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Projeto rumo <strong>ao</strong> ita<br />

o rito<br />

a igreja<br />

a revolta<br />

a doutrina<br />

o partido<br />

a emoção<br />

a ideia<br />

a palavra<br />

a igreja<br />

a igreja<br />

a igreja<br />

a igreja<br />

a doutrina<br />

o partido<br />

o partido<br />

o partido<br />

o partido<br />

o partido<br />

a ideia<br />

a palavra<br />

a palavra<br />

a palavra<br />

a palavra<br />

A PALAVRA<br />

José Paulo Paes. Um por todos. São Paulo, Brasiliense, 1986.<br />

Comentário<br />

O título do poema e os três primeiros versos, formados<br />

das palavras a comida, a sineta e a saliva e, precedidas do<br />

artigo a, e colocados não exatamente um embaixo do outro,<br />

acionam um dado conhecimento de mundo: a experiência<br />

que celebrizou Pavlov, médico russo que elaborou a noção de<br />

reflexo condicionado. Pavlov constatou que um cão salivava<br />

diante de um prato de comida. Associou, então, a comida a<br />

outro estímulo, o toque de uma campainha. Toda vez que<br />

se apresentava uma comida <strong>ao</strong> cão, ouvia-se o som de uma<br />

campainha. Ao fim de certo número de repetições, o novo<br />

estímulo (o som) bastava para desencadear a secreção salivar.<br />

Tinha-se, pois, substituído o excitante natural do reflexo salivar<br />

(o alimento) por um excitante artificial “condicionante”.<br />

Na primeira estrofe, os versos contêm os três elementos<br />

básicos da experiência de Pavlov: a comida, a sineta e a saliva.<br />

Os versos não aparecem embaixo uns dos outros para mostrar<br />

que esses elementos não são simultâneos, mas sucessivos.<br />

A primeira estrofe tem três partes: na primeira, aparecem os<br />

três elementos da experiência pavloviana; na segunda, indica-se<br />

a segunda fase da experiência: só a sineta era suficiente para<br />

provocar a secreção salivar; na terceira, mostra-se que nem<br />

a sineta é mais necessária, pois salivação produz salivação.<br />

As outras três estrofes mostram que um fenômeno semelhante<br />

ocorre no âmbito da experiência religiosa, da experiência<br />

política e da experiência estética. A organização religiosa<br />

deriva da experiência do homem com o mistério. Ao mistério<br />

associa-se o rito, e este, depois de certo tempo, passa sozinho<br />

a sustentar a organização religiosa. Em seguida, deixam-se de<br />

lado o mistério e o rito, e a própria organização passa a ser um<br />

fim em si. No âmbito da política, pode-se dizer que a revolta<br />

com uma situação de injustiças gera uma doutrina, que, por<br />

sua vez, sustenta um partido. Depois, abandona-se a revolta.<br />

Por fim, deixa-se de lado a doutrina, e a manutenção da<br />

organização partidária passa a ser um objetivo em si mesmo.<br />

No domínio da estética, segundo o poeta, a emoção gera<br />

ideias, que se convertem em palavras. Quando as emoções<br />

são abandonadas, temos o cerebralismo experimental.<br />

Por fim, quando palavras puxam palavras, temos o maneirismo,<br />

que são as repetições de fórmulas.<br />

OUTONO<br />

Quando, Lídia, vier o nosso Outono<br />

Com o Inverno que há nele, reservemos<br />

Um pensamento, não para a futura<br />

Primavera, que é de outrem,<br />

Nem para o Estio, de quem somos mortos,<br />

Senão para o que fica do que passa,<br />

O amarelo atual que as folhas vivem<br />

E as torna diferentes.<br />

Fernando Pessoa. Odes, de Ricardo Reis. Lisboa, Ática, 1959. p. 108.<br />

Comentário<br />

Ricardo Reis (heterônimo) foi criado por Fernando<br />

Pessoa como um poeta de formação clássica. Por isso, sua<br />

obra trabalha temas da poesia greco-latina.<br />

O poema é figurativo, pois se constrói fundamentalmente<br />

com termos concretos ou figuras: outono, inverno, estio,<br />

primavera, folha, amarelo etc. O conjunto das figuras refere-se<br />

às estações do ano. Outono aparece ligado <strong>ao</strong> possessivo<br />

nosso. Quando se fala em nosso outono, vemos que os<br />

termos primavera, outono, inverno e estio não indicam mais<br />

as estações do ano, mas as fases da existência. O poeta<br />

dirige-se, então, a Lídia não para falar das estações do ano,<br />

mas da existência humana. A expressão quando vier mostra<br />

que ambos não estão ainda no outono da vida, na idade<br />

madura, mas que ele virá inexoravelmente (pronuncie o x<br />

com som de z; significa implacavelmente). Temos então os<br />

primeiros temas subjacentes a esse texto: a fugacidade do<br />

tempo e a efemeridade da juventude.<br />

Ao comparar a existência humana às estações do<br />

ano, poderíamos pensar que o poeta quer mostrar que as<br />

fases da existência humana são circulares como as épocas<br />

do ano, que se sucedem indefinidamente. No entanto, as<br />

figuras que é de outrem, de quem somos mortos, para o que<br />

fica do que passa manifestam o tema da irreversibilidade das<br />

fases da vida humana. Uma fase vivida por um indivíduo não<br />

volta mais para ele. O termo futura, referindo-se a primavera,<br />

mostra que a circularidade na humanidade é diferente da<br />

que ocorre na natureza. O que se sucede na humanidade<br />

são as gerações. Por isso, diz o poeta que a futura primavera<br />

é de outrem.<br />

Poderíamos pensar, então, que se trata de um<br />

lamento pela inevitabilidade da madureza e da velhice<br />

(observe-se que o inverno já está contido no outono:<br />

com o inverno que há nele) e pela inexorabilidade da morte.<br />

No entanto, a articulação das figuras do texto não permite<br />

depreender esse tema. Com efeito, o poeta diz a Lídia que,<br />

quando o outono vier, não se deve pensar na primavera ou<br />

no estio, ou seja, na juventude e na idade em que se está em<br />

pleno vigor, já que os jovens são outros (primavera, que é de<br />

outrem) e a idade de plena força já passou (estio, de quem<br />

somos mortos), mas naquilo que o tempo deixa quando passa.<br />

O que o tempo deixa é representado pela figura o amarelo<br />

das folhas. Lembremo-nos de que, principalmente nos países<br />

onde as estações são bem marcadas, as folhas amarelecem no<br />

outono, antes de cair. O amarelo não é pior nem melhor que<br />

o verde que elas exibem na primavera e no verão, é diferente.<br />

O que o poeta quer mostrar, pois, <strong>ao</strong> comparar as fases da<br />

vida com as estações é que, na vida, perde-se também o viço<br />

da juventude e adquire-se o tom amarelo da proximidade da<br />

morte. Essa fase, no entanto, não é melhor nem pior que as<br />

outras quadras da existência, é diferente.<br />

<strong>ITA</strong>/IME – Pré-Universitário 18

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