11.10.2013 Views

Questões de gênero na literatura e na produção ... - Fazendo Gênero

Questões de gênero na literatura e na produção ... - Fazendo Gênero

Questões de gênero na literatura e na produção ... - Fazendo Gênero

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

inca<strong>de</strong>iras <strong>na</strong> floresta, encontros com caçadores, turistas, exploradores, ou ce<strong>na</strong>s em que se<br />

<strong>de</strong>param com o espaço urbano (ou se encontram com turistas, cientistas, fotógrafos). Estas histórias<br />

atribuem aos meninos à ação, a aventura, a ousadia e a coragem. As meni<strong>na</strong>s aparecem como<br />

perso<strong>na</strong>gens coadjuvantes sendo que o cenário ocupado por elas é o doméstico. Brincar <strong>de</strong> casinha,<br />

brincar <strong>de</strong> fazer comida, <strong>de</strong> cuidar das crianças, domesticar animais <strong>de</strong> pequeno porte, enfeitar-se<br />

com flores e coisas da <strong>na</strong>tureza, são ações comuns empreendidas pelas meni<strong>na</strong>s.<br />

Nos quadros <strong>de</strong>stas <strong>na</strong>rrativas, as mulheres adultas são mães, “femini<strong>na</strong>mente” envolvidas<br />

em ativida<strong>de</strong>s domésticas. Elas aparecem, <strong>na</strong>s histórias a<strong>na</strong>lisadas, executando tarefas “do lar”,<br />

cozinhando, varrendo, lavando, recebendo produtos <strong>de</strong> caça e <strong>de</strong> pesca, carregando potes. As<br />

mulheres não-índias, que entram em ce<strong>na</strong> em algumas histórias, são apresentadas também em<br />

cenários domésticos, realizando ativida<strong>de</strong>s consi<strong>de</strong>radas femini<strong>na</strong>s. Na história Um ursinho para<br />

Jurema uma família acampa próximo à al<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Papa-Capim. Nos quadros iniciais a família<br />

estrutura o acampamento – o pai monta a barraca enquanto a mãe e a filha aparecem organizando as<br />

panelas e a comida. Numa seqüência posterior a mãe costura o braço do ursinho <strong>de</strong> pelúcia <strong>de</strong> sua<br />

filha enquanto o pai sai para caçar.<br />

Na história Papa-Capim encontra Chico Bento o perso<strong>na</strong>gem e seu amigo Cafuné saem pela<br />

mata e chegam ao sítio <strong>de</strong> Chico Bento. No caminho Papa-Capim se machuca e é socorrido. Na<br />

casa do sítio, o perso<strong>na</strong>gem fica aos cuidados da mãe <strong>de</strong> Chico Bento, que lhe faz curativos, prepara<br />

alimentos, cercando-o <strong>de</strong> cuidados “mater<strong>na</strong>is”. Construídas como figuras conciliadoras e passivas,<br />

em geral as mulheres e meni<strong>na</strong>s não participam das “ce<strong>na</strong>s <strong>de</strong> ação” que quase sempre se<br />

<strong>de</strong>senrolam <strong>na</strong> mata – espaço masculino. Há, porém, histórias em que mulheres ou meni<strong>na</strong>s<br />

provocam conflitos, como em O gran<strong>de</strong> Caçador, que inicia com um grupo <strong>de</strong> meni<strong>na</strong>s caçoando<br />

<strong>de</strong> Papa-Capim porque ele não consegue ser um bom caçador. Outro exemplo em que a figura<br />

femini<strong>na</strong> escapa <strong>de</strong>sta representação conciliadora é quando sua atenção é disputada por perso<strong>na</strong>gens<br />

masculinos, como ocorre em Potira. Embora ela seja <strong>de</strong>scrita como meiga e <strong>de</strong>licada, sua presença<br />

provoca disputas entre os jovens da al<strong>de</strong>ia – e a ação, portanto, é atribuída aos homens.<br />

A vida doméstica é reservada à mulher indíge<strong>na</strong>, o mesmo ocorrendo com a maternida<strong>de</strong>,<br />

vista como algo inerente à condição femini<strong>na</strong>. Colocadas neste lugar, as perso<strong>na</strong>gens das histórias<br />

do Papa-Capim colaboram com aquilo que Meyer (2005, p. 151) chama <strong>de</strong> “politização<br />

contemporânea do feminino e da maternida<strong>de</strong>”, um conjunto <strong>de</strong> dispositivos e <strong>de</strong> investimentos para<br />

constituir <strong>de</strong>termi<strong>na</strong>dos modos <strong>de</strong> ser mulher e <strong>de</strong> ser mãe. Ao a<strong>na</strong>lisar programas <strong>de</strong> educação em<br />

saú<strong>de</strong> a autora conclui que estes investimentos funcio<strong>na</strong>m para subjetivar mulheres, posicio<strong>na</strong>ndoas<br />

no cuidando da prole e <strong>na</strong> garantia <strong>de</strong> um ambiente saudável. E como a <strong>produção</strong> <strong>de</strong> sujeitos<br />

femininos e masculinos acontece em uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> práticas e <strong>de</strong> discursos, po<strong>de</strong>-se afirmar que a<br />

leitura <strong>de</strong> histórias em quadrinhos que posicio<strong>na</strong>m meni<strong>na</strong>s e meninos/ mulheres e homens nesta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!