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01. Elementos para uma Crítica de Tradução e Paratradução - USP

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te, trataram <strong>de</strong> <strong>de</strong>sfazer a utopia do eu, seja ela romântica ou<br />

racionalista, em coerência com as suas interpretações da recente<br />

evolução científica e das condições da vida mo<strong>de</strong>rna. Pessoa<br />

fingiu personalida<strong>de</strong>s literárias contraditórias – especificando e<br />

intensificando o credo whitmaniano <strong>de</strong> “I am large, I contain<br />

multitu<strong>de</strong>s” (Leaves, 1973:88) –, enquanto Einstein pretendia<br />

dissolver o eu a partir do abandono <strong>de</strong> todos os tópicos e <strong>de</strong><br />

todas as idéias adquiridas. Essa intenção programática da dissolução<br />

da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do sujeito mo<strong>de</strong>rno, <strong>para</strong> atingir a percepção<br />

<strong>de</strong> novas realida<strong>de</strong>s e <strong>para</strong> criar novos conteúdos<br />

artísticos, ainda não estava prevista nem na consubstanciação<br />

panteísta do eu whitmaniano com Deus, Natureza e Mundo, nem<br />

na integração <strong>de</strong> movimento e espaço, <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> e espiritualida<strong>de</strong><br />

da escultura africana. Esses são, assim, os principais espaços<br />

transcriativos das respectivas <strong>para</strong>/traduções dos dois<br />

mo<strong>de</strong>rnistas.<br />

Além <strong>de</strong> verificar <strong>uma</strong> domesticação ou estrangeirização<br />

técnico-formais dos conteúdos i<strong>de</strong>ológico-estéticos da CP, seria<br />

importante <strong>de</strong>screver essas traduções culturais também como<br />

atos <strong>de</strong> canibalização i<strong>de</strong>ológica, no sentido da antropofagia <strong>de</strong><br />

Oswald <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, ou seja, como ‘digestões’ estético-intelectuais<br />

daqueles elementos da IP consi<strong>de</strong>rados proveitosos <strong>para</strong> a<br />

IC. Esse tipo <strong>de</strong> assimilação é um dos três processos básicos <strong>de</strong><br />

todo o contato cultural (juntamente com os mecanismos da rejeição<br />

e da indiferença), e que se oferece, assim, <strong>para</strong> servir como<br />

técnica (intenção) universal da tradução e <strong>para</strong>tradução. A partir<br />

da idéia <strong>de</strong> <strong>uma</strong> antropofagia i<strong>de</strong>ológica, também po<strong>de</strong>mos<br />

interpretar o conceito do “genético” que Einstein vê inerente à<br />

arte oci<strong>de</strong>ntal, significando com esse termo o “ponto <strong>de</strong> vista do<br />

observador”, que ele via confundido com a “imitação da natureza<br />

exterior” (Werke:95, trad. nossa). No capítulo “Perspectiva<br />

cúbica do espaço”, em Escultura Negra, Einstein argumentou a<br />

indispensável substituição <strong>de</strong>sse discurso mimético por <strong>uma</strong><br />

teoria cultural capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstruir a perspectiva<br />

antropocêntrica da arte oci<strong>de</strong>ntal: o “equivalente precisa ser total<br />

<strong>para</strong> que a obra <strong>de</strong> arte não possa ser sentida como a equação<br />

<strong>de</strong> diferentes inclinações h<strong>uma</strong>nas, mas sim como algo<br />

completo, autônomo, fora <strong>de</strong> todos os condicionamentos”<br />

(Werke:95, trad. nossa).<br />

TRADTERM, 14, 2008, p. 15-49

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