20.06.2013 Views

Espumas Flutuantes Castro Alves

Espumas Flutuantes Castro Alves

Espumas Flutuantes Castro Alves

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Por mim eu sei que há confidências ternas, Um poema saudoso, angustiado<br />

Se uma rosa de há muito emurchecida Rola acaso de um livro abandonado.<br />

O espírito talvez dos tempos idos Desperta ali como invisível nume...<br />

E o poeta murmura suspirando:<br />

"Bem me lembro... era este o seu perfume!"<br />

E que segredo não revela acaso De uma mulher a predileta essência? Ora o cheiro é lascivo e<br />

provocante! Ora casto, infantil, como a inocência!<br />

Ora propala os sensuais anseios D'alcova de Ninon ou Margarida, Ora o mistério divinal do leito,<br />

Onde sonha Cecília adormecida.<br />

Aqui, na magnólia de Celuta<br />

Lambe a solta madeixa, que se estira. Unge o bronze do dorso da cabocla, E o mármore do corpo<br />

da Hetaíra.<br />

É que o perfume denuncia o espírito Que sob as formas feminis palpita...<br />

Pois como a salamandra em chamas vive, Entre perfumes a mulher habita.<br />

Immensis Orbitus Anguis<br />

Sibila lambebant linguis vibranlibas ora.<br />

VIRGÍLIO<br />

Resvala em fogo o sol dos montes sobre a espalda, E lustra o dorso nu da índia americana...<br />

Na selva zumbe entanto o inseto de esmeralda, E pousa o colibri nas flores da liana.<br />

Ali — a luz cruel, a calmaria intensa!<br />

Aqui — a sombra, a paz, os ventos, a cascata...<br />

E a pluma dos bambus a tremular imensa...<br />

E o canto de aves mil... e a solidão... e a mata...<br />

E à hora em que, fugindo aos raios da esplanada, A Indígena, a gentil matrona do deserto Amarra<br />

aos palmeirais a rede mosqueada, Que, leve como um berço, embala o vento incerto...<br />

Então ela abandona-lhe ao beijo apaixonado A perna a n ais formosa— o corpo o mais macio, E,<br />

as pálpebras cerrando, ao filho bronzeado Entrega um seio nu, moreno, luzidio.<br />

Porém, dentre os espatos esguios do coqueiro, Do verde gravata nos cachos reluzentes, Enrosca-se<br />

e desliza um corpo sorrateiro E desce devagar pelos cipós pendentes.<br />

E desce... e desce mais... à rede já se chega...<br />

Da índia nos cabelos a longa cauda some...<br />

Horror! aquele horror ao peito eis que se apega!<br />

A baba — quer o leite! — A chaga — sente fome!<br />

http://livros.universia.com.br 57

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!