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01. Elementos para uma Crítica de Tradução e Paratradução - USP

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idéias radicais <strong>de</strong> Marinetti e das vanguardas européias em geral.<br />

A tensão entre alterida<strong>de</strong> e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, entre <strong>de</strong>pendência<br />

imagológica e criativida<strong>de</strong> própria, é resolvida no “Manifesto”<br />

através <strong>de</strong> <strong>uma</strong> “transformação permanente do tabu em totem”.<br />

O tabu, nesse caso, a antropofagia, representa a intraduzibilida<strong>de</strong><br />

do sagrado; ou seja, a i<strong>de</strong>ologia metafísica e essencialista.<br />

Ao mesmo tempo, a sua transformação em totem simboliza<br />

o processo <strong>de</strong> transcriação (a tal Umdichtung <strong>de</strong> Benjamin). Andra<strong>de</strong><br />

elabora <strong>uma</strong> nova constelação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>-alterida<strong>de</strong> a<br />

partir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tradução praticamente “interlineal” (Benjamin) do<br />

texto i<strong>de</strong>ológico da antropofagia; melhor, da transformação do<br />

alheio em próprio, da i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> partida em i<strong>de</strong>ologia <strong>de</strong> chegada.<br />

Nesse processo, a IP fica atenuada no que diz respeito ao<br />

nível físico da violência ritual, neutralizando aqueles componentes<br />

cuja incomensurabilida<strong>de</strong> se torna psicologicamente inquietante<br />

(o que Freud <strong>de</strong>nominava Unheimlich) <strong>para</strong> a visão do<br />

mundo oci<strong>de</strong>ntal. O ato <strong>de</strong> trinchar e ingerir carne h<strong>uma</strong>na como<br />

resultado <strong>de</strong> um pensamento animista confrontou a civilização<br />

oci<strong>de</strong>ntal com a própria ‘origem’: “o caráter do inquietante indica<br />

algo antigo e bem familiar que tem sido reprimido” (Freud,<br />

1921:468, trad. nossa). Posteriormente, a opacida<strong>de</strong> da linguagem<br />

mo<strong>de</strong>rnista <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, com a sua <strong>para</strong>doxal convivência<br />

<strong>de</strong> empréstimos e refutações do discurso freudiano, escon<strong>de</strong>ria<br />

<strong>uma</strong> sublimação cultural <strong>de</strong>sta Unheimlichkeit no rito antropófago<br />

através d<strong>uma</strong> idéia estética da vida. Tal sublimação também<br />

foi um processo <strong>de</strong> tradução, e as idéias estéticas<br />

relacionadas constituem o seu principal contexto <strong>para</strong>tradutivo.<br />

<strong>Crítica</strong> <strong>para</strong>/tradutiva <strong>de</strong> Carl Einstein e Álvaro <strong>de</strong><br />

Campos<br />

É interessante contrastar a tradução da antropofagia, no<br />

contexto mo<strong>de</strong>rnista brasileiro, com duas transferências i<strong>de</strong>ológicas<br />

que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>radas fundamentais <strong>para</strong> a constituição<br />

<strong>de</strong> certos âmbitos e aspectos do mo<strong>de</strong>rnismo europeu e<br />

da sua <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> processos <strong>para</strong>/tradutivos complexos.<br />

Escolhemos dois representantes <strong>de</strong> correntes <strong>de</strong> vanguarda na<br />

TRADTERM, 14, 2008, p. 15-49

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