campo estão sofren-<<strong>br</strong> />

do da parte de uma minoria<<strong>br</strong> />

de tubarões desse País. E por<<strong>br</strong> />

isso ele virá levar a nós a sua<<strong>br</strong> />

solidariedade, como ele fe/<<strong>br</strong> />

com os índios e camponeses<<strong>br</strong> />

no México. E o Papa é um<<strong>br</strong> />

homem cuja opinião pesa<<strong>br</strong> />

muito entre os Governos das<<strong>br</strong> />

Nações.<<strong>br</strong> />

'O TRABALHADOR<<strong>br</strong> />

NÃO PRECISA <strong>DE</strong> ES-<<strong>br</strong> />

MOLAS E SIM <strong>DE</strong> UMA<<strong>br</strong> />

AJUDA EFICAZ"<<strong>br</strong> />

O México também é um<<strong>br</strong> />

País do Terceiro Mundo. É<<strong>br</strong> />

um país subdesenvolvido. E<<strong>br</strong> />

quando o Papa esteve lá,<<strong>br</strong> />

para participar de um encon-<<strong>br</strong> />

tro muito importante dos<<strong>br</strong> />

Bispos da América Latina no<<strong>br</strong> />

ano passado (Puebla), ele fa-<<strong>br</strong> />

lou aos índios e o que ele dis-<<strong>br</strong> />

se serve para nós, também.<<strong>br</strong> />

Disse o Papa que o traba-<<strong>br</strong> />

lhador está desconsolado e já<<strong>br</strong> />

não pode continuar a esperar<<strong>br</strong> />

que respeitem a sua dignida-<<strong>br</strong> />

de e que não lhe tirem o pou-<<strong>br</strong> />

co que eles têm. Já é hora do<<strong>br</strong> />

trabalhador receber o seu<<strong>br</strong> />

devido valor. Como disse o<<strong>br</strong> />

Papa, o trabalhador "tem di-<<strong>br</strong> />

reito a que sejam suprimidas<<strong>br</strong> />

as barreiras da exploração,<<strong>br</strong> />

feitas freqüentemente de<<strong>br</strong> />

egoismos intoleráveis e con-<<strong>br</strong> />

tra os quais se chocam seus<<strong>br</strong> />

melhores esforços de promo-<<strong>br</strong> />

ção".<<strong>br</strong> />

E foi bem claro mostrando<<strong>br</strong> />

que o valor a que o trabalha-<<strong>br</strong> />

dor tem direito não pode ser<<strong>br</strong> />

confundido com esmolas ou<<strong>br</strong> />

migalhas de justiça mas deve<<strong>br</strong> />

ser transformado em ajuda<<strong>br</strong> />

eficaz, que o ajude melhorar<<strong>br</strong> />

a vida e seu trabalho.<<strong>br</strong> />

E foi também no México<<strong>br</strong> />

que o Papa João Paulo II dis-<<strong>br</strong> />

se um negócio que ficou en-<<strong>br</strong> />

gasgado na garganta dos tu-<<strong>br</strong> />

barões. Disse ele lá que "ao<<strong>br</strong> />

direito de propriedade corres-<<strong>br</strong> />

ponde uma hipoteca social".<<strong>br</strong> />

Trocando em miúdos, ele<<strong>br</strong> />

disse que não é certo os lati-<<strong>br</strong> />

fundiários terem tanta terra.<<strong>br</strong> />

(^NOSSA POSÍCÃO^) Está começando a nossa campanha salarial<<strong>br</strong> />

AGORA É A NOSSA VEZ<<strong>br</strong> />

Estamos no início da nossa quinta<<strong>br</strong> />

campanha salarial. Pelo quinto ano, o<<strong>br</strong> />

Movimento Sindical dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Rurais se mobiliza por melhores salá-<<strong>br</strong> />

rios e melhores condições de vida para<<strong>br</strong> />

o trabalhador rural.<<strong>br</strong> />

Ao nosso modo de ver, devemos ini-<<strong>br</strong> />

ciar essa campanha com muito otimis-<<strong>br</strong> />

mo. Não há razões para não haver oti-<<strong>br</strong> />

mismo. Afinal, mesmo que não tenha-<<strong>br</strong> />

mos conseguido, em nível de Federa-<<strong>br</strong> />

ção, nenhum acordo com os^ patrões<<strong>br</strong> />

da FAESP, o fato importante é que os •<<strong>br</strong> />

dissídios coletivos estão sendo levados<<strong>br</strong> />

a prática.O que os patrões nos negam<<strong>br</strong> />

na mesa de negociação, nós ganha-<<strong>br</strong> />

mos lá na prática.<<strong>br</strong> />

Pouco importa que eles fechem a<<strong>br</strong> />

cara e se recusem a dialogar conosco.<<strong>br</strong> />

E o início desta campanha salarial é<<strong>br</strong> />

um bom momento para trocarmos uma<<strong>br</strong> />

idéia so<strong>br</strong>e o momento <strong>br</strong>asileiro.<<strong>br</strong> />

Os entendidos sabem: quando o<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>aço e o suor do homem passa a ter<<strong>br</strong> />

menos valor do que o dinheiro, do que<<strong>br</strong> />

o luxo, do que os interesses dos ricos,<<strong>br</strong> />

aí então o que so<strong>br</strong>a é fome, atraso de<<strong>br</strong> />

vida, desentendimento.<<strong>br</strong> />

E é isso que está acontecendo no<<strong>br</strong> />

Brasil de hoje. O <strong>br</strong>aço do trabalhador,<<strong>br</strong> />

o seu suor, não tem nenhum valor, nem<<strong>br</strong> />

explorando-a mal. A terra é<<strong>br</strong> />

um bem de todos e tem que<<strong>br</strong> />

servir a todos. Ter terra e<<strong>br</strong> />

não usá-la em benefício de<<strong>br</strong> />

todos é, na verdade, um rou-<<strong>br</strong> />

bo que se comete contra os<<strong>br</strong> />

que não têm terra e querem<<strong>br</strong> />

viver honestamente do traba-<<strong>br</strong> />

lho na lavoura.<<strong>br</strong> />

HOJE O QUE É PRECI-<<strong>br</strong> />

SO É REFORMA AGRÁ-<<strong>br</strong> />

RIA MESMO.<<strong>br</strong> />

Depois do México, o Papa<<strong>br</strong> />

João Paulo II fez um pronun-<<strong>br</strong> />

ciamento que foi muito co-<<strong>br</strong> />

mentado em todo o mundo.<<strong>br</strong> />

Foi quando houve a "Confe-<<strong>br</strong> />

rência Mundial so<strong>br</strong>e Refor-<<strong>br</strong> />

ma Agrária e Desenvolvi-<<strong>br</strong> />

mento Rural", em julho do<<strong>br</strong> />

ano passado, em Roma.<<strong>br</strong> />

Houve uma audiência com o<<strong>br</strong> />

Papa, da qual participaram<<strong>br</strong> />

de um lado, contente, o pre-<<strong>br</strong> />

sidente da nossa CONTAG,<<strong>br</strong> />

José Francisco da Silva, e de<<strong>br</strong> />

outro lado, de cara amarra-<<strong>br</strong> />

da, o então Ministro da Agri-<<strong>br</strong> />

cultura, Delfim Netlo, e o<<strong>br</strong> />

Presidente da Incra. Paulo<<strong>br</strong> />

Yokota ( que são contra a<<strong>br</strong> />

Reforma Agrária).<<strong>br</strong> />

O Papa, durante a audiên-<<strong>br</strong> />

cia, disse umas boas aejuem<<strong>br</strong> />

é contra a Reforma Agraria e<<strong>br</strong> />

contra o trabalhador rural<<strong>br</strong> />

(como Delfim e Yokota).<<strong>br</strong> />

Disse êle; "No Estado atual<<strong>br</strong> />

das coisas, dentro de cada<<strong>br</strong> />

País, tem-se que prever uma<<strong>br</strong> />

Reforma Agrária que impli-<<strong>br</strong> />

que numa re<strong>org</strong>anização da<<strong>br</strong> />

propriedade das terras e a<<strong>br</strong> />

distribuição do terreno pro-<<strong>br</strong> />

dutivo aos lavradores, de for-<<strong>br</strong> />

ma estável e com usufruto di-<<strong>br</strong> />

reto".<<strong>br</strong> />

Quer dizer: é preciso ocu-<<strong>br</strong> />

par os economistas desocu-<<strong>br</strong> />

pados para fazer a Reforma<<strong>br</strong> />

Agrária e ocupar os agrôno-<<strong>br</strong> />

mos desocupados para dar<<strong>br</strong> />

assistência técnica e uma<<strong>br</strong> />

verdadeira extensão rural a<<strong>br</strong> />

quem não tem terra a quem<<strong>br</strong> />

poderia produzir mais com a<<strong>br</strong> />

terra que tem. Há quem diga<<strong>br</strong> />

que Delfim e Yokota deram<<strong>br</strong> />

uma engasgada...<<strong>br</strong> />

Ao contrário de ficar fa-<<strong>br</strong> />

lando aue a solução é a ele-<<strong>br</strong> />

vação da produção e da pro-<<strong>br</strong> />

dutividade, como se fala lá<<strong>br</strong> />

nos gabinetes confortáveis<<strong>br</strong> />

de Brasília, o Papa falou é da<<strong>br</strong> />

necessidade da elevação hu-<<strong>br</strong> />

para o pessoal dó Governo, nem para<<strong>br</strong> />

os donos e administradores das<<strong>br</strong> />

'empresas, e para os fazendeiros.<<strong>br</strong> />

Para o Governo e para os fazendei-<<strong>br</strong> />

ros, quanto mais trabalhadores estive-<<strong>br</strong> />

rem na filado emprego, melhor. Assim<<strong>br</strong> />

os salários ficarão mais baixos.<<strong>br</strong> />

Mas não é bem assim. Essa inflação<<strong>br</strong> />

elevada, esses preços que ficaram lou-<<strong>br</strong> />

cos, esse desemprego, tudo isso é"<<strong>br</strong> />

consequênca do desprezo pelo traba-<<strong>br</strong> />

lho. Tem muita gente grande e impor-<<strong>br</strong> />

tante nesse País que prefere ganhar<<strong>br</strong> />

fortunas na moleza, com a especula-<<strong>br</strong> />

ção, do que valorizando o ganho<<strong>br</strong> />

honesto, aquele que vem do trabalho e<<strong>br</strong> />

do suor. E quando não se planta trigo,<<strong>br</strong> />

não se tem farinha para o pão...<<strong>br</strong> />

Para nós, trabalhadores rurais, que<<strong>br</strong> />

estamos começando em São Paulo<<strong>br</strong> />

mais uma campanha salarial, é impor-<<strong>br</strong> />

tante essa idéia. O trabalhador <strong>br</strong>asilei-<<strong>br</strong> />

ro, afinal, não pode aceitar essa ten-<<strong>br</strong> />

dência de aumentarem as filas dos<<strong>br</strong> />

homens em busca de emprego, quan-<<strong>br</strong> />

do se fosse feita uma Reforma Agrária<<strong>br</strong> />

e outras mudanças nesse País, haveria<<strong>br</strong> />

emprego de so<strong>br</strong>a e ótimos salários. É<<strong>br</strong> />

preciso acabar com essa história de<<strong>br</strong> />

ganhar fortunas na moleza e tirar o pão<<strong>br</strong> />

mana das populações agrícolas<<strong>br</strong> />

em consonância com o di-<<strong>br</strong> />

reito ao crescimento da vida<<strong>br</strong> />

individual e coletiva da po-<<strong>br</strong> />

pulação rural.<<strong>br</strong> />

Também tem Ministro lá<<strong>br</strong> />

em Brasília que fica falando<<strong>br</strong> />

em classe média rural, es-<<strong>br</strong> />

quecendo que a maioria é<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>e mesmo. Ao contrário,<<strong>br</strong> />

o Papa recomendou "refor-<<strong>br</strong> />

mas para reduzir as distâncias<<strong>br</strong> />

entre a prosperidade dos ricos<<strong>br</strong> />

e a siquietante riqueza dos<<strong>br</strong> />

po<strong>br</strong>es".<<strong>br</strong> />

A TERRA NÃO É UMA<<strong>br</strong> />

FÁBRICA DF COMIDA:<<strong>br</strong> />

É NATUREZA. QUE O<<strong>br</strong> />

LAVRADOR ENTEN<strong>DE</strong>.<<strong>br</strong> />

João Paulo II falou da im-<<strong>br</strong> />

portância do associativismo<<strong>br</strong> />

no campo, recomendando<<strong>br</strong> />

que ele dê mais atenção ao<<strong>br</strong> />

jovem e à mulher, para<<strong>br</strong> />

mantê-los no campo e evitar<<strong>br</strong> />

um excessivo êxodo rural,<<strong>br</strong> />

porque na cidade faltam em-<<strong>br</strong> />

pregos. Vejam o que ele dis-<<strong>br</strong> />

se:<<strong>br</strong> />

— Urge que se concreti/e o<<strong>br</strong> />

objetivo do direito ao traba-<<strong>br</strong> />

lho, com todos os pressupos-<<strong>br</strong> />

tos requeridos para ampliar<<strong>br</strong> />

as possibilidades de absorção<<strong>br</strong> />

OPINIÃO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />

CABOCLO<<strong>br</strong> />

Há muitos modos de se<<strong>br</strong> />

agredir alguém.<<strong>br</strong> />

Por cima. por baixo, pela<<strong>br</strong> />

frente, pelas costas, por den-<<strong>br</strong> />

tro, por fora. pelos lados e<<strong>br</strong> />

até pelo pensamento.<<strong>br</strong> />

A ilha é um pedaço de ter-<<strong>br</strong> />

ra cercada de água por to-<<strong>br</strong> />

dos os lados.<<strong>br</strong> />

O trabalhador rural tam-<<strong>br</strong> />

bém é uma ilha.<<strong>br</strong> />

Ilha sim. compadre, por-<<strong>br</strong> />

que de todos os lados, ele es-<<strong>br</strong> />

tá cercado de agressão.<<strong>br</strong> />

O caminhão de bóia-fria<<strong>br</strong> />

agredido pelo caminhão de<<strong>br</strong> />

bois. como ocorreu , há pou-<<strong>br</strong> />

co, em Presidente Vences-<<strong>br</strong> />

lau.<<strong>br</strong> />

A lavoura invadida, quan-<<strong>br</strong> />

da grande quantidade de<<strong>br</strong> />

mão-de-o<strong>br</strong>a agrícola dispo-<<strong>br</strong> />

nível e reduzir o desempre-<<strong>br</strong> />

go. Ao mesmo tempo, fazer<<strong>br</strong> />

com que os trabalhadores as-<<strong>br</strong> />

sumam uma atitude de res-<<strong>br</strong> />

ponsabilidade no funciona-<<strong>br</strong> />

mento dos estabelecimentos<<strong>br</strong> />

agrícolas, a fim de criar, tam-<<strong>br</strong> />

bém, o quanto seja possível,<<strong>br</strong> />

uma relação particular entre<<strong>br</strong> />

o trabalhador da terra e a<<strong>br</strong> />

terra que ele trabalha.<<strong>br</strong> />

Em outras palavras, o agri-<<strong>br</strong> />

cultor não planta apenas<<strong>br</strong> />

para sustentar a sua família,<<strong>br</strong> />

mas também porque se sente<<strong>br</strong> />

bem com a terra. E isso deve<<strong>br</strong> />

continuar.<<strong>br</strong> />

A BASE <strong>DE</strong> UMA ECO-<<strong>br</strong> />

NOMIA SADIA É A<<strong>br</strong> />

AGRICULTURA. NÃO A<<strong>br</strong> />

INDUSTRIA.<<strong>br</strong> />

Para quem acha, enfim,<<strong>br</strong> />

que João Paulo II é de ficar<<strong>br</strong> />

aceitando soluções tapa-<<strong>br</strong> />

buracos, é útil, por fim<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ar que ele também<<strong>br</strong> />

como Paulo VI que dizia ser<<strong>br</strong> />

necessário "exigir transfor-<<strong>br</strong> />

mações audaciosas, profunda-<<strong>br</strong> />

mente inovadoras" no desen-<<strong>br</strong> />

volvimento dos povos. (Será<<strong>br</strong> />

da boca dos que trabalham honesta-<<strong>br</strong> />

mente.<<strong>br</strong> />

As campanhas salariais vem sendo<<strong>br</strong> />

importantíssimas para a nossa categoria<<strong>br</strong> />

porque os assalariados e volantes, de<<strong>br</strong> />

modo particular, que vivem de salários,<<strong>br</strong> />

acabam desco<strong>br</strong>indo que eles não são<<strong>br</strong> />

escravos, mas cidadãos com igual<<strong>br</strong> />

importância e iguais direitos aos gran-<<strong>br</strong> />

des, aos tubarões. Acabam des-<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>indo que o que vem de cima é<<strong>br</strong> />

chuva, granizo, faíscas. Não vale a<<strong>br</strong> />

pena esperar pelo que vem de cima,<<strong>br</strong> />

seja de Governo ou dos patrões. Eles<<strong>br</strong> />

se dão conta de que a vida nasce de<<strong>br</strong> />

baixo para cima. Cada trabalhador uni-<<strong>br</strong> />

do dá ao Sindicato uma força de <strong>br</strong>iga<<strong>br</strong> />

muito maior. E é assim que os nossos<<strong>br</strong> />

companheiros desco<strong>br</strong>em que embora<<strong>br</strong> />

não consigam forças os patrões a<<strong>br</strong> />

darem aumentos maiores do que<<strong>br</strong> />

aqueles que o Governo acaba fixando,<<strong>br</strong> />

os trabalhadores podem conseguir<<strong>br</strong> />

indenizações maiores, podem conse-<<strong>br</strong> />

guir melhores condições de trabalho,<<strong>br</strong> />

podem <strong>br</strong>igar pela fiscalização do<<strong>br</strong> />

Ministro do Trabalho.<<strong>br</strong> />

Estamos avançando, não há dúvi-<<strong>br</strong> />

das. E muito, graças à firmeza dos Sin-<<strong>br</strong> />

dicatos.<<strong>br</strong> />

FETAESP<<strong>br</strong> />

que o ITR seria uma "solu-<<strong>br</strong> />

ção audaciosa"?).<<strong>br</strong> />

João Paulo II também se<<strong>br</strong> />

dirigiu aos Governos das na-<<strong>br</strong> />

ções, recomendando a eles,<<strong>br</strong> />

que, à luz de problemas tão<<strong>br</strong> />

graves nos países subdesen-<<strong>br</strong> />

volvidos, esses Governos de-<<strong>br</strong> />

volvam "à agricultura o lugar<<strong>br</strong> />

que lhe cabe no âmbito do<<strong>br</strong> />

desenvolvimento interno e<<strong>br</strong> />

internacional, modificando a<<strong>br</strong> />

tendência que, num processo<<strong>br</strong> />

de industrialização, tem leva-<<strong>br</strong> />

do, até tempos recentes, a<<strong>br</strong> />

privilegiar os setores secun-<<strong>br</strong> />

dário ( indústria) e tercíário<<strong>br</strong> />

(serviços).<<strong>br</strong> />

E para mostrar que ele<<strong>br</strong> />

sabe ver muito bem os<<strong>br</strong> />

problemas da cidade e do<<strong>br</strong> />

campo, João Paulo II con-<<strong>br</strong> />

cluiu, esclarecendo:<<strong>br</strong> />

- O amor pela terra e pelo<<strong>br</strong> />

trabalho do campo é um con-<<strong>br</strong> />

vite não a uma volta nostálgi-<<strong>br</strong> />

ca ao passado, mas a uma<<strong>br</strong> />

afirmação da agricultura<<strong>br</strong> />

como base de uma econo-<<strong>br</strong> />

mia sadia, no conjunto do<<strong>br</strong> />

desenvolvimento e do pro-<<strong>br</strong> />

gresso social de um País e do<<strong>br</strong> />

mundo.<<strong>br</strong> />

Tomara que o pessoal de<<strong>br</strong> />

Brasília, que toma decisões,<<strong>br</strong> />

que nos dizem respeito, sem<<strong>br</strong> />

nos consultar, reflita um<<strong>br</strong> />

pouco nisso...<<strong>br</strong> />

A ilha da agressão<<strong>br</strong> />

Sf^V.<<strong>br</strong> />

do não substituída pelo mes-<<strong>br</strong> />

mo gado.<<strong>br</strong> />

Os chamados defensivos.<<strong>br</strong> />

Mercúrio, por exemplo, ata-<<strong>br</strong> />

cando por dentro e por fora.<<strong>br</strong> />

A ecologia pisada.<<strong>br</strong> />

A lei desrespeitada.<<strong>br</strong> />

A justiça emperrada.<<strong>br</strong> />

Eleição adiada.<<strong>br</strong> />

Aperreado está o trabalha-<<strong>br</strong> />

dor, no meio de tanta agres-<<strong>br</strong> />

sã>.<<strong>br</strong> />

Diálogo com patrão, quase<<strong>br</strong> />

não existe.<<strong>br</strong> />

E o silêncio lambem é uma<<strong>br</strong> />

forma de agressão.<<strong>br</strong> />

Vamos nos defender, com-<<strong>br</strong> />

padre?<<strong>br</strong> />

Assim não dá: estamos<<strong>br</strong> />

cercados por todos os lados.<<strong>br</strong> />

Será que não há salda?<<strong>br</strong> />

J.F.N.<<strong>br</strong> />

Pig.3


OS POSSEIROS <strong>DE</strong> ANDRADINA VÃO EM FRENTE<<strong>br</strong> />

A Comissão dos Posseiros na<<strong>br</strong> />

denúncia para os deputados.<<strong>br</strong> />

ssembléia Legislativa. Olair lê<<strong>br</strong> />

Os posseiros vieram<<strong>br</strong> />

a São Paulo co<strong>br</strong>ar<<strong>br</strong> />

atenção ao seu drama<<strong>br</strong> />

Enquanto resistem pacifi-<<strong>br</strong> />

camente às malandragens e<<strong>br</strong> />

safadezas dos jagunços dos<<strong>br</strong> />

Abdalias (que se julgam do-<<strong>br</strong> />

nos da Fazenda Primavera),<<strong>br</strong> />

os Posseiros de Andradina<<strong>br</strong> />

aprenderam a usar uma nova^<<strong>br</strong> />

ferramenta: a palavra. E por<<strong>br</strong> />

isso estão se tornando muito<<strong>br</strong> />

conhecidos em todo o Esta-<<strong>br</strong> />

do e em outros-Estados, ser-<<strong>br</strong> />

vindo como exemplo de ação<<strong>br</strong> />

para outros trabalhadores<<strong>br</strong> />

em dificuldades.<<strong>br</strong> />

Eles não falam como man-<<strong>br</strong> />

da a gramática, nem andam<<strong>br</strong> />

na gravata, e avisam até que<<strong>br</strong> />

nem sabem direito o que sig-<<strong>br</strong> />

nificam palavras como sub-<<strong>br</strong> />

versivos, comunistas, que a ja-<<strong>br</strong> />

gunçada e seus patrões di-<<strong>br</strong> />

zem para eles. E foi isso mes-<<strong>br</strong> />

mo aue disseram ao Secretá-<<strong>br</strong> />

rio da Segurança Pública do<<strong>br</strong> />

Estado, Otávio Gonzaga Jú-<<strong>br</strong> />

nior, no dia 6 de maio, mos-<<strong>br</strong> />

trando as mãos cheias de ca-<<strong>br</strong> />

los, quando estiveram na ca-<<strong>br</strong> />

pital para co<strong>br</strong>ar um puxão<<strong>br</strong> />

de orelhas na lerda polícia de<<strong>br</strong> />

Andradina:<<strong>br</strong> />

// POSSEIROS LARGA-<<strong>br</strong> />

RAM O SERVIÇO E VIE-<<strong>br</strong> />

RAM A SÃO PAULO<<strong>br</strong> />

FALAR.<<strong>br</strong> />

Os Posseiros não tiveram<<strong>br</strong> />

dúvidas em largar o serviço<<strong>br</strong> />

para vir a São Paulo falar<<strong>br</strong> />

como chefe da polícia do Es-<<strong>br</strong> />

tado, o Secretário da Segu-<<strong>br</strong> />

rança Pública, Otávio Gon-<<strong>br</strong> />

zaga Júnior e com os deputa-<<strong>br</strong> />

dos estaduais, para mostrar<<strong>br</strong> />

suas dificuldades com os pre-<<strong>br</strong> />

tensos donos da Fazenda Pri-<<strong>br</strong> />

mavera e co<strong>br</strong>ar a desapro-<<strong>br</strong> />

priação da terra em seu fa- -<<strong>br</strong> />

vor.<<strong>br</strong> />

Eram 11, mem<strong>br</strong>os da Co-<<strong>br</strong> />

missão de Representantes<<strong>br</strong> />

dos Posseiros: Olair Queiroz<<strong>br</strong> />

dos Santos, Lourenço Quei-<<strong>br</strong> />

roz dos Santos, José Nunes<<strong>br</strong> />

Pereira, Manuel Batista, Ma-<<strong>br</strong> />

riano Feitosa, José Severo,<<strong>br</strong> />

Valdecir Rodrigues de Oli-<<strong>br</strong> />

veira, José Lopes, Osvaldo<<strong>br</strong> />

Pereira das Neves, Manuel<<strong>br</strong> />

de Oliveira e Rostílio Pereira<<strong>br</strong> />

da Silva. E estavam acompa-<<strong>br</strong> />

nhados pelo Presidente da<<strong>br</strong> />

Fetaesp, Roberto Toshio<<strong>br</strong> />

Horiguti, pelo advogado<<strong>br</strong> />

Herber Reis (da Fetaesp), e<<strong>br</strong> />

pelo deputado Franco Baru-<<strong>br</strong> />

selli, presidente da Comissão<<strong>br</strong> />

de Agricultura da As-<<strong>br</strong> />

sembléia Legislativa.<<strong>br</strong> />

Denunciaram as agressões<<strong>br</strong> />

dos jagunços, inclusive aos<<strong>br</strong> />

seus filhos, e reclamaram da<<strong>br</strong> />

moleza .e do pouco caso da<<strong>br</strong> />

polícia de Andradina com<<strong>br</strong> />

suas queixas. O Secretário da<<strong>br</strong> />

Segurança ficou bem impres-<<strong>br</strong> />

sionado com os posseiros e<<strong>br</strong> />

prometeu co<strong>br</strong>ar mais aten-<<strong>br</strong> />

ção, tendo ainda buscado ex-<<strong>br</strong> />

plicações do Incra quanto à<<strong>br</strong> />

desapropriação falada da Fa-<<strong>br</strong> />

Pág. 4 —Realidade Rural — Junho de 1980<<strong>br</strong> />

zenda (que anda na Presidên-<<strong>br</strong> />

cia da Republica).<<strong>br</strong> />

NA CASA DOS <strong>DE</strong>PUTA-<<strong>br</strong> />

DOS ELES <strong>DE</strong>IXARAM<<strong>br</strong> />

SEU RECADO<<strong>br</strong> />

No dia seguinte, 7 de<<strong>br</strong> />

maio, à tarde, os onze Pos-<<strong>br</strong> />

seiros compareceram à Casa<<strong>br</strong> />

dos Deputados estaduais, (a<<strong>br</strong> />

Assembléia Legislativa), onde<<strong>br</strong> />

o deputado Franco Baruselli<<strong>br</strong> />

havia convocado uma reu-<<strong>br</strong> />

nião extraordinária da Co-<<strong>br</strong> />

missão de Agricultura só<<strong>br</strong> />

para ouvi-los.<<strong>br</strong> />

A essa reunião compare-<<strong>br</strong> />

ceu quase toda a Diretoria<<strong>br</strong> />

da Fetaesp, desde o Presi-<<strong>br</strong> />

dente, Roberto Toshio Hori-<<strong>br</strong> />

gutti, aos Diretores Francis-<<strong>br</strong> />

co Benedito Rocha, Mário<<strong>br</strong> />

Vantanage, Emílio Bertuzzo,<<strong>br</strong> />

Antônio David de Souza,<<strong>br</strong> />

além do companheiro Her-<<strong>br</strong> />

ber Reis, do Depto,. Jurídi-<<strong>br</strong> />

co,. Até o prefeito Reinaldo<<strong>br</strong> />

Albertini (Secretário do S<<strong>br</strong> />

TR. de Regente Feijó), com-<<strong>br</strong> />

pareceu.<<strong>br</strong> />

A vontade, os posseiros<<strong>br</strong> />

denunciaram a queima de<<strong>br</strong> />

uma casa, as ameaças dos ja-<<strong>br</strong> />

gunços (citando um, chama-<<strong>br</strong> />

do "Volta Seca") de que ha-<<strong>br</strong> />

veriam mais problemas,<<strong>br</strong> />

agressões. Malharam não<<strong>br</strong> />

apenas os Abdalias e seus ja-<<strong>br</strong> />

gunços, mas também o pre-<<strong>br</strong> />

feito de Andradina (que é<<strong>br</strong> />

meio parente dos Abdalla) e<<strong>br</strong> />

a Delegacia de Polícia, reve-<<strong>br</strong> />

lando que existem suspeitas<<strong>br</strong> />

de envolvimento de um de-<<strong>br</strong> />

putado federal. Depois que<<strong>br</strong> />

eles falaram, o Presidente da<<strong>br</strong> />

Fetaesp fez uma exposição<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e as informações do In-<<strong>br</strong> />

cra quanto à desapropriação.<<strong>br</strong> />

Por fim os posseiros leram<<strong>br</strong> />

uma carta-convite aos depu-<<strong>br</strong> />

tados para participarem da<<strong>br</strong> />

Missa de Solidariedade, dia<<strong>br</strong> />

17 de maio.<<strong>br</strong> />

Além do deputado Baru-<<strong>br</strong> />

selli (que prometeu todo o<<strong>br</strong> />

apoio dos parlamentares e<<strong>br</strong> />

divulgar o depoimento dos<<strong>br</strong> />

posseiros), participaram da<<strong>br</strong> />

reunião também os deputa-<<strong>br</strong> />

dos Marco Aurélio Ribeiro,<<strong>br</strong> />

Goro Hama, Irmã Passoni,<<strong>br</strong> />

Eduardo Suplicy Mattaraz-<<strong>br</strong> />

zo, Doreto Campanari.,<<strong>br</strong> />

Mauro Bragatto e Rubens<<strong>br</strong> />

Costa de Lara.<<strong>br</strong> />

Uma beleza, a missa de solidariedade<<strong>br</strong> />

Era uma beleza, (pena<<strong>br</strong> />

que não possamos mostrar<<strong>br</strong> />

as fotos). No dia 18 de<<strong>br</strong> />

maio, a Igreja Nossa<<strong>br</strong> />

Senhora das Graças, em<<strong>br</strong> />

Andradina, estava decora-<<strong>br</strong> />

da com faixas que falavam<<strong>br</strong> />

dos problemas dos possei-<<strong>br</strong> />

ros entre as quais uma dizia<<strong>br</strong> />

que "onde o boi come, o<<strong>br</strong> />

povo passa fome" e outra,<<strong>br</strong> />

"Primavera, solução urgen-<<strong>br</strong> />

te". Outra faixa dizia: "A<<strong>br</strong> />

lei é dos homens, a justiça é<<strong>br</strong> />

de Deus"; outra: "Temos<<strong>br</strong> />

sede de Justiça" e "Terra,<<strong>br</strong> />

arma do lavrador". Haviam<<strong>br</strong> />

também faixas falando na<<strong>br</strong> />

necessidade de uma Refor-<<strong>br</strong> />

ma Agrária para o Brasil<<strong>br</strong> />

para solucionaro problema<<strong>br</strong> />

de minhões de outros pos-<<strong>br</strong> />

seiros e famílias sem terra<<strong>br</strong> />

ou com pouca terra.<<strong>br</strong> />

Às 13 horas a beleza fi-<<strong>br</strong> />

cou maior ainda, com o iní-<<strong>br</strong> />

cio da Missa de Solidarie-<<strong>br</strong> />

dade aos Posseiros da Fa-<<strong>br</strong> />

zenda Primavera. A Igreja<<strong>br</strong> />

ficou lotada de homens,<<strong>br</strong> />

mulheres , jovens e crian-<<strong>br</strong> />

ças; aproximadamente<<strong>br</strong> />

2.500 pessoas, participando<<strong>br</strong> />

da missa concele<strong>br</strong>ada, ten-<<strong>br</strong> />

do como figura principal o<<strong>br</strong> />

bispo D. Pedro Paulo<<strong>br</strong> />

Koop, de Lins que disse<<strong>br</strong> />

palavras bem claras e enér-<<strong>br</strong> />

gicas em apoio aos possei-<<strong>br</strong> />

ros - ver matéria abaixo.)<<strong>br</strong> />

UM FOLHETO ESPE-<<strong>br</strong> />

CIAL. FALANDO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />

REFORMA AGRÁRIA.<<strong>br</strong> />

No inicio da missa, uma<<strong>br</strong> />

surpresa: o folheto bonito<<strong>br</strong> />

era especial para a missa, e<<strong>br</strong> />

o primeiro canto , o pessoal<<strong>br</strong> />

cantou de boca cheia: "Asa<<strong>br</strong> />

Branca", de Luiz Gonzaga.<<strong>br</strong> />

Na leitura (epístola), em<<strong>br</strong> />

vez de Antigo Testamento,<<strong>br</strong> />

foi lido um trecho (o início)<<strong>br</strong> />

do documento "A Igreja e<<strong>br</strong> />

os Problemas da Terra",<<strong>br</strong> />

feito no início deste ano pe-<<strong>br</strong> />

los Bispos em Itaici, defen-<<strong>br</strong> />

dendo uma Reforma Agrá-<<strong>br</strong> />

ria Autêntica. O Evangelho<<strong>br</strong> />

falava da ascenção de Jesus<<strong>br</strong> />

ao céu, depois de dar suas<<strong>br</strong> />

últimas recomendações aos<<strong>br</strong> />

apóstolos. No canto da co-<<strong>br</strong> />

munhão, um trecho dizia:<<strong>br</strong> />

"São poucos com tanta coisa<<strong>br</strong> />

e muitos que nada têm. Este<<strong>br</strong> />

mundo é esbanjado sem ser-<<strong>br</strong> />

vir para ninguém".<<strong>br</strong> />

No final, antes da palavra<<strong>br</strong> />

dos posseiros e outras' per-<<strong>br</strong> />

sonalidades, houve mais<<strong>br</strong> />

quatro cantos. Um canto<<strong>br</strong> />

dizia, num trecho: "Os ja-<<strong>br</strong> />

gunços da Fazenda tão an-<<strong>br</strong> />

dando tudo armado. E a gen-<<strong>br</strong> />

te não agüenta mais de dar<<strong>br</strong> />

queixa ao delegado". O últi-<<strong>br</strong> />

mo canto foi um bem famo-<<strong>br</strong> />

so: "Prá não dizer que não<<strong>br</strong> />

falei de flores", do Geraldo<<strong>br</strong> />

Vandré.<<strong>br</strong> />

Depois da missa,<<strong>br</strong> />

mem<strong>br</strong>os da Comisssão de<<strong>br</strong> />

Posseiros agradeceram pela<<strong>br</strong> />

Missa de Solidariedade e<<strong>br</strong> />

pela grande presença, e<<strong>br</strong> />

aproveitaram para repetir<<strong>br</strong> />

suas denúncias contra a fa-<<strong>br</strong> />

zenda e os jagunços, ex-<<strong>br</strong> />

O Presidente da Fataesp transmitiu as informações que colheu no<<strong>br</strong> />

INCRA.<<strong>br</strong> />

Ao lado. Diretores da Fataesp.<<strong>br</strong> />

pressando sua confiança<<strong>br</strong> />

numa solução. Depois fala-<<strong>br</strong> />

ram o Padre René Parren,<<strong>br</strong> />

que acompanha os possei-<<strong>br</strong> />

ros; o deputado Franco Ba-<<strong>br</strong> />

ruselli, presidente da Co,-<<strong>br</strong> />

missão de Agricultura da<<strong>br</strong> />

Assembléia Legislativa; e o<<strong>br</strong> />

advogado Herber Reis, da<<strong>br</strong> />

Fetaesp. . Da Federação,<<strong>br</strong> />

inclusive, estavam presen-<<strong>br</strong> />

tes o Presidente, Roberto<<strong>br</strong> />

Toshio Horiguti, o Diretor,<<strong>br</strong> />

Emílio Bertuzzo, Presiden-<<strong>br</strong> />

te do STR. de Mirandópolis,<<strong>br</strong> />

e o companheiro José An-<<strong>br</strong> />

tônio Puncotti, do Departa-<<strong>br</strong> />

mento Jurídico. Estavam<<strong>br</strong> />

presentes também o Presi-<<strong>br</strong> />

dente do STR. de Andradi-<<strong>br</strong> />

na, João dos Santos Alves<<strong>br</strong> />

So<strong>br</strong>inho e o presidente do<<strong>br</strong> />

STR. de Dracena.<<strong>br</strong> />

No final, duas cerimônias<<strong>br</strong> />

bonitas: a entrega aos pos-<<strong>br</strong> />

seiros da coleta da Campa-<<strong>br</strong> />

nha da Fraternidade (Cr$<<strong>br</strong> />

8,000,00), pela coordena-<<strong>br</strong> />

ção da Campanha e seu<<strong>br</strong> />

Manuel Messias de Brito<<strong>br</strong> />

com sua esposa, dona Flor,<<strong>br</strong> />

(ele no violão) cantaram<<strong>br</strong> />

várias músicas em dupla,<<strong>br</strong> />

entre as quais "Bom Jesus<<strong>br</strong> />

de Pirapora".<<strong>br</strong> />

O Secretario da Segurança prometeu mais atenção da policia<<strong>br</strong> />

em favor das queixas dos posseiros.<<strong>br</strong> />

"A terra é vossa",<<strong>br</strong> />

diz o bispo D.Pedro<<strong>br</strong> />

O bispo D. Pedro Paulo Koop, de Lins tem 75 anos e tem<<strong>br</strong> />

problemas de saúde,tanto que não agüentou até o fim da missa<<strong>br</strong> />

e teve de sair. Ele é muito conhecido na região |)tlas suas posi-<<strong>br</strong> />

ções firmes e claras e emocionou muita gente durante a missa<<strong>br</strong> />

quando ele pronunciou em sua homília, palavras de apoio aos<<strong>br</strong> />

posseiros. Vale a pena ler o que ele disse, principalmente<<strong>br</strong> />

alguns que andam falando mal dos posseiros, achando que eles<<strong>br</strong> />

estão errados.<<strong>br</strong> />

QUE CRISTÃOS SÃO ESSES, QUE TENTAM<<strong>br</strong> />

SUBIR NAS COSTAS DOS OUTROS?<<strong>br</strong> />

"Amigos e Irmãos'!<<strong>br</strong> />

Venho trazer-lhe minha<<strong>br</strong> />

solidariedade e vocês, às suas<<strong>br</strong> />

famílias e a todos os que<<strong>br</strong> />

estão com vocês!<<strong>br</strong> />

Impossível honrar a Deus,<<strong>br</strong> />

ser Cristão de verdade, sem<<strong>br</strong> />

preocupar-se com a sorte dos<<strong>br</strong> />

humildes como vocês! Uma<<strong>br</strong> />

Igreja que não considera a<<strong>br</strong> />

religião como vinda do reino<<strong>br</strong> />

de Deus a este mundo, - que<<strong>br</strong> />

não vai seguindo os passos de<<strong>br</strong> />

Jesus,- que não promove jus-<<strong>br</strong> />

tiça e salvação de gente viva<<strong>br</strong> />

para gente concreta, tal Igre-<<strong>br</strong> />

ja não merece fé...<<strong>br</strong> />

O primeiro dever de Cris-<<strong>br</strong> />

tão, hoje e aqui, é preocupar-<<strong>br</strong> />

se com a sorte do povo humil-<<strong>br</strong> />

de, po<strong>br</strong>e, injustiçado e inde-<<strong>br</strong> />

feso. Cumpro meu dever de<<strong>br</strong> />

cristão, de ajuda e apoio a<<strong>br</strong> />

vocês que sofrem o efeito das<<strong>br</strong> />

estruturas injustas, faltando-<<strong>br</strong> />

lhes o absolutamente neces-<<strong>br</strong> />

sário para so<strong>br</strong>eviver, no<<strong>br</strong> />

caso: terra para lavrar e<<strong>br</strong> />

colher.<<strong>br</strong> />

Somos seguidores de Jesus<<strong>br</strong> />

Cristo que não veio pregar<<strong>br</strong> />

uma doutrina nova so<strong>br</strong>e<<strong>br</strong> />

Deus, mas veio corrigir um<<strong>br</strong> />

conceito falso so<strong>br</strong>e Deus<<strong>br</strong> />

inventado por uma religião<<strong>br</strong> />

farisaica que funciona para<<strong>br</strong> />

proveito egoísta, que funcio-<<strong>br</strong> />

na socialmente em prejuízo<<strong>br</strong> />

dos humildes. Que cristãos<<strong>br</strong> />

são esses, que tentam subir<<strong>br</strong> />

nas costas dos outros?"<<strong>br</strong> />

"A mensagem cristão é a<<strong>br</strong> />

do Deus da bondade e justi-<<strong>br</strong> />

ça, do Deus da libertação e<<strong>br</strong> />

da fraternidade. Seu filho<<strong>br</strong> />

Jesus Cristo viveu ele mesmo<<strong>br</strong> />

essa mensagem que lhe veio<<strong>br</strong> />

de Deus Seu Pai. Por pregar<<strong>br</strong> />

e viver essa mensagem, foi<<strong>br</strong> />

condenado à morte! Ainda<<strong>br</strong> />

hoje há os que, matando pro-<<strong>br</strong> />

fetas, pensam prestar serviço<<strong>br</strong> />

a Deus!<<strong>br</strong> />

D. Pedro Paulo Koop, doente,<<strong>br</strong> />

deixou um belo recado.<<strong>br</strong> />

Amigos, louvamos e apoia-<<strong>br</strong> />

mos a união e perseverança<<strong>br</strong> />

de vocês na luta pela reconhe-<<strong>br</strong> />

cimento de seus invioláveis<<strong>br</strong> />

direitos de legítimos proprie-<<strong>br</strong> />

tários da terra em que, há<<strong>br</strong> />

longos anos vocês, pais e<<strong>br</strong> />

filhos, trabalham para o seu<<strong>br</strong> />

sustento, po<strong>br</strong>e e honesto.<<strong>br</strong> />

Seus direitos são reconhe-<<strong>br</strong> />

cidos por lei, direitos de pos-<<strong>br</strong> />

se e uso produtivo que vocês<<strong>br</strong> />

reivindicam, lutando de modo<<strong>br</strong> />

leal e ordeiro, pacificamente<<strong>br</strong> />

unidos e conscientes.<<strong>br</strong> />

Não é justo que vocês e<<strong>br</strong> />

suas famílias fiquem sem<<strong>br</strong> />

terra e sem casa, nem tendo<<strong>br</strong> />

para onde ir. De justiça, é<<strong>br</strong> />

vossa essa terra.<<strong>br</strong> />

Pecam gravemente os que<<strong>br</strong> />

vivem ameaçando a vocês<<strong>br</strong> />

com suas famílias, espalhan-<<strong>br</strong> />

do medo e terror, invadindo<<strong>br</strong> />

o que lhes não pertence.<<strong>br</strong> />

A vocês, e a todos que, ao<<strong>br</strong> />

lado de vocês, lutam por<<strong>br</strong> />

vocês, nossa solidariedade, e<<strong>br</strong> />

nosso protesto contra as<<strong>br</strong> />

violações e pressões de que<<strong>br</strong> />

são vítimas por parte dos que<<strong>br</strong> />

se julgam donos sem o serem.<<strong>br</strong> />

Deus está do lado de vocês.<<strong>br</strong> />

A Justiça divina jamais<<strong>br</strong> />

falha!"<<strong>br</strong> />

PRES. PRU<strong>DE</strong>NTE-17/05/80<<strong>br</strong> />

Revoltados, os trabalhadores<<strong>br</strong> />

exigem atenção do governo<<strong>br</strong> />

e mostram prejuízos enormes<<strong>br</strong> />

Para entender porque os trabalhado-<<strong>br</strong> />

res rurais foram à concentração de<<strong>br</strong> />

Presidente Prudente, no dia 17 de<<strong>br</strong> />

maio, promovida pelos Sindicatos do<<strong>br</strong> />

Grupo Regional 10, basta acompanhar<<strong>br</strong> />

alguns dados que eles mesmo levanta-<<strong>br</strong> />

ram, mostrando quanto está valendo<<strong>br</strong> />

hoje o trabalho na roça. Depois vale a<<strong>br</strong> />

pena ver a que conclusões os próprios<<strong>br</strong> />

trabalhadores rurais, que falaram na<<strong>br</strong> />

concentração, chegaram a respeito de<<strong>br</strong> />

seu futuro.<<strong>br</strong> />

Roque Aquino Bagli, trabalhador ru-<<strong>br</strong> />

ral produtor de Presidente Prudente<<strong>br</strong> />

fez um levantamento dos custos do<<strong>br</strong> />

adubo e os comparou com os preços do<<strong>br</strong> />

amendoim. Em 26 de novem<strong>br</strong>o de<<strong>br</strong> />

1977, por exemplo, o adubo (fórmula<<strong>br</strong> />

4/14/8) custava Cr$ 2.816,00 a tonelada.<<strong>br</strong> />

Em 23 de outu<strong>br</strong>o do ano seguinte, es-<<strong>br</strong> />

tava em Cr$ 3.408,00. No dia 11 de ju-<<strong>br</strong> />

lho de 1979 já tinha subido para Cr$<<strong>br</strong> />

5.240,00. No dia 9 de novem<strong>br</strong>o do ano<<strong>br</strong> />

passado, estava em Cr$ 7.397,00, subin-<<strong>br</strong> />

do para CrS 9.408,00. E o adubo que<<strong>br</strong> />

será entregue no dia 30 de junho, será<<strong>br</strong> />

pago no valor de CrS 11.229,00.<<strong>br</strong> />

Já o preço do amendoim no dia 1 3 de<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>il de 1977 era de CrS 200,00, caindo<<strong>br</strong> />

para CrS 135,00 no dia 8 de junho; para<<strong>br</strong> />

CrS 108,00 no dia 28 de agosto do ano<<strong>br</strong> />

seguinte, subindo para CrS 120,00, no<<strong>br</strong> />

dia 3 de janeiro, para subir de novo<<strong>br</strong> />

para CrS 120,00 no dia 16 de a<strong>br</strong>il. O<<strong>br</strong> />

preço mínimo deste ano, em maio, era<<strong>br</strong> />

de CrS 210,00. Ou seja, CrS 10,00 a<<strong>br</strong> />

mais que em a<strong>br</strong>il de 1977!<<strong>br</strong> />

HÁ TRÊS ANOS, O ÓLEO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />

AMENDOIM VALIA CRS 18,00<<strong>br</strong> />

O LITRO; HOJE, 45,50...<<strong>br</strong> />

Antônio Prado, de Alvares Machado<<strong>br</strong> />

(base do STR de Presidente Prudente),<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ou que há três anos o óleo de<<strong>br</strong> />

amendoim industrializado valia CrS.<<strong>br</strong> />

18,00, e este ano, no supermercado,<<strong>br</strong> />

não se encontra a menos de CrS 45,50.<<strong>br</strong> />

E se mostrava espantado que o preço<<strong>br</strong> />

do amendoim, de onde sai o óleo, te-<<strong>br</strong> />

nha ficado no mesmo valor (porque se<<strong>br</strong> />

contar a inflação, não vale quase na-<<strong>br</strong> />

da...).<<strong>br</strong> />

Ele contou outra coisa: há quatro<<strong>br</strong> />

anos, um litro de "Azodrin" (um pro-<<strong>br</strong> />

duto muito usado na lavoura de amen-<<strong>br</strong> />

doim) valia Cr$ 35,00; hoje subiu para<<strong>br</strong> />

CrS 900,00. "Vejam o absurdo!"- disse<<strong>br</strong> />

ele. "E a mercadoria não teve alta!"<<strong>br</strong> />

Antônio Prado comentou que ele<<strong>br</strong> />

teve ainda sorte este ano de poder ven-<<strong>br</strong> />

der seu amendoim mais tarde, tendo<<strong>br</strong> />

conseguido CrS 240,00. Mas, segundo<<strong>br</strong> />

êle, 70% de seus companheiros na re-<<strong>br</strong> />

gião não conseguiu mais do que CrS<<strong>br</strong> />

210,00, outros mesmo Crt 200,00, e<<strong>br</strong> />

com os descontos, segundo ele, cai<<strong>br</strong> />

para CrS 170,00.<<strong>br</strong> />

adubos em geral, subiram em média<<strong>br</strong> />

300%!<<strong>br</strong> />

"CULPADO E O PRESI<strong>DE</strong>NTE<<strong>br</strong> />

DA REPÚBLICA E SEU MINIS-<<strong>br</strong> />

TÉRIO!"<<strong>br</strong> />

O grande destaque da concentração<<strong>br</strong> />

foram ,os trabalhadores. Aqueles que<<strong>br</strong> />

falaram não precisaram de ensaio, nem<<strong>br</strong> />

precisaram que<strong>br</strong>ar muito a cabeça<<strong>br</strong> />

para pensar no que dizer, porque a si-<<strong>br</strong> />

tuação deles é tão ruim que o difícil<<strong>br</strong> />

mesmo é escolher o que dizer. Nin-<<strong>br</strong> />

guém falou tão bem como eles na con-<<strong>br</strong> />

centração. Aliás, foi a concentração<<strong>br</strong> />

em que o trabalhador dominou mais.<<strong>br</strong> />

Os trabalhadores deixaram bem cla-<<strong>br</strong> />

ro que alguma coisa precisa ser feita<<strong>br</strong> />

urgentemente pelo nosso Movimento<<strong>br</strong> />

Sindical, e com urgência, ou logo logo<<strong>br</strong> />

não haverá mais nem pequenos pro-<<strong>br</strong> />

prietários. Eles estão sentindo-se como<<strong>br</strong> />

pipoca em frigideira.<<strong>br</strong> />

José Antônio da Silva, de Caiabú (ba-<<strong>br</strong> />

se do STR de Regente Feijó) previu<<strong>br</strong> />

que a atual safra de amendoim levará o<<strong>br</strong> />

agricultor ao caos, se o Governo não<<strong>br</strong> />

tomar uma providência. Disse também<<strong>br</strong> />

que está acontecendo uma situação<<strong>br</strong> />

hoje que deveria ser pensada: nos tem-<<strong>br</strong> />

pos passados, a gente podia ir a falên-<<strong>br</strong> />

cia na cidade, mas na roça sempre ia<<strong>br</strong> />

em frente. Hoje não. "Se falia na cida-<<strong>br</strong> />

de, voltava prá lavoura e começava<<strong>br</strong> />

tudo de novo". Hoje, na lavoura os<<strong>br</strong> />

mmmmmmmmg§\<<strong>br</strong> />

Os trabalhadores rurais viram que o povo da cidade acompanhou com carinho a pas<<strong>br</strong> />

seata e apoiou o protesto contra a política agrícola e agrária do Governo. Estavam tão<<strong>br</strong> />

animados que uns queriam ir até o centro de Presidente Prudente...<<strong>br</strong> />

José Antônio da Silva, de Caiabu,<<strong>br</strong> />

também falando so<strong>br</strong>e o êxodo rural,<<strong>br</strong> />

disse que essa situação de êxodo, de<<strong>br</strong> />

desânimo, de falta de uma política fun-<<strong>br</strong> />

diária capaz de manter o homem do<<strong>br</strong> />

campo, é uma situação péssima: "Isso<<strong>br</strong> />

é mau para nós, mau para a nossa for-<<strong>br</strong> />

mação, e a formação de nossos filhos, e<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>etudo é mau para a formação de<<strong>br</strong> />

uma Nação que está crescendo!"<<strong>br</strong> />

José Antônio comentou, preocupa-<<strong>br</strong> />

do, que "se o Governo não tem cora-<<strong>br</strong> />

gem de tomar uma providência para<<strong>br</strong> />

que essa situação acabe, vai ver ama-<<strong>br</strong> />

nhã uma mortandade de gente por não<<strong>br</strong> />

ter o que comer nesse País".<<strong>br</strong> />

NÃO SOMOS BICHOS! SOMOS<<strong>br</strong> />

GENTE, MERECEMOS RESPEI-<<strong>br</strong> />

TO!<<strong>br</strong> />

José Antônio revelou que fica espan-<<strong>br</strong> />

tado com outra coisa: tem muita gente<<strong>br</strong> />

na lavoura que quer trabalhar e não<<strong>br</strong> />

Durante a concentração, numa atração à parte foi o alto nível dos trabalhadores que<<strong>br</strong> />

falaram. Mostraram que sabem porque passam por tantos apertos.<<strong>br</strong> />

preços dos produtos dos pequenos não<<strong>br</strong> />

pagam nem os custos de produção, e,<<strong>br</strong> />

muito menos o trabalho.<<strong>br</strong> />

José Soares de Oliveira, de Alfredo<<strong>br</strong> />

Marcondes, disse que o Governo tem<<strong>br</strong> />

muita culpa nessa história, tanto que,<<strong>br</strong> />

em sua opinião, "foi justamente o se-<<strong>br</strong> />

nhor Ministro da Agricultura que jo-<<strong>br</strong> />

gou nós aqui hoje, porque estamos<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>ando aquilo que nós fomos até<<strong>br</strong> />

Brasília reivindicar, em janeiro, quan-<<strong>br</strong> />

do o amendoim estava em Cr$ 180,00.<<strong>br</strong> />

Ele prometeu que até esta safra ele to-<<strong>br</strong> />

maria alguma solução e até hoje não<<strong>br</strong> />

disse nada para o Sindicato de Presi-<<strong>br</strong> />

dente Prudente!".<<strong>br</strong> />

A única falha no Ginásio de Esportes foi que os trabalhadores ficaram um pouco lon-<<strong>br</strong> />

ge dos oradores. Mas nem por isso eles deixaram de aplaudir e de se manifestar. E<<strong>br</strong> />

entenderam o recado...<<strong>br</strong> />

E quem completou bem estes dados<<strong>br</strong> />

foi o Presidente do Sindicato dos Tra-<<strong>br</strong> />

balhadores Rurais de Presidente Pru-<<strong>br</strong> />

dente, Altino Cremonezi, que falou em<<strong>br</strong> />

nome dos dirigentes sindicais do Grupo<<strong>br</strong> />

Regional 10.<<strong>br</strong> />

Disse ele que, de novem<strong>br</strong>o do ano<<strong>br</strong> />

passado até hoje, o preço de um produ-<<strong>br</strong> />

to químico chamado "Folidol" (2%),<<strong>br</strong> />

muito usado na lavoura de amendoim,<<strong>br</strong> />

passou de CrS 230,00 para 800,00! E,<<strong>br</strong> />

citando dados de uma revista especiali-<<strong>br</strong> />

zada, disse que de agosto do ano passa-<<strong>br</strong> />

do até maio deste ano, os insumos bási-<<strong>br</strong> />

cos, tais como sulfato de amo/lia, clo-<<strong>br</strong> />

reto de potássio, salitre do Chile, uréia.<<strong>br</strong> />

Disse José Soares que "lá em Brasí-<<strong>br</strong> />

lia nós dissemos a ele que não quería-<<strong>br</strong> />

mos preço mínimo, mas preço justo,<<strong>br</strong> />

porque o preço mínimo nada resolve.<<strong>br</strong> />

O que interessa a nós é preço justo e<<strong>br</strong> />

compensador".<<strong>br</strong> />

Ele comentou uma outra coisa: "Há<<strong>br</strong> />

quatro anos -disse- se fizéssemos uma<<strong>br</strong> />

concentração, nós encheríamos este<<strong>br</strong> />

estádio com 5 vezes mais de trabalha-<<strong>br</strong> />

dores. Mas hoje eles estão dispersos na<<strong>br</strong> />

cidade, como migrantes". E esta situa-<<strong>br</strong> />

ção de desânimo, de êxodo rural, tem<<strong>br</strong> />

culpado, em sua opinião: "é o senhor<<strong>br</strong> />

presidente da Republica e o seu Minis-<<strong>br</strong> />

tério, que expulsam nós da terra".<<strong>br</strong> />

tem como, porque falta terra, falta ser-<<strong>br</strong> />

viço. E confessou que perdeu as estri-<<strong>br</strong> />

beiras há algum tempo: é que ele ouviu<<strong>br</strong> />

o Ministro Delfim Netto, do Planeja-<<strong>br</strong> />

mento, dizer que os líderes dos traba-<<strong>br</strong> />

lhadores rurais que fizeram a chamada<<strong>br</strong> />

"greve da soja" no sul eram "míopes",<<strong>br</strong> />

vesgos, que não estavam enxergando<<strong>br</strong> />

bem as coisas. "Isso desabafou José<<strong>br</strong> />

Antônio - é um crime que se faz contra<<strong>br</strong> />

o homem do campo. Se hoje nós somos<<strong>br</strong> />

taxados de míopes, de escravos, de lou-<<strong>br</strong> />

cos, é uma afronta ao homem da Na-<<strong>br</strong> />

ção, que é a base forte, que são todos<<strong>br</strong> />

os lavradores aqui presentes".<<strong>br</strong> />

E Francisco Domingues, um compa-<<strong>br</strong> />

nheiro de Palmital, recomendou (nu-<<strong>br</strong> />

mildemente) que se apoie cada vez<<strong>br</strong> />

mais os Sindicatos, para procurar os<<strong>br</strong> />

nossos direitos "porque o Governo só<<strong>br</strong> />

vive tirando cada vez mais o direito do<<strong>br</strong> />

povo".<<strong>br</strong> />

- Ele fala em abertura- comentou<<strong>br</strong> />

Francisco. Mas quando se fala em gre-<<strong>br</strong> />

ves, quando se falam certas verdades,<<strong>br</strong> />

eles vêm de pau prá cima de nós.<<strong>br</strong> />

Francisco disse que o trabalhador<<strong>br</strong> />

rural paga o preço de sempre calar:<<strong>br</strong> />

- Não podemos baixar a cabeça com<<strong>br</strong> />

essa corrupção que existe no nosso Go-<<strong>br</strong> />

verno. Vocês estão vendo o caso dos<<strong>br</strong> />

metalúrgicos. Não puderam fazer na-<<strong>br</strong> />

da. Fizeram greve, tudo agüentaram<<strong>br</strong> />

durante muito tempo, vários dias, e o<<strong>br</strong> />

Governo pôs o líder dos operários, o<<strong>br</strong> />

Lula, na cadeia. Não é assim que se faz<<strong>br</strong> />

com o trabalhador, tratando nós como<<strong>br</strong> />

bichos. Não somos bichos. Somos gen-<<strong>br</strong> />

te. Nós merecemos todo o respeito das<<strong>br</strong> />

nossas autoridades!<<strong>br</strong> />

"ESTÁ NA HORA <strong>DE</strong> DIZER;<<strong>br</strong> />

CHEGA!"<<strong>br</strong> />

Depois dos trabalhadores (só desta-<<strong>br</strong> />

camos alguns, por falta de espaço), fa-<<strong>br</strong> />

laram os dirigentes sindicais.<<strong>br</strong> />

Todos os oradores procuraram des-<<strong>br</strong> />

tacar uma coisa: a necessidade do pró-<<strong>br</strong> />

prio homem do campo levantar a cabe-<<strong>br</strong> />

ça e mudar por conta própria a situa-<<strong>br</strong> />

ção.<<strong>br</strong> />

E como? Paulo Silva comentou que<<strong>br</strong> />

se houvessem 5.000 trabalhadores reu-<<strong>br</strong> />

nidos em Presidente Prudente (e não<<strong>br</strong> />

apenas 800), e outro tanto em cada um<<strong>br</strong> />

dos mais 9 Grupos Regionais, seriam<<strong>br</strong> />

50,000 trabalhadores rurais buscando<<strong>br</strong> />

soluções e isso pesaria na balança das<<strong>br</strong> />

autoridades. Disse que é necessário um<<strong>br</strong> />

trabalho de base, de núcleos sindicais,<<strong>br</strong> />

de ligação entre c trabalhador, o Sindi-<<strong>br</strong> />

cato e a Federação, "pois do contrário<<strong>br</strong> />

ficaremos sempre nessa lenga-lenga",<<strong>br</strong> />

nessa iastimação de que tudo o que<<strong>br</strong> />

vem para nós, tem valor, porque os ou-<<strong>br</strong> />

tros se unem, formam as correntes e<<strong>br</strong> />

eles taxam o que nos vendem e tam-<<strong>br</strong> />

bém taxam o que nos compram".<<strong>br</strong> />

E completou: "Está na hora de dizer,<<strong>br</strong> />

chega!". E mostrou aos trabalhadores<<strong>br</strong> />

que eles tem que dizer "Graças a<<strong>br</strong> />

Deus" não se há médico ou dentista<<strong>br</strong> />

que consulta no Sindicato" mas se há<<strong>br</strong> />

nos sindicatos pessoas para lutar pelos<<strong>br</strong> />

nossos direitos" porque quando o tra-<<strong>br</strong> />

balho e a produção tem valor, o traba-<<strong>br</strong> />

lhador terá dinheiro para escolher seu ■<<strong>br</strong> />

médico ou dentista.<<strong>br</strong> />

O deputado Mauro Bragatto falou<<strong>br</strong> />

curtinho, levando sua-solidariedade,<<strong>br</strong> />

mostrando que o Governo é anti-<<strong>br</strong> />

nacional e anti-populare que isso se re-<<strong>br</strong> />

flete na agricultura, onde "o Ministro<<strong>br</strong> />

Stabile nada mais é do que represen-<<strong>br</strong> />

tante das multinacionais".<<strong>br</strong> />

Altino Cremonezi, Presidente do Sin-<<strong>br</strong> />

dicato de Presidente Prudente, comen-<<strong>br</strong> />

tou satisfeito que valeu a pena fazer a<<strong>br</strong> />

concentração, apesar de todas as difi-<<strong>br</strong> />

culdades, falhas, porque é o começo de<<strong>br</strong> />

uma nova luta para fazer o homem da<<strong>br</strong> />

lavoura levantar a cabeça, defender<<strong>br</strong> />

sua profissão de trabalhador rural, uma<<strong>br</strong> />

vez que com todas as mudanças na ro-<<strong>br</strong> />

ça, hoje estão desaparecendo o arren-<<strong>br</strong> />

datário, o parceiro agrícola, o forma-<<strong>br</strong> />

dor de café, estão desaparecendo as<<strong>br</strong> />

culturas do amendoim e do café e a ú-<<strong>br</strong> />

nica saída é o pessoal se tornar volante.<<strong>br</strong> />

Então é preciso começar a <strong>br</strong>igar.<<strong>br</strong> />

Por fim, o Presidente da Fetaesp,<<strong>br</strong> />

Roberto Toshio Horiguti. Ele mostrou<<strong>br</strong> />

com clareza que o governo ultimamen-<<strong>br</strong> />

te tem dado destaque à posição de que<<strong>br</strong> />

"Exportar é o que interessa ao Pais",<<strong>br</strong> />

atendendo com isso não ao interesse<<strong>br</strong> />

do povo mais necessitado mas dos ri-<<strong>br</strong> />

cos, do poder econômico e, particular-<<strong>br</strong> />

mente, das multinacionais. Não inte-<<strong>br</strong> />

ressa o sacrifício de que nós, povo <strong>br</strong>a-<<strong>br</strong> />

sileiro, tenhamos que sofrer.<<strong>br</strong> />

Roberto mostrou que o sindicalismo<<strong>br</strong> />

é a saída para uma virada na situação e<<strong>br</strong> />

disse que se cada pai ou mãe de família<<strong>br</strong> />

pensar nos seus filhos, no futuro deles,<<strong>br</strong> />

eles vão entender porque precisam<<strong>br</strong> />

participar do sindicalismo e deixar de<<strong>br</strong> />

colocar o chapéu embaixo do <strong>br</strong>aço<<strong>br</strong> />

para pedir ao banco uma migalha de<<strong>br</strong> />

assistência técnica, para reivindicar<<strong>br</strong> />

uma política agrícola e econômica que<<strong>br</strong> />

interesse a nós e não aos grandes lati-<<strong>br</strong> />

fundiários, etc.<<strong>br</strong> />

SINDICATOS PRESENTES<<strong>br</strong> />

Flórida Paulista (4 pessoas); Regente<<strong>br</strong> />

Feijó (150); Ranchana (22); Quatá(l);<<strong>br</strong> />

Marilia (I); Dracena (2); Avaré (2);<<strong>br</strong> />

Palmital (21); Presidente Bernardes<<strong>br</strong> />

(21); Teodoro Sampaio (3); Itaí (I);<<strong>br</strong> />

Bernardino de Campos (2); Cravinhos<<strong>br</strong> />

(I); Presidente Epitacio (30); Junquei-<<strong>br</strong> />

rópolis (24); Pacaembú, Mirante do<<strong>br</strong> />

Paranapanema. De Alvares Machado<<strong>br</strong> />

(220) e Alfredo Marcondes (70), ambas<<strong>br</strong> />

bases do STR. de Presidente Prudente.<<strong>br</strong> />

Da Fetaesp estiveram presentes o Pre-<<strong>br</strong> />

sidente e o Secretário Geral, respecti-<<strong>br</strong> />

vamente Roberto Toshio Horiguti e<<strong>br</strong> />

Francisco Benedito Rocha, além do<<strong>br</strong> />

companheiro José Antônio Pancotti,<<strong>br</strong> />

assessor jurídico.<<strong>br</strong> />

Campanha Salarial<<strong>br</strong> />

O nosso sindicalismo já está se movimentando,<<strong>br</strong> />

desencadeando nova campanha salarial em todo o<<strong>br</strong> />

Estado de São Paulo.<<strong>br</strong> />

Nos dias 24 e 25 de maio houve, em Agudos, no<<strong>br</strong> />

Instituto Técnico e Educacional para Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Rurais no Estado de São Paulo (ITETRESP) um<<strong>br</strong> />

encontro de todos os advogados dos Sindicatos com<<strong>br</strong> />

os advogados da Federação, durante o qual foram<<strong>br</strong> />

analisadas as quatro campanhas salariais havidas até<<strong>br</strong> />

agora, foram analisadas também as mudanças na<<strong>br</strong> />

política salarial e estudados itens novos, que pode-<<strong>br</strong> />

riam ser sugeridos aos Sindicatos, na montagem da<<strong>br</strong> />

pauta de reivindicações.<<strong>br</strong> />

No dia seguinte, 26 de maio, uma segunda-feira, o<<strong>br</strong> />

Conselho de Representantes da Fetaesp se reuniu no<<strong>br</strong> />

ITETRESP para analisar as ponderações dos advo-<<strong>br</strong> />

gados e estudar sugestões de mudanças para a mon-<<strong>br</strong> />

tagem da pauta de reinvindicações referentes à quin-<<strong>br</strong> />

ta campanha salarial, que está começando.<<strong>br</strong> />

No dia 12 de junho, se realizará na sede da<<strong>br</strong> />

FETAESP uma Assembléia Geral, em que a próxima<<strong>br</strong> />

campanha salarial será o item principal do encontro.<<strong>br</strong> />

Dessa reunião farão parte dirigentes de todos ps Sin-<<strong>br</strong> />

dicatos de Trabalhadores Rurais do Estado.<<strong>br</strong> />

APESAR DOS PATRÕES, AVANÇAMOS MUITO<<strong>br</strong> />

Como comentamos na "NOSSA POSIÇÃO", na<<strong>br</strong> />

página 3, as campanhas salariais estão modificando<<strong>br</strong> />

para melhor o nosso sindicalismo. Os patrões até<<strong>br</strong> />

agora só fizeram cara feia para nós, não quiseram<<strong>br</strong> />

diálogo. Sempre preferiram a solução cômoda do<<strong>br</strong> />

Tribunal Regional do Trabalho (TRT) decidir quanto<<strong>br</strong> />

iríamos ganhar e que mudanças haveriam nas condi-<<strong>br</strong> />

ções de trabalho dos companheiros.<<strong>br</strong> />

A esperança é de que este ano os patrões, especial-<<strong>br</strong> />

mente, a Federação patronal (a FAESP), aceite ao<<strong>br</strong> />

menos dialogar. De qualquer forma, no entanto, os<<strong>br</strong> />

Sindicatos de Trabalhadores Rurais, estão se empe-<<strong>br</strong> />

nhando em executar à risca os acórdãos, com deci-<<strong>br</strong> />

sões da Justiça do Trabalho.<<strong>br</strong> />

Na Bahia, uma greve<<strong>br</strong> />

legal e bem <strong>org</strong>anizada<<strong>br</strong> />

Os trabalhadores volantes, vinculados ao Sindicato dos Tra-<<strong>br</strong> />

balhadores Rurais de Vitória da Conquista, na Bahia, que nor-<<strong>br</strong> />

malmente trabalham nas fazendas de café, na colheita da pro-<<strong>br</strong> />

dução, não estão mais dispostos a continuar engordando a<<strong>br</strong> />

patronagem na moleza.<<strong>br</strong> />

E foi com essa disposição de ânimo que eles decidiram este<<strong>br</strong> />

ano colocar um ponto final no passado de cabeça baixa e resol-<<strong>br</strong> />

veram fazer uma campanha salarial conjunta, envolvendo tam-<<strong>br</strong> />

bém a base de Barra do Choça e conseguiram deflagrar uma<<strong>br</strong> />

greve, que a justiça considerou legal, uma vez que os patrões<<strong>br</strong> />

nem se dignaram a ouvi-los, esperando que os trabalhadores<<strong>br</strong> />

não agüentassem muito tempo parados, uma vez que depen-<<strong>br</strong> />

diam do ganho semanal.<<strong>br</strong> />

Mas os trabalhadores agüentaram firmes e contaram com o<<strong>br</strong> />

apoio da CONTAG, dos Sindicatos da Bahia, Federação de<<strong>br</strong> />

Minas e outras, e foram formados dois Comitês de Solidarie-<<strong>br</strong> />

dade segundo a imprensa: um em Salvador (a capital), outro<<strong>br</strong> />

em Vitória da Conquista, para arrecadar mantimentos e<<strong>br</strong> />

dinheiro para os trabalhadores em greve, como aconteceu no<<strong>br</strong> />

ABC, em São Paulo.<<strong>br</strong> />

Quando a greve é legal, a polícia não pode prender ninguém,<<strong>br</strong> />

muito menos bater, e nem os patrões podem sustituir os traba~<<strong>br</strong> />

lhadores em greve. Mas a polícia lá tomou o partido dos<<strong>br</strong> />

patrões, escoltando os caminhões dos "gatos" que levavam<<strong>br</strong> />

substitutos para os patrões. Os "gatos" tentavam enganar os<<strong>br</strong> />

trabalhadores, prometendo boa remuneração e depois desmen-<<strong>br</strong> />

tiam, no caminho da fazenda e quem não quisesse aceitar, vol-<<strong>br</strong> />

tava a pé, conforme a imprensa. Houve uma assembléia com<<strong>br</strong> />

3.500 trabalhadores presentes, entre os quais o Presidente da<<strong>br</strong> />

CONTAG, José Francisco da Silva, um representante da<<strong>br</strong> />

Federação de Minas e dirigentes sindicais de trabalhadores<<strong>br</strong> />

rurais da Bahia.<<strong>br</strong> />

Depois de mais de 10 dias paralizados, os trabalhadores vol-<<strong>br</strong> />

taram ao serviço, aguardando o julgamento do Tribunal Regio-<<strong>br</strong> />

nal do Trabalho. Eles reivindicam CrS 155,00, os patrões con-<<strong>br</strong> />

trapropõem Crí 130,00 e o Juiz da Junta de Conciliação e Jul-<<strong>br</strong> />

gamento sugere CrS 142,00. Os trabalhadores reivindicam ain-<<strong>br</strong> />

da o cumprimento da legislação trabalhista e igualdade de<<strong>br</strong> />

salários entre homem, mulher e criança. Até há pouco tempo os<<strong>br</strong> />

homens ganhavam CrS 108,00, e as mulheres CrS 60/70.00!<<strong>br</strong> />

Malandros tentam<<strong>br</strong> />

grilar em Angatuba<<strong>br</strong> />

Uma Comissão de Traba-<<strong>br</strong> />

lhadores Rurais Produtores do<<strong>br</strong> />

bairro Faxinai, em Angatuba,<<strong>br</strong> />

acompanhada do Presidente<<strong>br</strong> />

do Sindicato, Alcides Berto-<<strong>br</strong> />

lai, e da advogada Marta Al-<<strong>br</strong> />

ves, esteve na Fetaesp e denun-<<strong>br</strong> />

ciou indivíduos inescrupulosos<<strong>br</strong> />

que, aliados a cartórios deso-<<strong>br</strong> />

nestos, fizeram uma so<strong>br</strong>epo-<<strong>br</strong> />

sição de escrituras, pretenden-<<strong>br</strong> />

do com isso grilar as terras dos<<strong>br</strong> />

companheiros. Em Maio, in-<<strong>br</strong> />

clusive, foi feita uma correição<<strong>br</strong> />

(uma fiscalização do próprio<<strong>br</strong> />

juiz), no cartório de Angatu-<<strong>br</strong> />

ba, para acertar os ponteiros<<strong>br</strong> />

lá. Os trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />

produtores acompanharam. A<<strong>br</strong> />

trama nasceu em cima de um<<strong>br</strong> />

pedacinho de terra num bairro<<strong>br</strong> />

chamado CORRUPÇÃO, em<<strong>br</strong> />

Itapetininga... Na próxima<<strong>br</strong> />

edição divulgaremos o depoi-<<strong>br</strong> />

mento dos trabalhadores, do<<strong>br</strong> />

Sindicato e da advogada).<<strong>br</strong> />

Realidade Rural — Junho de 1980—Pág. 5


A GREVE DA SOJA<<strong>br</strong> />

Sindicato/Cooperativa,<<strong>br</strong> />

a fórmula que fez o<<strong>br</strong> />

Governo recuar no sul.<<strong>br</strong> />

Nos fins de março, pouco antes de<<strong>br</strong> />

começar a greve dos-metalúrgicos, o<<strong>br</strong> />

Brasil todo acompanhou uma inten-<<strong>br</strong> />

sa e surpreendente movimentação<<strong>br</strong> />

dos pequenos e médios produtores de<<strong>br</strong> />

soja do Sul do País, incluindo o<<strong>br</strong> />

Mato Grosso do Sul. A movimenta-<<strong>br</strong> />

ção tinha por objetivo mostrar a opi-<<strong>br</strong> />

nião pública o descontentamento dos<<strong>br</strong> />

agricultores em relação ao injusto<<strong>br</strong> />

confisco cambial, imposto pelo Gover-<<strong>br</strong> />

no so<strong>br</strong>e as exportações no fim do<<strong>br</strong> />

ano e que prejudicava os agriculto-<<strong>br</strong> />

res.<<strong>br</strong> />

Os agriívltores haviam decidido<<strong>br</strong> />

não vender a soja enquanto o Gover-<<strong>br</strong> />

no não acabasse, com o confisco. E<<strong>br</strong> />

venceram.<<strong>br</strong> />

Por trás de toda a movimentação,<<strong>br</strong> />

que foi uma verdadeira greve dos<<strong>br</strong> />

agricultores, estavam uma poderosa<<strong>br</strong> />

"AS BASES É QUE TO-<<strong>br</strong> />

MA RAM ESSA POSI-<<strong>br</strong> />

ÇÃO"<<strong>br</strong> />

Orgenio Roth inilita no<<strong>br</strong> />

nosso sindicalismo desde<<strong>br</strong> />

seu início, ia pelos idos de<<strong>br</strong> />

l%l/62. Foi Presidente<<strong>br</strong> />

do Sindicato dos Traba-<<strong>br</strong> />

lhadores Rurais de Ijuíee<<strong>br</strong> />

nos últimos anos, corno<<strong>br</strong> />

vice-presidente da<<strong>br</strong> />

FETAG-RS, era o res-<<strong>br</strong> />

ponsável pelo trabalho de<<strong>br</strong> />

educação sindical. Nos úl-<<strong>br</strong> />

timos anos surgiram no<<strong>br</strong> />

Rio Grande do Sul divi-<<strong>br</strong> />

sões regionais de Sindica-<<strong>br</strong> />

tos, a exemplo dos nossos<<strong>br</strong> />

Grupos Regionais em São<<strong>br</strong> />

Paulo. E esse trabalho<<strong>br</strong> />

tem propiciado um impul-<<strong>br</strong> />

so novo ao sindicalismo<<strong>br</strong> />

naquele Estado.<<strong>br</strong> />

É exatamente este as-<<strong>br</strong> />

pecto que Orgenio faz<<strong>br</strong> />

questão de, destacar,<<strong>br</strong> />

como fundamental na gre-<<strong>br</strong> />

ve dos agricultores: "A-<<strong>br</strong> />

cho que a movimentação<<strong>br</strong> />

toda foi altamente válida<<strong>br</strong> />

- diz ele - porque justa-<<strong>br</strong> />

mente as bases é que to-<<strong>br</strong> />

maram esSa posição e não<<strong>br</strong> />

aconteceu por acaso, por-<<strong>br</strong> />

que a partir do momento<<strong>br</strong> />

em que o Delfim decretou<<strong>br</strong> />

o imposto, os agricultores<<strong>br</strong> />

começaram a discutir<<strong>br</strong> />

com os Sindicatos uma<<strong>br</strong> />

saída"<<strong>br</strong> />

Pág. 6<<strong>br</strong> />

Das discussões, surgi-<<strong>br</strong> />

ram subsídios para a FE-<<strong>br</strong> />

TAG que elaborou um<<strong>br</strong> />

documenlo, enviando-o<<strong>br</strong> />

ao Governo. Mas não ob-<<strong>br</strong> />

teve resposta. O Ministro<<strong>br</strong> />

do Planejamento não deu<<strong>br</strong> />

satisfação. E como a safra<<strong>br</strong> />

se aproximava, com boas<<strong>br</strong> />

perspectivas o que anima-<<strong>br</strong> />

va os produtores quejá vi-<<strong>br</strong> />

nham de duas safras ante-<<strong>br</strong> />

riores frustradas de soja e<<strong>br</strong> />

uma de trigo e esperavam<<strong>br</strong> />

recuperar-se em parte dos<<strong>br</strong> />

prejuízos nesta safra. Era<<strong>br</strong> />

também por isso que o<<strong>br</strong> />

confisco irritava tanto.<<strong>br</strong> />

Segundo o Presidente,<<strong>br</strong> />

dois Grupos Regionais de<<strong>br</strong> />

Sindicatos, particular-<<strong>br</strong> />

mente, partiram na dian-<<strong>br</strong> />

teira. Passo Fundo e Ijuí,<<strong>br</strong> />

ganhando de imediato, e a<<strong>br</strong> />

nível estadual, um impor-<<strong>br</strong> />

tante aliado: o movimento<<strong>br</strong> />

cooperativista, através da<<strong>br</strong> />

poderosa FECOTRIGO.<<strong>br</strong> />

que domina a produção e<<strong>br</strong> />

comercialização da soja<<strong>br</strong> />

do Sul do País. E através<<strong>br</strong> />

das cooperativas, foi mais<<strong>br</strong> />

fácil o movimento dos<<strong>br</strong> />

produtores chegar a Santa<<strong>br</strong> />

Catarina, Paraná e Mato<<strong>br</strong> />

Grosso do Sul.<<strong>br</strong> />

A aliança entre sindica-<<strong>br</strong> />

tos e cooperativas (onde<<strong>br</strong> />

80% dos associados são fi-<<strong>br</strong> />

liados a nossos Sindica-<<strong>br</strong> />

rede de cooperativas e um conjunto<<strong>br</strong> />

de sindicatos de trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />

bastante ativos. Só alguns sindicatos<<strong>br</strong> />

patronais participaram, mas cairam<<strong>br</strong> />

fora da <strong>br</strong>iga antes do fim, com<<strong>br</strong> />

medo das reações do Governo.<<strong>br</strong> />

E a coordepação de toda a movi-<<strong>br</strong> />

mentação foi do Movimento Sindical<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores Rurais, através<<strong>br</strong> />

da nossa Federação co-irmã do Rio<<strong>br</strong> />

Grande do Sul (EEIAG-RSj. onde<<strong>br</strong> />

estava assumindo o novo Presidente,<<strong>br</strong> />

Orgenio Rothide Ijuí - foco princi-<<strong>br</strong> />

pal do movimento}, substituindo a<<strong>br</strong> />

Ge lindo Zulmiro Ferri, que assumi-<<strong>br</strong> />

ria dias depois a Secretaria Geral da<<strong>br</strong> />

CONTAG.<<strong>br</strong> />

Dada a grande repercussão do<<strong>br</strong> />

movimento. Realidade Rural publica<<strong>br</strong> />

nesta edição entrevista com o Presi-<<strong>br</strong> />

dente da EETAG.<<strong>br</strong> />

Orgênio defende maior inte-<<strong>br</strong> />

gração nacional do nosso sin-<<strong>br</strong> />

dicalismo.<<strong>br</strong> />

tos), e toda a movimenta-<<strong>br</strong> />

ção, logo sensibilizou urna<<strong>br</strong> />

área importante: os políti-<<strong>br</strong> />

cos, inclusive os governis-<<strong>br</strong> />

tas colocaram-se a favor<<strong>br</strong> />

do movimento e o pró-<<strong>br</strong> />

prio Secretário da Agri-<<strong>br</strong> />

cultura do Estado se<<strong>br</strong> />

também posicionou logo<<strong>br</strong> />

favorável às reivindica-<<strong>br</strong> />

ções dos agricultores.<<strong>br</strong> />

Aliás, so<strong>br</strong>e a participa-<<strong>br</strong> />

ção dos políticos, Orgenio<<strong>br</strong> />

Roth conta um fato muito<<strong>br</strong> />

interessante: "No dia 21<<strong>br</strong> />

de março, em Ijuí, foi rea-<<strong>br</strong> />

lizada uma grande con-<<strong>br</strong> />

centração, de aproxima-<<strong>br</strong> />

damente 8.000 agriculto-<<strong>br</strong> />

res, com a presença de 84<<strong>br</strong> />

Sindicatos e 32 cooperati-<<strong>br</strong> />

vas. Também participa-<<strong>br</strong> />

ram políticos de todos os<<strong>br</strong> />

partidos atuais, mas estes<<strong>br</strong> />

não puderam falar porque<<strong>br</strong> />

os agricultores não lhes<<strong>br</strong> />

deram oportunidade, ale-<<strong>br</strong> />

gando que eles poderiam<<strong>br</strong> />

ouvir os reclamos mas<<strong>br</strong> />

que não lhes era permiti-<<strong>br</strong> />

do o uso da palavra".<<strong>br</strong> />

Assim os políticos tive-<<strong>br</strong> />

ram de ouvir tudo. de<<strong>br</strong> />

boca fechada. É bem ver-<<strong>br</strong> />

dade que depois, segundo<<strong>br</strong> />

Orgenio. alguns apoia-<<strong>br</strong> />

ram, mas sem a<strong>br</strong>ir o jogo.<<strong>br</strong> />

Mas, em compensação, os<<strong>br</strong> />

outros políticos se im-<<strong>br</strong> />

pressionaram tanto com a<<strong>br</strong> />

firmeza do comportamen-<<strong>br</strong> />

to dos agricultores que<<strong>br</strong> />

logo a própria Assembléia<<strong>br</strong> />

Legislativa criou uma Co-<<strong>br</strong> />

missão Especial da Soja.<<strong>br</strong> />

convidando representan-<<strong>br</strong> />

tes das Assembléias de<<strong>br</strong> />

Santa Catarina. Paraná e<<strong>br</strong> />

São Paulo. "Então - con-<<strong>br</strong> />

ta Orgenio - a partir daí<<strong>br</strong> />

a gente verificou que tam-<<strong>br</strong> />

bém foi um grande apoio,<<strong>br</strong> />

o da área politicagem fa-<<strong>br</strong> />

vor dos agricultores".<<strong>br</strong> />

SIND1CATO-<<strong>br</strong> />

COOPERATIVA. UMA<<strong>br</strong> />

ALIANÇA QUE DA<<strong>br</strong> />

CERTO NO SUL<<strong>br</strong> />

E bem verdade que o<<strong>br</strong> />

cooperalivismo não tem<<strong>br</strong> />

lá tanta democracia inter-<<strong>br</strong> />

na como pode parecer.<<strong>br</strong> />

São poucas as cooperati-<<strong>br</strong> />

vas que se empenham de<<strong>br</strong> />

fato em incentivar e pro-<<strong>br</strong> />

piciar a mais ampla possí-<<strong>br</strong> />

vel participação dos seus<<strong>br</strong> />

associados nas suas deci-<<strong>br</strong> />

sões. Mas nos últimos<<strong>br</strong> />

tempos tem surgido um<<strong>br</strong> />

fato novo. que vem for-<<strong>br</strong> />

çando as cooperativas a<<strong>br</strong> />

entrarem nos eixos: a<<strong>br</strong> />

atuação dos Sindicatos.<<strong>br</strong> />

Como diz Orgenio. cer-<<strong>br</strong> />

ca de 80 u „ dos associados;<<strong>br</strong> />

das cooperativas são vin-<<strong>br</strong> />

culados aos Sindicatos<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores 'Rurais<<strong>br</strong> />

e por isso o sindicalismo e<<strong>br</strong> />

os trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />

tem forçado as cooperati-<<strong>br</strong> />

vas a seguir uma linha<<strong>br</strong> />

política favorável a eles. E<<strong>br</strong> />

a própria existência desse<<strong>br</strong> />

cooperalivismo dominado<<strong>br</strong> />

por pequenos, segundo<<strong>br</strong> />

Orgenio, foi que propi-<<strong>br</strong> />

ciou essa movimentação<<strong>br</strong> />

dos agricultores. Não fos-<<strong>br</strong> />

sem as cooperativas, a so-<<strong>br</strong> />

ja, que estava na época<<strong>br</strong> />

sendo vendida acima de<<strong>br</strong> />

Cr$ 500,00, estaria sendo<<strong>br</strong> />

vendida a aproximada-<<strong>br</strong> />

mente Cr$ 300,00, tal o<<strong>br</strong> />

poder de controle do mer-<<strong>br</strong> />

cado pelas multinacio-<<strong>br</strong> />

nais.<<strong>br</strong> />

Nos cursos de educação<<strong>br</strong> />

sindical . o cooperativis-<<strong>br</strong> />

mo é um dos pontos de<<strong>br</strong> />

Sindicalismo e cooperalivismo: um casamento possível?<<strong>br</strong> />

honra: "Sempre mostra-<<strong>br</strong> />

mos o Sindicato como ór-<<strong>br</strong> />

gão de representação, e a<<strong>br</strong> />

cooperativa, como a defe-<<strong>br</strong> />

sa econômica do nosso<<strong>br</strong> />

trabalhador" — diz Orge-<<strong>br</strong> />

nio.<<strong>br</strong> />

FALTA <strong>DE</strong> TERRA.<<strong>br</strong> />

QUE UMA REFORMA<<strong>br</strong> />

AGRÁRIA RESOLVE-<<strong>br</strong> />

RIA.<<strong>br</strong> />

No seu comodismo de<<strong>br</strong> />

sempre, o INCRA diz que<<strong>br</strong> />

a fronteira agrícola gaú-<<strong>br</strong> />

cha se esgotou, e com isso<<strong>br</strong> />

quer argumentar qúc não<<strong>br</strong> />

há porque falarem Refor-<<strong>br</strong> />

ma Agrária, em redistri-<<strong>br</strong> />

buição de terras nesse Es-<<strong>br</strong> />

tado. Há certas áreas no<<strong>br</strong> />

Estado, particularmente<<strong>br</strong> />

nas regiões de pecuária,<<strong>br</strong> />

onde a produção é primi-<<strong>br</strong> />

tiva ainda, utilizando-se<<strong>br</strong> />

imensas áreas de terra que<<strong>br</strong> />

poderiam ser melhor usa-<<strong>br</strong> />

das com a agricultura dos<<strong>br</strong> />

pequenos produtores sem<<strong>br</strong> />

terra, que são milhares<<strong>br</strong> />

também no Rio Grande<<strong>br</strong> />

do Sul, embora eles te-<<strong>br</strong> />

nham muito bons conhe-<<strong>br</strong> />

cimentos de técnica e pro-<<strong>br</strong> />

dutividade.<<strong>br</strong> />

Há também o crime de<<strong>br</strong> />

se fazer florestamento em<<strong>br</strong> />

áreas ótimas de agricultu-<<strong>br</strong> />

ra, ou, como acontece na<<strong>br</strong> />

região metropolitana de<<strong>br</strong> />

Porto Alegre e às margens<<strong>br</strong> />

de outras grandes cidades<<strong>br</strong> />

(a exemplo de São Paulo),<<strong>br</strong> />

ocorre que terras muito<<strong>br</strong> />

boas que serviriam para<<strong>br</strong> />

hortigranjeiros, são des-<<strong>br</strong> />

perdiçadas por causa da<<strong>br</strong> />

especulação imobiliária.<<strong>br</strong> />

Ocorre um fato que mere-<<strong>br</strong> />

ce reflexão: 70",, do arroz<<strong>br</strong> />

gaúcho é produzido por<<strong>br</strong> />

pequenos agricultores'em<<strong>br</strong> />

terras arrendadas de gran-<<strong>br</strong> />

des proprietários, a 30",,<<strong>br</strong> />

da produção.<<strong>br</strong> />

Se não houver logo uma<<strong>br</strong> />

redistribuição de terras no<<strong>br</strong> />

Estado, conta Orgenio, o<<strong>br</strong> />

êxodo rural que já é gran-<<strong>br</strong> />

de, vai aumentar ainda<<strong>br</strong> />

mais, podendo até mesmo<<strong>br</strong> />

desaparecer a pequena<<strong>br</strong> />

propriedade e encarecer<<strong>br</strong> />

perigosamente o custo da<<strong>br</strong> />

comida.<<strong>br</strong> />

OS SINDICATOS BRI-<<strong>br</strong> />

GAM POR UMA POLÍ-<<strong>br</strong> />

TICA AGRÍCOLA<<strong>br</strong> />

MAIS CLARA E SEGU-<<strong>br</strong> />

RA<<strong>br</strong> />

Apesar da tendência de<<strong>br</strong> />

aumentar o número de as-<<strong>br</strong> />

salariados no campo, e<<strong>br</strong> />

mesmo de se acentuar o<<strong>br</strong> />

surgimento de trabalha-<<strong>br</strong> />

dores volantes nas áreas<<strong>br</strong> />

de trigo e soja, as maiores<<strong>br</strong> />

preocupações do sindica-<<strong>br</strong> />

lismo de trabalhadores ru-<<strong>br</strong> />

rais no Rio Grande do Sul<<strong>br</strong> />

é com a política de produ-<<strong>br</strong> />

ção e preços. Tanto que,<<strong>br</strong> />

segundo Orgenio. "os Sin-<<strong>br</strong> />

dicatos não vão parar sua<<strong>br</strong> />

movimentação e vão bus-<<strong>br</strong> />

car mais soluções no sen-<<strong>br</strong> />

tido de reivindicar princi-<<strong>br</strong> />

palmente a adoção de<<strong>br</strong> />

uma política agrícola cla-<<strong>br</strong> />

ra e segura".<<strong>br</strong> />

Orgenio, por fim, fala<<strong>br</strong> />

também do Movimento<<strong>br</strong> />

Sindical a nível nacional.<<strong>br</strong> />

Ele diz que não há ainda<<strong>br</strong> />

um entendimento muito<<strong>br</strong> />

grande entre as diversas<<strong>br</strong> />

regiões, mas a tendência,<<strong>br</strong> />

em compensação, é cada<<strong>br</strong> />

vez mais o Movimento<<strong>br</strong> />

Sindical se integrar, uma<<strong>br</strong> />

vez que, no fundo, os<<strong>br</strong> />

problemas são os mesmos<<strong>br</strong> />

e a reivindicação pela ter-<<strong>br</strong> />

ra une de Norte a Sul.<<strong>br</strong> />

O grande desafio do<<strong>br</strong> />

Movimento Sindical, se-<<strong>br</strong> />

gundo ele, é encontrar<<strong>br</strong> />

uma fórmula para desen-<<strong>br</strong> />

volver uma ampla educa-<<strong>br</strong> />

ção sindical nas bases, o<<strong>br</strong> />

que dará ao trabalhador<<strong>br</strong> />

maiores condições de par-<<strong>br</strong> />

ticipar das decisões que<<strong>br</strong> />

lhe dizem respeito.<<strong>br</strong> />

Ele acha também que<<strong>br</strong> />

movimentos, do tipo da<<strong>br</strong> />

"greve da soja"', são mui-<<strong>br</strong> />

tas vezes mais importan-<<strong>br</strong> />

tes do que congressos,<<strong>br</strong> />

uma vez que muitas reso-<<strong>br</strong> />

luções de congressos aca-<<strong>br</strong> />

bam ficando no papel, en-<<strong>br</strong> />

quanto que as movimen-<<strong>br</strong> />

tações despertam os tra-<<strong>br</strong> />

balhadores rurais, os edu-<<strong>br</strong> />

cam muito mais.<<strong>br</strong> />

Realidade Rural — Junho de 1980


O professor sugeriu visitas a cooperativas<<strong>br</strong> />

Em Penápolis,<<strong>br</strong> />

uma bela aula<<strong>br</strong> />

so<strong>br</strong>e cooperativas<<strong>br</strong> />

O professor Guttierez, do<<strong>br</strong> />

Incra, é muito conhecido no<<strong>br</strong> />

interior, onde até ajudou a<<strong>br</strong> />

fundar alguns sindicatos,<<strong>br</strong> />

como ele diz. E no final de<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>il ele fez uma palestra na<<strong>br</strong> />

sede do Sindicato dos Traba-<<strong>br</strong> />

lhadores Rurais de Penápo-<<strong>br</strong> />

lis, so<strong>br</strong>e cooperativismo,<<strong>br</strong> />

para delegados dos Núcleos<<strong>br</strong> />

Sindicais de base e outros<<strong>br</strong> />

trabalhadores interessados.<<strong>br</strong> />

Ele começou sua palestra<<strong>br</strong> />

lem<strong>br</strong>ando um ditado do<<strong>br</strong> />

homem da lavoura: "Começo<<strong>br</strong> />

da cantiga é um assobio..."<<strong>br</strong> />

Então explicou sua idéia.<<strong>br</strong> />

Lem<strong>br</strong>ou que anos trás os<<strong>br</strong> />

trabalhadores eram acanha-<<strong>br</strong> />

dos, não trocavam idéias en-<<strong>br</strong> />

tre si. Tinham medo. Quando<<strong>br</strong> />

começavani a se <strong>org</strong>anizar,<<strong>br</strong> />

tinha sempre alguém cha-<<strong>br</strong> />

mando de comunista, de sub-<<strong>br</strong> />

versivo. Só os grandes é que<<strong>br</strong> />

podiam se <strong>org</strong>anizar.<<strong>br</strong> />

Mas, apesar disso, os tra-<<strong>br</strong> />

balhadores fundaram o Sin-<<strong>br</strong> />

dicato. Ai deram o primeiro<<strong>br</strong> />

passo de união e através do<<strong>br</strong> />

Sindicato, começaram a lu-<<strong>br</strong> />

tar por seus direitos.<<strong>br</strong> />

Só que o Sindicato não re-<<strong>br</strong> />

solve todos os problemas;<<strong>br</strong> />

porexemplo, o Sindicato não<<strong>br</strong> />

pode comercializar a produ-<<strong>br</strong> />

ção do lavrador, nem ter loja<<strong>br</strong> />

para vender para o lavrador<<strong>br</strong> />

a preços mais baixos o que<<strong>br</strong> />

ele precisa. É por isso que os<<strong>br</strong> />

trabalhadores de l\-nápolis<<strong>br</strong> />

precisam dar agora um se-<<strong>br</strong> />

gundo passo: vão ter que se<<strong>br</strong> />

dar as mãos também na parte<<strong>br</strong> />

econômica.<<strong>br</strong> />

Como primeiro passo, eles<<strong>br</strong> />

fundaram o Sindicato. Como<<strong>br</strong> />

segundo passo na defesa dos<<strong>br</strong> />

seus diritos e do seu trabalho<<strong>br</strong> />

eles precisam pensar no coo-<<strong>br</strong> />

perativismo. Como diz o pro-<<strong>br</strong> />

fessor, "é mais fácil vender<<strong>br</strong> />

um lote de mil sacas de café<<strong>br</strong> />

do que só cinco sacas". E<<strong>br</strong> />

com apenas 20 ou 30 produ-<<strong>br</strong> />

tores, pode surgir uma coo-<<strong>br</strong> />

perativa e comprar uma má-<<strong>br</strong> />

quina de beneficiar café e ga-<<strong>br</strong> />

nhar com melhores preços.<<strong>br</strong> />

O "ASSOBICT. COME-<<strong>br</strong> />

ÇA VISITANDO COO-<<strong>br</strong> />

PERATIVAS.<<strong>br</strong> />

É bem verdade que o pro-<<strong>br</strong> />

fessor vai avisando que não<<strong>br</strong> />

está sugerindo que os produ-<<strong>br</strong> />

tores fundem uma cooperati-<<strong>br</strong> />

va. Isso Já seria Ia/era canti-<<strong>br</strong> />

ga. Afinai, não é tão fácil as-<<strong>br</strong> />

sim tambéin fundar uma coo-<<strong>br</strong> />

perativa. É preciso um sujei-<<strong>br</strong> />

lo honesto, competente, que<<strong>br</strong> />

todo o mundo aceite, que te-<<strong>br</strong> />

nha capacidade de adminis-<<strong>br</strong> />

trar. E preciso refletir muito<<strong>br</strong> />

antes. Mas os trabalhadores<<strong>br</strong> />

rurais podem começar a as-<<strong>br</strong> />

sobiar enquanto isso, através<<strong>br</strong> />

O Presidente do Sindicato<<strong>br</strong> />

é contra grandes conosco<<strong>br</strong> />

O companheiro Antônio da<<strong>br</strong> />

Silva, presidente do Sindicato<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores Rurais de<<strong>br</strong> />

Penápolis, ouviu atentamente o<<strong>br</strong> />

professor Gutierrez e também<<strong>br</strong> />

resolveu expor seu ponto de<<strong>br</strong> />

vista.<<strong>br</strong> />

Para começar, ele não con-<<strong>br</strong> />

corda com cooperativas com<<strong>br</strong> />

pequenos e grandes junto, por-<<strong>br</strong> />

que, em sua opinião, os gran-<<strong>br</strong> />

des sempre acabam se benefi-<<strong>br</strong> />

ciando em prejuízo dos direitos<<strong>br</strong> />

dos pequenos.<<strong>br</strong> />

Mas o caminho, para ele,<<strong>br</strong> />

não é outro: é o cooperativismo<<strong>br</strong> />

mesmo. Existem ai grandes<<strong>br</strong> />

grupos econômicos que estão<<strong>br</strong> />

querendo explorar os trabalha-<<strong>br</strong> />

dores rurais, produtores e<<strong>br</strong> />

assalariados. Os trabalhado-<<strong>br</strong> />

res rurais têm condições de<<strong>br</strong> />

enfrentar esses grupos, só que<<strong>br</strong> />

não pode ser do jeito que os<<strong>br</strong> />

trabalhadores estão hoje: "Se-<<strong>br</strong> />

parados como estamos - alerta<<strong>br</strong> />

ele - não passamos de meros<<strong>br</strong> />

números, sem resistência algu-<<strong>br</strong> />

ma".<<strong>br</strong> />

"O CORPO HUMANO<<strong>br</strong> />

NOS ENSINA A NOS<<strong>br</strong> />

<strong>DE</strong>FEN<strong>DE</strong>R"<<strong>br</strong> />

Antônio disse a seus compa-<<strong>br</strong> />

nheiros que em cooperativis-<<strong>br</strong> />

mo. como no sindicalismo, a<<strong>br</strong> />

gente não pode falar eni eu<<strong>br</strong> />

mas sim eni nós. Por isso ele<<strong>br</strong> />

foi alertando o pessoal: "Não<<strong>br</strong> />

quero ser nenhum fundador de<<strong>br</strong> />

cooperativa. Mas tem que ser<<strong>br</strong> />

nossa íe não minha I. E tem<<strong>br</strong> />

que ter um grupo maior de tra-<<strong>br</strong> />

balhadores rurais füiados tam-<<strong>br</strong> />

bém".<<strong>br</strong> />

Os pequenos produtores<<strong>br</strong> />

hoje estão numa difícil situa-<<strong>br</strong> />

ção. Segundo Antônio, "não<<strong>br</strong> />

podemos mahaceitaressa situa-<<strong>br</strong> />

ção, porque os que ficarem na<<strong>br</strong> />

roça. vão ter que sair ama-<<strong>br</strong> />

nhã".<<strong>br</strong> />

A í então, ele usou um exem-<<strong>br</strong> />

plo, muito simples, para expli-<<strong>br</strong> />

car sua idéia: "É como quando<<strong>br</strong> />

a gente tem um ferimento: as<<strong>br</strong> />

outras células do corpo se jun-<<strong>br</strong> />

do Sindicato, formando gru<<strong>br</strong> />

pos para visitar as cooperati<<strong>br</strong> />

vas da região, verificando<<strong>br</strong> />

sua <strong>org</strong>anização, verificando<<strong>br</strong> />

o quanto ganhariam com o<<strong>br</strong> />

cooperativismo. Fazendo<<strong>br</strong> />

perguntas para os dirigentes<<strong>br</strong> />

das cooperativas.<<strong>br</strong> />

O professor Guttierez vai<<strong>br</strong> />

provocando água na boca<<strong>br</strong> />

dos trabalhadores presentes<<strong>br</strong> />

com suas sugestões, desper-<<strong>br</strong> />

tando o interesse. Segundo<<strong>br</strong> />

ele, "a cooperativa é como<<strong>br</strong> />

uma balança: ela existindo o<<strong>br</strong> />

comércio em geral acompa<<strong>br</strong> />

nha seus preços. Se ela não<<strong>br</strong> />

existir, o pessoal do comér-<<strong>br</strong> />

cio nada de <strong>br</strong>açada...". E<<strong>br</strong> />

para completar, explica que<<strong>br</strong> />

tudo o que os trabalhadores<<strong>br</strong> />

pensarem fazer em matéria de<<strong>br</strong> />

cooperativismo. pode ser<<strong>br</strong> />

feito, inclusive vender na<<strong>br</strong> />

cooperativa tudo o que se<<strong>br</strong> />

vende num armazém ou su-<<strong>br</strong> />

permercado. E com vanta<<strong>br</strong> />

gens para os associados.<<strong>br</strong> />

O BREJO SE ENCHE<<strong>br</strong> />

<strong>DE</strong> SAPOS, QUANDO<<strong>br</strong> />

TEM COBRA PERTO...<<strong>br</strong> />

O Sindicato surgiu porque<<strong>br</strong> />

os trabalhadores se uniram,<<strong>br</strong> />

não agüentando mais tanto<<strong>br</strong> />

aperto e dificuldades. Para<<strong>br</strong> />

não serem esmagados, os tra-<<strong>br</strong> />

balhadores se uniram para se<<strong>br</strong> />

defender.<<strong>br</strong> />

O professor lem<strong>br</strong>a que<<strong>br</strong> />

era bom a gente usara cabe-<<strong>br</strong> />

ça para se defender antes do<<strong>br</strong> />

que ficar esperando o aperto<<strong>br</strong> />

e o atropelo. E o homem da<<strong>br</strong> />

lavoura ás vezes é meio duro<<strong>br</strong> />

de cabeça, por isso apanha,<<strong>br</strong> />

como diz o professor: "Acho<<strong>br</strong> />

que o roceiro tem que apa-<<strong>br</strong> />

nhar no relho para aprender,<<strong>br</strong> />

porque não quer se unir. Por<<strong>br</strong> />

que os professores unidos<<strong>br</strong> />

conseguem aumento? Por<<strong>br</strong> />

que os operários de São Pau-<<strong>br</strong> />

lo se uniram e lêm aumento?<<strong>br</strong> />

E por que tem a forca da<<strong>br</strong> />

união".<<strong>br</strong> />

O professor tem esperanç;<<strong>br</strong> />

de que os lavradores acaben.<<strong>br</strong> />

entendendo um dia até onde<<strong>br</strong> />

eles podem chegar. De qua.<<strong>br</strong> />

quer maneira, secundo ele. o<<strong>br</strong> />

tempo vai se encarregar de<<strong>br</strong> />

dar uma mão. Para dar um;<<strong>br</strong> />

idéia, ele fala que vai aconte<<strong>br</strong> />

cer como acontece na beir;<<strong>br</strong> />

do <strong>br</strong>ejo: se a gente joga um;.<<strong>br</strong> />

pedra no meio do capim o<<strong>br</strong> />

<strong>br</strong>ejo logo se enche de sapos<<strong>br</strong> />

que pulam para dentro. É<<strong>br</strong> />

por que eles têm medo de<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>a... Sapo descuidado e<<strong>br</strong> />

teimoso acaba na barriga da<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>a.<<strong>br</strong> />

tam para defender a ferida e<<strong>br</strong> />

assim elas defendem o corpo. E<<strong>br</strong> />

assim também nós: separados<<strong>br</strong> />

nós vamos perecer, com nossas<<strong>br</strong> />

propriedades sendo anexadas<<strong>br</strong> />

ao latifundiário. Ele nos sol-<<strong>br</strong> />

tam uma boiada e vamos ter<<strong>br</strong> />

que sair correndo''.<<strong>br</strong> />

Em S. Carlos,<<strong>br</strong> />

Santa Casa só atende<<strong>br</strong> />

às portas do céu<<strong>br</strong> />

. A Santa Casa de São Carlos só está atendendo trabalha-<<strong>br</strong> />

dores rurais às portas do céu... A denúncia é do Presidente<<strong>br</strong> />

do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, José Garcia Dias,<<strong>br</strong> />

que vem encontrando enormes dificuldades para encami-<<strong>br</strong> />

nhar ao hospital os trabalhadores rurais que têm direito a<<strong>br</strong> />

um atendimento digno.<<strong>br</strong> />

No Bairro das Corujas, em<<strong>br</strong> />

Juquiá, no Vale do Ribeira,<<strong>br</strong> />

há famílias que residem lá,<<strong>br</strong> />

tendo recebido a terra de<<strong>br</strong> />

seus bisavós que tinham pas-<<strong>br</strong> />

sado a viver por lá há mais de<<strong>br</strong> />

100 anos, começando na<<strong>br</strong> />

lavoura da banana. E como<<strong>br</strong> />

acontece em todo o Vale do<<strong>br</strong> />

Ribeira, eles não se preocu-<<strong>br</strong> />

param muito em providen-<<strong>br</strong> />

ciar títulos para suas terras,<<strong>br</strong> />

porque era uma complicação<<strong>br</strong> />

muito grande. Naquele tem-<<strong>br</strong> />

'po, além disso, havia muita<<strong>br</strong> />

terra e não era costume rou-<<strong>br</strong> />

bar a terra dos outros.<<strong>br</strong> />

Mas em março último a<<strong>br</strong> />

situação de calma e de paz<<strong>br</strong> />

que havia no Bairro, onde<<strong>br</strong> />

vivem 100 famílias aproxima-<<strong>br</strong> />

damente, começou a mudar.<<strong>br</strong> />

Cada família, em média, tem<<strong>br</strong> />

10 alqueires. Por aí se pode<<strong>br</strong> />

ver que a área é bem grande.<<strong>br</strong> />

E qual não foi a surpresa em<<strong>br</strong> />

VALE DO RIBEIRA<<strong>br</strong> />

Grileiro inferniza<<strong>br</strong> />

vida em Juquiá.<<strong>br</strong> />

março quando, por Tapirai,<<strong>br</strong> />

no sítio do nissei Tadao, um<<strong>br</strong> />

grupo de grileiros e jagunços<<strong>br</strong> />

começou a cercar áreas!<<strong>br</strong> />

Três posseiros cuidaram logo<<strong>br</strong> />

de cortar as cercas e foram<<strong>br</strong> />

presos pelo delegado, porque<<strong>br</strong> />

pensava que eles iam prati-<<strong>br</strong> />

car agressão. Quando des-<<strong>br</strong> />

co<strong>br</strong>iu que eram pacíficos,<<strong>br</strong> />

soltou-os.<<strong>br</strong> />

Segundo o Presidente do<<strong>br</strong> />

Sindicato dos Trabalhadores<<strong>br</strong> />

Rurais de Juquiá, Edgar<<strong>br</strong> />

Alves da Costa, não se sabe<<strong>br</strong> />

ao certo o nome do grileiro.<<strong>br</strong> />

Dizem que é um tal Manoel<<strong>br</strong> />

Cruz. Mas não foi ainda<<strong>br</strong> />

comprovado. Segundo se<<strong>br</strong> />

conta, ele pretende grilar 800<<strong>br</strong> />

alqueires e vender a uma<<strong>br</strong> />

pessoa de São Paulo.<<strong>br</strong> />

De qualquer forma, os<<strong>br</strong> />

posseiros logo se movimenta-<<strong>br</strong> />

ram, ainda mais que com eles<<strong>br</strong> />

reside o Secretário do Sindi-<<strong>br</strong> />

Lídia é líder de bairro;<<strong>br</strong> />

veja como ela pensa.<<strong>br</strong> />

Dentro da recomendação<<strong>br</strong> />

do III Congresso Nacional<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores Rurais,<<strong>br</strong> />

realizado em Brasília no ano<<strong>br</strong> />

passado, de que é necessário<<strong>br</strong> />

fazer com que toda a família<<strong>br</strong> />

do trabalhador rural e não<<strong>br</strong> />

apenas ele participe da vida<<strong>br</strong> />

do Sindicato, Realidade<<strong>br</strong> />

Rural publica mais uma<<strong>br</strong> />

entrevista, com uma mulher.<<strong>br</strong> />

I ídia do Espírito Santo, é<<strong>br</strong> />

solteira e reside no Bairro<<strong>br</strong> />

Guabiru, Ribeira Abaixo, em<<strong>br</strong> />

Registro. Ela foi escolhida<<strong>br</strong> />

como líder dh bairro, delega-<<strong>br</strong> />

da sindical desse Núcleo. Na<<strong>br</strong> />

edição anterior publicamos<<strong>br</strong> />

uma entrevista com Maria<<strong>br</strong> />

José de Sou/a Vidal, que<<strong>br</strong> />

também é líder de bairro do<<strong>br</strong> />

Sindicato de Registro. E nas<<strong>br</strong> />

próximas edições continua-<<strong>br</strong> />

remos a publicar entrevistas<<strong>br</strong> />

com mulheres que partici-<<strong>br</strong> />

pam da vida de outros Sindi-<<strong>br</strong> />

catos. Seria muito bom que<<strong>br</strong> />

as leitoras do Realidade Ru-<<strong>br</strong> />

ral, que acompanham estai<<strong>br</strong> />

entrevistas, nos escrevessem,<<strong>br</strong> />

fazendo comentários, suges-<<strong>br</strong> />

tões e mesmo críticas.<<strong>br</strong> />

A reunião de que falamos<<strong>br</strong> />

nessa entrevista foi feita em<<strong>br</strong> />

a<strong>br</strong>il, com os primeiros 10 lí-<<strong>br</strong> />

deres de bairro do Sindicato<<strong>br</strong> />

de Registro (a próxima reu-<<strong>br</strong> />

nião deles será dia 14 de<<strong>br</strong> />

junho).<<strong>br</strong> />

Fizemos questão de publi-<<strong>br</strong> />

car a entrevista toda, porque<<strong>br</strong> />

através de respostas curtas,<<strong>br</strong> />

Lídia foi mostrando seu<<strong>br</strong> />

mundo, o que pensa, mos-<<strong>br</strong> />

trando que os Sindicatos, tão<<strong>br</strong> />

logo formem seus Núcleos<<strong>br</strong> />

Sindicais e sejam escolhidos<<strong>br</strong> />

pelos trabalhadores os seus<<strong>br</strong> />

delegados (ou líderes de bair-<<strong>br</strong> />

ro), precisam pensar num<<strong>br</strong> />

bom curso de educação sin-<<strong>br</strong> />

dical, para desinibir os dele-<<strong>br</strong> />

gados e despertar neles capa-<<strong>br</strong> />

cidade de <strong>org</strong>anização, ini-<<strong>br</strong> />

ciativa e liderança.<<strong>br</strong> />

"ISSO <strong>DE</strong>VIA ESTAR<<strong>br</strong> />

ACONTECENDO HÁ<<strong>br</strong> />

MAIS TEMPO"<<strong>br</strong> />

P. Parece que a mulher não<<strong>br</strong> />

tem participado muito da vida<<strong>br</strong> />

do Sindicato. Ela vai buscar<<strong>br</strong> />

assistência médica e dentária,<<strong>br</strong> />

ela vai até mais ao Sindicato<<strong>br</strong> />

do que o marido, vai buscar<<strong>br</strong> />

assistência para ela e para os<<strong>br</strong> />

filhos. É ela enfim quem mais<<strong>br</strong> />

visita o Sindicato. No entanto,<<strong>br</strong> />

há muito mais para a mulher<<strong>br</strong> />

fazer no Sindicato. Ê o que<<strong>br</strong> />

você por exemplo, começa a<<strong>br</strong> />

desco<strong>br</strong>ir, ao ser escolhida<<strong>br</strong> />

como líder do seu bairro, como<<strong>br</strong> />

delegada do seu Núcleo Sindi-<<strong>br</strong> />

cal.<<strong>br</strong> />

O que nos interessa nessa<<strong>br</strong> />

conversa é saber da sua opi-<<strong>br</strong> />

nião so<strong>br</strong>e o papel da mulher<<strong>br</strong> />

na vida do Sindicato. Você<<strong>br</strong> />

acha que a mulher está mesmo<<strong>br</strong> />

participando da vida do Sindi-<<strong>br</strong> />

cato?<<strong>br</strong> />

Lídia: Por enquanto eu não<<strong>br</strong> />

estou vendo muita participa-<<strong>br</strong> />

ção, não. Estou vendo mais<<strong>br</strong> />

homem que mulher no Sindica-<<strong>br</strong> />

to.<<strong>br</strong> />

P. E como é que você acha que<<strong>br</strong> />

a mulher deveria participar na<<strong>br</strong> />

vida do Sindicato?<<strong>br</strong> />

Lídia: Não sei bem, ao certo.<<strong>br</strong> />

E a primeira vez que eu partici-<<strong>br</strong> />

po de uma reunião como esta.<<strong>br</strong> />

Mas antes eu nem pagava o<<strong>br</strong> />

Sindicato. Comecei a pagar no<<strong>br</strong> />

mês passado. Antes de eu<<strong>br</strong> />

pagar, vinha sempre ao Sindi-<<strong>br</strong> />

cato com a carteirinha do meu<<strong>br</strong> />

pai.<<strong>br</strong> />

P. Você estaria disposta a aju-<<strong>br</strong> />

dar as esposas dos trabalhado-<<strong>br</strong> />

res rurais lá onde você reside,<<strong>br</strong> />

divulgando o Sindicato, trans-<<strong>br</strong> />

mitindo aquilo que você está<<strong>br</strong> />

vendo no Sindicato, como, por<<strong>br</strong> />

exemplo, a reunião de hoje?<<strong>br</strong> />

Acha que é válido aquilo que<<strong>br</strong> />

você ouviu hoje aqui?<<strong>br</strong> />

Lídia: Acho muito válido e<<strong>br</strong> />

acho que isso devia estar acon-<<strong>br</strong> />

tecendo há muito mais tempo.<<strong>br</strong> />

Devia ter há mais tempo uma<<strong>br</strong> />

pessoa tá no meu bairro repre-<<strong>br</strong> />

sentando o Sindicato. Tem<<strong>br</strong> />

muita gente que precisa de<<strong>br</strong> />

esclarecimento, de orientação.<<strong>br</strong> />

P. Daquilo que você ouviu aqui<<strong>br</strong> />

hoje, alguma coisa serve para<<strong>br</strong> />

lhe ajudar a conversar com a<<strong>br</strong> />

esposa de outro trabalhador?<<strong>br</strong> />

Lídia: Serve muito.<<strong>br</strong> />

P. Acho muito difícil entender<<strong>br</strong> />

o que foi dito, ou não?<<strong>br</strong> />

Lídia: Eoi fácil de entender.<<strong>br</strong> />

P. Você teria condições de<<strong>br</strong> />

transmitir alguma coisa do que<<strong>br</strong> />

ouviu para as esposas dos tra-<<strong>br</strong> />

balhadores e para os próprios<<strong>br</strong> />

trabalhadores?<<strong>br</strong> />

Lídia: Eu acho que daria, sim.<<strong>br</strong> />

COMO ASSOCIADA,<<strong>br</strong> />

UMA SENSAÇÃO <strong>DE</strong><<strong>br</strong> />

VALOR<<strong>br</strong> />

P. Como é que você acha que<<strong>br</strong> />

os homens lá no seu bairro vão<<strong>br</strong> />

receber a sua indicação como<<strong>br</strong> />

líder de bairro, delegada sindi-<<strong>br</strong> />

cal? Vão participar das reu-<<strong>br</strong> />

niões que você convocar?<<strong>br</strong> />

Lídia: Eu acho que sim. Lá<<strong>br</strong> />

quase ninguém fala em Sindi-<<strong>br</strong> />

cato, pelo que eu vejo.<<strong>br</strong> />

cato, que logo procurou<<strong>br</strong> />

recomendar <strong>org</strong>anização. E<<strong>br</strong> />

no dia 27 de a<strong>br</strong>il houve uma<<strong>br</strong> />

reunião no local, com pre-<<strong>br</strong> />

sença de toda a Diretoria do<<strong>br</strong> />

Sindicato e um mem<strong>br</strong>o do<<strong>br</strong> />

Conselho Eiscal, em que o<<strong>br</strong> />

Sindicato ouviu os posseiros<<strong>br</strong> />

e garantiu, de imediato, todo<<strong>br</strong> />

o apoio, recomendando aos<<strong>br</strong> />

posseiros para que o colocas-<<strong>br</strong> />

se a par de tudo quanto ocor-<<strong>br</strong> />

resse.<<strong>br</strong> />

Conforme conta Edgar,<<strong>br</strong> />

"os posseiros reagiram muito<<strong>br</strong> />

bem. Muitos deles, que não<<strong>br</strong> />

sabiam do trabalho do Sindi-<<strong>br</strong> />

cato e por isso não procura-<<strong>br</strong> />

vam o Sindicato, logo se ani-<<strong>br</strong> />

maram e pediram colabora-<<strong>br</strong> />

ção total".<<strong>br</strong> />

Segundo Edgar, o Sindica-<<strong>br</strong> />

to está apressando um amplo<<strong>br</strong> />

levantamento da área dos<<strong>br</strong> />

posseiros, verificando o<<strong>br</strong> />

tamanho das posses, o nome<<strong>br</strong> />

das pessoas residentes na<<strong>br</strong> />

área, benfeitorias, etc. Este<<strong>br</strong> />

levantamento de fôlego logo<<strong>br</strong> />

estará pronto. Com ele, o<<strong>br</strong> />

Sindicato vai tomar as provi-<<strong>br</strong> />

dências cabíveis.<<strong>br</strong> />

P. Mas os trabalhadores lá do<<strong>br</strong> />

bairro são unidos, não?<<strong>br</strong> />

Lídia: Sim.<<strong>br</strong> />

P. Como é que você acha que a<<strong>br</strong> />

mulher poderia participar<<strong>br</strong> />

mais da vida do Sindicato?<<strong>br</strong> />

Hoje você diz que a mulher<<strong>br</strong> />

está participando pouco. Acha<<strong>br</strong> />

que com este trabalho que está<<strong>br</strong> />

surgindo, com líderes de bair-<<strong>br</strong> />

ro, deveria estar acontecendo<<strong>br</strong> />

há mais tempo. Mas deve.<<strong>br</strong> />

saber que passamos um certo<<strong>br</strong> />

período no País, difícil, com<<strong>br</strong> />

um general atrás do outro, que<<strong>br</strong> />

dificultou as atividades do sin-<<strong>br</strong> />

dicalismo. Como é que a<<strong>br</strong> />

mulher poderia participar<<strong>br</strong> />

mais?<<strong>br</strong> />

Lídia: Geralmente as mulheres<<strong>br</strong> />

não se interessam pelo Sindi-<<strong>br</strong> />

cato. É mais os homens. Por-<<strong>br</strong> />

que, no caso. eu também não<<strong>br</strong> />

me interessava, porque meu<<strong>br</strong> />

pai era associado e a carteiri-<<strong>br</strong> />

nha dele servia para mim.<<strong>br</strong> />

Agora não serve mais e por<<strong>br</strong> />

isso me associei.<<strong>br</strong> />

P. Mas você está gostando de<<strong>br</strong> />

poder pagar e poder chegar<<strong>br</strong> />

aqui no Sindicato com a sua<<strong>br</strong> />

carteirinha?<<strong>br</strong> />

Lídia: Sim.<<strong>br</strong> />

P. Que sensação que você tem,<<strong>br</strong> />

sendo você mesma associada?<<strong>br</strong> />

Lídia: Uma sensação de liber-<<strong>br</strong> />

dade, parece. Não precisa mais<<strong>br</strong> />

do pai.<<strong>br</strong> />

P. Você já pensou num plano<<strong>br</strong> />

de trabalho lá para o seu Nú-<<strong>br</strong> />

cleo Sindical, o seu bairro?<<strong>br</strong> />

Lídia: Vou procurar fazer o<<strong>br</strong> />

possível para melhorar o pes-<<strong>br</strong> />

soal de lá, para que eles<<strong>br</strong> />

paguem o Sindicato também,<<strong>br</strong> />

que é para colaborar mais.<<strong>br</strong> />

P. Você tem alguma idéia para<<strong>br</strong> />

unir mais as mulheres do seu<<strong>br</strong> />

bairro?<<strong>br</strong> />

Lídia: A gente tem que fazer<<strong>br</strong> />

uma reunião lá para ver, né,<<strong>br</strong> />

Porque sem conversar com<<strong>br</strong> />

elas, a gente não pode falar.<<strong>br</strong> />

Realidade Rural — Junho de 1980 Pág. 7


PRESI<strong>DE</strong>NTE VENCESLAU 20/05/1980<<strong>br</strong> />

Descansem em paz, companheiros!<<strong>br</strong> />

Francisco de Oliveira<<strong>br</strong> />

Aparecido Alves de Souza,<<strong>br</strong> />

Antônio José da Silva de Celles<<strong>br</strong> />

José Aparecido de Celles,<<strong>br</strong> />

Cicero Morales,<<strong>br</strong> />

Marta Aparecida Ribeiro da Silva,<<strong>br</strong> />

Maria dos Anjos Silva<<strong>br</strong> />

Neli Ferreira de Souza,<<strong>br</strong> />

Verônica Maria dos Santos (16 anos)<<strong>br</strong> />

José Antônio B<strong>org</strong>es dos Santos (13 anos)<<strong>br</strong> />

Fátima Lúcia dos Santos.<<strong>br</strong> />

Vocês nio precisam mais<<strong>br</strong> />

esperar o caminhão de gentel<<strong>br</strong> />

Nesse dia, 11 volantes<<strong>br</strong> />

deixaram esse Pais ín/usto<<strong>br</strong> />

O Movimento Sindicai<<strong>br</strong> />

dos Trabalhadores Rurais<<strong>br</strong> />

no Estado de São Paulo,<<strong>br</strong> />

mais uma vez, está de<<strong>br</strong> />

luto. Nada menos do que<<strong>br</strong> />

11 companheiros volan-<<strong>br</strong> />

tes, por aí chamados de<<strong>br</strong> />

"boias-frias", morreram<<strong>br</strong> />

no dia 20 de maio, num<<strong>br</strong> />

acidente envolvendo um<<strong>br</strong> />

caminhão de gente e um<<strong>br</strong> />

caminhão de bois, no km<<strong>br</strong> />

62 da Rodovia da Integra-<<strong>br</strong> />

ção (SP-563) entre Mara-<<strong>br</strong> />

bá Paulista e Presidente<<strong>br</strong> />

Venceslau.<<strong>br</strong> />

Conforme o nosso com-<<strong>br</strong> />

panheiro Mituro Mizuka-<<strong>br</strong> />

wa, do Departamento<<strong>br</strong> />

Jurídico da Fetaesp<<strong>br</strong> />

(atuando na região), que<<strong>br</strong> />

está encaminhando os<<strong>br</strong> />

processos das famílias, o<<strong>br</strong> />

acidente ocorreu na ponte<<strong>br</strong> />

do rio Santo Anastácio,<<strong>br</strong> />

quando o caminhão dos<<strong>br</strong> />

trabalhadores (um F.600,<<strong>br</strong> />

79, da fazenda Malvina),<<strong>br</strong> />

com 58 pessoas, foi atingi-<<strong>br</strong> />

do violentamente na tra-<<strong>br</strong> />

seira pelo caminhão boia-<<strong>br</strong> />

deiro, dirigido por José<<strong>br</strong> />

Piva Fernandes, sendo o<<strong>br</strong> />

caminhão de gente desgo-<<strong>br</strong> />

vernado e jogado no rio, 8<<strong>br</strong> />

metros abaixo.<<strong>br</strong> />

HÁ 15 ANOS,<<strong>br</strong> />

OUTRO ACI<strong>DE</strong>NTE<<strong>br</strong> />

TÃO GRAVE. E O<<strong>br</strong> />

POVO DA CIDA<strong>DE</strong><<strong>br</strong> />

NÃO ESQUECEU.<<strong>br</strong> />

Segundo Mituro, o<<strong>br</strong> />

caminhão de gente vinha<<strong>br</strong> />

da Fazenda Malvina, de<<strong>br</strong> />

propriedade de José Pinto<<strong>br</strong> />

Lima (empresa Oeste-<<strong>br</strong> />

plan). Os companheiros<<strong>br</strong> />

volantes haviam trabalha-<<strong>br</strong> />

do na colheita de crotolá-<<strong>br</strong> />

ria (um produto para fazer<<strong>br</strong> />

papel fino em geral). Eles<<strong>br</strong> />

estavam até contentes,<<strong>br</strong> />

haviam recebido o cheque<<strong>br</strong> />

com a remuneração do<<strong>br</strong> />

dia. O caminhão da fazen-<<strong>br</strong> />

da (com lona preta e <strong>br</strong>an-<<strong>br</strong> />

co só nas laterais) ia bus-<<strong>br</strong> />

cá-los normalmente na<<strong>br</strong> />

cidade, pois 50% trabalha-<<strong>br</strong> />

vam habitualmente na<<strong>br</strong> />

fazenda. No dia 20, depois<<strong>br</strong> />

do serviço, o caminhão<<strong>br</strong> />

partiu para a cidade (que<<strong>br</strong> />

tem 80 mil habitantes),<<strong>br</strong> />

mas logo depois de deixar<<strong>br</strong> />

a estrada de acesso á<<strong>br</strong> />

fazenda e entrar na rodo-<<strong>br</strong> />

via, numa baixada, o<<strong>br</strong> />

caminhão de gente foi<<strong>br</strong> />

colhido pelo caminhão de<<strong>br</strong> />

bois, que não conseguiu<<strong>br</strong> />

frear a tempo. O caminhão<<strong>br</strong> />

de gente caiu no rio e o<<strong>br</strong> />

caminhão de bois caiu logo<<strong>br</strong> />

adiante, matando alguns<<strong>br</strong> />

animais. Os dois motoris-<<strong>br</strong> />

tas feriram-se.<<strong>br</strong> />

A cidade ficou revolta-<<strong>br</strong> />

da com o que aconteceu.<<strong>br</strong> />

Segundo o noticiário da<<strong>br</strong> />

imprensa, milhares de<<strong>br</strong> />

pessoas acompanharam<<strong>br</strong> />

os 5 carros fúne<strong>br</strong>es que<<strong>br</strong> />

levaram os corpos dos 9<<strong>br</strong> />

primeiros companheiros<<strong>br</strong> />

que faleceram. Inclusive<<strong>br</strong> />

100 carros. A população<<strong>br</strong> />

recordava que outro aci-<<strong>br</strong> />

dente semelhante havia<<strong>br</strong> />

ocorrido há mais de 15<<strong>br</strong> />

anos, matando 12 compa-<<strong>br</strong> />

ATE QUANDO ESSA HUMILHAÇÃO?<<strong>br</strong> />

Dirigentes sindicais dizem<<strong>br</strong> />

o que viram na tal<<strong>br</strong> />

"Cooperativa de Volantes"<<strong>br</strong> />

Numa reunião dos dirigentes sindicais no<<strong>br</strong> />

Instituto Técnico e Educacional para Traba-<<strong>br</strong> />

lhadores Rurais no Estado de São Paulo (ITE-<<strong>br</strong> />

TRESP), em Agudos, em fevereiro, o Presi-<<strong>br</strong> />

dente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais<<strong>br</strong> />

de Santa Fé do Sul, Valdomiro Cordeiro, con-<<strong>br</strong> />

tou que, quando o Sindicato se opôs à coope-<<strong>br</strong> />

- rativa de volantes que o Governo pretendia<<strong>br</strong> />

implantar no município e conseguiu impedir<<strong>br</strong> />

sua implantação, ouviu do então Secretário<<strong>br</strong> />

das Relações do Trabalho, Maluly Netto, uma<<strong>br</strong> />

espécie de puxão de orelhas: "Vocês não<<strong>br</strong> />

querem instalar a cooperativa que eu dei,<<strong>br</strong> />

hein..."<<strong>br</strong> />

Pois a opinião unânime dos nossos dirigen-<<strong>br</strong> />

tes sindicais é de que essas coisas que decidi-<<strong>br</strong> />

ram chamar de "cooperativas" são, na verda-<<strong>br</strong> />

de, um "presente de grego", como se diz na<<strong>br</strong> />

gíria, uma verdadeira bomba contra o Sindi-<<strong>br</strong> />

cato e contra o trabalhador.<<strong>br</strong> />

Aliás, não é de se estranhar que um jorna-<<strong>br</strong> />

lão patronal tradicional da capital faça tanta<<strong>br</strong> />

propaganda de uma dessas "cooperativas", a<<strong>br</strong> />

de Franca. E vários dirigentes sindicais deci-<<strong>br</strong> />

diram visitar a tal "cooperativa", para ver de<<strong>br</strong> />

perto a "maravilha".<<strong>br</strong> />

CRISPIM:"É O TROÇO MAIS NOJEN-<<strong>br</strong> />

TO QUE JÁ VI".<<strong>br</strong> />

Uma comissão de dirigentes, -do Grupo<<strong>br</strong> />

Regional 9, visitou a "cooperativa" no início,<<strong>br</strong> />

deste ano. Em março, uma outra comissão de<<strong>br</strong> />

dirigentes, do Grupo Regional 4, também visi-<<strong>br</strong> />

tou a cooperativa. Ambas as comissões volta-<<strong>br</strong> />

ram a seus municípios arrepiadas com o que<<strong>br</strong> />

viram e ouviram. Antônio Crispim da Cruz,<<strong>br</strong> />

presidente do STR de Cravinhos, por exem-<<strong>br</strong> />

plo, que expôs as conclusões de sua comissão<<strong>br</strong> />

(Grupo Regional 9), não encontrou palavras<<strong>br</strong> />

• macias: "E o troço mais nojento que já vi"-<<strong>br</strong> />

disse êle. "É o paternalismo implantado ofi-<<strong>br</strong> />

cialmente pelo Governo".<<strong>br</strong> />

E a Comissão do Grupo Regional 4, integra-<<strong>br</strong> />

da por representantes dos Sindicatos de<<strong>br</strong> />

Mirassol, Votuporanga e Santa Fé do Sul, em<<strong>br</strong> />

seu relatório encaminhado à Comissão de<<strong>br</strong> />

Questões Trabalhistas e Previdenciárias, da<<strong>br</strong> />

Fetaesp, diz que voltou "com uma idéia muito<<strong>br</strong> />

pior a respeito das cooperativas" do que a que<<strong>br</strong> />

seus integrantes já tinham. "Neste processo-<<strong>br</strong> />

diz o relatório da comissão - o trabalhador é<<strong>br</strong> />

um objeto, uma espécie de máquina, onde tra-<<strong>br</strong> />

balha por um parco salário, recebendo tudo o<<strong>br</strong> />

que mais necessita da cooperativa ou do Esta-<<strong>br</strong> />

do. É bom lem<strong>br</strong>ar que a nosso ver as coope-<<strong>br</strong> />

rativas de trabalhadores rurais "avulsos"<<strong>br</strong> />

deturpam até os princípios do cooperativis-<<strong>br</strong> />

mo. Nesse processo, cooperativa e Estado se<<strong>br</strong> />

confundem".<<strong>br</strong> />

OS DIREITOS TRABALHISTAS VÃO<<strong>br</strong> />

PARA O BREJO...<<strong>br</strong> />

Antônio Crispim mostrou que o paternalis-<<strong>br</strong> />

mo do Governo (que sempre tem custado<<strong>br</strong> />

muito caro aos trabalhadores). De vez em<<strong>br</strong> />

quando o Governo injeta recursos na "coope-<<strong>br</strong> />

rativa", para mantê-la de pé. Além dos Cr$<<strong>br</strong> />

500.000,00, que recebeu na sua fundação,<<strong>br</strong> />

estavam recebendo por ocasião da visita, mais<<strong>br</strong> />

Cri 500.000,00, a assistência é melhor que o<<strong>br</strong> />

Funrural, há cobertura para os acidentes de<<strong>br</strong> />

trabalho, é isenta de impostos. Tem um presi-<<strong>br</strong> />

dente, que se diz trabalhador rural, mas quem<<strong>br</strong> />

dirige mesmo é um técnico do Governo, e<<strong>br</strong> />

Reforma Agrária, para ambos, não interessa.<<strong>br</strong> />

Não é por nada que, conforme mostrou<<strong>br</strong> />

Crispim, eles fazem propaganda do Governo,<<strong>br</strong> />

colocando a "cooperativa" lá em cima. E o<<strong>br</strong> />

que é de ver para crer, disseram a Crispim que<<strong>br</strong> />

até havia um elemento da Organização Inter-<<strong>br</strong> />

nacional do Trabalho (OIT) para ver a expe-<<strong>br</strong> />

riência e implantar lá fora.<<strong>br</strong> />

O "truque" mesmo é o assistencialismo,.<<strong>br</strong> />

tanto que apregoam que a assistência da coo-<<strong>br</strong> />

perativa é como a do Sindicato ou mais.<<strong>br</strong> />

E tudo isso tem um preço: "O trabalhador -<<strong>br</strong> />

segundo Crispim - só está sabendo que traba-<<strong>br</strong> />

lha na cooperativa na sexta-feira, na hora do<<strong>br</strong> />

pagamento".<<strong>br</strong> />

Para Crispim, o que existe "é uma grande<<strong>br</strong> />

vergonha":<<strong>br</strong> />

- Na hora de pegar o trabalhador, ele não<<strong>br</strong> />

tem vínculo empregatício. Na hora de aposen-<<strong>br</strong> />

tar, então, é preciso atestado do Presidente do<<strong>br</strong> />

Sindicato e do Delegado de Polícia.<<strong>br</strong> />

VEJAM ESSE RELATÓRIO, DO<<strong>br</strong> />

GRUPO REGIONAL 4:<<strong>br</strong> />

Segue abaixo um trecho do relatório da comis-<<strong>br</strong> />

são do Grupo Regional 4. so<strong>br</strong>e suas impressões<<strong>br</strong> />

da visita à "cooperativa" de Franca.<<strong>br</strong> />

"No dia 19 (de marco), de manhã, conversa-<<strong>br</strong> />

mos com alguns trabalhadores no local onde<<strong>br</strong> />

esperam a condução para serem conduzidos ao<<strong>br</strong> />

local de trabalho. Conversamos com José Rober-<<strong>br</strong> />

to, fiscal de uma turma, nos disse que os traba-<<strong>br</strong> />

lhadores ganham CrS 160,00 por dia, que não<<strong>br</strong> />

são registrados, que não recebem férias, I3 Ç salá-<<strong>br</strong> />

rio e nem os dias de chuva. Que numa ocasião<<strong>br</strong> />

tiveram que aumentar a diária para poder con-<<strong>br</strong> />

correr com os fazendeiros que nãa-usam a coope-<<strong>br</strong> />

rativa.<<strong>br</strong> />

Um trabalhador, cujo nome não anotamos,<<strong>br</strong> />

nos informou "que não trabalha para a coopera-<<strong>br</strong> />

tiva porque ela faz muito rolo. Que ganha mais<<strong>br</strong> />

que na cooperativa. Que prefere trabalhar para o<<strong>br</strong> />

fazendeiro. " Pelo que pudemos obervar, não é<<strong>br</strong> />

cumprido o dissídio coletivo no que diz respeito<<strong>br</strong> />

ao transporte e à jornada de trabalho incluindo o<<strong>br</strong> />

persurso vai além das 8 horas diárias.<<strong>br</strong> />

Parece ser muito grande o número de traba-<<strong>br</strong> />

lhadores volantes em Franca. Na maioria os tra-<<strong>br</strong> />

balhadores são transportados por combi. Vimos<<strong>br</strong> />

trabalhadores transportados por ônibus, mas não<<strong>br</strong> />

eram da cooperativa.<<strong>br</strong> />

Fomos à sede da cooperativa que funciona a<<strong>br</strong> />

rua Comandante Salgado, n? 1574 e é presidida<<strong>br</strong> />

por Antônio Machado. Fomos bem recebidos e<<strong>br</strong> />

convidados, a esperar o técnico, num diálogo<<strong>br</strong> />

aberto o presidente Antônio Machado nos infor-<<strong>br</strong> />

mou:- "que a cooperativa está crescendo, que<<strong>br</strong> />

receberam CrS 400,00 (quatrocentos mil cruzei-<<strong>br</strong> />

ros) do Governo. Que está sendo instalado um<<strong>br</strong> />

posto da COBAL para os cooperados. Que neste<<strong>br</strong> />

posto o trabalhador terá a oportunidade de pagar<<strong>br</strong> />

de 45% a 50% a menos do que o preço da praça.<<strong>br</strong> />

Que para ser cooperado o trabalhador precisa<<strong>br</strong> />

assinar um livro. Que a aposentadoria é paga<<strong>br</strong> />

pelo FUNRURAL, mas que a cooperativa tem<<strong>br</strong> />

um convênio com a ORMEDI, que dá assistência<<strong>br</strong> />

total aos cooperados. Enquanto conversáva-<<strong>br</strong> />

mos, vimos diversos trabalhadores buscar guias<<strong>br</strong> />

para a ORMEDI. Que do que o trabalhador<<strong>br</strong> />

ganha é descontado Cr$ 10,00 para a cooperati-<<strong>br</strong> />

va. Que tem um seguro para o caso de acidente<<strong>br</strong> />

de trabalho. O sr. Antônio confirmou o que disse-<<strong>br</strong> />

ram os trabalhadores, que a cooperativa não<<strong>br</strong> />

paga férias, 13 9 salário, domingo remunerado.<<strong>br</strong> />

Em outras palavras, o trabalhador recebe apenas<<strong>br</strong> />

o dia trabalhado. Que a cooperativa paga CrS<<strong>br</strong> />

160,00 por dia, mas que garante este preço o ano<<strong>br</strong> />

todo. Informou ainda que a cooperativa é admi-<<strong>br</strong> />

nistrada por um presidente eleito por quatro<<strong>br</strong> />

anos. juntamente com o secretário, tesoureiro e<<strong>br</strong> />

um conselho fiscal. A diretoria é eleita pelos coo-<<strong>br</strong> />

nheiros na ocasião e ferin-<<strong>br</strong> />

do 15.<<strong>br</strong> />

Outros dois companhei-<<strong>br</strong> />

ros, feridos gravemente,<<strong>br</strong> />

faleceram até o final de<<strong>br</strong> />

maio.<<strong>br</strong> />

"NA LUTA POR UM<<strong>br</strong> />

SINDICATO NA<<strong>br</strong> />

CIDA<strong>DE</strong> (SINDI-<<strong>br</strong> />

CATOS FORAM<<strong>br</strong> />

SOLIDÁRIOS)<<strong>br</strong> />

Companheiros dirigen-<<strong>br</strong> />

tes dos Sindicatos de Pre-<<strong>br</strong> />

sidente Prudente e Presi-<<strong>br</strong> />

dente Epitácio, conforme<<strong>br</strong> />

soubemos, estiveram na<<strong>br</strong> />

cidade, levando sua soli-<<strong>br</strong> />

dariedade às famílias e<<strong>br</strong> />

colocando seus Sindicatos<<strong>br</strong> />

à disposição para o que<<strong>br</strong> />

fosse necessário.<<strong>br</strong> />

Segundo o companhei-<<strong>br</strong> />

ro Mituro, há um grupo<<strong>br</strong> />

de trabalhadores rurais<<strong>br</strong> />

em Presidente Venceslau,<<strong>br</strong> />

apoiados pela Igreja e até<<strong>br</strong> />

pelo prefeito, que querem<<strong>br</strong> />

fundar o Sindicato dos<<strong>br</strong> />

Trabalhadores Rurais na<<strong>br</strong> />

cidade. Mas a luta está<<strong>br</strong> />

difícil e precisariam con-<<strong>br</strong> />

tar com o apoio do Movi-<<strong>br</strong> />

mento Sindical na região.<<strong>br</strong> />

O Sindicato é extrema-<<strong>br</strong> />

mente necessário, porque<<strong>br</strong> />

a região é de pecuária, há<<strong>br</strong> />

muitos assalariados, mas o<<strong>br</strong> />

maior número de compa-<<strong>br</strong> />

nheiros é volante.<<strong>br</strong> />

perados. Que tem um administrador. Disse o<<strong>br</strong> />

Presidente que a assembléia é convocada pelo<<strong>br</strong> />

Presidente, mas quem toma as decisões é o dire-<<strong>br</strong> />

tor: Disse que os trabalhadores comparecem às<<strong>br</strong> />

assembléias. Para montagem do armazém da<<strong>br</strong> />

COBAL disse que receberam recursos do Gover-<<strong>br</strong> />

n'o. mas que uma parte édacooperativa. queparao<<strong>br</strong> />

emprego desse dinheiro não foram consultados<<strong>br</strong> />

os cooperados. Por volta das 10 horas chegou o<<strong>br</strong> />

técnico, prof. César Augusto Marques. Pergunta-<<strong>br</strong> />

mos - porque a cooperativa de trabalhadores<<strong>br</strong> />

avulsos e não de volantes? Respondeu que o tra-<<strong>br</strong> />

balhador rural volante é um trabalhador avulso,<<strong>br</strong> />

que nunca teve direitos trabalhistas, que as coo-<<strong>br</strong> />

perativas os amparam. Que não adianta os Sindi-<<strong>br</strong> />

catos se apegarem tanto às leis existentes, por-<<strong>br</strong> />

que elas não são cumpridas. Disse mais que o<<strong>br</strong> />

grande anseio do trabalhador rural é a previdên-<<strong>br</strong> />

cia social. Que a portaria rfi 2. de 616179. vincula<<strong>br</strong> />

os cooperados avulsos à previdência social urba-<<strong>br</strong> />

na. Que a execução da Portaria está sendo objeto<<strong>br</strong> />

de estudo para implantação. Pelo sistema o<<strong>br</strong> />

empregador rural paga 8% e o trabalhador coo-<<strong>br</strong> />

perado H%. Que o FUNRURAL não ampara o<<strong>br</strong> />

trabalhador rural.<<strong>br</strong> />

Perguntamos so<strong>br</strong>e o vínculo de emprego e<<strong>br</strong> />

fomos informados que pelo Art. 90. da Lei 5.764.<<strong>br</strong> />

de 16112171, o cooperado não tem vínculo de<<strong>br</strong> />

emprego, nem com a cooperativa, nem com o<<strong>br</strong> />

proprietário rural. Logo após chegou o Secretá-<<strong>br</strong> />

rio da cooperativa, José Ferreira, que sentou à<<strong>br</strong> />

mesa dos debates, mas não participou dos deba-<<strong>br</strong> />

tes. Continuou o técnico dizendo que o objetivo é<<strong>br</strong> />

construir uma creche, um galpão para as mulhe-<<strong>br</strong> />

res aprenderem a costurar sapago. Que estão<<strong>br</strong> />

estudando meios legais para que os trabalhado-<<strong>br</strong> />

res possam executar outras atividades não liga-<<strong>br</strong> />

das ao meio rural, para o caso de falta de traba-<<strong>br</strong> />

lho.<<strong>br</strong> />

Ouvidos os representantes do STR de Franca,<<strong>br</strong> />

trabalhadores rurais e os representantes da coo-<<strong>br</strong> />

perativa, é essa a nossa conclusão:<<strong>br</strong> />

Organização de cooperativas de mão de o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />

representa o típico comodismo do nosso governo.<<strong>br</strong> />

Preocupados com a grande massa de desempre-<<strong>br</strong> />

gados, hoje bem conceituados pela CNBB como<<strong>br</strong> />

migrantes. Com a exploração do trabalhador<<strong>br</strong> />

pelo dono da terra, os idealizadores das coopera-<<strong>br</strong> />

tivas buscam a solução do problema com o<<strong>br</strong> />

emprego da lei do menor esforço. Não percebe-<<strong>br</strong> />

ram ainda que o remédio empregado pode matar<<strong>br</strong> />

o doente.<<strong>br</strong> />

As cooperativas, nos moldes que vem sendo<<strong>br</strong> />

<strong>org</strong>anizadas, põem por terra as conquistas dos<<strong>br</strong> />

trabalhadores, pois de fato o Art. 90, da Lei n?<<strong>br</strong> />

5.764, tira qualquer possibilidade de vínculo de<<strong>br</strong> />

emprego. Sufoca qualquer esperança da espera-<<strong>br</strong> />

da Reforma Agrária: estimula o êxodo Rural".<<strong>br</strong> />

Este é o relatório. A conclusão do grupo, últi-<<strong>br</strong> />

ma, é a de que as cooperativas agridem a finali-<<strong>br</strong> />

dade dos Sindicatos e a sugestão da comissão é a<<strong>br</strong> />

de que "devemos lutar com todos os nossos<<strong>br</strong> />

recursos para que as famigeradas cooperativas<<strong>br</strong> />

de Trabalhadores Avulsos tenham um fim".

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!