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Masculinidade e Homofobia em O Ateneu ... - Fazendo Gênero

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É possível afirmar que esta tríade estruturante se constitui <strong>em</strong> nosso contexto. Miskolci<br />

(2006), <strong>em</strong> sua análise do romance Dom Casmurro, d<strong>em</strong>onstra como no final do século XIX, com a<br />

consolidação do casal burguês, configurou-se tensões cruciais de uma nova ord<strong>em</strong> sexual. Ao invés<br />

de enfocar a análise na relação entre Bentinho e Capitu, nota-se a constituição de um triângulo, do<br />

qual participa Escobar. A estrutura deste triângulo mantinha afastado o vértice: as identidades e<br />

relações recusadas e invisibilizadas pela decadente ord<strong>em</strong> imperial assim como pela burguesa<br />

ascendente.<br />

A morte de Escobar é responsável pela transformação do ingênuo Bentinho no amargo<br />

Casmurro. Se a relação entre os dois era apenas aceitável pela mediação de Capitu, após a morte do<br />

amigo, Bento se torna paranóico. Paranóia é aqui entendida como expressão internalizada de<br />

pressões sociais para que se conformasse com identidades aceitáveis. A paranóia se voltou contra<br />

Capitu, por suspeita de adultério e contra si mesmo, na forma de homofobia. Nas palavras de<br />

Miskolci “tal relação se dava na tênue linha do espectro homossocial <strong>em</strong> que a relação entre homens<br />

é a forma privilegiada de socialização masculina e partilha do poder sobre as mulheres” (2006, p. 1-<br />

7). Sendo essas relações entre homens reguladas pela homofobia.<br />

Analisar<strong>em</strong>os como a homofobia se insere no internato <strong>em</strong> que se passa o romance, tanto no<br />

nível institucional, no qual através da organização disciplinar se organizava de forma a evitar<br />

possíveis relações homoeróticas, quanto nas relações homossociais que reverberavam tal<br />

mecanismo de controle dentro das mesmas.<br />

A Pedagogia do Sexo: o interdito à “imoralidade”<br />

Aristarco tinha para esta palavra uma entonação especial, comprimida e terrível,<br />

que nunca mais esquece qu<strong>em</strong> a ouviu dos seus lábios. ‘A imoralidade’ (p. 09).<br />

Se nos primeiros dias de aula de Sérgio, Aristarco, o diretor do colégio, diz ser a imoralidade<br />

seu maior inimigo, apenas quando uma carta reveladora de relação entre dois alunos chega a suas<br />

mãos, ele revela o significado deste termo: a relação amorosa entre homens. Nas palavras de<br />

Aristarco:<br />

Tenho a alma triste senhores! A imoralidade entrou nesta casa! Recusei-me a dar<br />

crédito, rendi-me à evidência... Ah! Mas nada me escapa... tenho c<strong>em</strong> olhos. Se são<br />

capazes, iludam-me! Está <strong>em</strong> meu poder um nome de mulher! Há mulheres no<br />

<strong>Ateneu</strong>, meus senhores! (p. 65, grifos nosso).<br />

Tendo c<strong>em</strong> olhos, d<strong>em</strong>onstra sua pretensão de visibilidade exaustiva para o controle destas<br />

possíveis relações. Percebe-se que a organização disciplinar do internato visava o controle da<br />

sexualidade dos alunos. Professores, bedéis, alunos designados vigilantes e especialmente o diretor,<br />

caracterizado pela ubiqüidade, d<strong>em</strong>onstravam-se atentos quanto às possíveis manifestações da<br />

combatida “imoralidade”.<br />

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