A Normalista Adolfo Caminha - PSB
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No porto havia grande lufa-lufa de gente que embarcava e desembarcava<br />
simultaneamente, bracejando, falando alto. A maré d’enchente crispada pela ventania de<br />
sudoeste, num contínuo vaivém, alagava o areal seco e faiscante. Muita gente ao embarque<br />
do Conselheiro. Curiosos de todas as classes, trabalhadores aduaneiros de jaqueta azul,<br />
guardas d’Alfândega e oficiais de descarga com ar autoritário, de fardeta e boné,<br />
marinheiros da Capitania, confundiam-se numa promiscuidade interessante. Jangadeiros<br />
arregaçados até aos joelhos, chapéu de palha de carnaúba, mostrando o peito robusto e<br />
cabeludo, iam armando a vela às jangadas. A cada fluxo do mar havia gritos e assobios. Um<br />
alvoroço! Jangadas iam e vinham em direção ao nacional que tombava como um ébrio<br />
aproado ao vento. Apenas quatro navios mercantes fundeados e uma canhoneira argentina.<br />
Reluzia em caracteres garrafais, pintadinhos de fresco na popa d’uma barca italiana ⎯<br />
“Civita Vecchia”.<br />
O vapor apitou pedindo mala. Era uma maçada ir à bordo com a maré cheia e um<br />
vento como aquele. Demais o sol estava de rachar. Um carro parou à porta da Escola de<br />
Aprendizes de Marinheiros: era o Conselheiro, metido numa sobrecasaca muito comprida,<br />
cheio de atenções. Já o esperavam os amigos receosos de que o vapor suspendesse sem “o<br />
homem”.<br />
A música da Polícia, formada à porta do quartel, gaguejou o Hino Nacional e o<br />
Conselheiro, cheio de si, cortejando à direita e à esquerda, muito ancho, seguiu a tomar o<br />
escaler d’Alfândega.<br />
⎯ Pílulas! fez João da Mata limpando a testa. Não vale a pena a gente se sacrificar<br />
com um calor d’este!<br />
Lá adiante encontrou o Loureiro que vinha de despachar uma fatura no Trapiche,<br />
muito apressado com sua calça branca lustrosa de gome sem uma dobra.<br />
⎯ Por ali?<br />
⎯ É verdade, tinha ido a negócio.<br />
⎯ Que há de novo? tornou o Loureiro.<br />
⎯ Nada. Vou aqui ao embarque do Conselheiro.<br />
⎯ Hás de ganhar muito com isto...<br />
⎯ Que queres, filho? A política, a política...