A Normalista Adolfo Caminha - PSB
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Achava a Teté uma mulher gasta: queria uma rapariga nova e fresca, cheirando a<br />
leite, sem pecados torpes, a quem ele pudesse ensinar certos segredos do amor,<br />
ocultamente, sem que ninguém soubesse... Estava farto do “amor conjugal”. Nunca<br />
experimentara o contato aveludado do corpo de uma mulher educada, virgem das<br />
impurezas do século. E quem melhor do que Maria do Carmo, uma normalista exemplar e<br />
recatada, poderia satisfazer os caprichos de seu temperamento impetuoso? Era sua afilhada,<br />
mas, adeus! não havia ente ele e a menina o menor grau de consangüinidade, portanto, não<br />
podia haver crime nas suas intenções... Si Maria houvesse de cair nas garras de algum<br />
bacharelete safado, fosse ele, João da Mata, o primeiro a abrir caminho.<br />
Demais, argumentava de si para si, podia arranjar tudo sem que ninguém soubesse.<br />
O segredo ficaria entre ele e a afilhada, inviolável como a sepultura de um santo...<br />
E ia parafusando um meio simples e natural de conquistar o coração de Maria. ⎯<br />
Toda a questão era de oportunidade.<br />
Àquela hora a normalista arrastava ao piano a valsa Minha esperança, cuja cadência<br />
punha uma monotonia irritante na quietação morna da rua do Trilho.<br />
4<br />
O futuro bacharel em leis, ou simplesmente o Zuza, como era conhecido em<br />
Fortaleza o filho do coronel Souza Nunes, passava uma vida regalada, usufruindo<br />
largamente a fortuna do pai avaliada em cerca e cem contos de réis. O coronel franqueava a<br />
burra ao filho com uma generosidade verdadeiramente paternal. Queria-o assim mesmo<br />
com todas as suas manias aristocráticas e afidalgadas, com os seus gestos elegantes,<br />
arrostando grandeza e bom gosto, tal qual o presidente da província de quem se dizia<br />
amigo.<br />
⎯ “Cada qual com seu igual”, doutrinava o coronel. O que não admitia é que o<br />
filho se metesse com gente de laia ruim, que ele, coronel, nunca descera de sua dignidade<br />
para tirar o chapéu ou apertar a mão a indivíduos que não tivessem uma posição social<br />
definida. Aprendera isso em pequeno com o pai, o finado desembargador Souza Nunes,<br />
homem de costumes severos que sabia dar aos filhos uma educação esmerada, quase