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Graciliano ramos - vidas secas (livro completo)

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é o sentimento dominante nos personagens mais característicos<br />

do Sr. <strong>Graciliano</strong> Ramos.<br />

Na forma de Angústia, o egoísmo do personagem principal se<br />

afirma pela concentração do romance em sua própria pessoa.<br />

Luís da Silva é todo o romance Angústia. Contando a sua<br />

história, Luís da Silva absorve-a em si mesmo. O romance<br />

toma, por isso, a forma e as dimensões do seu espírito. Tomase<br />

um diário que o personagem escreve posteriormente. A sua<br />

memória se desdobra em ziguezague e a narração romanesca<br />

acompanha fielmente esse ziguezague da memória de Luís da<br />

Silva. O seu método é o da confissão psicanalítica: uma<br />

palavra que explica outra, um pensamento que esclarece outro.<br />

E também o da associação das idéias: uma idéia que atrai<br />

outra idéia, uma lembrança que sugere outra lembrança. Luís<br />

da Silva não vive senão da sua memória e da sua imaginação.<br />

Mas a sua própria imaginação, no romance, constitui um<br />

resultado da memória, Luís da Silva conta o que imaginou<br />

anteriormente, a sua imaginação já se tornou um fato do<br />

passado, um patrimônio da memória.<br />

Observa-se, por isso, que a veridicidade do romance do Sr.<br />

<strong>Graciliano</strong> Ramos é uma realidade estática, não dinâmica.<br />

Dinâmica, por exemplo,, é a realidade romanesca de<br />

Dostoievski. A do Sr. <strong>Graciliano</strong> Ramos, porém, nunca será<br />

desta categoria, porque ele é um racionalista, um analista,<br />

um frio experimentador. A sua raça é a de Stendhal, nunca a<br />

de um Dostoievski. Por isso é que do seu romance se depreende<br />

mais a "história" de uma angústia do que a "angústia" em si<br />

mesma. Uma angústia racionalizada e histórica, não uma<br />

angústia natural e presente. O estado de delírio, de<br />

exaltação, de demonismo, o estado dionisíaco capaz de<br />

exprimir a angústia - este não será nunca o do Sr. <strong>Graciliano</strong><br />

Ramos. O seu estado pode-se definir como o do historiador da<br />

angústia.<br />

Um estado de razão, de lucidez, de sobriedade. O critério que<br />

preside a sua obra é um critério de inteligência; a sua<br />

potência é cerebral e abstrata. Não sei, por isso, que<br />

misteriosa intuição para se definir levou o Sr. <strong>Graciliano</strong><br />

Ramos a escolher o título Vidas Secas para um de seus<br />

romances. Sem dúvida, todos os seus personagens são de fato<br />

"<strong>vidas</strong> <strong>secas</strong>". Os seus personagens e este estilo em que<br />

se exprime o romancista.<br />

Admirável estilo de concisão, unidade entre as palavras e<br />

os seus sentidos, rígido ascetismo tanto na narração como nos<br />

diálogos, rápidos, exatos, precisos. Diálogos e narração que<br />

fazem do Sr. <strong>Graciliano</strong> Ramos um mestre do seu ofício de<br />

romancista. Um mestre da arte de escrever, acrescento, sem<br />

nenhum medo de estar errando.

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