Espumas Flutuantes Castro Alves
Espumas Flutuantes Castro Alves
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Pede à mulher que seja boa e linda<br />
Vestal de um tipo que o ideal revela...<br />
Pois ser formosa é ser melhor ainda...<br />
Se és boa— és luz... mas se és formosa— estrela...<br />
E pede à sombra p'ra aljofrar de orvalhos A fronte azul da solidão noturna. E pede às auras p'ra<br />
afagar os galhos E pede ao lírio p'ra enfeitar a fuma.<br />
Pede ao olhar a maciez suave<br />
Que tem o arminho e o edredom macio, O aveludado da penugem d'ave, Que afaga as plumas no<br />
palmar sombrio.<br />
E quando encontra sobre a terra ingrata Um reverbero do clarão celeste, —Alma formada de uma<br />
essência grata, Que a lua — doura, e que um perfume veste;<br />
Um rir, que nasce como o broto em maio; Mostrando seivas de bondade infinda, Fronte que<br />
guarda— a claridade e o raio, — Virtude e graça — o ser bondosa e linda...<br />
Então, Senhora, sob tanto encanto Pede o Poeta (que neo tem renome)<br />
—Versos— à brisa p'ra vos dar um canto...<br />
Raios ao sol — p'ra vos traçar o nome! . . .<br />
Hino ao Sono<br />
Ó Sono !ó noivo pálido Das noites perfumosas, Que um chão de nebulosas Trilhas pela amplidão!<br />
Em vez de verdes pâmpanos, Na branca fronte enrolas As lânguidas papoulas, Que agita a<br />
viração.<br />
Nas horas solitárias, Em que vagueia a lua, E lava a planta nua Na onda azul do mar,<br />
Com um dedo sobre os lábios No vôo silencioso, Vejo-te cauteloso<br />
No espaço viajar!<br />
Deus do infeliz, do mísero! Consolação do aflito! Descanso do precito, Que sonha a vida em ti!<br />
Quando a cidade tétrica De angústia e dor não geme...<br />
É tua mão que espreme A dormideira ali.<br />
Em tua branca túnica Envolves meio mundo. E teu seio fecundo De sonhos e visões, Dos templos<br />
aos prostíbulos Desde o tugúrio ao Paço, Tu lanças lá do espaço Punhados de ilusões!...<br />
Da vide o sumo rúbido, Do hatchiz a essência, O ópio, que a indolência Derrama em nosso ser,<br />
Não valem, gênio mágico, Teu seio, onde repousa A placidez da lousa<br />
E o gozo de viver...<br />
Ó sono! Unge-me as pálpebras.. Entorna o esquecimento<br />
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