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A Cidade das Putas José Miguel Nieto Olivar ... - Fazendo Gênero

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vindouros. Uma cidade que, no caso <strong>das</strong> mais velhas, prostitutas de rua, é uma cidade que perdeu a<br />

beleza da sua própria presença. Aquilo era muito lindo, é uma frase constante, referindo-se à<br />

presencia delas próprias, jovens e fogosas, ocupando o espaço público aberto. A nostalgia pela rua,<br />

uma que as mais novas, especial mas não unicamente as que trabalham em salas e boates, não<br />

conhecem. Mas aqui volta o paradoxo. Aquele é o lugar onde tudo começa. Nos lembra a Sílvia<br />

falando da Rua Garibaldi. A rua, essa rua por elas vivida, é também, a memória da dor. A memória<br />

da violência. A cidade que lhes cobrava as roupas pequenas e os jeitos escandalosos de ser, o<br />

crescimento econômico marginal, a presença dessa sexualidade feminina perigosa e, aí uma <strong>das</strong><br />

fontes da ira, euforicamente pública.<br />

As gurias, que circulam entre os 20 e os 30, ganharam, de nascimento, outra cidade. Uma<br />

com salas para se desnudarem, com movimentos sociais de direitos humanos, de mulheres, de<br />

sexualidades e de prostitutas. Uma cidade onde a experiência sexual feminina aprendeu do<br />

feminismo a existir (ou no mínimo a poder existir) para além dos mais rígidos cintos patriarcais.<br />

<strong>Cidade</strong> com camisinhas, pílulas, cafetões “bunda-mole”, prostituas velhas “assumi<strong>das</strong>” e parceiras...<br />

Muitas dessas mulheres que se prostituem hoje no Centro, nessas idades, não tem como único ofício<br />

a prostituição. Muitas não se envolveram ou fugiram cedo dos modelos de cafetinagem. Ser<br />

prostituta hoje, pela cidade que essas mulheres ganharam e re-constroem em cada caminhar e em<br />

cada ficar em cada desnudar-se, pode não ser uma experiência totalizante (amor-dinheiro-cidade-<br />

trabalho), pode ser mais uma opção e mais uma experiência Da Vida.<br />

Para esta geração vestir-se como prostituta ou como estudante universitária é cada vez<br />

menos distante. E a roupa, sabemos, é corporificação.<br />

Finalmente, volta o paradoxo dos espaços, pois tanto nas salas quanto nas ruas, a liberdade<br />

de circulação e de exposição <strong>das</strong> suas sexualidades e suas experiências de gênero, é um bem frágil e<br />

heterocontralodo. Um bem passível de política pública e de violência. Nem nas ruas, como nos<br />

lembra Sílvia e Bruna e as meninas da Garibaldi, dá pra fazer tudo, dá pra circular e flanar pela<br />

cidade, pois se tem a mão sempre próxima do marido e do policial... nem nas salas a sexualidade<br />

floresce e geme tão liberta quanto parecer-nos-ia, pois, fundamentalmente, está limitada a esse<br />

espaço, às escuridão e pequenez dos espaços e à arbitrariedade dos condomínios, administradores e<br />

síndicos.<br />

Profissionalizar significa, então, des-totalizar. Significa colocar a prostituição no seu justo<br />

lugar de opção. É uma luta temporal, da e na memória dessas fundadoras do movimento.<br />

Profissionalizar é se aproximar à experiência do século, à experiência de muitas dessas prostitutas<br />

mais novas que chegam no NEP abraçando as notas do terceiro semestre de faculdade... de muitas<br />

dessas mulheres que saem do trabalho para beber uma cerveja com as amigas e, quem sabe,<br />

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