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Projeto rumo <strong>ao</strong> ita<br />

J o s é O s w a l d d e S o u z a<br />

Andrade (1890-1954): Era de<br />

família abastada. Ingressou na<br />

Faculdade de Direito do Largo<br />

São Francisco (São Paulo) em<br />

1909. (Só se formaria em 1919,<br />

quando seria o orador da turma.)<br />

Publicou seus primeiros trabalhos<br />

em “O Pirralho”, semanário<br />

paulista de crítica e humor, que<br />

ele mesmo fundou em 1911. Oswald morreu <strong>ao</strong>s 64 anos.<br />

Sua poesia seria precursora de dois movimentos distintos<br />

que marcariam a cultura brasileira na década de 1960: o<br />

concretismo e o tropicalismo.<br />

Frequentemente ouvimos dizer: seu texto não está<br />

coerente; isso não é um texto, é o samba do crioulo doido;<br />

suas ideias são confusas, sem coerência. Nunca sabemos bem<br />

o que seja coerência. Que é afinal esse requisito indispensável à<br />

existência de um texto? Coerência é a relação que se estabelece<br />

entre as partes do texto, criando uma unidade de sentido.<br />

No poema de Oswald de Andrade que é que<br />

estabelece essa unidade de sentido? Os títulos Infância,<br />

Adolescência e Maturidade. A partir deles, vemos que o que<br />

o poeta faz é apresentar flashes que caracterizam cada uma<br />

das três grandes fases da vida.<br />

Intertexto: Quando um texto retoma outro, constrói-se com<br />

base em outro, ganha coerência, <strong>ao</strong> percebermos a relação<br />

que se estabelece entre eles. Intertextualidade é exatamente a<br />

relação entre dois textos. É o que veremo nos poemas a seguir.<br />

O camisolão<br />

Infância<br />

O jarro<br />

O passarinho<br />

O oceano<br />

A visita na casa que a gente sentava no sofá<br />

Adolescência<br />

Aquele amor<br />

Nem me fale<br />

José Paulo Paes (1926-1998):<br />

Publicou seu primeiro livro de<br />

poesia, O Aluno, em 1947.<br />

No ano seguinte completou<br />

o curso superior de Química<br />

Industrial em Curitiba, PR.<br />

Foi tradutor prestigiado; publicou<br />

diversos livros de ensaio, além de<br />

obras para crianças; foi laureado<br />

com prêmios como o Jabuti de<br />

Literatura Infantil, concedido em 1991 para seu livro Poemas<br />

para Brincar.<br />

Maturidade<br />

O Sr. e Srª Amadeu<br />

Participam a V. Exª<br />

O feliz nascimento<br />

De uma filha<br />

Gilberta<br />

Oswald de Andrade. Trechos escolhidos. Rio de Janeiro,<br />

Agir, 1967. p.31-2. Os desenhos são do próprio autor.<br />

Comentário<br />

KIPLING REVIS<strong>ITA</strong>DO<br />

se etc<br />

se etc<br />

se etc<br />

se etc<br />

se etc<br />

se etc<br />

se etc<br />

serás um teorema<br />

meu filho<br />

O que chama a atenção nesse texto é que não há<br />

elementos coesivos a retomar o que foi dito antes ou a<br />

encadear os segmentos. Apesar disso, é possível atribuir<br />

um significado unitário a ele? Sem dúvida. Ao lê-lo, logo<br />

percebemos que um dos sentidos possíveis é que se trata de<br />

flashes de cada uma das três grandes fases da vida: a infância,<br />

a adolescência e a maturidade. A primeira é caracterizada pela<br />

descoberta do mundo (o oceano), por brincadeiras e travessuras<br />

(o jarro, que certamente o menino quebrara; o passarinho, que<br />

caçara) e por lembranças que deixaram marcas (a visita a casas<br />

em que recebiam numa sala destinada a esse fim; o camisolão,<br />

que se usava para dormir); a segunda é marcada pelo início<br />

das experiências amorosas, por amores perdidos, de que se<br />

lembra com carinho; a terceira é assinalada pela formalidade<br />

e pelas responsabilidades, indicadas pela participação oficial<br />

do nascimento da filha. Se a primeira parte é uma sucessão<br />

de palavras, se a segunda é uma frase em que falta um nexo<br />

sintático e se a terceira é uma participação de nascimento da<br />

filha, por que entendemos o texto? Porque é coerente.<br />

José Paulo Paes. Um por todos. São Paulo, Brasiliense, 1986. p. 97.<br />

Comentário<br />

Para que esse texto ganhe sentido, precisamos<br />

conhecer o célebre poema “Se...”, do poeta inglês Kipling.<br />

Nele, cada verso começa com se (por exemplo, Se sonhas,<br />

mas não és por sonhos dominado; /se pensas, mas não fazes<br />

do pensamento teu alvo...). O poema termina da seguinte<br />

forma: se, de cada minuto, enches cada segundo /com um<br />

passo para frente em luminoso trilho, /então eu te direi que<br />

dominas o Mundo / e direi muito mais: que és um homem,<br />

meu filho! Sabemos que o texto de José Paulo Paes constrói-se<br />

com base no poema de Kipling pelo título, pelo fato de os<br />

sete primeiros versos serem formados de um se seguido de<br />

etc. e pela construção dos dois últimos versos. O poema<br />

de José Paulo Paes tem um claro sentido irônico, o que ele<br />

quer dizer é que, se alguém pautar sua vida pelo que Kipling<br />

considera valores, será não um homem, mas um teorema,<br />

ou seja, uma demonstração da visão de mundo de Kipling.<br />

<strong>ITA</strong>/IME – Pré-Universitário 16

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