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o serviço social no nasf - Unijuí

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g!<br />

UNIJUÍ – UNIVERSIDADE DO NOROESTE DO ESTADO<br />

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS<br />

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL<br />

RÚBIA DENISE DA FONSECA DA SILVA<br />

O SERVIÇO SOCIAL NO NASF:<br />

As contribuições do trabalho do Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio<br />

às Unidades Básicas de Saúde realizado pelo NASF de Ijuí<br />

Ijuí<br />

2012


RÚBIA DENISE DA FONSECA DA SILVA<br />

O SERVIÇO SOCIAL NO NASF:<br />

As contribuições do trabalho do Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio<br />

às Unidades Básicas de Saúde realizado pelo NASF de Ijuí<br />

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à<br />

Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio<br />

Grande do Sul - <strong>Unijuí</strong>, como requisito parcial para a<br />

obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.<br />

Orientador: Prof. Ms. José Wesley Ferreira<br />

Ijuí<br />

2012


RÚBIA DENISE DA FONSECA DA SILVA<br />

O SERVIÇO SOCIAL NO NASF:<br />

As contribuições do trabalho do Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio às<br />

Unidades Básicas de Saúde realizado pelo NASF de Ijuí<br />

Esta mo<strong>no</strong>grafia foi julgada adequada à obtenção do<br />

título de Bacharel em Serviço Social e aprovada em sua<br />

forma final pelo Curso de Graduação em Serviço Social<br />

– Bacharelado, da Universidade Regional do Noroeste<br />

do Estado do Rio Grande do Sul.<br />

Ijuí, março de 2012.<br />

___________________________<br />

Professora arguidora<br />

Ms Solange dos Santos Silva<br />

Universidade do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul


DEDICATÓRIA<br />

Dedico este trabalho aos meus pais, Ângela e<br />

José; aos meus irmãos; a minha avó; e em<br />

especial, meu tio Joel, pelo incentivo.<br />

Aos meus afilhados Juan e João por<br />

compreender os momentos em que precisei<br />

estar ausente.<br />

Também dedico este trabalho a um amor,<br />

primeiro, único e verdadeiro amor!<br />

Londrina, _____de ___________de 20___.


AGRADECIMENTOS<br />

Em primeiro lugar agradeço a Deus pela vida e por estar sempre comigo,<br />

me conduzindo sempre para o melhor caminho, guiando meus passos em busca dos<br />

meus sonhos. DEUS, muito obrigado!<br />

Chego até aqui com a sensação de objetivo alcançado e sonho realizado,<br />

por isso ao termi<strong>no</strong> dessa jornada agradeço a todos aqueles que em mim<br />

acreditaram e por isso fizeram a diferença em meu caminho, que sempre me<br />

incentivaram e colaboraram em minha trajetória.<br />

Agradeço a todos os meus familiares pelo apoio e incentivo, em especial<br />

meus pais, minha avó e meu tio Joel, o qual nunca me desamparou em momento<br />

algum, a você, MUITO OBRIGADA!<br />

Aos mestres com carinho, pelo ensi<strong>no</strong>, pela sabedoria, em especial ao<br />

meu orientador José Wesley Ferreira e a minha supervisora, Assistente Social<br />

Cristiane Barasuol: ambos pela paciência, dedicação, compreensão, carinho e<br />

competência dispensadas para concretização deste estudo.<br />

À professora Solange dos Santos Silva, por aceitar o convite para<br />

participar da banca deste trabalho.<br />

Agradeço à administração da Secretaria Municipal de Saúde, que me<br />

oportunizou a realização do estágio, em especial as minhas colegas de <strong>serviço</strong><br />

Sandra e Fabiana pela compreensão, carinho e amizade dispensados <strong>no</strong>s<br />

momentos conturbados durante o processo de estágio.<br />

O meu muito obrigado aos meus amigos Paula, Maria e (família) e<br />

Lisiane; dos quais me distanciei, não por vontade, mas por ser necessário: muito<br />

obrigado pelo apoio, amizade e pela palavra certa em muitos momentos que<br />

precisei.<br />

Enfim, obrigado a todos vocês que fizeram a diferença na minha vida.


Nunca Deixe de Sonhar<br />

(Música do Grupo KLB)<br />

Há uma luz, em algum lugar,<br />

Que vai fazer seu sonho se realizar<br />

É só você, acreditar<br />

Que uma <strong>no</strong>va estrela vai poder brilhar<br />

Algo em você vai despertar,<br />

Não duvide nunca, você vai chegar,<br />

Nunca deixe de sonhar.<br />

Há uma luz que não se vê<br />

Brilha o tempo todo dentro de você<br />

Há uma luz, em algum lugar<br />

Que vai fazer seu sonho se realizar<br />

Está além do sol ou além do mar<br />

Bem além do tempo, sei que há um lugar<br />

Onde eu quero ir, onde eu quero estar<br />

Ver a fantasia se realizar


SILVA, Rúbia Denise da Fonseca da. O Serviço Social <strong>no</strong> NASF: as contribuições<br />

do trabalho do Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio nas Unidades Básicas de<br />

Saúde realizada pelo NASF de Ijuí. 2012. 53 folhas. Trabalho de Conclusão do<br />

Curso de Serviço Social – Bacharelado. Departamento de Ciências Sociais e<br />

Jurídicas, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul –<br />

UNIJUÍ, Ijuí, 2012.<br />

RESUMO<br />

Este estudo discute as contribuições do trabalho do assistente <strong>social</strong> <strong>no</strong> processo de<br />

apoio realizado pelo Núcleo de Apoio a saúde da Família/NASF de Ijuí às Unidades<br />

Básicas de Saúde/UBS desse município. O objetivo geral dessa pesquisa foi<br />

desvendar como a ação profissional dos assistentes sociais pode contribuir com o<br />

processo de apoio realizado pelo NASF às UBS de Ijuí, com a finalidade de dar<br />

visibilidade para a importância da atuação do <strong>serviço</strong> <strong>social</strong> nesse espaço sócioocupacional<br />

e de oferecer subsídios que contribuam com essa intervenção. A<br />

pesquisa realizada foi do tipo qualitativa, foi utilizada a entrevista semi-estruturada<br />

para coleta de informações, e a técnica de análise de conteúdo para o processo<br />

analítico. Os sujeitos entrevistados foram oito profissionais da saúde que atuam em<br />

Ijuí, sendo três profissionais que atuam <strong>no</strong> NASF e cinco que atuam nas UBS. Os<br />

resultados do estudo evidenciam que os assistentes sociais contribuem com sua<br />

visão abrangente dos fenôme<strong>no</strong>s sociais, com seu conhecimento da rede de<br />

atendimento e dos direitos sociais e com o trabalho coletivo em equipe, também se<br />

evidenciou que os profissionais das ESF julgam grande importância as contribuições<br />

do assistente <strong>social</strong> <strong>no</strong> processo de apoio, porém eles não entendem a lógica de<br />

atendimento do NASF.<br />

Palavras-chave: Assistente Social. Saúde. NASF.


SILVA, Rúbia Denise da Fonseca da. The Social Work in NASF: the contributions<br />

of the work of the Social Worker in the support process in the Basic Health Units held<br />

by the NASF Ijuí. 2012. 53 folhas. Trabalho de Conclusão do Curso de Serviço<br />

Social – Bacharelado. Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas, Universidade<br />

Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, Ijuí, 2012.<br />

ABSTRACT<br />

This study discusses the contributions of <strong>social</strong> work in the support process<br />

conducted by the Center for Support of Family Health / NASF Ijuí of the Basic Health<br />

Units / UBS this city. The overall objective of this research was to discover how the<br />

action of professional <strong>social</strong> workers can contribute to the support process conducted<br />

by NASF Ijuí at UBS, in order to give visibility to the importance of <strong>social</strong> service<br />

activities in the socio-occupational and offer subsidies that contribute to this<br />

intervention. The research was a qualitative, we used semi-structured interview to<br />

collect information, and the technique of content analysis to the analytical process.<br />

The subjects were interviewed eight health professionals working in Ijuí, three<br />

professionals working in NASF and five working in UBS. The study results show that<br />

<strong>social</strong> workers contribute their comprehensive view of <strong>social</strong> phe<strong>no</strong>mena, with their<br />

k<strong>no</strong>wledge of the service network and <strong>social</strong> rights and the collective work as a team,<br />

also showed that the FHT professionals deem important contributions <strong>social</strong> Worker<br />

in the support process, but they do <strong>no</strong>t understand the logic of care of NASF.<br />

Key-words: Social Worker. Health NASF.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS<br />

ACS Agente Comunitário de Saúde<br />

APS Atenção Primária à Saúde<br />

CF Constituição Federal<br />

CSU Centro Social Urba<strong>no</strong><br />

EPS Educação Permanente em Saúde<br />

ESF Estratégia de Saúde da Família<br />

LDO Lei de Diretrizes Orçamentárias<br />

LOA Lei Orçamentária Anual<br />

LOS Lei Orgânica da Saúde<br />

NASF Núcleo de Apoio à Saúde da Família<br />

PSF Programa Saúde da Família<br />

SUAS Sistema Único de Assistência Social<br />

SUS Sistema Único de Saúde<br />

UBS Unidade Básica de Saúde


SUMÁRIO<br />

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 10<br />

2 O TRABALHO COMO CATEGORIA ONTOLÓGICA DO SER SOCIAL ............ 12<br />

2.1 A ALIENAÇÃO DO HOMEM NA SOCIEDADE CAPITALISTA ....................... 13<br />

2.2 AS RAÍZES DA QUESTÃO SOCIAL .............................................................. 17<br />

3 A PRÁTICA PROFISSIONAL COMO TRABALHO ............................................ 21<br />

4 O SUS E A ATENÇÃO BÁSICA ......................................................................... 25<br />

5 O NASF E A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE .................................... 29<br />

5.1 O SERVIÇO SOCIAL NO NASF ..................................................................... 32<br />

6 METODOLOGIA ................................................................................................ 35<br />

7 RESULTADOS DA PESQUISA .......................................................................... 38<br />

7.1 APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS PESQUISADOS .................................... 38<br />

7.2 PRIMEIRA QUESTÃO NORTEADORA .......................................................... 39<br />

7.3 SEGUNDA QUESTÃO NORTEADORA ......................................................... 43<br />

8 CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS .................................................................. 49<br />

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51


1 INTRODUÇÃO<br />

A partir da experiência da autora em estágio realizado junto à Secretaria<br />

Municipal da Saúde de Ijuí, optou-se pela realização desse estudo <strong>no</strong> intuito de<br />

compreender as potencialidades do trabalho do assistente <strong>social</strong> <strong>no</strong> processo de<br />

apoio realizado pelo NASF as UBS do referido município.<br />

O presente estudo tem como objetivo desvendar como a ação profissional<br />

dos Assistentes Sociais pode contribuir com o processo de apoio realizado pelo<br />

NASF nas Unidades Básicas de Saúde, com a finalidade de dar visibilidade da<br />

importância da atuação profissional nesse espaço. Os objetivos específicos são: 1)<br />

Identificar como os Assistentes Sociais a partir de sua instrumentalidade contribuem<br />

com a equipe interdisciplinar <strong>no</strong> processo de apoio realizado pelo NASF de Ijuí; 2)<br />

Desvendar como as equipes de Saúde da Família concebem a atuação do<br />

Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio.<br />

Desta forma, este estudo se divide em cinco partes, a saber: 1 – O<br />

trabalho como categoria ontológica do ser <strong>social</strong>; 2 – A prática profissional como<br />

trabalho; 3 – O SUS e a atenção básica; 4 – O NASF e a educação permanente em<br />

saúde; e, por fim, 5 – Resultados da pesquisa.<br />

A primeira parte traz a abordagem da relação entre indivíduo e seu<br />

trabalho, resgatando considerações históricas sobre este último, evidenciando a<br />

categoria do trabalho a partir da teoria marxiana. Neste momento, abordam-se duas<br />

questões importantes: a alienação do homem, provocada por uma sociedade<br />

essencialmente capitalista e, por fim, a questão <strong>social</strong>, surgida em função do<br />

acúmulo de capital.<br />

Em seguida, passa-se à questão da prática profissional do Assistente<br />

Social, evidenciando que, apesar da formação acadêmica e ideológica, preparando<br />

o profissional para tarefas cotidianas voltadas para a questão <strong>social</strong>, a referida<br />

profissão também se encontra atrelada à reprodução do capitalismo, uma vez que o<br />

profissional é empregado, vendendo seu trabalho intelectual e <strong>social</strong> para o<br />

empregador, seja este público ou privado.<br />

A terceira parte evidencia o Sistema Único de Saúde enquanto uma das<br />

principais políticas públicas já implantadas <strong>no</strong> Brasil. Neste sentido, a Atenção<br />

Básica recebe maior destaque, por se tratar de uma face do SUS presente em<br />

praticamente todos os municípios brasileiros. Desta maneira, trata-se da base de<br />

10


atuação do profissional Assistente Social, <strong>no</strong> contexto da saúde pública.<br />

A seguir, trata-se do NASF, propriamente dito, e a necessidade de uma<br />

educação em saúde que seja permanente, uma vez que as mudanças sociais<br />

devem ser compreendidas para que os problemas enfrentados possam vislumbrar<br />

soluções mais eficientes. Neste sentido, aborda-se inclusive a atuação do<br />

profissional Assistente Social, enquanto garantidor de direitos desrespeitados.<br />

Por fim, são apresentados aqui os resultados de pesquisa prática aplicada<br />

junto aos profissionais que atuam <strong>no</strong> NASF e ESF do Centro Social Urba<strong>no</strong>, do<br />

Município de Ijuí. Nesta última parte é possível compreender que a prática<br />

profissional nesta área é bastante diversificada e complexa, pois atua diretamente<br />

com a questão <strong>social</strong>.<br />

11


2 O TRABALHO COMO CATEGORIA ONTOLÓGICA DO SER SOCIAL<br />

O trabalho possui significado histórico-ontológico, constituindo-se como o<br />

intercâmbio orgânico entre o homem e a natureza. É determinante na construção do<br />

ser <strong>social</strong>, marcando a distinção do homem em relação aos demais seres vivos. O<br />

trabalho é, portanto, o principio ontológico constitutivo do ser <strong>social</strong>. É o traço<br />

distintivo primordial da espécie homo sapiens diante dos demais seres vivos. Apenas<br />

o homem tor<strong>no</strong>u-se capaz de estabelecer tal intercâmbio orgânico com a natureza,<br />

<strong>no</strong> sentido de mudar as formas da matéria, transformando-as em produtos com<br />

valores de uso para satisfazer suas necessidades vitais (BARROCO, 2005).<br />

Através do trabalho o homem diferencia-se entre todos os seres da<br />

natureza, adquire a consciência humana, a capacidade de agir com racionalidade e<br />

segurança usando seus sentidos, conhecimentos, habilidades e atitudes para<br />

satisfazer seus objetivos como ser <strong>social</strong>; ou seja, o trabalho permite que o homem<br />

seja sujeito na sua relação com a natureza e com os demais seres sociais<br />

(BARROCO, 2005).<br />

A consciência é a determinação reflexiva da categoria do trabalho, pois<br />

sem ela não há trabalho huma<strong>no</strong>, o que pressupõe a prévia-ideação e contribui para<br />

o desenvolvimento de um complexo lingüístico que habilita o homem a desenvolver<br />

a capacidade de abstração, de comunicação, de articulação da fala, produzindo<br />

formas de interação e cooperação humana (BARROCO, 2005).<br />

O trabalho é o fundamento ontológico <strong>social</strong> do ser <strong>social</strong>; é ele que permite<br />

o desenvolvimento de mediações que instituem a diferencialidade do ser<br />

<strong>social</strong> em face de outros seres da natureza. As mediações, capacidades<br />

essenciais postas em movimento através de sua atividade vital, não são<br />

dadas a ele; são conquistadas <strong>no</strong> processo histórico de sua autoconstrução<br />

pelo trabalho. São elas: a sociabilidade, a consciência, a universalidade e a<br />

liberdade. (BARROCO apud MARX, 2005, pg. 26).<br />

O homem se tor<strong>no</strong>u um ser <strong>social</strong> através do trabalho. Foi a única espécie<br />

que conseguiu evoluir e desenvolver cultura e linguagem, deixando de ser passivo<br />

em relação à natureza, tornando-se sujeito, <strong>social</strong>izando-se e desenvolvendo as<br />

forças produtivas, transformando a natureza através de seu trabalho. Nesse<br />

processo o homem constrói sua capacidade de tomar decisões, superar seus limites,<br />

modificar seus objetivos, desenvolver autoconsciência, autoconfiança,<br />

autodeterminação, concretizando suas escolhas <strong>no</strong>s produtos de seu trabalho<br />

12


(BARROCO, 2001).<br />

O homem cria diversos produtos em sua imaginação antes mesmo de<br />

transformá-los em realidade, direcionando sua atividade na concretização de suas<br />

idéias com a intenção de usá-los para suprir necessidades e desejos. Com esse<br />

objetivo i<strong>no</strong>va na busca constante de aprender (BARROCO, 2005).<br />

Todo trabalho é, de um lado, dispêndio de força humana de trabalho, <strong>no</strong><br />

sentido fisiológico, e, nessa qualidade de trabalho huma<strong>no</strong> igual e abstrato,<br />

cria valor das mercadorias. Todo trabalho, por outro lado, é dispêndio de<br />

força humana de trabalho, sob forma especial, para um determinado fim, e<br />

nessa qualidade de trabalho útil e concreto, produz valores de uso (MARX;<br />

ENGELS, 1989, pg.54).<br />

Barroco (2005) refere que o individuo constitui-se simultaneamente como<br />

um ser genérico e uma expressão singular. O indivíduo passa a reproduzir a si<br />

mesmo, como singularidade e genericidade, por exemplo, quando cria uma obra de<br />

arte o seu interior, a sua subjetividade é modificada, esse processo de criação<br />

influencia a humanidade. É um processo de afirmação das capacidades essenciais<br />

do ser <strong>social</strong>.<br />

São objetivações genéricas aquelas que expressam as conquistas da<br />

humanidade, em termos do que foi construído e valorado como algo que<br />

possibilitou à criatividade, a multiciplidade de gostos e aptidões, a realização<br />

da liberdade, da sociabilidade, da consciência, ou seja, do desenvolvimento<br />

multilateral de todas as capacidades e possibilidades humanas, o que, para<br />

Marx, corresponde à “riqueza humana” (BARROCO, 2001, pg. 32-33).<br />

Portanto, a riqueza humana em toda sua forma é representada pelo seu<br />

valor e se apresenta sob forma objetiva. A riqueza humana é a superação das<br />

carências e capacidades das forças produtivas em que os indivíduos criam um<br />

intercâmbio universal, é o domínio e ple<strong>no</strong> desenvolvimento do homem sobre as<br />

forças da natureza explicitando toda sua criatividade para o desenvolvimento das<br />

forças humanas na qual o homem produz sua própria totalidade (MARX, 2004).<br />

2.1 A ALIENAÇÃO DO HOMEM NA SOCIEDADE CAPITALISTA<br />

No modo de produção capitalista, o trabalhador é separado dos meios de<br />

produção, do planejamento do processo de trabalho e do produto do trabalho, ou<br />

seja, ele está alienado da natureza e da relação com o ser genérico <strong>social</strong> (MARX,<br />

13


2004).<br />

Junto à valorização positiva do trabalho está o presente espírito de uma<br />

valorização positiva de riqueza criada através desse trabalho. No capitalismo<br />

predomina o aspecto abstrato do trabalho, ou seja, os capitalistas como do<strong>no</strong>s dos<br />

meios de produção iniciam o processo produtivo com a finalidade de produzir um<br />

lucro.<br />

Os capitalistas aplicam seu dinheiro em fatores de produção necessários<br />

para produzir mercadorias. Esses fatores de produção dividem-se em capital<br />

constante e variável. O capital constante é formado pelos meios de produção e<br />

matérias primas, já o capital variável constitui-se como a força de trabalho que em<br />

interação com os meios de produção e matérias primas desencadeará na produção<br />

de uma mercadoria (MARX, 2004).<br />

O valor pago pelo burguês para adquirir capital constante é reposto<br />

integralmente, já o valor pago pela força de trabalho é reposto parcialmente, ou seja,<br />

o trabalhador não recebe por todas as horas em que esteve trabalhando. As horas<br />

não pagas ao trabalhador formam a mais valia que é o lucro do capitalista. O preço<br />

da força de trabalho é o montante de dinheiro necessário para suprir a subsistência<br />

do trabalhador e de sua família (MARX, 2004). Para Marx (2004, pg. 160), “a<br />

culminação de tal servidão é que ele só pode manter-se como sujeito físico<br />

enquanto trabalhador e só trabalhador enquanto sujeito físico”.<br />

Segundo Marx (2004), a propriedade privada, a divisão <strong>social</strong> do trabalho<br />

e a troca são características fundamentais da sociedade produtora de mercadorias.<br />

Os produtores independentes dedicam-se à produção de mercadorias: eles<br />

adquirem a força de trabalho, os meios de produção e se apropriam dos resultados<br />

da interação entre esses fatores de produção.<br />

A divisão <strong>social</strong> do trabalho tem como condição prévia o capitalismo, em<br />

uma sociedade onde o indivíduo não tem todas as profissões, por conseqüência, há<br />

necessidades e dependência de reciprocidade, além de troca de mercadorias entre<br />

os indivíduos que adquirem a produção do trabalho uns dos outros, podendo esta<br />

troca gerar injustiças (MARX, 2004).<br />

A troca se faz necessária para a sobrevivência de todos na sociedade<br />

capitalista, e o produto a ser trocado de<strong>no</strong>mina-se como mercadoria. Assim, o<br />

produto do trabalho torna-se uma mercadoria nas condições sociais em que<br />

imperem a propriedade privada, a divisão <strong>social</strong> do trabalho e a troca.<br />

14


O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior<br />

número de bens que produz. Com a valorização do mundo das coisas<br />

aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O<br />

trabalho não produz apenas mercadorias; produz também a si mesmo e ao<br />

trabalhador como uma mercadoria, e justamente na mesma proporção com<br />

que produz bens. (MARX, 2004, pg. 159).<br />

Marx (2004) analisa a mercadoria com duas funções, a de valor de uso e<br />

a de valor de troca. O objeto produzido pelo trabalho, o produto, passa a ser<br />

estranho ao trabalhador que busca <strong>no</strong> trabalho a mera sobrevivência. Já o burguês<br />

inicia o processo produtivo com a finalidade de aumentar seu capital. A relação<br />

trabalho X capital pode ser encarada como um processo ininterrupto que leva o<br />

trabalhador a alienar-se, tornando-se uma força servil continua que é submetida à<br />

necessidade de maior aquisição de capital pelo burguês. Nesse processo quanto<br />

mais objetos o trabalhador produzir, tanto me<strong>no</strong>s ele pode possuir e mais se<br />

submete ao domínio do capital.<br />

A conseqüência dos fatos leva o trabalhador a uma relação estranha com<br />

o trabalho e seu resultante, uma vez que esgota a si mesmo para reproduzir e<br />

fortalecer o ciclo do capital, enfraquecendo seu interior, deixando de pertencer a si<br />

próprio (MARX, 2004).<br />

O trabalhador põe sua vida <strong>no</strong> objeto <strong>no</strong> qual incorpora, então a vida já<br />

não pertence a ele, mas sim ao objeto que adquire independência em relação ao<br />

produto. Quanto mais o trabalhador produz, me<strong>no</strong>s ele vale; quanto mais sofisticado<br />

o produto e as forças produtivas, mais oprimido e desumanizado se torna o<br />

trabalhador. O trabalho é um meio de subsistência, vive-se para trabalhar e trabalha-<br />

se para viver, tirando meios de existência da natureza como agente mecanizado,<br />

sem se importar com sua satisfação interior, servindo a um processo contínuo de<br />

produção de capital (MARX, 2004).<br />

[...] quanto mais o trabalhador produz, tanto me<strong>no</strong>s tem de consumir; quanto<br />

mais valores cria, tanto mais sem valor e mais indig<strong>no</strong> se torna; quanto mais<br />

refinado o seu produto, tanto mais deformado o trabalhador; quanto mais<br />

civilizado o produto tanto mais bárbaro o trabalhador; quanto mais brilhante<br />

e ple<strong>no</strong> de inteligência o trabalho, tanto mais o trabalhador diminui em<br />

inteligência e se torna servo da natureza. (MARX, 2004, pg. 162).<br />

A relação essencial do trabalho <strong>no</strong> modo de produção capitalista está na<br />

produção de mercadorias, assim também se pode deparar com o produto deste<br />

trabalho, que passa a ser alienação, não somente do resultado e sim do processo<br />

15


determinado e constituído pela atividade produtiva.<br />

Em primeiro lugar, o trabalho é exterior ao trabalhador, quer dizer, não<br />

pertence à sua natureza; portanto ele não se afirma <strong>no</strong> trabalho, mas nega<br />

a si mesmo, não se sente bem, mas infeliz, não se desenvolve livremente as<br />

energias físicas e mentais, mas esgota-se fisicamente e arruína o espírito.<br />

Por conseguinte, o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, enquanto<br />

<strong>no</strong> trabalho se sente fora de si. Assim o seu trabalho não é voluntário, mas<br />

imposto, é trabalho forçado (MARX, 2004, pg. 161).<br />

Desta forma <strong>no</strong> trabalho alienado está um trabalhador que cria uma<br />

relação de trabalho com outro homem, que investe na produção com a finalidade de<br />

lucrar, ou seja, o contexto <strong>no</strong> qual o trabalho desenvolve-se gera uma relação<br />

unicamente capitalista, sendo que o lucro constitui o resultado alienado de uma<br />

dependência externa do trabalhador aos do<strong>no</strong>s dos meios de produção (MARX,<br />

2004).<br />

Como mercadoria numa sociedade capitalista o homem é o produto de si<br />

próprio e se obriga a vender a força de trabalho para buscar a subsistência. Nesse<br />

processo produz o lucro para o burguês, se tornando um ser alienado e servil,<br />

explorado eco<strong>no</strong>micamente.<br />

A exploração do homem através do trabalho se faz permanentemente e<br />

continuamente num processo ferrenho criado ao longo do tempo pelo acúmulo de<br />

capital, aumento de escalas de produção com a Revolução Industrial, <strong>no</strong>vas formas<br />

de gestão de negócios e visão sobre o lucro crescente, ficando para o homem<br />

apenas a convicção de que é parte de um processo, como uma máquina ou uma<br />

peça, que pode ser trocada quando convier aos do<strong>no</strong>s de capital para não prejudicar<br />

o insensato ciclo econômico criado (MARX, 2004).<br />

O homem então se organiza em classes para lutar pela igualdade de<br />

condições e pela conquista de melhores condições de vida. Com o progresso criado<br />

por ele mesmo, perde espaço para sua criação. Ao se sentir injustiçado pelas<br />

desigualdades geradas <strong>no</strong> modo de produção capitalista começa a se organizar em<br />

classes para reivindicar melhores condições de vida (NETTO, 2001).<br />

No entanto, a força trabalho nem sempre foi vista como mercadoria. Os<br />

artesões, produtores independentes cujo trabalho manual lhe dava as condições de<br />

ser autô<strong>no</strong>mos eram do<strong>no</strong>s dos seus meios de produção, da matéria prima e do<br />

produto que originava desse trabalho (NETTO, 2001)<br />

Com a expansão do capitalismo, das grandes indústrias e forte<br />

16


concorrência das fábricas, o artesão foi perdendo seu espaço de trabalho para os<br />

endividamentos, restando-lhe a venda de sua força de trabalho, não só sua força<br />

física, mas também seu cérebro criativo. Separada dos meios de produção, a classe<br />

trabalhadora passou a depender da classe capitalista, dos do<strong>no</strong>s das fábricas onde<br />

as vagas de trabalho se acumulavam devido à grande onda produtiva, com baixa<br />

remuneração e longas horas de trabalho. O artesão e os camponeses passaram a<br />

ser assalariados, vendendo o que lhe restava, ou seja, seus músculos e cérebro<br />

(NETTO, 2001).<br />

Nesse contexto, os camponeses passaram a ser explorados pelos<br />

burgueses, determinando a migração de uma grande massa de camponeses para os<br />

centros urba<strong>no</strong>s, aumentando a população proletária e pobre nas cidades. Com a<br />

evolução do capitalismo, os homens desprovidos de meios de produção se tornaram<br />

mais pobres eco<strong>no</strong>micamente e espiritualmente, pois o processo de trabalho<br />

desencadeava desigualdade <strong>social</strong> e embrutecimento huma<strong>no</strong>. Nesta ordem se<br />

multiplicam as expressões da questão <strong>social</strong> oriunda do conflito capital – trabalho e<br />

visíveis nas desigualdades sociais expressas pelas diferenças quanto a<br />

rendimentos, condições de moradia e de consumo dos bens e <strong>serviço</strong>s <strong>social</strong>mente<br />

produzidos.<br />

2.2 AS RAÍZES DA QUESTÃO SOCIAL<br />

A questão <strong>social</strong> surge na terceira década do século XIX, na Europa<br />

Ocidental, através de um fenôme<strong>no</strong> de<strong>no</strong>minado como pauperismo. Desde a<br />

primeira onda industrializante iniciada na Inglaterra <strong>no</strong> século XVIII, o<br />

desenvolvimento do capitalismo foi marcado pela contradição da acumulação de<br />

riqueza pela burguesia simultaneamente com o empobrecimento e o pauperismo da<br />

classe trabalhadora (NETTO, 2001).<br />

A desigualdade <strong>social</strong> já existia antes mesmo da consolidação do<br />

capitalismo. As classes sociais eram polarizadas em patrícios e plebeus, escravos e<br />

proprietários, senhores feudais e servos, etc. No entanto, com o desenvolvimento do<br />

modo de produção capitalista, formou-se uma camada <strong>social</strong> cada vez mais pobre,<br />

concomitantemente com a formação de outra camada cada vez mais rica (NETTO,<br />

2001). No período de desenvolvimento e consolidação do capitalismo, “a pobreza<br />

17


crescia na razão direta em que aumentava a capacidade <strong>social</strong> de produzir riqueza”<br />

(NETTO 2001, pg. 42).<br />

Conforme Netto (2001), quanto mais a sociedade se revelava capaz de<br />

produzir bens e <strong>serviço</strong>s, mais aumentava o contingente de trabalhadores<br />

desprovidos de condições materiais para usufruir desses bens e <strong>serviço</strong>s. Até o<br />

século XVIII a sociedade encontrava-se num estágio de escassez na produção de<br />

bens e <strong>serviço</strong>s, com baixo nível de desenvolvimento de materiais. Com a<br />

Revolução Industrial a produção entrou em ritmo de crescimento, reduzindo a<br />

situação de escassez.<br />

Entretanto, esse crescimento produtivo não era dividido entre os<br />

detentores dos meios de produção e os trabalhadores. O lucro dos burgueses tinha<br />

origem na exploração do trabalhador; portanto, na mesma proporção em que<br />

aumentava a riqueza, intensifica-se também a pobreza visível na situação de<br />

pauperismo na classe trabalhadora. (NETTO, 2001)<br />

O desenvolvimento capitalista produz, compulsoriamente, a “questão <strong>social</strong>”<br />

- diferentes estágios capitalistas produzem diferentes manifestações da<br />

questão <strong>social</strong>; esta não é uma seqüela adjetiva ou transitória do regime do<br />

capital: sua existência e suas manifestações são indissociáveis da dinâmica<br />

especifica do capital tornando potencia <strong>social</strong> dominante. (NETTO, 2001,<br />

pg. 45).<br />

Dos a<strong>no</strong>s sessenta aos setenta, especialmente na Europa Ocidental, o<br />

capitalismo experimentou o que alguns eco<strong>no</strong>mistas franceses chamaram de “as<br />

três décadas gloriosas” onde, em meio a Segunda Guerra Mundial e a um processo<br />

de reconstrução econômica e <strong>social</strong>, o regime capitalista viveu uma larga conjuntura<br />

de crescimento econômico (NETTO, 2001).<br />

Após a segunda guerra mundial, alguns países da Europa criaram o<br />

Welfare State (estado de bem <strong>social</strong>), visto como carro-chefe do capitalismo, com a<br />

intenção de dar conta de algumas necessidades da classe trabalhadora. Porém,<br />

ainda não se alterava a essência exploradora do capitalismo, continuando intensos<br />

os processos de pauperização (NETTO, 2001).<br />

A partir dos a<strong>no</strong>s setenta o capitalismo deixa de se expandir, devido à<br />

redução das taxas de lucros decorrente, dentre outros fatores, da intensificação do<br />

movimento operário, que alcançara significativas vitórias, fazendo com que o capital<br />

respondesse com uma ofensiva política de inicio repressiva de ordem ideológica e<br />

econômica. Conforme (NETTO apud BRAGA, 2001, pg. 47-48):<br />

18


Essa resposta foi de<strong>no</strong>minada de a restauração do capital [...] a conjunção<br />

da “globalização” mais “neoliberalismo” veio para demonstrar aos ingênuos<br />

que o capital não tem nenhum “compromisso <strong>social</strong>”- o seu esforço para<br />

romper com qualquer regulação política, extra-mercado, tem sido coroado<br />

de êxito. Erodiu-se o fundamento do Welfare State em vários países e a<br />

resultante macroscópica <strong>social</strong> saltou a vista: o capitalismo “globalizado”,<br />

“transnacional” e “pós-fordista” desvestiu a pele de cordeiro-e a<br />

intelectualidade acadêmica, a mesma que em boa parcela considerava<br />

MARX o criador de um “paradigma em crise”, descobriu a “<strong>no</strong>va pobreza”,<br />

“os excluídos” etc. em suma descobriu a “<strong>no</strong>va questão <strong>social</strong>”.<br />

Mas essa descoberta deformada de uma <strong>no</strong>va “questão <strong>social</strong>”, nas<br />

condições contemporâneas apontam cada vez mais dificuldades de possibilidades<br />

de reformas <strong>no</strong> interior do regime do capital, uma vez que as relações sociais<br />

apresentam <strong>no</strong>vos dispositivos de exploração e vínculos de solidariedade (NETTO,<br />

2001).<br />

Segundo Netto (2001) não existe uma <strong>no</strong>va questão <strong>social</strong>, o que existe<br />

são <strong>no</strong>vas expressões da questão <strong>social</strong>, emergentes a cada <strong>no</strong>vo estágio do<br />

desenvolvimento intensificado da exploração humana pelo sistema capitalista sem<br />

desconsiderar a forma contemporânea.<br />

[...] precisa levar em conta a complexa totalidade dos sistemas de<br />

mediações em que ela se realiza. Sistemas <strong>no</strong>s quais, mesmo dado o<br />

caráter universal e mundializado daquela “lei geral”, objetivam-se<br />

particularidades culturais, geopolíticas e nacionais que, igualmente,<br />

requerem determinação concreta [...] em poucas palavras: a caracterização<br />

da “questão <strong>social</strong>”, em suas manifestações já conhecidas e em suas<br />

expressões <strong>no</strong>vas, tem de considerar as particularidades histórico-culturais<br />

e nacionais (NETTO, 2001, pg. 48).<br />

Portanto, Netto (2001) considera importante duas observações: primeiro a<br />

que remete à perspectiva da construção de uma ordem <strong>social</strong> que possa ir alem dos<br />

limites do capitalismo, ou seja, trata de uma organização <strong>social</strong> que substitua a<br />

ordem do capital e assegure o desenvolvimento livre da personalidade de todos,<br />

mas infelizmente o conhecimento que se tem acerca da sociedade contemporânea<br />

reflete a inviabilidade de derrota do capital.<br />

A possível derrota do capital, em condições tais em que se suprima a<br />

escassez, determinara a superação da “questão <strong>social</strong>”. Isto não significa,<br />

absolutamente, a realização da idade de ouro: os homens e mulheres<br />

continuarão a enfrentar problemas, a indagar por que vivem e por que<br />

morrem empenhados em encontrar sentido para as suas vidas limitadas<br />

alguns, ou muitos, se encontrarão vulnerabilizados, formas de cooperação e<br />

apoio mútuo serão requisitadas e desenvolvidas (NETTO, 2001, pg. 49).<br />

19


A outra observação refere-se ao Serviço Social, que tem sua raiz na<br />

“questão <strong>social</strong>” a qual dá sentido a profissão, mas deve-se ter claro que está aberto<br />

um longo caminho para a profissão <strong>no</strong> que se refere à extinção da ordem do capital.<br />

[...] o objetivo histórico da sua superação passa, ainda e necessariamente,<br />

pelo desenvolvimento das suas potencialidades. Ainda está longe o futuro<br />

em que esta profissão vai se esgotar, pelo próprio exaurimento do seu<br />

objeto (NETTO, 2001, pg. 49).<br />

É importante ressaltar que a superação da questão <strong>social</strong> e<br />

consequentemente do capitalismo não depende unicamente do trabalho profissional<br />

dos assistentes sociais, pois requer a reorganização política das forças progressistas<br />

com a finalidade de transformar o modo de produção capitalista (FERREIRA, 2008).<br />

Nessa perspectiva, pode-se inferir que a superação da ordem do capital requer<br />

condições históricas inexistentes na conjuntura atual, devido à fragmentação da<br />

classe trabalhadora.<br />

20


3 A PRÁTICA PROFISSIONAL COMO TRABALHO<br />

A profissão de Serviço Social constitui-se em uma especialização inserida<br />

na divisão <strong>social</strong> e técnica do trabalho. É necessário compreender os fundamentos<br />

históricos, teóricos e metodológicos do Serviço Social para abordar o mesmo<br />

enquanto profissão determinada <strong>social</strong>mente na história da sociedade brasileira, ou<br />

seja, analisar a formação e o desenvolvimento do Serviço Social enquanto<br />

especialização do trabalho <strong>no</strong> marco das forças societárias. Também é preciso<br />

pensar a profissão como fruto dos sujeitos que a vivenciam e a constroem, sujeitos<br />

esses que acumulam saberes, sistematizam sua prática e contribuem na criação de<br />

uma cultura profissional historicamente limitada (IAMAMOTO, 2004).<br />

Logo, analisar a profissão supõe abordar, simultaneamente, os modos de<br />

atuar e de pesar que foram por seus agentes incorporados, atribuindo<br />

visibilidade ás bases teóricas assumidas pelo Serviço <strong>social</strong> na leitura da<br />

sociedade e na construção de respostas a questão <strong>social</strong>. (IAMAMOTO,<br />

2004, pg. 58).<br />

Um avanço importante foi reconhecer que o que há de comum, tanto <strong>no</strong><br />

trabalho quanto na cultura profissional, é a historia da sociedade, pois é através dela<br />

que é possível conhecer a realidade <strong>social</strong> e cultural, a qual instiga os Assistentes<br />

Sociais na busca de respostas em muitos âmbitos do exercício profissional e<br />

intelectual, principalmente na acumulação de conhecimento. Muitos Assistentes<br />

Sociais sustentavam a idéia de que as políticas públicas deveriam ser o elemento<br />

fundamental para se pensar a fundação do <strong>serviço</strong> <strong>social</strong> na sociedade.<br />

Não resta dúvida que este profissional trabalha com políticas sociais,<br />

tanto públicas quanto privadas; sendo estas, sem dúvida, uma determinação<br />

importante na constituição da profissão. No entanto, as políticas públicas por si só<br />

não explicam a questão <strong>social</strong> e o surgimento do Serviço Social, pois são<br />

decorrentes da questão <strong>social</strong> (IAMAMOTO, 2004).<br />

Entretanto, ao se deparar com a questão <strong>social</strong>, que atinge principalmente<br />

as classes subalternas, extrato <strong>social</strong> desprovidos dos meios de produção, torna-se<br />

imprescindível o trabalho do Assistente Social junto às políticas publicas, as quais<br />

são uma resposta à questão <strong>social</strong>; ou seja, o Estado enquanto garantidor de<br />

direitos responde as expressões da questão <strong>social</strong> com políticas públicas. A cada<br />

movimento da sociedade na reivindicação de seus direitos, o Estado responde com<br />

21


políticas, com programas e projetos de atenção a classes mais pobres; Também são<br />

acionadas as corporações empresariais, organizações não governamentais e outras<br />

formas de organização das próprias classes subalternas para o enfrentamento da<br />

exclusão <strong>social</strong>, que é uma das expressões da questão <strong>social</strong>. (IAMAMOTO, 2004)<br />

A questão <strong>social</strong> explica a necessidade das políticas sociais, <strong>no</strong> âmbito das<br />

relações entre as classes e o estado, mas as políticas sociais, por si, não<br />

explicam a questão <strong>social</strong>. Aquela é, portanto, determinada devendo<br />

traduzir-se como um dos pólos chaves da formação e do trabalho<br />

profissional. (IAMAMOTO, 2004, pgs. 58-59).<br />

A referida autora deixa claro que a questão <strong>social</strong> não deve ser encarada<br />

exclusivamente como desigualdade <strong>social</strong>, presente somente entre os ricos e os<br />

pobres, não devendo ser vista como uma situação <strong>social</strong> problema que retrata as<br />

dificuldades presentes na vida dos indivíduos e tratadas historicamente da mesma<br />

forma pelo <strong>serviço</strong> <strong>social</strong>.<br />

O Assistente Social deve decifrar a gênese das desigualdades sociais em<br />

um contexto em que o domínio do capital é bastante intensificado. Essas<br />

desigualdades são indissociáveis da concentração de renda, propriedade e do<br />

poder, que são o verso das expressões da questão <strong>social</strong>. Decifrar a questão <strong>social</strong><br />

é também demonstrar as formas particulares de enfrentamento e resistência usadas<br />

pelos indivíduos.<br />

A insistência na questão <strong>social</strong> esta em que ela conforma a matéria-prima<br />

do trabalho profissional, sendo a prática profissional compreendida como<br />

uma especialização do trabalho participe de um processo de trabalho.<br />

(IAMAMOTO, 2004, pg. 59).<br />

Pensar a prática profissional do Assistente Social é reportar-se ao<br />

conjunto da sociedade em seu movimento e contradições, uma vez que se vive a<br />

crise do trabalho em uma sociedade que possui um exército de reserva de força de<br />

trabalho para atender as necessidades da acumulação capitalista, a análise da<br />

prática como trabalho está integrada a um processo que permite mediatizar a<br />

interconexão entre o Serviço Social e a prática da sociedade (IAMAMOTO, 2004).<br />

Em todo processo de trabalho existe uma matéria-prima ou objeto sobre o<br />

qual o sujeito incide sua ação, isso requer meios ou instrumentos para que o<br />

trabalho seja efetivado e dessa ação resulta em um produto. Esta condição está<br />

presente na análise de qualquer processo de trabalho. No Serviço Social não é<br />

22


diferente, a questão <strong>social</strong> em suas múltiplas expressões é o objeto de trabalho do<br />

Assistente Social, o qual provoca a necessidade da ação profissional junto a<br />

crianças, adolescentes, idoso, mulheres etc. É de extrema importância que o<br />

Assistente Social conheça e pesquise a realidade sobre a qual irá intervir, sendo<br />

essa condição para conhecer o seu objeto de trabalho e assim poder intervir de<br />

forma adequada (IAMAMOTO, 2004).<br />

A mesma autora salienta que é preciso dar conta das particularidades e<br />

das múltiplas expressões da questão <strong>social</strong> na história da sociedade brasileira,<br />

explicando os processos sociais que as produzem e reproduzem e como são<br />

experimentadas pelos sujeitos sociais que as vivenciam em suas relações<br />

cotidianas. É nesse campo que se dá o trabalho do Assistente Social, devendo<br />

conceber como a questão <strong>social</strong>, em suas múltiplas expressões, é vivenciada pelos<br />

sujeitos em suas vidas cotidianas.<br />

É neste contexto que o Assistente Social deve pensar seus instrumentos,<br />

capazes de dar conta das demandas sociais, compreendendo técnicas que se<br />

ampliam para abranger o conhecimento como um meio de trabalho; sem isso o<br />

trabalhador especializado não consegue realizar seu trabalho. O Assistente Social<br />

necessita das bases teóricas e metodológicas para o exercício de seu trabalho, as<br />

quais “contribuem para iluminar a leitura da realidade e imprimir rumos a ação, ao<br />

mesmo tempo em que a moldam” (IAMAMOTO, 2004, pg. 63).<br />

Sendo assim, o conhecimento é um meio possível usado pelo Assistente<br />

Social para decifrar a realidade e conduzir o trabalho a ser realizado. Os<br />

conhecimentos e habilidades adquiridos durante a formação acadêmica são parte do<br />

acervo dos meios de trabalho do Assistente Social. O Serviço Social está<br />

regulamentado como uma profissão liberal na sociedade, embora não se realize de<br />

tal forma; ou seja, o Assistente Social não detém todos os meios (financeiros,<br />

técnicos e huma<strong>no</strong>s) necessários para efetivação de seu trabalho autô<strong>no</strong>mo.<br />

Desse modo, depende da contratação instituições que detém os recursos<br />

previstos <strong>no</strong>s programas e projetos, possibilitando assim que a realização de seu<br />

trabalho, tornando-o um assalariado que vende sua força de trabalho, moldando sua<br />

inserção sócio-institucional, ideológica e política na sociedade brasileira<br />

(IAMAMOTO, 2004).<br />

23


Ainda que dispondo de relativa auto<strong>no</strong>mia na efetivação de seu trabalho, o<br />

assistente <strong>social</strong> depende na organização da atividade, do estado, da<br />

empresa, entidades não governamentais que viabilizam aos usuários o<br />

acesso aos seus <strong>serviço</strong>s, fornecem meios e recursos para sua realização,<br />

estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na definição de<br />

papeis e funções que compõem o cotidia<strong>no</strong> do trabalho institucional<br />

(IAMAMOTO, 2004, pg. 63).<br />

O trabalho do Assistente Social não se realiza de forma isolada, mas<br />

como parte de um trabalho combinado, integrante de uma equipe de trabalho, e sua<br />

inserção nessa esfera é parte de um conjunto de especialidades que são acionadas<br />

em conjunto para realização dos projetos das instituições.<br />

Portanto, assim como em qualquer outra profissão, o Assistente Social<br />

possui um objeto de trabalho, usa meios para transformá-lo e dessa transformação<br />

resulta o seu produto. “O trabalho do assistente <strong>social</strong> tem um efeito nas condições<br />

materiais e sociais daqueles cuja sobrevivência depende do trabalho” (IAMAMOTO,<br />

2004, pg. 67). Também tem um efeito <strong>no</strong> processo de reprodução da força de<br />

trabalho, sendo esta a única mercadoria que, quando colocada em ação, se torna<br />

fonte de valor. Em outros termos, cria mais valor do que ela custou é ela que esta <strong>no</strong><br />

centro do segredo da criação da riqueza <strong>social</strong> na sociedade capitalista.<br />

Sendo assim, o Serviço Social interfere na reprodução da força de<br />

trabalho, sendo <strong>social</strong>mente necessário para atuar nas questões que dizem respeito<br />

à sobrevivência <strong>social</strong> e material da população. Segundo Iamamoto (2004),<br />

concebe-se o processo de reprodução como o movimento da reprodução na sua<br />

continuidade. Assim, “o Serviço Social tem também um efeito que não é material,<br />

mas é <strong>social</strong>mente objetivo. Tem uma objetividade que não é material, mas é <strong>social</strong>”<br />

(IAMAMOTO, 2004, pg. 67).<br />

A mesma autora ressalta que o Serviço Social é um trabalho<br />

especializado e expresso através de <strong>serviço</strong>s que tem produtos, dessa forma<br />

interfere na reprodução material e <strong>no</strong> processo de reprodução sociopolítica dos<br />

indivíduos; é um intelectual que contribui na criação de consensos na sociedade.<br />

Dentro de um contexto capitalista o Serviço Social tem um efeito na sociedade na<br />

produção de valores ou riqueza <strong>social</strong>, ou seja, produz valor e mais valia.<br />

Diante do exposto é possível ressaltar que o Serviço Social é uma<br />

atividade que se insere <strong>no</strong>s processos de trabalho dentro da sociedade capitalista,<br />

produzindo efeito nesta e possuindo características particulares que tornam o<br />

Assistente Social um profissional requisitado em vários setores.<br />

24


4 O SUS E A ATENÇÃO BÁSICA<br />

O Sistema Único de Saúde (SUS) pode ser definido como um arranjo<br />

organizacional que dá suporte a efetivação da política de saúde <strong>no</strong> Brasil, traduzindo<br />

em ações os princípios e diretrizes desta política. O SUS compreende um conjunto<br />

organizado e articulado de <strong>serviço</strong>s e ações em saúde e une o conjunto das<br />

organizações públicas já existentes nas esferas municipal, estadual e nacional, além<br />

dos <strong>serviço</strong>s privados relacionados à prestação de <strong>serviço</strong>s aos usuários do sistema;<br />

porém, isto de dá de forma complementar, quando contratados ou conveniados para<br />

este fim.<br />

O SUS foi instituído com o objetivo de coordenar e integrar as ações de<br />

saúde nas três esferas de gover<strong>no</strong>, presumindo a articulação de subsistemas<br />

verticais de vigilância e de assistência à saúde, e subsistemas de base territorial<br />

estaduais, regionais e municipais, para assim atender de maneira funcional as<br />

demandas por atenção a saúde 1 . O SUS é um sistema bastante complexo e tem a<br />

responsabilidade de articular a prevenção, reabilitação e cura <strong>no</strong> âmbito<br />

exclusivamente assistencial (VASCONCELOS; PASCHE, 2006).<br />

O SUS é um produto do movimento da Reforma Sanitária. Na década de<br />

80, iniciou-se uma batalha política pelo reconhecimento da saúde como direito<br />

<strong>social</strong>, pela universalização do acesso aos <strong>serviço</strong>s da saúde e pela integralidade da<br />

atenção à saúde, na luta mais ampla pela construção da cidadania.<br />

Esse movimento resultou na ampla legitimação dos princípios e da<br />

doutrina do movimento da Reforma Sanitária, o qual conquistou a incorporação<br />

desses princípios ao texto constitucional de 1988, bem como a responsabilidade do<br />

estado na provisão das ações e <strong>serviço</strong>s necessários a garantia desse direito,<br />

mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e<br />

de outros agravos e assegurem o acesso universal às ações e <strong>serviço</strong>s para<br />

promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2000).<br />

Mendes (2001, pgs. 26-7) contribui para o esclarecimento do artigo 196<br />

da Constituição Federal de 1988:<br />

[...] No artigo 196 e inciso I da Constituição Federal, Declara que as ações e<br />

os <strong>serviço</strong>s públicos de saúde integram uma rede regionalizada e<br />

hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com<br />

1 Este entendimento está expresso na Lei 8.080/90 (Brasil, 1990), <strong>no</strong> artigo 4º.<br />

25


algumas diretrizes, dentre elas a descentralização, com direção única em<br />

cada esfera do gover<strong>no</strong>. A legislação infraconstitucional, por intermédio da<br />

Lei nº. 8080, de 19 de setembro de 1990, e da lei nº. 8142, de 28 de<br />

Dezembro de 1990, reiterou a diretriz Da descentralização e a definiu<br />

operacionalmente, Protagonizando a municipalização das ações e dos<br />

Serviços de saúde [...].<br />

A saúde na constituição é definida como resultante de políticas sociais e<br />

econômicas, como direito de cidadania e dever do estado, como parte da seguridade<br />

<strong>social</strong> e cujas ações e <strong>serviço</strong>s devem ser providos por um Sistema Único de Saúde.<br />

A Constituição Federal de 1998 incorporou as principais propostas da VIII<br />

Conferência Nacional de Saúde, tratando da saúde e da criação do Sistema Único<br />

de Saúde (SUS) em seus artigos 196 a 200, cuja regulamentação ocorreu através<br />

das leis Orgânicas da Saúde (LOS) nº. 8.080/99 e nº 8.142/90. Dentre essas leis<br />

destacam-se as que regulamentaram:<br />

[...] a extinção do INAMPS e a criação do Sistema Nacional de Auditoria; a<br />

definição do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária e a criação da<br />

Agencia Nacional de Vigilância Sanitária; o estabelecimento do<br />

medicamento genérico; a criação do subsistema de Saúde Indígena; a<br />

criação da Agencia Nacional de Saúde Suplementar e a ementa<br />

constitucional 29 que vinculou recursos orçamentários para a saúde. Porem<br />

a votação da lei de diretrizes orçamentárias (LDO) e da lei orçamentária<br />

anual (LOA) repercute na ação governamental, pelos constrangimentos que<br />

podem trazer á execução dos recursos orçados (VASCONCELOS;<br />

PASCHE, 2006, pg. 534).<br />

O artigo 198 da Constituição Federal prevê a organização do SUS de<br />

acordo com as diretrizes de descentralização, com direção única em cada esfera do<br />

gover<strong>no</strong>; do atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,<br />

sem prejuízo dos <strong>serviço</strong>s assistenciais; da participação da comunidade (BRASIL,<br />

1998).<br />

Segundo Vasconcelos; Pasche (2006), a incorporação do SUS, com uma<br />

base jurídico-legal amplia a concepção de saúde, ocorrendo uma superação do<br />

modo de pensar a saúde que inclui os condicionantes econômicos, culturais, sociais<br />

e biológicos. Também uma visão abrangente e integrada das ações e <strong>serviço</strong>s de<br />

saúde na busca de superar a visão de enfocar a saúde pela doença, exigindo do<br />

sistema <strong>no</strong>vas concepções e modos de operação. A Constituição 2 estabelece o tripé<br />

da seguridade <strong>social</strong> e o SUS passa a integrar o sistema brasileiro de proteção<br />

2 Artigo 194. A seguridade <strong>social</strong> compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos<br />

Poderes Públicos e da sociedade, destinados a assegurar os direitos relacionados à saúde, à<br />

previdência e à assistência <strong>social</strong> (BRASIL, 1988).<br />

26


<strong>social</strong> juntamente com o sistema de Previdência Social e o Sistema Único de<br />

Assistência Social (SUAS). Desse modo, a saúde passa a ser um direito e dever do<br />

Estado, rompendo com o padrão anterior de política <strong>social</strong>, que era marcado pela<br />

exclusão de milhares de brasileiros até então impedidos de usufruir de bens de<br />

consumo coletivo.<br />

No campo da saúde, isto significou a possibilidade de superação da<br />

estratificada oferta dos <strong>serviço</strong>s, que diferenciavam os indivíduos em indigentes e os<br />

que eram segurados da previdência. Também reduziu a diferença de atendimento<br />

aos moradores do campo e da cidade e entre as diferentes regiões do país.<br />

O acúmulo técnico-político dos três níveis de gestão do SUS, na<br />

implantação do Programa de Agentes Comunitários de Saúde e da estratégia de<br />

Saúde da Família, elementos essenciais para a reorientação do modelo de atenção,<br />

tem possibilitado a identificação de um conjunto de questões relativas às bases<br />

conceituais e operacionais do que se tem de<strong>no</strong>minado "Atenção Básica à Saúde" <strong>no</strong><br />

Brasil, e de suas relações com os demais níveis do sistema.<br />

Esta discussão fundamenta-se <strong>no</strong>s eixos transversais da universalidade,<br />

integralidade e eqüidade, em um contexto de descentralização com ênfase na<br />

municipalização e desse modo atribuindo mais ao município a responsabilidade de<br />

garantir a prestação direta dos <strong>serviço</strong>s de saúde e controle <strong>social</strong> da gestão,<br />

princípios assistenciais e organizativos do SUS, consignados na legislação<br />

constitucional e infraconstitucional (VASCONCELOS; PASCHE, 2006).<br />

A expansão e a qualificação da atenção básica, organizadas pela<br />

estratégia Saúde da Família, compõem parte do conjunto de prioridades políticas<br />

apresentadas pelo Ministério da Saúde e aprovadas pelo Conselho Nacional de<br />

Saúde. Esta concepção supera a antiga proposição de caráter exclusivamente<br />

centrado na doença, desenvolvendo-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias,<br />

democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipes, dirigidas às<br />

populações de territórios delimitados, pelos quais assumem responsabilidade<br />

(VASCONCELOS; PASCHE, 2006).<br />

Os autores já citados ressaltam os princípios doutrinários que legitimam o<br />

SUS, que são: a universalidade, a integralidade e a equidade porem o direito a<br />

informação se constitui em requisito básico pra a afirmação da cidadania. É de<br />

competência do SUS a oferta de <strong>serviço</strong>s básicos para toda população. Estas ações<br />

são organizadas por meio das Unidades Básicas de Saúde e as Estratégias de<br />

27


Saúde da Família; mediante a adstrição de clientela, as equipes Saúde da<br />

Família estabelecem vínculo com a população, possibilitando o compromisso e a co-<br />

responsabilidade destes profissionais com os usuários e a comunidade.<br />

Segundo o Ministério da Saúde (2008), seu desafio é o de ampliar suas<br />

fronteiras de atuação visando uma maior resolubilidade da atenção, onde a Saúde<br />

da Família é compreendida como a estratégia principal para mudança deste modelo,<br />

que deverá sempre se integrar a todo o contexto de reorganização do sistema de<br />

saúde.<br />

Também completam a rede do SUS <strong>serviço</strong>s 3 de média e alta<br />

complexidade, <strong>serviço</strong>s ambulatoriais especializados e <strong>serviço</strong>s de diag<strong>no</strong>se e<br />

terapia; além desses, pode-se citar os <strong>serviço</strong>s universitários públicos, os <strong>serviço</strong>s<br />

contratados e conveniados de caráter privado, que contam com <strong>serviço</strong>s próprios<br />

gerenciados pelos municípios, pelos estados e pela união. O SUS é financiado pelas<br />

três esferas de gover<strong>no</strong> (municipal, estadual e federal), isto é <strong>no</strong>rmatizado pela<br />

ementa constitucional nº 29, que estabelece a destinação especifica das receitas de<br />

cada esfera (VASCONCELOS; PASCHE, 2006).<br />

Ainda de acordo com os autores, continuar promovendo mudanças na<br />

organização dos <strong>serviço</strong>s, práticas assistenciais, melhoramento <strong>no</strong> acesso aos<br />

<strong>serviço</strong>s de saúde em todos os níveis de atenção e qualidade é o maior desafio do<br />

Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma, as mudanças na política devem estar<br />

orientadas para tais finalidades do sistema e assim assegurar atenção de qualidade,<br />

a fim de responder e forma positiva e oportuna as necessidades e os problemas de<br />

saúde da população.<br />

3 As informações contidas na Portaria nº399/2006 (BRASIL, 2006), que institui o Pacto pela Saúde,<br />

revelam alguns números que indicam a magnitude do sistema publico de saúde brasileiro.<br />

28


5 O NASF E A EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE<br />

No processo histórico brasileiro, a construção do Sistema Único de Saúde<br />

avançou de forma considerável <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, evidenciando cada vez mais a<br />

importância da Atenção Primária à Saúde (APS) nesse processo construtivo. O<br />

Brasil tem investido na formulação, implementação e concretização de políticas de<br />

promoção, proteção e recuperação da saúde. Os esforços das três esferas de<br />

gover<strong>no</strong> (federal, estadual e municipal), dos trabalhadores e das instituições de<br />

saúde vem ao encontro do consenso de que ter a Atenção Primária a Saúde (APS)<br />

como base dos sistemas de saúde é importante para um bom desempenho das<br />

políticas de saúde (CONASS, 2007).<br />

A Atenção Primária à Saúde (APS) representa um complexo conjunto de<br />

conhecimentos e procedimentos e demanda uma intervenção ampla em<br />

diversos aspectos para que se possa ter efeito positivo sobre a qualidade de<br />

vida da população. Na definição já clássica de Bárbara Starfield, APS<br />

representa o primeiro contato na rede assistencial dentro do sistema de<br />

saúde, caracterizando-se, principalmente, pela continuidade e integralidade<br />

da atenção, além da coordenação da assistência dentro do próprio sistema,<br />

da atenção centrada na família, da orientação e participação comunitária e<br />

da competência cultural dos profissionais. São assim estipulados seus<br />

atributos essenciais: o acesso de primeiro contato do indivíduo com o<br />

sistema de saúde, a continuidade e a integralidade da atenção, e a<br />

coordenação da atenção dentro do sistema (CADERNOS DE ATENÇÃO<br />

BÁSICA, 2010, pg. 07).<br />

Segundo o Ministério da Saúde (2005), o Brasil já apresenta estudos que<br />

demonstram o impacto positivo da expansão da Atenção Primária a Saúde,<br />

baseada, sobretudo, na Estratégia de Saúde da Família (ESF). Desta forma a APS<br />

vem demonstrando ser, na constituição dos sistemas nacionais de saúde, um<br />

elemento chave, com capacidade de influir <strong>no</strong>s indicadores de saúde e com<br />

potencial regular na utilização dos recursos.<br />

Indo ao encontro com os princípios do SUS, o Programa Saúde da<br />

Família (PSF) foi concebido em 1994 sendo proposto pelo Ministério da Saúde, com<br />

o objetivo de reorganizar a rede de assistência à saúde a partir de uma política que<br />

valorizasse a universalização do acesso à atenção primária e proporcionasse o<br />

avanço do processo de descentralização. É mais adequado referir-se ao PSF como<br />

uma estratégia de saúde e não apenas como um programa setorial de saúde já que,<br />

foi elaborado para “estruturar esse sistema público de saúde uma vez que houve<br />

redirecionamento das prioridades de ação em saúde, reafirmação de uma <strong>no</strong>va<br />

29


filosofia de atenção à saúde e consolidação dos princípios organizativos do SUS”<br />

(ANDRADE; BARRETO; BEZERRA, 2006, pg. 802).<br />

Para o Ministério da Saúde (2008), a Estratégia de Saúde da Família<br />

(ESF) é a vertente brasileira da Atenção Primaria a Saúde (APS), se caracterizando<br />

como porta de entrada <strong>no</strong> sistema de saúde fundado constitucionalmente <strong>no</strong> direito<br />

a saúde e à equidade do cuidado. Sem dúvidas, a ESF é um importante movimento<br />

de reorientação do modelo de atenção á saúde <strong>no</strong> Brasil.<br />

Visando apoiar a inserção da Estratégia Saúde da Família na rede de<br />

<strong>serviço</strong>s, garantindo a continuidade e integralidade da atenção, o Ministério da<br />

Saúde criou o NASF- Núcleo de Apoio à Saúde da Família, com a portaria GM nº<br />

154, de 24 de janeiro de 2008, republicada em 04 de março de 2008 (MS).<br />

A referida Portaria traz como pressupostos políticas nacionais diversas,<br />

tais como: de Atenção Básica; de Promoção da Saúde; de Integração da Pessoa<br />

com Deficiência; de Alimentação e Nutrição; de Saúde da Criança e do Adolescente;<br />

de Atenção Integral à Saúde da Mulher; de Práticas Integrativas e Complementares;<br />

de Assistência Farmacêutica; da Pessoa Idosa; de Saúde Mental; de Humanização<br />

em Saúde, além da Política Nacional de Assistência Social e da Saúde do Homem.<br />

(CADERNOS DE ATENÇÂO BASICA, 2010).<br />

Segundo o Ministério da Saúde (2008), o NASF deve ser constituído por<br />

equipes interdisciplinar, compostas por profissionais de curso e áreas diferentes de<br />

conhecimento, pra atuarem em conjunto com profissionais das ESF, sendo:<br />

assistente <strong>social</strong>; farmacêutico; fisioterapeuta; fo<strong>no</strong>audiólogo; profissional da<br />

educação física; nutricionista; terapeuta ocupacional; médico ginecologista; médico<br />

homeopata; médico acupunturista; médico pediatra e médico psiquiatra.<br />

A composição dos profissionais do NASF é definida pelos gestores<br />

conforme a prioridade identificada através das necessidades locais e disponibilidade<br />

de profissionais das diferentes áreas de atuação. A atuação do NASF está<br />

relacionada dentro de algumas diretrizes da APS, que são: ação interdisciplinar e<br />

intersetorial; educação permanente em saúde dos profissionais e população;<br />

desenvolvimento da <strong>no</strong>ção de território; integralidade, participação <strong>social</strong>, educação<br />

popular e promoção e humanização da saúde.<br />

O NASF não se constitui como porta de entrada do sistema para os<br />

usuários, mas sim como apoio às equipes de saúde da família, pois é entendido<br />

como uma potente estratégia para ampliar a abrangência e a diversidade das ações<br />

30


das Equipes Saúde da Família, bem como a resolubilidade, uma vez que promove a<br />

criação de espaços para produção de <strong>no</strong>vos saberes e ampliação da clínica. Atua<br />

em parceria com os profissionais das ESF, compartilhando as praticas em saúde <strong>no</strong>s<br />

territórios sob responsabilidade das mesmas.<br />

O NASF é uma estratégia i<strong>no</strong>vadora que tem por objetivo apoiar, ampliar,<br />

aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na Atenção Básica/Saúde da<br />

Família. Seus requisitos são, além do conhecimento técnico, a<br />

responsabilidade por determinado número de equipes de SF e o<br />

desenvolvimento de habilidades relacionadas ao paradigma da Saúde da<br />

Família. Deve estar comprometido, também, com a promoção de mudanças<br />

na atitude e na atuação dos profissionais da SF e entre sua própria equipe<br />

(NASF), incluindo na atuação ações intersetoriais e interdisciplinares,<br />

promoção, prevenção, reabilitação da saúde e cura, alem de humanização<br />

de <strong>serviço</strong>s, educação permanente, promoção da integralidade e da<br />

organização territorial dos <strong>serviço</strong>s de saúde (CADERNOS DE ATENÇÃO<br />

BÁSICA, 2010, pgs. 10-11).<br />

Portanto a missão 4 do NASF segue os seguintes aspectos: o NASF não<br />

se constitui porta de entrada do sistema para os usuários, mas sim como apoio às<br />

equipes de Saúde da Família que estão sob sua responsabilidade; a equipe do<br />

NASF e as equipes de saúde da família devem criar espaços de discussões para<br />

gestão do cuidado, devendo fazer reuniões e atendimentos compartilhados<br />

constituindo processos de aprendizado coletivo; o NASF também deve ter como<br />

eixos de trabalho a responsabilização, gestão compartilhada e apoio à coordenação<br />

do cuidado, que se pretende pela Saúde da Família. (CADERNOS DE ATENÇÃO<br />

BASICA, 2010).<br />

É importante ressaltar que o NASF é uma estratégia que está pautada na<br />

proposta da Educação Permanente em Saúde. Essa política visa transformar as<br />

práticas dos <strong>serviço</strong>s em saúde com objetivo de incorporar ao cotidia<strong>no</strong> das<br />

organizações e trabalhadores em saúde o aprender e o ensinar, para assim construir<br />

de maneira coletiva reflexões sobre a realidade dos <strong>serviço</strong>s e as necessidades<br />

existentes.<br />

A Educação Permanente em Saúde (EPS) é uma política de atenção<br />

aos trabalhadores, a qual objetiva a transformação dos processos de trabalho a<br />

partir de aprendizagem significativa, ou seja, privilegiam-se nas práticas de saúde os<br />

saberes existentes, valores preestabelecidos e as estruturas de poder e organização<br />

4 Todas as informações na integra podem ser encontradas <strong>no</strong>s cader<strong>no</strong>s de atenção básica, 2010 do<br />

Ministério da Saúde.<br />

31


do trabalho em vigência, acrescidas com reflexões críticas sobre o trabalho, tendo<br />

como referência as necessidades de saúde das pessoas e das populações e que<br />

sejam dotadas de sentido, tanto para os usuários como para os trabalhadores.<br />

Destaca-se que a atualização técnico-profissional é apenas um elemento da<br />

formação (BRASIL, 2006).<br />

Em 1980, por inspiração de Paulo Freire, nasce o conceito de<br />

competência processual, compreendendo as experiências individuais e coletivas.<br />

Esta abordagem colaborou com a ampliação do conceito da Educação Permanente,<br />

orientada para enriquecer a essência humana e suas subjetividades, em qualquer<br />

etapa da existência de todos os seres huma<strong>no</strong>s e não somente de trabalhadores<br />

(MASSAROLI E SAUPE, 2008).<br />

A educação permanente aponta para essa direção: seu objeto de<br />

transformação é o processo de trabalho, orientado para a melhoria da qualidade,<br />

para a eqüidade <strong>no</strong> cuidado e <strong>no</strong> acesso aos <strong>serviço</strong>s. O processo de trabalho é<br />

valorizado como centro privilegiado de aprendizagem.<br />

Dessa forma, não se procura transformar todos os problemas em<br />

problemas educacionais, mas sim buscar as lacunas de conhecimento e as atitudes<br />

que são parte da estrutura explicativa dos problemas identificados na vida cotidiana<br />

dos <strong>serviço</strong>s, assumindo uma atitude pedagógica <strong>no</strong> desdobramento de suas<br />

soluções técnicas (CONASS, 2007).<br />

É nesta lógica que perpassa a proposta de trabalho do NASF, construir<br />

coletivamente estratégias de apoio as ESF de forma compartilhada, para então<br />

poder promover positivamente o apoio necessários para as mesmas, sendo esta a<br />

proposta do NASF enquanto núcleo de apoio.<br />

5.1 O SERVIÇO SOCIAL NO NASF<br />

Conforme prevê a portaria nº 154, de 2008, que regulamenta a criação do<br />

NASF a inclusão do Serviço Social é de fundamental importância, por estar em<br />

conformidade com os princípios éticos e políticos da profissão e do projeto de<br />

reforma sanitária.<br />

O Serviço Social deve situar suas ações como espaço de promoção da<br />

cidadania e de produção de estratégias que possam fortalecer a rede de suporte<br />

32


<strong>social</strong>, proporcionando dessa forma maior integração entre os <strong>serviço</strong>s <strong>no</strong>s territórios<br />

de sua responsabilidade contribuindo para o desenvolvimento de ações intersetoriais<br />

visando fortalecimento da cidadania.<br />

O Serviço Social <strong>no</strong> NASF deve ser desenvolvido de forma interdisciplinar e<br />

integrado com as demais equipes, para prestar apoio <strong>no</strong> trato da questão<br />

<strong>social</strong> nas suas mais variadas expressões cotidianas na área da saúde. O<br />

Assistente Social é um profissional que trabalha permanentemente na<br />

relação entre estrutura, conjuntura e cotidia<strong>no</strong>, contribuindo com as equipes<br />

na apreensão e na ação em face do cotidia<strong>no</strong>, <strong>no</strong> qual as determinações<br />

conjunturais se expressam e a prática se realiza (CADERNOS DE<br />

ATENÇÃO BASICA, 2010, pg. 88).<br />

Assim sendo, o Serviço Social depara-se com as mais diversas e<br />

extremas expressões da questão <strong>social</strong> tendo que criar estratégias em defesa dos<br />

direitos huma<strong>no</strong>s e sociais. Segundo o Ministério da Saúde (2010), a área<br />

estratégica do Serviço Social constrói-se <strong>no</strong> espaço do território, onde se encontram<br />

a comunidade, as famílias, os indivíduos, os equipamentos sociais necessários<br />

(público e privado), bem como o poder local e as redes de atendimento que fazem<br />

daquele território um espaço dinâmico para o desenvolvimento e definição das<br />

competências de cada profissional.<br />

É neste contexto que o Assistente Social, em conjunto com demais<br />

profissionais de outras categorias, procura conduzir-se <strong>no</strong> sentido de compreender,<br />

intervir, antecipar e planejar ações, projetos sociais que vão para além da dimensão<br />

biomédica. Deste modo compõem-se uma prática de integralidade e<br />

intersetorialidade, proporcionando para o Assistente Social uma inserção<br />

diferenciada na área da saúde, superando o estado tradicional de profissão<br />

paramédica (CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA, 2010).<br />

O Serviço Social <strong>no</strong> NASF tem objetivos bastante variados e numerosos,<br />

que devem adaptar-se às diversas realidades onde ocorrem as práticas. A partir de<br />

tais objetivos é possível planejar detalhadamente as ações do Serviço Social <strong>no</strong>s<br />

NASF, respeitando os termos previstos na portaria de criação dos núcleos (NASF).<br />

Segundo o Ministério da Saúde (2008), as ações apresentadas não<br />

devem ser interpretadas como especificas do Assistente Social, mas sim como<br />

sendo um resultado da interação do mesmo com os demais profissionais na sua<br />

interface com a área estratégica do Serviço Social.<br />

A saúde da família na organização do seu processo de trabalho elenca<br />

33


dentro dos objetivos propostos para a área do Serviço Social algumas estratégias<br />

metodológicas que devem ser vistas como dialeticamente articuladas, relacionando-<br />

se intimamente com cada realidade e suas demandas em cada momento histórico e<br />

para um agir crítico e reflexivo.<br />

34


6 METODOLOGIA<br />

Este estudo foi tipo qualitativo, tendo por finalidade desvendar as<br />

contribuições do trabalho do Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio realizado pelo<br />

NASF de Ijuí nas Unidades Básicas de Saúde.<br />

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se<br />

preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser<br />

quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos,<br />

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais<br />

profundo das relações, dos processos e dos fenôme<strong>no</strong>s que não podem ser<br />

reduzidos a operacionalização de variáveis. (MINAYO, 1994, pg. 21)<br />

Para construção desta pesquisa, utilizou-se como referencial teórico o<br />

método dialético-crítico, o qual está centrado <strong>no</strong> modo de compreensão da realidade<br />

como essencialmente contraditória em permanente movimento e transformação.<br />

Conforme Lefebvre (1995, pg. 12), “o pensamento se desloca incessantemente do<br />

pólo lógico, racional, aquele da forma pura, para o real, a natureza, o prático<br />

sensível, a práxis ou, numa palavra, o conteúdo”. O método dialético-crítico tem<br />

como categorias centrais a totalidade, historicidade e a contradição.<br />

A totalidade, mais do que a reunião de todas as partes, significa um todo<br />

articulado, conectado, onde a relação entre as partes altera o sentido de cada parte<br />

e do todo. A totalidade concreta não é um todo dado, mas em movimento de<br />

autocriação permanente, o que implica a historização dos fenôme<strong>no</strong>s que a<br />

compõem (PRATES, 2003, pg. 87).<br />

As partes estão articuladas dialeticamente, formando uma totalidade de<br />

relações que são sempre contraditórias. A contradição esta incluída na totalidade<br />

concreta, e o seu acirramento conduzem o pensamento ao movimento que busca<br />

superar os impasses em um permanente movimento dialético.<br />

A compreensão dialética da totalidade significa não só que as partes se<br />

encontram em relação de interna interação e conexão entre si e com o todo, mas<br />

também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada por cima das<br />

partes, visto que o todo se cria a si mesmo na interação das partes. (KOSIK, 1976,<br />

pg. 34)<br />

A partir do aprofundamento e entendimento das articulações dialéticas<br />

entre as partes e o todo, se dá o conhecimento da totalidade de forma aprimorada.<br />

35


Assim:<br />

Este movimento pressupõe a historicidade dos fenôme<strong>no</strong>s sociais,<br />

reconhecendo a processual idade, o movimento e dos fenôme<strong>no</strong>s. Significa<br />

que os fenôme<strong>no</strong>s não são estáticos, estão em curso de desenvolvimento e,<br />

portanto, só podem ser apreendidos a partir do desenvolvimento deste<br />

movimento, por cortes históricos. (PRATES, 2003, pg. 95-96).<br />

Tal movimento de pensamento e de ação é embasado <strong>no</strong> materialismo<br />

histórico e <strong>no</strong> materialismo dialético. O primeiro considera a história a partir de sua<br />

materialidade, das leis objetivas, que existem independentemente da consciência; o<br />

segundo inclui a contradição na historia, e o motor do desenvolvimento da<br />

consciência passa a ser a contradição. Então, as contradições, que encontram seus<br />

fundamentos <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> objetivo, conduzem o pensamento a apreendê-las e superá-<br />

las, em um movimento dialético entre tese, antítese e síntese. Não há produção sem<br />

contradição, sem conflito, a começar pela relação do ser <strong>social</strong> (o homem) com a<br />

natureza através do trabalho (LEFEBVRE, 1995).<br />

A categoria da contradição, segundo CURY (2000), é à base de uma<br />

metodologia dialética e reflete o movimento mais originário do real. A racionalidade<br />

do real está <strong>no</strong>s movimentos contraditórios dos fenôme<strong>no</strong>s, que podem ser<br />

superáveis e provisórios. Sendo assim a contradição remete a idéia de movimento<br />

contrario com a intenção de criar e destruir, é a luta dos contrários na tentativa de<br />

superar conflitos. A contradição permeia as relações dos homens entre si e a<br />

dinâmica da sociedade.<br />

O universo do estudo abrange a totalidade dos profissionais da saúde que<br />

atuam nas 11 Unidades Básicas de Saúde e na equipe do NASF em Ijuí/RS. A<br />

amostragem desta pesquisa é composta por três agentes comunitários de saúde, um<br />

médico e um técnico em enfermagem ESF (Estratégia de Saúde da Família) do<br />

Centro Social Urba<strong>no</strong>. Também fizeram parte da amostragem os profissionais que<br />

compõem a equipe do NASF do Município de Ijuí.<br />

O critério utilizado para composição da amostragem buscou contemplar a<br />

participação de profissionais que atuam <strong>no</strong> NASF e na ESF (Estratégia de Saúde da<br />

Família), visto que o foco do estudo é desvendar como o trabalho dos Assistentes<br />

Sociais pode contribuir <strong>no</strong> processo de apoio feito pelo NASF. A escolha destes<br />

profissionais para o desenvolvimento dessa pesquisa se deve ao fato que estes<br />

estão diretamente inseridos <strong>no</strong> processo de apoio feito pelo NASF.<br />

36


O tipo de amostra a ser trabalhada é a não probabilística, esse tipo de<br />

amostra possibilita não fazer generalizações acerca dos interesses do pesquisador<br />

que é o de conhecer as opiniões uma parte da população, nem sempre<br />

representativa da mesma, sobre a temática que se propôs a investigar (MARCONI E<br />

LAKATOS, 1999). Segundo GIL (1994), a amostragem não probabilística é aplicada<br />

em pesquisas exploratórias ou de caráter qualitativo, que não tem a preocupação<br />

com o rigor estatístico.<br />

A coleta de dados será realizada por meio de entrevista. Segundo Minayo<br />

(1994), a entrevista é a busca de informações contida na fala dos sujeitos. O tipo de<br />

entrevista a ser utilizada será a semi-estruturada, pois possibilita que os sujeitos<br />

possam falar além da questão apresentada. De acordo com GIL (1999), a técnica de<br />

coleta de dados é o conjunto de processos e instrumentos elaborados para garantir<br />

o registro das informações, o controle e a analise dos dados.<br />

A coleta de dados é feita através da obtenção de uma coleção de<br />

questões que são perguntadas e a<strong>no</strong>tadas por um entrevistador numa situação face<br />

a face com outra pessoa. A organização da analise dos dados da pesquisa de<br />

campo tem por objetivo responder ao problema proposto para a investigação, para<br />

isso os dados colhidos serão selecionados para atender ao objetivo deste trabalho.<br />

A análise dos dados será realizada a partir da técnica de análise de<br />

conteúdo. Essa técnica é compatível com o método dialético e contribui para<br />

[...] o desvelar das ideologias que podem existir <strong>no</strong>s dispositivos legais,<br />

princípios, diretrizes, etc., que a simples vista, não se apresentam com a<br />

devida clareza. Por outro lado, o método de analise de conteúdo, em alguns<br />

casos, pode servir de auxiliar para instrumento de pesquisa de maior<br />

profundidade e complexidade, como, por exemplo, o método dialético. Neste<br />

caso, a análise de conteúdo forma parte de uma visão mais ampla e fundese<br />

nas características do enfoque dialético (TRIVIÑOS, 1987, pgs. 159-60).<br />

A partir do tratamento das informações contidas nas falas dos sujeitos,<br />

essa técnica é a que permite a melhor análise das informações. Nessa pesquisa<br />

será utilizada a analise de conteúdo através da leitura e transcrição das entrevistas.<br />

A análise de conteúdo é uma técnica que agrupa procedimentos<br />

sistemáticos do conteúdo manifesto nas comunicações, com a finalidade de obter a<br />

sua interpretação. Essa técnica possui diferentes fases: a pré-análise; a exploração<br />

do material; o tratamento dos resultados, a inferência e interpretação (BARDIN,<br />

1977).<br />

37


7 RESULTADOS DA PESQUISA<br />

Neste capítulo serão apresentados os dados coletados nesta pesquisa, a<br />

análise e os resultados aqui apresentados são provisórios, uma vez que o<br />

conhecimento construído nessa análise não é definitivo, e sim processual passível<br />

de superação.<br />

7.1 APRESENTAÇÃO DOS SUJEITOS PESQUISADOS<br />

A pesquisa foi realizada <strong>no</strong> mês de outubro de 2011, os sujeitos da<br />

pesquisa são profissionais que atuam <strong>no</strong> NASF e na ESF do Centro Social Urba<strong>no</strong><br />

na cidade de Ijuí. Na ocasião das entrevistas os profissionais apresentavam as<br />

seguintes características:<br />

• Entrevistada A: fo<strong>no</strong>audióloga, trabalha na Secretaria Municipal de<br />

Saúde de Ijuí (NASF).<br />

• Entrevistada B: farmacêutica, trabalha na Secretaria Municipal de<br />

Saúde de Ijuí (NASF)<br />

• Entrevistada C: psicóloga, trabalha na Secretaria Municipal de<br />

Saúde de Ijuí (NASF)<br />

• Entrevistado D: técnico em enfermagem, trabalha <strong>no</strong> ESF<br />

(Estratégia de Saúde da Família) do Centro Social Urba<strong>no</strong>, <strong>no</strong><br />

município de Ijuí.<br />

• Entrevistado E: agente comunitário de saúde, trabalha <strong>no</strong> ESF<br />

(Estratégia de Saúde da Família) do Centro Social Urba<strong>no</strong>, <strong>no</strong><br />

município de Ijuí.<br />

• Entrevistado F: agente comunitária de saúde, trabalha <strong>no</strong> ESF<br />

(Estratégia de Saúde da Família) do Centro Social Urba<strong>no</strong>, <strong>no</strong><br />

município de Ijuí.<br />

• Entrevistada G: agente comunitária de saúde, trabalha <strong>no</strong> ESF<br />

(Estratégia de Saúde da Família) do Centro Social Urba<strong>no</strong>, <strong>no</strong><br />

município de Ijuí.<br />

• Entrevistada H: médica clínica geral, trabalha <strong>no</strong> ESF (Estratégia de<br />

Saúde da Família) do Centro Social Urba<strong>no</strong>, <strong>no</strong> município de Ijuí.<br />

38


7.2 PRIMEIRA QUESTÃO NORTEADORA<br />

A questão <strong>no</strong>rteadora era: “Como os assistentes sociais, a partir de sua<br />

instrumentalidade contribuem com a equipe interdisciplinar <strong>no</strong> processo de apoio<br />

realizado pelo NASF?”. Para responder essa questão <strong>no</strong>rteadora, foram elaboradas<br />

as seguintes perguntas:<br />

• Quais as demandas do NASF <strong>no</strong> processo de apoio realizado nas<br />

UBS de Ijuí?<br />

• Como eu enquanto integrante da equipe do NASF, vejo a<br />

intervenção do assistente <strong>social</strong> nessas demandas?<br />

• Quais as contribuições do núcleo do <strong>serviço</strong> <strong>social</strong> <strong>no</strong> processo de<br />

trabalho do NASF?<br />

O NASF é constituído por equipes de profissionais de diferentes áreas de<br />

conhecimento que buscam a integralidade do cuidado físico e mental aos usuários<br />

do SUS por meio da complementação do trabalho das ESF apoiando com<br />

profissionais qualificados (BRASIL, 2009). O NASF em Ijuí ainda encontra-se em<br />

fase de implantação, conforme relata uma profissional da equipe do NASF:<br />

Como o NASF ainda encontra-se em fase de implantação em Ijuí, é possível<br />

destacar que até agora foram realizadas atividades de estruturação da<br />

equipe, apresentação da proposta de trabalho do NASF as equipes de ESF<br />

que estão sob sua responsabilidade, esclarecendo sobre os eixos de<br />

trabalho, atribuições da equipe do NASF e como se dará o processo de<br />

trabalho junto às equipes das ESF. Também foi realizado o apoio na<br />

implementação do acolhimento nas UBS [...] (A).<br />

No entanto, são muitas as demandas que chegam ao NASF por parte das<br />

equipes que sentem a necessidade de apoio e isso é revelado <strong>no</strong> relato de uma<br />

profissional do NASF:<br />

As equipes se sentem sozinhas, fazer uma escuta das equipes, uma<br />

conversa, existe certa resistência de vir até o NASF, há dificuldade de se<br />

desvincular do local de trabalho (por parte das equipes), há demanda de<br />

qualificação do trabalho, existe precariedade <strong>no</strong>s locais de trabalho, uma<br />

demanda maior é por profissional do Serviço Social, as equipes ainda tem<br />

uma dificuldade de entendimento do trabalho do NASF, difícil entendimento<br />

do compartilhamento, uma visão de encaminhamento (B).<br />

Durante as entrevistas ficou claro que os profissionais do NASF<br />

39


consideram a intervenção do Assistente Social muito importante por ser um<br />

profissional com uma visão abrangente dos fenôme<strong>no</strong>s que ocorrem na sociedade.<br />

Isso fica evidenciado <strong>no</strong> depoimento a seguir:<br />

Mas enfim acho que a contribuição mais importante do Serviço Social, com<br />

certeza é ampliação do olhar, pois vemos que infelizmente ainda impera a<br />

hegemonia médica, organicista, muitas vezes do tipo causa-efeito. E penso<br />

que o <strong>serviço</strong> amplia de <strong>no</strong>vo essa visão, incluindo nesse olhar, o macro, a<br />

importância não só da família e das relações, mas também do território que<br />

o sujeito está adstrito, e do contexto <strong>social</strong> amplo, que influencia <strong>no</strong>ssa<br />

saúde (embora maioria tenha dificuldade de perceber). (C).<br />

O Assistente Social possui um conhecimento específico que lhe<br />

proporciona auto<strong>no</strong>mia relativa na execução do seu trabalho. Esse profissional<br />

realiza suas leituras da realidade através de seus conhecimentos teórico-<br />

metodológicos, e assim cria estratégias que direcionam suas ações para o<br />

enfrentamento da desigualdade <strong>social</strong>. (IAMAMOTO, 2004).<br />

No cotidia<strong>no</strong>, os fenôme<strong>no</strong>s sociais mostram-se de forma fragmentada,<br />

não se apresentando em um primeiro momento de forma articulada com a totalidade<br />

dos processos sociais decorrentes da estrutura econômica da sociedade, o<br />

assistente <strong>social</strong> utiliza seus conhecimentos teórico-metodológicos para desvendar a<br />

relação entre essas situações singulares e os processos sociais decorrentes das<br />

relações de produção, utilizando seus conhecimentos das grandes leis da sociedade<br />

na apreensão de fenôme<strong>no</strong>s singulares e nessa relação reconstrói o entendimento<br />

do fenôme<strong>no</strong>.<br />

Nos termos de Pontes (2002), é na mediação entre as categorias<br />

universais (grandes leis) e os fenôme<strong>no</strong>s singulares que ocorre o conhecimento da<br />

particularidade dos fenôme<strong>no</strong>s sociais. No caso da saúde, por exemplo, o<br />

profissional contribui para superar o conhecimento meramente biológico em relação<br />

aos processos de saúde/doença que os compreende a partir de uma lógica formal<br />

de causa e efeito, ou seja, se uma mulher está com depressão, esse é o problema,<br />

já solução é o antidepressivo.<br />

No entanto, essa depressão pode ser uma expressão de outros<br />

processos, que de uma forma, ou de outra, estarão articulados com a totalidade<br />

<strong>social</strong> estruturada pelas relações de produção, a depressão pode ser decorrente do<br />

desemprego do marido, do uso de drogas dos filhos, da violência psicológica e/ou<br />

física. Então, nessa perspectiva de análise o profissional de <strong>serviço</strong> <strong>social</strong> pode<br />

40


contribuir para ampliar o olhar dos profissionais da ESF em relação aos processos<br />

sociais que se expressam <strong>no</strong>s processos de saúde e doença para favorecer uma<br />

intervenção também ampliada e adequada ao princípio da integralidade.<br />

[...] Acho que o Serviço Social contribui muito nisso, em ver o contexto<br />

sócio-cultural, o Serviço Social dá a <strong>no</strong>ção de que é preciso conhecer,<br />

considerar e interagir com o território que o individuo está, pois lá e seu local<br />

de referência, e é lá que se dá a vida. Promover a saúde passa<br />

inevitavelmente, pela consideração desses aspectos não ditos, emocionais,<br />

familiares e sociais, se a psicologia auxilia “individualizando” esse olhar, <strong>no</strong><br />

sentido de tirar o olhar da doença e focando <strong>no</strong> indivíduo, mudando o foco a<br />

doença e para saúde, o Serviço Social “desinvididualiza” (acho que a<br />

palavra não existe, mas deu pra entender o sentido né?) <strong>no</strong>vamente, <strong>no</strong><br />

sentido que amplia o olhar, considerando todos os aspectos sociais contidos<br />

nesse individuo. Pois afinal todo individual é também um coletivo, visto que<br />

todos temos entraves emocionais, sociais, culturais, étnicos, políticos... etc<br />

(C).<br />

O cotidia<strong>no</strong> cria armadilhas às quais o Assistente Social deve estar<br />

atento, sendo situações singulares, isto é, situações que a princípio parecem<br />

exclusivas daquele sujeito, alvo da intervenção do Assistente Social. Nesse sentido<br />

o Assistente Social produz um conhecimento através do desvendamento dessas<br />

situações imediatas que aparecem <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> de trabalho (PONTES, 2002).<br />

Os seres huma<strong>no</strong>s são seres essencialmente sociais, vivem em<br />

sociedade e essa sociedade é uma totalidade. Qualquer que seja a demanda que<br />

chega para o Assistente Social, esta deve ser vista na dimensão <strong>social</strong> da vida<br />

humana e para isso é necessário que o Assistente Social se aproprie de seu objeto<br />

de trabalho que é a questão <strong>social</strong>, assim como dos instrumentos necessários para o<br />

agir profissional. Segundo Baptista (2002), o objeto do planejamento da intervenção<br />

é o segmento de uma realidade total que lhe é posto como desafio.<br />

A presença do Assistente Social é importante tanto <strong>no</strong> diz respeito às<br />

contribuições que traz para a equipe do NASF, com seu olhar abrangente,<br />

como também nas intervenções que fará <strong>no</strong> apoio ao trabalho desenvolvido<br />

pelas equipes de ESF, <strong>no</strong> compartilhamento de casos haja vista a realidade<br />

<strong>social</strong> precária de grande parte da população atendida e suas necessidades<br />

(A).<br />

Ficou evidente que o olhar abrangente da realidade constitui-se como um<br />

aspecto marcante na atuação do Assistente Social <strong>no</strong> planejamento do apoio<br />

realizado aos profissionais da Estratégia de Saúde da Família de Ijuí. Pode-se inferir<br />

que isso está relacionado com o fato de que os Assistentes Sociais compreendem<br />

as demandas com as quais atuam como expressões da questão <strong>social</strong>, sendo as<br />

41


situações singulares de pobreza, fome, falta de acesso a saúde visualizadas como<br />

fenôme<strong>no</strong>s <strong>social</strong>mente construídos e individualmente manifestados.<br />

O Assistente Social além de ter esse olhar abrangente das expressões da<br />

questão <strong>social</strong>, também é considerado como conhecedor e articulador da rede para<br />

poder estar intervindo na realidade dos sujeitos. Isso fica claro <strong>no</strong> relato de uma<br />

profissional do NASF: “o papel do Assistente Social é imprescindível. Principalmente<br />

<strong>no</strong> que se refere à articulação da rede, tanto da rede de saúde, quanto da rede sócio<br />

assistencial do município” (C).<br />

Segundo Turck (1999) as redes são construídas a partir da experiência e<br />

conhecimento profissional dos atores sociais em uma ação conjunta e participativa,<br />

que visa à construção de uma práxis interdisciplinar <strong>no</strong> atendimento a situações<br />

individuais e/ou coletivas que emergem em um determinado contexto <strong>social</strong>.<br />

Os profissionais do NASF entendem que é importante o trabalho do<br />

assistente <strong>social</strong> <strong>no</strong> fortalecimento da rede e na construção dos saberes. Isso fica<br />

evidenciado <strong>no</strong> depoimento a seguir:<br />

[...] Outra questão é o estímulo construção coletiva /dialogada do<br />

conhecimento e da Co-responsabilização com os usuários, o Assistente<br />

Social atua muito neste sentido, não só nas só nas unidades atendidas, mas<br />

nas próprias reuniões, lembrando a equipe do NASF e as unidades destas<br />

questões, e convidando os demais profissionais a olharem os sujeitos com<br />

olhares diferentes do seu (C).<br />

O desenvolvimento do trabalho em rede parte de um interesse comum <strong>no</strong><br />

processo de inclusão do ser e traz na sua essência o compartilhamento e a<br />

possibilidade de inclusão (TURCK, 1999). Na rede é necessário agregar a<br />

capacidade de estabelecer uma comunicação e escuta por parte dos indivíduos que<br />

compõe a rede, ou seja, “[...] troca de “saberes” e orientação nas diferentes áreas<br />

profissionais com os profissionais das equipes de ESF e compartilhamento de casos<br />

[...]” (C).<br />

Pela abrangência de seu objeto de estudo e área de atuação, o profissional<br />

do <strong>serviço</strong> <strong>social</strong> contribui positivamente enquanto membro da equipe do<br />

NASF e como apoio as equipes de ESF, pois seu saber enriquece a<br />

elaboração, o planejamento e execução de ações de promoção e proteção<br />

a saúde, a garantia de direitos dos usuários, elaboração de atividades de<br />

orientação, inclusão, educação e encaminhamentos (C).<br />

Portanto, fica evidenciado que o Assistente Social contribui muito<br />

com a equipe do NASF de maneira positiva em ações que favorecem para o<br />

42


enfrentamento das demandas que chegam até o NASF.<br />

7.3 SEGUNDA QUESTÃO NORTEADORA<br />

A próxima questão <strong>no</strong>rteadora era: “Desvendar como as equipes de<br />

Saúde da Família concebem a atuação do Assistente Social <strong>no</strong> processo de apoio”.<br />

Para responder essa questão <strong>no</strong>rteadora foram elaboradas as seguintes perguntas:<br />

• Qual a importância da equipe de apoio do NASF?<br />

• Como você entende a atuação do assistente <strong>social</strong> <strong>no</strong> processo de<br />

apoio?<br />

• Essas contribuições contemplam suas expectativas, na busca de<br />

apoio?<br />

Assim como os profissionais do NASF, os profissionais da ESF também<br />

compreendem que o conhecimento da rede constitui-se como uma potencialidade da<br />

atuação do Assistente Social. Os profissionais das UBS sentem a necessidade da<br />

presença cotidiana do Assistente Social, eles referem que esse profissional tem<br />

capacidade de fazer uma “escuta” do usuário, entendem que o assistente <strong>social</strong> tem<br />

um entendimento diferenciado da situação. Referem que existe a necessidade de<br />

profissionais de Serviço Social para intervir em situações de negligência familiar<br />

contra criança e idosos, violência contra mulheres, etilismo e uso de drogas. Isso<br />

fica evidenciado <strong>no</strong> depoimento a seguir:<br />

[...] fundamental ter um Assistente Social, pelo seguinte: tu tem uma criança<br />

que não está indo na escola, não tem uma roupa pra vestir ou qualquer<br />

coisa nesse sentido, quem é a primeira pessoa que gente vai procurar é a<br />

Assistente Social pra <strong>no</strong>s dar cobertura pra essa família, até ajuda da<br />

Assistência Social com uma ajuda psicológica pra família, também <strong>no</strong> caso<br />

de maus tratos tentar ver a parte mais pratica mais fácil para não precisar<br />

entrar com recursos judicial que isso ai causa mais transtor<strong>no</strong> pra família e<br />

transtor<strong>no</strong>s morais. O Assistente Social é uma peça chave na integração<br />

desse grupo NASF, unidade básica e CAPS, sem a Assistente Social a<br />

gente não conseguiria porque ela é quem mais entende a parte jurídica, um<br />

olhar diferenciado da situação que nós assim um técnico em enfermagem o<br />

que faz, a gente vai até a casa vê condições de higiene, saúde, se precisa<br />

de curativo paciente acamado toda essa parte, paciente ta sendo bem<br />

cuidado daí se caso isso não aconteça, paciente ta acamado, ta criando<br />

ferida de ficar na cama, o que a gente faz, a gente tenta falar com a família,<br />

nem sempre a família é receptiva, que recurso a gente vai procurar? A<br />

Assistente Social. O Assistente Social é um profissional de apoio<br />

fundamental, pois conhece os trâmites legais para ações sociais e tem a<br />

43


função de atuar nessa área junto a famílias/pacientes mais necessitados<br />

(H).<br />

Nesse depoimento fica evidente que o entendimento acerca das<br />

contribuições do Assistente Social está relacionado ao conhecimento jurídico, das<br />

leis. Nessa perspectiva o profissional é concebido como aquele técnico que identifica<br />

a demanda e encaminha para rede. Outro ponto é que o Assistente Social é<br />

concebido como um profissional que tem uma bagagem de conhecimento que lhe<br />

permite compreender a origem de situações de negligência, abando<strong>no</strong>, etilismo, uso<br />

de drogas, ou seja, possui capacidade de realizar um olhar para além do aspecto<br />

biológico da doença e habilidade para intervir em situações de violência intrafamiliar.<br />

No entanto, eles não têm compreensão da lógica de trabalho do NASF<br />

que é de compartilhamento das demandas na lógica da educação permanente, mas<br />

sim entendem que os profissionais do NASF têm a função de resolver as demandas<br />

que chegam as ESF. Isso fica explicitado <strong>no</strong> depoimento a seguir:<br />

[...] o <strong>no</strong>sso conhecimento do NASF foi o que <strong>no</strong>s apresentaram e não<br />

tivemos mais nenhum contato com ele direto, nós nem soubemos o que<br />

acontece nesse NASF, <strong>no</strong>s apresentaram o programa, o projeto, ta o projeto<br />

<strong>no</strong>s foi apresentado, mas o que faz o NASF afinal? [...] (E).<br />

Segundo o Ministério da Saúde (2008), o NASF, foi criado com o objetivo<br />

de ampliar a abrangência e a diversidade das ações das ESF (Estratégias de Saúde<br />

da Família), bem como sua resolubilidade, uma vez que promove a criação de<br />

espaços para a produção de <strong>no</strong>vos saberes e ampliação da clínica. Tem como<br />

modelo operacional o apoio matricial para atuarem em parceria com os profissionais<br />

das ESF, compartilhando as praticas em saúde <strong>no</strong>s territórios sob a sua<br />

responsabilidade das ESF <strong>no</strong> qual o NASF está cadastrado. Portanto, o NASF não<br />

se constitui como porta de entrada do sistema para os usuários, mas sim de apoio<br />

as equipes de saúde da família, tendo como eixo central a responsabilização, a<br />

gestão compartilhada e apoio á coordenação do cuidado, que se pretende, pela<br />

saúde da família.<br />

A lógica de atendimento do NASF é de problematização de demandas<br />

cotidianas, não é de resolutividade, mas sim de “assessoria”. Os profissionais do<br />

NASF devem contribuir para que os profissionais da ESF possam intervir <strong>no</strong>s<br />

processos de saúde doença em uma perspectiva de integralidade.<br />

Por exemplo, o Assistente Social não tem que identificar e intervir ou<br />

44


encaminhar as situações de abando<strong>no</strong> acima referidas, mas sim deve preparar os<br />

profissionais (técnicos de enfermagem, enfermeiros, dentistas, médicos) para que<br />

eles possam identificar as causas de situações de negligência, uso de drogas, etc. e<br />

assim poder intervir nas demandas ou se necessário encaminhar, sem a presença<br />

do assistente <strong>social</strong>.<br />

Portanto fica claro que os profissionais das ESF entendem a importância<br />

do Assistente Social, mas não compreendem que ele vai lá pra assessorar e não pra<br />

resolver as demandas, vai para contribuir com a intervenção dos profissionais da<br />

ESF, mas não para intervir nas demandas da ESF.<br />

A lógica de atendimento do NASF perpassa pela política de educação<br />

permanente em saúde devendo considerar o conceito dessa política articulando as<br />

necessidades dos <strong>serviço</strong>s de saúde, as possibilidades de desenvolvimento dos<br />

profissionais, a capacidade resolutiva dos <strong>serviço</strong>s de saúde e a gestão <strong>social</strong> sobre<br />

as políticas publicas de saúde.<br />

Segundo o Ministério da Saúde 5 (2009), a educação permanente em<br />

saúde é aprendizagem <strong>no</strong> trabalho, onde o aprender e o ensinar se incorporam ao<br />

cotidia<strong>no</strong> das organizações e ao trabalho.<br />

Propõe-se que os processos de capacitação dos trabalhadores da saúde<br />

tomem como referência as necessidades de saúde das pessoas e das<br />

populações, da gestão setorial e do controle <strong>social</strong> em saúde, tenham como<br />

objetivos a transformação das práticas profissionais e da própria<br />

organização do trabalho e sejam estruturados a partir da problematização<br />

do processo de trabalho (BRASIL, Portaria GM/MS N° 198, de 13 de<br />

fevereiro de 2004).<br />

A Educação Permanente é uma importante mudança na concepção e nas<br />

práticas de capacitação dos trabalhadores dos <strong>serviço</strong>s, ela supõe inverter a lógica<br />

do processo; incorporando o ensi<strong>no</strong> e o aprendizado à vida cotidiana das<br />

organizações e às práticas sociais e laborais, <strong>no</strong> contexto real em que ocorrem;<br />

modificando substancialmente as estratégias educativas, a partir da prática como<br />

fonte de conhecimento e de problemas e da problematização do próprio fazer.<br />

Assim, ela é feita a partir dos problemas enfrentados, na realidade levando em<br />

consideração os conhecimentos e as experiências que as pessoas já têm (BRASIL,<br />

2009).<br />

5 A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na íntegra na Biblioteca Virtual em<br />

Saúde do Ministério da Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs Série B. Textos Básicos de Saúde.<br />

45


Durante as entrevistas com alguns profissionais das ESF, percebeu-se<br />

que eles não têm interesse em construir conhecimento coletivo que possa dar conta<br />

das demandas que existem <strong>no</strong>s territórios de sua responsabilidade. Para eles, o<br />

NASF tem que resolver as demandas e dar um retor<strong>no</strong> para eles de como foi<br />

encaminhado determinados casos. Isso fica evidente <strong>no</strong> seguinte depoimento:<br />

[...] É que é assim tem ter um retor<strong>no</strong> sendo positivo ou negativo pra aquele<br />

problema tem que ter, o retor<strong>no</strong> tem que vir de volta pra nós, a gente chama<br />

busca ajuda deles do NASF eles tem que <strong>no</strong>s dá um retor<strong>no</strong> olha aquilo a<br />

gente teve que resolver e só deu pra fazer dessa forma, então ta faltando<br />

essa ponte, ta faltando essa ligação. Ta bem complicado [...] (F).<br />

Eles entendem a importância do NASF para a equipe das ESF, mas nem<br />

sempre querem ser preparados pela equipe para intervir <strong>no</strong>s processos de<br />

saúde/doença de maneira coletiva e integral. Para eles o NASF esta presente com<br />

uma proposta e deve dar conta dessa proposta de maneira independente.<br />

O núcleo de apoio à saúde da família será muito bem vindo, para o<br />

fortalecimento da ESF, porque é uma equipe multidisciplinar, já que os ACS<br />

(agentes comunitários de saúde) encontram varias situações de doença na<br />

família, projeto do NASF é muito importante e esperamos que ele possa<br />

cumprir as suas expectativas (E).<br />

Os ACS e outros profissionais da ESF entendem que o NASF teria que<br />

agir diretamente <strong>no</strong>s territórios que demandam mais atenção, dessa forma<br />

demonstram não entender a lógica de trabalho do NASF.<br />

[...] O NASF é uma unidade que ta começando agora a gente não teve uma<br />

grande integração, agora a gente conheceu a proposta deles de integração<br />

com nós tudo, mas a gente não ainda não teve atividade nisso [...] foi<br />

colocado pra nós agora as intenções deles a gente achou bom tudo, mas<br />

ainda não teve a efetivação do <strong>serviço</strong> [...] agir mais direto <strong>no</strong>s focos como<br />

eu disse na comunidade dos bairros carentes tipo Getulio Vargas o ESF<br />

pega os bairros Getulio Vargas, industrial, morado do sol e universitário o<br />

<strong>no</strong>sso bairro mais critico é o Getulio Vargas onde a gente precisa de uma<br />

intensificação maior tanto da parte da Assistência Social, quanto dos ACS<br />

(H).<br />

Os profissionais das ESF não têm intenção de se corresponsabilizar pelas<br />

demandas, desejam continuar centrados somente <strong>no</strong> aspecto biológico sem querer<br />

se prepararem para atuação nas demandas que extrapolam as questões clinica,<br />

esquecendo muitas vezes que cada sujeito tem seu contexto <strong>social</strong>, cultural,<br />

psicológico e familiar.<br />

46


A operacionalização da Educação Permanente em uma organização de<br />

saúde, a exemplo dos profissionais das ESF, poderá ser influenciada por diversos<br />

fatores, entre eles a falta de compreensão do trabalhador sobre a dimensão e a<br />

importância da Educação Permanente para a mudança das práticas, a resistência<br />

natural que as pessoas têm às mudanças, neste caso específico, das práticas de<br />

trabalho, do acúmulo de empregos, de tempo disponível estritamente para o horário<br />

de trabalho, além da desmotivação por fatores diversos, a exemplo da sobrecarga<br />

de trabalho e funções. (cader<strong>no</strong>s de atenção básica)<br />

O NASF de Ijuí encontra-se em fase de implantação e em razão disso<br />

muitos profissionais das UBS não compreendem a finalidade do apoio realizado que<br />

se pauta <strong>no</strong> princípio da co-responsabilidade, ou seja, o apoio é realizado <strong>no</strong> sentido<br />

de compartilhar os problemas e as possibilidades de superação dos mesmos. Nessa<br />

ótica o apoio tem uma função pedagógica <strong>no</strong> sentido de subsidiar os profissionais da<br />

UBS.<br />

Esse processo de conhecimento pautado na educação permanente parte<br />

de situações problemas que são compartilhadas na perspectiva de que ocorra a<br />

superação das demandas. Nesse processo, o profissional de Serviço Social, por<br />

exemplo, pode ir mostrando que o agente comunitário de saúde pode encaminhar o<br />

usuário para o programa bolsa família que essa ação engloba seu trabalho, pois a<br />

privação de condições financeiras impacta na saúde das pessoas.<br />

A Assistente Social, como aqui a gente trabalha com bairros de classe<br />

media baixa a assistente <strong>social</strong> é importante <strong>no</strong> sentido que os agentes de<br />

saúde vão até as casas, acompanham, passam todo o quadro da família em<br />

geral das crianças que não estão na escola, mãe que não traz pra vacinar,<br />

se realmente precisa do bolsa família, os ACS passam tudo isso pra nós<br />

que mais tarde é repassado pra assistência <strong>social</strong>, se for o caso tem que ta<br />

tudo e dia em geral mesmo (D).<br />

Os ACS (Agentes Comunitários de Saúde) e os profissionais das ESF<br />

(Estratégia de Saúde da Família) entendem que o Assistente Social é importante e<br />

acabam por pensar que o mesmo tem a função de resolução das demandas que<br />

passam pela ESF e chega até o NASF. Esse modo de pensar é contraditório ao<br />

trabalho que o NASF se propõe a desenvolver junto as ESF. Este sentido, o trabalho<br />

profissional é “de extrema importância, pois o profissional Assistente Social vem<br />

para acrescentar e melhorar o atendimento e os encaminhamentos necessários para<br />

se tentar resolver os problemas existentes” (E).<br />

47


Desta forma entende-se que ainda falta uma compreensão por parte dos<br />

profissionais das ESF referente à lógica de atendimento do NASF, pois mesmo que<br />

o assistente <strong>social</strong> possa contribuir de forma positiva, por ser um profissional com a<br />

capacidade de vislumbrar estratégias de mediação que substituam velhas formulas<br />

assistencialista ou ações com propostas que vão ao encontro de uma lógica<br />

excludente. O Assistente Social, não esta ali para resolver as demandas da ESF e<br />

sim para construir em conjunto uma estratégia de ação capaz de dar conta dos<br />

problemas existentes naquele território.<br />

48


8 CONSIDERAÇÕES PROVISÓRIAS<br />

Para a realização da pesquisa, o principal eixo <strong>no</strong>rteador utilizado fora a<br />

caracterização das contribuições do profissional do Serviço Social frente ao<br />

processo de apoio às Unidades Básicas de Saúde, através do NASF do município<br />

de Ijuí.<br />

Os resultados evidenciaram que as contribuições do Assistente Social são<br />

demonstradas através de sua competência em realizar análises abrangentes da<br />

realidade, além de possuírem o devido conhecimento referente à rede de<br />

atendimento.<br />

Seu olhar abrangente produz capacidade de intervenção e transformação<br />

a partir de uma compreensão ampla da realidade na qual o indivíduo e sua família<br />

se encontram inseridos. Além desse fator, o conhecimento das possibilidades<br />

jurídicas e da rede de proteção de direitos sociais permite que o mesmo<br />

desempenhe um papel de agente transformador. Trata-se de um profissional<br />

comprometido com os valores e princípios <strong>no</strong>rteadores da Ética e, especialmente,<br />

com o código de ética do Assistente Social, como conhecimento e capacidade de<br />

promover o ple<strong>no</strong> exercício da cidadania.<br />

No município de Ijuí, os profissionais da ESF que atuam junto ao Centro<br />

Social Urba<strong>no</strong> parecem não compreender adequadamente o papel que desempenha<br />

o NASF na relação com a atenção básica e isso se deve ao fato de que O NASF de<br />

Ijuí encontra-se em fase de implantação e em razão disso não compreendem a<br />

finalidade do apoio realizado pautado <strong>no</strong> princípio da co-responsabilidade, ou seja, o<br />

apoio é realizado <strong>no</strong> sentido de compartilhar os problemas e as possibilidades de<br />

superação dos mesmos. Nessa ótica o apoio tem uma função pedagógica <strong>no</strong> sentido<br />

de subsidiar os profissionais da UBS.<br />

Muitos são os problemas relatados <strong>no</strong> NASF de Ijuí. O fato do mesmo<br />

estar em fase de implantação concomita com a falta de um ambiente de trabalho<br />

adequado, com uma estrutura adequada para os processos de trabalho executados<br />

<strong>no</strong> referido ambiente. Da mesma forma, a equipe se sente "desassistida", pois<br />

muitas vezes não consegue resolver problemas básicos por falta de estrutura.<br />

Com a falta de compreensão dos profissionais da ESF, o profissional do<br />

Serviço Social é visto, muitas vezes, como o profissional que é capaz de transformar<br />

a realidade dos usuários quando todos os demais métodos falham. Entretanto, a<br />

49


atuação do Assistente Social deve ser pautada por ações em parceria com os<br />

demais profissionais e, para isso, é preciso haver uma construção coletiva de<br />

reflexões sobre a realidade dos <strong>serviço</strong>s existentes por parte de todos os envolvidos<br />

<strong>no</strong> processo de amenização e até solução das expressões da questão <strong>social</strong>.<br />

Uma característica marcante do Assistente Social diz respeito ao seu<br />

conhecimento jurídico e, principalmente, à sua intervenção estar atrelada a<br />

embasamentos legais. Desta forma, sua atuação profissional possui embasamento<br />

jurídico adequado, transformando suas intervenções em efetivas mudanças na vida<br />

dos usuários.<br />

Porém, sua característica mais relevante é justamente o seu olhar<br />

abrangente, a capacidade que possui de desvendar as expressões da questão<br />

<strong>social</strong>, compreendendo suas origens <strong>no</strong> modo de produção capitalista, através do<br />

qual, ainda <strong>no</strong>s dias de hoje, se produzem cada vez mais desigualdades.<br />

É por isso que o Assistente Social é considerado um profissional capaz de<br />

criar estratégias para o enfrentamento das desigualdades sociais justamente por<br />

conhecer a realidade de maneira ampla, compreendendo a questão <strong>social</strong> como<br />

uma manifestação da desigualdade capitalista, produzida <strong>no</strong> decorrer dos séculos.<br />

Assim, é possível perceber que a realidade vivenciada pelos profissionais<br />

do NASF incita a necessidade de transformações urgentes, tendo em vista o<br />

atendimento prestado a indivíduos e suas famílias, os quais se encontram, em<br />

grande quantidade, em situações de vulnerabilidade <strong>social</strong>.<br />

Retoma-se, portanto, a relevância de uma educação permanente em<br />

saúde, a qual permita aos profissionais da área que tenham seus conhecimentos<br />

constantemente reciclados, visando ofertar à população um <strong>serviço</strong> em saúde que<br />

seja capaz de atender às demandas oriundas da sociedade.<br />

50


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