01. Elementos para uma Crítica de Tradução e Paratradução - USP
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existe <strong>uma</strong> multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos <strong>para</strong>tradutivos e i<strong>de</strong>ológicos<br />
que influem tanto na estética como também na própria<br />
realização da tradução.<br />
Esses <strong>para</strong>textos e ferramentas da tradução são apreendidos<br />
e aplicados por <strong>uma</strong> estética tradutiva que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, por<br />
exemplo, da cultura leitora, da experiência, da sensibilida<strong>de</strong> ou<br />
da inteligência criadora <strong>de</strong> T. Essas entretecem-se com as exigências,<br />
não precisamente <strong>de</strong> um público leitor, mas sobretudo<br />
<strong>de</strong> <strong>uma</strong> política editorial e econômica, <strong>de</strong> socioletos e idioletos<br />
concretos que, assim, selecionam o que se traduz, influenciando<br />
a forma como se traduz. Desse modo, estamos lidando com um<br />
período <strong>de</strong> processamento muito concreto e limitável em relação<br />
a tais influências, um momento que Nouss <strong>de</strong>signa com o termo<br />
text traductif: “une forme textuelle en mouvement, en tension,<br />
une textualité dialectique qui unirait le texte <strong>de</strong> départ et le texte<br />
d´arrivée“ (1998:2). Ao meu ver, “forma textual” aqui também<br />
<strong>de</strong>ve significar “forma cultural, estética ou i<strong>de</strong>ológica”.<br />
Em termos <strong>de</strong> metaforicida<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnista, até po<strong>de</strong>ríamos<br />
com<strong>para</strong>r esse processamento <strong>de</strong> influências com a imagem do<br />
“foco dinamogêneo”, empregada por Álvaro <strong>de</strong> Campos <strong>para</strong> <strong>de</strong>screver<br />
o/a artista não-aristotélico/a, que “subordina tudo à sua<br />
sensibilida<strong>de</strong>, converte tudo em substância <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>, <strong>para</strong><br />
assim [...] se tornar um foco emissor abstracto sensível que force<br />
os outros, queiram eles ou não, a sentir o que ele sentiu“<br />
(Campos, Estética:233). A estética da tradução (ET), da qual se<br />
serve tal “foco dinamogêneo” é <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> s<strong>uma</strong> das IP relacionadas<br />
com o TP que inci<strong>de</strong> sobre a ‘sensibilida<strong>de</strong>’ <strong>de</strong> T (apesar<br />
<strong>de</strong> que esta, no mo<strong>de</strong>rnismo, ainda se formule sob <strong>uma</strong><br />
posição marcadamente individualista e elitista), e que hão <strong>de</strong><br />
condicionar a IC e o TC. Essa confluência também permite entrever<br />
na entida<strong>de</strong> tradutiva aquela alterida<strong>de</strong> n<strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>,<br />
que <strong>de</strong>stacara Henri Meschonnic (1990), porque quem fala no<br />
TC não é um sujeito tradutor nem um original imobilizado. Paralelamente,<br />
a ET também po<strong>de</strong>ria ser entendida como <strong>uma</strong> espécie<br />
<strong>de</strong> metatexto da tradução, que acompanha e guia um/a<br />
tradutor/a na prática e que <strong>de</strong>termina o que se eli<strong>de</strong>, o que se<br />
atenua, etc. – um metatexto que também condiciona o que o/a<br />
tradutor/a pensa que o público leitor <strong>de</strong>ve receber da CP (cf.<br />
TRADTERM, 14, 2008, p. 15-49