A Normalista Adolfo Caminha - PSB
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saber o que fizesse. Mas o víspora continuava animado e ela pode cautelosamente guardar o<br />
objeto querido, pretextando sede e levantado-se para beber água no interior da casa.<br />
Guardou-o nem guardado, no fundo de uma caixinha de fitas, sem ler, e voltou<br />
imediatamente ao seu lugar com um alívio, muito lépida.<br />
Quando o amanuense entro a esbravejar contra o Zuza, esmurrando a mesa, batendo<br />
portas, colérico, medonho, Maria ficou lívida! Tá, tá, tá, tá, ia tudo águas abaixo, o seu<br />
crime ia ser descoberto, não havia fugir. Estava irremediavelmente perdida! Enfiou pelo<br />
corredor com as mãos na cabeça, aflita. Decididamente o padrinho ia expulsá-la de casa...<br />
seu primeiro ímpeto foi voltar, atirar-se aos pés de João da Mata e pedir-lhe, suplicar-lhe<br />
por amor de Deus, por quem era, que a perdoasse, que fora uma fraqueza, uma criancice...<br />
Isto, porém, seria complicar a situação, confessar-se culpada, entregar-se à cólera do<br />
amanuense. E ao sentar-se à mesa de jantar foi acometida por uma convulsão de choro<br />
mudo, com a cabeça entre as mãos, cotovelos fincados na mesa, olhos fixos na luz<br />
moribunda da velinha de carnaúba.<br />
O padrinho berrou, jurou acabar com a “bandalheira”, disse horrores do Zuza, e,<br />
afinal, que felicidade para a rapariga! foi se deitar com a mulher. Maria suspirou forte como<br />
se lhe tivessem tirado um grande peso do coração; e agora, só no seu quarto, lia e relia a<br />
carta do acadêmico, muito à fresca, sentindo um bem estar na sua rede de varandas, branca<br />
e sarapintada de encarnado.<br />
Fazia calor.<br />
Maria costumava dormir com a vela acesa, numa palmatória de flandres. Noutro<br />
quarto, defronte, ressonava a cozinheira, uma retirante velha, chamada Mariana, e, no<br />
corredor, o Sultão abanava as orelhas sacudindo as pulgas. De quando em quando havia um<br />
barulho d’asas na sala de jantar: era a sabiá debatendo-se na gaiola, assombrada.<br />
Agora, sim, Maria estava só, completamente só, podia ler à vontade, uma, duas,<br />
três... quantas vezes quisesse, a carta do Zuza. Nada como a noite para os namorados! Era<br />
só quando ela gozava a sua liberdade, à noite, no seu quarto, em camisa, fazendo o que bem<br />
entendesse...<br />
“Minha senhora”, dizia o futuro bacharel muito respeitoso. “Tomo a liberdade de<br />
me dirigir a V. Excia. confiado na sua infinita bondade, nessa bondade que se revela em