A Normalista Adolfo Caminha - PSB
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O namoro de Maria com o filho do coronel Souza Nunes estava em começo. A falar<br />
a verdade, ela gostava de Zuza e casaria se ele quisesse, mas até aquela data ainda não se<br />
tinham comunicado. Conheciam-se ⎯ nada mais.<br />
Nessas confabulações íntimas com a amiga, Maria, que começava a compreender a<br />
vida tal como ela é na sociedade, fingia-se ingênua, tolinha, expediente que usava sempre<br />
que desejava saber a opinião de Lídia sobre isto ou sobre aquilo.<br />
A princípio evitava conversar em amores, corando a qualquer palavra mais livre ou<br />
a qualquer fato menos sérios que lhe contavam as colegas de estudo. Agora, porém, ouvia<br />
tudo com interesse, procurando inteirar-se dos acontecimentos, sem acanhamento, sem<br />
receio. Pouco a pouco foi perdendo antigos retraimentos que trouxera da Imaculada<br />
Conceição. A convivência com as outras normalistas transformara-lhe os hábitos e as<br />
idéias. A Lídia principalmente era a sua confidente mais chegada. Quase sempre estavam<br />
juntas em casa, na Escola, nos passeios, em toda parte onde se encontravam, de braços<br />
dados, aos cochichos. Havia entre elas um comércio contínuo de carinhos, de afagos e de<br />
segredos. Gabavam-se mutuamente, tinham quase os mesmos hábitos, vestiam-se pelos<br />
mesmos moldes, como duas irmãs.<br />
feita de corpo.<br />
Lídia Campelo tinha então vinte anos. era uma rapariga alta, fausse-maigree e bem<br />
A razão por que ainda não se casara ninguém ignorava, toda a gente sabia ⎯ é que a<br />
filha da viúva Campelo, por via do atavismo, puxava à mãe. Não havia na cidade rapazola<br />
mais ou menos elegante, caixeiro de loja de modas que não se gabasse de a ter beijado.<br />
Tinha fama de grande namoradeira, exímia em negócios de amor. O próprio João da Mata<br />
não gostava muito daquela amizade com Maria. Mais de uma vez dissera a D. Terezinha as<br />
suas desconfianças, os seus escrúpulos, os seus receios com relação a essa intimidade da<br />
afilhada com a Lídia: ⎯ “Não consentisse a rapariga ir à casa da outra. Antes prevenir que<br />
curar”.<br />
Havia mesmo quem ousasse afirmar que a Campelinho “já não era moça”<br />
Da viúva diziam-se horrores: “aquilo era casa aberta...” Tantos fossem, quantos ela<br />
recebia com um risinho se vergonha, arregaçando os beiços. A filha seguia o mesmo<br />
caminho.