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Ao grande espalhafato acudiu o tabelião, apunhando a enorme boceta de<br />
tabaco, à guisa de pelouro, na carência de outra arma ofensiva. Os outros velhuscos<br />
da roda, qual mais destemido, o acompanhavam, este com um pedaço de tijolo,<br />
aquele com um tamanco velho.<br />
Dos primeiros a acudir, se não o primeiro, foi o Ivo, e em tão boa hora que<br />
amparou sem querer o corpinho trêmulo de Marta, quando ela ia cair; mas apenas a<br />
apertou nos seus braços, que a desmaiada logo ficou de todo restabelecida, e fugiulhe<br />
como uma sombra.<br />
A causa de toda a balbúrdia fora o grilo, que tão a ponto lançara o Ivo na roda<br />
das mulheres, e quando contava-se a história de uma borboleta preta, que chupava<br />
sangue à gente, e não era outra senão uma velha bruxa.<br />
Como previra Ivo, deu o susto em resultado apressar a ceia, visto que se<br />
tinham desmanchado as rodas, e não havia que fazer àquela hora para entreter o<br />
resto do tempo.<br />
Depois da ceia, e antes de recolher-se com a família, escapuliu M 4 arta de<br />
perto da mãe, e foi ao quintal colher uma perpétua para deixá-la sobre o trumó, aos<br />
pés do Menino Jesus.<br />
Nesse, entretanto o tabelião, sempre grave, compassado e sacramental,<br />
como um instrumento em devida forma, chamava de parte a dona de casa.<br />
— Sra. Romana, minha respeitável sogra, poderá dizer-me quem é este<br />
rapazola que vi hoje aqui pela primeira vez?<br />
— É o sobrinho da Rosalina.<br />
— A do alferes? Perguntou o tabelião vincando a testa.<br />
— Fale mais baixo, Sr. Sebastião, que ela pode ouvir!<br />
— Vistos os autos, a referida está aqui?<br />
— Que tem isso agora? Por que andaram a fazer enredos da pobre? E não<br />
passa da Pôncia, aquela linguazinha de...<br />
— Pois, Sra. Romana, minha respeitável sogra, urge que ponha cobro a isso,<br />
porquanto, se a supradita e mais o bonifrate do filho, que a espertalhona alapardou<br />
em sobrinho, se meterem aqui, nem sua filha e minha mulher, nem a sua neta, filha<br />
minha e da sua também supradita filha, tornarão a pôr os pés em casa onde se<br />
agasalha gente descomedida, que...<br />
— Ora, Sr. Sebastião, guarde seu palavreado lá para a rabulice. A Rosalina<br />
há de vir com o filho e o senhor também com a Miquelina e a Marta!<br />
— A senhora teima? Perguntou o tabelião em tom sacramental.<br />
— Teima é a sua de engrimar-se com a coitada da mulher, que não lhe fez<br />
mal nenhum.<br />
— Escandaliza os bons costumes; e bem vê que sendo eu um oficial do<br />
público, judicial e notas, não posso tolerar...<br />
— E que remédio tem o senhor?<br />
— Não me afronte, Sra. Romana, senão... Senão...<br />
Fez o Sebastião uma reticência tabelioa, prenhe de solenes ameaças.<br />
A velha, porém, fincara as mãos nos quadris; e surdindo por baixo do nariz do<br />
tabelião, perguntou-lhe em ar de desafio:<br />
— Senão, o quê?<br />
— Senão eu me recolho ao silêncio! Respondeu o tabelião com dignidade.<br />
— É o melhor que pode fazer.<br />
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