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Introdução D entre as complicações crônicas do diabetes, a neuropatia periférica que pode levar a ulcerações nos pés com potencial evolução para infecção e amputação representa uma das mais importantes. Segundo o consenso internacional sobre pé <strong>diabético</strong> de 2001, o pé <strong>diabético</strong> é definido como qualquer infecção, ulceração e/ou destruição dos tecidos profundos associados a anormalidades neurológicas e a vários graus de doença vascular periférica dos membros inferiores (16). Os <strong>diabético</strong>s apresentam maior propensão às ulcerações infecciosas nos membros inferiores. Dentre todas as infecções que o paciente <strong>diabético</strong> pode apresentar, a que causa maior mortalidade é a infecção do pé. Estima-se que cerca de 25% dos pacientes <strong>diabético</strong>s sofrem deste mal durante a vida (14). A infecção do pé <strong>diabético</strong> pode ser mono ou polimicrobiana, o que ocorre em 60% a 80% dos pacientes. Staphylococcus aureus e Staphylococcus epidermidis são isoladas em cerca de 60% de todas as úlceras infectadas. Enterococos, estreptococos e enterobactérias são encontrados menos freqüentemente e 15% das úlceras infectadas têm a participação de bactérias anaeróbias estritas (11). Lipsky et al 120 (1990), mostraram que o perfil bacteriológico de uma infecção de úlcera de pé <strong>diabético</strong> está diretamente ligado ao nível de comprometimento da infecção. Em infecções com leve comprometimento tecidual predominam organismos do tipo aeróbio. O perfil bacteriológico dos espécimes clínicos provenientes de infecções leves estudados por Lipsky et al, apresentavam um predomínio de cocos Gram positivos em especial o Staphylococcus aureus e bacilos Gram negativos, destacando as espécies pertencentes a família das Enterobacteriaceae. Apenas um pequeno percentual destes espécimes apresentava bactérias anaeróbias. Lipsky et al (1990) também destacaram a presença de cepas de Pseudomonas aeruginosa isoladas de forma ocasional em seu estudo (8). O conhecimento do fenômeno da <strong>resistência</strong> aos agentes físicos e químicos entre microorganismos data do início da era microbiana. Com a introdução das primeiras substâncias químicas com finalidades quimioterápicas específicas, Ehrlich et al (1907) verificaram que a <strong>resistência</strong> podia ocorrer em elementos de uma mesma população microbiana, observando que em culturas de tripanossomas tratados com arsênico ou com determinados corantes havia a sobrevivência de alguns exemplares de uma mesma colônia. O advento do uso clínico das sulfo- namidas, em 1933 e, em seguida das penicilinas, em 1941, levou à constatação de que a <strong>resistência</strong> bacteriana aos agentes <strong>antimicrobianos</strong> podia ser uma característica natural das espécies de bactérias a ser adquirida por cepas individuais dentro de uma população sensível (18). Na atualidade, a <strong>resistência</strong> bacteriana é descrita em praticamente todas as espécies de bactérias e já são conhecidos muitos dos mecanismos bioquímicos de <strong>resistência</strong> e os mecanismos moleculares de transferência de <strong>resistência</strong> entre bactérias (9). O desenvolvimento das drogas antimicrobianas produziu uma decisiva redução na mortalidade de inúmeras doenças infecciosas. Paralelamente, porém, a administração destas drogas à população humana e o seu uso na medicina, veterinária e na agricultura, favoreceram a seleção de microorganismos resistentes e levaram à presente condição, na qual os <strong>antimicrobianos</strong> estão perdendo sua eficácia. Esta situação é atribuída principalmente ao uso inadequado dos antibióticos para o tratamento e profilaxia em infecções humanas e à administração das drogas em animais com finalidades terapêuticas, profiláticas e de promoções do crescimento, levando à seleção de microorganismos resistentes em sua microbiota (19). A necessidade de se criar estratégias para o controle do uso <strong>NewsLab</strong> - edição 65 - 2004