Espumas Flutuantes Castro Alves
Espumas Flutuantes Castro Alves
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Quando Ela veio — a negra feiticeira — A libertina, lúgubre bacante, Lascivo olhar, a trança<br />
desgrenhada, A roupa gotejante.<br />
Foi minha crença— o vinho dessa orgia, Foi minha vida— a chama que apagou-se, Foi minha<br />
mocidade — o toro lúbrico, Minh'alma — o tredo alcouce.<br />
E tu, visão do céu! Vens tateando O abismo onde uma luz sequer não arde? Ai! não vos resvalar<br />
no chão lodoso...<br />
E tarde! E muito tarde!<br />
Ai! não queiras os restos do banquete! Não queiras esse leito conspurcado! Sabes? meu beijo te<br />
manchara os lábios Num beijo profanado.<br />
A flor do lírio de celeste alvura Quer da lucíola o pudico afago...<br />
O cisne branco no arrufar das plumas Quer o aljôfar do lago.<br />
É tarde! A rola meiga do deserto Faz o ninho na moita perfumada...<br />
Rola de amor! não vás ferir as asas Na ruína gretada.<br />
Como o templo, que o crime encheu de espanto, Êrmo e fechado ao fustigar do norte, Nas ruínas<br />
desta alma a raiva geme...<br />
E cresce o cardo — a morte<br />
Ciúme! dor! sarcasmo! — Aves da noite! Vós povoais-me a solidão sombria, Quando nas trevas a<br />
tormenta ulula Um uivo de agonia!...<br />
E tarde! Estrela-d'alva! o lago é turvo. Dançam fogos no pântano sombrio. Pede a Deus que dos<br />
céus as cataratas Façam do brejo — um rio!<br />
Mas não<br />
! Somente as vagas do sepulcro<br />
Hão de apagar o fogo que em mim arde<br />
Perdoa-me, Senhora!<br />
Eu sei que morro<br />
E tarde! E muito tarde!<br />
A Meu Irmão Guilherme de <strong>Castro</strong> <strong>Alves</strong><br />
Na cordilheira altíssima dos Andes Os Chimbolazos solitários, grandes Ardem naquelas hibernais<br />
regiões.<br />
Ruge embalde c fumega a solfatera...<br />
É dos lábios sangrentos da cratera Que a avalanche vacila aos furacões.<br />
A escória rubra com os celeiros brancos Misturados resvalam pelo flancos Dos ombros friorentos<br />
do vulcão...<br />
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