6923913 - Rumo ao ITA - Sousa Nunes - Português.indd
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Projeto rumo <strong>ao</strong> ita<br />
As costureirinhas e o contexto histórico-social:<br />
O ano de 1922 coincide com o Centenário da Independência.<br />
O mundo ainda faz descobertas das influências deixadas pela<br />
Primeira Guerra Mundial (1914/1918). No Brasil, há um crescimento<br />
da indústria. Começa-se a questionar a legitimidade do sistema<br />
político, dominado pelas oligarquias rurais. Desde 1890, a chegada<br />
de imigrantes como mão de obra traz também novos elementos<br />
culturais que passam a ter cada vez maior influência, como se vê na<br />
cidade de São Paulo. A imigração italiana compunha a cidade nesta<br />
época. Quem muito escrevia sobre os ítalo-brasileiros era Alcântara<br />
Machado. Portanto, a influência de seus contos para que o tema<br />
da imigração surgisse no Modernismo. Sua atenção voltava-se<br />
basicamente para as curiosidades que o encontro entre italianos<br />
e paulistas provocava. Seu estilo, afinado <strong>ao</strong>s ideais modernistas,<br />
é marcado pela leveza e pelo bom humor. Era o registro de<br />
ítalo-brasileiras com imagens urbanas e a emoção do cotidiano.<br />
É nesse instante que sugere o retrato de uma São Paulo nova, em<br />
plena mudança na estrutura social e na economia.<br />
(...) As costureirinhas vão explorando perigos...<br />
vestido é de seda. Roupa-branca é de morim (...)<br />
Mário de Andrade, em Clã do Jabuti, deseja fundir o erudito<br />
e o popular. A alma do povo ultrapassa os limites da cidade para<br />
buscar o Brasil.<br />
Epílogo<br />
Manuel Bandeira<br />
Eu quis um dia, como Schumann, compor<br />
Um carnaval todo subjetivo:<br />
Um carnaval em que o só motivo<br />
Fosse o meu próprio ser interior...<br />
Quando o acabei – a diferença que havia!<br />
O de Schumann é um poema cheio de amor,<br />
E de frescura, e de mocidade...<br />
O meu tinha a morta mortacor<br />
Da senilidade e da amargura...<br />
– O meu carnaval sem nenhuma alegria!<br />
Comentário<br />
Robert Schumann nasceu na Saxônia e viveu durante<br />
o período de 1810 a 1856. Em 1834 compôs Carnaval, op. 9,<br />
que tem como subtítulo “Pequenas Cenas sobre quatro<br />
notas” (lá, mi bemol, dó e si natural), como que a ressaltar<br />
que ter sido a obra toda criada sobre estas quatro notas.<br />
A composição é um intrigante conjunto de peças para piano,<br />
retratando um baile de carnaval, por onde passam Arlequim,<br />
Pierrot, Colombina, Paganini, Ernestine Von Frieken,<br />
Eusebius, pseudônimo que corresponde à natureza intimista<br />
de Schumann, Florestan, a sua parte mais extrovertida e<br />
alegre, Chiarina, nome sob o qual se oculta o de Clara,<br />
sua futura esposa, na época ainda Clara Wieck, Chopin,<br />
por quem Schumann devotava profunda admiração, entre<br />
outros. Cada um deles é retratado em uma das 29 peças<br />
que compõe o Carnaval – daí, no segundo verso, Bandeira<br />
referir-se a “um carnaval todo subjetivo”, semelhante <strong>ao</strong> do<br />
músico – o que nos lembra as afinidades eletivas, em que<br />
Mário acreditava e assumia em cartas.<br />
O paralelismo entre o Carnaval do músico e a sua<br />
própria obra constitui-se em um recurso metalinguístico<br />
utilizado por Bandeira, autocriticando a sua produção poética,<br />
<strong>ao</strong> enfatizar, claramente, o clima pouco carnavalesco, ou<br />
melhor, nada festivo, como seria de esperar através do título.<br />
É como se, de alguma forma, ele justificasse não ter sido<br />
suficientemente carnavalesco e/ou musical, frustrando quem<br />
esperava do poeta apenas risos, confetes e serpentinas.<br />
Manuel Bandeira e<br />
Joaquim Manuel de Macedo<br />
Leia os dois textos que seguem: o primeiro é de Joaquim<br />
Manuel de Macedo, escritor romântico; o segundo, de Manuel<br />
Bandeira, poeta contemporâneo:<br />
Mulher, Irmã, escuta-me: não ames,<br />
Quando a teus pés um homem terno e curvo<br />
Jurar amor, chorar pranto de sangue,<br />
Não creias não, mulher: ele te engana!<br />
As lágrimas são galas da mentira<br />
E o juramento manto da perfídia.<br />
Joaquim Manuel de Macedo. Apud BANDEIRA, Manuel. Itinerário de<br />
Pasárgada. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/INL, 1984. p. 94.<br />
Teresa, se algum sujeito bancar o sentimental em cima de você<br />
E te jurar uma paixão do tamanho de um bonde<br />
Se ele chorar<br />
Se ele se ajoelhar<br />
Se ele se rasgar todo<br />
Não acredita não, Teresa<br />
É lágrima de cinema<br />
É tapeação<br />
Mentira<br />
CAI FORA<br />
Manuel Bandeira, op. cit., p. 94.<br />
Comentário<br />
Para entender a imitação de estilo, é preciso<br />
verificar o que é estilo. Essa palavra tem uma utilização<br />
bastante ampla. Usa-se esse termo para falar de um escritor<br />
(o estilo de Vieira, de Camões, de Alencar, de Machado de<br />
Assis), de uma “escola” literária ou artística (o estilo barroco,<br />
o estilo romântico, o estilo dos impressionistas), de um<br />
criador qualquer (o estilo de Chanel, o estilo de Portinari), de<br />
uma época (o estilo dos anos 60), de um tipo de linguagem<br />
(o estilo jurídico, o estilo diplomático), de uma atividade<br />
humana qualquer (o estilo de governar do presidente Lula).<br />
Qual é o sentido de base dessa palavra, que propicia esses<br />
diferentes usos?<br />
4<br />
<strong>ITA</strong>/IME – Pré-Universitário