A Normalista Adolfo Caminha - PSB
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D. Amélia queixou-se do marido: um homem sem gosto, um mosca-morta, muito<br />
desleixado, com venetas de doido. Ela até já se aborrecia, porque o Mendes tinha o mau<br />
costume de beber aguardente; às vezes chegava tropeçando, com a língua pegada, sem<br />
poder falar. Vestidos ela via-os de ano em ano. Um indiferente, o Mendes. Sofria de uma<br />
erisipela na perna direita que o proibia de trabalhar meses inteiros...<br />
⎯ Pois olha, disse D. Terezinha, o meu faz-me as vontades, mesmo porque eu não<br />
sou mulher de muitos me-deixes. Todos os meses é p’r’ali um vestido. Diabo é quem os<br />
poupa! Também, minha filha, dou-lhe toda a liberdade, fora e dentro de casa. Felizmente<br />
não tenho queixa dele.<br />
moda.<br />
Lídia pediu a D. Amélia que tocasse alguma coisa, a Juanita, que era a valsa da<br />
A propósito D. Amélia perguntou se já tinham ido ao teatro. Que fossem, que<br />
fossem. O grupo lírico da Naghel estava fazendo sucesso. A Bellegrandi era um mulherão<br />
capaz de arrebatar uma platéia inteira! Que modos, que requebros! Domingo ia a Juanita<br />
pela última vez em benefício da Aliverti. Que fossem. Era uma opereta interessantíssima,<br />
por sinal tinha sido representada cem vezes na Corte! A beneficiada ia fazer o papel de<br />
Juanita.<br />
⎯ Eu é para que tenho jeito, atalhou a Campelinho, é para o teatro. Deve ser uma<br />
vida tão cheia de sensações a das atrizes... Vestem-se de todas as formas, recebem presentes<br />
ricos, jóias, anéis de brilhante... são aplaudidas e ainda por cima ganham dinheiro à ufa. Eu<br />
já disse à mamãe, mas ela não quer por coisa alguma, diz que é uma vida imoral... Tolice!<br />
Há tanta gente boa nos teatros... A última vez que fui ao circo fiquei encantada pela Estrela<br />
do Mar.<br />
⎯ É o que você pensa, menina, disse D. Amélia. Essas pobres mulheres fazem um<br />
ror de sacrifícios... Sabe Deus quanto lhes custa uma noite de espetáculo! Acabam quase<br />
sempre miseráveis, coitadas, nalgum quarto d’hotel, a esmolas. Enquanto são moças ainda,<br />
ainda encontram quem lhes estenda a mão, porém, depois, morrem p’r’aí em qualquer<br />
pocilga, sem um real para a mortalha. Tibis, menina, nem se lembre de tal coisa!<br />
Maria, a um canto do sofá, pensava no estudante, perdida num labirinto de<br />
reflexões, com uma languidez no olhar vago. O Zuza preocupava-a como um sonho d’ouro.<br />
Começava a sentir o que nunca sentira por homem algum, certo desejo de ter um marido a