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A Normalista Adolfo Caminha - PSB

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Ninguém o excedia. Era o que se pode chamar “um homem de bons costumes”, um<br />

pouco orgulhosos e d’uma susceptibilidade à toda a prova em matéria de dignidade pessoal:<br />

irrepreensível e caprichoso na intimidade doméstica como na vida pública.<br />

Fazia gosto a sala de visitas, forrada a papel-veludo, claro com ramagens cinzenta,<br />

mobiliada com inexcedível graça, sem ostentação, sem luxo, mas onde se notava logo certa<br />

correção no arranjo dos móveis, na colocação dos quadros, na limpidez dos cristais.<br />

Ao fundo, entre as duas portas altas e esguias que diziam para o interior da casa,<br />

ficava o piano, um Pleyel novo, muito lustroso, sempre mudo, sobre o qual assentavam<br />

estatuetas de biscuit. À direita, descansando sobre grandes pregos dourados, o retrato a óleo<br />

do coronel com sua barba em ponta, olhava para o piano, muito sério, em simetria com o da<br />

a esposa.<br />

esquerda.<br />

O corredor da entrada separava a sala de visitas do gabinete do Zuza, que ficava à<br />

⎯ “Não faltava mais nada!” repetia mentalmente o coronel estendido na<br />

espreguiçadeira de lona, pernas trançadas, defronte da varanda, aparando as unhas.<br />

Em casa usava calças brancas , paletó de seda amarelo e sapatos de entrada baixa<br />

com flores no rosto de lã.<br />

Era hora do almoço, o Zuza não devia tardar. Ia falar-lhe decididamente; aquela<br />

história do namoro não lhe cheirava bem. Talvez o filho tivesse mesmo a estroinice pueril<br />

de desfrutar a rapariga.<br />

Daí a pouco entrou o estudante Vinha muito jovial, cantarolando o Bocácio:<br />

Si acaso algum de nós<br />

tiver por sina atróz<br />

mulher que se não cale<br />

que a toda hora fale...<br />

E repetia muito alegre:<br />

⎯ Trá, lá, lá, lá...<br />

⎯ Vens, muito alegre, hein, meu filho? interrompeu o coronel da sala.<br />

Zuza tinha entrado para o gabinete e começava a despir-se<br />

⎯ Ah! meu pai estava aí?

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