A Normalista Adolfo Caminha - PSB
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de Freitas. O Zuza emporcalha papel ⎯ nada mais. Aquilo só presta mesmo para capacho<br />
do presidente.<br />
A conversa encaminhou-se para a política e João da Mata tomou a palavra. ⎯ Que a<br />
política era a desgraça do Ceará; que estava cansado de trabalhar gratuitamente para a<br />
política. O que queria agora era dinheiro para acabar de levantar uma casinha no Outeiro.<br />
⎯ E que tal o presidente? perguntou o Perneta. Acha que fará alguma coisa em<br />
benefício do Ceará?<br />
⎯ Homem, como sabes, eu sou governista, porque infelizmente sou funcionário<br />
público, mas entendo que o Sr. Dr. Carlos é um grandíssimo pândego.<br />
E noutro tom, limpando os óculos:<br />
⎯ Nós precisamos é de homens sérios, seu Perneta, nós queremos gente séria!<br />
Contou então que na seca tinha ganho muito dinheiro à custa dos cofres públicos;<br />
que fora comissário de socorros, e que os presidentes do Ceará eram uns urubus que<br />
vinham beber o sangue ao emigrante cearense.<br />
Tinha assistido a muita ladroeira na seca de 77.<br />
⎯ Aqui p’ra nós, acrescentou cauteloso, abaixando a voz, o atual presidente não é<br />
⎯ justiça lhe seja ⎯ um homem sem juízo, um idiota, um leigo, mas, a continuar como<br />
vai, forçando a emigração para o sul, dentro em pouco transforma esta terra numa espécie<br />
de feitoria de S. Paulo. É embarcar muita gente para o sul, seu compadre! Já lá foram<br />
quatorze mil e tantos! Isso é despovoar p Ceará, isto é fazer pouco caso do Ceará, c’os<br />
diabos!<br />
⎯ É bem feito! disse o Perneta, é muito bem feito para não sermos bestas. Isto é<br />
uma terra em que os estranhos fazem o que querem e ninguém protesta, ninguém reage.<br />
Nós só sabemos ser maus para os nossos patrícios.<br />
⎯ Mas olha que o Cearense tem comido o couro ao homem...<br />
⎯ Qual comido o couro! O povo é que devia dar uma lição de mestre ao governo, a<br />
este governo sem patriotismo e sem critério! E com esta me vou, que isso de política fede...<br />
Queres mais alguma coisa?<br />
erguendo-se:<br />
⎯ Olha que demos cabo d’uma garrafa! Nem mais uma gota. Que horas tens?<br />
O outro puxou um relógio de plaquê desbotado, dentro d’uma capa de camurça, e,