Weekend 1195 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico
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No primeiro debate quinzenal da nova<br />
legislatura, o Governo confirmou que o<br />
salário mínimo vai subir 25 euros em<br />
2010, uma medida que afectará 341 mil<br />
SÁBADO, 5 DE DEZEMBRO 2009 | Nº <strong>1195</strong> | PREÇO (IVA INCLUÍDO): CONTINENTE 2,50 EUROS<br />
DIRECTOR ANTÓNIO COSTA DIRECTOR EXECUTIVO BRUNO PROENÇA<br />
DIRECTORA-ADJUNTA CATARINA CARVALHO SUBDIRECTORES FRANCISCO FERREIRA DA SILVA E PEDRO SOUSA CARVALHO<br />
Entrevista<br />
O advogado José Manuel Galvão<br />
Teles: “Aconselhei José Penedos<br />
a não renunciar na REN”. ➥ OUTLOOK<br />
O ordenado mínimo sobe para 475 euros. Empresários concordam, mas as associações patronais falam em estrangulamento.<br />
trabalhadores. Os empresários ouvidos<br />
pelo <strong>Económico</strong> sublinham a importância<br />
desta medida e acreditam que não<br />
terá um impacto muito significativo nas<br />
Opinião<br />
João Lobo Antunes alerta<br />
para conflitos de interesses<br />
dos juízes. ➥ OUTLOOK<br />
contas. As associações empresariais não<br />
alinham no mesmo discurso e preferem<br />
antecipar as dificuldades que muitas empresas<br />
vão sentir. ➥ P6 A 9<br />
www.economico.pt<br />
Futebol<br />
Brasil, Costa do Marfim e Coreia<br />
do Norte são os adversários<br />
de Portugal no Mundial. ➥ P42<br />
Empresários desdramatizam<br />
efeitos da subida do salário mínimo<br />
Governo<br />
pressiona<br />
accionistas<br />
da Cimpor<br />
para evitarem<br />
guerras<br />
O Ministério<br />
das Finanças está<br />
a fazer contactos para<br />
apaziguar o clima<br />
de guerrilha<br />
na cimenteira<br />
nacional.<br />
O novo homem<br />
forte da<br />
Cimpor, Ricardo<br />
Bayão Horta<br />
(na foto) tem o<br />
apoio de Manuel<br />
Finoedafrancesa<br />
Lafarge. ➥ P34<br />
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Da electrónica à roupa, prendas compradas a partir<br />
dos Estados Unidos - mesmo através da Internet - custam<br />
hoje quase metade do que custavam há um ano. ➥P10 E 11<br />
Jeff Zelevansky/Reuters<br />
Saiba como o euro<br />
forte ajuda a poupar<br />
nas compras de Natal<br />
A tradicional<br />
árvore de Natal<br />
no Rockefeller<br />
Center.<br />
As medidas do Parlamento e do<br />
Governo já comprometeram 924<br />
milhões de euros das receitas de 2010.<br />
Finanças<br />
prometem solução<br />
para o BPP no dia<br />
11 de Dezembro ➥ P48<br />
Aveiro é a cidade<br />
escolhida para nova<br />
fábrica da Nissan<br />
A unidade vai fabricar baterias para<br />
carros eléctricos. Será um investimento<br />
de 250 milhões de euros que permitirá<br />
criar 200 postos de trabalho. ➥ P36<br />
Banco de Portugal<br />
permite regresso<br />
de Vara ao BCP<br />
O regulador terminou processo de<br />
averiguações, alegando que os factos do<br />
processo Face Oculta não se referem<br />
à actividade de Vara no banco. ➥ P24
2 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
A NÃO PERDER<br />
05.07.09<br />
Parlamento afecta 924<br />
milhões de euros<br />
de receitas de 2010<br />
No Paralmento, o Natal chegou mais cedo. E<br />
nem o gelo da crise económica nem o<br />
mialheiro vazio do Estado refrearam os ânimos<br />
na hora de destribuir presentes. O primeiroministro<br />
anunciou que o salário mínimo será<br />
aumentado em 25 euros.➥ DESTAQUE - P8<br />
Fabricantes de sapatos<br />
satisfeitos com reforço<br />
de medidas anti-dumping<br />
Os empresários do sector do calçado estão<br />
satisfeitos com a prorrogação por mais 15<br />
meses das medidas anti-dumping por<br />
parte da Comissão Europeia para o calçado<br />
de couro oriundo da China<br />
e do Vietname. ➥ DESTAQUE - P12 A 13<br />
Há 37 dias que a justiça<br />
é a principal arma de<br />
arremesso político<br />
Há muito que a justiça entrou no debate<br />
político, mas nas últimas três semanas passou<br />
a ser o tema central da troca de acusações<br />
entre partidos. Manuela Ferreira Leite, foi a<br />
primeira a levar estas questões para a<br />
Assembleia da República. ➥ DESTAQUE - P22 A 23<br />
Nissan investe 250<br />
milhões em fábrica<br />
de baterias em Aveiro<br />
A Renault-Nissan já decidiu. Aveiro será a<br />
região onde ficará instalada a futura fábrica<br />
de baterias para carros eléctricos, um<br />
investimento de 250 milhões de euros que é<br />
um dos pilares estratégicos para a introdução<br />
destetipodeveículos.➥DESTAQUE - P36 A 37<br />
Cheques carecas caem<br />
para mínimo da última<br />
década<br />
Entre Janeiro e Setembro deste ano foram<br />
devolvidos mais de 658 mil cheques no valor<br />
de 2,34 mil milhões de euros, o que representa<br />
o menor número de devoluções da última<br />
década. A falta ou insuficiência de provisão é o<br />
principal motivo. ➥ DESTAQUE - P46 A 47<br />
SOCIEDADE ABERTA<br />
Raul Vaz<br />
Jornalista<br />
Onde entra o PSD<br />
O Governo não vai subir impostos, contrariando a<br />
recomendação do FMI. Não parece mal nem bem, ninguém,<br />
em consciência, sabe o que é preferível. Sendo<br />
queogovernadordoBancodePortugaljáexpressoua<br />
sua queda, prontamente reequilibrada quando ela não<br />
coincidiu com a do “patrão”. Fica, contudo, para memória<br />
futura: Vitor Constâncio acha que não há saída a<br />
nãoserahabitualsubidadeimpostos.E,porumavez,<br />
acerta na mouche.<br />
É evidente o que está escrito nas contas do Estado:<br />
seja qual for o Governo, mais cedo que tarde teremos<br />
de pagar o suplemento à dízima. Se não for de forma<br />
directa no imediato será na próxima oportunidade,<br />
num espaço temporal que estica ou encolhe em função<br />
doclimapolítico.ÉaíqueentraoPSD.<br />
Esta semana, Francisco Pinto Balsemão disse o que<br />
o cego vê, se quiser ver. O partido perde influência<br />
desde que Cavaco o deixou por um tabu pessoal e intransmissível.<br />
Nunca mais se endireitou, ao contrário<br />
do personagem que, à custa da rejeição, chegou à Presidência<br />
da República – num processo que responsabiliza<br />
o líder de então, Luís Marques Mendes. Fica, para<br />
memória futura, o concubinato: Mendes pôs ao serviço<br />
deCavacoaestruturadopartido,semqueeles,os<br />
eleitores, dessem pela coisa. Deu no que deu, além da<br />
merecida medalha para Marques Mendes.<br />
Enquanto o PSD não for capaz de impor<br />
o seu traço distintivo, vai continuar<br />
a consumir líderes e a contribuir para<br />
o remanso dos adversários.<br />
Entretanto, o que disse Balsemão? Aquilo que o<br />
“Mourinho de Cavaco” gostaria de dizer mas não ousa. O<br />
PSD tem de ousar, sem complexos ou receio do (seu)<br />
eleitorado. O PSD deve fazer a sua opção sobre as funções<br />
do Estado e, em particular, no desenho de um modelo de<br />
Estado social; o PSD deve afirmar a sua política para um<br />
novo mundo do trabalho; o PSD deve, por que não?,<br />
enunciar escolhas sobre o que está aí, do casamento gay<br />
ao código social sobre drogas. Ou seja: o PSD tem de libertar-se<br />
do espartilho em que se deixou enredar e construir<br />
uma agenda política, pessoal e intransmissível.<br />
EnquantooPSDseesgotarnumaguerrademata-<br />
-mata, ficará sempre aquém dos objectivos. Foi esse o<br />
erro capital da liderança de Manuela Ferreira Leite (todas<br />
as fichas num único número) e será esse o destino de<br />
uma nova liderança se insistir no número. Mesmo que<br />
– como referiu Balsemão – possa ser mais eficaz.<br />
Enquanto o PSD não for capaz de impor o seu traço<br />
distintivo, vai continuar a consumir líderes e a contribuir<br />
para o remanso dos adversários, o PS, ao centro,<br />
e o CDS, à direita. Num processo que, de facto, se assemelha<br />
à figura de um “lento suicídio”. Por enquanto.<br />
À falta de Chávez brilhou Shakira, numa abençoada<br />
benesse a Lisboa. Mas o melhor esteve no frenesim do<br />
casal presidencial. O nosso, Maria e Aníbal, como já<br />
não se via desde as escutas de Belém. ■<br />
AFRASE<br />
“Só se agrava [situação da<br />
justiça] ao misturar política<br />
com justiça”<br />
—Vera Jardim- Deputado do PS<br />
No primeiro debate quinzenal da legislatura, assistiu-se a<br />
um dos momentos mais tensos no parlamento. Ferreira<br />
Leite acusou o ministro da Economia e o vice-presidente<br />
da bancada do PS que levou a reação de Vera Jardim.<br />
Wolfgang Münchau<br />
Editor associado do Financial Times<br />
Grécia sem ajuda da UE<br />
No início do ano, quando os ‘spreads’ das obrigações da<br />
zona euro se alargaram, muitos pensaram que a Grécia<br />
poderia entrar, a qualquer momento, em situação de<br />
incumprimento. Em Fevereiro, Peter Steinbrück, ex-ministro<br />
das Finanças alemão, pôs abruptamente um ponto<br />
final na especulação afirmando que a zona euro agiria se<br />
algum dos seus membros ficasse em apuros. Não existia<br />
um plano de acção concreto nem se havia equacionado<br />
eventuais emendas aos tratados europeus. Havia apenas<br />
uma declaração de intenções. Os investidores acreditaram<br />
em Steinbrück e tudo corria bem – por algum tempo, pelo<br />
menos. A especulação está de regresso, mas com uma diferença.<br />
Desta feita, a zona euro não vai intervir nem ajudar,<br />
salvo se a Grécia cumprir as condições que a União<br />
Europeia (UE) deverá impor nos próximos meses. As<br />
autoridades europeias têm mais receio dos riscos morais<br />
de um ‘bail-out’ do que do alastramento de um hipotético<br />
incumprimento da Grécia a outros países da zona euro. Se<br />
o país tiver de escolher entre preservar a integridade do<br />
pactodeestabilidadeeaintegridadedaGrécia,tudoindica<br />
que prevalecerá a segunda opção. Para salvaguardar o<br />
que ainda resta do pacto de estabilidade, as autoridades<br />
europeias tenderão a condicionar a ajuda à vontade do<br />
país visado em cumprir com as suas obrigações. Ora,<br />
importa lembrar que nenhum outro país da UE desprezou<br />
mais o pacto de estabilidade do que a Grécia.<br />
A UE está apostada no aumento da pressão política –<br />
quem sabe ao ponto de provocar uma crise política – a<br />
pensar num objectivo estratégico: levar o governo grego<br />
a ceder. Uma abordagem perigosa que pode produzir<br />
efeitos contrários ao desejado. Mesmo que o primeiroministro<br />
grego, George Papandreou, estivesse disposto a<br />
acatar a exigência da UE, teria sempre de enfrentar uma<br />
forte oposição interna à implementação de medidas de<br />
austeridade draconianas. Até porque iriam contra o que<br />
prometeu nas recentes eleições. O verdadeiro problema<br />
é este: os líderes políticos gregos não prepararam os<br />
eleitores para o que aí vem.<br />
Nenhum outro país da UE desprezou mais<br />
o pacto de estabilidade do que a Grécia.<br />
O que pode acontecer se a Grécia não pagar as obrigações<br />
emitidas pelo Estado ou se não conseguir alargar o<br />
pagamento da dívida existente? Cerca de dois terços da dívida<br />
pública é detida por estrangeiros. O Deutsche Bank<br />
estima que o governo pretende angariar 31 mil milhões de<br />
euros em novos créditos e €16 mil milhões para dilatar o<br />
prazo de pagamento da dívida no próximo ano. Sem a ajuda<br />
da zona euro, o governo grego terá de recorrer ao Fundo<br />
Monetário Internacional (FMI) se se deparar com mais<br />
obstáculos para refinanciar a dívida. Ao contrário da Argentina,<br />
a Grécia não pode desvalorizar a moeda. Sair da<br />
zona euro também não é uma opção realista.<br />
O governo actual terá, talvez, mais facilidade em gerir<br />
medidas de austeridade impostas por entidades externas<br />
do que internas. A UE ficaria, pois, muito satisfeita por<br />
entregar as rédeas do processo ao FMI. ■<br />
Tradução de Ana Pina<br />
O NÚMERO<br />
25 euros<br />
Ontem, na Assembleia da<br />
República o primeiro-ministro,<br />
José Sócrates anunciou um<br />
aumento de 25 euros para o<br />
salário mínimo para 2010. Este<br />
aumento representa que os<br />
salários mais baixos irão<br />
passar para 475 euros. Agora<br />
só falta discutir em sede de<br />
concertação social.
Victor Fernandes<br />
Director do “Expansão”<br />
O triângulo virtuoso<br />
Sendo uma das figuras geométricas mais interessantes,<br />
o triângulo caracteriza-se por ter três<br />
vértices. Cada um deles pode formar um ângulo de<br />
amplitude diferente como o triângulo isósceles<br />
onde um dos ângulos tem noventa graus e os outros<br />
dois têm cada um quarenta e cinco graus. No<br />
entanto, é a soma de todos eles que dá os cento e<br />
oitenta graus do triângulo.<br />
Angola, Brasil e Portugal estão – neste findar de<br />
década do início do século XXI – cada vez mais empenhados<br />
no fortalecimento das relações entre os<br />
três países lusófonos. Em bom rigor ainda se<br />
fazem as trocas comerciais um pouco à margem<br />
de uma definição estratégica clara. Tratam-se<br />
apenas de iniciativas empresariais de internacionalização<br />
de alguns grupos económicos por um<br />
lado, ou então da importação de matérias-primas<br />
e produtos acabados por outro. Mas o que dizer de<br />
uma hipotética união económica entre estes três<br />
países? Cada um deles representa uma relação com<br />
um mercado económico de milhares de dólares e<br />
milhões de consumidores.<br />
Échegadaaalturadepelomenos<br />
estes três países -Portugal, Angola<br />
e Brasil - assumirem como<br />
estrategicamente importante a<br />
criação de um triângulo económico.<br />
Angola, que se vai afirmando neste momento<br />
como uma potência ao nível regional na zona da<br />
África Austral, tendo a SADCC como instrumento de<br />
trabalho e de garantia da manutenção de uma visão<br />
e de um rumo para aquela zona do continente, regista<br />
nesta altura taxas de crescimento absolutamente<br />
notáveis. O Brasil, que é um dos países do<br />
mundo onde a crise financeira que abalou o mundo<br />
vai ter uma recuperação mais rápida, possui algumas<br />
das maiores empresas do globo na sua área de<br />
actividade. E também está ligado a um dos mercados<br />
mais pujantes e mais densamente povoados da<br />
América, o Mercosul. No outro lado do vértice do<br />
triângulo vem Portugal. Ponta de entrada para o velho<br />
continente, a Europa, representa hoje um acesso<br />
a um mercado de milhões de consumidores e de<br />
grande industrialização e tecnologia de ponta.<br />
A ideia não é de hoje e tem sido mais ou menos<br />
discutida nas várias reuniões em sede da CPLP, mas<br />
pensoqueéchegadaaalturadepelomenosestes<br />
três países assumirem como estrategicamente importante<br />
a criação deste triângulo económico que<br />
pode e deve ser muito virtuoso. ■<br />
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EDITORIAL<br />
O orçamento mais difícil<br />
O Orçamento do Estado para 2010 vai ser mais importante do que<br />
se previa, pelo menos em função dos dados que são hoje<br />
conhecidos e que foram negados durante meses pelo Governo<br />
numa gestão política das expectativas levada ao limite do aceitável.<br />
A situação de desequilíbrio das contas públicas, não só pelo nível de<br />
défice público, mas sobretudo pela dimensão da dívida pública que,<br />
segundo o FMI, vai atingir os 100% do PIB, é de tal forma grave que<br />
a sua correcção tem de começar já, imediatamente. Sem demoras.<br />
Se a necessidade de corrigir as contas públicas já é, por si só, um<br />
problema, ou se quisermos, um desafio, a necessidade de o fazer<br />
num contexto de crise económica, com mais despesa e menos<br />
receita e com a necessidade de apoiar a economia e as empresas, é<br />
uma tarefa hercúlea. E, valha a verdade, todos falam, incluindo o<br />
Governo, mas “ninguém os vê a fazer nada”, parafraseando os Gato<br />
Fedorento. Pelo contrário, todos falam na correcção das contas<br />
públicas, mas o que se vê é a apresentação de propostas para mais<br />
despesa ou menos receita. Vamos por partes: seria uma tragédia<br />
para a economia portuguesa um eventual aumento de impostos,<br />
como sugere o Fundo monetário Internacional. Além de induzir um<br />
novo travão à actividade económica, que está longe, muito longe,<br />
de ser a necessária, o aumento de impostos induziria mesmo um<br />
incentivo negativo à fuga aos impostoseàevasão fiscal, tal é<br />
objectivamente o nivel de carga fiscal no país e, mais do que isso, a<br />
percepção dos portugueses de que pagam impostos a mais,<br />
sobretudo tendo em conta o que recebem do Estado em troca.<br />
Fechado este caminho, esperemos..., torna-se absolutamente<br />
fundamental reduzir a despesa. Exactamente, o Estado precisa de<br />
gastar menos e não apenas de gastar menos em percentagem do<br />
PIB. E isso tem de ser conseguido em simultâneo com a<br />
manutenção de apoios transitórios à economia nesta fase de crise,<br />
apoios selectivos, mas transparentes.<br />
José Sócrates tem razão quando afirma que o Parlamento não<br />
pode, nem deve, criar um ‘orçamento azul’ ou um ‘orçamento<br />
sombra’ e, ao mesmo tempo, aprovar a proposta de orçamento que<br />
o Governo vai apresentar para 2010. Dos dois caminhos, a oposição<br />
vai ter de escolher um, sob pena de bloquear o país. No entanto,<br />
José Sócrates tem também de dar os sinais, mais, tem de tomar as<br />
medidas concretas para mostrar que vai reequilibrar as contas<br />
públicas. Se não o fizer, estará a cavar a sua sepultura política, mas,<br />
pior, estará a cavar a sepultura económica e social do país.<br />
Entendam-se, por favor<br />
A maior empresa industrial do país vive uma guerra accionista que<br />
ameaça o seu futuro e, logo, tem consequências muito negativas<br />
para a economia portuguesa e para as empresas, pequenas, médias<br />
e grandes, com quem trabalha. A Cimpor vive uma espécie de<br />
repetição da crise accionista que atingiu o Millennium bcp,<br />
curiosamente com alguns dos mesmos accionistas, factio<br />
comprovado pela decisão conhecida esta semana de concentrar em<br />
Bayão Horta as funções de charmain e de presidente executivo da<br />
empresa. Todos os accionistas têm a responsabilidade, têm mesmo<br />
a obrigação de se enterem, mas há um accionista com<br />
responsabilidades particulares: a Caixa Geral de Depósitos entrou<br />
na Cimpor para estabilizar a empresa. é, pois, isso que tem de fazer.<br />
Mais e mais leis<br />
Portugal não tem falta de leis. Não é pela diferença entre crimes<br />
de corrupção para acto lícito ou ilícito que este crime é ou não<br />
combatido com mais força em Portugal. O problema está na<br />
aplicação da lei, na qualidade dos processos. E isto tem muito mais<br />
a ver com meios dados à investigação policial e da PGR do que<br />
com leis. Ou, até, mais com a forma como a sociedade encara a<br />
corrupção. Sem sanção social, não há lei que valha no combate à<br />
corrupção. Porque desta decorre a intolerância para com este<br />
crime e a denúncia, essencial para o estancar.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 3<br />
A melhor<br />
notícia<br />
da semana<br />
FRANCISCO FERREIRA DA SILVA<br />
Subdirector<br />
A dois dias do início da Conferência<br />
de Copenhaga sobre as<br />
alterações climáticas e a forma<br />
de as combater, a melhor notícia<br />
da semana é, sem sombra de<br />
dúvida, aquela que hoje publicamos<br />
sobre a decisão da Renault-Nissan<br />
instalar uma fábrica<br />
de baterias para automóveis<br />
eléctricos em Portugal.<br />
Com um investimento previsto<br />
de 250 milhões de euros, a nova<br />
fábrica ficará situada em Aveiro<br />
e deverá criar 200 postos de<br />
trabalho, a partir de 2012.<br />
É uma boa notícia porque representa<br />
uma aposta numa tecnologia<br />
amiga do ambiente,<br />
mas também porque significa<br />
um novo projecto de investimentoestrangeirononosso<br />
país com a correspondente<br />
criação de emprego. Além disso,<br />
este investimento é encarado<br />
como uma âncora para outros<br />
projectos nesta área de negócio<br />
nascente e onde várias<br />
marcas automóveis estão a<br />
apostar, perspectivando-a<br />
comoumaáreapotencialdeexportações<br />
futuras.<br />
Esta iniciativa encaixa ainda<br />
na iniciativa do Governo fomentar<br />
a instalação de uma<br />
rede de 1.300 postos de abastecimento<br />
de carros eléctricos<br />
no nosso país até ao final de<br />
2011. Mas também nos incentivos<br />
à mobilidade sustentável,<br />
através de subsídios à aquisição<br />
de veículos eléctricos por<br />
particulares.<br />
A aposta nos automóveis<br />
eléctricos faz parte de uma estratégia<br />
virada para o ambiente e<br />
para as energias renováveis,<br />
onde o nosso país tem uma posição<br />
de relevo a nível internacional.<br />
Posição que deverá ser reforçada<br />
nos próximos anos com<br />
a instalação de novos parques<br />
eólicos e a construção de oito<br />
novas barragens. ■
4 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
OPINIÃO<br />
Copenhaga<br />
tem de ser o fim<br />
do princípio<br />
MARTIN WOLF<br />
Colunista do Financial<br />
Times<br />
A Cimeira de Copenhaga sobre<br />
as alterações climáticas vai ficar<br />
aquém do desejado. Mas<br />
será que isso tem alguma importância?<br />
Sim e não. Sim<br />
porque é imperativo agir. Não<br />
porque a haver um acordo não<br />
será o mais adequado. Não vai ser fácil lidar<br />
com as alterações climáticas. É fundamental<br />
conseguirmos atingir as metas eficaz e eficientemente.<br />
As novas delongas devem, pois,<br />
ser usadas para alcançar estes objectivos.<br />
Em minha opinião, justifica-se uma acção<br />
determinada e resoluta. Opinião esta controversa.<br />
Os cépticos avançam dois contra-argumentos:<br />
primeiro, a ciência que sustenta as<br />
alterações climáticas é extremamente incerta;<br />
segundo, os custos excedem os benefícios.<br />
Isto não basta, porém, para argumentar<br />
que a ciência é incerta. Dados os riscos, temos<br />
de ter a certeza de que a ciência está errada<br />
antes de acatarmos a opinião dos cépticos.<br />
Quando descobrirmos que está errada<br />
será, talvez, tarde de mais para agirmos eficazmente.<br />
Não podemos repetir experiências<br />
com apenas um planeta.<br />
Felizmente, a evidência diz-nos que os<br />
custos da acção não deverão ser proibitivos.<br />
O Banco Mundial defende no último RelatóriosobreoDesenvolvimentoMundialqueos<br />
custos de restrições mais rigorosas sobre as<br />
emissões seriam modestos. No que respeita<br />
aos benefícios, sublinho a importância de se<br />
evitar uma catástrofe climática. Ora, não temos<br />
o direito de correr tais riscos.<br />
Não obstante, os cépticos prestam-nos um<br />
serviço inestimável ao recordarem-nos que é<br />
fundamental prosseguir com a monitorização<br />
dos desenvolvimentos climáticos actuais.<br />
Mas não só. Também nos lembram que agir<br />
tem custos e que alguns deles – manter milhares<br />
de milhões de pessoas na miséria, por<br />
exemplo – seriam inaceitáveis. Felizmente,<br />
como realça o Banco Mundial, as emissões<br />
dos pobres são ínfimas. A redução nas emissões<br />
que se obteria substituindo a frota americana<br />
de veículos utilitários desportivos<br />
(SUV) por automóveis que obedecem aos padrões<br />
europeus de economia de combustível,<br />
permitiria cobrir as emissões resultantes do<br />
fornecimento de energia eléctrica a quem<br />
não tem acesso à mesma actualmente, isto é,<br />
a cerca de 1,6 mil milhões de pessoas.<br />
Agir justifica-se e, muito provavelmente, o<br />
custo da acção não será proibitivamente oneroso.<br />
O desafio será, apesar disso, imenso. Segundo<br />
o relatório sobre as Perspectivas Energéticas<br />
Mundiais da Agência Internacional de<br />
Energia (AIE), teríamos de “descarbonizar” o<br />
crescimento para podermos cingir as concentrações<br />
atmosféricas de “equivalente de CO2”<br />
a 450 partes por milhão (ppm), isto é, o nível<br />
consistente com um aumento da temperatura<br />
média global na ordem dos 2ºC. Teríamos, pois,<br />
de fazer tudo – reduzir a procura, expandir as<br />
renováveis, investir na energia nuclear, desenvolver<br />
a captura e armazenamento de carbono,<br />
substituir o carvão pelo gás e proteger as florestas<br />
– para atingir esse objectivo. Como nos<br />
temos portado até aqui? Mal, muito mal. Enquanto<br />
falamos, debatemos, discutimos, os níveis<br />
de emissões aumentam. A recessão também<br />
ajudou, no entanto, não podemos nem<br />
devemos depender do “armagedão económico”.<br />
Segundo a AIE, as emissões de CO2 passaram<br />
de 20,9 gigatoneladas (Gt) em 1990 para<br />
28,8 Gt em 2007. No “cenário de referência” da<br />
AIE, as emissões de CO2 deverão ascender a<br />
34,5 Gt em 2020 e a 40,2 Gt em 2030, o que<br />
corresponde a uma taxa média de crescimento<br />
de 1,5% ao ano no referido período. Os países<br />
em desenvolvimento e emergentes “serão responsáveis<br />
pelo crescimento projectado de<br />
emissões resultantes do consumo de energia<br />
até 2030”, sendo que a China responde por<br />
55%desseaumentoeaÍndiapor18%.<br />
Se não alterarmos esta tendência o quanto<br />
antes, os custos inerentes à redução da temperatura<br />
serão muito mais onerosos ou, no<br />
pior dos casos, proibitivos. Para a AIE, se o<br />
objectivo é limitar a concentração de gases<br />
com efeito de estufa para 450 ppm, então, teremos<br />
de somar, por cada ano perdido – isto<br />
é,forada“rota”queénecessárioseguir–<br />
500 mil milhões de dólares ao custo global<br />
estimado de 10.500 biliões de dólares. Estes<br />
custos resultam da vida particularmente longa<br />
dos activos de capital usados na produção<br />
de energia e da vida ainda mais longa do CO2<br />
na atmosfera.<br />
O cenário alternativo é muito diferente:<br />
em vez das 40,2 Gt de emissões resultantes<br />
do consumo de energia em 2030 teríamos<br />
apenas26,4Gt.Odiferencialégrande.AEuropean<br />
Climate Foundation, o maior financiador<br />
de iniciativas que visam mudar as políticas<br />
europeias para o clima, refere num<br />
breve artigo que os progressos alcançados<br />
nos contactos preparatórios da Cimeira de<br />
Copenhaga não bastam*. As propostas em<br />
cima da mesa são modestas e insuficientes,<br />
mesmo numa perspectiva optimista. Isto é,<br />
ficam cerca de um terço aquém das reduções<br />
necessárias até 2020 para podermos fixar um<br />
limite de 450 ppm de equivalente de CO2.<br />
Pretendia-se que Copenhaga fosse a linha<br />
de partida do novo caminho a seguir, mas é<br />
muito provável que isso não aconteça, uma<br />
vez que nem a administração americana nem<br />
os países em desenvolvimento estão dispostos<br />
a assumir compromissos vinculativos.<br />
Copenhaga parece, pois, o fim do princípio. É<br />
praticamente consensual que o mundo deve<br />
agir. É consensual que a retórica poucos frutos<br />
deu até agora. É tempo de agir – se não em<br />
Copenhaga o quanto antes.<br />
Infelizmente, isto não significa que daí<br />
“ A redução<br />
nas emissões<br />
que se obteria<br />
substituindo a frota<br />
americana de<br />
veículos utilitários<br />
desportivos (SUV)<br />
por automóveis<br />
que obedecem aos<br />
padrões europeus<br />
de economia<br />
de combustível,<br />
permitiria cobrir<br />
as emissões<br />
resultantes do<br />
fornecimento de<br />
energia eléctrica a<br />
quem não tem<br />
acesso à mesma<br />
actualmente, isto é,<br />
a cerca de 1,6 mil<br />
milhões de pessoas.<br />
A cimeira de Copenhaga começa na próxima<br />
segunda-feira, na capital dinamarquesa. Sobre a<br />
mesa está a negociação de um ecordo pós-Quioto.<br />
possa emergir o acordo ideal. As políticas a<br />
aplicar devem ser o mais eficazes e eficientes<br />
possível. Que quer isto dizer? Enuncio de seguida<br />
três critérios.<br />
Primeiro, precisamos de preços para o<br />
carbono plausíveis para um planeamento a<br />
longoprazo.Comoéóbvio,nãopoderãoser<br />
fixos para sempre. Terão de ser ajustados em<br />
função das circunstâncias. Porém, terão de<br />
ser muito mais estáveis do que são actualmente<br />
no mercado de licenças de emissões<br />
da União Europeia. A meu ver, é mais apelativa<br />
a solução de um imposto do que o modelo<br />
‘cap and trade’.<br />
Segundo, importa distinguir entre quem<br />
paga a factura e onde se processa a redução
“<br />
Precisamos<br />
de preços para o<br />
carbono plausíveis<br />
para um planeamento<br />
a longo prazo.<br />
Como é óbvio,<br />
não poderão ser<br />
fixos para sempre.<br />
de emissões. Esta deve ter lugar onde a eficiência<br />
for maior. Razão pela qual as emissões dos países<br />
em desenvolvimento têm de ser incluídas, embora<br />
os custos devam recair sobre os países mais ricos.<br />
Não só porque podem suportar o ónus financeiro,<br />
mas porque foram eles quem produziu o grosso<br />
das emissões passadas.<br />
Terceiro, e último, é preciso desenvolver e aplicar<br />
inovação às tecnologias mais relevantes, assim como<br />
atribuir subsídios em larga escala à inovação**.<br />
Resolver o problema das alterações climáticas é<br />
o maior desafio colectivo que a Humanidade alguma<br />
vez teve de enfrentar. O êxito desta demanda<br />
depende de uma acção dispendiosa e concertada<br />
entre numerosos países para podermos dar resposta<br />
a uma ameaça distante em nome daqueles<br />
que ainda não nasceram, sob a inevitável incerteza<br />
dos custos da inacção. Chegámos, contudo, a um<br />
ponto em que existe um amplo consenso sobre a<br />
naturezadaameaçaeotipodepolíticasquedevemos<br />
adoptar para lidar com este problema. PoderemosnãochegaraumacordoemCopenhaga,masé<br />
hora de decidirmos. Ou agimos depressa ou ficaremos<br />
a saber se os cépticos têm razão. A prevalecer a<br />
inacção, como parece provável, espero que eles<br />
tenham razão. Mas duvido que assim seja. ■<br />
* “Taking stock”, 17 de Novembro de 2009,<br />
www.project-catalyst.info<br />
** “No green growth without innovation”,<br />
www.bruegel.org<br />
Exclusivo Financial Times<br />
Tradução de Ana Pina<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 5<br />
Scanpix Denmark/Reuters<br />
RELAÇÃO HISTÓRICA<br />
ENTRE AS EMISSÕES<br />
E O PRODUTO ECONÓMICO<br />
Emissões de CO2 resultantes<br />
do consumo de energia (Gt).<br />
35<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
0<br />
0<br />
Revolução<br />
Utilização<br />
sustentável<br />
industrial<br />
de energia*<br />
1750 2050<br />
1<br />
10<br />
2007<br />
100<br />
Revolução<br />
energética<br />
e ambiental<br />
2030<br />
1 000<br />
* Partindo do pressuposto de que se mudam as políticas para<br />
se estabilizarem as emissões de gases com efeito de estufa para<br />
a atmosfera nas 450ppm de equivalente de CO2<br />
Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />
CENÁRIOS DE POUPANÇA<br />
DE EMISSÕES<br />
(À ESCALA MUNDIAL)<br />
Emissões de CO2 resultantes<br />
do consumo de energia (Gt).<br />
42<br />
38<br />
34<br />
30<br />
26<br />
2010<br />
2015<br />
Cenário de<br />
referência<br />
Cenário 450*<br />
2020<br />
2025<br />
2030<br />
Fim de<br />
utilização<br />
Centrais<br />
eléctricas<br />
10 000<br />
Renováveis<br />
Biocombustíveis<br />
Nuclear<br />
Captura e<br />
armazenamento<br />
de carbono (CAC)<br />
* Partindo do pressuposto de que se mudam as políticas para<br />
se estabilizarem as emissões de gases com efeito de estufa para<br />
a atmosfera nas 450ppm de equivalente de CO2<br />
Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />
POUPANÇA NOS SUV<br />
CONTRA ELECTRICIDADE<br />
Emissões (milhões de<br />
toneladas de CO2).<br />
200<br />
150<br />
100<br />
50<br />
0<br />
Redução<br />
substituindo<br />
SUV americanos<br />
pelos padrões<br />
europeus de<br />
economia de<br />
combustível<br />
Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />
Aumento<br />
fornecendo<br />
electricidade<br />
básica a<br />
1,6 mil milhões<br />
de pessoas,<br />
actualmente<br />
sem acesso<br />
PREÇO DAS LICENÇAS DE<br />
EMISSÕESDAUE<br />
Contrato de Dezembro de<br />
2009. (€ por tonelada)<br />
30<br />
25<br />
20<br />
15<br />
10<br />
5<br />
2006<br />
Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />
2009
6 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
DESTAQUE MEDIDAS DE COMBATE À CRISE<br />
No primeiro debate quinzenal da legislatura o Governo<br />
anunciou um aumento do salário mínimo em 25 euros.<br />
Empresários apoiam subida do salário<br />
O impacto não é demasiado relevante, defendem. Mas as associações empresariais alertam para os riscos de au<br />
Mónica Silvares<br />
e Margarida Peixoto<br />
monica.silvares@economico.pt<br />
“Comumordenadomínimode<br />
475 euros por mês não se consegue<br />
ter uma vida minimamente<br />
digna em Portugal”, afirma, peremptoriamente,<br />
ao <strong>Económico</strong>,<br />
o presidente da Opway, Filipe<br />
Soares Franco. No entanto há 341<br />
mil trabalhadores em Portugal<br />
para quem os 25 euros mensais<br />
adicionais farão diferença. Os<br />
empresários ouvidos frisam a<br />
importância da medida ontem<br />
anunciado pelo Governo, no primeiro<br />
debate quinzenal desta legislatura,<br />
e acreditam que não<br />
terá um impacto muito significativo.<br />
Mas as associações empresariais<br />
preferem antecipar as dificuldades<br />
que muitas empresas<br />
vão sentir.<br />
“O sector do turismo não<br />
permite este tipo de aumentos”,<br />
diz José Carlos Pinto Coelho. O<br />
presidente da Confederação do<br />
Turismo Português explica que<br />
“a situação do turismo é excepcionalmente<br />
grave eamaioria<br />
das empresas do sector não suporta<br />
este aumento”. “Vai pro-<br />
AS CONTAS<br />
DO SALÁRIO MÍNIMO<br />
SMN 2010<br />
475 euros<br />
Custo adicional por<br />
trabalhador<br />
25 euros<br />
1% nas contribuições para<br />
a segurança social, que<br />
incidem sobre o valor bruto<br />
de 623 euros<br />
6,23 euros<br />
=<br />
18,77<br />
Nº de trabalhadores<br />
afectados: 341 mil<br />
vocar mais desemprego”, alerta.<br />
Gregório Rocha Novo, um<br />
dos responsáveis da CIP, afina<br />
pelo mesmo diapasão sublinhando<br />
“o estrangulamento”<br />
de vários sectores de bens transaccionáveis<br />
e empresas de<br />
mão-de-obra intensiva – “nas<br />
confecções cerca de 90% dos<br />
trabalhadores são abrangidos<br />
pelo aumento, no têxtil cerca de<br />
80%, no calçado mais de 70% e<br />
o mesmo na cerâmica”. “O definhamento<br />
destas empresas significa<br />
mais desemprego. Sabendo<br />
que tem como consequência<br />
inevitável o aumento do<br />
desemprego, privilegiamos o<br />
salário mínimo?”, questiona.<br />
Com a taxa de desemprego<br />
nos 10,2%, em Outubro, segundo<br />
o Eurostat, o problema é grave.<br />
Mas os empresários preferem<br />
falar de outras medidas, como<br />
um maior flexibilização das regras<br />
laborais, para fomentar o<br />
emprego. “O Código do Trabalho<br />
urge ser revisto. Uma maior flexibilidade<br />
ajudava no emprego.<br />
As empresas não tendo flexibilidade<br />
nos quadros acabam por<br />
nãosearriscartantonaconquista<br />
de novos nichos e de negócios<br />
com maior risco, porque depois<br />
podem confrontar-se com excesso<br />
de pessoal que não podem<br />
dispensar”, explica o presidente<br />
da Gelpeixe, Manuel Tarré. O<br />
responsável desta PME, presente<br />
em vários mercados internacionais,<br />
considera que as medidas<br />
ontem anunciadas – reduzir a<br />
taxa social única num ponto percentual<br />
para os trabalhadores<br />
que ganham o salário mínimo e<br />
aumentar prazo de pagamento<br />
das dívidas ao Fisco – são “muito<br />
mar<strong>gina</strong>is, mas politicamente<br />
com grande impacto”.<br />
Os empresários não consideram<br />
estas medidas uma compensação.<br />
O vice-presidente da Confederação<br />
do comércio e Serviços,<br />
Vieira Lopes, explica porquê:<br />
“Primeiro, o aumento de 25 euros<br />
elimina de imediato, em alguns<br />
acordos colectivos, um conjunto<br />
de escalões, o que poderá ter um<br />
efeito de arrastamento para os<br />
restantes trabalhadores. Segundo,<br />
este aumento pode alterar o<br />
quadro negocial dos vários escalões,<br />
facilitando aos sindicatos a<br />
apresentação de propostas mais<br />
elevadas de aumentos”.<br />
Ter mais tempo para pagar ao<br />
Fisco, “atendendo a retracção<br />
económica ajudará a não provocar<br />
mais sequelas na economia”,<br />
defende o presidente da LN Moldes,<br />
Leonel Costa. “É importante<br />
saber que as empresas têm capacidade<br />
para responder num prazo<br />
mais alargado do que abafá-las<br />
no imediato o que aumentará o<br />
desemprego”, acrescenta. Mas<br />
João Miranda, presidente da Frulact,<br />
uma empresa de preparados<br />
de fruta, lembra que as empresas<br />
cumpridoras acabam por ser vítimas<br />
de “concorrência desleal”.<br />
“Era mais interessante se o Estado<br />
se comprometesse a pagar as<br />
suas dívidas”, sublinha.<br />
A decisão de aumentar o salário<br />
mínimo vai ter impacto sobretudo<br />
na região Norte, onde se<br />
concentra cerca de metade dos<br />
trabalhadores que ganham o salário<br />
mínimo (46%), segundo<br />
um estudo do Gabinete de Estratégia<br />
do Ministério da Economia.<br />
Em seguida vem a região<br />
Centro e Lisboa (22,6% e 21,2%)<br />
onde também se encontram<br />
muitas da indústria de mão de<br />
obra mais intensiva. Precisamente<br />
as regiões onde há mais<br />
desemprego. ■ Com A.F.S., H.S.
PONTOS-CHAVE<br />
mínimo<br />
mento do desemprego.<br />
AS MEDIDAS<br />
● Aumentar o salário mínimo<br />
para 475 euros, contra os<br />
anteriores 450.<br />
João Paulo Dias<br />
● Redução de um ponto<br />
percentual da contribuição para a<br />
Segurança Social a cargo da<br />
empresa relativa a trabalhadores<br />
com salário mínimo, em 2010.<br />
● Alargamento do prazo de<br />
pagamento das dívidas aos Fisco<br />
para o dobro, em 2010.<br />
● Reforço do programa de apoio<br />
à modernização do pequeno<br />
comércio em 20 milhões de<br />
euros e do programa de<br />
qualificação e emprego para os<br />
sectores têxtil, turismo e fabrico<br />
de móveis.<br />
Os empresários ouvidos pelo<br />
Governo Mhghghke df oposição df gdjkfhg<br />
Líderes Mhghghk parlamentares<br />
df df<br />
<strong>Económico</strong> frisam a importância comprometeram, sdfhglkhsdlfjgh sdjfgh em duas<br />
sublinham gdjkfhg a importância de<br />
da subida do salário mínimo. As sjdfh semanas, g hsdfkjgh 924 milhões de euros sdfhglkhsdlfjgh continuar asdjfgh apoiarsjdfh a economia. g<br />
associações empresariais preferem ksdfjgsjdfhkgjh em despesassdfjkgh adicionais ksjdfh para 2010, hsdfkjgh Preocupação ksdfjgsjdfhkgjh com o défice não<br />
antecipar as dificuldades que muitas gkj shdfkjgh assumindo sdjkfhgk os números jsdhfkgjh avançadossdfjkgh<br />
deve ksjdfh ser agkj prioridade shdfkjghem<br />
empresas vão sentir.<br />
skdfjg pelosdfg. próprio Executivo. sdjkfhgk momento jsdhfkgjh de recuperar skdfjg sdfg. da crise.<br />
Empresários<br />
desdramatizam<br />
efeitos da<br />
subida do salário<br />
mínimo<br />
Ludgero Marques<br />
Presidente da Cifial<br />
“O aumento não tem<br />
grande expressão,<br />
como também não tem<br />
o salário mínimo. Mas<br />
não quero ser negativo: o<br />
aumento é um sinal porque mostra<br />
solidariedade. Para quem vai, apesar de<br />
pouco, é necessário.”<br />
Filipe Soares Franco<br />
Presidente da Opway<br />
“O ordenamento mínimo<br />
é fundamental.<br />
Com 475 euros não se<br />
consegue ter um vida<br />
digna em Portugal. O decréscimo<br />
de prestação para a Segurança Social<br />
é um paleativo, para o esforço de muitas<br />
empresas que pagam o salário mínimo que é<br />
a única forma de conseguirem sobreviver.”<br />
Bernardo Vasconcellos e<br />
Souza<br />
CEO da Vista Alegre<br />
“Estas medidas são<br />
avulsas e a questão de<br />
fundo é a alteração do<br />
regime laboral. Não sou<br />
muito partidário de apoios<br />
às empresas, só por períodos curtos. É necessário<br />
aumentar a competitiva a legislação<br />
laboral tem de ser adequada flexível e<br />
realista e a Justiça tem de funcionar.”<br />
José Joaquim Oliveira<br />
CEO da IBM Portugal<br />
“É uma medida de<br />
aplaudir e vem em<br />
linha com o que foi<br />
prometido na campanha.<br />
Representa um esforço<br />
para melhorar as condições de vida. A<br />
maioria das empresas deverá conseguir<br />
responder a este aumento dos custos”.<br />
Pedro Pissarra<br />
Presidente Biotecnol<br />
“Estas medidas não<br />
vão contribuir muito<br />
para uma melhoria<br />
visível nas pessoas.<br />
Beneficiariam mais com uma<br />
redução do IVA. Teria mais impacto. Quanto<br />
às empresas, o Estado deveria preocupar-se<br />
me olhar para as dívidas que tem. A seguir é<br />
que deveriam vir os incentivos.”<br />
Paulo Varela<br />
Presidente da Visabeira<br />
“Estas são medidas<br />
positivas no actual<br />
contexto. O aumento<br />
do salário mínimo é<br />
socialmente justo, embora<br />
admita que para certos sectores possa ser<br />
um problema. O impacto será mar<strong>gina</strong>l e é<br />
um sinal positivo pois qualquer incentivo<br />
tem um efeito multiplicador.”<br />
Carlos Barbot<br />
Presidente da Barbot<br />
Tintas<br />
“O salário mínimo é<br />
de aumentar, até<br />
porque continua a não<br />
ser muito dinheiro.<br />
Preocupa-me mais os<br />
aumentos da função pública. Espero que as<br />
negociações salariais levem em linha de<br />
conta a diminuição dos preços.”<br />
Luís Filipe Pereira<br />
CEO da Efacec<br />
“Temosdeverseo<br />
aumento do salário<br />
mínimo resulta ou não<br />
numa diminuição do<br />
emprego. Todos estamos de<br />
acordo com o aumento, mas temos de ver<br />
se isso compa<strong>gina</strong> com a sobrevivência das<br />
micro-empresas”.<br />
Leonel Costa<br />
Presidente da LN Moldes<br />
“Ter mais tempo para<br />
pagar ao Fisco, atendendoaretracçãoeconómica<br />
e para não provocar<br />
mais sequelas na economia,<br />
é importante saber se as empresas<br />
têm capacidade para responder num prazo<br />
mais alargado do que abafá-las no imediato<br />
o que aumentará o desemprego.”<br />
João Miranda<br />
presidente da Frulact<br />
“Há coisas mais<br />
importantes. Estamos<br />
a trabalhar muito a<br />
jusante quando<br />
deveríamos trabalhar mais a<br />
montante. O Estado está a ir pela via dos<br />
proveitos e deveria ser pela via dos custos.<br />
Os custos associados à administração<br />
publica têm muito por onde ser optimizados.”<br />
Albano Alves<br />
Presidente da Albano<br />
Alves<br />
“Quem paga 450 euros<br />
paga 475. É só propaganda.<br />
Não confio<br />
em nada do que o Governo<br />
prometa ou dê. Se me der<br />
a regalia sei que vou ter de ter outros custos,<br />
como não poder despedir o empregado<br />
ou dar contas adicionais. O que os empresários<br />
precisam é que lhes facilitem a vida.”<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 7<br />
Miguel Júdice<br />
Presidente do grupo<br />
Lagrimas<br />
“Evoluções graduais<br />
do salário mínimo<br />
devem ser feitas,<br />
porque aumentar o<br />
salário mínimo na economia<br />
vai injectar dinheiro na economia. Não<br />
posso acreditar que leve ao desemprego,<br />
que uma empresa que aumente o salário<br />
mínimo seja obrigada a despedir.”<br />
Armindo Monteiro<br />
CEO da Compta<br />
“É generosidade à<br />
custa das empresas,<br />
que o Estado não tem,<br />
com as pensões.<br />
Ninguém vive com o salário<br />
mínimo, mas também ninguém vive com as<br />
pensões. Veremos até que ponto as<br />
empresas vão absorver estes aumentos.”<br />
Manuel Tarré<br />
Presidente da Gelpeixe<br />
“Para algumas<br />
empresas o impacto<br />
será enorme porque<br />
atravessam sérias<br />
dificuldades, para outras<br />
não será tão grande. Reduzir as<br />
contribuições para a Segurança Social ajuda<br />
a compensar, mas falamos de medidas<br />
muito mar<strong>gina</strong>is, medidas políticas.”<br />
Aloisio Leão<br />
Presidente da Inapal Metal<br />
“O salário mínimo deve<br />
ser actualizado, mas as<br />
empresas só podem distribuir<br />
aquilo que têm. É um<br />
problema que tem que ser dimensionado<br />
em função da retoma da economia<br />
no país, e se o primeiro-ministro tem tantas<br />
certezas de que vai haver uma retoma da<br />
economia, não sei onde é que ele as foi buscar.”<br />
Afonso Jubert Almeida<br />
Presidente da Frissul<br />
“É importante subir o<br />
salário mínimo e as<br />
empresas têm de fazer<br />
um esforço para serem<br />
competitivas e ultrapassar<br />
essa dificuldade. Não podemos continuar<br />
com salários desta ordem. Aumentar o prazo<br />
para pagar dívidas ao Fisco significa que se<br />
está a ajudar as empresas não cumpridoras.”<br />
Hipólito Pires<br />
Presidente da Hipogest<br />
“Lamentamos que<br />
o salário mínimo<br />
em Portugal seja<br />
ainda tão pequeno.<br />
Além de que o problema<br />
do nosso país não é o salário mínimo.<br />
O que prejudica as empresas,<br />
o que gera desemprego, é a actual<br />
legislação laboral.”
8 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
DESTAQUE MEDIDAS DE COMBATE À CRISE<br />
Parlamento compromete 924<br />
milhões de receitas de 2010<br />
Sócrates apresentou ontem medidas que comprometem 94 milhões de euros em<br />
receitas do próximo ano. A estes juntam-se mais 830 milhões já destinados.<br />
Margarida Peixoto<br />
margarida.peixoto@economico.pt<br />
No Parlamento, o Natal chegou<br />
mais cedo. E nem o gelo da crise<br />
económica nem o mealheiro vazio<br />
do Estado refrearam os ânimos<br />
na hora de distribuir presentes.<br />
O primeiro-ministro anunciou<br />
que o salário mínimo nacional<br />
será aumentado em 25 euros e<br />
que as empresas terão direito a<br />
medidas compensatórias no valor<br />
de 94 milhões de euros. Esta já<br />
é a terceira ronda de distribuição<br />
de prendas. Nas duas primeiras,<br />
entre Governo e oposição, já tinham<br />
sido gastos 830 milhões do<br />
orçamento do ano que vem.<br />
Feitas as contas, e sem ainda ter<br />
sidoresolvidooproblemadoOrçamento<br />
do Estado deste ano, Governo<br />
e oposição comprometeram<br />
em duas semanas 924 milhões de<br />
euros em despesas adicionais para<br />
2010, assumindo os números<br />
avançados pelo próprio Executivo.<br />
“Muito antes do debate orçamental,<br />
logo na primeira semana<br />
de funcionamento efectivo – e<br />
apenas numa manhã – foram retirados<br />
quase 800 milhões de receita<br />
ao Estado, sem qualquer<br />
compensação”, criticou José Sócrates,<br />
ontem no debate quinzenal<br />
na Assembleia da República.<br />
O primeiro-ministro referia-se<br />
às medidas aprovadas a semana<br />
passada pela oposição: a suspen-<br />
sãodoCódigoContributivo,o<br />
pagamento do IVA a 30 dias, o fim<br />
do Pagamento Especial por Conta<br />
(PEC) e a introdução de juros de<br />
mora quando o Estado se atrasa a<br />
pagar aos seus fornecedores.<br />
Manuela Ferreira Leite respondeu:<br />
“Não temos propostas<br />
deaumentodadespesaeaquebra<br />
de receitas corresponde praticamente<br />
apenas a um adiamento da<br />
entrada de receitas”. A líder do<br />
PSD recordava que o fim do PEC e<br />
o pagamento antecipado de IVA<br />
não implicam menos receita. São<br />
antes medidas que mexem com a<br />
gestão de tesouraria do Estado.<br />
“Também o Governo não espera<br />
pelo debate orçamental para<br />
O mesmo Parlamento<br />
que aprova despesa<br />
adicional para 2010,<br />
multiplica-se em<br />
avisos sobre as contas<br />
do défice. O ministro<br />
das Finanças já<br />
assumiu que o défice<br />
deste ano “não ficará<br />
abaixo de 8%”.<br />
ANÁLISE PARTIDOS MOVIDOS POR VINGANÇA<br />
Oposição quer bloquear Socrates<br />
João Cardoso Rosas<br />
Politólogo<br />
É uma situação estranha e que é<br />
um pouco surpreendente. As expectativas<br />
quando se saiu do processo<br />
eleitoral eram diferentes.<br />
Esperava-se que houvesse negociações<br />
duras no Parlamento – o<br />
chamado conceito de geometria<br />
variável. Acreditava-se que o<br />
Governo teria capacidade para<br />
formar maiorias de geometria<br />
variável para conseguir desbloquear<br />
algumas medidas da oposição<br />
com alianças pontuais, quer<br />
com a esquerda quer com a direita.<br />
Não é isso que está a acontecer.<br />
Passou-se a falar de coligação<br />
negativa. E não é pontualmente.<br />
Parece muito recorrente<br />
para bloquear iniciativas do Go-<br />
verno e impor medidas de iniciativa<br />
legislativa da oposição. É<br />
avassalador o número de projectos-lei<br />
propostos pela oposição. É<br />
um acarnamento legislativo por<br />
parte da oposição, cujo objectivo<br />
é bloquear a acção governativa. A<br />
oposiçãosentequeoGovernoeo<br />
PS estão num momento fraco e<br />
quer aproveitar-se disso para os<br />
enfraquecer ainda mais. E há uma<br />
causa que não é muito nobre, uma<br />
certa ‘révanche’ face ao Governo<br />
anterior. O problema é que os<br />
partidos da oposição não têm alternativa<br />
credível a oferecer. Isto<br />
vai em crescendo, porque o Governo<br />
reage de forma exacerbada.<br />
Gera-se uma dialéctica negativa:<br />
uma Assembleia a querer<br />
governar e Governo bloqueado.<br />
Vamos ver o que se segue. ■<br />
as apresentar”, acrescentou<br />
Aguiar Branco, líder parlamentar<br />
do PSD, acusando o Executivo de<br />
ter “dois pesos e duas medidas”<br />
quando “acabou com as taxas<br />
moderadoras”.<br />
Da responsabilidade do Governo<br />
há que contar com os 30<br />
milhões de euros afectos ao alargamento<br />
da atribuição do subsídiodedesemprego–umamedidaapresentadalogonoprograma<br />
doGoverno–ecomasnovidades<br />
anunciadas ontem como compensação<br />
do aumento do salário<br />
mínimo nacional.<br />
O pagamento de menos um<br />
ponto percentual nas contribuições<br />
das empresas referentes aos<br />
trabalhadores que receberam a remuneração<br />
mínima este ano custará<br />
24 milhões aos cofres do Estado.AextensãodoProgramaQualificação-Emprego<br />
aos sectores têxtil<br />
e vestuário, turismo e fabrico de<br />
mobiliário custará cerca de 50 milhões<br />
de euros, assumindo a afectação<br />
de 20 mil trabalhadores. E<br />
para o programa de modernização<br />
do pequeno comércio serão afectados<br />
mais 20 milhões de euros.<br />
Mas as contas não acabam<br />
aqui. Do lado do Governo falta<br />
ainda saber que medidas implementadas<br />
excepcionalmente este<br />
ano serão revalidadas para 2010,<br />
uma análise que ainda está a ser<br />
feita. Do lado da oposição, há a<br />
forte probabilidade de se impor o<br />
aumento do período de concessão<br />
do subsídio de desemprego,<br />
já que todos os partidos apresentaram<br />
projectos de lei onde admitem<br />
este alargamento, pelo<br />
menos em 2010.<br />
O lado negro das contas<br />
Mas, o mesmo Parlamento que<br />
aprova despesa adicional para<br />
2010, multiplica-se em avisos sobre<br />
as contas do défice. O ministro<br />
das Finanças já assumiu que o<br />
défice orçamental deste ano “não<br />
ficará abaixo de 8%”. A Comissão<br />
Europeia também já avisou que se<br />
nada for feito o buraco das contas<br />
públicas portuguesas vai ficar outra<br />
vez nos 8% em 2010 e em 2011<br />
será ainda maior (8,7%).<br />
Com o objectivo de reduzir o<br />
desequilíbrio para 3% até 2013, os<br />
contribuintes arriscam-se a substituir<br />
rapidamente os sininhos de<br />
Natal por uma melodia menos<br />
agradável. O FMI já sugeriu a possibilidade<br />
de ser necessário aumentar<br />
os impostos – uma “hipótese<br />
teórica” que também já tinha<br />
sido levantada por Vítor Constâncio,<br />
governador do Banco de Portugal.<br />
E na quinta-feira, o presidente<br />
do BCE, Jean-Claude Trichet<br />
juntou-se ao coro de avisos: “Continuamos<br />
a encorajar fortemente<br />
queosGovernoscuidemdassuas<br />
políticas orçamentais e que regressem<br />
muito rapidamente a situações<br />
sustentáveis”. ■ Com M.G.<br />
ANÁLISE APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS<br />
Iniciativas reais e de ficção<br />
António Costa Pinto<br />
Politólogo<br />
Esta tendência dos partidos<br />
para continuarem numa lógica<br />
de apresentar propostas atrás<br />
de propostas tem mais a ver<br />
com a natureza da maioria.<br />
Tem mais a ver com o facto de<br />
termos um Governo minoritário,<br />
com uma alteração da<br />
configuração do Parlamento,<br />
do que com uma questão de<br />
campanha. A curto-prazo vamos<br />
ter que nos habituar a<br />
uma maior iniciativa por parte<br />
dos partidos da oposição. Sobretudo<br />
de dois partidos - BE e<br />
CDS - que precisam de manter<br />
uma iniciativa significativa,<br />
tendo em conta o crescimento<br />
eleitoral que tiveram. Ou seja,<br />
esta postura dos partidos no<br />
Parlamento tem mais a ver<br />
com a nova reconfiguração do<br />
que com um cenário eleitoral.<br />
A tendência será para continuarmos<br />
a assistir a esta apresentação<br />
sistemática de projectos.<br />
Quando o PSD difere<br />
para uma direcção mais estável<br />
pode contribuir para moderar<br />
estas iniciativas. Este<br />
novo quadro exige também<br />
que o Governo, muitas vezes<br />
mais para a opinião do que<br />
para o Parlamento, tenha também<br />
de mostrar uma maior<br />
iniciativa. Vamos ter um maior<br />
conjunto de iniciativas, muitas<br />
delas reais para negociação,<br />
outras que se destinam a<br />
manter a relação entre os partidos<br />
e o seu eleitorado. ■
O que afecta o Orçamento do Estado para 2010<br />
Subsídio<br />
de desemprego<br />
A medida foi anunciada logo no<br />
programa do Governo: o<br />
período de contribuições<br />
necessário para ter direito ao<br />
subsídio de desemprego será<br />
mais curto, facilitando o acesso.<br />
Custa30milhõesdeeurosao<br />
Orçamento de 2010.<br />
30 milhões de euros<br />
Perda de receita em 2010.<br />
Qualificação-Emprego<br />
O Governo aprovou a extensão<br />
do Programa Qualificação-<br />
Emprego aos sectores têxtil e<br />
vestuário, turismo e fabrico de<br />
mobiliário. Vai custar 50<br />
milhões de euros.<br />
Código Contributivo<br />
A oposição decidiu suspender a<br />
aplicação do Código<br />
Contributivo, que deveria entrar<br />
em vigor já em 2010. Esta era<br />
uma reivindicação antiga do<br />
patronato e os partidos da<br />
oposição reclamavam mais<br />
tempo para discutir o diploma.<br />
O Estado deixa de arrecadar 80<br />
milhões de euros.<br />
80 milhões de euros<br />
Receita a menos pela<br />
suspensão no Código<br />
Contributivo.<br />
Juros de mora<br />
O Estado terá de contar com<br />
mais um encargo: de cada vez<br />
que os pagamentos aos<br />
fornecedores ficarem em atraso<br />
o Estado terá de pagar juros de<br />
mora. Foi aplicado o princípio da<br />
reciprocidade.<br />
GOVERNO<br />
OPOSIÇÃO<br />
Pequeno comércio<br />
O programa de modernização do<br />
pequeno comércio será reforçado<br />
com uma dotação adicional<br />
de 20 milhões de euros, como<br />
forma de compensar o aumento<br />
do salário mínimo.<br />
Contribuições sociais<br />
Como compensação, em 2010 a<br />
contribuição das empresas para<br />
a segurança social referente aos<br />
trabalhadores que em 2009<br />
recebiam a retribuição mínima<br />
será um ponto percentual mais<br />
baixa. A medida custa 24<br />
milhões de euros.<br />
24 milhões de euros<br />
Custo da redução temporária<br />
das contribuições.<br />
IVA a 30 dias<br />
Na mesma manhã, os partidos<br />
da oposição decidiram ainda<br />
que o reembolso do IVA às<br />
empresas deverá ser feito em<br />
30 dias. Uma vez mais,<br />
corresponde sobretudo a um<br />
adiantamento de despesa.<br />
FimdoPEC<br />
A oposição também aprovou o<br />
fim do pagamento especial por<br />
conta, um instrumento criado<br />
para combater a fraude e evasão<br />
fiscal. Na teoria, este é apenas<br />
um adiamento da entrada de receita:<br />
ou seja, em vez de serem<br />
pagos à cabeça, os impostos são<br />
liquidados mais tarde.<br />
300 milhões de euros<br />
Impacto do fim do PEC,<br />
segundo o Governo.<br />
TRÊS PERGUNTAS A...<br />
FRANCISCO ASSIS<br />
Líder Parlamentar do PS<br />
“Neste momento<br />
há que sacrificar<br />
um pouco o défice”<br />
O líder da bancada socialista<br />
defende as medidas excepcionais<br />
queoGovernoestáatomare<br />
considera que o rigor orçamental<br />
deve ser sacrificado em nome do<br />
crescimento da economia.<br />
Estas medidas vão onerar<br />
a despesa do Estado. É<br />
aconselhável, nesta altura?<br />
O impacto orçamental dessas<br />
medidas foi devidamente<br />
estudado pelo Governo e não se<br />
afasta da preocupação com o<br />
défice. Mas temos que atender a<br />
uma situação excepcional do país.<br />
O aumento do salário mínimo<br />
significa que não queremos<br />
basear a nossa competitividade<br />
nos baixos salários e em mão de<br />
obra pouco qualificada, mas sim<br />
na inovação, no bom ambiente<br />
nas empresas, a níveis que nos<br />
TRÊS PERGUNTAS A...<br />
MIGUEL FRASQUILHO<br />
Vice-presidente da bancada do PSD<br />
“Prioridade do<br />
Governo em 2010<br />
deve ser a economia”<br />
O deputado do PSD Miguel<br />
Frasquilho olha com desconfiança<br />
para as medidas apresentadas pelo<br />
Governo e acusa-as de serem<br />
pouco eficazes. Para o economista,<br />
a aposta tem que ser no<br />
crescimento da economia e, em<br />
2010, o défice ainda não deve ser<br />
prioridade.<br />
O Governo criticou as medidas<br />
que a oposição aprovou e<br />
diminui as receitas. As<br />
apresentadas pelo Governo não<br />
têm a mesma consequência?<br />
Parece-me evidente e também que<br />
são menos eficazes do que as da<br />
oposição da semana passada. A<br />
descidadataxasocialúnicaem1<br />
ponto percentual para empresas<br />
que empregam trabalhadores com<br />
salário mínimo é de 4,75 euros.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 9<br />
aproximem verdadeiramente da<br />
Europa. As medidas de apoio às<br />
empresas justificam-se, tendo em<br />
consideração, que em<br />
determinados sectores<br />
particularmente expostos à<br />
concorrência internacional, há<br />
necessidade de prestar esse<br />
apoio. São medidas sérias, que<br />
não nos afastam da preocupação<br />
com o rigor orçamental e podem<br />
impulsionar a actividade<br />
económica.<br />
E o défice não deve ser ainda<br />
a prioridade?<br />
Não podemos permitir que o<br />
défice atinja valores<br />
incomportáveis. Mas neste<br />
momento há que sacrificar um<br />
pouco o défice à preocupação de<br />
relançar a actividade económica<br />
dopaís.EoGovernotemfeitoisto<br />
de forma doseada. O risco é se a<br />
Assembleia da República quiser<br />
conduzir a política orçamental de<br />
formaerráticaeincoerente,<br />
aprovando iniciativas diversas de<br />
partidos com visões<br />
contraditórias da economia.<br />
As medidas tomadas pela<br />
oposição e que diminuem as<br />
receitas vêm condicionar os<br />
apoios que o Governo pode<br />
dar?<br />
O impacto orçamental significa<br />
que pode de facto condicionar.<br />
Mas tudo deve ser discutido no<br />
momento certo, que éadiscussão<br />
do Orçamento do Estado. ■ M.G.<br />
Não houve referência ao défice.<br />
Nãodeveseruma<br />
preocupação?<br />
Nem sequer se percebe com o<br />
que é que o Governo está<br />
preocupado. Acho que devia<br />
haver uma preocupação com o<br />
défice, mas não no sentido que o<br />
Governo quer fazer crer. Devia<br />
estar preocupado porque a<br />
despesa corrente não cumpre o<br />
objectivo do PRACE [reforma da<br />
Administração Pública]. Mas a<br />
prioridade do Governo, tanto<br />
este ano como em 2010, deve ser<br />
a economia. Isto aplica-se do<br />
lado da receita e do lado da<br />
despesadeinvestimento.No<br />
entanto, não se deve aplicar às<br />
despesas de funcionamento. Aí,<br />
os objectivos do PRACE falharam<br />
todos em termos financeiros.<br />
Estas medidas, não só da<br />
oposição como do Governo, são<br />
sempre apresentadas como<br />
excepcionais e de curto-prazo,<br />
mas não teremos que vir a<br />
pagá-las no longo prazo?<br />
Se não colocarmos a economia a<br />
crescer, no longo prazo o futuro<br />
do país não será brilhante. Deste<br />
ponto de vista, iremos todos pagar<br />
muito caro quaisquer medidas<br />
que sejam tomadas. A prioridade<br />
tem que ser o crescimento<br />
económico, mas ninguém parece<br />
perceber isso. Continuamos todosalegresecontentesaassobiar<br />
para o lado. ■ M.G.
10 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
ECONOMIA<br />
Dólar sobe, empresas<br />
tremem e famílias<br />
sorriem... no Natal<br />
Numa altura em que cresce o frenesim em torno das compras<br />
do Natal, os consumidores têm no dólar um grande aliado.<br />
Luís Reis Pires<br />
luis.pires@economico.pt<br />
Eles falam, falam, falam, até fazem,<br />
mas não conseguem nada.<br />
Desde os governadores dos bancos<br />
centrais aos líderes políticos<br />
mundiais, já se perdeu a conta à<br />
quantidade de avisos sobre o<br />
perigo que acarreta a actual depreciação<br />
do dólar. O resultado<br />
temsidonuloeamoedanorteamericana<br />
teima em bater mínimos<br />
históricos.<br />
OBancoCentraldaChinaéo<br />
único a agir em vez de falar. Mas<br />
esse mais valia estar quieto – dizem<br />
os norte-americanos, gritam<br />
os europeus – porque só intervém<br />
para manter o iuan desvalorizado,<br />
beneficiando assim<br />
as exportações chinesas. E<br />
quando isso acontece, diz Marco<br />
Annunziata, economista-chefe<br />
do Unicredit e conselheiro da<br />
Comissão Europeia, “as outras<br />
economias asiáticas tendem a<br />
fazer o mesmo, para não perderem<br />
competitividade nas exportações”.<br />
Resultado: a economia<br />
europeia sai prejudicada porque<br />
vê os seus produtos ficarem mais<br />
caros. Mas se a valorização do<br />
euro é uma má notícia para as<br />
empresas europeias exportadoras,<br />
é uma excelente oportunidade<br />
para os consumidores, que<br />
encontram agora uma panóplia<br />
de bens e serviços a preços de<br />
saldo (ver texto ao lado).<br />
As fragilidades reveladas pela<br />
economia dos Estados Unidos<br />
durante a crise levaram os investidores<br />
a travar o assédio à<br />
moeda que outrora consideraram<br />
intocável. E se a opção da<br />
Reserva Federal (Fed) em tornar<br />
o acesso ao dólar praticamente<br />
sem custos (com juros próximos<br />
EURO FACE AO DÓLAR<br />
1,49<br />
A moeda única europeia vale já<br />
quase 1,5 dólares. A divisa norteamericana<br />
continua em queda,<br />
apesar de ter recuperado um<br />
pouco nos últimos dias.<br />
Jean-Claude<br />
Trichet<br />
Governador<br />
do BCE<br />
O governador do BCE já<br />
abordou a questão mais do que<br />
uma vez, mas sempre de forma<br />
muito delicada: “Confio<br />
na sinceridade das autoridades<br />
norte-americanas” [quando<br />
se mostram preocupadas<br />
com a quebra do dólar].<br />
EURO FACE À LIBRA<br />
0,90<br />
A moeda britânica também tem<br />
vindo a perder força e não está<br />
muito longe da paridade. No entanto,<br />
a libra esterlina continua a valer<br />
mais do que a moeda europeia.<br />
de zero) ajudou o sistema financeiro,<br />
prejudicou, por outro<br />
lado, a força da moeda. A desconfiança<br />
face ao dólar agravou-se<br />
ainda mais com os desequilíbrios<br />
nas contas públicas<br />
nooutroladodoAtlântico-o<br />
défice deverá superar os 10% do<br />
PIBesteano.<br />
Tudo somado, o dólar não resistiu<br />
e começou a cair de forma<br />
abrupta face às principais divisas<br />
mundiais, sobretudo o euro e o<br />
iene. A moeda norte-americana<br />
chegou a ser negociada abaixo<br />
dos 50 cêntimos de euro, atingindo<br />
mínimos históricos. Entretanto<br />
já recuperou um pouco<br />
e, neste momento, o dólar vale<br />
cercade0,67cêntimosdeeuros.<br />
Depreciação do dólar<br />
ameaça retoma da Europa<br />
A OCDE avisou recentemente,<br />
no Economic Outlook de Outono,<br />
que caso se mantenha a tendência<br />
da desvalorização do dólar,<br />
a retoma mundial e, sobretudo,<br />
da Europa, pode vir a ser<br />
ameaçada. “Se o dólar cai mais,<br />
aretomaeuropeiaficamuito<br />
ameaçada”, corrobora Marco<br />
Annunziata porque “a recuperação<br />
da Europa está a fazer-se<br />
muito pelo comércio externo”.<br />
Nesse sentido, Portugal até está<br />
um pouco mais protegido, lembra<br />
o economista, porque tem<br />
grande parte dos seus mercados<br />
no Velho Continente. “Mas se a<br />
recuperação das economias europeias<br />
colapsar, as encomendasdaEuropaaPortugalvãode<br />
arrasto”, avisa o economista.<br />
A situação preocupa e, em<br />
Portugal, José Sócrates já se<br />
mostrou apreensivo com o impacto<br />
da queda do dólar nas exportações<br />
portuguesas. ■<br />
EURO FACE AO IUAN<br />
10,13<br />
A China continua a manter<br />
o iuan depreciado por causa das<br />
exportações. E a Europa está a<br />
sofrer com isso: o euro vale já dez<br />
vezes mais que o iuan.
Espanhóis desistem de procurar emprego<br />
O Banco de Espanha destacou ontem, no seu boletim económico de<br />
Novembro, que ao longo deste ano se agravou a passagem de pessoas<br />
para uma situação de inactividade. Pela primeira vez nos últimos anos,<br />
a população activa sofreu uma redução, que se prolonga já por três<br />
trimestres. Segundo a instituição, esta tendência explica-se pelo “efeito<br />
de desânimo” entre os desempregados, que desistem de procurar<br />
emprego.EmPortugal,atendênciaéamesma.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 11<br />
Este Natal, vá às compras na Quinta Avenida!<br />
Oazardeunséasortede<br />
outros. O dólar fraco pode<br />
comprometer as exportações<br />
das empresas, mas também<br />
pode ajudar na poupança das<br />
famílias. O Natal em época de<br />
crise não precisa de ser um<br />
Natal com menos presentes,<br />
basta saber onde comprar.<br />
Neste caso, com a<br />
desvalorização da moeda<br />
norte-americana, a solução é<br />
Uma camisa Hugo Boss custa cerca<br />
de 64 euros (95$). Há um ano, valia<br />
cercade74euros.<br />
Iphone 3GS 32GB<br />
Estados Unidos (Amazon): 201,6 euros<br />
(299$)<br />
Portugal (Fnac): 999 euros<br />
Lost - season 5<br />
Estados Unidos (Amazon): 25 euros<br />
(36,99$)<br />
Portugal (Fnac): 49,99 euros<br />
ir às compras aos Estados<br />
Unidos. E nem é preciso dar<br />
umsaltinhoàterradoTio<br />
Sam, que aí a coisa talvez já<br />
não compense. Basta fazer<br />
usodaInterneteiraum<br />
qualquer site com domínio<br />
“.com”. Produtos<br />
informáticos, telemóveis,<br />
séries e filmes são produtos<br />
que saem muito mais baratos<br />
quando comprados em lojas<br />
Um par de sapatos da Tommy Hilfiger<br />
custa cerca de 54 euros (79,99$). Há<br />
um ano, valia 63 euros.<br />
Playstation 3 120GB<br />
Estados Unidos (Amazon): 202,2 euros<br />
(299,99$)<br />
Portugal (Fnac): 299,99euros<br />
The Beatles stereo box set<br />
Estados Unidos (Amazon): 118,4 euros<br />
175,49$<br />
Portugal (Fnac): 229,95 euros<br />
americanas, não só a custa<br />
da desvalorização da moeda<br />
americana, mas porque, já de<br />
si, são mais baratos no outro<br />
lado do Atlântico. E mesmo<br />
os artigos de vestuários<br />
saem mais baratos quando<br />
comprados nos Estados<br />
Unidos. O dólar tem de subir<br />
para ajudar a economia<br />
nacional. Mas, já agora,<br />
pode ser só em Janeiro?<br />
Um vestido Ralph Lauren para bébé<br />
custa cerca de 30 euros (45$). Há um<br />
ano, custava cerca de 35 euros.<br />
Ipod nano 5ª geração 8GB<br />
Estados Unidos (Amazon): 91 euros<br />
(134,99$)<br />
Portugal (Fnac): 139 euros<br />
Mario Tama/GettyImages<br />
Apple MacBook Pro 13” 2,26GHz<br />
Estados Unidos (Amazon): 1.058 euros<br />
(1,<strong>56</strong>9$)<br />
Portugal (Fnac): 1.149 euros
12 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
ECONOMIA<br />
Fabricantes de sapatos<br />
satisfeitos com reforço<br />
das medidas anti-dumping<br />
Apesar de satisfeitos, os empresários consideram que o prazo de 15 meses é<br />
insuficiente. Daqui a um ano estarão de novo a fazer pressão junto da UE.<br />
Elisabete Felismino<br />
elisabete.felismino@economico.pt<br />
Os empresários do sector do<br />
calçado estão satisfeitos coma<br />
prorrogação por mais 15 meses<br />
das medidas anti-dumping<br />
por parte da Comissão Europeia<br />
para o calçado de couro<br />
oriundo da China e do Vietname.<br />
Os dois países continuam<br />
assim obrigados a pagar taxas<br />
de 16,5% para o calçado chinês<br />
e de 10% para o calçado<br />
vietnamita para entrar no<br />
mercado europeu.<br />
“É bastante positiva para a<br />
indústria portuguesa, sobretudo<br />
num contexto de impasse porque<br />
está a passar a nossa economia”,<br />
diz o presidente do grupo<br />
Kyaia, Fortunato Frederico.<br />
“Obviamente que achamos<br />
que podiam ter ido mais além<br />
naquestãodoprazo,masa<br />
verdade é que assim ganhamos<br />
alguma folga para nos organizarmos<br />
e depois quando o prazo<br />
estiver prestes a terminar<br />
logo vemos o que podemos voltar<br />
a fazer”, acrescentou o<br />
mesmo responsável.<br />
Já Eugénio Faria, da empresa<br />
Jefar, uma das maiores do<br />
sector, considera que “esta é<br />
uma boa medida e uma boa<br />
notícia para o sector, uma vez<br />
que acaba por beneficiar a indústria<br />
de calçado portuguesa”,<br />
que concorre com a chinesa<br />
e vietnamita.<br />
Mas a satisfação por parte<br />
dos empresários do calçado<br />
não é total, uma vez que consideramqueaComissãodeviae<br />
podia ter ido mais além na<br />
TRÊS PERGUNTAS A...<br />
ALFREDO JORGE<br />
Director Executivo da Associação<br />
do Calçado<br />
“O calçado da China e<br />
Vietnam chegam com<br />
um preço artificial”<br />
Que impacto tem a<br />
prorrogação das medidas<br />
anti-dumping para o sector<br />
em Portugal?<br />
O impacto é significativo porque<br />
questão do prazo uma vez que o<br />
limite legal para este tipo de<br />
medidas é de cinco anos. Mais.<br />
Os empresários invocam que<br />
daquiaumanoestarãodenovo<br />
a argumentar junto da Comissão<br />
Europeia por novo prolongamento<br />
de prazo.<br />
A Apiccaps,<br />
associação do sector,<br />
acredita que o prazo<br />
de alargamento de 15<br />
meses resultou<br />
de uma solução<br />
de compromisso<br />
entre os produtores<br />
de calçado, onde está<br />
Portugal,<br />
e os importadores,<br />
onde estão os países<br />
nórdicos.<br />
as importações de calçado da<br />
China e do Vietname chegam à<br />
Europacomumpreço<br />
artificialmente baixo. Ou seja, há<br />
aqui uma distorção da<br />
concorrência. Mas esta medida é<br />
sobretudo o reconhecimento da<br />
sã concorrência e do comércio<br />
justo. Porém, consideramos que<br />
15 meses é um período<br />
insuficiente, e nem se percebe<br />
porque em situações semelhantes<br />
sempre foram adoptados os cinco<br />
anos máximos permitidos por lei.<br />
Porque considera que<br />
No fundo, os empresários<br />
viram satisfeitas as suas reivindicações<br />
com a comissão a reconhecer<br />
por um lado a prática<br />
de dumping e, por outro, que<br />
essa prática implica prejuízo<br />
para os produtores europeus.<br />
Alfredo Jorge, director executivo<br />
da Associação de Calçado é<br />
peremptório sobre esta matéria:<br />
“Estas medidas que tudo<br />
indica entram em vigor a 2 de<br />
Janeiro de 2010 vão vigorar até<br />
Março ou Abril de 2011, o que<br />
quer dizer que em Dezembro<br />
do próximo ano andaremos<br />
mais uma vez a ouvir as partes<br />
interessadas no sentido de voltar<br />
a argumentar junto da Comissão<br />
Europeia”.<br />
E o director executivo da<br />
Apiccaps acrescenta: “Penso<br />
que não se foi mais além porque<br />
é digamos que um compromisso<br />
entre os produtores de calçado<br />
[Portugal, Espanha, Itália,<br />
França] e os importadores<br />
[os países nórdicos]”.<br />
Resposta chinesa<br />
Da parte do governo chinês a<br />
resposta não se fez esperar. Segundo<br />
a imprensa daquele país,<br />
quer os grupos comerciais,<br />
quer o governo chinês estão insatisfeitos<br />
com a proposta da<br />
Comissão Europeia em prolongar<br />
o prazo das medidas antidumpingsobreossapatosde<br />
courodaChinaedoVietname<br />
por mais 15 meses. Um representante<br />
do governo chinês<br />
chega mesmo a adiantar que se<br />
for aprovada esta medida prejudica<br />
os interesses mútuos da<br />
ChinaedaUE.■<br />
15 meses é um prazo<br />
insuficiente?<br />
Considero que 15 meses é<br />
insuficiente na medida em que<br />
não acredito que findo esse<br />
período a China e o Vietname<br />
reveja a sua posição face aos<br />
preços. Repare que os preços<br />
na Europa não aumentaram o<br />
que aconteceu foi que as<br />
margens dos produtores foram<br />
diminuindo pelo que o preço<br />
não se reflectiu no consumidor<br />
final.<br />
Quanto às categorias<br />
abrangidas pensa que estas<br />
CALENDÁRIO<br />
17 de Dezembro<br />
Depois da proposta da Comissão<br />
Europeia, será a vez do comité<br />
dos representantes permanentes<br />
debater o prolongamento das<br />
medidas anti-dumping para a<br />
China e Vietname.<br />
22 de Dezembro<br />
O Conselho Europeu reúne para<br />
deliberar definitivamente, e tudo<br />
leva a crer que aprove, a<br />
recomendação da Comissão<br />
Europeia.<br />
2 de Janeiro<br />
Caso não surjam nas duas datas<br />
anteriores nenhuns entraves, é<br />
esta a altura da publicação da<br />
decisão final dos estados<br />
membros.<br />
deveriam ser alargadas?<br />
Para Portugal as categorias<br />
abrangidas são suficientes, uma<br />
vez que representam entre 65%<br />
a 80% do calçado português.<br />
Numa primeira fase não se<br />
tinha incluído o calçado de<br />
criança, mas numa fase<br />
posterior optou-se por<br />
introduzir também esse<br />
segmento e incluiu-se também<br />
o território de Macau, pois<br />
verificava-se que havia um<br />
grande fluxo oriundo da China e<br />
do Vietname que passava via<br />
Macau. ■<br />
O calçado que chega à Europa<br />
vindo da China e do Vietnam é<br />
vendido ao preço abaixo do custo.<br />
As medidas anti-dumping tentam<br />
esbater estas diferenças.
Jason Lee/Reuters<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 13<br />
Calçado português<br />
custa o dobro<br />
do asiático<br />
O sector do calçado respira<br />
de alívio com as medidas antidumping.<br />
Elisabete Felismino<br />
elisabete.felismino@economico.pt<br />
A Comissão Europeia, depois de<br />
ter comprovado que as empresas<br />
vietnamitas e chinesas exportavam<br />
para a Europa a preços mais<br />
baixos do que o preço de custo,<br />
decidiu impor taxas de 10% e<br />
16,5% respectivamente sobre os<br />
produtos provenientes dessas<br />
países. Esta medida de protecção<br />
foi adoptada em 2006 e agora, três<br />
anos depois, a Comissão Europeia<br />
reconhece de novo as práticas de<br />
dumping por estes dois países.<br />
A situação é tanto mais preocupante<br />
na medida em que as importações<br />
chinesas aumentaram<br />
99,86% em quantidade para os<br />
1.763 milhões de pares de sapatos,<br />
e 96,47% em valor para os 5.789<br />
milhões de euros. Já no que toca<br />
ao Vietname, as exportações daquele<br />
país cresceram 74% para os<br />
2,054 milhões de pares e <strong>56</strong>%<br />
para os 8 mil milhões de euros. No<br />
calçado de couro, o aumento foi<br />
ainda mais significativo, tendo a<br />
China exportado 1.759 milhões de<br />
euros correspondentes 182 milhões<br />
de pares. Já o Vietname exportou<br />
288 milhões de pares no<br />
valor de 2.836 milhões de euros.<br />
O Vietname colocava na Europa<br />
calçado a um preço médio de<br />
9,85 euros, enquanto que o produto<br />
oriundo da China era colocado<br />
no mercado a um preço médio<br />
de 9,63 euros. A situação é<br />
tanto mais preocupante na medida<br />
em que o calçado português é<br />
colocado no mercado a um preço<br />
médio de 19,99 euros, ou seja,<br />
mais do dobro do que o oriundo<br />
dos mercados asiáticos. Em causa<br />
está pois um sector que tem 1.381<br />
empresasedáempregoapertode<br />
36 mil pessoas, sendo ainda responsável<br />
por 1,3 mil milhões de<br />
euros nas exportações.<br />
O sector do calçado tem estado<br />
debaixo dos holofotes, com<br />
a situação periclitante de duas<br />
importantes empresas do sector,<br />
como são a Investvar e a<br />
Rhode. As duas empresas que já<br />
foram consideradas as maiores<br />
do sector estão a braços com<br />
uma importante crise, estando<br />
mesmo a um passo de poderem<br />
fechar portas e deixar no desemprego<br />
mais de 1.600 trabalhadores.<br />
■<br />
Os sapatos que<br />
chegam da China<br />
e do Vietname pagam<br />
taxas por praticarem<br />
preços abaixo<br />
do custo.<br />
EXPORTAÇÕES<br />
1,3 mil milhões<br />
O sector do calçado é responsável<br />
por 1,3 mil milhões de euros,<br />
correspondentes a 64,7 milhões<br />
de sapatos.<br />
Nº EMPRESAS<br />
1.381<br />
O sector tinha 1.448 empresa em<br />
2006. Em 2008, o número de<br />
empresas decresceu para 1381.<br />
EMPREGO<br />
35.767<br />
Osectorteveoseuaugeem<br />
número de empregados em 2004<br />
quando atingiu os 40.255. Quatro<br />
anos depois registava menos<br />
4.488 empregos.<br />
PRODUÇÃO<br />
1,4 mil milhões<br />
A indústria produz 67,689<br />
milhões de pares de sapatos,<br />
responsáveis por um valor de 1,4<br />
milhões de euros.
14 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
ECONOMIA<br />
CRONOLOGIA DA CIMEIRA<br />
Dia 7<br />
Arranca a Conferência do Clima em Copenhaga<br />
(COP15) onde líderes de 191 países<br />
se vão reunir ao largo de duas semanas<br />
para assumir compromissos futuros até<br />
2020 e 2050, que impeçam a temperatura<br />
global de superar dois graus.<br />
Crise económica atenua custos<br />
na resposta ao aquecimento global<br />
Luís Rego, em Bruxelas<br />
luis.rego@economico.pt<br />
A crise financeira<br />
acabou por ter<br />
um efeito positivo<br />
na diminuição<br />
doscustosassociados<br />
ao cumprimento<br />
das promessas<br />
de redução de emissões de<br />
CO2 que os líderes mundiais vão<br />
colocar na mesa de negociações<br />
entre7e19deDezembro,na<br />
Conferência do Clima em Copenhaga,<br />
Dinamarca. Segundo cálculos<br />
feitos pela Agência de Avaliação<br />
Ambiental (AAA) holandesa,<br />
elevar o grau de ambição<br />
nas metas de combate ao aquecimento<br />
global ficará 70% menos<br />
caro agora do que desde o início<br />
da crise, embora a Comissão Europeia<br />
fale de melhorias “pouco<br />
significativas”.<br />
“O total de redução de custos<br />
associados a elevar as propostas<br />
para os níveis mais ambiciosos<br />
[como passar de 20% para 30%<br />
● Objectivos de redução<br />
de emissões para os países<br />
industrializados até 2020<br />
e 2050;<br />
● Acções concretas dos países<br />
emergentes para rever o perfil de<br />
crescimento das suas emissões;<br />
● Quadro de financiamento<br />
aospaísesemviasde<br />
desenvolvimento para adaptar<br />
a sua produção à luta climática;<br />
● Definir forma jurídica do<br />
acordo: uma revisão do Protocolo<br />
de Quioto, como quer a China,<br />
ou um novo protocolo, como<br />
quer a UE.<br />
até2020nocasodaUE]nospaíses<br />
desenvolvidos é de 70% em<br />
consequência da crise financeira”,<br />
nota a AAA.<br />
No inicio da crise, muitos foram<br />
os líderes que moderaram a<br />
sua ambição nas metas de mitigação,<br />
dando prioridade ao combate<br />
à recessão. Agora, tendo em<br />
conta que essa crise, entre 2007 e<br />
2009, fez recuar a produção, arrastando<br />
os níveis de poluição e<br />
reduzindo a base para os anos seguintes,<br />
a tarefa ficou mais fácil.<br />
Ou menos difícil, nota o FMI num<br />
relatório divulgado ontem.<br />
“A crise económica não altera<br />
o desafio climático ou a resposta<br />
adequada. Mesmo uma recessão<br />
séria, com efeitos de recuo prolongados<br />
na produção, tem implicações<br />
limitadas para os objectivos<br />
apropriados de mitigação”,<br />
notam Benjamin Jones e<br />
Michael Keen do FMI, ponderando<br />
os efeitos orçamentais directos<br />
com as eventuais receitas futuras<br />
com a reanimação do mercado<br />
de carbono.<br />
Neste momento, na véspera<br />
das negociações de Copenhaga,<br />
os blocos mais ambiciosos em<br />
termos de mitigação são, além da<br />
UE, o Japão (-25%), a Noruega (-<br />
40%),aRússia(-25%)eaUcrânia<br />
(20%). Os mais renitentes são<br />
a China, que fala apenas em redução<br />
de 45% na intensidade de<br />
CO2 por unidade de PIB pc, o que<br />
pode não implicar uma quebra<br />
efectiva de emissões, e os EUA<br />
que não vão além de uma redução<br />
de 3% de emissões face a 1990.<br />
Se à crise somarmos os efeitos<br />
dos níveis de preços muitos elevados<br />
do petróleo no Verão de 2008,<br />
oaumentoanualdeemissõesglobais<br />
de CO2 oriundos da produção<br />
de petróleo, carvão, gás e cimento<br />
caiu para metade. As emissões<br />
destes sectores mais poluentes<br />
aumentaram em 1,7% em 2008,<br />
contra 3,3% em 2007. Além disso,<br />
o uso crescente de renováveis,<br />
como bio-combustíveis para<br />
transporte rodoviário, energia<br />
eólica teve um impacto na mitigação<br />
das emissões, nota a AAA. ■<br />
Francois Lenoir/Reuters<br />
Nos pólos do planeta são<br />
bem visíveis os efeitos<br />
do aquecimento global.<br />
Tarefa dos países tornou-se menos exigente com a quebra da produção e níveis da poluição associada.<br />
PONTOS FORTES<br />
Dia 9<br />
Barack Obama, o presidente do país rico<br />
mais poluente do mundo, chega à cimeira<br />
para dar o seu aval político à luta contra o<br />
aquecimento global, depois dos EUA nunca<br />
terem ratificado Quioto. Mas não está<br />
disposto a oferecer esforços imediatos.<br />
Dia 12<br />
Grande manifestação organizada por<br />
grupos violentos nas ruas de Copenhaga<br />
que promete fazer estragos e lançar a<br />
cidade no caos. As ONG terão os seus<br />
eventos pacíficos nos arredores do Bella<br />
center onde se realiza a COP15.<br />
Dia 18<br />
Está previsto ser o último dia da COP15,<br />
onde se anunciaria que o planeta está<br />
salvo. Mas não há diplomata que<br />
acredite nisso: as negociações devem<br />
arrastar-se para sábado e os detalhes do<br />
acordo ficam adiados 6 a 12 meses.<br />
Portugal pode ter<br />
de reduzir emissões<br />
Elevar o grau de ambição no corte de<br />
emissões de CO2 entre 1990 e 2020<br />
dos actuais 20% para 30% deve implicar<br />
que Portugal corte em termos<br />
absolutos a sua fatia de poluição emitida<br />
há duas décadas atrás. Neste<br />
momento, a redução de 20% a nível<br />
europeu ainda permite a Portugal subir<br />
o nível de emissões em 1% até<br />
2020 face ao registado em 1990. Porém,<br />
com maior ambição, a actual<br />
grelha de repartição terá de ser negociada<br />
entre os 27. Isso pode ser discutido<br />
na cimeira de líderes que decorre<br />
em Bruxelas no final da próxima<br />
semana mas ninguém espera um<br />
acordo. Em Copenhaga, Portugal tem<br />
objectivos mas não vai lá negociar directamente<br />
a sua posição nacional<br />
na mesa de trabalhos. A sua posição<br />
está definida e fechada no acordo obtido<br />
ao nível dos 27 e a negociação<br />
fica a cargo da presidência sueca e<br />
da Comissão Europeia.
16 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
ECONOMIA A SEMANA<br />
Agenda 05.12 > 11.12<br />
> 07.12<br />
Audição de Jean-Claude Trichet<br />
no Parlamento Europeu<br />
Realiza-se segunda-feira, em Bruxelas, a quarta<br />
audição de 2009 do presidente do Banco Central<br />
Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, na Comissão<br />
de Assuntos <strong>Económico</strong>s e Financeiros<br />
do Parlamento Europeu.<br />
> 09.12<br />
INE divulga contas nacionais<br />
do terceiro trimestre<br />
Está prevista para quarta-feira a divulgação, pelo<br />
Instituto Nacional de Estatística (INE) das contas<br />
nacionais trimestrais (dados do terceiro trimestre<br />
de 2009). O INE tem ainda prevista a divulgação<br />
das estatísticas do comércio internacional e índice<br />
de novas encomendas na indústria.<br />
COTEC organiza encontro<br />
PME Inovação no Estoril<br />
A COTEC organiza o terceiro Encontro PME Inovação<br />
no Centro de Congressos do Estoril, desta vez<br />
subordinado ao tema “Gestão Colaborativa<br />
da Inovação”. Entre os presentes estarão Alexandre<br />
Soares dos Santos (Jerónimo Martins), António<br />
Mexia (EDP), Carlos Melo Ribeiro (COTEC) e Rogério<br />
Carapuça (Novabase). O presidente da República,<br />
Cavaco Silva, encerra o encontro.<br />
> 10.12<br />
Conhecido boletim mensal<br />
do BCE de Novembro<br />
Para quinta-feira está agendada a divulgação,<br />
em Frankfurt, Alemanha, do Boletim Mensal<br />
de Novembro do Banco Central Europeu (BCE).<br />
INE divulga custos de<br />
construção de habitação nova<br />
Osíndicesdecustosdeconstruçãodehabitação<br />
nova e de preços de manutenção e reparação regular<br />
da habitação referentes a Outubro são dados<br />
a conhecer pelo Instituto Nacional de Estatística<br />
(INE).<br />
> 11.12<br />
OCDE dá a conhecer<br />
indicador compósito avançado<br />
Na sexta-feira, a OCDE divulga, em Paris, o indicador<br />
compósito avançado. A organização anuncia<br />
a avaliação da situação económica eaantecipação<br />
da evolução, nos diferentes países membros.<br />
Serão divulgados os pontos de viragem,<br />
nas principais economias mundiais.<br />
Eurostat publica balança de<br />
pagamentos da União Europeia<br />
O gabinete de estatísticas da União Europeia<br />
(Eurostat) tem prevista a divulgação para sexta-feira<br />
da balança de pagamentos, referente ao terceiro<br />
trimestre de 2009.<br />
RECORDE NO DESEMPREGO LEVA OPOSIÇÃO A EXIGIR MAIS APOIOS<br />
O desemprego em Portugal voltou a atingir novo recorde, fixando-se nos 10,2%.<br />
Os dados, que são mais uma dor de cabeça para o ministro da Economia, Vieira<br />
da Silva, provocaram críticas da oposição, que exige o aumento dos apoios sociais.<br />
OFACTO<br />
PREVISÕES DO BCE<br />
Esta semana, Jean-Claude Trichet deu o pontapé<br />
de saída para a retirada dos apoios à liquidez<br />
do sistema bancário. O presidente do Banco Central<br />
Europeu (BCE) já não coloca agora a hipótese<br />
de uma contracção da economia no próximo ano,<br />
mas sublinha que a recuperação será “irregular”<br />
em 2010. A fragilidade do crescimento económico<br />
recomenda cautela: as medidas serão retiradas<br />
“gradualmente” e os juros mantiveram-se, para já,<br />
inalterados em 1%.<br />
Paulo Alexandre Coelho<br />
AFIGURA<br />
STRAUSS-KAHN<br />
Presidente do FMI<br />
O Governo vai ter de actuar rapidamente para fazer<br />
o défice – que, este ano, situar-se-á acima dos 8% –<br />
descer abaixo dos 3% em 2013. Esta semana,<br />
o relatório do FMI não trouxe boas notícias para<br />
Portugal, prevendo um crescimento menor do que a<br />
média europeia e sugerindo uma subida de impostos<br />
e contenção salarial no Estado. O agravamento do<br />
défice é justificado pelo orçamento rectificativo, que<br />
o ministro apresentou esta semana no Parlamento,<br />
sem acrescentar informação adicional.
18 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
DESTAQUE PROJECTO ‘COOL CITY HUNT’<br />
Enganar<br />
a solidão<br />
de forma fixe<br />
Pode-se estar sozinho no meio<br />
de uma multidão.<br />
Carlos Caldeira<br />
carlos.caldeira@economico.pt<br />
Não há felicidade solitária, mas para quem está sozinho,<br />
sem que seja essa a sua vontade, em casa,<br />
uma boa solução pode ser a moderna almofada que<br />
simula um abraço de alguém que está a dormir<br />
connosco. E mesmo para quem está naqueles dias<br />
em que não quer ver ou ouvir ninguém, talvez seja<br />
esta almofada a melhor companhia.<br />
No entanto, há que não esquecer que a referida<br />
almofada tem um preço. É caso para dizer: Tudo se<br />
paga. Conta só contigo.<br />
Mas, de se trata esta almofada ‘cool’? É apontada<br />
como uma forma inovadora de fazer companhia<br />
àqueles que estão mais sozinhos e que no sofá ou na<br />
cama se querem sentir aconchegados. Enfim, uma<br />
ilusão aconchegante.<br />
No ‘ranking’ das ideias mais ‘cool’ de hoje temos<br />
também o portal www.netgranny.ch, onde se pode<br />
“escolher” uma avó para adoptar, que nos permite<br />
falar com ela e pedir-lhe para nos fazer meias, luvas<br />
ou cachecóis de ‘tricot’. Esta é uma afirmação<br />
de um segmento aparentemente afastado das novas<br />
tecnologias de forma inovadora e emocionalmente<br />
envolvente. Apesar de o adoptante receber vários<br />
bens da avó escolhida, é uma forma de interagir<br />
com quem se sente verdadeiramente sozinho – pois<br />
as avós que se dispõem a aparecer neste portal fazem-no<br />
por vontade própria. Uma forma moderna<br />
e interessante de ultrapassar muitos dos problemas<br />
afectivos por que passam as pessoas ao atingirem a<br />
terceira idade.<br />
Sejamos solidários, de forma ‘cool’,<br />
e ajudemos a acabar com a solidão<br />
daqueles que não a querem.<br />
Realce-se, ainda mais na época Natalícia que estamos<br />
a viver, que a solidão é aquele sentimento de<br />
vazio e de isolamento, de falta de companhia. Mas,<br />
passar por uma fase de solidão não implica estar-se<br />
sozinho. Podemos sentirmo-nos solitários no meio<br />
de multidões.<br />
Nesta época de natal, sejamos verdadeiramente<br />
solidários, de forma ‘cool’, e ajudemos a acabar<br />
com a solidão daqueles que não a querem. ■<br />
Lisboa no roteiro ‘cool’<br />
Lisboa continua a ser uma cidade de braços abertos ao<br />
Tejo, cidade de muitas caras, de muitos povos, de muitas<br />
heranças, de muitas vidas. Lisboa é indivisível, una<br />
na multiplicidade, onde se encontram emigrantes,<br />
imigrantes e, com sorte, alguns “alfacinhas de gema”.<br />
Lisboa é ecléctica por herança e sedutora por vocação.<br />
Lisboa é de luz e sombra. Lisboa é uma janela aberta<br />
para o futuro a dar para um pátio onde ecoam os passos<br />
de séculos de história. Daí que o <strong>Económico</strong> <strong>Weekend</strong><br />
e a Ayr tenham lançado o Lisbon ‘Cool City Hunt’.<br />
Porque Lisboa é considerada uma cidade emergente<br />
no seio do ‘Cool Hunting’ mundial.<br />
Conheça o projecto “Cool City Hunters”<br />
em www.ayr-consulting.com<br />
e scienceofthetime.com<br />
??? 5º<br />
Simon Dawson/Bloomberg<br />
1º<br />
3º<br />
2º
PONTOS-CHAVE<br />
A almofada ‘cool’?<br />
é apontada como uma<br />
forma inovadora de fazer<br />
companhia àqueles que estão<br />
mais sozinhos e que se querem<br />
sentir aconchegados.<br />
DR<br />
DR<br />
4º<br />
No Mhghghk ‘ranking’ df das df gdjkfhg ideias<br />
mais sdfhglkhsdlfjgh ‘cool’ de hoje sdjfgh temos<br />
também sjdfh g hsdfkjgh um portal onde se<br />
pode ksdfjgsjdfhkgjh “escolher” sdfjkgh uma avóksjdfh para<br />
adoptar, gkj shdfkjgh que nos sdjkfhgk permite jsdhfkgjh falar<br />
com skdfjg elasdfg. e pedir-lhe ajuda.<br />
Realce-se, Mhghghk df ainda df gdjkfhg mais<br />
sdfhglkhsdlfjgh na época Natalícia sdjfgh<br />
sjdfh que estamos g hsdfkjgh a viver, que<br />
ksdfjgsjdfhkgjh a solidão é aquele sdfjkgh sentimento ksjdfh<br />
gkj de vazio shdfkjgh e desdjkfhgk isolamento,<br />
jsdhfkgjh de falta deskdfjg companhia. sdfg.<br />
DR<br />
DR<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 19<br />
CINCO IDEIAS ‘COOL’ PELO MUNDO<br />
1º<br />
Aluvadospais<br />
OQUEÉ: Uma luva dupla que permite ao mesmo tempo<br />
a colocação de duas mãos – a do pai ou mãe e do filho<br />
ou filha.<br />
INTERPRETAÇÃO: Uma forma diferente de nos dias de frio<br />
conseguir levar pela mão uma criança sem a perder ou<br />
largar uma vez que a luva é una e junta as duas mãos.<br />
‘COOL’ HUNTERS: Science of the Time<br />
2º<br />
A almofada da solidão<br />
OQUEÉ: Uma almofada que simula um abraço<br />
de alguém que está a dormir connosco.<br />
INTERPRETAÇÃO: Uma forma inovadora de fazer<br />
companhia àqueles que estão mais sozinhos e que<br />
no sofá ou na cama se querem sentir aconchegados.<br />
3º<br />
Adoptar uma avó<br />
OQUEÉ: •Um portal onde (netgranny.ch) se pode “escolher”<br />
uma avó para adoptar que nos permite falar com<br />
ela e pedir-lhe para nos fazer meias, luvas ou cachecóis<br />
de tricot.<br />
INTERPRETAÇÃO: É uma afirmação de um segmento aparentemente<br />
afastado das novas tecnologias de forma<br />
inovadora e emocionalmente envolvente. É a possibilidade<br />
de gerar interacção para além do óbvio e do normal. É<br />
a prova de que o mundo virtual também tem espaço para<br />
algo que era apenas do mundo real e local.<br />
4º<br />
Alimentos reciclados para pássaros<br />
OQUEÉ: Um aplicador que permite aproveitar as migalhas<br />
resultantes do cortar o pão e que permite através<br />
de um tubo fazer chegar essas migalhas a um reservatório<br />
igual aos que existem nas gaiolas dos periquitos.<br />
INTERPRETAÇÃO: É uma forma divertida e inovadora de<br />
aproveitamento e reciclagem de sobras de pão sendo<br />
ainda um factor de interesse e diversão ao utilizar.<br />
5º<br />
Nokia Flagship Stores<br />
OQUEÉ: A Nokia abriu 25 lojas para explicar aos seus<br />
clientes como tirar mais partidos dos telemóveis que<br />
têm, sem terem de comprar outro. Sabendo que<br />
as pessoas só utilizam em média 35% da capacidade to<br />
telemóvel a Nokia abriu lojas que não vendem<br />
telemóveis. Apenas ajudam os clientes a explorarem<br />
melhor os telemóveis que já têm.<br />
INTERPRETAÇÃO: Numa altura de crise onde as compras<br />
são mais pensadas e reflectidas a Nokia encontrou uma<br />
forma de manter uma relação de proximidade com os<br />
seus clientes através da prestação de um serviço pedagógico<br />
na optimização da utilização das capacidades do<br />
telemóvel. Indirectamente a Nokia está a preparar o terreno<br />
para que cada cliente ao se sentir mais confortável<br />
com as potencialidades do seu actual telemóvel queira<br />
fazer o upgrade para o telemóvel seguinte mais<br />
avançado. É uma forma de venda indirecta sem adoptar<br />
a tradicional abordagem da persuasão.
20 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
DESTAQUE1 DESTAQUE PROJECTO ‘COOL CITY HUNT’<br />
LISBOA ‘COOL’ NA CRISE<br />
13º<br />
Museu para a Vida<br />
no Rio de janeiro<br />
O novo Museu da Imagem e do Som<br />
no Rio de Janeiro será inaugurado<br />
em 2012, bem na Praia de Copacabana.<br />
Mas não é a localização privilegiada<br />
ou a beleza das suas linhas que<br />
vão fazê-lo mais um marco da cidade,<br />
mas sim a ideia brilhantemente simples<br />
que norteou o trabalho dos arquitectos<br />
Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio.<br />
Os cariocas adoram os seus passeios<br />
à beira da praia, e transformaram<br />
isso numa verdadeira arte. E que<br />
melhor maneira, então de não somente<br />
prestar tributo a esta “arte” e,<br />
ao mesmo tempo, atrair visitantes do<br />
que fazer com que o “calçadão” da<br />
praiadeCopacabanafosseaprincipal<br />
via de acesso ao Museu? Mais ainda, o<br />
projecto permite a quem está no interior<br />
ter uma visão total da praia e<br />
vice-versa, o que faz com que a experiência<br />
seja sempre agradável, perfeitamente<br />
inserida no quotidiano carioca<br />
e convide a muitas mais visitas. É<br />
‘cool’ porque é forma e função a trabalharem<br />
em perfeita harmonia, além<br />
de ser um tributo a um dos hábitos<br />
mais arreigados, relaxantes e saudáveis<br />
da vida carioca e que lhe dá uma<br />
dimensão e relevância únicas.<br />
14º<br />
Vasos de flores<br />
em cortiça<br />
O ‘Home Project’ é um estúdio de<br />
‘design’ germano-português que<br />
acaba de lançar um conjunto de<br />
vasos de flores feitos de cortiça.<br />
Produzidos em Portugal a partir de<br />
cortiça reciclada e 100% natural,<br />
pesam uma fracção dos vasos<br />
tradicionais de cerâmica, são antisépticos<br />
e, já que não riscam as<br />
superfícies sobre as quais são<br />
colocados, protegem também o<br />
ambiente caseiro. E são decorativos<br />
na sua simplicidade. São ‘cool’<br />
porque são muito bonitos, claro.<br />
Mas são, principalmente, mais uma<br />
das milhares de formas de utilizar a<br />
cortiça – de extrema importância<br />
económica e ecológica para<br />
Portugal e o mundo – de maneira<br />
criativa, agradável e que ajuda<br />
ainda mais aproteger o ambiente.<br />
Dentroeforadecasa.<br />
15º<br />
Bolos de anos com<br />
marcas do coração<br />
Bolos de aniversário que são<br />
decorados com os logos das marcas<br />
preferidas do aniversariante e que<br />
permitem aumentar a visibilidade<br />
emocional destas. Qualquer uma<br />
das marcas são marcas que, de<br />
uma forma inteligente, trabalham o<br />
lado emocional dos consumidores,<br />
abrindo uma janela na sua mente<br />
num momento importante como o<br />
aniversário.É uma forma inovadora<br />
de envolvimento e que sai fora do<br />
padrão normal de comunicação das<br />
marcas. É divertido e perfeitamente<br />
adaptável a qualquer idade dando<br />
de novo força ao bolo de anos que<br />
deixa de ser algo apenas<br />
direccionado para os mais jovens.<br />
13º<br />
15º<br />
14º<br />
DR DR<br />
DR<br />
DR
22 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
POLÍTICA<br />
Há 37 dias que a justiça<br />
é a principal arma<br />
de arremesso político<br />
O PSD continua a exigir que Sócrates fale sobre a suspeita de “espionagem política”<br />
na Face Oculta. O primeiro-ministro acusa Ferreira Leite de “coscuvilhice” política.<br />
Catarina Madeira<br />
eSusanaRepresas<br />
catarina.madeira@economico.pt<br />
Há muito que a justiça entrou no<br />
debate político, mas nas últimas<br />
três semanas passou a ser o tema<br />
central da troca de acusações entre<br />
os partidos. Manuela Ferreira<br />
Leite, foi a primeira a levar estas<br />
questões para a Assembleia da<br />
República. Em causa estava o caso<br />
Face Oculta e as escutas telefónicas<br />
entre Armando Vara (arguido)<br />
e José Sócrates. A líder do PSD pediu<br />
justificações ao primeiro-ministro<br />
em pleno plenário e, desde<br />
aí, a justiça parece ter entrado<br />
para ficar no debate político, com<br />
a discussão a subir de tom.<br />
Ontem, no primeiro debate<br />
quinzenal da legislatura, assistiuse<br />
a um dos momentos mais tensos<br />
desta cronologia (ver infografia).<br />
Ferreira Leite acusou o ministro<br />
da Economiaeovice-presidente<br />
da bancada socialista de<br />
fazerem um ataque “indigno” à<br />
justiça, quando falaram de “espionagem<br />
política”, e um “ataque<br />
baixo” quando insinuaram que a<br />
líder do PSD teria tido acesso às<br />
escutas antes das eleições legislativas.<br />
“Ou o senhor hoje diz se<br />
subscreve ou não [as declarações<br />
de Vieira da Silva e de Ricardo Rodrigues],<br />
ou dir-lhe-ei que nem<br />
sequer tem consciência da importância<br />
do lugar que desempenha<br />
neste país”.<br />
O líder do Bloco de Esquerda<br />
também quis pressionar uma posição<br />
de Sócrates: “Houve uma<br />
acusação feita por dois ministros,<br />
um está sentado ao seu lado. Uma<br />
acusação política a um juiz de<br />
Aveiro e a magistrados do Ministério<br />
Público que terão conduzido<br />
espionagem política contra si.<br />
Quero saber se se mexe um milímetroousómandaatoardas”,atirou<br />
Francisco Louçã. Em resposta,<br />
o primeiro-ministro recusou usar<br />
a mesma expressão, optando por<br />
afirmar que “o que houve foi violação<br />
do segredo de Justiça”.<br />
Opontoaquechegouesta<br />
crispação levou a que os actores<br />
do sistema judicial sentissem necessidade<br />
de intervir, numa con-<br />
Vera Jardim<br />
Deputado do PS<br />
Vera Jardim considera que a<br />
situação da justiça “só se<br />
agrava” ao “misturar política<br />
com justiça”. Algo que,<br />
segundo o deputado socialista,<br />
“deve ser evitado a todo o<br />
custo”. Mas, perante as<br />
acusações da oposição, o PS<br />
faz ”bem em responder”.<br />
José Miguel<br />
Júdice<br />
Ex-bastonário dos<br />
advogados<br />
José Miguel Júdice, aponta<br />
o dedo aos políticos, jornalistas<br />
e operadores da justiça, que<br />
considera responsáveis por<br />
este cenário. “Toda a gente<br />
está a abusar da justiça. Isto<br />
é de uma gravidade extrema,<br />
é devastador para um país<br />
com sentido de Estado”.<br />
Medina Carreira<br />
Ex-ministro das<br />
Finanças<br />
“É tudo uma vergonha.<br />
Enquanto se perde tempo com<br />
isso, não se trata do que é<br />
essencial”, defende o exministro<br />
das Finanças de<br />
Cavaco Silva, Medina Carreira,<br />
para quem “os políticos estão a<br />
alijar as responsabilidades que<br />
têm no estado da justiça”.<br />
ferência de imprensa do Conselho<br />
Superior da Magistratura que, porém,<br />
se revelou pouco esclarecedora.<br />
Entre os altos cargos da justiça<br />
tem havido um pingue-ponguedeargumentossobreoparadeiroeodestinodasescutas.No<br />
Parlamento, as opiniões também<br />
se dividem sobre esta questão.<br />
Ainda ontem, José Pedro Aguiar<br />
Branco insistiu, em entrevista ao<br />
Diário <strong>Económico</strong>, que Sócrates<br />
deve divulgar o conteúdo das escutas,<br />
justificando que, ao não o<br />
fazer, o primeiro-ministro “corre<br />
o risco de colocar sob suspeita o<br />
desempenho do cargo”. Perante<br />
essa sugestão, repetida por Ferreira<br />
Leite no Parlamento, Sócrates<br />
insurgiu-se: “Um democrata<br />
nunca exige que uma conversa<br />
privada seja publicada”.<br />
Do lado da bancada socialista,<br />
Vera Jardim critica que se levem<br />
casos de justiça para a casa da democracia,<br />
mas – perante o facto<br />
consumado – considera a defesa<br />
dos socialistas mais do que justificada:<br />
“O PS faz bem em responder,<br />
porque este tipo de actuação<br />
só afecta ainda mais as instituições<br />
e o Estado de Direito”.<br />
Para quem está do lado de fora<br />
do debate político, a utilização da<br />
justiça como arma de arremesso<br />
pelos partidos é, em todos os aspectos,<br />
condenável. “É tudo uma<br />
vergonha. Enquanto se perde tempo<br />
com isso, não se trata do que é<br />
essencial”, defende o ex-ministro<br />
das Finanças de Cavaco Silva,<br />
Henrique Medina Carreira, para<br />
quem “os políticos estão a alijar as<br />
responsabilidades que têm, no estado<br />
da justiça”. José Manuel Galvão<br />
Teles, advogado e ex-conselheiro<br />
de Estado, também vê com<br />
apreensão a forma como a política<br />
tem usado a política, uma situação<br />
que a manter-se “será o fim” (ver<br />
entrevista no Outlook). Já o exbastonário<br />
dos Advogados, José<br />
Miguel Júdice, aponta o dedo aos<br />
políticos, jornalistas e operadores<br />
da justiça, que considera responsáveis<br />
por este cenário. “Toda a<br />
gente está a abusar da justiça. Isto<br />
é de uma gravidade extrema, é<br />
devastador para um país com<br />
sentido de Estado”. ■Com M.G.<br />
O INCIDENTE<br />
A indignação de Paulo<br />
Portas e o “juizinho”<br />
de José Sócrates<br />
O debate quinzenal não aqueceu<br />
apenas quando se falou de<br />
justiça. Entre Sócrates e Paulo<br />
Portas a discussão também foi<br />
acesa. O primeiro-ministro<br />
censurou o que considerou ser<br />
um comportamento impróprio”<br />
do líder do CDS-PP, pedindo<br />
“juizinho” a Paulo Portas, o que<br />
motivou a indignação da bancada<br />
dos populares. A partir daí, a<br />
troca de palavras não baixou de<br />
tom. O primeiro-ministro já tinha<br />
manifestado irritação com os<br />
apartes do líder do CDS-PP<br />
durante a sua intervenção em<br />
resposta à bancada do PS,<br />
criticando o “histerismo” da<br />
bancada do CDS. Na sua bancada,<br />
Portas insistia para que José<br />
Sócrates respondesse a<br />
quanto custou a nacionalização<br />
do BPN, uma pergunta sua que<br />
tinha ficado sem resposta.
Militares atropelados estão fora de perigo<br />
A maioria dos 16 militares atropelados ontem de manhã na zona de<br />
Tancos, distrito de Santarém, já teve alta médica. Contudo, alguns dos<br />
feridos que tiveram de ser transportados de helicóptero para Lisboa,<br />
continuam com prognóstico reservado, disse ontem o tenente-coronel<br />
Hélder Perdigão, relações públicas do Exército, citado pelo Público. O<br />
acidente ocorreu durante um exercício de marcha e corrida, quando um<br />
carro abalroou os militares, causando ferimentos em 16 deles.<br />
João Paulo Dias<br />
Infografia: Márta Carvalho | marta.carvalho@economico.pt<br />
ANÁLISE O ESTADO DA JUSTIÇA<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 23<br />
Não se destrua a<br />
presunção de<br />
inocência da justiça<br />
ROGÉRIO ALVES<br />
Ex-bastonário dos Advogados<br />
Só há uma realidade, mas há várias<br />
forma de abordar, de tratar<br />
e de julgar essa mesma realidade.<br />
Desta verdade comezinha<br />
resulta um conflito aberto entre<br />
tempos e modos: o político, o<br />
mediáticoeojudicial. Vivemos<br />
num mundo globalizado e acelerado.<br />
Um rumor, por mais<br />
tosco que seja, ganha parangonas,<br />
ainda que efémeras, espalhando-se<br />
como verdade imaculada.<br />
O dislate torna-se notícia<br />
e pasto de comentários e especulações.<br />
As pessoas querem<br />
saber a verdade e querem-no<br />
depressa, logo, já. Os comentadores<br />
são rápidos, os políticos<br />
tendem a sê-lo também, mas a<br />
justiça, essa, tem de se manter<br />
fiel ao rigor, ao apuramento<br />
exaustivo da verdade, ao sagrado<br />
contraditório, à busca da<br />
certeza em prejuízo do espectáculo.<br />
Por ter a sua velocidade<br />
própriaeasuaexigênciaespecífica,<br />
a justiça é impopular e julgada,<br />
ela mesma, um ouço por<br />
todos nós, com leviandade e superficialidade.<br />
Perde sempre na<br />
corrida com o julgamento popular<br />
e o julgamento mediático.<br />
É natural. Mas não deixa de ser<br />
aquela na qual, ao fim do dia, se<br />
deve acreditar mais. Por isso são<br />
levianos todos os políticos que,<br />
aproveitando a vaga critica, se<br />
atiram, inclementes, à justiça.<br />
Ajudam a transmitir a ideia de<br />
que, tudo ou quase o que faz, é<br />
lento, tendencioso, incompreensível<br />
e inconsequente.<br />
Com sofisma pega-se no caso A,<br />
polvilha-se com o B, leva-se ao<br />
lume com C e temos a justiça de<br />
rastos. Trata-se de um erro<br />
crasso, que pode vir a custar<br />
caro ao regime democrático. A<br />
sensatez com a justiça procura<br />
decidir, pagando um elevado<br />
preço em lentidão, muitas vezes,<br />
lá está, excessiva, é que de-<br />
veriaseroparadigmaadefender.<br />
As medidas a tomar devem<br />
ser de sentido único: ajudar a<br />
justiça a cumprir o seu papel,<br />
mas sem a convidar a ser precipitada,<br />
popularucha, dócil ou<br />
atreita a modas e tendências. Os<br />
políticos devem respeitar a justiça<br />
e não só dizerem que a respeitam.<br />
Devem dar-lhe o espaço<br />
para decidir na sua zona de<br />
competências:oqueécrimeeo<br />
que não é, quem o praticou e<br />
quem deve ser absolvido. Os<br />
políticos devem ter como projecto<br />
comum o de respeitarem a<br />
justiça. A sua esfera de actuação<br />
e o seu insubstituível papel no<br />
regime democrático. Podem,<br />
naturalmente, trazer para o debate<br />
político factos que, estando<br />
a ser objecto de investigação,<br />
têm, igualmente, relevância política.<br />
Tenho-o dito e repetido:<br />
uma coisa é o processo, outra<br />
coisaéoassunto.Pode(edeve)<br />
debater-se o assunto, mas sem<br />
se interferir no decurso do processo.<br />
As realidades não são impermeáveis.<br />
Tocam-se, intersectam-se<br />
e influenciam-se. Se<br />
um caso está em investigação ou<br />
em julgamento, respeite-se a<br />
presunção de inocência, embora<br />
exigindo esclarecimentos sobre<br />
o que politicamente releve.<br />
E, já agora, não se destrua a presunção<br />
de inocência da própria<br />
justiça, condenando-a sem<br />
provas nem razão.■<br />
“Por ter a sua<br />
velocidade própria<br />
a justiça é impopular<br />
e julgada, ela mesma,<br />
com leviandade<br />
e superficialidade”.<br />
“E perde sempre<br />
na corrida com o<br />
julgamento popular<br />
e o julgamento<br />
mediático”.
24 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
POLÍTICA<br />
Caso assim o entenda,<br />
Armando Vara poderá<br />
regressar ao exercício<br />
de funções no BCP.<br />
Banco de Portugal abre a porta<br />
a regresso de Vara ao BCP<br />
Vitor Constâncio esclareceu, em comunicado, que processo de averiguações foi encerrado.<br />
Maria Teixeira Alves e<br />
Francisco Teixeira<br />
maria.alves@economico.pt<br />
O Banco de Portugal suspendeu<br />
as averiguações a Armando<br />
Vara no âmbito do envolvimento<br />
do administrador do<br />
BCP, no processo “Face Oculta”.<br />
Num comunicado enviado<br />
ontem o regulador diz que “o<br />
conhecimento disponível da<br />
situação confirma que os factos<br />
alegadamente atribuídos<br />
ao Dr. Armando Vara não se<br />
referem à sua actividade bancária,<br />
pelo que o Banco de<br />
Portugalseviuforçadoasuspender<br />
as averiguações”.<br />
Constâncio tinha anunciado<br />
que iria abrir averiguações, depois<br />
de o administrador do maior<br />
banco privado português ter sido<br />
constituído arguido pelo Ministério<br />
Público. Mas ontem em comunicado,<br />
o Banco de Portugal<br />
anunciou que suspendeu as averiguações<br />
preliminares à situação<br />
Vítor Constâncio<br />
suspendeu as<br />
averiguações por<br />
o “conhecimento<br />
disponível<br />
da situação” indicar<br />
que os factos<br />
atribuídos a Vara<br />
não resultam da sua<br />
actividade bancária.<br />
de Armando Vara, depois de ter<br />
solicitado informações ao Ministério<br />
Público “que pudessem ser<br />
relevantes para a apreciação do<br />
caso”. O comunicado revela que<br />
“foi, porém, o Banco informado<br />
que, em virtude do processo se<br />
encontrar em segredo de justiça,<br />
não era possível o envio de quaisquer<br />
informações”. Daí decorre<br />
que o Banco de Portugal na impossibilidade<br />
averiguar, e como<br />
“os factos alegadamente atribuídos<br />
ao Dr. Armando Vara não se<br />
referem à sua actividade bancária”<br />
decidiu suspender a averiguações,<br />
dada “a ausência de<br />
competência legal para o fazer”.<br />
Apesar disso, não deixou de<br />
realçar que continuava em estreito<br />
contacto com os órgãos de<br />
gestão do BCP.<br />
A situação de Vara, desde que<br />
pediu a suspensão de funções,<br />
evoluiu tendo ficado indiciado por<br />
um crime de tráfico de influências,<br />
não se confirmando as suspeitas de<br />
corrupção. Ainda assim, teve de<br />
pagar uma caução de 25 mil euros.<br />
Após essa decisão, Vara, que<br />
continua quadro do BCP, embora<br />
esteja suspenso das suas funções,<br />
não afastou a possibilidade de levantar<br />
a sua suspensão, aguardando<br />
para isso um sinal da administração<br />
do banco. “Tenho de<br />
ver isso com a equipa dirigente<br />
do BCP, compreenderão que não é<br />
o momento de falar ainda”, disse<br />
publicamente. Mas as razões que<br />
levaram Vara a pedir a suspensão<br />
prendem-se com a imagem do<br />
banco, que estava a ser afectada<br />
pelo seu envolvimento no processo<br />
“Face Oculta”. Como esse<br />
envolvimento se mantém poderá<br />
manter-se a suspensão até que a<br />
justiça tenha conclusões. O banco<br />
considera que a decisão cabe a<br />
Vara,umavezqueasuspensãofoi<br />
iniciativa sua.<br />
No entanto, há no BCP quem<br />
defenda o seu regresso imediato,<br />
nomeadamente Joe Berardo,<br />
presidentedoConselhodeRemunerações.<br />
■<br />
VARA À SAÍDA DO TRIBUNAL<br />
“Não me sinto<br />
derrotado, sinto-me<br />
frustado. Eu<br />
não desistirei<br />
enquanto não ficar<br />
completamente<br />
provada a minha<br />
inocência”.<br />
“Pode dizer-se<br />
que o pesadelo<br />
não acabou,<br />
lamentavelmente<br />
continua”.<br />
“Não havendo provas<br />
foi tudo inventado.<br />
Isto para mim é<br />
clarinho como água”.<br />
“Eu tenho de ver isso<br />
agora [regresso ao<br />
BCP] com a equipa<br />
dirigente do BCP”.<br />
CASO FACE OCULTA<br />
Paula Nunes<br />
29 Outubro<br />
O nome de Armando Vara<br />
aparece pela primeira vez como<br />
um dos 12 arguidos na operação<br />
Face Oculta.<br />
3 Novembro<br />
O Millennium BCP informa<br />
a Comissão de Mercado<br />
de Valores Mobiliário que recebeu<br />
de Armando Vara um pedido<br />
de suspensão do mandato como<br />
vice presidente e membro<br />
do Conselho de Administração<br />
Executivo do banco.<br />
2 Dezembro<br />
O Tribunal de Aveiro aplicou<br />
a Armando Vara uma caução<br />
de 25 mil euros e a proibição<br />
de falar com alguns arguidos<br />
do processo.
26 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
POLÍTICA<br />
Catarina Madeira<br />
catarina.madeira@economico.pt<br />
No mesmo dia, Francisco Pinto<br />
Balsemão e Marcelo Rebelo de<br />
Sousa pediram ao partido que se<br />
defina para fazer frente ao PS,<br />
numa estratégia que nem sempre<br />
deverá ser de confronto. Se Marcelo<br />
acredita que o PSD, “como<br />
partido de Governo”, não deve<br />
fazer oposição por oposição,<br />
Balsemão defende “pactos de<br />
fundo ou acordos de regime” e<br />
não tem dúvidas em afirmar que<br />
os social-democratas estão<br />
“mais próximos do PS em várias<br />
coisas do que do CDS”.<br />
Em contagem decrescente<br />
para a marcação das eleições directas,<br />
que vão definir o próximo<br />
líder, os dois históricos fazem um<br />
apelo para que o partido se assuma<br />
como uma alternativa de Governo,<br />
colocando-o no centro do<br />
espectro político.<br />
“Estamos mais<br />
próximos do PS<br />
em várias coisas do<br />
que do CDS”, disse<br />
Balsemão defendendo<br />
acordos de regime<br />
em áreas-chave.<br />
“Mais do mesmo, mesmo que<br />
melhor executado, não nos leva a<br />
parte alguma se não a ficarmos<br />
agarrados à paralisia e ao pântano<br />
onde nos encontramos”,<br />
disse Balsemão, com o peso que<br />
lhe confere a posição de militantenúmeroumdopartido.<br />
Perante uma plateia de mais de<br />
150 pessoas que se reuniu para o<br />
primeiro debate organizado<br />
pelo Instituto Francisco Sá Carneiro<br />
(IFSC), o ex-primeiroministro<br />
pediu ao PSD para ser<br />
“coerente com a ideologia, ter<br />
coragem, correr riscos e liderar a<br />
inovação”.<br />
No primeiro de uma série de<br />
debates para preparar o caminho<br />
da sucessão de Ferreira Leite, o<br />
fundador disse que, a manter-se<br />
neste “impasse”, o PSD “caminha<br />
para um lento suicídio”.<br />
Quase ao mesmo tempo, Marcelo<br />
Rebelo de Sousa – que depois<br />
de ter fechado a porta a uma<br />
Infografia: Mário Malhão | mario.malhao@economico.pt<br />
Sem directas marcadas,<br />
o PSD debate o rumo a seguir<br />
A caminho de uma nova liderança, Balsemão e Marcelo colocam PSD no centro.<br />
candidatura à liderança, tem<br />
deixado a janela dos conselhos<br />
entreaberta – defendeu que,<br />
“mais tarde ou mais cedo, as<br />
pessoas [dentro do PSD] vão ter<br />
de fazer o debate de ideias”.<br />
Numa entrevista à RTPN, o professor<br />
apelou à união do partido<br />
“para enfrentar o PS”, a quem,<br />
segundo Marcelo, restam apenas<br />
dois anos de Governo.<br />
OpróximodebatedoIFSCestá<br />
marcado para dia 17 e vai contar<br />
com Paulo Rangel, um dos nomes<br />
que também chegou a ser equacionado<br />
para a liderança pelo núcleo<br />
de Ferreira Leite. Antes ainda,éPassosCoelhoquemdáuma<br />
entrevista ao Jornal de Notícias,<br />
numa altura em que, aos apoios<br />
fiéis de Miguel Relvas e Ângelo<br />
Correia, juntou a ex-vice de<br />
Marques Mendes: Paula Teixeira<br />
da Cruz que vai elaborar a revisão<br />
do programa do PSD caso Passos<br />
seja eleito líder. ■<br />
QUATRO PERGUNTAS A...<br />
Alexandre Relvas<br />
Presidente do IFSC<br />
“PSD deve propor<br />
libertação<br />
da sociedade civil”<br />
Alexandre Relvas faz um balanço<br />
positivo do primeiro, de uma série<br />
de debates, em que pretende<br />
lançar correntes de opinião para<br />
a definir a próxima liderança<br />
social-democrata.<br />
Como reage às provocações<br />
dos oradores sobre<br />
a necessidade do PSD<br />
se reencontrar?<br />
O debate desta noite [última<br />
quarta-feira] mostrou a riqueza<br />
do PSD e a capacidade de se<br />
diferenciar das propostas do PS:<br />
contrapor, ao sobrepeso do<br />
Estado, o valor da sociedade civil;<br />
defender a desmilitarização<br />
do regime; defender a liberdade<br />
da comunicação social<br />
e a abertura ao sector privado<br />
de múltiplas actividade<br />
económicas. A ideia é haver um<br />
debate de ideias que se possa<br />
propagar a todo o partido.<br />
Francisco Pinto Balsemão<br />
falou na necessidade de<br />
acordos de regime em áreaschave<br />
(educação, saúde,<br />
justiça e administração<br />
pública). Concorda?<br />
Essa é uma opinião pessoal entre<br />
muitas, não vou comentar. O mais<br />
interessante é saber como o PSD<br />
deve reagir a um Governo<br />
minoritário e exercer oposição:<br />
deve passar por uma oposição<br />
sistemática ou por uma posição<br />
construtiva que, no limite, chegue<br />
a pactos como os propostos?<br />
Falou-se da posição que o PSD<br />
deve ocupar no espectro<br />
político. A identidade<br />
ideológica do PSD sai mais<br />
clara deste debate?<br />
Falou-se aqui da sociedade civil<br />
e de um Estado omnipresente em<br />
todas as dimensões da vida<br />
económica e social. O que o PSD<br />
deve propor é exactamente a<br />
libertação da sociedade em<br />
relação a esse peso do Estado.<br />
No final destes debates, que<br />
contributo espera ter dado?<br />
O debate de ideias vai criando<br />
correntes de opinião e isso será<br />
útil para a próxima liderança do<br />
PSD. Tem aqui muitas questões<br />
sobre as quais deve reflectir. ■<br />
“Interessante é saber<br />
se o PSD deve fazer<br />
uma oposição<br />
sistemática ou uma<br />
posição construtiva?”
28 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
POLÍTICA<br />
Cervejeiras dão<br />
apoios à educação<br />
em troca de<br />
menos impostos<br />
Alberto da Ponte, representante das cervejeiras<br />
europeias, diz que o sector paga muitos impostos.<br />
Márcia Galrão<br />
marcia.galrao@economico.pt<br />
Numa altura em que a Europa discute<br />
o problema do álcool e as medidas<br />
que devem ser tomadas para<br />
combater o seu consumo abusivo,<br />
Alberto da Ponte, presidente da associação<br />
europeia de produtores de<br />
cerveja Brewers of Europe, defende<br />
uma política de auto-regulação<br />
para o sector e, no caso português,<br />
garante que vai pedir ao Governo<br />
de Sócrates para baixar o Imposto<br />
Especial sobre o Consumo (IEC) na<br />
cerveja, em troca de ajuda do sector<br />
numa política educacional<br />
contra o abuso do álcool.<br />
Em entrevista ao Diário <strong>Económico</strong>,<br />
Alberto da Ponte, revela que<br />
já enviou cartas ao Governo a pedir<br />
audiências e garante que irão<br />
insistir na questão fiscal. Reduzir o<br />
IEC na cerveja e exigir em contraponto<br />
que “a receita seja para o<br />
apoio à exportação” é um “jogo”<br />
CERVEJEIROS<br />
3mil<br />
O Brewers of Europe representa<br />
mais de 3 mil cervejeiros em toda<br />
a Europa. Quatro grandes<br />
companhias internacionais, de que<br />
fazemparteaHeinekenea<br />
Carlsberg, e outra pequenas<br />
indústris.<br />
LITROS<br />
820 milhões<br />
A indústria cervejeira em Portugal<br />
produz 820 milhões de litros, dos<br />
quais 200 milhões são exportados.<br />
Portugal figura em 6º lugar no<br />
ranking dos exportadores de<br />
cerveja.<br />
EMPREGADOS<br />
72 mil<br />
A indústria cervejeira emprega<br />
para cima de 72 mil pessoas em<br />
Portugal, directa e<br />
indirectamente. Cerca de 70% da<br />
cevada que é utilizada no fabrico<br />
de cerveja provém do Alentejo. A<br />
indústria contribui com 1,2% para<br />
o Produto Nacional Bruto.<br />
queopresidentedoBrewersacha<br />
que daria resultado na política de<br />
consumo de álcool. “O que se perderia<br />
na receita seria muito inferioraoqueseganhariaemtermos<br />
de riqueza”, lembrando que “a indústria<br />
produz 820 milhões de litros<br />
de cerveja e exporta 200 milhões,<br />
empregando para cima de<br />
72 mil pessoas directa e indirectamente<br />
e contribuindo com 1,2%<br />
paraoProdutoNacionalBruto.Em<br />
troca, os cervejeiros querem “ajudar<br />
o Governo a lançar uma campanha<br />
educacional contra o abuso<br />
do álcool”, contribuindo com<br />
“know-how e até financeiramente<br />
se for preciso”.<br />
Mas que tipo de campanhas podem<br />
ser promovidas? “Em Portugal<br />
o problema são os chamados<br />
underage drinkers (entre os 11 e os<br />
14 anos), mas são pessoas que muitas<br />
vezes já saem alcoolizadas de<br />
casa, portanto aqui faz falta uma<br />
política educacional na família”.<br />
Além deste, defendem também a<br />
existência de “disciplinas escolares<br />
que abordem estas matérias”.<br />
NumaalturaemqueaUEdebate<br />
o problema do consumo abusivo<br />
de álcool, Alberto da Ponte critica<br />
aquela que tem sido a posição assumida<br />
pela presidência europeia<br />
da Suécia e que passa por aumentar<br />
os preços sobre o álcool e restringir<br />
a comunicação deste tipo de produtos.<br />
Para o presidente do<br />
Brewers of Europe “ouvir o que a<br />
Suécia diz seria um tiro no pé” e<br />
lembra que o país nórdico é neste<br />
campo “o maior falhanço da política<br />
de restrição do consumo conhecido”<br />
que quer “impor a sua<br />
realidade a todos os países da UE,<br />
baseado numa mão cheia de<br />
nada”. Ainda assim, Alberto da<br />
Ponteestáconfiantequeasrecomendações<br />
suecas serão suavizadas<br />
pela pressão de muitos países<br />
europeus, como Alemanha ou Itália,<br />
mas lamenta que “a posição<br />
portuguesa não tenha sido muito<br />
activa para desmascarar os exageros<br />
das posições suecas”.<br />
Divulgando em primeira mão<br />
um estudo da PriceWaterHouse,<br />
Alberto da Ponte explica que se a<br />
recomendação sueca de aumentar<br />
a carga fiscal sobre o álcool<br />
fosse seguida, as perdas seriam<br />
“tremendas”: “Se o equivalente<br />
ao IEC aumentasse 20% nos países<br />
europeus, as consequências<br />
seriam 1,2 biliões de redução de<br />
vendas, a perda de 70 mil empregoseodecréscimodorendimento<br />
fiscal na ordem dos 160 milhões<br />
de euros”. ■<br />
TRÊS PERGUNTAS A...<br />
ALBERTO DA PONTE<br />
Presidente dos Brewers of Europe<br />
“Governos têm<br />
tendência errada para<br />
aumentar impostos”<br />
Alberto da Ponte critica a<br />
presidência sueca, por querer<br />
impor mais restrições à indústria<br />
cervejeira e diz que o caminho para<br />
o combate ao consumo abusivo<br />
passa pela “auto-regulação”.<br />
Como olha para a posição da<br />
presidência sueca?<br />
Os governos têm uma tendência,<br />
na minha opinião errada, para<br />
aumentar os impostos do<br />
álcool. Há uma tendência para<br />
impor restrições à publicidade da<br />
cerveja, que está a ser muito<br />
alimentada pela presidência<br />
europeia sueca e que pode pôr em<br />
risco uma indústria milenar e muito<br />
importante para a Europa. Há um<br />
estudo da Ernst & Young que<br />
demonstra a importância da<br />
cerveja na UE, representando para<br />
cima de 1% do Produto Nacional<br />
bruto,<br />
O que podem fazer as<br />
cervejeiras para contrariar?<br />
O sector tem que mostrar que o<br />
está fazer no campo da autoregulação,<br />
defendendo esse<br />
Paulo Figueiredo<br />
Alberto da Ponte, presidente da<br />
Central de Cervejas, foi eleito<br />
representante máximo das<br />
cervejeiras europeias a 9 de<br />
Novembro e promete lutar pelos<br />
interesses do sector.<br />
caminho. Entre Março e Abril<br />
entregaremos um relatório<br />
auditado pela KPMG<br />
e apresentado à comissão<br />
europeia para demonstrar<br />
que a auto-regulação é possível,<br />
com os vários exemplos que<br />
estão a ser desenvolvidos nos<br />
vários países.<br />
Qual é a expectativa em relação<br />
à recomendação sueca?<br />
Pode haver alguma recomendação<br />
para aumentar o preço com o<br />
intuito de moderar o consumo.<br />
Pode também haver tentativa de<br />
restringir a comunicação, mas<br />
estou convencido que as<br />
insistências de alguns governos,<br />
levará a mitigação do texto.
Agenda 5.12 > 11.12<br />
> 5.12<br />
Jorge Lacão no lançamento<br />
do livro de Manuela Azevedo<br />
O ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão,<br />
preside ao lançamento do livro “Memórias<br />
de uma mulher de Letras”, de Manuela Azevedo,<br />
e à inauguração das exposições “Zincoarte”<br />
e “Retrospectiva de Pedro Palma”, no Museu<br />
Nacional da Imprensa, no Porto.<br />
> 6.12<br />
Tributo a Michael Jackson<br />
com os Harlem Gospel Choir<br />
Concerto de Natal com o Harlem Gospel Choir,<br />
considerado o mais famoso grupo de gospel<br />
da América, num tributo a Michael Jackson, no<br />
Casino Estoril. Amanhã, na Casa da Música, no Porto.<br />
> 7.12<br />
Tereza Salgueiro apresenta<br />
álbum “Matriz”<br />
Concerto de apresentação do álbum “Matriz”<br />
de Tereza Salgueiro, acompanhada pela Lusitânia<br />
Ensemble, no Centro Cultural de Belém. Amanhã,<br />
na Casa da Música, no Porto.<br />
> 9.12<br />
Leilão da biblioteca judaica<br />
Afonso Cassuto<br />
Bibliografia judaica e da inquisição, com livros<br />
e manuscritos de diferentes proveniências estarão<br />
a leilão, numa organização do leiloeiro Pedro<br />
Azevedo, no Amazónia Hotel.<br />
Livro de Leonel Cosme<br />
é apresentado hoje no Porto<br />
De Leonel Cosme, com capa de Pires Laranjeira,<br />
o livro “O Chão das Raízes” é apresentado hoje, no<br />
UNICEPE, no Porto. A obra encerra uma pentalogia<br />
(uma saga em cinco livros) sobre os portugueses que<br />
viveram no Sul de Angola e, com a independência<br />
desta, em 1975, tiveram de regressar.<br />
Debatesobreaobraeoseu<br />
tempo na Casa Fernando Pessoa<br />
“Mensagem, o Poema, o Prémio e o Estado Novo”.<br />
Este é o ponto de partida para o debate entre<br />
Richard Zimler, escritor responsável pela fixação<br />
do manuscrito de “O Livro do Desassossego”, José<br />
Blanco e José Carlos Seabra Pereira. A sessão<br />
émoderadaporCarlosVazMarqueseéoúltimo<br />
dos três debates com que a Biblioteca Nacional,<br />
a Casa Pessoa e a Guimarães Editores assinalam<br />
os 75 anos da primeira edição de “Mensagem”.<br />
Às 18:30 na Casa Fernando Pessoa.<br />
Estreia do novo filme de<br />
António-Pedro Vasconcelos<br />
Estreiadofilme“ABelaeoPararazzo”,<br />
de António-Pedro Vasconcelos. Com Marco d’Almeida<br />
e Soraia Chaves.<br />
> 11.12<br />
Projecto de Manuel João Vieira<br />
sobe ao palco do São Luiz<br />
O projecto “O artista português é tão bom como<br />
os melhores”, de Manuel João Vieira, sobe ao palco<br />
do Teatro São Luiz, até 13 de Dezembro.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 29<br />
A SEMANA<br />
BERLUSCONI ACUSADO DE FAZER PACTO COM A MÁFIA PARA CHEGAR AO PODER<br />
Gaspare Spatuzza, um ex-mafioso que colabora com a justiça italiana, contou em tribunal<br />
que o primeiro-ministro Berlusconi pediu à máfia para cometer atentados de<br />
forma a criar um clima de terror no país, que favorecesse a entrada dele na política.<br />
A FIGURA<br />
PAULO PORTAS<br />
Líder do CDS<br />
Portas é um dos mais eficazes políticos do país. Lidera<br />
um pequeno partido que muitas vezes foi dado como<br />
morto mas que lá vai fazendo o seu caminho. Com um<br />
mês e meio de Governo, o PSD ainda em auto-gestão,<br />
Sócrates também a aprender a governar sem maioria<br />
e o foco da governação colocado no Parlamento,<br />
Portas continua a distinguir-se. Todas as sondagens<br />
o apontam como o líder partidário com mais<br />
popularidade e a suspensão do Código Contributivo<br />
por proposta do CDS foi a cereja no topo do bolo.<br />
O MOMENTO<br />
A JUSTIÇA NO PARLAMENTO<br />
Primeiro debate quinzenal com o primeiro-ministro<br />
Eric Vidal/Reuters<br />
Ontem regressaram os debates quinzenais e com eles<br />
duas coisas: o anúncio por parte do Governo<br />
de medidas (apoios a empresas e o aumento do salário<br />
mínimo) e um tema polémico da actualidade. Desta vez,<br />
ajustiça,ocasoFaceOcultaeasuatotaleinequívoca<br />
politização. Sócrates e Ferreira Leite não se entendem<br />
sobre a gestão política da investigação do ano.<br />
A líder do PSD quer conhecer as escutas que envolvem<br />
o primeiro-ministro, Sócrates diz que estamos perante<br />
“coscuvilhice política”. E daqui não sairemos.
30 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
RADAR PORTUGAL<br />
Apesar de já não funcionar, a Universidade Independente continua a dar que falar.<br />
Denúncia de um ex-acionista da universidade<br />
Dinheiro da Independente usado para pagar campanhas<br />
Lima de Carvalho, arguido no<br />
caso da Universidade Independente<br />
(UNI), revelou ontem em<br />
tribunal que o dinheiro da UNI<br />
serviu para financiar uma campanha<br />
política do PSD, a eleição<br />
de um bastonário dos advogados<br />
e pagar viagens de deputados.<br />
Amadeu Lima de Carvalho, accionista<br />
maioritário da SIDES<br />
(empresa detentora da extinta<br />
UNI), foi ontem ao Tribunal<br />
Central de Instrução Criminal<br />
prestar declarações sobre o caso,<br />
emqueéacusadode46crimes,<br />
incluindo branqueamento de<br />
capitais, burla qualificada, corrupção<br />
e fraude fiscal.<br />
Sobre o alegado desvio de dinheiro<br />
da SIDES, Lima de Carvalho<br />
denunciou que 90 mil euros<br />
serviram para financiar a<br />
campanha do ex-bastonário da<br />
Ordem dos Advogados, Rogério<br />
Alves, uma campanha da Associação<br />
Sindical dos Juízes através<br />
da então mulher do também<br />
arguido Rui Verde e para pagar<br />
viagens a deputados da Assembleia<br />
da República a Inglaterra<br />
para aprenderem inglês.<br />
Das verbas supostamente desviadas<br />
da UNI, o arguido revelou<br />
também que 150 mil euros ser-<br />
Lima de Carvalho<br />
revelou ontem em<br />
tribunal que 90 mil<br />
euros serviram para<br />
financiar a campanha<br />
do ex-bastonário<br />
dos advogados,<br />
Rogério Alves.<br />
Paulo Figueiredo<br />
viram para financiar uma campanha<br />
eleitoral do PSD em Santarém,<br />
por intermédio do então<br />
vice-reitor Rui Verde.<br />
Lima de Carvalho acusou ainda<br />
vários funcionários do BCP de<br />
terem falsificado uma garantia<br />
bancária de um milhão de euros<br />
para beneficiar Rui Verde, de<br />
forma a que este lhe pagasse dívidas<br />
pessoais e da então mulher,<br />
a juíza Isabel Magalhães.<br />
Rogério Alves já reagiu à acusação<br />
de Lima Carvalho, que<br />
considera de “uma mentira<br />
grosseira e de “absolutamente<br />
falso”. O ex-bastonário dos<br />
advogados referiu que tal<br />
“mentira” tem vindo a ser dita<br />
desde 2007 e que a mesma<br />
“ofende um conjunto de pessoas<br />
que são visadas por uma<br />
declaração ridícula”. ■ Lusa.<br />
A Leoni era uma empresa de componentes automóveis.<br />
Automóvel<br />
Governo estuda alternativas para Leoni<br />
OGovernoestáaestudaralternativas<br />
para minimizar o encerramento<br />
da Leoni Viana, empresa<br />
de componentes automóveis<br />
que fornecia a Peugeot-Citröen.<br />
O fecho da fábrica vai deixar no<br />
desemprego 599 trabalhadores.<br />
“Estamos a trabalhar no sentido<br />
de perceber/entender quais são<br />
as alternativas que podem existir<br />
para essa localização”, disse<br />
Vieira da Silva, citado pela Lusa.<br />
O ministro da Economia sabia<br />
que “a evolução dessa empresa<br />
era negativa”, mas desconhecia<br />
que“odesfechoestivessetão<br />
curto como se veio a revelar”. A<br />
Leoni Viana, que se dedica ao fa-<br />
Concessões<br />
Estado dá garantia ao empréstimo do BEI<br />
O Governo avançou com uma garantia<br />
sobre o empréstimo contraído<br />
pela Estradas de Portugal<br />
junto do Banco Europeu de Investimento<br />
(BEI), para financiar as<br />
concessões rodoviárias. O empréstimo<br />
de 300 milhões de euros<br />
foi publicado ontem em Diário da<br />
República, após ter sido noticiado<br />
que o BEI estava a acompanhar de<br />
perto os chumbos do Tribunal de<br />
Contas (TC) aos contratos das<br />
concessões rodoviárias.<br />
AEstradasdePortugalapresentou<br />
ainda ao Tribunal de Contas<br />
“alguns pedidos de prorrogação”<br />
do prazo de 30 dias úteis que<br />
o tribunal tem para decidir sobre a<br />
atribuição do visto prévio aos<br />
contratos das concessões rodoviárias,talcomooDiário<strong>Económico</strong><br />
já tinha avançado.<br />
O TC esclareceu, na quintafeira,<br />
que demorou os 30 dias<br />
úteis definidos na Lei para decidir<br />
sobre a atribuição do visto prévio<br />
às concessões rodoviárias, refu-<br />
brico de cablagens, anunciou<br />
ontem que vai encerrar portas<br />
em finais de 2010. A Leoni já tinhaavançadocomodespedimento<br />
colectivo de 120 trabalhadores<br />
e enveredado pelo ‘lay off’.<br />
Também a Lear Corporation, de<br />
Palmela, fabricante de capas<br />
para automóveis, manteve ontem<br />
a intenção de fechar portas,<br />
deixando 200 trabalhadores no<br />
desemprego. Os trabalhadores<br />
sugeriram o recurso ao PASA, o<br />
plano de apoio criado pelo Governoparaosectorautomóvel,<br />
mas a administração mantém a<br />
intenção de encerrar a fábrica<br />
em 2010. ■<br />
tando as declarações de alguns<br />
responsáveis do sector, que criticaram<br />
o facto de a decisão do tribunal<br />
ter surgido um ano depois<br />
da assinatura dos contratos.<br />
“Sempre que o TC solicita um esclarecimento,<br />
suspende o prazo”,<br />
disse fonte oficial da Estradas de<br />
Portugal à Lusa.<br />
O TC recusou a atribuição de<br />
visto prévio aos contratos de cinco<br />
concessões rodoviárias: Auto-<br />
Estrada Transmontana, Douro Interior,<br />
Baixo Alentejo, Algarve Litoral<br />
e Litoral Oeste, decisão conhecida<br />
o mês passado. ■<br />
Almerindo Marques.<br />
Antoine Antoniol/Bloomberg
Fisco<br />
Existem 22.590 devedores na lista do<br />
Ministério das Finanças<br />
O Ministério das Finanças<br />
anunciou ontem que, no total,<br />
existem 22.590 devedores<br />
na lista e quase 7 mil contribuintes<br />
foram incluídos<br />
em 2009. Este valor corresponde<br />
a um aumento de 800<br />
novos devedores face à última<br />
actualização.<br />
O Ministério das Finanças<br />
adiantou em comunicado que<br />
o valor das dívidas já recuperadas<br />
pela Administração Fiscal<br />
aos devedores notificados<br />
ascende a cerca de 900 milhões<br />
de euros, “sendo que em<br />
2009 o valor pago por esses<br />
devedores é já de 253 milhões<br />
de euros”.<br />
A tutela adiantou também que<br />
“a publicitação da lista de devedores<br />
tem sido um importante<br />
instrumento de indução<br />
ao pagamento das dívidas”.<br />
No mesmo documento, o Ministério<br />
das Finanças explicou<br />
que constam na lista os contribuintes<br />
que possuem dívidas<br />
fiscais ao Estado anteriores<br />
a 31 de Dezembro de 2008,<br />
cuja situação de incumprimento<br />
do dever de pagamento<br />
Finanças actualizaram devedores.<br />
persiste, apesar das insistentes<br />
solicitações da administração<br />
fiscal para os devedores<br />
regularizarem a situação e<br />
das medidas de coerção já<br />
adoptadas nos respectivos<br />
processos.<br />
Contas feitas, do total de mais<br />
de 22 mil devedores presentes<br />
na lista, o número de pessoas<br />
colectivas publicitadas é de<br />
8.249 mil. Ou seja, este valor<br />
corresponde a quase metade<br />
do número de pessoas singulares<br />
que integram a lista.<br />
Entre as pessoas singulares o<br />
ministério refere que existe<br />
“uma parcela relevante de<br />
administradores e gerentes<br />
de sociedades que foram responsabilizados<br />
pelo pagamento<br />
dos impostos devidos<br />
por essas sociedades, dada a<br />
respectiva ausência de património.<br />
Em muitos casos, estão<br />
em causa sociedades fictícias<br />
criadas pelos seus responsáveis<br />
para praticarem<br />
operações de fraude e de evasão<br />
fiscal”.<br />
Outrodadoquesaltaàvista<br />
tem a ver com o facto de existir<br />
entre as pessoas singulares<br />
são 105 os contribuintes que<br />
devemcadaummaisdeum<br />
milhão de euros ao fisco.<br />
Existem também 491 contribuintes<br />
a dever mais de 250<br />
mil euros. Lado das empresas,<br />
há também dados que saltam<br />
à vista: existem 10 empresas<br />
que devem mais de 10 milhões<br />
de euros cada uma. ■<br />
Indústria<br />
Vendas caem menos em Outubro<br />
Ovolumedenegóciosdaindústria<br />
baixou em Outubro 10,1%<br />
face ao período homólogo de<br />
2008, aliviando assim a queda<br />
registada no mês anterior.<br />
Os dados divulgados ontem pelo<br />
Instituto Nacional de Estatística<br />
(INE)mostram,noentanto,que<br />
a indústria vendeu mais 2% em<br />
Outubro face a Setembro.<br />
A queda homóloga menos acentuada<br />
foi transversal a todos os<br />
agrupamentos industriais, à excepção<br />
dos bens de consumo.<br />
Tanto nas vendas para o mercado<br />
nacional como para o exterior, o<br />
mês de Outubro foi marcado por<br />
um abrandamento na queda.<br />
O emprego no sector da indústria<br />
caiu 6,2%, ainda assim de<br />
forma menos acentuada em relação<br />
ao mês anterior. As remunerações<br />
pagas no sector baixaram<br />
em Outubro 5%, o que<br />
compara com uma quebra de<br />
5,4% registada em Setembro.<br />
Quanto às horas trabalhadas na<br />
indústria, a queda intensificouse<br />
em Outubro. A taxa de variação<br />
homóloga foi de - 7,8%,<br />
contra -6,7% apresentados em<br />
Setembro. ■<br />
Indústria portuguesa melhora.<br />
Lee Celano/Reuters<br />
BELMIRO INVESTE NA PRODUÇÃO DE KIWIS<br />
Cimeira das Nações Unidas<br />
Próxima reunião será em Lisboa,<br />
em Novembro de 2010<br />
Novembro de 2010 foi o mês escolhido<br />
para acolher próxima<br />
cimeira da NATO que se realizará<br />
em Lisboa. O acordo sobre os<br />
dias exactos ainda não está fechado<br />
por todos os membros da<br />
Aliança, disse ontem o ministro<br />
dos Negócios Estrangeiros, Luís<br />
Amado, mas tudo aponta para a<br />
possibilidade do encontro se<br />
realizar entre 19 e 20 desse mês.<br />
“Há uma data que está referenciada,<br />
que não está ainda assumida<br />
por todos os aliados. Há<br />
ainda um período de consulta<br />
sobreadataproposta,para19e<br />
20 de Novembro do próximo<br />
ano”, indicou ontem Luís Amado,<br />
à margem de uma reunião<br />
dos chefes de diplomacia da<br />
Aliança Atlântica, em Bruxelas.<br />
Lembrando que “será a primeira<br />
vez que Portugal, que é um país<br />
fundador da Aliança, organiza<br />
uma cimeira da Aliança em Lisboa”,<br />
o ministro dos Negócios<br />
Estrangeiros disse que os preparativos<br />
da cimeira implicarão<br />
um trabalho “intenso” com o<br />
secretário-geral da NATO, Anders<br />
Fogh Rasmussen. Trabalho<br />
que já foi iniciado, com uma<br />
primeira reunião de trabalho<br />
que aconteceu no mês passado,<br />
e que prosseguirá “durante os<br />
próximos meses”.<br />
Luís Amado acrescentou a cimeira<br />
será a ocasião onde “se<br />
discutiráeaprovaráonovoconceito<br />
estratégico da Aliança”,<br />
que substituirá o actual, adoptado<br />
em 1999, face às novas<br />
ameaças e desafios na cena<br />
mundial. Segundo Amado, em<br />
Novembro do próximo ano, os<br />
aliados também já estarão “seguramente”<br />
em condições de<br />
“avaliar o desenvolvimento da<br />
estratégia que a Aliança apoia”,<br />
em particular no Afeganistão,<br />
“o teatro mais crítico” para a<br />
NATO.■ Lusa<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 31<br />
Bruno Barbosa<br />
Belmiro de Azevedo, o patrão da Sonae, continua a revelar-se<br />
um empreendedor. Ontem participou no encontro<br />
de fornecedores do grupo que lidera, na qualidade<br />
de produtor de kiwis, um desafio que abraçou há<br />
cerca de três anos com olhos postos no mercado espanhol.<br />
Questionado sobre os resultados, Belmiro diz<br />
apenas que “para já, é só investir”.<br />
Turismo<br />
Rui Moreira quer<br />
Red Bull no Porto<br />
O presidente da Associação<br />
Comercial do Porto (ACP), Rui<br />
Moreira, disse ontem que o<br />
Turismo de Portugal (TP),<br />
sendo uma entidade pública,<br />
devia defender a região Norte<br />
na questão da eventual<br />
transferência da Red Bull Air<br />
Race para Lisboa. “O Turismo<br />
de Portugal não pode ser<br />
neutral nesta matéria, porque<br />
se esta região está pior do que<br />
o resto do país precisa de uma<br />
discriminação positiva. O<br />
Governo não pode ser neutral<br />
em relação a esta região.<br />
Devemos ter uma<br />
discriminação positiva e acho<br />
que temos tido uma<br />
discriminação negativa”, disse<br />
Rui Moreira. O presidente da<br />
ACP falava durante a<br />
apresentação do Concurso de<br />
Saltos Internacional do Porto,<br />
uma competição hípica que se<br />
realiza entre 10 e 13 de<br />
Dezembro, na Exponor<br />
(Matosinhos). Este ano, o<br />
evento, que precisava de um<br />
aumento de apoio para tentar<br />
candidatar-se à realização da<br />
Taça do Mundo, contou com um<br />
corte de 50 por cento no apoio<br />
do TP, disse à Lusa Gonçalo<br />
Patrão, da organização.<br />
“Ontem, numa carta, a<br />
propósito de um outro evento,<br />
o presidente do TP dizia que<br />
não aceitava o que eu disse<br />
com todo o fundamento. Ele<br />
ainda não percebeu que não<br />
nos compete a nós agradecer<br />
[o apoio à realização da Red<br />
Bull no Porto], porque o<br />
dinheiro é nosso. Trata-se de<br />
uma entidade pública, portanto<br />
os dinheiros são da sociedade<br />
e é razoável inquirir quais os<br />
critérios dos apoios”, referiu<br />
Rui Moreira. ■ Lusa<br />
A sede da Aliança Atlântica.<br />
Andrew Harrer/Bloomberg
32 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
RADAR MUNDO<br />
1 Reino Unido<br />
Ajuda estatal aos bancos britânicos<br />
ultrapassou 943 mil milhões<br />
O apoio estatal do Reino Unido<br />
aos bancos britânicos atingiu<br />
942.833,7 milhões de euros em<br />
consequência da crise financeira<br />
global, refere um relatório da<br />
agência National Audit Office<br />
(NAO).<br />
O primeiro-ministro, Gordon<br />
Brown, diz que aquele “montante<br />
sem precedentes” foi justificado<br />
para salvar os bancos,<br />
que entraram em colapso depois<br />
da falência do norte-americano<br />
Lehman Brothers, em 2007.<br />
A Grã-Bretanha gastou vários<br />
milhões de libras para salvar os<br />
seus maiores bancos, incluindo<br />
o Royal Bank of Scotland (RBS)<br />
e Lloyds Banking Group (LBG),<br />
durante a crise, enquanto que o<br />
Northern Rock foi nacionalizado.<br />
O LBG passou a ser detido<br />
pelo Estado em 43%, enquanto<br />
o RBS, devastado pela crise de<br />
crédito à aquisição do gigante<br />
holandês ABN Amro, deverá<br />
passar a ser detido pelo Estado<br />
em 84%.<br />
Amyas Morse, chefe da NAO<br />
disse que a eventual venda do<br />
RBSedoLBGserão“cruciais”<br />
para determinar o custo final<br />
para os contribuintes do salvamento<br />
destas instituições. ■<br />
3 Alemanha<br />
Bundesbank revê crescimento em alta<br />
A crise económica global atingiu<br />
a Alemanha a uma escala<br />
menor do que antecipado, segundo<br />
banco central alemão. O<br />
Bundesbank reviu ontem em<br />
alta o prognóstico para a maior<br />
economia da Europa. Para 2010<br />
os economistas no ‘Buba’ já<br />
não prevêem um crescimento<br />
zero, apontando agora uma subida<br />
de 1,6%, depois de uma<br />
quebra de 4,9% este ano. Ori<strong>gina</strong>lmente<br />
o banco previa um<br />
recuo de 6%, em consequência<br />
da crise económica global. Em<br />
2011, ainda segundo o relatório<br />
mensal do Bundesbank, apresentado<br />
ontem em Frankfurt, a<br />
11<br />
9<br />
8<br />
2<br />
1<br />
10<br />
1<br />
6<br />
Royal Banco of Scotland e o Lloyds doram dois dos bancos intervencionados.<br />
3<br />
Luke MacGregor/Reuters<br />
conjuntura deverá crescer<br />
1,2%,<br />
Os autores do relatório constatam<br />
que as perspectivas da<br />
economia melhoraram “de forma<br />
tangível” nos últimos meses.<br />
A recuperação, iniciada no<br />
Economia deve crescer 1,6% em 2010.<br />
7<br />
2 Alemanha<br />
VW reforça capital<br />
A grande maioria dos<br />
accionistas da Volkswagen<br />
aprovou um aumento de capital<br />
destinado a financiar a compra<br />
de 49,9% da fabricante de<br />
automóveis desportivos de luxo<br />
Porsche, disse a empresa em<br />
comunicado. O reforço será<br />
feito através da emissão de 135<br />
milhões de acções<br />
preferenciais, no valor de<br />
8.000 milhões de euros e foi<br />
aprovado por 98,7% dos<br />
investidores em assembleia<br />
geral extraordinária.<br />
“Com esta estrutura de capital,<br />
que é válida até Dezembro de<br />
2014, a Volkswagen obtém a<br />
flexibilidade financeira<br />
necessária para crescer, ao<br />
mesmo tempo que garante a<br />
liquidez adequada e uma<br />
estrutura financeira saudável”,<br />
diz o mesmo comunicado. Com<br />
esta aquisição, a VW espera<br />
ultrapassar a Toyota como<br />
maior fabricante de automóveis<br />
do mundo em 2018. Os poucos<br />
accionistas que se opuseram<br />
alertaram para o elevado preço<br />
a pagar pela Porsche, de 3,9 mil<br />
milhões de euros, quando a<br />
empresa apresentava uma<br />
dívida de cerca de 11.400<br />
milhões de euros em 31 de<br />
Julho último.<br />
segundo trimestre do ano, ficou<br />
a dever-se a uma política<br />
de estímulo fiscal e monetário,<br />
esperando-se que prossiga<br />
“nos próximos anos”.<br />
Os economistas do ‘Buba’ esperam<br />
que o aumento da exportação<br />
e dos investimentos,<br />
assim como o reforço do consumo,<br />
dêem novos impulsos à<br />
conjuntura. Alerta, no entanto,<br />
para um aumento do desemprego,<br />
que poderá ultrapassar<br />
os 10% em 2011. Também a inflação<br />
deverá subir ligeiramente<br />
nos próximos dois anos,<br />
atingindo 1% em 2011, após<br />
0,3% este ano. ■ C.K.<br />
A Aliança Atlântica segue as passadas de Obama no Afeganistão.<br />
4 Bélgica<br />
Nato envia 7.000 tropas para Afeganistão<br />
A Organização do Tratado do<br />
Atlântico Norte (Nato) disse que<br />
25 dos países aliados prometeram<br />
enviar cerca de 7.000 soldados<br />
para apoiar a guerra liderada<br />
pelos Estados Unidos no<br />
Afeganistão. A decisão surge na<br />
sequência do compromisso do<br />
presidente norte-americano,<br />
Barack Obama, de o seu país<br />
enviar mais 30.000 soldados<br />
para o local.<br />
“As nações estão a apoiar as<br />
suas palavras com acções”, disse<br />
o secretário-geral da Nato,<br />
Anders Fogh Rasmussen, em<br />
entrevista colectiva após reunião<br />
com os ministros dos Negócios<br />
Estrangeiros da Nato.<br />
5 Bolívia<br />
Evo Morales à frente com mais de 50%<br />
Os partidos bolivianos encerraram<br />
quinta-feira a campanha<br />
para as eleições do próximo domingo,<br />
que deverão levar às urnas<br />
cinco milhões de pessoas. O<br />
presidente Evo Morales – apontado<br />
como grande favorito de<br />
acordo com as últimas sondagens<br />
– tenta sua primeira reeleição,<br />
e se vencer governará o<br />
país por mais cinco anos, até Janeiro<br />
de 2015.<br />
Além da Presidência, estão em<br />
jogo a formação da Assembleia<br />
Legislativa Plurinacional, órgão<br />
legislativo que substituirá o<br />
Congresso de acordo com a<br />
Constituição aprovada no princípio<br />
de 2009. O partido de Morales,<br />
o Movimento ao Socialismo<br />
(MAS), precisa obter a<br />
maioria qualificada de dois terços<br />
para “avançar nas suas revoluções<br />
indigenistas e socialistas”<br />
sem ter que negociar com<br />
seus opositores. Nos últimos<br />
dias, a corrida eleitoral foi marcada<br />
por uma polémica prota-<br />
“Pelo menos 25 países vão enviar<br />
mais forças para a missão<br />
em 2010”, reforçou.<br />
Rasmussen afirmou ainda esta<br />
medida, com a contribuição dos<br />
Estados Unidos, irá aumentar o<br />
número total de forças estrangeiras<br />
no Afeganistão para cerca<br />
de 140.000 e irá ajudar a combater<br />
uma insurgência Taliban.<br />
No entanto, na mesma reunião,<br />
os Estados Unidos disseram que<br />
pretendem começar a retirar alguns<br />
dos soldados do Afeganistão<br />
em meados de 2011, estabelecendo<br />
um prazo para as forças<br />
de segurança afegãs assumirem<br />
a responsabilidade do país.■<br />
gonizada pela Corte Nacional<br />
Eleitoral (CNE), que emitiu uma<br />
resolução que impede o voto de<br />
400.671 cidadãos que foram<br />
“observados” pelo órgão e precisam<br />
apresentar certidões de<br />
nascimento para poderem ir às<br />
urnas.<br />
Reyes Villa, ex-militar e ex-governador<br />
de Cochabamba, é o<br />
candidato da oposição mais<br />
bem colocado nas sondagens,<br />
concorrendo pelo <strong>Plano</strong> Progresso<br />
Para Bolívia-Convergência<br />
Nacional (PPB-CN). Chega<br />
às eleições com cerca de 20%<br />
das intenções de voto. ■<br />
Presidente tenta reeleição.<br />
David Mdzinarishvili / Reuters
Itália<br />
Fiat pede devolução<br />
de 500 mil Punto<br />
O grupo automóvel italiano Fiat<br />
alertou para o facto de aproximadamente<br />
500.000 modelos<br />
do Grande Punto e Grande<br />
Punto Abarth em toda a Europa<br />
terem uma “possível anomalia”<br />
na coluna de direcção. E emitiu<br />
mesmo um comunicado a relembrar<br />
os seus consumidores.<br />
“As pessoas estão a receber<br />
uma carta pedindo-lhes para<br />
devolver o veículo aos serviços<br />
de apoio da Fiat para fazer um<br />
controlo técnico”, disse uma<br />
fonte do grupo italiano.<br />
A Fábrica Italiana de Automóveis<br />
de Turim – popularmente<br />
conhecida pelo seu acrónimo<br />
FIAT – é um conglomerado empresarial<br />
fabricante de automóveis,<br />
sediado na cidade italiana,<br />
norte da Itália. Fazem<br />
parte do Grupo FIAT, as marcas<br />
Fiat, Ferrari, Alfa Romeo, Maserati,<br />
Lancia, Autobianchi, Innocenti,<br />
entre muitas outras, e<br />
recentemente a Chrysler, a<br />
DodgeeaJeep.■<br />
O desemprego nos Estados Unidos<br />
registou em Novembro uma<br />
quedainesperadaparaos10%,<br />
um sinal positivo que leva os<br />
analistas a acreditarem que a<br />
pior recessão desde a Grande<br />
depressão dos anos 30 está a<br />
chegar ao fim. O Departamento<br />
de Trabalho norte-americano<br />
avançou que as empresas demitiramemNovembro11milpessoas,<br />
um número bem menor do<br />
que o esperado, o que fez com<br />
que o índice de desemprego<br />
passasse de 10,2% para 10%.<br />
“Há uma moderação substancial<br />
na perda de empregos”, reconheceu<br />
a secretária do Trabalho,<br />
Hilda Solis, lembrando que<br />
só em Janeiro, mês em que o Barack<br />
Obama foi empossado, foram<br />
perdidos 740 mil empregos.<br />
O próprio presidente norteamericano,<br />
que participou sexta-feira<br />
numa reunião com eleitores<br />
na Pensilvânia, reconheceu<br />
que os dados de emprego<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 33<br />
Hannibal Hanschke / Reuters<br />
6 11<br />
10<br />
SUÍÇA: POLANSKI INICIA PRISÃO DOMICILIÁRIA<br />
7 CoreiadoNorte<br />
‘Jeans’ comunistas<br />
no mercado sueco<br />
Os primeiros ‘jeans’ feitos na<br />
Coreia do Norte estão à venda<br />
desde ontem na Suécia. Com a<br />
marca Noko Jeans, as calças<br />
podem ser adquiridas em 1.100<br />
lojas suecas e na Internet por<br />
150 euros, um montante superior<br />
ao salário mensal de um cidadão<br />
do regime estalinista liderado<br />
por Kim Jong.<br />
A ideia surgiu em 2007 quando<br />
três suecos de vinte anos, Jacó<br />
Aastrom, Tor Jakob Rauden e<br />
Källstigen Ohlsson contactaram<br />
as autoridades norte-coreanas.<br />
“Após um ano de reuniões<br />
formais, finalmente fomos<br />
autorizados a entrar no país”,<br />
disse em um comunicado<br />
o trio de inexperientes da moda e<br />
do comércio internacional,<br />
que inicialmente apenas tinham<br />
curiosidade em descobrir<br />
a Coreia do Norte. Porém,<br />
as calças não poderão, nunca,<br />
serem vendidas no país de<br />
origem, porque não são aceitos<br />
no código de vestimenta<br />
do regime de Kim Jong.<br />
A produção dos dois modelos,<br />
agora à venda, só começou<br />
em meados de 2009, depois<br />
de superar todos os tipos<br />
de obstáculos, “como sendo<br />
a negada ajuda da principal fábrica<br />
de roupas na Coreia do Norte”,<br />
dizem os jovens suecos.<br />
As calças nunca poderão ser vendidas<br />
na Coreia do Norte.<br />
Depois de pagar uma caução de três milhões de euros, o realizador Roman Polanski<br />
chegou ontem ao ‘chalet’ da família, na estância suíça de Gstaad. Enquanto aguarda a<br />
decisão das autoridades suíças de ser ou não extraditado para os EUA – por um caso de<br />
alegada pedofilia ocorrida há 32 anos –, Polanski, de 73 anos,ficará em prisão domiciliária,<br />
obrigado a usar uma pulseira electrónica. O realizador de filmes, como<br />
“Chinatown” ou o “Pianista”, está sob custódia suíça desde o passado dia 26 de<br />
Setembro, quando chegou a Zurique para receber um prémio de carreira.<br />
Banco de Espanha considera fundo de Zapatero “insuficiente”.<br />
8 Espanha<br />
Governo aprova Fundo de Economia<br />
Sustentável com 20.000 milhões<br />
O Governo espanhol aprovou<br />
ontem o Fundo de Economia<br />
Sustentável, dotado de 20.000<br />
milhões de euros, que vigorará<br />
em 2010 e 2011, para as quais o<br />
Instituto de Crédito Oficial<br />
(ICO) irá fornecer 10.000 milhões<br />
de euros. A medida entra<br />
em vigor no próximo dia 1 de Janeiro.<br />
A vice-primeiro-ministro,<br />
María Teresa Fernández de<br />
la Vega, em conferência de im-<br />
Juan Medina /Reuters<br />
prensa após o Conselho de Ministros,<br />
disse que o objectivo é<br />
“orientar o investimento privado<br />
para actividades sustentáveis<br />
que gerem emprego”. As instituições<br />
de crédito podem financiar<br />
até 50% dos projectos de<br />
sustentabilidade. O directorgeraldoDepartamentodoBanco<br />
de Espanha, José Luis Malo<br />
de Molina, já declarou a medida<br />
“insuficiente”. ■<br />
9 EUA<br />
Desemprego cai<br />
para 10% em Novembro<br />
EUA<br />
Bank of América<br />
coloca acções<br />
O Bank of America, o maior<br />
banco comercial dos Estados<br />
Unidos, arrecadou 12,963 mil<br />
milhões de euros, numa<br />
operação pública de venda de<br />
activos. Esta foi a maior<br />
colocaçãodecapitalemBolsa,<br />
desde 2000. O banco vendeu o<br />
equivalente a 1,29 mil milhões<br />
de acções – ao valor de 10,08<br />
euros cada –, através de<br />
activos que serão trocados por<br />
acções. Com os fundos<br />
angariados, o Bank of America<br />
planeia pagar a dívida de<br />
30.225,8 milhões de euros, que<br />
contraiu para com o Estado<br />
norte-americano, libertando-se<br />
das restrições impostas pelo<br />
governo.<br />
“É bom para o Bank of<br />
America, é um sinal positivo e<br />
precisava de acontecer”, disse<br />
o director do Thornburg<br />
Investment Management,<br />
Jason Brady à Bloomberg.<br />
Aquele responsável adiantou,<br />
no entanto, que isso não<br />
significa necessariamente que<br />
as acções do Bank of America<br />
sejam uma “coisa maravilhosa,<br />
porque eles gastaram uma<br />
fortuna para retirar” do seu<br />
capital a intervenção estatal.<br />
Em Maio, o banco angariou<br />
9.093 milhões de euros numa<br />
colocação de capital, com as<br />
acções a serem vendidas por<br />
7,2 euros cada, com o objectivo<br />
de fortalecer os seus rácios de<br />
capital.<br />
O banco tenciona pagar os<br />
29.800 milhões de euros que<br />
recebeu no âmbito do<br />
programa de alívio de activos<br />
tóxicos criado pelo Governo<br />
dos EUA no Outono do ano<br />
passado (TARP), pois quer verse<br />
livres dos constrangimentos<br />
a que ele obriga.<br />
divulgados indicam “uma notícia<br />
encorajadora”. Trata-se de<br />
“uma boa notícia”, disse, embora<br />
tenha reconhecido que “as<br />
boas tendências não pagam aluguer”,<br />
ou seja, ainda “há muito<br />
por fazer”.<br />
Desde que começou a recessão<br />
há dois anos, a maior economia<br />
do mundo perdeu 7,3 milhões<br />
de postos de trabalho, mas Hilda<br />
Solis sustentou que o plano<br />
de reactivação económica<br />
anunciado em Fevereiro “contribuiu<br />
para criação e protecção<br />
de 1,5 milhões de empregos”. ■<br />
Taxa cai duas décimas em Novembro.
34 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
EMPRESAS<br />
Finanças pressionam<br />
accionistas para encontrar<br />
solução estável na Cimpor<br />
Há uma nova relação de forças na cimenteira. Em representação da Bipadosa, Bayão<br />
Horta é o novo homem-forte da empresa, com o apoio de Manuel Fino e da Lafarge.<br />
Nuno Miguel Silva<br />
nuno.silva@economico.pt<br />
O Ministério das Finanças está a<br />
desenvolver diversas iniciativas<br />
discretas com o objectivo de apaziguar<br />
o clima de guerrilha interna<br />
que tem lavrado no conselho<br />
de administração da Cimpor. O<br />
Diário <strong>Económico</strong> apurou junto<br />
de várias fontes conhecedoras do<br />
processo que o ministro Teixeira<br />
dos Santos tem confidenciado aos<br />
colaboradores mais próximos que<br />
segue com “muita preocupação”<br />
as movimentações em torno da<br />
estrutura accionista e da composição<br />
da comissão executiva, órgão<br />
máximo de gestão da Cimpor.<br />
Além de ser a maior empresa<br />
industrialportuguesaeamaior<br />
multinacional do País, a Cimpor é<br />
detida indirectamente pelo Estado,<br />
através da Caixa Geral de Depósitos,<br />
com uma posição equivalente<br />
a 10% do respectivo capital<br />
social. E é maioritariamente<br />
por esse canal que as angústias do<br />
Ministério das Finanças face ao<br />
futurodacimenteiraestãoaser<br />
direccionadas.<br />
O Diário <strong>Económico</strong> apurou<br />
que nos últimos conselhos de administração<br />
o ambiente tem sido<br />
bastante frio entre os diversos<br />
membros, tendo mesmo alguns<br />
administradores deixado de comunicar<br />
entre si. Uma situação<br />
que veio em crescendo desde que<br />
a Teixeira Duarte (TD) denunciou<br />
oacordoparaqueaCimporconseguisse<br />
vender a posição na empresa<br />
detida em comum, a C+PA.<br />
Ricardo Bayão Horta, o ‘chairman’<br />
da Cimpor, decidiu cortar<br />
com uma relação de forte amizade<br />
pessoal com Pedro Maria Teixeira<br />
Duarte e de aliança estratégica<br />
duradora com a construtora,<br />
principal accionista da cimenteira.<br />
E o equilíbrio de forças na<br />
Cimpor mais uma vez mudou.<br />
O efeito mais directo dessa alteração<br />
de relações de poder foi a<br />
eleição, no conselho de administração<br />
de quinta-feira, de Ricardo<br />
Bayão Horta, para presidente da<br />
comissão executiva (CEO). A favor<br />
votaram a Bipadosa, de que o<br />
CIMPOR A DESVALORIZAR<br />
As acções da Cimpor<br />
encerraram a sessão de ontem<br />
aperder0,88%para5,059<br />
euros por acção.<br />
5,5<br />
5,4<br />
5,3<br />
5,2<br />
5,1<br />
5,0<br />
04-11-2009<br />
Fonte: Bloomberg.<br />
Teixeira dos<br />
Santos, ministro<br />
das Finanças,<br />
não tem tutela<br />
directa sobre<br />
a Cimpor, mas<br />
a instabilidade<br />
na administração<br />
está a causar-lhe<br />
preocupações.<br />
Ricardo Bayão<br />
Horta, acumula<br />
desde a passada<br />
quinta-feira<br />
ocargo<br />
de ‘chairman’ com<br />
o de presidente<br />
da comissão<br />
executiva<br />
da Cimpor.<br />
04-12-2009<br />
novo homem-forte da Cimpor é<br />
representante, além do bloco formado<br />
pela Investifino, de Manuel<br />
Fino, e pelos franceses da Lafarge,<br />
maior grupo cimenteiro mundial.<br />
Teixeira Duarte perde peso<br />
Esta aliança já perdura desde a assembleia-geral<br />
da Cimpor de 13<br />
de Maio, em que estes dois accionistas<br />
fizeram frente a Pedro MariaTeixeiraDuarte,massóagora<br />
conseguiram nomear um CEO independente<br />
da construtora porque<br />
Ricardo Bayão Horta decidiu<br />
mudar de campo.<br />
Desde essa assembleia-geral<br />
que Pedro Maria tem perdido peso<br />
nas decisões da Cimpor. Deixou<br />
de ser o CEO, integrou apenas a<br />
comissão executiva como vogal,<br />
embora tenha conseguido colocar<br />
Jorge Salavessa Moura no cargo.<br />
No final de Agosto, aparentemente<br />
descontente com as decisões de<br />
gestão na comissão executiva,<br />
abandona este órgão, abrindo<br />
mais uma brecha, que foi de imediato<br />
aproveitada pelos opositores<br />
àsuaestratégia.Agora,comasaída<br />
de Salavessa Moura de CEO e<br />
da comissão executiva, e com a<br />
nova aliança entre a Bipadosa, a<br />
LafargeeaInvestifino,parecejá<br />
mandar muito pouco na Cimpor,<br />
apesar de ser o maior accionista,<br />
com uma posição de 22%.<br />
AC+PAfoiagotadeáguaque<br />
provocou mais esta batalha entre<br />
os diversos blocos accionistas representados<br />
na equipa gestora da<br />
Cimpor. Os administradores não<br />
afectos à TD foram apanhados de<br />
surpresa quando, em Julho, Pedro<br />
Maria denunciou o entendimento<br />
para que a cimenteira alienasse os<br />
seus 48% na empresa. Fino, Lafarge,<br />
Berardo e outros accionistas<br />
sempre criticaram o facto de a<br />
Cimpor ter sido arrastada para<br />
esta “aventura”, que implicou investimentos<br />
em unidades industriais<br />
concorrentes da Cimpor em<br />
mercados como a Namíbia ou a<br />
Ucrânia, além de ter provocado<br />
graves prejuízos financeiros, devido<br />
à queda das acções que a<br />
C+PA tem no BCP. É um assunto<br />
que continua por resolver. ■<br />
OS PONTOS DA DISCÓRDIA<br />
● Manuel Fino, a Lafarge<br />
e outros gestores e accionistas<br />
revoltaram-se contra o facto<br />
de a Cimpor estar a servir<br />
maioritariamente a estratégia<br />
da Teixeira Duarte.<br />
● A oposição a Pedro Maria<br />
Teixeira Duarte obrigou-o<br />
a abandonar o cargo de<br />
presidente da comissão executiva<br />
da Cimpor, na assembleia-geral<br />
de 13 de Maio passado, em nome<br />
de uma gestão mais profissional<br />
e independente na cimenteira.<br />
● Jorge Salavessa Moura foi<br />
a solução de consenso entre os<br />
diversos blocos accionistas para<br />
ocupar o cargo de CEO. Já depois<br />
de Pedro Maria ter abandonado<br />
a comissão executiva da Cimpor,<br />
em final de Agosto, vários blocos<br />
accionistas consideraram<br />
que a sua gestão não era<br />
suficientemente independente<br />
em relação à construtora.<br />
Foi substituído por Bayão Horta<br />
e regressou ao cargo de vogal<br />
do conselho de administração.<br />
Pedro Maria Teixeira Duarte<br />
está a perder poder no conselho<br />
de administração da Cimpor.<br />
Três meses<br />
Nuno Miguel Silva<br />
nuno.silva@economico.pt<br />
A Caixa Geral de Depósitos saiu<br />
novamente derrotada na batalha<br />
que esta semana se desenrolou<br />
nos comandos da Cimpor. Jorge<br />
Tomé, nomeado para a administração<br />
da cimenteira pelo banco<br />
estatal, votou contra a nomeação<br />
de Ricardo Bayão Horta como<br />
presidente da comissão executiva<br />
da empresa, tendo ficado ao lado<br />
da construtora Teixeira Duarte<br />
neste mais recente contar de espingardas<br />
na Cimpor.<br />
Mas, esta sintonia de posições<br />
é apenas aparente. Porque a CGD<br />
quer tentar uma solução de consensoeporquetambémdefende<br />
uma gestão independente o mais<br />
profissionalizada possível, evi-
Galp encaixa 46 milhões com venda à Gestmin<br />
A Galp Energia concluiu o processo de venda à Gestmnin - holding de<br />
Manuel Champalimaud - de alguns activos anteriormente controlados<br />
pela ExxonMobil, anunciou a petrolífera em comunicado à CMVM. Com<br />
esta operação, a empresa liderada por Ferreira de Oliveira encaixou um<br />
total de 46 milhões de euros. A venda “visou dar cumprimento aos<br />
compromissos assumidos pela Galp Energia perante a Comissão<br />
Europeia, no final de 2008”, refere o comunicado.<br />
para a CGD propor nome consensual<br />
Faria de Oliveira,<br />
presidente da CGD,<br />
está a tentar<br />
transmitir<br />
as sensibilidades<br />
do Governo<br />
e estimular<br />
um ambiente<br />
de pacificação<br />
na Cimpor.<br />
tandooclimadeguerrilhaquese<br />
tem vivido nos últimos meses.<br />
Mas, como a Caixa não conseguiu<br />
apresentar um nome alternativo<br />
credível, só lhe restou votar<br />
contra, porque, no seu entender,<br />
não é benéfico que o ‘chairman’<br />
acumule essas funções com<br />
as de administrador executivo,<br />
aliás, como o próprio governo das<br />
sociedades cotadas recomenda.<br />
A CGD, em coordenação com<br />
o Governo, designadamente com<br />
o Ministério das Finanças, tem<br />
agora pouco mais de três meses<br />
para encontrar e apresentar um<br />
nome que mobilize uma plataforma<br />
alargada de apoio entre os diversos<br />
blocos accionistas da<br />
Cimpor.<br />
A próxima assembleia-geral<br />
da empresa, para aprovação das<br />
contas anuais, deverá ocorrer entre<br />
final de Março e início de<br />
Maio, mas não tem poderes electivos.<br />
Qualquer substituição ou<br />
alteração da composição dos órgãos<br />
sociais da empresa, incluindo<br />
o conselho de administração e<br />
acomissãoexecutiva,terádeser<br />
feita por cooptação proposta pelos<br />
actuais administradores.<br />
Em tempos, foram ventilados<br />
os nomes de António Viana Baptista<br />
e Francisco Lacerda como os<br />
preferidos de diversos accionistas<br />
paracomandarosdestinosda<br />
Cimpor e poderão se essas as<br />
mais prováveis alternativas se<br />
neste período que vai decorrer<br />
até à próxima assembleia-geral<br />
Ricardo Bayão Horta não conseguir<br />
convencer a maioria dos accionistas<br />
da cimenteira. ■<br />
ESTRUTURA ACCIONISTA<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 35<br />
Bruno Barbosa<br />
A Teixeira Duarte é a maior<br />
accionista da Cimpor, seguida<br />
da francesa Lafarge.<br />
Outros<br />
Teixeira Duarte<br />
29,8 22,9<br />
10<br />
CGD<br />
10<br />
Fino<br />
Fonte: Bloomberg.<br />
Lafarge<br />
17,3<br />
10<br />
F. Pensoes BCP<br />
CRONOLOGIA DO GRUPO<br />
2001<br />
O Governo vende à Teixeira<br />
Duarte a última tranche de<br />
privatização da Cimpor . Pedro<br />
Queiroz, concorrente preterido<br />
através da Secil, reclama para os<br />
tribunais e acusa a Teixeira<br />
Duarte de actuar em concertação<br />
comoBCPeaLafarge.Essas<br />
acusações nunca foram provadas.<br />
2008<br />
Na sequência da guerra no BCP,<br />
verifica-se um realinhamento de<br />
blocos accionistas na Cimpor .<br />
Manuel Fino passa a entender-se<br />
com os franceses da Large, em<br />
oposição a Pedro Maria. As<br />
acções do empresário são dadas<br />
como garantia à CGD, que passa a<br />
serumnovoaccionistade<br />
referência da cimenteira.<br />
13/05/2009<br />
Após meses de movimentações<br />
nos bastidores, a assembleia<br />
geral de 13 de Maio demora até<br />
chegar a uma lista de consenso<br />
para a administração da Cimpor<br />
entre 2009 e 2012. No final,<br />
ganha Pedro Maria, conseguindo<br />
nomear oito membros afectos à<br />
sua linha de actuação, num total<br />
de 15 administradores. Além<br />
disso, mantém o cargo de<br />
presidente da comissão executiva<br />
da empresa.<br />
27/08/2009<br />
Inesperadamente, Pedro Maria<br />
Teixeira Duarte anuncia ao<br />
mercado o abandono das funções<br />
de presidente da comissão<br />
executiva da Cimpor , alegando<br />
razões “profissionais”. A relações<br />
de forças passa a ter uma outra<br />
configuração e percebe-se que<br />
nos bastidores a guerra entre os<br />
dois blocos continua a fervilhar. A<br />
vaga é preenchida por Pedro<br />
Abecassis Empis, um gestor<br />
próximo de Manuel Fino.<br />
03/12/2009<br />
O conselho de administração<br />
depõe o presidente-executivo,<br />
Jorge Salavessa Moura,<br />
substituindo-o pelo ‘chairman’<br />
Bayão Horta.
36 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
EMPRESAS<br />
Nissan investe 250<br />
milhões em fábrica<br />
de baterias em Aveiro<br />
O grupo franco-japonês escolheu a cidade para a fábrica de<br />
baterias para carros eléctricos que vai criar 200 empregos.<br />
Ana Maria Gonçalves<br />
ana.goncalves@economico.pt<br />
A Renault-Nissan já decidiu.<br />
Aveiro será a região onde ficará<br />
instalada a futura fábrica de baterias<br />
para carros eléctricos, um investimento<br />
de 250 milhões de eurosqueéumdospilaresestratégicos<br />
do projecto-piloto que visa à<br />
criação de uma rede de abastecimento<br />
para este tipo de veículos.<br />
A escolha será tornada pública<br />
na próxima terça-feira, numa cerimónia,<br />
com pompa e circunstância,<br />
a realizar em Lisboa e que<br />
conta com a presença do próprio<br />
Carlos Ghosn, presidente da<br />
construtora automóvel franconipónica,<br />
e do chefe do Executivo,<br />
José Sócrates.<br />
Portugal foi, a par do Reino<br />
Unido, um dos dois pólos mundiais<br />
seleccionados pela Reunault-Nissan<br />
para a instalação de<br />
unidades de baterias de iões de lítio<br />
– uma tecnologia de ponta –<br />
destinadas ao abastecimento dos<br />
futuros carros eléctricos. A nova<br />
fábrica da Renault-Nissan deverá<br />
criar 200 postos de trabalho, estando<br />
o seu arranque previsto<br />
para 2012. A capacidade estimada<br />
deste complexo industrial é de 60<br />
mil unidades anuais.<br />
AopçãoporAveiro,emdetrimento<br />
de Sines, ficou a dever-se à<br />
proximidade de outra fábrica do<br />
grupo Renault-Nissan e às sinergias<br />
daí decorrentes, além da rede<br />
de acessos rodo-ferroviários.<br />
A Companhia Aveirense de<br />
Componentes para a Indústria<br />
Automóvel (CACIA), com quase<br />
três décadas de existência, fornece<br />
exclusivamente fábricas no estrangeiro<br />
da aliança Renault-Nissaneéactualmenteasegunda<br />
maior unidade industrial do sector<br />
automóvel em território nacional,<br />
com um volume de negócios<br />
de 260 milhões e 1.100 trabalhadores.<br />
A Renault estava, no final<br />
do ano passado a negociar<br />
com a AICEP um pacote de incentivos<br />
para um investimento de<br />
cerca de 13 milhões de euros em<br />
CACIA, onde já produz componentes<br />
para caixas de velocidade e<br />
partes de bombas de óleo.<br />
Projecto âncora<br />
Apontado como um investimento<br />
âncora, a nova fábrica de<br />
baterias promete ser um pólo de<br />
atracção para outros projectos<br />
nesta área de negócios.<br />
Carlos Ghosn<br />
CEO da aliança<br />
Renault Nissan<br />
A Renault Nissan estava<br />
dividida entre Sines e Aveiro<br />
para a instalação da fábrica de<br />
baterias para carros eléctricos,<br />
mas a cidade do Vouga acabou<br />
por levar a melhor.<br />
PALAVRA-CHAVE<br />
✽<br />
Leaf<br />
É o nome da primeira viatura<br />
eléctrica que será comercializada<br />
pela Nissan, a partir de 2010.<br />
Totalmente neutro para o<br />
ambiente, não tem escape, nem<br />
nenhum mecanismo que queime<br />
gasolina, apenas baterias de iões<br />
de lítio. Promete uma autonomia<br />
de 160 quilómetros, sem<br />
necessitar de carregamento.<br />
Em Junho passado, foi lançada<br />
aredenacionaldecarregamento<br />
para veículos eléctricos (Mobi-E),<br />
que prevê 320 locais de abastecimento<br />
de carros eléctricos em<br />
2010 e 1300, dentro de dois anos.<br />
O projecto arranca com 21 cidades<br />
e algumas das organizações<br />
e empresas de referência<br />
nacional, como a Inteli, Centro<br />
para a Excelência e Inovação da<br />
Indústria Automóvel, EDP Inovação,<br />
Efacec, Novabase, Critical<br />
Software.<br />
A intenção da Renault-Nissan<br />
é criar dentro do país um mercado<br />
de carros movidos a electricidade<br />
que servirá de rampa de lançamento<br />
para o resto do mundo.<br />
Mas muito está ainda por fazer.<br />
O Governo só esta semana<br />
deu mais um passo decisivo para<br />
agilizar este projecto. Deu luz<br />
verde à regulamentação, acesso<br />
e exercício das actividades relativas<br />
à mobilidade eléctrica, estabelecendo,<br />
igualmente, as regras<br />
destinadas à criação de uma<br />
rede piloto para a mobilidade<br />
eléctrica, tendo em vista a introdução<br />
e massificação deste<br />
tipo de carros.<br />
O diploma posiciona Portugal<br />
como pioneiro na adopção de<br />
novos modelos para a mobilidade,<br />
sustentáveis do ponto de vista<br />
ambiental, que optimizem a<br />
utilização racional de energia<br />
eléctrica e que aproveitem as<br />
vantagens da energia produzida<br />
a partir de fontes renováveis.<br />
Esta rede vai permitir a qualquer<br />
cidadão ou empresa utilizar<br />
o seu veículo eléctrico e carregá-lo<br />
em qualquer ponto da<br />
rede de carregamento no País,<br />
utilizando um cartão de carregamento,<br />
que incluirá soluções<br />
de pré-pagamento.<br />
O novo Decreto-Lei cria,<br />
ainda, um subsídio de cinco mil<br />
euros à aquisição, por particulares,<br />
de veículos automóveis<br />
eléctricos, o qual poderá atingir<br />
os 6.500 euros no caso de haver<br />
simultaneamente abate de veículo<br />
automóvel de combustão<br />
interna, sujeito às condições actualmente<br />
vigentes em matéria<br />
de abate de veículos.<br />
O Governo prevê, também,<br />
adoptar outras medidas nesta<br />
área, como a fixação de majoração<br />
de custo em sede de IRC, em<br />
aquisições de frotas de veículos<br />
eléctricos pelas empresas, em<br />
termos a definir. ■<br />
A estratégia<br />
da Renault-Nissan<br />
passa pela aposta nos<br />
veículos eléctricos.<br />
TRÊS PERGUNTAS A...<br />
FERREIRA NUNES<br />
Presidente da ANECRA<br />
“Ainda há muitos<br />
obstáculos<br />
aultrapassar”<br />
O desafio está lançado. E a ANE-<br />
CRA - Associação Nacional das<br />
Empresas de Comércio e Reparação<br />
Automóvel, que representa<br />
as oficinas e stands, através<br />
do seu presidente, Ferreira Nunes,<br />
garante ao <strong>Económico</strong> que<br />
o sector está preparado para<br />
responder ao novo projecto do<br />
carro eléctrico.<br />
Como é que a ANECRA<br />
encaraoprojectodocarro<br />
eléctrico?<br />
Está a manifestar-se como uma<br />
corrida entre construtores<br />
automóveis, em termos de<br />
investimento e
desenvolvimento, numa<br />
perspectiva de obterem ganhos<br />
de massa crítica no que se<br />
refere a questões<br />
concorrenciais e de mercado.<br />
Porenquanto,oprojectodo<br />
carro eléctrico será parte de<br />
um ‘mix’ de propulsores nos<br />
automóveis e acompanham<br />
várias alternativas à gasolina e<br />
ao diesel, onde se conta<br />
também o hidrogéneo, o ar<br />
comprimido, o GPL (gás de<br />
petróleo liquefeito) e o GNC<br />
(gás natural comprimido), bem<br />
com os híbridos.<br />
Para os carros eléctricos ainda<br />
há muitos obstáculos a<br />
ultrapassar, com destaque para<br />
o fabrico de baterias, a par da<br />
autonomia que é muito<br />
limitada. O terceiro ponto<br />
prende-se com a rede de<br />
abastecimento.<br />
Fica por interpretar quais são<br />
as vontades dos consumidores,<br />
enquanto houver soluções,<br />
sobretudo no diesel, face às<br />
quais as soluções eléctricas não<br />
são vencedoras.<br />
Osectordocomércioe<br />
reparação automóvel está<br />
preparado para responder a<br />
este desafio?<br />
Sobre a rede de distribuição<br />
automóvel não há qualquer<br />
Jacky Naegelen/Reuters<br />
problema para os operadores,<br />
dado que, além da formação<br />
específica dos produtos, os<br />
carros eléctricos poderão ser<br />
distribuídos-vendidos da mesma<br />
forma como hoje acontece com<br />
os modelos híbridos e os outros<br />
produtos no mercado.<br />
O que será necessário fazer<br />
adicionalmente?<br />
Para além da necessidade de<br />
conhecimento e formação<br />
específica para os produtos que<br />
surgirem no mercado, não<br />
parece ser díficil aproveitar as<br />
redes de distribuição existentes<br />
ou criar outras similares. ■<br />
O carro eléctrico promete alterar<br />
o quotidiano e os hábitos de<br />
consumo dos portugueses.<br />
Hermínia Saraiva<br />
herminia.saraiva@economico.pt<br />
O que salta à vista são as vantagens<br />
para o meio ambiente, mas<br />
os carros eléctricos também trazem<br />
benefícios para o bolso dos<br />
consumidores.<br />
1<br />
QUANDO ESTARÃO DISPONÍ-<br />
VEIS OS PRIMEIROS CARROS?<br />
A Mitsubishi promete ter os primeiros<br />
carros nas ruas japonesas<br />
em Abril de 2010. Na Europa, incluindo<br />
Portugal, o i-MiEV chegará<br />
alguns meses depois. Já o<br />
carro da Renault Nissan - grupo<br />
que vai construir uma fábrica de<br />
baterias em Aveiro - deve estar à<br />
venda em Portugal na Primavera<br />
de 2011.<br />
2<br />
QUANTO VAI CUSTAR UM CAR-<br />
RO ELÉCTRICO ?<br />
A Mitsubishi já disse que o i-MiEV<br />
custará cerca de 32.600 euros<br />
(4.380 mil ienes). A Renault Nissan<br />
ainda não definiu um preço,<br />
mas diz que deverá rondar entre<br />
20 mil a 30 mil euros, semelhante<br />
aos carros familiares.<br />
3<br />
QUANTO CUSTARÁ O CARREGA-<br />
MENTO DAS BATERIAS?<br />
O carro eléctrico irá gastar em<br />
média pouco mais de um euro por<br />
cada 100 quilómetros. A este valor<br />
há que adicionar as taxas de serviço<br />
que serão criadas. As contas<br />
partem de um consumo de 10 a 15<br />
kw/h a uma tarifa de 11 cêntimos<br />
por kilowatt, tal como é hoje paga<br />
pelos consumidores domésticos.<br />
Para fazer o mesmo percurso e<br />
partindo de um consumo de sete<br />
litros por cada 100 quilómetros,<br />
um carro a gasolina irá gastar cercaoitoanoveeuros.<br />
4<br />
QUANTO TEMPO DEMORA<br />
A CARREGAR UMA BATERIA<br />
ELÉCTRICA?<br />
Existem dois tipo de carregamentos<br />
- lento [casa] e rápido [rua],<br />
mas tempo de carregamento irá<br />
sempre de acordo com o modelo.<br />
TantonocasodaNissan,comoda<br />
Mitsubishi , o carregamento total<br />
da bateria demorará entre seis a<br />
oito horas em casa. O utilizador<br />
pode sempre optar por carregar<br />
apenas 80% da bateria o que levarácercade30minutos.Seestá<br />
com pressa, o condutor pode trocar<br />
de bateria nos locais de abastecimento.<br />
Uma operação que<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 37<br />
Oito coisas<br />
que precisa<br />
de saber sobre<br />
carros eléctricos<br />
deve demorar cerca de quatro minutos.<br />
5<br />
QUAIS OS BENEFÍCIOS FISCAIS<br />
NA COMPRA DE UM CARRO<br />
ELÉCTRICO ?<br />
Será criado um sistema de benefícios<br />
fiscais específico para os veículos<br />
eléctricos. Para já, particulares<br />
e empresas terão acesso às<br />
mesmas regalias que já são atribuídas<br />
aos híbridos. Os automobilistas<br />
podem deduzir em sede<br />
de IRS até 796 euros do montante<br />
gasto, enquanto que para as empresas<br />
está contemplado uma dedução<br />
de 30%.<br />
6<br />
QUANTO PESAM AS BATERIAS<br />
ELÉCTRICAS?<br />
No caso das baterias fabricadas<br />
pela NEC (parceira da Nissan neste<br />
projecto) e que serão utilizadas<br />
nos carros da Nissan pesam 25O<br />
quilos.<br />
7<br />
QUAL A VELOCIDADE MÁXIMA<br />
QUE O CARRO ATINGE?<br />
No caso do carro eléctrico da Nissan,<br />
poderá atingir uma velocidade<br />
máxima de 145 km/hora.<br />
8<br />
QUANTO TEMPO DEMORA UMA<br />
VIAGEM DE LISBOA AO PORTO?<br />
Ir de Lisboa ao Porto irá demorar<br />
sensivelmente três horas, o<br />
mesmo que se fosse num carro<br />
tradicional. No entanto, como a<br />
autonomia do carro eléctrico é<br />
de 160 quilómetros é preciso<br />
efectuar uma paragem nos postos<br />
de abastecimento de 30 minutos<br />
que permitirá carregar a<br />
bateria a 100%. Segundo o INE,<br />
95% dos condutores portuguesesfazempordiamenosde45<br />
km. ■ com S.P.M. e A.M.G.<br />
Carlos Zorrinho,<br />
secretário de<br />
Estado da Energia<br />
e Inovação, herdou<br />
do seu antecessor<br />
oprojectode<br />
criação de uma<br />
rede para o<br />
abastecimento<br />
eléctrico.
38 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
EMPRESAS<br />
O presidente<br />
da Associação<br />
Nacional<br />
de Farmácias,<br />
João Cordeiro.<br />
Concorrência questiona controlo da<br />
Glintt pela Associação de Farmácias<br />
Queixas levaram Autoridade da Concorrência a obrigar a Farminvest a notificar a operação de fusão.<br />
Hermínia Saraiva<br />
herminia.saraiva@economico.pt<br />
Ano e meio depois de concretizada,<br />
a fusão da Consiste – da<br />
Associação Nacional de Farmácias<br />
– com a Pararede pode voltar<br />
à estaca zero. “Uma queixa<br />
de terceiros” levou a Autoridade<br />
da Concorrência (AdC) a obrigar<br />
à notificação oficiosa da operação,<br />
deixando o futuro da empresa<br />
em aberto.<br />
A notificação oficiosa, confirmada<br />
ontem no site da AdC,<br />
surge depois de, ao que o <strong>Económico</strong><br />
apurou, o regulador ter<br />
recebido queixas que chamaram<br />
a atenção para a operação. Contactada<br />
pelo <strong>Económico</strong>, a AdC<br />
recusou comentar esta situação.<br />
Agora, a operação de concentração<br />
segue os trâmites<br />
normais podendo ter um de três<br />
desfechos: a Concorrência<br />
aprova a fusão, aprova mas impôe<br />
remédios ou chumba a operação.<br />
“Num cenário teórico, a<br />
AdC pode ordenar a anulação da<br />
fusão, o que obrigaria a repor a<br />
situação inicial e levar à nulida-<br />
de de todos os actos jurídicos<br />
realizados pela nova empresa”,<br />
diz um advogado especialista<br />
em concorrência contactado<br />
pelo <strong>Económico</strong>.<br />
A Lei da Concorrência diz<br />
que devem ser notificadas à AdC<br />
todas as operações que criem ou<br />
reforcem uma posição de mercado<br />
superior a 30% ou, em al-<br />
A Glint, presidida<br />
por Fernando Costa<br />
Freire, tem como<br />
principal accionista<br />
a Farminveste,<br />
holding que<br />
concentra as<br />
participações<br />
empresarias da<br />
ANF.<br />
ternativa, as operações em que o<br />
volume de negócios conjunto,<br />
realizado no mercado nacional,<br />
de duas das empresas envolvidas<br />
seja superior a 150 milhões<br />
de euros. A Associação Nacional<br />
de Farmácias, que controlava a<br />
Consiste, e a Pararede terão<br />
considerado que nenhum destes<br />
critérios era aplicável.<br />
“Provavelmente as empresas<br />
estariam convencidas que não<br />
precisariam de fazer a notificação”,<br />
diz Pedro Pitta Barros,<br />
professor universitário. Além de<br />
que, acrescenta este especialista<br />
em matérias de concorrência,<br />
“são relativamente raros os casos<br />
em que não há notificação.<br />
As empresas preferem errar ao<br />
notificar uma operação que não<br />
o exigia do que falhar a notificação<br />
e ser sujeitas às consequências”.<br />
Além de ver a fusão posta<br />
em causa, a Glintt pode ainda<br />
ser obrigada a, de acordo com a<br />
lei da Concorrência, pagar à<br />
Adcumamultade1%dovolume<br />
de negócios de 2008 – 4,2<br />
milhões de euros.<br />
As acções da Glintt foram<br />
ontem suspensas na Euronext<br />
Lisboa, depois da AdC ter publicado<br />
um anúncio em que dava a<br />
conhecer o facto da Farminveste<br />
ter notificado o regulador sobre<br />
a “aquisição do controlo exclusivo<br />
sobre a Glintt”. A Comissão<br />
de Mercado de Valores<br />
Mobiliários decidiu então suspender<br />
as acções até que a Glintt<br />
esclarecesse o mercado, apesar<br />
da empresa ter já informado a 10<br />
de Novembro que a AdC tinha<br />
solicitado à Farminvest que<br />
procedesse “à notificação da<br />
operação de fusão da Consiste<br />
na Pararede, por entender que<br />
essa notificação é obrigatória”.<br />
A Glintt é o resultado da fusão<br />
da Pararede com a Consiste,<br />
empresa que era controlada esclusivamente<br />
pela Farminveste,<br />
holdingqueconcentraegereas<br />
participações do universo empresarial<br />
da Associação Nacional<br />
de Farmácias. Depois da fusão<br />
e de um aumento de capital<br />
concretizado por via da emissão<br />
de acções, a Farminveste passou<br />
a deter, 49,8% do capital da<br />
nova empresa. ■<br />
ACCIONISTAS<br />
Paulo Figueiredo<br />
A Farminvest da ANF controla<br />
a maioria do capital da Glintt.<br />
Empresa % de Capital<br />
Farminveste 49,83<br />
José Ribeiro Gomes 2,98<br />
UBS 2,05<br />
BPI 2,03<br />
Free float<br />
Fonte: Glintt<br />
43,11
40 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
EMPRESAS<br />
Saiba como as estratégias<br />
desportivas afectam<br />
as contas das SAD<br />
Benfica, FC Porto e Sporting têm diferentes estratégias no ataque ao campeonato<br />
nacional. Opções desportivas que se reflectem nas contas das SAD dos três clubes.<br />
Hugo Real<br />
hugo.real@economico.pt<br />
Os “três grandes” do futebol<br />
português seguiram, ao longo<br />
dos últimos anos, diferentes estratégias<br />
desportivas. E essas opções<br />
refelctem-se cada vez mais<br />
nas contas das SAD dos clubes.<br />
O FC Porto tem optado pela<br />
compra de jovens jogadores,<br />
apostando na sua valorização,<br />
através da presença em provas<br />
como a Liga dos Campeões, para<br />
realizar mais valias posteriores.<br />
FoiocasodeLisandroLópez,<br />
Lucho González e Cissokho,<br />
transaccionados este Verão e que<br />
permitiram ao clube um encaixe<br />
próximo dos 60 milhões de euros.<br />
Valor que permitiu ao clube<br />
encerrar este trimestre com um<br />
lucro de 23,5 milhões de euros,<br />
sendo o único dos três com um<br />
resultado positivo. Além disso as<br />
vendas serviram para reforçar os<br />
capitais próprios e retirar o clube<br />
da situação de falência técnica<br />
(ver caixa).<br />
Ao contrário do clube da cidade<br />
Invicta, o Benfica tem optado<br />
pela manutenção dos seus jogadores,<br />
não realizando grandes<br />
encaixes com transferências.<br />
Pelo contrário, tem investido<br />
mais de 20 milhões de euros por<br />
ano em aquisições, como foi o<br />
caso de Saviola, Ramires e Javi<br />
Garcia. Com esta estratégia, os<br />
resultados do clube têm sido<br />
afectados. Ou seja, A SAD registou<br />
um prejuízo de 6,1 milhões<br />
de euros no trimestre, tendo<br />
agravado a situação dos capitais<br />
próprios, que agora se encontram<br />
negativos em 17,9 milhões.<br />
Já o Sporting tem apostado<br />
tudo na formação, com a incorporação<br />
de jovens atletas da aca-<br />
demia na equipa principal de futebol.<br />
Com esta estratégia, as<br />
aquisições ou vendas têm sido<br />
praticamente nulas nos últimos<br />
anos. Sem estas mais valias o<br />
clube tem fechado as contas no<br />
vermelho. Por exemplo, no último<br />
trimestre, a SAD teve um<br />
prejuízo de 2,4 milhões.<br />
As mais valias são, de resto,<br />
essenciais para o equilíbrio financeiro<br />
dos clubes. Esteéocaso<br />
do FC Porto. Apesar de ser o únicodostrêscomlucros,esseresultado<br />
deve-se à s mais valias.<br />
Isto porque o clube da Invicta é<br />
também o único com proveitos<br />
operacionais inferiores aos cus-<br />
AS ESTRATÉGIAS<br />
● FC Porto tem apostado na<br />
contratação de jovens<br />
promessas. O objectivo é a<br />
valorização dos atletas para<br />
posterior realização de mais<br />
valias.<br />
● Nas últimas épocas o Benfica<br />
optou por não vender os<br />
principais jogadores, investindo<br />
ainda cerca de 20 milhões por<br />
ano na compra de jogadores de<br />
renome, como Aimar e Saviola.<br />
● A estratégia do Sporting passa<br />
pela incorporação na equipa<br />
principal do jogadores da sua<br />
Academia. Nas últimas épocas,<br />
há poucas compras e vendas de<br />
relevo a registar.<br />
tos operacionais. O clube fechou<br />
o primeiro trimestre desta época<br />
com 14,5 milhões de receitas<br />
(um crescimento de 22,9%), insuficiente<br />
para cobrir os custos<br />
de 16,1 milhões, que aumentaram<br />
1,9%.<br />
JáoBenficaéoclubemais<br />
“saudável” neste capítulo. Isto<br />
porque é a equipa que gera mais<br />
receitas operacionais, 15,7 milhões<br />
(um crescimento de<br />
19,8%), além de ter custos inferiores<br />
ao do rival nortenho. No<br />
total, os custos do Benfica atingiram<br />
os 14,2 milhões. A situação<br />
mais equilibradaéadoSporting,<br />
que neste trimestre obteve 11 milhões<br />
em receitas (queda de<br />
21,4%) e gastou 10,1 milhões.<br />
No entanto, não se pode dissociar<br />
a performance desportiva<br />
das receitas. Isto porque uma fatia<br />
importante dos proveitos dos<br />
clubes advém das receitas de bilheteira,<br />
pagamento de quotas e,<br />
em grande parte, dos prémios de<br />
participação em provas europeias.<br />
A queda de receitas do<br />
Sporting, por exemplo, é explicada<br />
em grande parte pela ausência<br />
do clube da fase de grupos<br />
da Liga dos Campeões.<br />
Comtrêsmodelosdistintose<br />
com as conhecidas dificuldades<br />
financeiras dos clubes nacionais,<br />
está ainda por provar qual a melhor<br />
estratégia. Entretanto, não<br />
se pode esquecer que o passivo<br />
conjunto dos três grandes é já de<br />
515 milhões de euros. E isto falando<br />
apenas dos números das<br />
SAD.Asomadopassivodosclubes<br />
ao das SAD pode atirar este<br />
valor para perto dos 800 milhões<br />
de euros, aproximadamente o<br />
mesmo valor que o Estado português<br />
pagou pela construção da<br />
ponte Vasco da Gama.■<br />
ANÁLISE RUI OLIVEIRA E COSTA, PRESIDENTE DA EUROSONDAGEM E ADEPTO DO SPORTING<br />
Futebol português tem passivo de mil milhões<br />
Os números conhecidos esta semana<br />
não surpreendem quem<br />
acompanha a actividade do futebol.<br />
O FC Porto tem os melhores<br />
resultados, devido às receitas<br />
provenientes da venda de direitos<br />
desportivos, uma área onde tem<br />
tido bons resultados. Já o Sporting<br />
não teve estas receitas, o que<br />
explica o resultado negativo. O<br />
mesmo acontece com o Benfica,<br />
que sofre também as consequências<br />
de estar fora da Liga dos<br />
Campeões há várias épocas.<br />
No entanto, é preciso ver que<br />
os números que são públicos dizemrespeitoapenasàsSADenão<br />
reflectem o passivo dos clubes.<br />
Para se ter uma ideia, o passivo<br />
do Benfica é superior a 400 milhões<br />
de euros e os do Sporting e<br />
do Porto são superiores a 200<br />
milhões. E se aos três grandes se<br />
juntar os restantes clubes, vemos<br />
que o passivo do futebol português<br />
é de cerca de mil milhões de<br />
euros. É um passivo assente num<br />
PALAVRA-CHAVE<br />
✽<br />
Falência técnica<br />
Com a realização de mais-valias<br />
com as transferências, o FC Porto<br />
aumentou os capitais próprios para<br />
46,2 milhões de euros e voltou a<br />
cumprir o artigo 35º do Código das<br />
Sociedades Comerciais, que obriga<br />
a que os capitais próprios sejam<br />
superiores a metade do capital<br />
social. Para estar em cumprimento<br />
com este artigo, a SAD do Benfica<br />
necessita de 55,4 milhões de<br />
euros, enquanto que a SAD do<br />
Sporting precisa de 39,4 milhões.<br />
Para corrigir esta situação, o<br />
Benfica anunciou que pretende<br />
aumentar o capital da SAD até 40<br />
milhões de euros através da fusão<br />
com a Benfica Estádio. Já o<br />
Sporting aprovou a transferência<br />
da Sporting Comércio e Serviços<br />
paraaSAD.<br />
barril de pólvora, já que esta é<br />
uma actividade deficitária, em<br />
Portugal e na maioria dos clubes<br />
estrangeiros. Por cá, com o mercado<br />
que temos, o prejuízo é uma<br />
constante e só se consegue equilibrar<br />
as contas com a venda de<br />
activos ou uma boa campanha na<br />
Liga dos Campeões. ■
FC PORTO<br />
A venda de jogadores<br />
permitiu ao FC Porto<br />
aumentar os lucros.<br />
1º tri 2008 1ºtri 2009<br />
Receitas 11,8 14,5 22,9%<br />
Resultado Liquido 6,8 23,5 245,6%<br />
Capitais próprios 24,5 46,2 88,6%<br />
BENFICA<br />
A estratégia de comprar<br />
e não vender agravou<br />
os resultados do Benfica.<br />
Nacho Doce/Reuters<br />
1º tri 2008 1ºtri 2009<br />
Receitas 13,1 15,7 19,8%<br />
ResultadoLiquido -2 -6,1 205,0%<br />
Capitais próprios -11,8 -17,9 51,7%<br />
SPORTING<br />
Aausênciadafasedegrupos<br />
da Liga dos Campeões fez<br />
cair os proveitos do Sporting.<br />
1º tri 2008 1ºtri 2009<br />
Receitas 14 11 -21,4%<br />
Resultado Liquido 0,016 -2,4 -15100,0%<br />
Capitais próprios -2,6 -18,4 607,7%<br />
Fernando Gomes assume que as<br />
receitas tradicionais têm pouca<br />
elasticidade. Segredo está nas<br />
vendas e na Liga dos Campeões.<br />
Hugo Real<br />
hugo.real@economico.pt<br />
O FC Porto assumiu uma estratégia<br />
financeira diferente da dos<br />
seus concorrentes, apostando na<br />
realização de mais-valias com<br />
transacções de jogadores para<br />
alcançar resultados positivos,<br />
explica Fernando Gomes, administrador<br />
da SAD, em entrevista<br />
por email.<br />
Qual o impacto desta estratégia<br />
nas receitas do clube?<br />
É verdade que os resultados operacionais,<br />
excluindo transacções<br />
de passes de jogadores, foram negativos.<br />
Na nossa actividade, as<br />
transacções de jogadores são proveitos<br />
operacionais, uma vez que<br />
a SAD engloba, regularmente, um<br />
valor significativo nesta rubrica.<br />
A FCPorto SAD assumiu a estratégia<br />
de estar neste negócio com alguma<br />
dose de risco, para criar<br />
equipas competitivas e estar a um<br />
nível elevado nos contextos nacional<br />
e europeu. Isto é impossível<br />
de conseguir com custos reduzidos!<br />
Temos a segurança de estar<br />
sempre na alta roda europeia, obtendo<br />
de forma directa as receitas<br />
da prova e valorizando os nossos<br />
activos, o que permite gerar as<br />
mais valias necessárias para colmatar<br />
os défices de exploração.<br />
Oquepodeserfeitoparaaumentar<br />
os proveitos operacionais?<br />
A estrutura de proveitos é constituída<br />
pelas receitas tradicionais<br />
[bilheteira, televisão, publicidade<br />
e sponsorização] e pelas receitas<br />
da participação na Liga dos<br />
Campeões. Após o início da utilização<br />
do Estádio do Dragão, as<br />
receitas tradicionais têm-se<br />
mantido estabilizadas. As receitas<br />
televisivas e de sponsorização<br />
assentam em contratos de médio/longo<br />
prazo, pelo que são relativamente<br />
estáveis, logo a obtenção<br />
de volumes de negócios<br />
superiores têm de passar pelas receitas<br />
da Liga dos Campeões e<br />
pela transferência de jogadores.<br />
Apesar da elasticidade das receitas<br />
ser extremamente reduzida, a<br />
SAD soube maximizar as receitas<br />
ao longo das últimas épocas.<br />
O facto dos proveitos<br />
operacionais serem inferiores aos<br />
custos é uma situação que<br />
preocupa a SAD do FC Porto?<br />
Essa é uma falsa questão. Obtivemos<br />
resultados operacionais positivos<br />
de 24,6M€! Quando se diz<br />
que os proveitos operacionais são<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 41<br />
ENTREVISTA FERNANDO GOMES admnistrador da FCPorto SAD<br />
“Estamos neste<br />
negócio com uma<br />
dose de risco”<br />
inferiores aos custos, não se está a<br />
considerar as transacções de jogadores,<br />
que são uma consequência<br />
da boa performance desportiva,<br />
pelo que, reforço, não a pretendemos<br />
evitar. No entanto,<br />
como foi já referido, esta é uma<br />
gestão que engloba algum risco.<br />
Dada a dificuldade de aumentar<br />
as receitas ‘tradicionais’, resta<br />
tentar controlar os custos. A administração<br />
tem-se empenhado<br />
numa maior eficiência no mercado<br />
de transferências, através da<br />
aposta em jogadores jovens ou sob<br />
empréstimo, para diminuir o risco,<br />
e num maior controlo dos<br />
custos salariais através da negociação<br />
de contratos que privilegiem<br />
a componente variável da<br />
remuneração.<br />
O passivo está controlado?<br />
A FCPorto SAD apresentou, a 30<br />
de Setembro, um passivo de<br />
1<strong>56</strong>M€. O número em si não permite<br />
qualquer conclusão quanto à<br />
situação financeira. O segredo<br />
está na correlação do montante<br />
em dívida com a capacidade de<br />
gerar meios para a pagar. O rácio<br />
“Net Debt EBITDA”, que significa<br />
quantas vezes, ou em quantos<br />
anos, é que o Cash-Flow Operacional<br />
(EBITDA) do exercício paga<br />
(amortiza) a dívida financeira líquida<br />
da empresa. Tendo em conta<br />
este rácio, a situação da FCPorto<br />
SAD é confortável. Com base<br />
nas contas de 2008/2009 a dívida<br />
financeiralíquidaéde84,1M€eo<br />
EBITDA de 38,1M€, pelo que o<br />
Net Debt EBITDA era, em 30 de<br />
Junho, de 2,21, o que significa que<br />
a sociedade tem a capacidade de<br />
saldar os seus compromissos em<br />
menos de 3 anos, o que é um valor<br />
normal e aceitável. ■<br />
Fernando Gomes<br />
diz que a SAD do<br />
Porto está a<br />
trabalhar no<br />
controlo de custos,<br />
nomeadamente<br />
com contratos que<br />
privilegiem as<br />
componentes<br />
variáveis.
42 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
DESTAQUE PORTUGAL NO MUNDIAL DE FUTEBOL<br />
O Mundial pode<br />
começar ou acabar<br />
no primeiro jogo<br />
A Costa do Marfim, de Didier Drogba, parece ser o alvo a abater para Portugal na fase<br />
de grupos do Mundial. Ainda para mais é o primeiro adversário da equipa nacional.<br />
João Coelho<br />
Football Ideas<br />
Portugal não foi bafejado pela<br />
sorte. Afinal de contas, conta com<br />
a companhia do penta-campeão<br />
mundialBrasilnoseugrupoea<br />
Costa de Marfim é neste momento<br />
um dos mais fortes conjuntos<br />
africanos, a par do Gana. É verdade<br />
que a Coreia da Norte constituiu<br />
um oponente sem qualquer<br />
estatuto no futebol internacional<br />
(apenas participou num campeonato<br />
do Mundo, exactamente o de<br />
1966) mas encerra uma dificuldade<br />
óbvia: trata-se de um perfeito<br />
desconhecido.<br />
A ordem dos jogos da selecção<br />
na África do Sul torna ainda mais<br />
decisivoojádesihabitualmente<br />
crucial primeiro jogo numa competição<br />
deste tipo, em que é muito<br />
difícil recuperar de um eventual<br />
percalço. Portugal começa por<br />
defrontar aquele que será teoricamente<br />
o seu adversário directo no<br />
apuramento para os oitavos-definal:<br />
a Costa do Marfim. Desta<br />
forma, a Selecção Nacional pode<br />
atéchegaraoúltimoencontro<br />
desta fase, com o Brasil, já apurado,<br />
mas se assim não for dificilmente<br />
se conseguirá fugir a essa<br />
negra memória recente: a goleada<br />
sofrida (2-6) em Brasília, há cerca<br />
de um ano.<br />
Tudo se poderá jogar então<br />
nesse jogo de estreia, em Port Elizabeth,<br />
a 15 de Junho (o quinto<br />
diadacompetição),noqualaté<br />
um empate poderá ser um mau<br />
resultado, dado que mesmo que<br />
vençaaCoreiadoNortenasegunda<br />
partida, a Selecção Nacional ficará<br />
dependente do encontro<br />
com o Brasil.<br />
Refira-se que a Costa do Marfim<br />
conseguiu pela segunda vez o<br />
apuramento para uma fase final<br />
de um Mundial, depois de ter<br />
marcado presença na Alemanha,<br />
Umacoisaécerta:se<br />
os jogadores e os<br />
responsáveis da<br />
selecção portuguesa<br />
se consideram<br />
realmente candidatos<br />
à conquista do título<br />
mundial, não será<br />
este grupo que deverá<br />
assustar a equipa das<br />
quinas.<br />
em 2006. Os “Elefantes”, como é<br />
conhecida a equipa africana,<br />
venceram o Grupo E da qualificação<br />
africana, com alguma facilidade<br />
e sem qualquer derrota, perante<br />
Burkina Faso, Malawi e<br />
Guiné.<br />
A selecção marfinense, treinada<br />
pelo bósnio Vahid Halilhodžic,<br />
tem em Didier Drogba o seu grande<br />
nome, apesar de contar com<br />
outros elementos de qualidade<br />
reconhecida, como o parceiro de<br />
ataque de Drogba no Chelsea, Salomon<br />
Kalou, ou o defesa Kolo<br />
Touré (Manchester City). Refirase<br />
no entanto que apesar de possuir<br />
jogadores que brilham nas<br />
melhores ligas europeias, a Costa<br />
do Marfim não tem um palmarés<br />
relevante: apenas a conquista de<br />
uma Taça das Nações Africana<br />
(1992) e um segundo lugar nesta<br />
competição (2006).<br />
Umacoisaécerta:seosjogadores<br />
e os responsáveis da selecção<br />
portuguesa se consideram<br />
realmente candidatos à conquista<br />
do título mundial, não será este<br />
grupo que deverá assustar a equipa<br />
das quinas. Bem mais problemática<br />
será a possibilidade de, ficando<br />
em segundo lugar nesta<br />
série, ter que defrontar a Espanha<br />
logo nos oitavos-de-final.<br />
Naturalmente, Portugal não<br />
entrará em circunstância alguma<br />
derrotado para o jogo com a selecção<br />
brasileira. Mesmo que o<br />
histórico dos confrontos com o<br />
Brasil esteja longe de ser favorável,<br />
a única vez que os portugueses<br />
defrontaram os “irmãos” sulamericanos<br />
num Mundial venceram<br />
de forma convincente. Foi no<br />
Mundial de 1996, em que os brasileiros<br />
tombaram aos pés de Eusébio<br />
e Cª no Mundial de Inglaterra,<br />
o mesmo acontecendo aos<br />
norte-coreanos, no jogo da famosa<br />
reviravolta de 0-3 para 5-3.<br />
Pode ser um bom augúrio. ■<br />
A selecção nacional tem<br />
como adversários no grupo G<br />
a Costa do Marfim, a Coreia<br />
do Norte e o Brasil.<br />
SÃO 32 AS EQUIPAS QUE VÃO PARTICIPAR NO MUNDIAL DA ÁFRICA DO SUL. OS DOIS PRIMEIROS DE CADA GRUPO SÃO APURADOS PARA OS OITAVOS-DE-FI<br />
O jogo inaugural é entre a<br />
selecção da casa e o México<br />
Grupo A<br />
África do Sul<br />
México<br />
Uruguai<br />
França<br />
A Argentina, treinada por<br />
Maradona, é a favorita do grupo<br />
Grupo B<br />
Argentina<br />
Nigéria<br />
Coreia do Sul<br />
Grécia<br />
A Inglaterra está num dos grupos<br />
menos complicados do mundial<br />
Grupo C<br />
Inglaterra<br />
Estados Unidos<br />
Argélia<br />
Eslovénia<br />
PALAVRA-CHAVE<br />
✽<br />
Jogo de abertura:<br />
África do Sul-México<br />
Portugal garantiu a sua terceira<br />
presença consecutiva em fases<br />
finais de campeonatos do Mundo,<br />
todas no século XXI (2002, 2006,<br />
2010), o que ultrapassa o número<br />
de presenças nesta prova em<br />
todo o século XX (apenas 2:<br />
1966 e 1986).<br />
A selecção da Alemanha é uma das<br />
favoritas à vitória na competição<br />
Grupo D<br />
Alemanha<br />
Austrália<br />
Sérvia<br />
Gana<br />
A Holanda é favorita, mas este é<br />
um dos grupos mais difíceis<br />
Grupo E<br />
Holanda<br />
Dinamarca<br />
Japão<br />
Camarões
PONTOS-CHAVE<br />
A grande comunidade<br />
lusófona presente<br />
na África do Sul e a<br />
proximidade com Moçambique<br />
podem garantir à selecção uma<br />
forte base de apoio.<br />
NAL. AS FASES SEGUINTES SÃO POR ELIMINAÇÃO DIRECTA<br />
A Itália raramente joga bem, mas<br />
ganha quase sempre<br />
Grupo F<br />
Itália<br />
Paraguai<br />
Nova Zelândia<br />
Eslováquia<br />
O jogo entre Brasil e Portugal é o<br />
mais atractivo da fase de grupos<br />
Grupo G<br />
Brasil<br />
Coreia do Norte<br />
Costa do Marfim<br />
Portugal<br />
AMhghghk selecçãodfdadfCosta gdjkfhg do<br />
Marfim sdfhglkhsdlfjgh conta comsdjfgh estrelas<br />
como sjdfh gDrogba, hsdfkjgh mas a sua<br />
inexperiência ksdfjgsjdfhkgjh pode sdfjkgh jogarksjdfh a<br />
favor gkj shdfkjgh de Portugal. sdjkfhgk A vitória jsdhfkgjh no<br />
primeiro skdfjg sdfg. jogo é fundamental.<br />
Radu Sigheti/Reuters<br />
A Espanha, campeã da Europa,<br />
espera chegar à Final<br />
Grupo<br />
Espanha<br />
Suíça<br />
Honduras<br />
Chile<br />
OMhghghk sorteio ditou df df que gdjkfhg<br />
sdfhglkhsdlfjgh o último jogo de sdjfgh Portugal<br />
sjdfh será com g hsdfkjgh o Brasil. Ou seja,<br />
ksdfjgsjdfhkgjh as duas selecções sdfjkgh podemksjdfh<br />
gkj chegar shdfkjgh a estesdjkfhgk embate já com<br />
jsdhfkgjh o apuramento skdfjg garantido. sdfg.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 43<br />
OS JOGOS QUE PORTUGAL PODERÁ DISPUTAR<br />
Portugal - Costa do Marfim<br />
A selecção nacional, que integra<br />
o grupo G, irá defrontar no<br />
primeiro jogo a Costa do Marfim,<br />
de Didier Drogba, Touré e Kalou.<br />
A partida está marcada para o dia<br />
15 de Junho no estádio Nelson<br />
Mandela Bay, em Port Elizabeth.<br />
Portugal- Coreia do Norte<br />
No Mundial de 66, Portugal<br />
defrontou a Coreia do Norte e, ao<br />
intervalo, perdia por 3-0. Eusébio<br />
deu a volta ao marcador (marcou<br />
4 golos) e Portugal venceu por 5-<br />
3. Agora, no dia 21 de Junho, na<br />
cidade do Cabo, espera-se que a<br />
vitória seja mais fácil<br />
Portugal-Brasil<br />
O ano passado, a selecção<br />
defrontou o Brasil num jogo<br />
particular e foi goleada por -6-2.<br />
Na cidade de Durban, no dia 25<br />
de Junho, Portugal poderá ter de<br />
decidir a qualificação no grupo<br />
contra uma das favoritas à<br />
conquista do Mundial.<br />
Oitavos-de-final<br />
Se Portugal chegar a esta fase<br />
terá de defrontar o primeiro ou<br />
segundo classificado do grupo H,<br />
composto por Espanha, Suíça,<br />
Honduras e Chile. As equipas que<br />
chegarem aos Oitavos realizam-se<br />
nos dias 28 e 29 de Junho, em<br />
Joanesburgo e Cidade do Cabo.<br />
Quartos-de-final<br />
Caso Portugal continue em prova,<br />
a partida dos quartos-de-final<br />
será disputada no dia 3 de Julho,<br />
em Joanesburgo. No último<br />
mundial, na Alemanha, em 2006,<br />
a selecção nacional eliminou a<br />
Inglaterra nesta fase através do<br />
desempate por penalties.<br />
Meias-Finais<br />
Chegar até aqui seria repetir o<br />
feito dos “magriços”, em 1966, e<br />
em 2006, na Alemanha. Portugal<br />
passou daqui, Na primeira vez<br />
perdeu contra Inglaterra e mais<br />
tarde com França. As meias estão<br />
marcadas para 6 e 7 de Julho na<br />
Cidade do Cabo e Durban.<br />
Final<br />
Carlos Queiroz já afirmou que<br />
Portugal pode ganhar o Mundial<br />
da África do Sul. A final está<br />
marcada para o dia 11 de Julho, na<br />
cidade de Joanesburgo. A partida<br />
será disputada no estádio Soccer<br />
City, com capacidade para 95 mil<br />
espectadores.
44 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
EMPRESAS A SEMANA<br />
Agenda 05.12 > 11.12<br />
> 05.12<br />
EuroEstates realiza leilão<br />
imobiliário no Porto<br />
A EuroEstates realiza hoje e amanhã dois leilões<br />
imobiliários, O primeiro, no Porto, acontece no hotel<br />
Ipanema Park, estando o segundo marcado para<br />
amanhã no Hotel Villa Rica Lisboa. Ambos estão<br />
agendados para as 15 horas.<br />
> 07.12<br />
Governo dá a conhecer plano<br />
de recuperação da Aerosoles<br />
Vieira da Silva deverá revelar hoje qual a solução<br />
do Governo para recuperar a Investvar, depois de ter<br />
chumbado o plano que previa a conversão da maior<br />
parte da dívida em acções.<br />
> 08.12<br />
Dia para a comunicação<br />
social da IATA<br />
A Associação Internacional de Transporte Aéreo<br />
(IATA) organiza em Geneve um encontro com<br />
jornalistas onde serão discutidos os temas que estão<br />
em cima da mesa no sector da aviação, como<br />
o ambiente, os custos da indústria ou a segurança.<br />
> 09.12<br />
COTEC organiza 3º Encontro<br />
PME Inovação<br />
Subordinado ao tema “Gestão Colaborativa da<br />
Inovação”, a Cotec promove o terceiro encontro<br />
das PME Inovação que decorrerá no Centro de<br />
Congressos do Estoril. Estarão presentes, entre<br />
outros, António Mexia, presidente da EDP, e<br />
Alexandre Soares dos Santos, ‘chairman’ da<br />
Jerónimo Martins.<br />
Starbucks abre primeira loja<br />
no centro de Lisboa<br />
A cadeia norte-americana Starbucks abre na quartafeiraaquintalojaemPortugalquemarcaaentrada<br />
no centro de Lisboa. A nova loja está localizada nos<br />
Armazéns do Chiado, uma zona da capital muito<br />
cobiçada pela Starbucks mas também com muitas<br />
dificuldades de licenciamento. Esta éaterceira<br />
abertura da Starbucks este ano, depois da loja<br />
do Fórum Almada e do Dolce Vita Tejo.<br />
> 10.12<br />
Câmara de Palmela discute<br />
futuro da indústria automóvel<br />
A Biblioteca Muncipal de Palmela recebe entre as<br />
16h00 e aa 19 horas o seminário “Posicionar Palmela<br />
na Europa e no Mundo - Indústria Automóvel”.<br />
Seminário “Portos do Futuro<br />
- A Rede Europeia de Clusters<br />
Marítimos”<br />
A Logistel, sociedade anónima de que são accionistas<br />
o Grupo Barraqueiro, a TAAG o ISG – Instituto<br />
Superior de Gestão organiza o seminário “Portos<br />
do Futuro - A Rede Europeia de Clusters Marítimos”<br />
mas instalações da sociedade.<br />
GUERRA NA CIMPOR LEVA À DEPOSIÇÃO DE JORGE SALAVESSA MOURA<br />
A instabilidade regressou em pleno à Cimpor, a maior cimenteira nacional. Numa<br />
decisão que reflecte a tensão entre accionistas, a administração da empresa depôs o<br />
presidente-executivo Salavessa Moura, substituindo-o pelo ‘charman’ Bayão Horta.<br />
A FIGURA<br />
PEDRO RIBEIRO DA CUNHA<br />
Presidente da Aerosoles<br />
Após meses de avanços e recuos no processo<br />
de salvação da maior fabricante portuguesa de<br />
calçado, Pedro Ribeiro da Cunha decidiu bater com<br />
a porta e abandonar a presidência da Investvar.<br />
O futuro da empresa, que utiliza a marca Aerosoles,<br />
está agora nas mãos do ministro da Economia, Vieira<br />
da Silva, a quem Ribeiro da Cunha - que foi nomeado<br />
para o cargo por indicação do anterior ministro,<br />
Manuel Pinho -, acusa de falta de vontade<br />
na salvação da empresa.<br />
O MOMENTO<br />
NOVO CONCURSO EÓLICO<br />
Arquivo <strong>Económico</strong><br />
OGovernoestáaestudarolançamentodeumnovo<br />
concurso eólico, que nas previsões mais optimistas<br />
poderia acarretar uma potência de 3.000 megawatts<br />
e um investimento global superior a 4 mil milhões<br />
de euros. Porém, numa altura em que falta ainda<br />
terminar vários parques atribuídos nos anteriores<br />
concursos - e em que surgem cada vez mais<br />
entraves ambientais -, o sector da energia não<br />
se mostra muito receptivo a esta ideia. Até porque a<br />
banca tem reduzido o financiamento às renováveis.
PUB
46 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
FINANÇAS<br />
Cheques carecas caem para<br />
mínimo da última década<br />
Menor aceitação de cheques explica queda. Em contrapartida,<br />
este ano quase triplicou a falsificação de cheques.<br />
Sandra Almeida Simões<br />
sandra.simoes@economico.pt<br />
Entre Janeiro e Setembro deste<br />
ano foram devolvidos mais de 658<br />
mil cheques no valor de 2,34 mil<br />
milhões de euros, o que representa<br />
menor número de devoluções da<br />
última década. A falta ou insuficiência<br />
de provisão é o principal<br />
motivo de devolução, numa altura<br />
em que os cheques viciados triplicaram,<br />
fruto da crise económica e<br />
financeira. Especialistas alertam<br />
para a “inconsciência” das famílias<br />
e das empresas sobre os riscos<br />
que comporta a utilização indevida<br />
dos cheques e, o consequente,<br />
registo na “lista negra” de utilizadores<br />
de cheques.<br />
Segundo dados fornecidos pelo<br />
Banco de Portugal ao <strong>Económico</strong>,<br />
os bancos devolveram mais de<br />
2.400 cheques por dia. Ainda assim,<br />
este é o número mais baixo de<br />
devoluções em, pelo menos, dez<br />
anos, uma vez que os dados disponibilizados<br />
pelo supervisor só vão<br />
até 1999, altura em que foram recusados<br />
cerca 1,3 milhões de cheques.<br />
Também o valor dos cheques<br />
devolvidos está em rota descendente.<br />
Foram rejeitados mais 2,3<br />
mil milhões até Setembro, o que<br />
compara com os mais de 3,9 mil<br />
milhões do ano anterior.<br />
Esta redução reflecte o decréscimo<br />
na utilização do cheque<br />
como meio de pagamento. “Há<br />
um número crescente de famílias e<br />
empresas a optarem por outras<br />
formas de pagamento mais electrónicas<br />
e mais agilizadas, ou seja,<br />
o cheque é cada vez mais visto<br />
como um instrumento antiquado<br />
e obsoleto, inspirando pouca segurança<br />
e pouco prático”, afirmou<br />
o economista João Cantiga Esteves.<br />
Até Setembro foram emitidos<br />
82,3 milhões de cheques, o que,<br />
feitas as contas, representa menos<br />
13% face à média mensal do ano<br />
anterior e traduz um decréscimo<br />
de 67% face ao número de cheques<br />
apresentados em 1999.<br />
São vários os motivos de rejeição,<br />
no entanto 75% do total de<br />
recusas da banca em pagar ou receber<br />
cheques deve-se ao facto de<br />
João Cantigas<br />
Esteves<br />
Economista<br />
“O cheque é cada vez mais<br />
visto como um instrumento<br />
antiquado e obsoleto,<br />
inspirando pouca segurança<br />
e pouco prático”.<br />
João César<br />
das Neves<br />
Economista<br />
“O cheque é ainda um veículo<br />
tecnologicamente pouco<br />
evoluído e controlado, o que<br />
aguça o apetite de quem tem<br />
problemas graves de<br />
insolvência e resvala para<br />
situações ilícitas”.<br />
GRANDES QUANTIAS<br />
1.172<br />
Número de cheques passados<br />
com valor acima dos 5 milhões de<br />
euros cada. Curiosamente, destes,<br />
só dois foram recusados.<br />
serem “carecas”. Este ano, foram<br />
identificados 497 mil cheques sem<br />
provisão, o correspondente a 1,4<br />
mil milhões. Cantiga Esteves<br />
acrescenta: “Será visível o efeito<br />
da crise na solvência das empresas<br />
e famílias, havendo algumas que,<br />
ao sentir a pressão dos seus fornecedores<br />
e outros credores, não resistem<br />
à tentação de emitir cheques,<br />
mesmo sabendo que podem<br />
não vir a ter provisão, para ganhar<br />
alguns dias na sua tesouraria”.<br />
Cheques viciados em crescimento<br />
Os cheques viciados - o cheque é<br />
legítimo mas o valor ou o nome é<br />
alterado - estão em forte crescimento,<br />
estando inclusive no valor<br />
mais elevado de sempre e quase<br />
triplicaram face ao ano anterior.<br />
Até Setembro, foram identificados<br />
1.422 cheques, mais 143% face aos<br />
584 detectados durante todo o ano<br />
de 2008, reflexo da crise, mas<br />
também das próprias características<br />
do cheque. “O cheque é ainda<br />
um veículo tecnologicamente<br />
pouco evoluído e controlado, o que<br />
permite aguçar o apetite de quem<br />
tem problemas graves de insolvência<br />
e resvala para situações ilícitas<br />
para resolução dos seus problemas”,<br />
afirmou Cantiga Esteves.<br />
O aumento do crime é também<br />
outra das causas. “À medida que<br />
menos pessoas usam cheques, as<br />
que o fazem são mais sujeitas a<br />
fraude”, afirma César das Neves.<br />
Quase 19% dos cheques recusados<br />
situam-se entre os 500 e os<br />
mil euros. O segundo escalão fixase<br />
entre os 2.500 e os cinco mil euros.<br />
No final de 2008 - últimos dados<br />
disponibilizados pelo BdP -, o<br />
número de utilizadores na “lista<br />
negra”, ou seja, que oferecem risco<br />
na utilização de cheques ascende<br />
a mais de 85.700, em linha com<br />
o ano anterior (ver texto ao lado).<br />
Para Cantiga Esteves, abrandou-se<br />
na pedagogia feita em torno deste<br />
instrumento, daí que considere<br />
que existe alguma “inconsciência<br />
dos portugueses”. César das Neves<br />
é mais brando, referindo apenas<br />
que a forma de entrar na lista deve<br />
eliminar os casos de distracção<br />
pontual ou erro. ■
Nomura melhora avaliação dos bancos nacionais<br />
A casa de investimento Nomura melhorou ontem a sua avaliação<br />
para os bancos cotados nacionais. O banco subiu o preço-alvo<br />
para BCP, BES e BPI, sendo que este último não escapou, ainda assim,<br />
a uma descida de recomendação, de neutral para reduzir. O BCP passou<br />
a contar com uma recomendação de neutral, enquanto o BES merece<br />
um “comprar”, continuando a ser o banco preferido do Nomura<br />
para o mercado português.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 47<br />
Como escapar à lista<br />
negra dos cheques?<br />
Se for parar à lista negra dos<br />
utilizadores de cheques, não está<br />
condenado para sempre.<br />
Sandra Almeida Simões<br />
sandra.simoes@economico.pt<br />
Ter o nome inscrito na listagem<br />
de utilizadores que oferecem risco<br />
é uma das consequências da<br />
utilização indevida dos cheques.<br />
Os últimos que o Banco de Portugal<br />
disponibiliza – referentes ao<br />
final de 2008 – revelam que são<br />
mais de 85 mil os portugueses<br />
com o nome na “lista negra”, ou<br />
seja, que estão inibidos de usar o<br />
cheque. O supervisor explica<br />
quais as consequências da lista,<br />
como conseguir a remoção e disponibiliza<br />
ainda um conjunto de<br />
boas práticas na utilização deste<br />
meio de pagamento.<br />
1<br />
COMO UTILIZAR OS CHEQUES<br />
DE FORMA CORRECTA?<br />
Regranúmeroum:ochequesó<br />
deve ser utilizado se o saldo disponível<br />
na conta for suficiente para<br />
permitir o seu pagamento. O supervisor<br />
revela no Portal do Cliente<br />
Bancário as regras básicas do<br />
uso dos cheques como, por exemplo,<br />
as formas de preenchimento<br />
ou os prazos e questões essenciais<br />
relacionadas com a segurança.<br />
2<br />
EM QUE SITUAÇÕES SE CONSI-<br />
DERA QUE O CHEQUE ESTÁ A<br />
SER USADO INDEVIDAMENTE?<br />
Irregularidades no preenchimento,<br />
como assinatura diferente da que<br />
consta na ficha do banco, assinatura<br />
não autorizada ou insuficiente,<br />
são algumas dessas situações. A falta<br />
de saldo para o pagamento, contas<br />
encerradas ou bloqueadas são<br />
situações em que o banco não procede<br />
ao pagamento do cheque e<br />
devolve-o ao portador. Se o montante<br />
do cheque for inferior a 150<br />
euros e não houver provisão suficiente,<br />
o banco está legalmente<br />
obrigado ao seu pagamento, mas<br />
considera-se que o emitente utilizou-o<br />
indevidamente.<br />
3<br />
O USO INDEVIDO É PUNIDO?<br />
“A utilização indevida do cheque<br />
pode ter como consequência a<br />
restrição ao seu uso (impedimento<br />
temporário do uso de cheque) e,<br />
em certos casos, pode ser consi-<br />
João Paulo Dias<br />
derada crime, punível com multa<br />
ou pena de prisão e/ou interdição<br />
judicial do uso de cheque”, explica<br />
o BdP. Se um cheque utilizado indevidamente<br />
não for regularizado,<br />
o banco deve por fim ao acordoquepermitiaqueoclientebancário<br />
movimentasse os fundos da<br />
sua conta através de cheque. Após<br />
a rescisão, o banco transmite o<br />
nome do emitente (e os dos co-titulares<br />
da mesma conta) ao BdP,<br />
para que passe a fazer parte da lista<br />
de pessoas inibidas do uso de<br />
cheque – Listagem de Utilizadores<br />
de cheque que oferecem Risco<br />
(LUR). Há ainda o crime de emissão<br />
de cheque sem provisão, semprequeafaltadedinheirocause<br />
prejuízos patrimoniais.<br />
4<br />
O QUE É A “LISTA NEGRA” DE<br />
UTILIZADORES DE CHEQUE?<br />
É uma lista organizada pelo BdP,<br />
com base nas comunicações<br />
efectuadas pelos bancos e pelos<br />
Tribunais, contendo os nomes<br />
das pessoas ou das entidades às<br />
quais os bancos estão impedidos<br />
de fornecer cheques. Esta lista é<br />
actualizada diariamente e difundida<br />
por todos os bancos. O período<br />
máximo de permanência é<br />
de2anos.Nofimdoprazo,ou<br />
terminado o período de inibição<br />
judicial, ou após a remoção/anulação<br />
de uma entidade da LUR, os<br />
bancos devem obrigatoriamente<br />
eliminar toda a informação.<br />
5<br />
É POSSÍVEL RETIRAR O NOME<br />
DA LISTA?<br />
Sim. O interessado deve solicitar<br />
ao seu banco que submeta ao BdP<br />
umpedidoderemoçãoda“lista<br />
negra”. Para tanto, deverá, junto<br />
do seu banco, demonstrar a regularização<br />
do cheque usado indevidamente.<br />
■<br />
As consequências de<br />
utilização fraudulenta<br />
de cheques podem ser<br />
ainibiçãode<br />
utilização deste<br />
instrumento e até, em<br />
casos mais graves,<br />
penas de prisão.
48 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
FINANÇAS<br />
Depois de um ano de espera e de tantos protestos,<br />
os clientes do BPP poderão estar perto de conhecer<br />
a solução para os seus problemas.<br />
Finanças prometem solução<br />
para o BPP no dia 11 de Dezembro<br />
O anúncio público de uma solução final para o BPP não contempla o plano de viabilização do banco.<br />
Maria Teixeira Alves<br />
maria.alves@economico.pt<br />
O anúncio público de uma solução<br />
final do Ministério das<br />
Finanças para o Banco Privado<br />
Português voltou a ser adiada.<br />
Em comunicado, o Ministério<br />
das Finanças comprometeu-se<br />
com uma data para o anúncio<br />
público da sua posição final sobreoBPP.Destavezodiaprevisto<br />
para o anúncio é no próximo<br />
dia 11 de Dezembro. Altura<br />
em que a posição do Governo<br />
será “detalhadamente apresentada”,<br />
garante o Ministério<br />
de Teixeira dos Santos.<br />
O comunicado enviado ontem,<br />
na sequência de uma reunião<br />
das Finanças com a Associação<br />
de clientes do BPP, que<br />
ocorreu a 18 de Novembro, revela<br />
que o Executivo continua<br />
a resumir as soluções para o<br />
BPP ao fundo de investimento<br />
especial que receberá os activos<br />
do retorno absoluto. Da<br />
Teixeira dos Santos,<br />
para acalmar os<br />
clientes do BPP,<br />
solicitou “a<br />
apresentação urgente<br />
de proposta final”<br />
para o fundo de<br />
investimento especial.<br />
viabilização do BPP, o comunicado<br />
nada refere.<br />
As Finanças voltam a canalizar<br />
as responsabilidades de solucionar<br />
os problemas dos<br />
clientes para CMVM, Banco de<br />
Portugal e administração provisória<br />
do banco, liderada por<br />
Fernando Adão da Fonseca. “O<br />
Governo tem continuado e<br />
continua a insistir junto do<br />
Conselho de Administração do<br />
BPP e do Conselho Directivo da<br />
CMVM para que o pedido de<br />
constituição do fundo seja rápida<br />
e urgentemente instruído,<br />
apreciado e aprovado, de forma<br />
a proceder-se à sua apresentação<br />
aos clientes”, revelam as<br />
Finanças. Para acalmar os ânimos<br />
dos clientes desesperados,<br />
o Ministério “voltou a apelar ao<br />
conselho de administração do<br />
BPP e às duas autoridades reguladoras<br />
no sentido da rápida<br />
conclusão dos trabalhos em<br />
curso relativos às poupanças<br />
aplicadas nos produtos de re-<br />
torno absoluto”. E “solicitou a<br />
apresentação urgente de proposta<br />
final para o efeito, tendo em<br />
conta as posições anteriormente<br />
assumidas pelo Governo”.<br />
No entanto, não depende de<br />
apelos do Governo o registo do<br />
fundo que aglutinará os activos<br />
que compõem os produtos de<br />
retorno absoluto. Depende antes<br />
de documentos que não têm<br />
sido fáceis de reunir pelo BPP,<br />
em parte porque os activos estão<br />
em veículos sediados em<br />
vários paraísos fiscais com legislações<br />
díspares e complexas.<br />
Uma boa parte dos activos que<br />
terão de ser transferidos para o<br />
fundo estão sediados nas Ilhas<br />
Virgens Britânicas, com um<br />
sistema jurídico próprio. Em<br />
falta está, por exemplo, a lista<br />
completa de activos e passivos<br />
que irão constituir o patrimóniodofundo.<br />
No comunicado das Finanças<br />
não há sinal de viabilização<br />
do BPP, que ficará com as res-<br />
Paula Nunes<br />
ponsabilidades de garantia do<br />
capital investido, uma vez que o<br />
fundo não o garante. Mas um dos<br />
requisitos para o registo do fundo<br />
é a clarificação sobre o futuro<br />
do BPP. O Ministério explicou,<br />
mais tarde, que “quaisquer propostas<br />
que possam existir para<br />
viabilização do banco devem ser<br />
enviadas ao BdP e por este apreciadas<br />
ou discutidas, não tendo o<br />
Ministério competências legais<br />
na matéria”. Desta forma Teixeira<br />
dos Santos deixa a viabilizaçãodoBPPparaoBancode<br />
Portugal. A Orey Financial juntamente<br />
com a Privado Holding<br />
têm um plano de viabilização<br />
desenhado, mas mais uma vez<br />
corre o risco de não avançar<br />
porque há divergências em relação<br />
ao valor real dos activos que<br />
servem de contra-garantia ao<br />
empréstimo bancário de 450<br />
milhões de euros, tal como Diário<br />
<strong>Económico</strong> avançou em primeiramão.Oempréstimovence<br />
no fim do ano. ■
Bancos de Wall Street<br />
abremguerraàsfestasdeNatal<br />
PUB<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 49<br />
Goldman Sachs proíbe funcionários de se juntarem em grupos de 12 ou mais fora do local de trabalho.<br />
Tiago Figueiredo Silva<br />
tiago.silva@economico.pt<br />
Quem não gosta de um bom<br />
jantar de Natal pago pela empresa?<br />
Comida e bebida à borla,<br />
festa até às tantas da madrugadaeafortepossibilidadedever<br />
o chefe a fazer figuras tristes<br />
depois de uns copos a mais, são<br />
algunsdos“aperitivos”para<br />
estar presente no evento anual.<br />
Contudo, este ano a história<br />
será diferente em Wall Street.<br />
Confrontados com uma opinião<br />
pública cada vez mais crítica<br />
sobre os bónus pagos e as ajudas<br />
estatais concedidas, os “gigantes”<br />
da banca norte-americana<br />
decidiram manter este<br />
ano as garrafas de champanhe<br />
no congelador e cancelar as<br />
festas de Natal.<br />
OMorganStanleyfoioprimeiro<br />
a dar o exemplo. A instituição<br />
financeira anunciou que<br />
este ano não vai patrocinar<br />
qualquer festa natalícia para os<br />
empregados, pretendendo doar<br />
o dinheiro do jantar a uma ins-<br />
tituição de caridade. Bank of<br />
America e Citigroup, que se encontram<br />
ainda num estado de<br />
saúde considerado ‘crítico’, seguiram<br />
o mesmo exemplo. Ambos<br />
já avisaram que não têm<br />
qualquer intenção de juntar os<br />
respectivos “staff” num evento<br />
natalício. Apesar das más notícias<br />
e uma vez que estamos<br />
numa época de solidariedade, o<br />
Bank of America parece não ter<br />
perdidooespíritonatalícioe<br />
encorajou os seus trabalhadores<br />
a juntar dinheiro para ser doado<br />
a uma instituição de caridade<br />
local. Já os funcionários do Citigroup<br />
podem celebrar o nascimento<br />
de Jesus fora do local de<br />
trabalho. No entanto, o banco<br />
deixou um aviso: o dinheiro<br />
gasto com a festa não será<br />
reembolsado pela empresa.<br />
“Esta nãoéamelhoralturapara<br />
o sector andar a dar nas vistas.<br />
O ideal é manter um ‘low-profile’”,<br />
afirmou um analista citado<br />
pela CNN Money.<br />
O Goldman Sachs não quis ficar<br />
fora da tendência e, pelo se-<br />
Opresidentedo<br />
Goldman Sachs,<br />
Lloyd Blankfein,<br />
proibiu os<br />
funcionários de se<br />
juntarem, durante o<br />
mês de Dezembro,<br />
em grupos de 12 ou<br />
mais fora do<br />
trabalho.<br />
gundo ano consecutivo, cancelou<br />
a sua festa de Natal. No entanto,<br />
os funcionários do banco<br />
não quiseram deixar passar a<br />
época sem um mínimo de celebração<br />
e começaram a organizar<br />
pequenos jantares privados de<br />
Natal. Totalmente preocupado<br />
com o estado da economia e<br />
comaelevadataxadedesemprego,<br />
o presidente do Goldman<br />
Sachs, Lloyd Blankfein, decidiu<br />
enviar uma mensagem por voicemail<br />
a cada um dos trabalhadores.<br />
Apesar de simples, a<br />
mensagem é insólita: proibir as<br />
festas privadas, mesmo que não<br />
seja a firma a pagá-las. Assim,<br />
durante o mês de Dezembro, os<br />
funcionários estão proibidos de<br />
se juntarem em grupos de doze<br />
ou mais fora do local de trabalho.<br />
Não será por isso de estranhar<br />
ver onze banqueiros juntos<br />
num qualquer bar ou restaurante<br />
em Wall Street.<br />
Os tempos parecem ter mudado<br />
em definitivo. Na época<br />
das “vacas gordas” muitos milhares<br />
de milhões de dólares fo-<br />
ram gastos pela banca com festasejantaresdeNatalnosmelhores<br />
restaurantes e discotecas.<br />
Há dois anos atrás, a instituição<br />
financeira britânica Barclays,<br />
que ficou conhecido por ter<br />
comprado no ano passado algumas<br />
das unidades do falido<br />
Lehman Brothers, desembolsou<br />
aproximadamente 1,2 milhões<br />
de dólares (cerca de 800 mil euros)<br />
com uma festa de Natal para<br />
mais de 3.000 pessoas.<br />
Depois do colapso da Lehman<br />
Brothers, o Natal deixou de ser<br />
um motivo de festa para o sector<br />
financeiro. Quase todas as firmas<br />
de Wall Street decidiram<br />
cancelar os seus planos para a<br />
época, não só como uma forma<br />
de conter custos face à crise<br />
como para afastar as atenções<br />
da opinião pública. Ainda assim,<br />
nem todos seguem o mesmo<br />
caminho. De acordo com<br />
rumores de mercado, o JP<br />
Morgan está a preparar a sua<br />
festa de Natal deste ano nos antigos<br />
escritórios do rival Bear<br />
Stearns. ■
50 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
MERCADOS<br />
AS ÚLTIMAS RECOMENDAÇÕES<br />
BCP<br />
PREÇO-ALVO<br />
1,00¤<br />
COTAÇÃO ACTUAL<br />
0,88¤<br />
POTENCIAL<br />
12,6%<br />
O Nomura reviu em alta o seu preço-alvo para os títulos do BCP, para os 1 euros dos<br />
anteriores 0,59 euros. A casa de investimento subiu a recomendação para as<br />
acções do banco liderado por Carlos Santos Ferreira, para “neutral” de “reduzir”.<br />
O Dubai já brilhou tanto<br />
quantooouro,comtodaa<br />
excentricidade imobiliária<br />
exibida ao mundo. As<br />
recentes notícias de<br />
problemas da ‘holding’<br />
estatal Dubai World vieram<br />
colocar algumas ‘nuvens<br />
negras’ sobre o emirado.<br />
PT<br />
PREÇO-ALVO<br />
9,41¤<br />
Semana de ouro com<br />
tranquilidade no Dubai<br />
Marta Reis<br />
marta.reis@economico.pt<br />
Os últimos cinco dias foram<br />
marcados pelo regresso da tranquilidade<br />
às praças financeiras,<br />
depois de acalmados os receios<br />
dos investidores sobre a situação<br />
do Dubai, e por novos máximos<br />
do ouro.<br />
A principais bolsas europeias<br />
terminaram a semana com ganhos<br />
entre 1,51% e 2,84%, enquanto<br />
em Portugal, o PSI 20 ficou-se<br />
por uma subida ligeira<br />
de 0,12%. O índice de referência<br />
europeu DJ Stoxx 600, terminouasemanacomumasubida<br />
superior a 2%.<br />
O primeiro passo para a tranquilização<br />
dos mercados foi<br />
dado no domingo, com o banco<br />
central dos Emirados Árabes<br />
Unidos a garantir que apoiaria o<br />
sistema financeiro da região e<br />
que iria voltar a disponibilizar<br />
liquidez. A notícia de que a<br />
‘holding’ estatal Dubai World<br />
tinha pedido uma moratória de<br />
seis meses para cumprimento<br />
do pagamento de obrigações, no<br />
final da semana passada, trouxe<br />
instabilidade aos mercados.<br />
A intervenção do banco central<br />
e o anúncio de que a Dubai<br />
World já estava em conversações<br />
para renegociação de 26<br />
mil milhões de dívida, menos de<br />
COTAÇÃO ACTUAL<br />
8,60¤<br />
POTENCIAL<br />
9,4%<br />
O Banesto Bolsa reviu em alta o seu ‘target’ para os títulos da Portugal Telecom,<br />
para os 9,41 euros dos anteriores 6,18 euros. A casa de investimento subiu<br />
igualmente a recomendação de “underweight” para “overweight”.<br />
A matéria-prima continuou a renovar máximos, o último dos quais a 1.226,<strong>56</strong> dólares.<br />
Passos para a renegociação da dívida da Dubai World acalmaram os mercados.<br />
STOXX 600 SOBE 2,65%<br />
Índice de referência acumulou<br />
ganhos nos últimos cinco dias.<br />
1000<br />
900<br />
800<br />
30-06-2009<br />
Fonte: Bloomberg<br />
31-07-2009<br />
Staff Photographer / Reuters<br />
metade do total de 59 mil milhões,<br />
tranquilizou os investidores,<br />
trazendo os mercados de<br />
regresso às valorizações.<br />
A subir esteve também o<br />
ouro. A matéria-prima foi renovando<br />
máximos e atingiu novo<br />
valor recorde na quinta-feira, a<br />
1.226,<strong>56</strong> dólares. E a tendência<br />
deverá ser para continuar. Um<br />
inquérito efectuado pela<br />
Bloomberg a corretores, analistas<br />
e investidores mostra que a<br />
maioria acredita que o ouro<br />
continuará forte. A influenciar a<br />
cotação estará a manutenção da<br />
procura por parte de investidores<br />
e bancos centrais, num cenáriodefraquezadodólar.■<br />
CAMBIOS<br />
Dólar em alta<br />
com dados<br />
do desemprego<br />
O dólar terminou a semana<br />
em alta face ao euro, depois<br />
de os números do emprego<br />
nos EUA terem saído melhor<br />
do que o esperado e de a taxa<br />
de desemprego ter recuado<br />
inesperadamente, passando<br />
de 10,2% para 10%. Em queda<br />
face à ‘nota verde’ estava<br />
também o iene; a divisa<br />
nipónica acumulou a primeira<br />
queda semanal face ao dólar<br />
desde Outubro.<br />
1,52<br />
1,46<br />
1,40<br />
Fonte: FMI<br />
27-11-2009<br />
MATÉRIAS PRIMAS<br />
04-12-2009<br />
Preço do barril<br />
de crude e queda<br />
nos últimos dias<br />
O preço do barril de crude,<br />
negociado em Nova Iorque,<br />
perdia cerca de 0,6% na<br />
última semana, seguindo ao<br />
final do dia de ontem a cotar<br />
am 75,62 dólares. Nas últimas<br />
três sessões, o petróleo<br />
esteve sempre em queda,<br />
reflectindo uma quebra na<br />
procura desta ‘commodity’<br />
por parte dos investidores,<br />
bem como o aumento das<br />
reservas de crude nos<br />
Estados Unidos.
BRISA<br />
PREÇO-ALVO<br />
7,80¤<br />
COTAÇÃO ACTUAL<br />
6,79¤<br />
POTENCIAL<br />
14,9%<br />
O Nomura reviu em alta a sua recomendação para os papéis da concessionária<br />
Brisa, para “comprar” de “neutral”. A casa de investimento manteve o preço-alvo<br />
inalterado nos 7,8 euros por acção.<br />
EUROLIST BY EURONEXT. ACÇÕES<br />
Última Var. Var. Máx. Mín. Quant. Máx. Mín. Divid. Data Divid. Comport.<br />
Valor Mobiliário Data cotação % sessão sessão transcc. do ano do ano Ex-dív yeld% anual%<br />
Compartimento A<br />
B.COM.PORTUGUES 04-12-2009 0.89 0.00 0.11 0.90 0.88 15,168,205 1.08 0.<strong>56</strong> 0.02 16-04-2009 1.92 8.83<br />
B.ESPIRITO SANTO 04-12-2009 4.62 0.00 -0.09 4.64 4.59 2,010,980 5.34 2.65 0.16 26-03-2009 3.46 9.67<br />
BANCO BPI SA 04-12-2009 2.24 -0.01 -0.22 2.25 2.19 539,497 2.57 1.34 0.07 04-05-2009 2.98 28.29<br />
BRISA 04-12-2009 6.80 -0.03 -0.45 6.88 6.78 444,481 7.23 4.26 0.31 30-04-2009 4.54 27.64<br />
CIMPOR SGPS 04-12-2009 5.06 -0.05 -0.88 5.13 5.03 403,693 5.85 3.00 0.19 12-06-2009 3.63 46.67<br />
EDP 04-12-2009 3.09 0.02 0.62 3.10 3.06 3,692,864 3.22 2.29 0.14 14-05-2009 4.<strong>56</strong> 13.95<br />
EDP RENOVAVEIS 04-12-2009 6.51 -0.09 -1.29 6.58 6.49 839,642 7.83 4.41 0.00 0.00 31.72<br />
GALP ENERGIA 04-12-2009 11.97 0.01 0.04 12.12 11.88 859,623 12.65 7.03 0.23 22-10-2009 1.93 66.64<br />
J MARTINS SGPS 04-12-2009 6.64 -0.06 -0.93 6.70 6.<strong>56</strong> 1,075,081 6.94 3.01 0.11 06-05-2009 1.64 68.77<br />
PORTUGAL TELECOM 04-12-2009 8.60 0.11 1.30 8.60 8.37 2,825,069 8.49 5.48 0.57 24-04-2009 6.77 39.87<br />
ZON MULTIMEDIA 04-12-2009 4.32 -0.03 -0.58 4.35 4.27 280,02 5.01 3.55 0.16 27-05-2009 3.69 16.98<br />
Compartimento B<br />
SONAE INDUSTRIA 04-12-2009 2.<strong>56</strong> -0.01 -0.23 2.57 2.53 130,771 2.86 1.15 0.00 16.61 68.20<br />
SONAECOM SGPS 04-12-2009 1.83 -0.02 -1.03 1.86 1.82 629,202 2.15 0.97 0.00 0.00 83.98<br />
MOTA ENGIL 04-12-2009 3.79 -0.02 -0.45 3.84 3.74 146,601 4.53 2.10 0.11 15-05-2009 2.89 62.00<br />
SEMAPA 04-12-2009 7.65 0.14 1.81 7.65 7.50 127,744 8.95 5.65 0.25 23-04-2009 3.40 17.33<br />
PORTUCEL 04-12-2009 1.91 0.00 0.21 1.91 1.89 140,989 2.13 1.31 0.10 06-04-2009 5.51 23.05<br />
SONAE 04-12-2009 0.90 - - 0.91 0.89 2,024,882 0.98 0.38 0.03 20-05-2009 3.33 105.95<br />
BANIF-SGPS 04-12-2009 1.26 0.01 0.80 1.27 1.25 100,205 1.54 0.95 0.06 22-04-2009 4.90 21.80<br />
SONAE CAPITAL 04-12-2009 0.88 -0.01 -1.12 0.89 0.88 324,857 1.00 0.41 0.00 0.00 102.27<br />
REN 04-12-2009 2.98 0.01 0.17 2.99 2.97 200,896 3.25 2.39 0.17 27-04-2009 5.55 4.94<br />
MARTIFER 04-12-2009 3.<strong>56</strong> 0.01 0.28 3.57 3.53 14,83 4.59 2.53 0.00 0.00 -5.59<br />
GRUPO MEDIA CAP 24-11-2009 4.59 - - - - - 5.00 2.00 0.23 09-04-2009 5.01 50.49<br />
SAG GEST 03-12-2009 1.31 - - - - - 1.59 0.90 0.02 10-11-2008 1.54 37.89<br />
TEIXEIRA DUARTE 04-12-2009 1.04 0.00 0.29 1.05 1.03 381,999 1.26 0.41 0.00 1.71 72.58<br />
FINIBANCO SGPS 04-12-2009 1.54 -0.01 -0.65 1.<strong>56</strong> 1.50 4,255 2.39 1.43 0.00 4.29 -22.11<br />
ALTRI SGPS SA 04-12-2009 3.79 0.01 0.29 3.80 3.75 112,46 4.25 1.50 0.00 2.00 80.33<br />
TOYOTA CAETANO 27-11-2009 4.16 - - - - - 8.80 4.00 0.07 26-05-2009 1.68 -46.04<br />
Compartimento C<br />
BENFICA-FUTEBOL 04-12-2009 2.70 -0.01 -0.37 2.75 2.70 830 3.55 1.70 0.00 0.00 29.05<br />
COFINA SGPS 04-12-2009 1.04 0.01 0.97 1.04 1.02 27,167 1.07 0.39 0.00 4.21 128.89<br />
COMPTA 04-12-2009 0.39 -0.05 -11.36 0.39 0.39 1,3 0.46 0.36 0.00 0.00 22.22<br />
CORTICEIRA AMORI 04-12-2009 0.97 0.01 1.04 0.97 0.95 36,14 1.05 0.54 0.00 6.74 18.52<br />
ESTORIL SOL N 22-09-1998 8.91 - - - - - 0.00 0.00 0.22 16-05-2007 2.47 -3.47<br />
ESTORIL SOL P 02-12-2009 6.70 - - - - - 9.88 6.51 0.00 4.54 -23.86<br />
F RAMADA INVEST 04-12-2009 0.85 -0.01 -1.05 0.85 0.81 2,578 0.98 0.57 0.00 0.00 37.44<br />
FISIPE 04-12-2009 0.16 - - 0.16 0.15 3,21 0.20 0.09 0.00 0.00 77.78<br />
FUT.CLUBE PORTO 04-12-2009 1.30 0.01 0.78 1.33 1.25 5,59 1.75 1.25 0.00 0.00 -7.86<br />
GLINTT 04-12-2009 0.88 0.01 1.15 0.92 0.86 544,245 1.03 0.60 0.00 0.00 35.94<br />
IBERSOL SGPS 04-12-2009 9.40 - - 9.40 9.26 2,484 10.00 5.51 0.05 22-05-2009 0.59 36.23<br />
IMOB GRAO PARA 25-11-2009 3.65 - - - - - 3.82 2.33 0.00 0.00 21.67<br />
IMPRESA SGPS 04-12-2009 1.87 0.11 6.25 1.88 1.76 404,553 2.00 0.<strong>56</strong> 0.00 0.00 109.52<br />
INAPA-INV.P.GEST 04-12-2009 0.64 0.01 1.59 0.64 0.62 170,202 0.73 0.23 0.00 0.00 85.29<br />
LISGRAFICA 03-12-2009 0.09 - - - - - 0.12 0.06 0.00 0.00 28.57<br />
NOVABASE SGPS 04-12-2009 4.<strong>56</strong> 0.07 1.<strong>56</strong> 4.<strong>56</strong> 4.47 46,122 5.06 3.21 0.00 0.00 -2.18<br />
OREY ANTUNES 04-12-2009 1.90 0.01 0.53 1.90 1.90 100 2.90 1.80 0.11 30-04-2009 5.82 -17.83<br />
PAP.FERNANDES 28-01-2009 2.66 - - - - - 2.70 2.65 0.00 0.00 0.38<br />
REDITUS SGPS 04-12-2009 7.15 - - 7.15 7.15 1,084 8.00 5.83 0.00 0.00 0.70<br />
S.COSTA 04-12-2009 1.24 0.01 0.81 1.24 1.22 424,618 1.32 0.48 0.03 27-05-2009 2.52 95.24<br />
S.COSTA-PREF 18-09-2009 1.16 - - - - - 1.16 1.16 0.15 27-05-2009 12.93 -15.94<br />
SPORTING 04-12-2009 1.28 0.02 1.59 1.28 1.28 36 1.52 1.01 0.00 0.00 -7.35<br />
SUMOL COMPAL 30-11-2009 1.40 - - - - - 1.70 0.94 0.00 0.00 -15.15<br />
VAA VISTA ALEGRE 04-12-2009 0.10 -0.01 -9.09 0.10 0.10 273 0.14 0.06 0.00 0.00 57.14<br />
VAA-V.ALEGRE-FUS 04-12-2009 0.08 - - 0.08 0.07 25,1 0.10 0.04 0.00 0.00 60.00<br />
VAA-V.ALEGRE-FUS 04-12-2009 0.08 - - 0.08 0.07 25,1 0.10 0.04 0.00 0.00 60.00<br />
Compartimento Estrangeiras<br />
BANCO POPULAR 04-12-2009 0.00 0.09 1.57 5.84 5.74 2,381 7.58 3.23 0.46 12-01-2009 7.99 -0.31<br />
BANCO SANTANDER 04-12-2009 0.00 0.27 2.31 11.97 11.61 34,771 11.85 3.94 0.63 01-08-2009 5.43 87.24<br />
E.SANTO FINANC N 12-11-2009 0.00 - - - - - 15.20 8.64 0.25 25-05-2009 1.65 48.87<br />
E.SANTO FINANCIA 04-12-2009 0.00 -0.05 -0.33 14.93 14.90 4,619 15.49 9.92 0.25 25-05-2009 1.71 40.38<br />
PAPELES Y CARTON 27-11-2009 0.00 - - - - - 4.25 2.45 0.03 16-01-2009 0.80 21.04<br />
SACYR VALLEHERM 06-05-2009 0.00 - - - - - 7.95 7.55 0.57 31-10-2008 7.17 5.02<br />
As cotações do PSI 20, dos índices internacionais e dos seus respectivos componentes podem ser acompanhadas em: www.diarioeconomico.com<br />
Última cotação – Corresponde na grande maioria dos títulos, à cotação de fecho da última sessão, a menos que seja indicada outra data. Preços indicados em euros; Variação absoluta e percentual – diferença entre<br />
a última cotação e o fecho da sessão imediatamente anterior em que o título transaccionou; Dividendo – valor bruto, indicado em euros e respectiva data a partir da qual a aquisição do título deixou de dar direito<br />
ao pagamento do dividendo; Dividend Yield – Rendimento do dividendo, que resulta da divisão do último dividendo pago pela cotação; Comportamento anual – variação percentual da cotação em relação ao último<br />
preço do ano anterior. Compartimento A – Capitalização bolsista superior a 1.000 milhões de euros; Compartimento B – Capitalização bolsista entre 150 milhões e 1.000 milhões de euros; Compartimento C – Capitalização<br />
bolsista inferior a 150 milhões de euros; Compartimento Estrangeiras – Emitentes estrangeiras.<br />
MAIORES SUBIDAS<br />
TÍTULO VAR. %<br />
PORTUGAL TELECOM 6,19<br />
SEMAPA 2,92<br />
SONAECOM 1,67<br />
ZON MULTIMÉDIA 1,17<br />
EDP 0,39<br />
EDP RENOVÁVEIS 0,26<br />
SONAE SGPS 0,11<br />
As “telecom” foram as<br />
grandes protagonistas da<br />
semana, ao beneficiarem<br />
dos dados positivos<br />
divulgados pela Anacom. O<br />
sector energético também<br />
esteve em destaque ao<br />
fechar com ganhos<br />
semanais.<br />
MAIORES DESCIDAS<br />
TÍTULO VAR. %<br />
GALP ENERGIA -2,68<br />
B.ESPIRITO SANTO -2,61<br />
MOTA-ENGIL -2,32<br />
B.COM.PORTUGUES -1,66<br />
CIMPOR -1,19<br />
TEIXEIRA DUARTE -1,05<br />
ALTRI -1,04<br />
BANCO BPI -0,62<br />
GALP<br />
PREÇO-ALVO<br />
12,00¤<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 51<br />
O UBS reviu em baixa o seu preço-alvo para os títulos da Galp Energia, para os 12<br />
eurosfaceaosanteriores13eurosporacção.Acasadeinvestimentomanteveasua<br />
recomendação para a petrolífera em “neutral”.<br />
A petrolífera nacional<br />
liderada por Ferreira da<br />
Oliveira liderou as quedas<br />
da semana ao afundar<br />
quase 3%. O sector da<br />
banca também não fez<br />
melhor figura, com os três<br />
bancos cotados a<br />
encerrarem no “vermelho”.<br />
COTAÇÃO ACTUAL<br />
11,97¤<br />
COMENTÁRIO DE BOLSA<br />
TIAGO FIGUEIREDO SILVA<br />
tiago.silva@economico.pt<br />
PSI 20 regressa aos<br />
ganhos em Dezembro<br />
A semana que ontem findou foi positiva para a praça<br />
lisboeta. Depois de duas semanas consecutivas de perdas,<br />
o PSI 20 regressou aos ganhos semanais. Contas<br />
feitas, o índice fechou os últimos cinco dias com uma<br />
subida de 0,12%.<br />
Lá fora, a tendência semanal também foi positiva,<br />
com o índice DJ Stoxx 600 a fechar com uma valorização<br />
2,7%, numa semana em que o Banco Central Europeu<br />
decidiu manter, tal como esperado pelo mercado,<br />
a taxa de referência no nível mais baixo de sempre, nos<br />
1%, assim como a retirada “muito gradual” das ajudas<br />
ao sistema financeiro.<br />
Entre os protagonistas da semana esteve a Portugal<br />
Telecom. Os títulos da operadora nacional lideraram os<br />
ganhos semanais do índice ao dispararem 6,19%, suportados<br />
pelos dados revelados pela Anacom, segundo<br />
os quais o número de assinantes de televisão paga em<br />
Portugal subiu 2,6% no terceiro trimestre, enquanto os<br />
clientes de acesso directo a telecomunicações subiram<br />
4,6% no terceiro trimestre.<br />
ASemapaeaSonaecomocuparam os restantes lugares<br />
do pódio das melhores cotadas da semana com<br />
ganhos de 2,92% e de 1,67%, respectivamente.<br />
O sector da banca não conseguiu “sobreviver” e fechou<br />
no “vermelho”. O BES terminou a semana com<br />
perdas de 2,61%, acompanhado pelo BCP que recuou<br />
1,66% e pelo BPI que derrapou 0,62%.<br />
Nota negativa para os títulos da Galp Energia que<br />
registaram a pior performance semanal do PSI 20. Com<br />
uma queda de 2,68%, a petrolífera foi pressionada pela<br />
desvalorização dos preços do petróleo. ■<br />
PSI 20 ACUMULA GANHOS DE 31% EM 2009<br />
Evolução diária do principal índice português desde o<br />
arranque do ano.<br />
9000<br />
7000<br />
5000<br />
31-12-2008<br />
Fonte: Bloomberg<br />
POTENCIAL<br />
0,3%<br />
acompanhe as bolsas ao minuto e todas as notícias em<br />
www.economico.pt<br />
04-12-2009
52 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
DESTAQUE “A IDEIA QUE É A AMÉRICA” DE ANNE-MARIE SLAUGHTER<br />
A ideia de América<br />
JOÃO MARQUES<br />
DE ALMEIDA<br />
Colunista do <strong>Económico</strong><br />
Tal como muitos outros académicos e intelectuais<br />
próximos do Partido Democrata,<br />
Slaughter foi muito crítica (sem nunca<br />
cair em radicalismos excessivos) da política<br />
externa norte-americana durante as<br />
Presidências de George W. Bush. A reacção<br />
à “deriva unilateral” do seu país foi<br />
repensar os próprios fundamentos da diplomacia<br />
dos Estados Unidos. The Idea<br />
that is America é o resultado dessa reflexão.<br />
Slaughter começa por colocar duas<br />
questões existenciais: “qual deve ser o<br />
papel dos Estados Unidos no mundo?” e,<br />
sendo que a segunda questão decorre de<br />
uma resposta implícita à primeira, “de<br />
que modo a diplomacia norte-americana<br />
é fiel aos valores do país?”<br />
Dito de outro modo, o objectivo fundamental<br />
da política externa dos Estados<br />
Unidos deve ser a promoção dos valores<br />
americanos. Esta convicção demonstra,<br />
desde logo, que os grandes objectivos da<br />
Administração Obama, no essencial, são<br />
semelhantes aos do Presidente anterior<br />
(tal como de resto de todos os outros Presidentes<br />
americanos desde 1945). As políticas<br />
serão diferentes. Obviamente que<br />
esta diferença não é menor; segundo muitos<br />
críticos, entre eles Slaughter, algumas<br />
das políticas da Administração Bush significaram<br />
uma violação dos valores fundamentais<br />
americanos.<br />
Os sete capítulos substanciais do livro<br />
são dedicados aos valores centrais que definem<br />
os Estados Unidos: liberdade, democracia,<br />
igualdade, justiça, tolerância,<br />
humildade e fé. Misturando a história<br />
americana com a filosofia política, a discussão<br />
sobre os valores é rica e interessante.<br />
Além disso, a escrita é simples, elegante<br />
e acessível. À excepção dos últimos dois<br />
valores, humildade e fé, os restantes cinco<br />
são igualmente cruciais para os europeus e<br />
mostram a proximidade ideológica e cultural<br />
entre os dois lados do Atlântico.<br />
Existem algumas diferenças no tratamento<br />
entre valores distintos. Por exemplo, a relação<br />
entre liberdade e igualdade não é idêntica<br />
para americanos e europeus (mas mesmonaEuropa,asituaçãonãoéuniforme).<br />
No entendimento de democracia também<br />
se notam diferenças (neste caso, talvez<br />
mais substanciais). Nos Estados Unidos, a<br />
dimensão institucional e normativa ocupa<br />
um lugar central. Enquanto, em muitos<br />
países europeus, a dimensão popular da<br />
democracia prevalece muitas vezes sobre<br />
os requisitos institucionais. No entanto,<br />
no essencial, principalmente se colocarmos<br />
a discussão no plano global, as semelhanças<br />
entre americanos e europeus são<br />
maiores do que as diferenças.<br />
No plano dos valores, as excepções à<br />
identidade comum entre americanos e<br />
europeus, são a humildade eafé.Apesar<br />
da natureza histórica da discussão, o capítulo<br />
sobre a humildade visa um objectivo<br />
político muito concreto. Traçar uma<br />
distinção muito clara entre a “arrogância”<br />
do Presidente Bush e a necessária<br />
humildadedofuturoPresidente(olivro<br />
foi publicado antes da eleição de Obama).<br />
Uma conduta humilde teria que ser a<br />
condição para uma nova política externa<br />
assente na cooperação e em parcerias<br />
multilaterais.<br />
A discussão sobre a humildade tem<br />
ainda uma dimensão religiosa e prepara o<br />
tratamento do último valor da tabela<br />
ideológica de Slaughter.<br />
A importância da fé na vida pública<br />
americana aparece poderosamente nas<br />
primeiras palavras do capítulo:<br />
O ano académico na Universidade de<br />
Princeton abre e termina com serviços religiosos.Todososanossaiosdessascerimónias<br />
profundamente emocionada e<br />
com o sentimento que entendo algo profundo<br />
sobre a vida americana.<br />
A seguir, a autora discute a importância<br />
da religião na história americana e o<br />
modo como moldou as instituições e o<br />
discurso público. Mas a religião, entre os<br />
norte-americanos, está associada à liberdadeeátolerância,<br />
e não ao domínio de<br />
um credo sobre os outros; e é esta característica<br />
que afasta os Estados Unidos de<br />
muitos outros países.<br />
A “fé” tem igualmente uma dimensão<br />
secular: “a fé que faz parte da ideia do<br />
queéaAméricaémaisdoqueféreligiosa”.<br />
As suas raízes encontram-se no Iluminismo<br />
europeu, nos filósofos que os<br />
“Pais Fundadores” leram: “Locke, MontesquieueHume”(entreoutros).Estaé<br />
uma fé nas capacidades individuais, no<br />
futuro e na força da “América”. É em<br />
suma, como diz Slaughter, a “audácia da<br />
esperança” (citando o título da auto-biografia<br />
de Obama).<br />
O “asilo da liberdade”<br />
A eleição de Obama simboliza, de certo<br />
modo, a força da esperança no futuro e a<br />
convicção de que o povo americano, através<br />
de um acto voluntário (a eleição), é o<br />
dono do seu futuro e do seu destino. Este<br />
ponto leva-nos a considerar, com mais<br />
detalhe, as duas ideias centrais no pensamento<br />
de Slaughter.<br />
Em primeiro lugar, como nos diz o títulodolivro,a“Américaéumaideia”.<br />
Uma ideia que se apoia num conjunto de<br />
valores fundamentais e na crença no futuro,<br />
o famoso “destino manifesto”. Recordamo-nos<br />
imediatamente no modo como<br />
Thomas Paine definiu a América”, no ano<br />
daRevoluçãode1776,comoo“asilodaliberdade”.<br />
O asilo para onde tantos europeus<br />
(como Paine) tinham fugido das perseguições<br />
religiosas, das tiranias políticas<br />
edapobrezaemisériasocial.Eparaonde<br />
muitos outros, da Ásia, de África e, ainda,<br />
“ Slaughter foi<br />
muito crítica<br />
(sem nunca cair<br />
em radicalismos<br />
excessivos) da<br />
política externa<br />
dos Estados Unidos<br />
durante as<br />
presidências de<br />
George W. Bush.<br />
“TheIdeathat<br />
is America” é<br />
o resultado<br />
dessa reflexão.<br />
O livro “The Idea that is<br />
America: Keeping Faith with<br />
Our Values in a Dangerous<br />
World” (A Ideia da América)<br />
está disponível na Amazon,<br />
tem 272 pá<strong>gina</strong>s e custa<br />
15 euros.<br />
Do ponto de vista dos valores, os objectivos<br />
da administração Obama são, no eeesncial,<br />
semelhantes aos do presidente anterior.<br />
da Europa continuaram a dirigir-se duranteoséculoXX.Quemfogedapobreza<br />
e da perseguição para se tornar próspero e<br />
viver em liberdade, tem que acreditar no<br />
futuro e na sua capacidade para moldar o<br />
destino. Apesar da crise, apesar do suposto<br />
“declínio”, esta herança continua<br />
bem viva nos Estados Unidos.<br />
O facto de milhões de indivíduos, originários<br />
dos quatro cantos do mundo, terem<br />
construído um “asilo de liberdade”<br />
produziu mais duas convicções muito fortes.<br />
Por um lado, os valores, aparentemente,<br />
“americanos” são, na realidade,<br />
universais. Por outro lado, os valores universais<br />
não só “constituem uma ponte [de<br />
regresso] para o mundo”, como consti-
“ Os valores,<br />
aparentemente<br />
“americanos” são,<br />
na realidade,<br />
universais. Por<br />
outro lado, os<br />
valores universais<br />
“constituem os<br />
fundamentos da<br />
visão americana”.<br />
tuem os fundamentos da visão americana<br />
de uma “ordem mundial justa”. Subjacente<br />
à ideia “América”, está uma visão<br />
da ordem mundial”. O destino da América<br />
é deixar de ser simplesmente um “asilo”<br />
e promover a “liberdade ao resto do<br />
mundo”. Slaughter acredita profundamente<br />
neste destino. Tal como Obama<br />
(talvez ainda com mais força do que o seu<br />
antecessor).<br />
O livro acaba por não responder a uma<br />
questão crucial: como deve ser uma diplomacia<br />
que promove os valores americanos?<br />
Não era, sejamos justos, o objectivo<br />
da autora. No último capítulo,<br />
Slaughter limita-se a avisar contra dois<br />
perigos: o “isolacionismo” e os “fervores<br />
Mhghghk df df gdjkfhg<br />
sdfhglkhsdlfjgh sdjfgh<br />
sjdfh g hsdfkjgh<br />
ksdfjgsjdfhkgjh sdfjkgh ksjdfh<br />
gkj shdfkjgh sdjkfhgk jsdhfkgjh<br />
skdfjg sdfg.<br />
Mhghghk df df gdjkfhg<br />
sdfhglkhsdlfjgh sdjfgh<br />
sjdfh g hsdfkjgh<br />
ksdfjgsjdfhkgjh sdfjkgh ksjdfh<br />
gkj shdfkjgh sdjkfhgk<br />
jsdhfkgjh skdfjg sdfg.<br />
missionários” (apesar da discussão ser<br />
bem mais complicada do que dá a entender,<br />
sobretudo é necessário tratar dos<br />
dois perigos no contexto de uma análise<br />
mais alargada sobre as ideias de “destino<br />
manifesto” e de “excepcionalismo americano”).<br />
Nada disto retira mérito ao livro<br />
e, acima de tudo à qualidade dos argumentos.<br />
Será agora interessante ver<br />
como irá Slaughter contribuir para a promoção<br />
da “ideia de América” nas suas novas<br />
funções. ■<br />
João Marques de Almeida escreve aos<br />
sábados no <strong>Weekend</strong> <strong>Económico</strong> sobre<br />
grandes líderes europeus e grandes livros.<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 53<br />
PERFIL<br />
Kevin Lamarque/Reuters<br />
Anne-Marie Slaughter<br />
Directora “think-tank” departamento de Estado.<br />
Anne-Marie Slaughter constitui mais<br />
um exemplo de um académico que abandonou,<br />
temporariamente, a universidade para servir<br />
o poder político. Deixou a direcção do “Centro<br />
Woodrow Wilson”, na Universidade<br />
de Princeton para se tornar Directora<br />
do Planning Policy Service, o “think-tank”<br />
estratégico do Departamento de Estado,<br />
criado após a II Guerra por George Kennan.<br />
Ou seja, Slaughter é a cabeça pensante<br />
de Hillary Clinton. Nesse sentido, vale certamente<br />
a pena saber o que pensa.
54 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
PUBLICIDADE & MEDIA<br />
1 A campanha lançada<br />
pelo governo de Pequim<br />
apela às contribuições<br />
mundiais para a<br />
produção chinesa. Quer<br />
seja 1 calçado<br />
desportivo, 2<br />
medicamentos, 3 roupa<br />
de alta costura ou 4<br />
o a tecnologia que<br />
permite altos voo.<br />
3 4<br />
Pequim lança campanha para<br />
limpar imagem do “Made in China”<br />
“Made in China. Made with the World” é a assinatura da campanha criada pela DDB Guon.<br />
Margarida Henriques<br />
margarida.henriques@economico.pt<br />
“MadeinChina.Madeinthe<br />
Worldӎolemadaprimeira<br />
campanha publicitária lançada<br />
pelo governo chinês a nível<br />
global, com o objectivo de<br />
mostrar que os produtos chineses<br />
são o resultado de uma parceriaentreaChinaeorestodo<br />
mundo. E assim é também<br />
dado o primeiro passo para<br />
limpar a imagem negativa que<br />
o “made in China” transporta –<br />
apesar de a China ser um dos<br />
maiores exportadores mundiais<br />
de produtos industriais,<br />
estes sempre foram considerados<br />
baratos mas de má qualidade<br />
e prejudiciais à saúde.<br />
“O anúncio tem por base o<br />
conceito de cooperação e participação,<br />
com o objectivo de<br />
A campanha<br />
publicitária arrancou<br />
no passado dia 23<br />
na CNN nos Estados<br />
Unidos bem<br />
enaÁsia,enaCNN<br />
Headline News,<br />
edeveráestar<br />
no ar durante<br />
seis semanas.<br />
passar a mensagem de que a<br />
Chinadáamãoaorestodo<br />
mundo para desenvolver produtos<br />
de elevada qualidade<br />
para os consumidores”, disse o<br />
ministro do comércio chinês<br />
ao jornal “Global Times”. E a<br />
mesma fonte acrescentou ainda<br />
que “na realidade, o ‘made<br />
in China’ é equivalente a “made<br />
in the world’, sendo esta<br />
cooperação é benéfica tanto<br />
para a China como para o resto<br />
do mundo”.<br />
Ao longo do filme de 30 segundos<br />
desfilam vários produtos<br />
desenvolvidos na China<br />
mas que partilham a tecnologia<br />
ou então foram desenhados<br />
noutros países, valorizando,<br />
no final, a sua qualidade. Entre<br />
os vários produtos que aparecem<br />
contam-se uns ténis<br />
“produzidos na China com<br />
2<br />
tecnologia americana”, um<br />
iPod “feito na China com tecnologia<br />
de Sillicon Valley” ou<br />
uma modelo que desfila com<br />
roupas “criadas na China por<br />
designers franceses”.<br />
Com a criatividade a cargo<br />
da agência de publicidade DDB<br />
Guon, em Pequim, para o ministério<br />
do comércio chinês<br />
em parceria com algumas associações<br />
industriais e comerciais,<br />
a campanha publicitária<br />
arrancou no passado dia 23 de<br />
Novembro na CNN nos Estados<br />
Unidos bem como na Ásia, e<br />
na CNN Headline News, e deverá<br />
estar no ar durante seis<br />
semanas, ou seja, até ao início<br />
de Janeiro.<br />
Para já está a ser bem recebida<br />
pelos analistas chineses,<br />
que consideram ser importante<br />
para o governo promover os<br />
produtos chineses. Em especial<br />
porque surge numa altura em<br />
que os Estados Unidos e a<br />
União Europeia estão cada vez<br />
mais preocupados com a invasão<br />
de produtos chineses. No<br />
entanto, agora os analistas<br />
também afirmam que é importante<br />
que o governo invista na<br />
melhoria da tecnologia, de<br />
modoaqueaChinanãoseja<br />
apenas um produtor para designers<br />
estrangeiros.<br />
Eesteéoerroquemuitos<br />
publicitários apontam a esta<br />
campanha, afirmando que<br />
continua a posicionar a China<br />
como a fábrica do mundo inteiro<br />
e reforça a ideia de que os<br />
seus bons produtos são vendidos<br />
sob outras marcas. Por isso,<br />
defendem que a China tem de<br />
evoluir do “Made in China”<br />
para o “Created in China”. ■
Mais alto cartaz publicitário de Portugal<br />
Uma equipa de oito alpinistas colocou ontem o mais alto cartaz<br />
publicitário de Portugal na Torre Vasco da Gama, no Parque das Nações<br />
para antecipar a passagem do ano em Lisboa. A tela, em tons de<br />
vermelho e branco, tem 500 metros quadrados de dimensão e<br />
foi elevada a 100 metros do solo. A organização da passagem de ano<br />
no Parque das Nações promete uma festa diferente dos anos anteriores,<br />
e conta divulgar o programa no decorrer da próxima semana.<br />
Gigantes americanas lutam<br />
para usar a marca no Twitter<br />
Quando tentaram registar a marca no Twitter, descobriram que já estava a ser utilizada.<br />
Margarida Henriques<br />
margarida.henriques@economico.pt<br />
O erro é frequente mas parece<br />
que os ‘marketeers’ teimam<br />
em não aprender. E continuam<br />
sem se preocuparem muito em<br />
acompanhar a velocidade das<br />
mudanças no mundo da Internet.Porisso,quandopercebem<br />
que devem investir, às<br />
vezes é tarde. Foi o que aconteceu<br />
a marcas como a Burger<br />
King, a Walmart, a VolkswagenouaLVMH,queforamtão<br />
lentas na abertura das suas<br />
contas no Twitter que, quando<br />
o tentaram fazer, já não podiam:<br />
as suas marcas já tinham<br />
sido ocupadas por outros<br />
utilizadores, revela o ‘site’<br />
“Advertising Age”.<br />
E é nessa altura que começam<br />
os problemas para os<br />
‘marketeers’ porque a partir<br />
do momento em que a marca<br />
está “na posse” de outros utilizadores,<br />
tudo pode acontecer<br />
umavezqueestáforadoseu<br />
controlo e regras de utilização.<br />
Um dos perigos é que a reputação<br />
da empresa seja prejudicada<br />
por utilizadores mal-intencionados.<br />
Por exemplo, quem<br />
entrar no Twitter da coreana<br />
Hyundai, por exemplo, não<br />
encontra carros mas sim mulheres<br />
com roupas bem decotadas.Outroriscoéqueaempresa<br />
fique de fora das redes<br />
sociais – seja o Twitter, o Facebook<br />
ou outra qualquer – por<br />
não poder utilizar a sua própria<br />
marca. Nestes casos não há outra<br />
alternativa a não ser encontrar<br />
um nome o mais parecido<br />
possível com a sua marca.<br />
PUB<br />
Um dos perigos<br />
équeareputação<br />
da empresa seja<br />
prejudicada<br />
por utilizadores<br />
mal-intencionados.<br />
Ainda assim, a Volkswagen<br />
teve dificuldades em consegui-lo<br />
porque os nomes @vw<br />
ou @volkswagen já estavam a<br />
ser utilizados. A solução foi ficar<br />
com o @vwcars.<br />
No entanto, de acordo com<br />
o “Advertising Age”, há outras<br />
marcas com o mesmo problema<br />
– é o caso da General Electric<br />
ou da General Motors,<br />
mas também da Mastercard,<br />
daNike,daMacy’seatéda<br />
Walt Disney.<br />
É fundamental registar<br />
a marca no ‘online’ e ‘offline’<br />
Mas isto está a acontecer agoracomoTwitterdamesma<br />
forma que aconteceu no momento<br />
em que a Internet deu<br />
os seus primeiros passos ou<br />
até mesmo quando alguma<br />
marca tenta entrar num novo<br />
mercado. Daí que seja muito<br />
importante que, no momento<br />
da criação de uma marca e antes<br />
da definição da estratégia,<br />
os seus responsáveis se preocupem<br />
não só com a escolha<br />
do nome certo mas que analisem<br />
também os mercados<br />
onde prevêem que a marca<br />
possa vir a entrar. Isto para<br />
garantir que o nome não tem<br />
significados indesejáveis noutras<br />
línguas e também para<br />
evitar que outros utilizadores<br />
registem o mesmo nome.<br />
Porque quando isso acontece<br />
só há duas soluções: ou<br />
encontra um nome semelhante<br />
– como fez a Volkswagen<br />
no Twitter – ou então<br />
paga ao outro utilizador para<br />
que lhe ceda os direitos do uso<br />
da sua marca. ■<br />
Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 55<br />
Antoine Antoniol/Bloomberg<br />
A LVMH, que reúne mais de 50<br />
marcas de luxo como a Louis<br />
Vuitton, a Moët & Chandon, ou o<br />
perfume Dior, foi uma das que<br />
chegou atrasada ao Twitter.
<strong>56</strong> <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />
ÚLTIMA<br />
ÚLTIMA HORA<br />
A ANMP, presidida<br />
por Fernando Ruas, quer rever<br />
a Lei das Finanças Locais.<br />
PS e PSD vão adiar fim<br />
das actuais taxas municipais<br />
Os dois partidos dão mais tempo às autarquias para rever as taxas que cobram.<br />
OPSeoPSDqueremalargaroprazo<br />
que os 308 municípios têm para rever<br />
as taxas municipais. O prazo actual<br />
terminava no último dia do ano, mas<br />
os socialistas querem dar mais quatro<br />
meses e os sociais-democratas defendem<br />
um alargamento da data limite<br />
até ao final de Junho.<br />
A actual lei das taxas municipais<br />
prevê que as câmaras só podem cobrar<br />
taxas aos munícipes se as justificarem<br />
tecnicamente. Este trabalho<br />
implica o fim das actuais taxas praticadas<br />
e aprovação das novas, o<br />
que teria de ser feito até ao último<br />
diadoano.Noentanto,oslamentos<br />
de alguns autarcas já encontraram<br />
OS COMENTÁRIOS DA SEMANA<br />
Bancos europeus “estão a<br />
semear” a próxima crise<br />
● Finalmente uma notícia que<br />
espelha o que se sente e o que se vê<br />
na economia real: o sector bancário<br />
estárealmenteafortalecer-secoma<br />
actual crise. Arranjaram uma forma<br />
de terem espaço para cobrarem mais<br />
pelos mesmos serviços. No crédito à<br />
habitação a taxa de referência é a<br />
Euribornosvariadosprazos,eneste<br />
momento segundo dizem os<br />
circuitos financeiros, os bancos<br />
Acompanhe ao minuto em www.economico.pt<br />
eco nos dois maiores partidos que já<br />
apresentaram projectos-lei para<br />
dar mais tempo aos autarcas. A<br />
única diferença entre os dois partidos<br />
está no tempo adicional a dar<br />
aos municípios, com o PSD a dar<br />
um prazo mais alargado.<br />
A Câmara Municipal de Lisboa é<br />
uma das que já tem o trabalho adiantado,<br />
prevendo eliminar cerca de<br />
2.000 taxas.<br />
Além desta alteração, que deverá<br />
passar no Parlamento bastando para<br />
isso um acerto nas datas, as câmaras<br />
municipais reclamam ainda uma revisão<br />
da Lei das Finanças Locais.<br />
Reunidos desde ontem em Congres-<br />
www.economico.pt<br />
estão a comprar o dinheiro mais<br />
caro, devido à analise feita em<br />
termos de rating, ou seja o que aqui<br />
temos são manobras de bastidores.<br />
- GDS, LISBOA<br />
● Alguém descobriu a pólvora em pleno<br />
século XXI. Os bancos cada vez têm<br />
mais poder e os governos têm de se rebaixar<br />
(como está a acontecer com o<br />
governo americano e inglês) perante<br />
esses grupos económicos que têm tal<br />
poder que o governo tem de lhes dar<br />
tudo o que eles querem. -JOSÉ<br />
Propriedade S.T. & S. F., Sociedade de Publicações Lda, Registo Comercial de Lisboa n.º 02958911033.<br />
Registo Semanário <strong>Económico</strong> nº 111 672 Administração Rua Vítor Cordon, n.º 19, 1º, 1200 - 482 Lisboa Telefones 213 236 700<br />
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de Publicações, S.A. Edifício Logista Expansão da Área Industrial do Passil Lote 1 – A Palhavã 2894 002 Alcochete<br />
so, a Associação Nacional de Municípios<br />
Portugueses (ANMP), presidida<br />
por Fernando Ruas, quer tratar destas<br />
questões com o Governo, podendoaproveitarapresençadoprimeiro-ministro,<br />
José Sócrates, hoje no<br />
encerramento do congresso.<br />
A Lei das Finanças Locais “criou<br />
desequilíbrios novos, problemas ao<br />
nível da sustentabilidade financeira<br />
das câmaras”, disse Ribau Esteves,<br />
autarca de Ílhavo à Lusa. Em causa<br />
está o facto de em 2010 serem levantados<br />
“os chamados mecanismos<br />
travão”, que impedem quedas acentuadas<br />
nas transferências do Orçamento<br />
do Estado. M.M.O.■<br />
MAIS LIDAS DA SEMANA<br />
● Veja quanto vai baixar a sua<br />
prestação em Dezembros<br />
Arquivo <strong>Económico</strong><br />
● Gripe A faz mais uma vítima<br />
mortal<br />
● Bancos europeus “estão a semear”<br />
a próxima crise<br />
● Bin Laden visto no Afeganistão<br />
● Detectadas 28 reacções adversasàvacinadaGripeAnaúltima<br />
semana<br />
Leia versão completa em<br />
www.economico.pt<br />
Sogrape vende<br />
activos da<br />
Sandeman Jerez<br />
A Sogrape, o maior grupo vitivinícola português,<br />
acabou de vender os activos que possuía em Jerez de<br />
la Frontera e que estavam sob alçada da marca Sandeman<br />
ao grupo espanhol Nueva Rumasa. A empresa<br />
portuguesa alienou os escritórios e a cave que estavam<br />
ligados ao vinho Sandeman Jerez, depois de<br />
em 2004 ter vendido ao mesmo grupo espanhol as<br />
vinhas que detinha nesta região espanhola. Fonte<br />
oficial da Sogrape escusou-se a revelar qual foi o valor<br />
da operação, frisando apenas que a marca Sandeman<br />
se mantém nas mãos da Sogrape.<br />
A Sogrape tem vindo a produzir o vinho Sandeman<br />
Jerez tendo por base fornecedores locais. Aliás,<br />
após a vendas das vinhas, o grupo espanhol Nueva<br />
Rumasa firmou um contrato de fornecimento para a<br />
marca Sandeman dos vinhos do Jerez. Segundo a<br />
mesma fonte, a Sogrape vai agora “concentrar esforços<br />
na dinamização da marca Sandeman aos níveis<br />
comercial e de marketing”. A aposta estará<br />
centrada na Alemanha, mercado onde a Sandeman<br />
Jerez é líder nos vinhos do Jerez, e na Holanda, onde<br />
também detém uma forte posição, adiantou ainda.<br />
A Sogrape irá manter um escritório em Jerez de la<br />
Frontera (noutro local) e a cave agora alienada, que<br />
está aberta ao público, continuará a manter um<br />
centro de visitas ligado à marca Sandeman Jerez.<br />
Saliente-se que a marca Sandeman comercializa vinhodoPortoevinhodoJerez.<br />
A marca Sandeman mantém-se nas<br />
mãos da Sogrape. A cave, escritórios<br />
e vinhas foram vendidos ao grupo<br />
espanhol Nueva Rumasa.<br />
A Sogrape, que detém 18 marcas entre vinho do<br />
Porto e vinhos de mesa do Alentejo, Dão, Douro,<br />
verde e rosé, tem também presença internacional na<br />
Argentina, Nova Zelândia e Chile. O grupo liderado<br />
por Salvador Guedes tem vindo a apostar no Novo<br />
Mundo vinícola, tendo feito a primeira incursão na<br />
Argentina, em 1997, com a compra da Finca Flichman.<br />
Já mais recentemente, a empresa comprou a<br />
Framingham, na Nova Zelândia, ao grupo Pernord<br />
Ricard, e a empresa chilena Chateau Los Boldos à<br />
família Dominique Massenez.<br />
O grupo português facturou 181,9 milhões de euros<br />
em 2008, representado as exportações cerca de<br />
85% das vendas. A Sogrape prevê para este ano um<br />
crescimento no volume de negócios, apesar da quebra<br />
no consumo sentida a nível nacional e internacional.<br />
Os vinhos de mesa têm sido bem acolhidos<br />
pelo mercado, sendo que o negócio do vinho do<br />
Porto tem sido mais penalizado. S.S.P. ■<br />
Suplemento especial de Copenhaga<br />
Na próxima segunda-feira,<br />
começa a grande Conferência do<br />
Clima Copenhaga. Um evento de<br />
importância crucial para os<br />
próximos anos do planeta terra.<br />
O Diário <strong>Económico</strong> associa-se<br />
ao evento com um suplemento<br />
especial, feito com reportagens<br />
nacionais e conteúdos exclusivos<br />
do “Financial Times”: o que se espera dos líderes<br />
que estarão na Cimeira, casos de sucesso de<br />
empresas portuguesas que conseguiram baixar a<br />
sua factura energética, o mercado do carbono, e as<br />
últimas polémicas sobre o aquecimento global.
Outlook<br />
SUPLEMENTO DE SÁBADO<br />
ECONÓMICO WEEKEND<br />
54<br />
05/12/2009<br />
“Só aceito clientes que têm razão”<br />
José Manuel Galvão Teles
PUB
Look at<br />
5.12.09<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 3<br />
O diagnóstico pode até nem ser ori<strong>gina</strong>l, mas<br />
ganha a força de autoridade quando feito por<br />
um decano da advocacia que se mantém na linha<br />
da frente do exercício do Direito e que neste<br />
momento defende um dos principais arguidos<br />
do processo Face Oculta: é uma loucura o que<br />
se passa na justiça, diz José Manuel Galvão Teles,<br />
numa entrevista em que não se furtou a falar<br />
de nada do que lhe é permitido falar 40 O caso<br />
concreto que move o jurista é o mesmo que<br />
inspira mais uma crónica de João Lobo Antunes,<br />
num texto sobre a natureza dos conflitos<br />
de interesses 11 Também nós procurámos fazer<br />
uma radiografia dos interesses que afundaram<br />
a economia do Dubai e responder à pergunta<br />
simples: pode um país fechar? 32 Outra pergunta,<br />
mais complicada, é a de saber que perguntas<br />
faz sentido levar a referendo numa democracia.<br />
Fomos tentar perceber, olhando o caso suíço 36<br />
De caminho, ficámos a ver aviões serem<br />
desmontados como legos 12 e hotéis a serem<br />
pensados como obras de arte 6 E o Natal está<br />
aí à porta, com um janela aberta no nosso Best Of.<br />
João Pedro Oliveira
4 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
IDEIAS FORTES<br />
No momento em que a UE ensaia<br />
um novo passo com o Tratado de Lisboa,<br />
Gisa Martinho faz a radiografia<br />
da complexa relação de minorias<br />
que continua a definir a essência da<br />
Europa. Enquanto isso, Mónica Silvares<br />
explica-lhe por que razão as decisões<br />
saídas da última reunião da Organização<br />
Mundial do Comércio lhe dizem<br />
mais respeito do que possa ima<strong>gina</strong>r.<br />
A ilustração é de Conçalo Viana<br />
Novas minorias<br />
Quase nem se dá por elas. Discretas na maior parte dos dias, de vez em<br />
quando mexem-se e têm força suficiente para, por exemplo, desbloquear<br />
de uma vez por todas o Tratado de Lisboa. Chamam-lhes minorias, mas<br />
são diferentes das que chegam de ‘patera’ pelo Mediterrâneo, com um<br />
falso visto de turista transatlântico ou de mala de cartão do Leste. Em<br />
comum têm o facto de se ressentirem sempre que um político precisa de<br />
uma injecção rápida de popularidade. Mas a memória de quem ficou do<br />
lado errado da fronteira, não se apaga. Saídas das grandes guerras do<br />
século passado ou do colapso soviético, as novas minorias europeias<br />
mantêm as tradições ori<strong>gina</strong>is e são fiéis à sua versão da história, por mais<br />
que isso ofenda o país onde vivem. Alguns dos grupos étnicos estão só no<br />
imaginário, como é o caso dos Sudetas. Mas os três milhões de alemães,<br />
expulsos de território checo e polaco após a Segunda Guerra, foram a<br />
chave para que o novo tratado europeu entrasse em vigor esta semana.<br />
Sem a garantia de que os Sudetas desistiriam de perseguir uma<br />
compensação pelos bens e terrenos que deixaram para trás durante o seu<br />
‘pogrom’, o presidente checo não ratificou o Tratado de Lisboa.<br />
Já as outras minorias europeias existem e estão em grande forma. As várias<br />
fricções diplomáticas e atropelos aos direitos destes grupos abanam o<br />
santuário dos direitos humanos que devia ser a União Europeia. O mais<br />
recente episódio chega da Eslováquia, da região de Komarno, onde a<br />
convivência com a minoria húngara – 10% da população, cerca de meio<br />
milhão de pessoas – está cada vez mais difícil. Desde que os húngaros<br />
decidiram erigir uma estátua ao rei Estêvão I, um herói do império austro-<br />
-húngaro, que as relações entre Bratislava e Budapeste são as piores<br />
dentro do espaço europeu. A cartada da retórica anti-húngara foi jogada<br />
quase de imediato pelo partido nacionalista da coligação governamental e<br />
serviu de desculpa para passar uma lei polémica. A língua eslovaca, desde<br />
1 de Setembro, deve vir em primeiro lugar quer seja no quadro das escolas,<br />
nos monumentos ou nas conferências de imprensa. Os húngaros acusam o<br />
poder central de discriminação – num protesto que já chegou ao<br />
Congresso norte-americano. Em Bratislava receia-se o regresso de uma<br />
Grande Hungria, através do impulso da minoria magiar espalhada também<br />
pela Roménia, Sérvia e Croácia. Aliás, a mania das grandezas também não<br />
é um mito na zona dos Balcãs, cujos países são candidatos a entrar na<br />
União Europeia. O que antes era o povo jugoslavo é hoje um complicado<br />
tabuleiro geográfico de minorias. Ali ainda se temem as ambições de uma<br />
Grande Sérvia, mas sobretudo de uma Grande Albânia. Na Macedónia, por<br />
exemplo, os albaneses somam 25,2% da população e são a maioria na<br />
quase-nação Kosovo.<br />
De volta ao interior das fronteiras europeias, dois países bálticos<br />
protagonizam o caso mais bizarro de violação de direitos humanos da UE.<br />
Uma parte da minoria russa – que atinge 16,4% da população na Letónia e<br />
7,7% na Estónia – tem o estatuto de ‘não-cidadão’. Uma nova classe<br />
inventada para aqueles que não passam ou não se sujeitam a testes de<br />
cidadania numa das línguas bálticas, mesmo que vivam há gerações no<br />
país. A estes cidadãos de terceira só é permitido viver no país sem visto ou<br />
certificado de residência. Os outros direitos estão num limbo: acesso<br />
condicionado ao sistema de pensões, emprego vedado em organismos<br />
públicos e proibição do russo nas escolas. Bruxelas finge que não vê.<br />
Mesmo quando Vladimir Putin, numa encenação dramática entre o<br />
‘kitsch’ verde e dourado do Kremlin, lê a carta de uma criança báltica cujo<br />
único desejo é poder aprender russo na escola.<br />
A União Europeia, que se sente guardiã e um exemplo a seguir nos direitos<br />
humanos, aceita mal que lhe apontem fraquezas enquanto espera, num<br />
estado de negação, que as diferenças étnicas entre os seus povos se diluam<br />
numa teórica identidade europeia. Fora da fronteira, a atitude de Bruxelas<br />
atinge outros níveis, de censura moral. Desde que a Turquia bateu à porta<br />
da UE, que o caso dos direitos da minoria curda no leste do país é um<br />
ponto de fricção bilateral. Madrinha desde a primeira hora da causa curda,<br />
Bruxelas pressiona o uso da língua da minoria nas escolas públicas e<br />
qualquer incidente na região serve para mostrar como a Turquia continua<br />
‘verde’ demais para entrar na liga europeia.<br />
A distracção cultivada da UE perante as suas próprias minorias não deixa<br />
de ser uma estratégia pensada e cuidada. Sem atenção dos holofotes, os<br />
grupos minoritários têm menos hipótese de ganhar escala, de se<br />
organizarem politicamente e, um dia mais tarde, pedirem, primeiro a<br />
autonomia e depois a independência. As velhas minorias europeias, como<br />
catalães, bascos, flamengos ou valões, continuam a alimentar o sonho de<br />
cisão do poder central. Os escoceses, governados agora por nacionalistas,<br />
apresentaram esta semana uma proposta de independência do reino para<br />
2010. Bruxelas mantém-se uma espectadora atenta às convulsões das<br />
velhas minorias e quase indiferente aos novos grupos étnicos que herdou<br />
dos últimos alargamentos. Não deixa de ser uma boa notícia para Ancara.<br />
Se um dia a Turquia entrar no clube europeu, o capítulo curdo desaparece.<br />
Nessa altura todos serão europeus aos olhos, semicerrados, de Bruxelas.
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 5<br />
O grande desígnio da OMC<br />
Esta semana foi um marco para o comércio internacional. Em Genebra<br />
realizou-se a sétima reunião ministerial da Organização Mundial de<br />
Comércio, de onde saiu a promessa de acelerar as negociações da Ronda de<br />
Doha com vista à liberalização do comércio, a Comissão Europeia propôs<br />
prolongar por mais 15 meses as medidas anti-dumping impostas às<br />
importações de sapatos de pele oriundos da China e do Vietname, e<br />
celebraram-se dez anos das mega manifestações de Seattle que reuniram<br />
cerca de 50 mil pessoas num protesto contra a globalização. Uma<br />
característica que passou a marcar todas as reuniões onde se discute o<br />
tema, embora com níveis de brutalidade decrescentes.<br />
No entanto a maior parte dos portugueses não sabe, nem quer saber o que<br />
se discute nestes círculos. A ideia dominante é a de mais uma sala, cheia de<br />
ministros e burocratas que discutem temas esotéricos, durante anos a fio e<br />
sem resultados práticos. Não é bem assim. E os portugueses já sentiram na<br />
pele as consequências das decisões tomadas nessas altas esferas.<br />
A liberalização do sector têxtilearesultanteinvasãodomercadoeuropeu<br />
de produtos oriundos de outros país menos desenvolvidos foi um duro<br />
golpe para a indústria nacional e que arrastou centenas para o desemprego.<br />
Quer isto dizer que a liberalização é um erro? Não. Apenas que se deveria<br />
seguir com mais atenção aquilo que é discutido em Genebra, a sede da<br />
Organização Mundial de Comércio (OMC). Por um lado, aproveitar os<br />
períodos de transição que são dados para reformar e preparar os sectores<br />
visados e, por outro, formar negociadores que possam, defender, com as<br />
mesmas armas, os interesses portugueses no seio da União Europeia, já<br />
que é esta que negoceia em nome de todos os Estados-membro junto da<br />
OMC. Ou seja, por exemplo, quando os acordos de Marraquexe foram<br />
assinados, em 2001, o têxtil nacional sabia que dez anos depois o sector<br />
seria liberalizado. Houve quem tenha feito o trabalho de casa. As<br />
empresas que decidiram avançar para nichos mais competitivos – os<br />
têxteis técnicos são um exemplo de uma aposta ganha – perceberam o<br />
que estava em jogo, mas houve outras que não tiveram visão de futuro,<br />
deixaram-se arrastar na espuma dos dias e quando se aperceberam do<br />
que se estava a passar era tarde demais. Em abono da verdade é preciso<br />
frisar que houve uma pequena, grande mudança desde que o acordo foi<br />
concluído – a adesão da China à OMC.<br />
Quando a liberalização total entrou em vigor, a 1 de Janeiro de 2005, as<br />
restrições que até então tinham protegidos as indústrias europeias deste<br />
sector caíram. Em breve, as notícias dos jornais davam conta da “invasão”<br />
de vestidos de senhora, toalhas de mesa, soutiens, meias chineses e muitas<br />
outras categorias têxteis. Os empresários bramavam por justiça porque<br />
argumentavam que as empresas chinesas não obedeciam às mesmas regras:<br />
sem o mesmo tipo de restrições ambientais, com mão-de-obra muito<br />
barata e quase sem direitos e muitas vezes com a electricidade subsidiada<br />
pelo próprio Estado. Naturalmente, os produtos tinham de ser mais baratos.<br />
Mas a concorrência não era leal. Depois de intensas lutas de interesses<br />
dentro da própria União Europeia – os países que apenas distribuem<br />
têxteis, ou seja, não produzem, viam com bons olhos estas importações<br />
porque lhes permitia ter margens de lucro superiores e aos olhos dos<br />
consumidores roupa e tecidos baratos é sempre um boa notícia – foi<br />
possível assinar o Acordo de Xangai que definia, novamente, quotas para as<br />
sete categorias de produtos mais problemáticos.<br />
Um problema semelhante é vivido na indústria do calçado, que emprega<br />
mais de 260 mil pessoas na Europa e que por isso gera maiores simpatias.<br />
China e Vietname produzem sapatos abaixo do custo de produção. Um sinal<br />
de que as regras não estão a ser cumpridas. A União Europeia apresentou<br />
queixa junto da OMC e recebeu luz verde para, desde 2006, impor medidas<br />
anti-dumping a estas importações. O prazo das mesmas estava a chegar ao<br />
fim, mas após uma investigação, Bruxelas entendeu esta semana que<br />
existem razões para continuar a cobrar direitos aduaneiros de 16,5% aos<br />
sapatos chineses e de 10% aos vietnamitas, durante mais 15 meses.<br />
O papel de garante das regras comerciais pode ser o grande desígnio da<br />
OMC. Este é já, aliás, um dos pilares da actuação da organização,<br />
presentemente dirigida por Pascal Lamy, antigo comissário europeu do<br />
Comércio. A resolução de conflitos comerciais poderá ser a maior utilidade<br />
desta organização que, enquanto tribunal comercial internacional, já teve<br />
de deliberar sobre disputas tão graves, prolongadas e famosas como a<br />
guerra das bananas ou a dos bovinos com hormonas. O Órgão de Resolução<br />
de Conflitos tem por objectivo dar segurança e previsibilidade ao sistema<br />
multilateral de comércio e é eficiente nessa tarefa precisamente porque<br />
todas as decisões da OMC são tomadas por unanimidade. Os 153 países que<br />
integram a organização têm de votar todos a favor para que algo passe. Esta<br />
é por isso a principal fragilidade, mas também a principal força da<br />
instituição. Isto explica porque é tão duro chegar a acordo sobre a<br />
liberalização dos vários sectores do comércio. Se por um lado, os países<br />
desenvolvidos gostariam de ver liberalizados os serviços financeiros, os<br />
países mais pobres querem liberalizar o sector agrícola. Este equilíbrio de<br />
forças faz a OMC caminhar a passo de caracol e explica porque nove anos<br />
depois de ter lançado a ronda de Doha, o fim está longe de chegar.
6 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
SUCESSO<br />
Chama-se Nini<br />
E o seu nome está nas bocas do mundo. Venceu o prémio de melhor design<br />
de suites com o Hotel The Vine, no Funchal. Mas relativiza. Que outra coisa<br />
pode fazer uma designer que já planeia decorar hotéis no espaço?<br />
TEXTO ÂNGELA MARQUES / FOTOS PAULO ALEXANDRE COELHO<br />
Aacreditar em Paulo de Carvalho,<br />
aos 15 anos Nini vestia<br />
de organdi e dançava,<br />
dançava. Mas já se sabe<br />
como são os artistas – inventam<br />
muito. A verdade é<br />
que aos 15 anos Nini Andrade Silva vivia no<br />
Funchal, longe de Paulo de Carvalho, e<br />
criava, criava. Por essa altura já pensava<br />
fazer uma de três coisas: trabalhar no circo,<br />
ser hospedeira ou designer de interiores.<br />
À sua maneira, hoje consegue ser<br />
tudo. E ainda ganhar prémios.<br />
Por partes: Nini diz que na sua vida,<br />
como no circo, tudo acontece. Que é preciso<br />
um bocadinho de loucura para trabalhar<br />
com ela e perceber que num dia pode<br />
estar ali, no ateliê da Sé de Lisboa (castanho-cosy),<br />
e no outro estar a jantar com<br />
Frank Gerry em Santa Monica. “Há pessoas<br />
que se espantam, mas o Frank Gerry<br />
esteve duas vezes na Madeira e nessas<br />
duas vezes eu estive com ele. Agora combinámos<br />
encontrar-nos.” Não se gaba,<br />
partilha. “As pessoas acham que viver<br />
numa ilha nos fecha. Eu acho que é preciso<br />
perceber que quando as pessoas de fora<br />
vão à ilha vão com outra disposição. E é<br />
preciso aproveitar isso. Conheci pessoas<br />
de todo o mundo lá.”<br />
Por essas e por outras, Nini é uma espécie<br />
de Anita, faz-tudo, vai a todo o lado. E<br />
sente que cumpriu um sonho: também é<br />
hospedeira. “A minha vida é andar no ar.<br />
Ando sempre de avião, estou há um mês<br />
sem ir a casa, só em viagens. Acho que já<br />
sou hospedeira, não?” Sim. “E vivo de hotel.”<br />
Como disse? “Não vou ao Funchal há<br />
um mês e é lá que tenho a minha casa. O<br />
resto vivo de hotel. É por isso que sei fazer<br />
hotéis.” Quando está em Lisboa, passa<br />
muitas vezes a semana num hotel e depois<br />
muda-se para outro no fim de semana.<br />
Outro, mas não outro qualquer. Só fica no<br />
Ritz, no Pestana Palace ou no Fontana Parque,<br />
que decorou.<br />
E é na história de como começou a desenhar<br />
que se percebe como Nini só podia<br />
ser designer (terceiro dos sonhos). “Na escola<br />
fazia os desenhos das minhas colegas.<br />
Levava-os para casaeamãeminhaestranhava.<br />
Perguntava-me porque é que tinha<br />
tantos trabalhos de casa.” Quando teve de<br />
escolher que curso queria tirar, disse à<br />
mãe que queria ser designer. “Ela ainda<br />
me perguntou: tens a certeza de que não<br />
queres ser arquitecta? Eu disse que não,<br />
que queria ser designer e ela acrescentou:<br />
então é isso que tens de fazer.”<br />
Num encontro<br />
de arquitectos<br />
e designers<br />
de interiores,<br />
Nini ouviu uma<br />
frase de que não<br />
se esquece:<br />
“Hoje em dia,<br />
quanto mais ‘cool’<br />
é o quarto mais<br />
difícil é abrir<br />
as cortinas<br />
e acender as luzes.”<br />
E não pode<br />
ser assim, diz.<br />
“Os clientes<br />
não podem sentir<br />
que precisam<br />
de um curso para<br />
sobreviver dentro<br />
do quarto do hotel”<br />
Aos 18 anos Nini mudou-se para Lisboa,<br />
para estudar no IADE. “E adorei. O IADE<br />
ainda era no Palácio de Pombal, no meio<br />
do Chiado. Estávamos em 1980 e tudo<br />
acontecia ali: os pintores estavam ali, as<br />
exposições aconteciam ali.” Adorou, mas<br />
soube-lhe a pouco. Decidiu que tinha de<br />
estudar mais. Foi para os Estados Unidos<br />
(“tinha amigos lá”), depois para a África<br />
do Sul (“para estudar murais e pinturas”),<br />
ainda esteve na Dinamarca (“a estudar arranjos<br />
florais”) e só depois voltou ao Funchal.<br />
Quis aprender para poder mandar:<br />
“Acho que tem de se saber o que se está a<br />
fazer para se poder mandar alguém fazer a<br />
mesma coisa.”<br />
Regressada ao Funchal, decidiu lançar,<br />
com dois sócios, a empresa Esboço. E começou<br />
a decorar casas. Entretanto, a sua<br />
morada já era ponto de paragem obrigatório<br />
no Funchal. “A minha casa fica mesmo<br />
em frente ao mar. O secretário da Cultura<br />
é meu amigo e sempre que lá ia alguém especial<br />
pedia-me para levar lá as pessoas.<br />
Também fui conhecendo muitas pessoas<br />
assim. Hoje a minha casa é conhecida<br />
como o Santuário da Amizade, porque<br />
toda a gente lá vai.”<br />
De dois em dois anos a Esboço abria<br />
uma loja. E das casas Nini passou para os<br />
hotéis. Primeiro pequenos, depois grandes.<br />
Até que o Funchal ficou minúsculo<br />
para tanto sucesso. Nini assumiu o seu<br />
nome como marca e montou um ateliê em<br />
Lisboa (sem deixar a Madeira, onde ainda<br />
hoje tem a maior parte da sua equipa). O<br />
que já corria bem, começou a correr melhor.<br />
Mas Nini sabe porquê. “Sei o que os<br />
clientes querem porque também sou exigente.<br />
Quer dizer, sou péssima. A última<br />
vez que estive em Londres mudei de quarto<br />
três vezes. E via o desespero na cara da<br />
recepcionista. Até lhe disse: compreendo<br />
o seu desespero, mas compreenda também<br />
o meu. As pessoas às vezes não sabem<br />
o que é estar cansada, querer dormir e só<br />
ouvir o barulho do ar condicionado. E os<br />
hotéis têm de ter essas preocupações.”<br />
Mas há mais: para Nini, os quartos têm<br />
de ser funcionais. “Há pouco tempo, num<br />
encontro de arquitectos e designers de interiores<br />
ouvi dizer uma coisa que é mesmo<br />
verdade: hoje em dia, quanto mais ‘cool’ é<br />
o quarto mais difícil é abrir a cortina e<br />
acender as luzes.” E não pode ser, diz. “O<br />
cliente do hotel não pode ficar com a sensação<br />
que precisa de tirar um curso para<br />
ficar ali dentro. Até porque ele quer tecnologia,<br />
mas quer sentir-se bem, quer des-<br />
cansar.” E descansar também quer dizer<br />
dormir. “Uma boa cama é essencial. Os<br />
lençóis têm de ser muito bons. Se o cliente<br />
souber que os lençóis são de algodão egípcio,<br />
até deseja ir para lá dormir.”<br />
É que decorar hotéis não é escolher alcatifas.<br />
Quando se mete num projecto, Nini<br />
trabalha desde o início com os directores<br />
dos hotéis. Foi assim no AquaPura, no<br />
Douro, primeiro hotel que lhe deu notoriedade<br />
em Portugal. Este ano, a decoração<br />
do The Vine valeu-lhe, no início de<br />
Novembro, ficar no top 3 mundial na categoria<br />
de “Interiors and Fit Out” do World<br />
Architecture Festival e ganhar o prémio<br />
de melhor design de suites no European<br />
Hotel Design Awards. Mas os prémios não<br />
são tudo, avisa. “Estar, por exemplo, no<br />
Festival Internacional de Arquitectura,<br />
em Barcelona, já é um prémio.”<br />
E Nini não se limita a estar. Também<br />
gosta de surpreender. “Há pouco tempo<br />
pediram-me para decorar um hotel da Expo.<br />
Eu sugeri algumas alterações, mas disseram-me<br />
que não podia mudar a alma do<br />
hotel. Eu tentei explicar que se podia fazer<br />
alterações sem mudar a alma, mas não me<br />
deixavam. Um dia estava no cabeleireiro e<br />
vi uma peruca. Perguntei se a podia comprar<br />
e levei-a para o hotel. Numa apresentação<br />
de trabalhos perante um júri pus a<br />
peruca. Falei o tempo todo sobre a alma<br />
dos hotéis de peruca posta. Até que, no final,<br />
a tirei. O júri ficou tão surpreendido<br />
que já não sabia se aquela era eu ou não. E<br />
isto serviu para lhes provar que a imagem<br />
pode mudar muitas vezes e a alma ser a<br />
mesma. Ah, também serviu para ganhar<br />
um trabalho em Londres [risos]”<br />
Nini trabalha com uma grande equipa:<br />
trinta pessoas no Funchal e dez em Lisboa.<br />
“Todas um bocadinho loucas. Capazes de<br />
arriscar. Sabem como eu penso e temos<br />
uma linha. E não há impossíveis. Nem<br />
problemas, só soluções.” Por pensarem<br />
também assim, já não se espantam. Um<br />
destes dias, Nini chegou de uma viagem a<br />
dizer que tinha lido no avião que no futuro<br />
será possível construir hotéis no espaço.<br />
Não foi preciso mais nada – começou logo<br />
a fazer planos. E não se escusou a falar deles.<br />
“Trabalho muito na Ásia e tenho um<br />
amigo que sempre me ajudou lá. Um dia<br />
destes, quando soube que um dos meus<br />
planos para o futuro é o de decorar um hotel<br />
no espaço (porque é mesmo, estou a<br />
pensar nisso), disse-me: Nini, as embaixadas<br />
na terra eu ainda conheço, mas<br />
quando for fora da terra...”
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 7
8 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
UTOPIAS<br />
Game over<br />
A luta constante pelo domínio das salas<br />
de estar pode estar a chegar ao fim.<br />
As consolas de videojogos enfrentam,<br />
pela primeira vez, uma ameaça<br />
real de substituição. Pior que isso,<br />
por um sistema bem mais simples,<br />
mais prático e mais barato<br />
TEXTO LUÍSA DE CARVALHO PEREIRA<br />
Os dias da Playstation e da Xbox podem<br />
estar a chegar ao fim. Todos os anos<br />
por esta altura, saem milhares de unidades<br />
das estantes das lojas direitinhas<br />
para debaixo da árvore. Este ano<br />
não será excepção e não é preciso<br />
pertencer ao ‘staff’ do Pai Natal para adivinhar que<br />
esta é uma das prendas mais vezes inscrita nas listas<br />
de pedidos da época. Mas pode não ser assim por<br />
muito mais tempo e talvez seja esta a altura certa<br />
para começar a ponderar melhor o investimento. É<br />
que dentro em breve, as consolas, tal como as conhecemos,<br />
ameaçam tornar-se obsoletas. Um novo<br />
sistema ‘on-demand’ vai permitir-lhe estar na sua<br />
sala, escolher o jogo que quiser, de qualquer consola,<br />
sem que para isso precise de mais do que um comando<br />
e um canal de televisão. Esta será a forma<br />
mais fácil, barata e diversificada de aceder aos jogos<br />
favoritos com o menor esforço possível. Acabou o<br />
botão On/Off.<br />
O sistema Playcast é um novo avanço tecnológico<br />
que combina a conveniência do Vídeo on Demand e<br />
uma nova geração de jogabilidade difundida por<br />
cabo ou IPTV (Internet Protocol Television). Este<br />
sistema permite jogar sem o auxílio de uma consola<br />
ou a necessidade de comprar, fisicamente, os jogos.<br />
“Precisamos ter em mente que, para o utilizador,<br />
é algo totalmente novo. Imagine assistir a um jogo<br />
de futebol num canal desportivo por cabo e ser capaz<br />
de desencadear uma versão de FIFA ou Pro Evolution<br />
Soccer com as mesmas equipas, com o toque<br />
de um botão. Com o nosso serviço livre de consolas<br />
e modelos de preços de custo eficaz, o nosso público-alvo<br />
vai muito além de todos os ‘hard-core gamers’”,<br />
explica Alon Shtruzman, presidente de<br />
Media da Playcast.<br />
A Playcast é empresa de capital de risco<br />
sediada no Reino Unido e em Israel.<br />
Shtruzman explica que o sistema vai<br />
oferecer uma selecção de<br />
jogos de vídeo<br />
A Playcast<br />
anuncia-se com<br />
tecnologia para<br />
jogar jogos sem ter<br />
uma Playstation 3<br />
ou Xbox 360.<br />
Não é necessário<br />
descarregar os jogos<br />
e tudo que precisa<br />
é de um comando e<br />
de uma ligação<br />
Cabo/IPTV.<br />
O sistema já está<br />
a trabalhar em<br />
várias plataformas<br />
mas deverá ser<br />
lançado<br />
comercialmente<br />
algures no inicio<br />
do próximo ano<br />
das principais editoras como um canal de assinatura.<br />
“Vemo-nos como uma operação de televisão<br />
paga, em colaboração com companhias como a Virgin,<br />
a Sky, a BT no Reino Unido e a Cablevision na<br />
América, oferecendo jogos de vídeo on-demand,<br />
como parte do mix da televisão. O portal de jogos<br />
vai aparecer como um canal no EPG (electronic<br />
programme guide)”. Alon revela que “qualquer<br />
jogo pode ser acedido através do Playcast. Uma vez<br />
que é baseado em vídeo podemos transmitir os mais<br />
avançados e pesados jogos, incluindo os títulos mais<br />
recentes”.<br />
Ao que parece tudo o que necessita é de um comando.<br />
O Playcast anuncia-se como uma tecnologia<br />
para jogar sem ter uma Playstation 3 ou Xbox<br />
360. Não necessita descarregar os jogos como no<br />
serviço da GameTap, Steam ou Xbox Live. O servidor<br />
da Playcast converte, codifica e transmite jogos<br />
de alta gama em tempo real com fluxo MPEG (transmissões<br />
contínuas).<br />
O maior problema técnico de jogos em ‘streaming’<br />
deve-se à latência, ou seja, o atraso entre<br />
premir um botão de um controlo remoto e algo<br />
acontecer no ecrã. Se estivermos a ver um filme,<br />
meio segundo pode ser aceitável mas nunca quando<br />
jogamos um jogo. O Playcast apregoa ter ultrapassado<br />
essa barreira utilizando algoritmos patenteados<br />
pela própria empresa, que reduzem drasticamente<br />
a latência inerente, mantendo a qualidade do<br />
vídeo semelhante às consolas e a formação de um<br />
padrão de transmissão contínua de MPEG e bitrates.<br />
“O Playcast representa um salto quântico para jogos<br />
on demand”, diz Guy De Beer, CEO da empresa.<br />
“Enquanto os sistemas de televisão por cabo oferecem<br />
actualmente, na melhor das hipóteses, apenas<br />
jogos rudimentares, o Playcast marca o início de<br />
uma nova geração de distribuição de jogo. Finalmente,<br />
o espaço de televisão e jogos reais unem-<br />
-se para oferecer novos caminhos para alcançar<br />
os utilizadores”.<br />
Shtruzman conta-nos que o sistema já<br />
está a trabalhar em várias plataformas mas<br />
que será lançado comercialmente algures<br />
no início do próximo ano. Questionado<br />
sobre a reacção do consumidor, Alon<br />
diz: “Ainda não o comercializamos<br />
mas os ensaios e ‘shows’ pilotos<br />
mostram um grande potencial”.
O MERCADO DOS VIDEOJOGOS<br />
Para os editores de jogos de vídeo, o Playcast representa<br />
uma resposta às suas preces. Ao contrário<br />
dos filmes, da televisão e da música, estes editores<br />
têm imensa dificuldade em diversificar e rentabilizar<br />
os jogos fora do modelo de negócio básico. Eles<br />
lançam um jogo ao um preço entre 50 e 60 euros e a<br />
maioria do retorno vem nas primeiras semanas. Depois<br />
disso começam os descontos até desaparecerem<br />
das prateleiras de promoções. Isto significa que no<br />
caso destes editores não conseguirem uma venda<br />
massiva do jogo na primeira semana, geralmente<br />
graças a campanhas de marketing muito caras, o título<br />
pode ser considerado uma flop comercial, desencorajando<br />
o risco de investimento. Para agravar o<br />
problema, a percepção que os utilizadores têm do<br />
valor da media hoje faz com que os editores procurem<br />
uma solução de menor custo para a divulgação<br />
do produto. Este é o motivo porque sistemas como o<br />
Playcast são tão apelativos para os editores.<br />
O OnLive e Gaikai são os rivais directos do<br />
Playcast. Ambos competem para serem o primeiro<br />
serviço de jogos on-demand. Embora as suas tecnologias<br />
ainda não estejam completamente provadas e<br />
os seus modelos de negócio não testados, o que oferecem<br />
é muito apelativo. Tanto ao jogador como ao<br />
editor do jogo. A Playcast fala de uma qualidade estilo<br />
Sky Movies Premiere, onde poderá usufruir dos<br />
jogos poucos meses depois de estes serem lançados.<br />
O facto do sistema oferecer aos editores e criadores a<br />
distribuição através de um canal de televisão directo<br />
faz com que o Playcast seja o sistema mais forte dentro<br />
do segmento.<br />
“Centenas de milhões de transacções de vídeo<br />
on-demand são feitas todos os dias, portanto, o potencial<br />
de trazer este volume de negócios para as editoras<br />
e de lhes permitir tirar partido dos seus catálogos<br />
é muito significativo”, explicou Shtruzman.<br />
O INÍCIO<br />
O primeiro país a experimentar o sistema<br />
Playcast será Israel. O lançamento é esperado<br />
para Janeiro ou Fevereiro de 2010,<br />
através do provedor de tv cabo. Seguem-se<br />
Reino Unido e Espanha para<br />
o fim de 2010. Russel Barash, o director<br />
da Playcast no Reino<br />
Unido, diz que a empresa<br />
pretende ofe-<br />
O primeiro país<br />
a experimentar<br />
o sistema Playcast<br />
será Israel.<br />
O lançamento oficial<br />
é esperado para<br />
Janeiro ou Fevereiro<br />
de 2010, através<br />
do provedor de tv<br />
cabo. Seguem-se<br />
Reino Unido<br />
e Espanha.<br />
No lançamento,<br />
vai disponibilizar<br />
entre 15 e 20 jogos<br />
desenhados para<br />
apelar a todos<br />
os gostos, desde<br />
os enigmas<br />
e quebra-cabeças<br />
mais simples aos<br />
mais complexos<br />
jogos como<br />
‘Call of Duty’<br />
recer o serviço no mesmo modelo de ‘pay-<br />
-per-view’. “No lançamento, vamos oferecer<br />
um mix entre 15 e 20 jogos desenhados para apelar<br />
a todos os gostos, desde os enigmas e quebra-<br />
-cabeças mais simples aos mais complexos jogos<br />
como ‘Call of Duty’. Queremos lançar um pacote de<br />
jogos que apele a inscrever-se como faria para um<br />
canal de filmes”.<br />
Apesar de não ser imediato e de, tal como para os<br />
filmes, ser preciso aguardar uns meses para ter acesso<br />
aos títulos mais recentes, a Sony e a Microsoft podem<br />
sair muito afectadas desta ‘batalha’. “Podemos<br />
estar a observar a última geração de consolas de jogo<br />
separadas”, afirma Shtruzman.<br />
NINTENDO_WII<br />
Mas porque não estará a Nintendo neste rol? Talvez<br />
porque, antecipando este movimento na luta<br />
pelo domínio dos videojogos, a empresa se tenha<br />
adiantado e esteja a preparar o seu próprio canal: o<br />
Wii-No-Ma.<br />
Quando questionado sobre o impacto do Playcast<br />
na Nintendo, Nelson Calvinho, relações públicas da<br />
empresa, preferiu não comentar. “É um produto que<br />
ainda não vimos, portanto não podemos garantir até<br />
que ponto o sistema PlayCast, e outros semelhantes<br />
que têm sido anunciados, vão ter impacto na indústria<br />
e nas vidas dos jogadores. Estamos certos de que<br />
a indústria quer saber mais detalhes sobre os custos<br />
mensais e desempenho real do serviço, a forma de<br />
controlo dos videojogos e, mais importante, o número<br />
e qualidade dos jogos disponibilizados - especialmente<br />
saber mais sobre os jogos exclusivos que<br />
irá apresentar”. O relações públicas explica ainda<br />
que a Nintendo, enquanto empresa que tem contribuído<br />
para a expansão da população de jogadores em<br />
todo o mundo, dá as boas-vindas a todas as iniciativasqueaumentemaprofundidadeeademografiada<br />
indústria. Mas realça que, “ao eliminar as dezenas<br />
de milhões de lares que ainda não possuem acesso à<br />
banda larga, é difícil ver como é que este serviço<br />
pode ajudar a alargar o acesso aos videojogos”.<br />
Sobre o novo canal, Nelson Cravinho explica que<br />
este é “um serviço de distribuição de vídeo para consolas<br />
Wii ligadas online. Actualmente só está disponível<br />
no Japão, não existindo de momento nenhum<br />
plano de o lançar em Portugal”. O canal será visível<br />
por todos aqueles que tenham uma consola Wii e ligação<br />
à Internet e terá conteúdos para toda a família.<br />
Desenhos animados, ‘brain-training’, ‘quizzes’, culinária,<br />
programas educacionais e de estilo de vida<br />
serão apenas alguns dos conteúdos disponíveis. Todos<br />
produzidos exclusivamente para a Nintendo.<br />
Já vimos que uma consola com movimento sensorial<br />
remoto faz o delírio das massas. O mesmo<br />
pode acontecer com o Playcast. Qualquer pessoa<br />
que use IPTV/Cabo e que queira aceder ao seu jogo<br />
favorito vai ter uma solução substancialmente mais<br />
barata do que comprar uma nova consola. Resta<br />
agora apenas saber se os jogadores vão prescindir<br />
de terem os jogos ori<strong>gina</strong>is só para si<br />
na sua videoteca pessoal ou abraçar a<br />
ideia de pagarem uma subscrição<br />
para não terem nada<br />
em concreto.<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 9
10 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
A MINHA JANELA<br />
A23 de Novembro, na gala<br />
dos American Music<br />
Awards, a cantora e actriz<br />
Jennifer Lopez, vulgo J-Lo,<br />
caiu de rabo para o ar. Coincidência,<br />
ou não, também<br />
eu fiz a mesma figura três dias antes. O acidente<br />
foi idêntico, mas as diferenças na<br />
queda não podiam ser maiores.<br />
J-Lo subia uma escada humana composta<br />
por dançarinos quase nus, usava calções<br />
minúsculos e justos, e cantava vigorosamente.<br />
No meu caso, levantava-me<br />
discreta e tranquilamente da minha cadeira<br />
para discursar num jantar formal para<br />
investidores em acções japonesas quando<br />
tropecei na mala que havia deixado no<br />
chão e me estatelei de braços e pernas<br />
abertas no meio do chão. Pumba e catrapumba!<br />
O microfone que tinha na lapela<br />
serviu para ilustrar a queda àqueles que,<br />
por estarem mais longe, não a acompanharam<br />
visualmente.<br />
Falar em público é para mim, tal como<br />
para a maioria das pessoas, mais assustador<br />
do que ver um bando de aranhas ou ser<br />
assaltada num beco escuro. O que mais me<br />
horroriza, porém, é a ideia de humilhação,<br />
de falhar redondamente perante uma assistência.<br />
Ou de dar um trambolhão, metaforicamente<br />
falando. O que nunca me tinha<br />
ocorrido é que isso pudesse acontecer<br />
literalmente.<br />
Ao contrário de outras fobias, é perfeitamente<br />
racional ter medo de falar em público.<br />
É raro um discurso correr bem, mesmo<br />
quando o orador se mantém estoicamente<br />
firme até ao fim. Os discursos pós<br />
jantar são um drama, mesmo quando a refeiçãoébemregadaeaassistênciajásucumbiu<br />
ao charme de Baco. O orador só<br />
pensa em duas coisas: quero ir para casa o<br />
mais depressa possível ou gostava de saber<br />
contar piadas. Discursar às massas durante<br />
o dia também não é muito diferente: uns<br />
divertem-se a entreter o tédio enviando e-<br />
-mails, outros jogam no BlackBerry e outros<br />
ainda falam sozinhos ou passam pelas<br />
brasas.<br />
Raros são os homens com talento para<br />
falarem em público. Mas, no caso das mulheres,<br />
é ainda pior. A explicação para este<br />
fenómeno é relativamente simples: as mulheres<br />
não têm jeito para contar piadas, no<br />
entanto, são melhores do que os homens<br />
em termos de auto-conhecimento. Ou<br />
seja, reconhecem que a sua eloquência é<br />
mediana e que a assistência preferia estar<br />
noutro lado a fazer outra coisa. Ora, nada<br />
disto ajuda a melhorar o desempenho do<br />
orador.<br />
Para combater o medo e paralisar o desespero<br />
dou o tudo por tudo para fazer melhor<br />
de cada vez que tenho de passar por<br />
um “filme” destes. Sempre que recebo um<br />
livro novo sobre como falar em público<br />
mergulho imediatamente no capítulo dedicado<br />
às dicas e técnicas da oratória. Na<br />
maior parte dos casos, a primeira recomendação<br />
não foge muito ao “relaxe” e<br />
“seja você mesmo”, o que é uma perfeita<br />
Lucy Kellaway<br />
Como falar<br />
em público sem<br />
dar trambolhões<br />
Falar em público<br />
é para mim, tal<br />
como para a maioria<br />
das pessoas, mais<br />
assustador<br />
do que ver um<br />
bando de aranhas<br />
ou ser assaltada<br />
num beco escuro.<br />
O que mais me<br />
horroriza, porém,<br />
éaideia<br />
de humilhação,<br />
de falhar<br />
redondamente<br />
perante uma<br />
assistência<br />
irresponsabilidade. Isto só serve para<br />
aquela pessoa que, entre milhões, nasceu<br />
eloquente. Para todos os outros ser bom<br />
orador significa muito nervoso miudinho,<br />
nó no estômago e na garganta, e uma grande<br />
dose de teatralidade para parecer natural<br />
e descontraído.<br />
O livro mais recente nesta área intitula-<br />
-se “The Top 100” e contém dicas dos 100<br />
melhores oradores de todos os tempos. Entre<br />
outros mimos revela que o segredo de<br />
Bill Clinton é “inspirar confiança” e que o<br />
de Gandhi era “fugir ao ego”. Até pode ser<br />
verdade, mas de pouco serve para os comuns<br />
mortais. Seria uma veleidade pensarmos<br />
que basta ver um vídeo da obra “O<br />
Cisne Negro” dançada por Nureyev para<br />
estarmos aptos a rodopiar sala fora com a<br />
mesma elegância.<br />
De todas as dicas e conselhos apenas<br />
dois me pareceram úteis. O primeiro é<br />
“praticar, praticar, praticar”. Uma chatice,<br />
como é óbvio, porque consome muito<br />
tempo. Mas não há alternativa. O segundo<br />
é livrarmo-nos de toda uma série de inutilidades.<br />
O Power Point, por exemplo, é<br />
uma muleta inestética e só nos complica a<br />
vida se quisermos dirigir-nos ao público<br />
andando de um lado para o outro na tribuna.<br />
Este ponto inclui também outra regra<br />
de ouro: nunca se deve ler um discurso. Escreva-o,<br />
leia-o as vezes que forem precisas,<br />
interiorize-o e deixe-o em casa no dia<br />
fatídico. Leve consigo apenas algumas notas,<br />
de preferência minimais.<br />
Gostaria de complementar estes dois<br />
conselhos com duas sugestões da minha<br />
lavra, mas alerto desde já para um aspecto<br />
importante e comum às duas: exigem esforço.<br />
A primeira implica perceber se o<br />
orador é realmente chato e se traz consigo<br />
um computador portátil para fazer uma<br />
apresentação em Power Point. A segunda é<br />
escolher a assistência certa. Em tempos,<br />
foi convidada para participar num jantar<br />
que reunia gestores de Recursos Humanos<br />
do Norte de Inglaterra. De que forma? Discursando<br />
depois do jantar. Tarefa titânica,<br />
portanto. Passei dias a ensaiar o dito cujo e<br />
não consegui pregar olho na véspera dado<br />
o nervosismo. Cheguei inclusive a tomar<br />
beta-bloqueadores para domar a ansiedade<br />
e fazer boa figura. Estava tudo previsto.<br />
Foi uma verdadeira desgraça e nem sequer<br />
consegui arrancar um sorriso aos presentes,<br />
quanto mais uma gargalhada. Senti-me<br />
mal semanas a fio, mas agora compreendo<br />
que a culpa foi da assistência. Porquê?<br />
Porque não estavam dispostos a ouvir<br />
uma pespineta da capital a falar sobre as<br />
tendências na área da gestão.<br />
O leitor decerto se pergunta como pude<br />
eu e J-Lo recuperar de tamanho trambolhão.<br />
Ela levantou-se e pôs-se a dançar. No<br />
meu caso, consegui levantar-me com a<br />
ajuda dos organizadores do evento e reaver<br />
o sapato que perdera no momento da queda.<br />
Aí, aproveitei para dizer à assistência<br />
que tinha sido de propósito. Como não<br />
descobrira uma piada para iniciar o discurso,<br />
resolvi improvisar e estrear-me na farsa.<br />
Pareceu-me ouvir algumas gargalhadas<br />
de pura cortesia. Nada mau. Se tivesse<br />
começado o meu discurso contando a únicapiadaqueseidecorteriasidomuito<br />
pior. “Qual é o cúmulo da paciência? Ver<br />
uma corrida de caracóis em câmara lenta”.<br />
Exclusivo Financial Times<br />
Tradução de Ana Pina
O MEU OLHAR<br />
João Lobo Antunes<br />
Conflito<br />
de interesses<br />
Há alguns anos já, apresentou-se<br />
num concurso académiconaminhaFaculdade,<br />
alguém com quem tinha<br />
cortado relações por ter cometido<br />
o que eu entendi ser<br />
um imperdoável pecado de carácter. O dilema,<br />
se aceitasse fazer parte do júri, era<br />
para mim complicado: iria ser mais severo<br />
no juízo porque, simplesmente, não o estimava?<br />
E se o aprovasse seria porque, não o<br />
estimando e temendo cometer uma injustiça,<br />
iria ser mais brando na minha avaliação?<br />
Acabei por decidir não integrar o júri, pois<br />
ainda na Universidade de Columbia eu<br />
aprendera que uma das obrigações mais sagradasdaUniversidadeéojuízoindependente<br />
do mérito.<br />
Maistarde,comoPresidentedoConselho<br />
Científico da minha Faculdade consegui<br />
acabar com o costume de os orientadores<br />
das teses de doutoramento e, muitas vezes,<br />
co-autores dos trabalhos científicos que as<br />
constituíam, serem os arguentes na respectiva<br />
discussão.<br />
E, já agora, uma outra história académica.<br />
Quando me apresentei a concurso para<br />
Professor Agregado, terminadas as provas,<br />
o júri reuniu-se para uma inesperadamente<br />
longa deliberação. Depois lá me chamaram,<br />
cumprimentaram-me efusivamente e pousámos<br />
todos, risonhamente, para a fotografia<br />
tradicional. Porque teriam demorado<br />
tanto tempo, interrogava-me? Explicaram-me<br />
depois que tinha surgido na votação<br />
uma bola preta. O Professor Jaime Celestino<br />
da Costa, decano de Cirurgia, argumentara<br />
então que teria decerto havido engano,<br />
pois eu não merecia tal bola e propôs<br />
nova votação. Todos concordaram. Só que,<br />
desta vez, surgiram duas bolas pretas: uma<br />
certamente para mim e a outra para o professor<br />
que sugerira segunda votação. Enfim,<br />
um estupendo exemplo de injustiça académica,<br />
pelo menos na segunda ronda...<br />
Perguntarão os leitores onde me irá levar<br />
esta breve incursão nos meandros da justiça<br />
universitária. A razão foi a revelação, muito<br />
comentada nos ‘media’, de um advogado de<br />
uma das personagens envolvidas no caso<br />
chamado de “Face Oculta”, ser membro do<br />
Conselho Superior da Magistratura que tem<br />
como missão, se bem percebi, avaliar os juízes<br />
e assim determinar a sua progressão na<br />
carreira. Porque tenho escrito e pregado sobre<br />
a questão do conflito de interesses a diversas<br />
audiências, sempre um pouco incomodadas<br />
pelo tema, e porque também já me<br />
atrevi a falar sobre a profissão da magistratura<br />
e da advocacia e o que de comum têm<br />
com a medicina, gostaria de alinhar algumas<br />
reflexões sobre o assunto.<br />
Qualquer profissão é essencialmente um<br />
contrato social que obriga à protecção de<br />
pessoas e valores vulneráveis por gente especialmente<br />
preparada para tal. No caso do<br />
médico as pessoas são os doentes e os valores<br />
a saúde; no caso dos juízes e advogados<br />
as pessoas são aquelas que a eles recorrem,<br />
clientes, queixosos, arguidos ou réus, e os<br />
valores são os da justiça. Estes são, eviden-<br />
temente, os compromissos primários nestas<br />
profissões.<br />
O conflito de interesses surge sempre<br />
que um indivíduo ou uma instituição têm<br />
um compromisso primário e, simultaneamente,<br />
um compromisso secundário que<br />
pode anular o primeiro, ou é suficientemente<br />
tentador para criar a possibilidade<br />
ou a aparência de que isso pode acontecer.<br />
Ou seja, o interesse primário pode ser indevidamente<br />
influenciado por um interesse<br />
secundário.<br />
É importante sublinhar que o conflito de<br />
interesses é um acontecimento e não um<br />
tipo de comportamento sistemático e,<br />
como disse, pode quedar-se simplesmente<br />
pela aparência. No caso de um juiz, o compromisso<br />
primário pode entrar em conflito<br />
com um interesse secundário como, por<br />
exemplo, o de ascender na carreira. No<br />
caso do advogado, importa-lhe, em primeiro<br />
lugar, a defesa dos interesses do seu<br />
cliente e, secundariamente, a avaliação<br />
isenta do juiz cuja progressão profissional<br />
está, em certa medida, reduzida que seja,<br />
dependente da sua avaliação. É evidente<br />
que o conflito extinguir-se-ia imediatamente,<br />
se os advogados no “activo” não<br />
integrassem o tal Conselho.<br />
No caso da medicina o que está em causa<br />
são fundamentalmente os conflitos de natureza<br />
financeira, não só pelas benesses e<br />
prebendas que os médicos recebem da indústria<br />
farmacêutica, que podem condicionar<br />
os seus hábitos prescritivos, mas também<br />
porque são eles próprios, cada vez<br />
mais, investidores no florescente negócio<br />
da saúde. Por exemplo, há evidência na literatura<br />
norte-americana, de que as clínicas<br />
que são propriedade de médicos recebem<br />
mais 50% de visitas por doentes, naturalmente,<br />
desses mesmos médicos.<br />
A atenção crescente a esta área deve-se<br />
Nunca foi tão<br />
complexo, tão<br />
arriscado e tão<br />
difícil ser juiz como<br />
hoje. Tudo o que<br />
de alguma forma<br />
possa limitar<br />
ou condicionar<br />
a independência<br />
do magistrado<br />
degrada o sentido<br />
nobilíssimo de uma<br />
profissão que é, não<br />
o devemos esquecer,<br />
eminentemente<br />
moral<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 11<br />
também, entre outros factores, a justificadas<br />
suspeitas de enviesamento na apreciação<br />
dos resultados de ensaios com novos<br />
fármacos, quando os investigadores têm laços<br />
económicos com as empresas que produzem<br />
os medicamentos em causa.<br />
Em relação às ofertas da indústria, mesmo<br />
àquelas de valor quase insignificante,<br />
quem estuda estas matérias chama a atenção<br />
para o facto de o objectivo da dádiva ser<br />
gravar a identidade do dador na mente de<br />
quem a recebe, e criar, aberta ou subliminarmente,<br />
a obrigação de retribuir, ou seja,<br />
de reciprocidade. Por isso nos Estados Unidos,<br />
há quem proponha uma tolerância zero<br />
em relação a qualquer dádiva, e a comunicação<br />
pública na ‘net’ de quanto cada firma<br />
paga aos médicos como palestrantes, consultores,<br />
etc. Nesta área o progresso entre<br />
nós tem sido embaraçosamente lento, mas<br />
estou certo que, mas mais tarde ou mais cedo,<br />
a legislação europeia irá disciplinar uma<br />
área que é um dos segredos mais mal guardados<br />
da profissão.<br />
Diga-se, em abono da verdade, que o<br />
conflitodeinteressesestápresenteemtodas<br />
as profissões, desde deputados a árbitros de<br />
futebol. Esta é matéria delicada no seio de<br />
uma sociedade cada vez mais vigilante que<br />
exige bom senso e lucidez para desarmar o<br />
risco que representa, mesmo apenas na<br />
mera aparência que sugere. Ignorar a questão,<br />
escondê-la, mistificá-la, apenas serve<br />
para tornar mais palpável a realidade da sua<br />
existência, num tempo de sistemática desconfiança.<br />
Como escrevi já, nunca foi tão complexo,<br />
tão arriscado e tão difícil ser juiz como hoje.<br />
Tudooquedealgumaformapossalimitarou<br />
condicionar a independência do magistrado<br />
degrada o sentido nobilíssimo de uma<br />
profissão que é, não o devemos esquecer,<br />
eminentemente moral.
12 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BASTIDORES<br />
Os aviões parecem brinquedos<br />
Nas oficinas da OGMA, em Alverca, montam-se e desmontam-se F-16, Airbus,<br />
C-130 e helicópteros Puma como se fossem peças de lego. Algumas máquinas aterram<br />
ali moribundas e, meses depois, descolam com uma segunda vida pela frente<br />
TEXTO ANTÓNIO SARMENTO / FOTOS PAULA NUNES<br />
Os indianos são os clientes<br />
mais meticulosos. No hangar<br />
da aviação executiva das<br />
Oficinas Gerais de Material<br />
Aeronáutico (OGMA), em<br />
Alverca, dois técnicos observavam<br />
atentamente o trabalho dos mecânicos<br />
portugueses. Ali estava um avião<br />
Legacy, usado por membros do governo<br />
da Índia, com capacidade para 12 passageiros.<br />
Quando, por algum motivo, se<br />
aproximavam pessoas sem fato-macaco<br />
eles ficavam agitados. Começavam a andar<br />
de um lado para o outro e mexiam as<br />
mãos de forma nervosa. Queriam saber<br />
tudo e tinham razão. Afinal de contas, o<br />
governo da Índia confiou nestes dois homens<br />
para vigiar o avião durante o mês<br />
que teve de passar em Alverca.<br />
No dia 11 de Dezembro, a manutenção<br />
ficará completa eoLegacyregressaráa<br />
casa. Nesse dia, os dois indianos poderão,<br />
finalmente, respirar de alívio. Os atenta-<br />
A manutenção<br />
de um avião nas<br />
oficinas da OGMA,<br />
em Alverca, custa<br />
entre os 200 mil<br />
euros e o milhão.<br />
Clientes russos,<br />
nigerianos e árabes<br />
costumam deixar<br />
ali os seus aviões<br />
executivos<br />
dos em Bombaim ainda estão na memória<br />
e todo o cuidado é pouco. “Este avião é luxuoso.<br />
Os móveis são feitos com folha de<br />
raiz de árvore da Amazónia e levam 18 camadas<br />
de verniz. Os passageiros sentam-<br />
-se em poltronas individuais, de pele, e há<br />
uma mini cozinha a bordo”, explica um<br />
mecânico português.<br />
A OGMA é uma das empresas de aviação<br />
mais antigas do mundo. Faz a manutenção<br />
de aviões comerciais, militares e<br />
helicópteros, bem como o fabrico e manutenção<br />
de peças e outros componentes.<br />
“Somos uma empresa que dá lucro.<br />
Temos clientes em mais de 45 países e<br />
aplicámos um modelo de gestão que permite<br />
melhorar a qualidade de trabalho<br />
dos funcionários”, diz Eduardo Bonini, o<br />
CEO da OGMA. As instalações da empresa<br />
têm 400 mil metros quadrados, 11 hangares<br />
e uma pista de três quilómetros<br />
onde aterram e levantam voo aviões Airbus,<br />
C-130, executivos e helicópteros.<br />
“Eles entram aqui a voar e vão embora<br />
também a voar, mas com outro aspecto,<br />
novinhos em folha”, diz João Santos, do<br />
gabinete de comunicação<br />
No caso da aviação executiva, os donos<br />
dos aviões nunca aparecem em Alverca.<br />
Exigem descrição máxima. Os clientes<br />
particulares vêm na sua maioria da Rússia,<br />
Nigéria e países árabes. Para já, não há<br />
portugueses a usar as oficinas da OGMA<br />
para fazer a revisão aos aviões. É que o<br />
preço do serviço não é para todos os bolsos,<br />
nem mesmo para milionários – a manutenção<br />
varia entre os 200 mil euros e o<br />
milhão, no caso dos C-130.<br />
MONTAR E DESMONTAR UM F-16<br />
Noutro hangar, está um avião F-16 desmembrado<br />
da Força Aérea Portuguesa.<br />
Uma máquina que atinge duas vezes a<br />
velocidade do som (2448 quilómetros por<br />
hora) parece transformado num brinquedo.<br />
Os mecânicos tiraram-lhe as pe-
ças quase todas e resta apenas uma carcaça,<br />
com um monte de serradura por<br />
baixo para absorver o óleo que cai do motor.<br />
Alguns componentes do avião, como<br />
os ‘speed breakers’ou processadores de<br />
radares, são colocados em prateleiras.<br />
Depois, o F16 passará por diversas áreas<br />
dentro do hangar até ser montado outra<br />
vez. “Durante a fase de montagem os<br />
técnicos terão de interpretar 40 mil desenhos”,<br />
explica Saul Pascoal, o responsável<br />
da empresa pelo relacionamento<br />
com o governo.<br />
Mais tarde, o avião viaja de camião até à<br />
base de Monte Real para as asas serem<br />
postas. Depois, o F16 volta novamente a<br />
Alverca para ser pintado e está pronto para<br />
voar. “Aqui não pode falhar nada. O tempo<br />
de reacção é muito mais curto do que<br />
num avião comercial. Claro que o piloto<br />
tem a vantagem de se poder ejectar”, explica<br />
Saul Pascoal.<br />
A OGMA está ainda encarregue da ma-<br />
“Durante a fase<br />
de montagem<br />
de um F-16<br />
os técnicos terão<br />
de interpretar<br />
40 mil desenhos”,<br />
explica Saul Pascoal,<br />
o responsável<br />
da OGMA pelo<br />
relacionamento<br />
com o governo<br />
Nas oficinas<br />
da OGMA todas<br />
as peças podem<br />
ser tiradas.<br />
Na foto<br />
à esquerda,<br />
um mecânico<br />
espreita<br />
ointeriordeum<br />
motor de avião.<br />
Ao centro, um<br />
avião executivo<br />
eumC-130<br />
da Força Aérea<br />
da França<br />
em trabalhos<br />
de manutenção.<br />
Na foto à direita,<br />
a carcaça de um<br />
F-16 com<br />
as peças<br />
arrumadas<br />
em prateleiras<br />
nutenção de uma frota de aviões C130,<br />
vindos, entre outros países, de França,<br />
Tunísia, Chade, Líbia e República Centro<br />
Africana. Alguns deles, sobretudo os<br />
africanos, podem estar em mau estado e a<br />
viagem até Lisboa é arriscada. Nesse<br />
caso, a única solução é enviar uma equipa<br />
de mecânicos portugueses até África.<br />
“Os aviões não caem por acaso. Tal como<br />
um professor me ensinou, na aviação já<br />
não se inventa nada, está tudo escrito”,<br />
alerta um mecânico.<br />
António Ribeiro, chefe da equipa de<br />
manutenção de helicópteros já teve ir ao<br />
Sudão. No entanto, ainda antes de pegar<br />
nas ferramentas assistiu a uma aula em<br />
Cartum, a capital deste país . “Ensinara-<br />
-me o que devia fazer no caso de ser raptado.<br />
Basicamente não devia fazer nada,<br />
era ficar quieto”, conta.<br />
António Ribeiro garante que voar de<br />
helicóptero é mais seguro do que ir até ao<br />
Sudão ou mesmo viajar de avião comer-<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 13<br />
cial. “Porque se o motor falhar pode entrar<br />
no modo de auto-rotação”, explica o<br />
supervisor, que tem a seu cargo cinco helicópteros<br />
Puma do exército francês.<br />
“Uma manutenção profunda demora dois<br />
meses porque o sistema de rotores é mais<br />
complexo. Chamar hélices aos rotores é a<br />
mesma coisa que dizer que um campista<br />
dorme numa barraca”, compara.<br />
Além da manutenção, nas oficinas da<br />
OGMA, em Alverca, também se fabrica o<br />
avião EH-101, um monomotor de nove<br />
lugares.Atéaomomento,jáseproduziram<br />
980 unidades. As encomendas são<br />
feitas por uma empresa suíça, que os<br />
transporta partir de Alverca num camião<br />
TIR. Na Ogma, o trabalho nunca acaba.<br />
Num dos hangares da empresa está uma<br />
placa amarela que diz. “Lembre-se: o<br />
próximo inspector é o cliente.” Esta é<br />
uma profissão que exige muita perfeição.<br />
Uma peça mal postaeasegurançadovoo<br />
pode estar em risco.
14 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
A MINHA ECONOMIA<br />
Sobre o jogo de poderes<br />
que se vai desenhando<br />
na União Europeia<br />
depois do Tratado<br />
de Lisboa, Fernando<br />
Pacheco tira as medidas<br />
à estratégia francesa.<br />
Quanto a Tim Harford,<br />
volta a aplicar os<br />
princípios da teoria<br />
económica à vida<br />
detodososdias<br />
e assume a difícil tarefa<br />
de ser conselheiro<br />
profissional e amoroso<br />
em apenas vinte linhas<br />
Tim Harford<br />
Querido<br />
Economista<br />
Tenho 32 anos, sou americana e mudei-me há<br />
cerca de cinco anos para Itália, tendo pouco<br />
depois iniciado um mestrado numa<br />
universidade italiana. A média da minha<br />
licenciatura em ciência política era baixa, pelo<br />
que não tinha muito a perder. E tenho agora<br />
dois problemas. O primeiro é namorar. A Itália é<br />
o segundo país com a população mais<br />
envelhecida do mundo. Encontrar um trintão<br />
solteiro é tão difícil como encontrar um<br />
unicórnio. E se eliminar os homens que ainda<br />
vivem com as mães, os fumadores intensivos ou<br />
os homens mais baixos do que eu, então é como<br />
se estivesse num convento.<br />
Em segundo lugar, a universidade italiana que<br />
frequento decidiu voltar atrás na decisão de<br />
aceitar a minha licenciatura americana. Vejo-<br />
-me assim obrigada a frequentar algumas<br />
cadeiras para tirar uma licenciatura italiana,<br />
algo que pode demorar mais um ano.<br />
Detestaria ter que recusar essa possibilidade e<br />
estudar mais um ano, mas será que vou<br />
conseguir aguentar mais doze meses a comer<br />
massa neste estado de celibato forçado?<br />
O meu plano é ir para São Francisco quando<br />
regressar, isto apesar de ter a possibilidade de<br />
ter um emprego semi-permanente no meio de<br />
nenhures. Também posso ficar em Itália; mas se<br />
continuar mais um ano solteira vou morrer<br />
sozinha como diz a minha mãe. E aqui estou eu<br />
a chorar par cima do meu cappuccino<br />
Cara Choramingas,<br />
Parece empenhada em permanecer num país<br />
cuja comida, burocracia e ambiente de namoro<br />
não parece ser o mais indicado para si. A sua<br />
avaliação da situação está ofuscada pela falácia<br />
do custo perdido: estava à espera de tirar um<br />
mestrado, de boa comida e de um romance<br />
italiano. As coisas não funcionaram e acabou<br />
por perder cinco anos da sua vida. Errar é<br />
humano e pode dar-se ao luxo de perder mais<br />
um ano, mas acho que está a cometer um<br />
grande erro. Volte para casa.<br />
Quanto à sua carreira, esqueça o dinheiro: as<br />
obras literárias que se centram na felicidade<br />
sugerem que ter uma relação feliz e um<br />
emprego seguro são muito mais importantes.<br />
São Francisco não é muito famoso pelo seu<br />
excesso de solteirões heterossexuais, mas as<br />
condições demográficas no meio de nenhures<br />
são excelentes e o que não falta aí são<br />
solteirões casadoiros. Tem toda uma nova vida<br />
à sua espera.<br />
Exclusivo Financial Times<br />
Tradução de Carlos Tomé Sousa<br />
Fernando Pacheco<br />
Os jogos<br />
que algumas<br />
pessoas jogam<br />
O Presidente da Comissão Europeia José Manuel<br />
Barroso escolheu para Comissário do Mercado<br />
Interno, com a tutela dos serviços financeiros, o<br />
senhor Michel Barnier. Nada de especial, poder-<br />
-se-ia pensar, não fora o Presidente Francês<br />
partir daqui para concluir que o Reino Unido foi<br />
o grande perdedor na distribuição dos postos em<br />
Bruxelas. Talvez sim, talvez não, dizem outros,<br />
pois o mesmo Reino Unido tem a cargo a<br />
diplomacia da Europa, através da Senhora<br />
Ashton, a mesma que outros dizem que não tem<br />
nem a experiência nem o peso político indicados<br />
para o lugar.<br />
Para não simplificar as coisas, o senhor Sarkozy<br />
é partidário de uma regulação apertada do<br />
sector financeiro europeu, com o objectivo<br />
declarado de prevenir crises como a que<br />
atravessámos ou atravessamos. Acresce que, de<br />
acordo com a decisão dos ministros das<br />
Finanças dos vinte e sete do passado dia 2, no<br />
próximo ano vai ser instituída a Autoridade<br />
Europeia de Supervisão dos Riscos Sistémicos e<br />
três autoridades europeias de controlo para as<br />
Bolsas, os Bancos e o sector dos Seguros. Reino<br />
Unido e França enfrentaram-se muitas vezes<br />
nos últimos tempos sobre as regras e as<br />
competências destas novas autoridades, pois a<br />
City londrina vê-as como um risco sobre o<br />
futurodaquelaqueéaprincipalpraçafinanceira<br />
europeia. Não ajuda a serenar os ânimos o<br />
mesmo senhor Sarkozy ter declarado que “são<br />
as ideias francesas de regulação que triunfam na<br />
Europa.”<br />
Para já, o senhor Barnier recusa-se a nomear<br />
um conselheiro financeiro para o seu gabinete<br />
favorável à posição britânica, ao que estes<br />
últimos estão a responder pressionando a<br />
senhora Ashton a não escolher nenhum francês<br />
para o seu gabinete. Aguardam-se as cenas dos<br />
próximos capítulos.<br />
Um velho problema de Teoria dos Jogos explica<br />
como duas pessoas podem controlar um<br />
Conselho de Administração de nove membros.<br />
Sendo as decisões tomadas por maioria<br />
simples, basta que um destes chame quatro e<br />
lhes explique que se, no dia anterior à reunião<br />
do Conselho, eles cinco se reunirem e<br />
tomarem, por maioria, uma posição comum<br />
sobre os assuntos a ser discutidos no dia<br />
seguinte, os cinco ganham qualquer votação<br />
entre nove eéseguramentemelhorpara<br />
qualquer um decidir entre cinco do que entre<br />
nove. Depois do acordo de todos, é só chamar à<br />
parte dois destes cinco e propor-lhes reunirem<br />
os três na véspera de reunirem os cinco para<br />
fazerem o mesmo; três ganham entre cinco,<br />
que ganham entre nove. Finalmente, é chamar<br />
à parte um destes dois e propor-lhe reunirem<br />
os dois na véspera de reunirem os três. Nos<br />
próximos dias vamos saber se o presidente<br />
francês fez o trabalho de casa.<br />
Administrador da Iberdrola
Bestof<br />
Na hora certa |<br />
O tempo é<br />
agora, este que<br />
nos diz que<br />
há 18 milhões<br />
de crianças<br />
refugiadas em<br />
todoomundo.<br />
Este relógio mede<br />
esse tempo e luta<br />
contra ele. Chama-se<br />
Caçula, da Swatch, e<br />
pretende recolher fundos<br />
para erguer o primeiro<br />
Centro de Acolhimento<br />
Temporário para crianças<br />
refugiadas em Portugal.<br />
Uma casa com tecto,<br />
refeições, educação e<br />
afecto. Não dói nada.<br />
São 46 euros que<br />
equivalem a uma<br />
porta, uma janela,<br />
ou qualquer outro<br />
pedaço de um<br />
lugar para 14<br />
crianças. À venda<br />
em relojoarias<br />
autorizadas e nas<br />
lojas Swatch<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 15
16 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BEST OF<br />
O filme eterno<br />
O 70º aniversário de “E Tudo o Vento Levou”, de Victor Fleming, realizado<br />
em 1939, um ano histórico para o cinema americano, é agora comemorado com<br />
uma edição em DVD com cinco discos. Das oito horas de extras, três são inéditas<br />
Não são só os vinhos que têm<br />
colheitas de excepção. O<br />
ano de 1939 costuma ser<br />
referenciado pelos historiadores<br />
e críticos de cinema<br />
como o “ano de ouro de<br />
Hollywood”. Foi em 1939 que chegaram<br />
aos cinemas filmes como “E Tudo o Vento<br />
Levou” e “ O Feiticeiro de Oz”, ambos de<br />
Victor Fleming, “Cavalgada Heróica”, de<br />
John Ford, “Peço a Palavra”, de Frank Capra,<br />
“Ninotchka”, de Ernst Lubitsch, ou<br />
“O Monte dos Vendavais”, de William<br />
Wyler. Um alinhamento de sonho e uma<br />
demonstraçãoporesmagamentodaexcelência<br />
da indústria cinematográfica americana<br />
no seu auge criativo e de produção.<br />
Setenta anos mais tarde, e para assinalar<br />
a data, “E Tudo o Vento Levou” volta a<br />
ser editado em DVD, numa sumptuosa<br />
edição de cinco discos (dois em Blu-Ray).<br />
Esta caixa para coleccionadores é “gémea”,<br />
em qualidade, quantidade, variedade,<br />
exploração minuciosa do filme e<br />
iconografia, da lançada há poucas semanas<br />
para celebrar os 70 anos de “O Feiticeiro<br />
de Oz”, também de Victor Fleming.<br />
Curiosamente, o realizador não foi<br />
“primeira escolha” dos produtores de<br />
ambos estes clássicos, pois substituiu o<br />
despedido Richard Thorpe em “O Feiti-<br />
ceiro de Oz”; e mesmo antes de o ter acabado,<br />
foi contratado por David O.<br />
Selznick para suceder a George Cukor em<br />
“E Tudo o Vento Levou”, por sugestão de<br />
Clark Gable, que já antes tinha sido dirigido<br />
por ele, tendo ficado muito amigos. Cineasta<br />
muito mais talentoso do que geralmente<br />
se julga, e dotado de uma enorme<br />
capacidade de trabalho e experiência técnica<br />
(começou ainda no tempo do mudo<br />
como director de fotografia), Victor Fleming<br />
preferiu receber ordenado em vez<br />
deumapercentagemdoslucrosquelhefoi<br />
oferecida por Selznick, porque não acreditava<br />
no sucesso de “E Tudo o Vento Levou”.<br />
“Vai ser um dos maiores elefantes<br />
brancos de todos os tempos, David”, disse<br />
ao lendário produtor.<br />
Das oito horas de extras desta edição de<br />
“E Tudo o Vento Levou” especialmente<br />
remasterizada para a comemoração dos<br />
70 anos da sua estreia, e com comentários<br />
exaustivamente eruditos do historiador<br />
do cinema Rudy Behlmer, três são inéditas<br />
e exclusivas. E dado que um dos prazeres<br />
de possuir uma caixa com estas características,<br />
é a exploração da (muito bem<br />
arrum adinha) floresta de extras, ficam<br />
referidos apenas alguns, e mais significativos.<br />
É o caso do esmagador documentário<br />
de duas horas “The Making of a Le-<br />
A filmografia<br />
de 1939 traduz-se<br />
num alinhamento<br />
de sonho e uma<br />
demonstração,<br />
por esmagamento,<br />
da excelência da<br />
indústria americana<br />
no seu auge criativo<br />
e de produção<br />
gend: ‘Gone With the Wind’”, de 1998,<br />
uma mina sem fundo de informação, histórias<br />
e curiosidades, escrito pelo crítico e<br />
historiador britânico do cinema David<br />
Thomson, realizado por David Hinton e<br />
narrado por Christopher Plummer, que se<br />
transformou, por mérito próprio, num<br />
clássico deste formato; de “Melanie Remembers:<br />
Reflections by Olivia de Havilland”,<br />
um documentário de 2004 em<br />
que Olivia de Havilland, intérprete de<br />
Melanie, hoje com 93 anos e única sobrevivente<br />
do elenco ori<strong>gina</strong>l, conta as suas<br />
recordações da rodagem; ou de “1939:<br />
Hollywood’s Greatest Year”, um novo<br />
trabalho documental produzido este ano,<br />
com narração de Kenneth Branagh, que se<br />
centranessejáreferidoehistórico“anode<br />
ouro”de1939etemdepoimentosdeespecialistas<br />
como Leonard Maltin, Molly<br />
Haskell ou F.X. Feeney, além de dezenas<br />
de entrevistas de arquivo.<br />
Junte-se ainda a isto (e à miríade de extras<br />
que ficaram por descrever) uma reprodução<br />
do programa ori<strong>gina</strong>l do filme<br />
de 1939, com 20 pá<strong>gina</strong>s, um livro de 52<br />
pá<strong>gina</strong>s com fotografias e notas de produção,<br />
e ainda oito fotografias a cores da fita.<br />
Afinal, o vento não levou nada. E foram<br />
precisos cinco discos de DVD para caber lá<br />
tudo. VICTOR SILVÉRIO
Com ganas<br />
Um empresário, um ‘bodyboarder’ e um ‘street<br />
artist’. Entre Madrid, Barcelona, País Basco e<br />
Portugal, contam como é largar tudo e ir à<br />
procura do sucesso. Passa hoje, às 21.00, na RTP2<br />
Aideia foi cozinhada num restaurante<br />
de hamburgueres em Madrid. Hugo<br />
Gonçalves, jornalista e autor do<br />
guião, comprou-a antes ainda da sobremesa.<br />
À mesa estavam sentados o produtor do<br />
documentário, Enrico Saraiva, e um amigo<br />
peruano, Alexei Lock, com quem Enrico tinha<br />
decidido montar uma produtora. Ao<br />
guionista foi explicado que o plano era contar<br />
a história dos novos emigrantes portugueses.<br />
Aqueles que trocam os lamentos<br />
pela garra. E que já havia um na mira.<br />
Foi o primeiro. Rui Ferreira, bodyboarder,<br />
entrou nas contas de Enrico, Alexei,<br />
Hugo e Marco Espírito Santo, o realizador.<br />
“A ideia inicial era ver se havia mais portuguesesnovosecomoinconformismodoRui<br />
[que deixou Portugal para ir surfar as ondas<br />
do País Basco e hoje tem a sua (grande) marca<br />
de produtos da modalidade]. Começámos<br />
a procurar em Espanha porque era o<br />
país onde vivíamos e porque reparámos que<br />
cada vez mais havia jovens portugueses naquele<br />
país. Isso e por falta de dinheiro para<br />
poder procurar portugueses inconformistas<br />
nas florestas da Indonésia”, conta Hugo.<br />
“Em Madrid, eu conhecia o José Filipe<br />
Torres, mas não éramos próximos. Um dia<br />
fui entrevistá-lo, curiosamente para o<br />
Diário <strong>Económico</strong>, sobre o seu negócio de<br />
‘branding’ e ficámos uma tarde à conver-<br />
sa. Nessa noite fui beber uns copos com o<br />
produtore e disse-lhe: temos um gajo em<br />
Madrid para o documentário – é mais<br />
do que podíamos esperar.” Por último,<br />
“em Barcelona fez-se um ‘casting’ a dezenas<br />
de pessoas. Apenas uma disse que não<br />
ia, que se quiséssemos que passássemos lá<br />
em casa dele. Curiosos com a arrogância,<br />
fomos. E o Uiu [o street artist] era perfeito.<br />
Era o contrabalanço, o cocktail ‘molotov’<br />
com bom coração.”<br />
No coração do documentário esteve também<br />
o facto de tanto o realizador como o<br />
guionistaeoprodutorsaberemoqueéser<br />
português e viver no estrangeiro. “Já passámospeloqueelespassarametemosamesma<br />
relação com Portugal: num dia apetece-nos<br />
estar cá, no outro apetece-nos mandar isto<br />
ao fundo. É importante sublinhar que todos<br />
os protagonistas do documentário amam<br />
Portugal.Aconteceque,paraeles,Portugalé<br />
aquela mulher a quem se volta sempre para,<br />
passado uns tempos, se voltar a bater com a<br />
porta com o grito: “Tu não mudas”.<br />
A Primeira Fronteira tem três anos de trabalho<br />
dentro. Mas hoje, sábado, conhece a<br />
luz na RTP2, às 21.00. Depois? “Depois festivais<br />
por essa Europa fora e, claro, a possibilidade<br />
de passar num canal espanhol.” Parece<br />
que, afinal, também é possível ter ganas<br />
em Portugal. ÂNGELA MARQUES<br />
O MEU DRAMA<br />
João Tordo<br />
Bola de Berlim<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 17<br />
Só os provincianos é que comem bolas de Berlim. Eu<br />
sou provinciano. Logo, eu como bolas de Berlim. Foi<br />
este o silogismo que consegui formular depois de uma<br />
estadia na cidade de que toda a gente fala. Certo, eu não<br />
sou particularmente dado a silogismos – e também não<br />
sou fanático por doces – mas, quando levo uma<br />
chapada de mão aberta, sei reconhecer a potência da<br />
mão que a deu. Falo, neste caso, da nova capital da<br />
Alemanha (até 1990 Bona ocupava esse cargo na<br />
Alemanha Ocidental) que, por estes dias, começa a dar<br />
nas vistas pela capacidade que tem de se transformar na<br />
nova Paris 1920 – ou, então, no muro (caído) das<br />
lamentações do ‘avant garde’ da arte europeia. Chapada<br />
na cara: o estilo de vida que Berlim pode proporcionar a<br />
uma Europa de novos e ambiciosos artistas à procura de<br />
um lugar ao sol (ou à neve), um lugar onde a terra não<br />
tem valor de mercado, onde se gasta mensalmente um<br />
terço do que se gasta nas capitais mais ocidentais, onde<br />
a comunidade artística está firmemente enraizada e<br />
arranjou meios de auto-subsistência (os artistas são<br />
proprietários de galerias que, por sua vez, fomentam<br />
outros artistas). Bola de Berlim: quando se confunde o<br />
talento com a possibilidade do talento, julgando que<br />
este advirá dessa comunidade e de um certo estilo de<br />
vida. Tenho um amigo que está sempre a citar alguém<br />
que dizia que nunca tinha visto, como hoje, “tantos<br />
artistas e tão poucas obras de arte”; o mesmo<br />
aconteceu-me na Alemanha ao visitar algumas ruas de<br />
galerias onde estão expostos os pedaços mais<br />
miseráveis e indignos de arte urbana que alguma vez<br />
encontrei. Não tentarei justificar-me porque, embora<br />
eu seja leigo em arte, também o sou em culinária, e no<br />
entanto sei distinguir um bife do lombo de uma coxa de<br />
gato; direi apenas que são indignos. Alguns tinham<br />
assinatura portuguesa; a maioria pertencia ao resto do<br />
mundo. Nas festas que se seguiam às galerias, os artistas<br />
e a arte estavam no centro das conversas, como se o<br />
mundo parasse por ali (uma vez mais o efeito bola: o<br />
que acontece ao escritor quando todos os habitantes da<br />
cidade forem, eles próprios, escritores?). A capital<br />
alemã é uma grande cidade e uma cidade grande; mas,<br />
se é um facto que só os provincianos, como eu, é que<br />
comem bolas de Berlim, também é verdade que só os<br />
provincianos é que acham que o engenho aguça a<br />
necessidade; ou, neste caso, que a cidade é que faz o<br />
homem. Bola de Berlim? Sim, mas com creme, se faz<br />
favor.<br />
Escritor
18 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BEST OF<br />
Construção<br />
Pode ler-se como um romance<br />
ou uma lista telefónica, de um fôlego<br />
ou em consultas rápidas. É a história<br />
de Chico Buarque contada pelas<br />
histórias que se escondem atrás<br />
de cada canção sua<br />
Já o encaixotaram em antologias, empacotaram<br />
emhorasdefilme,biografaramemlivro,jápartilharam<br />
o trovador em ‘songbook’, celebraram o<br />
escritoremcolóquios,esmiuçaramocronistaem<br />
debates. Chico Buarque já foi objecto de todos os<br />
olhares possíveis e a sua obra matéria para toda a<br />
espécie de edição - já se publicaram até análises semióticas das<br />
suas canções (não é piada: vale a pena ver o número 7 da revista<br />
“Textos e Pretextos” da Universidade de Lisboa, que lhe foi<br />
inteiramente dedicada). E ainda assim, alguém encontrou espaço<br />
para mais qualquer coisa. Para uma ideia simples que resultou<br />
neste livro que é, ao mesmo tempo, um olhar compreensivo<br />
sobre o autor, um documento sobre quarenta anos<br />
de história do seu país e, claro, mais uma peça de colecção para<br />
militantes da sua obra.<br />
O título é certeiro: “Chico Buarque - Histórias de Canções”.<br />
Porque é disso que se trata. De revolver as razões guardadas nas<br />
133 canções que aqui se incluem, o onde, o quando, o como e,<br />
na medida do possível, o porquê de cada uma delas. Por cada<br />
canção, uma história. O resultado são 360 pá<strong>gina</strong>s que se podem<br />
ler como um romance ou uma lista telefónica – conforme<br />
queiramos uma biografia de Chico na idade adulta ou um manualdeconsultaeapoioàaudiçãodasuamúsica.Aassinaturaé<br />
de Wagner Homem, jornalista que se fez amigo de Chico Buarque<br />
em 1989, quando elaborou o seu primeiro ‘songbook’, e<br />
que desde então tem gerido o site do autor (chicobuarque.com.br)<br />
E foi precisamente daí que a ideia nasceu, quando<br />
Homem percebeu que a pá<strong>gina</strong> onde ia inscrevendo pequenas<br />
histórias e curiosidades associadas às músicas de Chico era, de<br />
longe, a mais lida de todo o portal. E foi desses onze anos de garimpo<br />
acumulado de pequenos detalhes, entre conversas com<br />
o autor, correspondências antigas com parceiros como Vinicius<br />
ou Toquinho e memórias sacadas a músicos e amigos, que<br />
tudo isto nasceu. E parece irrecusável a tentação de descobrir<br />
coisas triviais como quem foi a moça que inspirou a “Morena<br />
dos Olhos de Água”, responder à dúvida metafísica de saber<br />
afinal “O que será que será?”, estudar as fintas com que o poetadriblouacensuraparafazeramensagempassar,ousimplesmente<br />
perceber que não havia mensagem alguma encriptada<br />
naquele verso que sempre nos intrigou.<br />
Certo é que a receita é tão simples quanto eficaz e o livro –<br />
com que a Leya se estreia no mercado brasileiro – já evoluiu<br />
para uma colecção (a obra de Toquinho dará origem ao segundovolumede“HistóriasdeCanções”).Porquenãohánadaque<br />
valha uma boa história e mesmo para quem julga conhecê-la<br />
por dentro parece sobrar sempre um episódio por revelar. Por<br />
exemplo, é do domínio público que a canção “Tanto Mar” teve<br />
duas versões, uma ori<strong>gina</strong>l de 1975, que era uma saudação<br />
emocionada à revolução portuguesa da Primavera anterior, e<br />
uma segunda de 1978, quando Chico, decepcionado com o desenrolardosacontecimentosdesteladodomar,reviuembaixa<br />
o seu entusiasmo. Onde antes se lia “Eu queria estar na festa,<br />
pá”, passou a ler-se “Já murcharam tua festa, pá.” Mas atrás<br />
disso há o delicioso pormenor histórico de uma censura que<br />
nãogostoudequalquerumadasversõeseimpôstesouradasem<br />
ambas. O censor de serviço era Augusto da Costa, antigo titular<br />
da baliza canarinha, sob cuja jurisdição o Brasil sofreu os dois<br />
golos que lhe custaram o campeonato do mundo de futebol<br />
frente ao Uruguai em 1950. Na resposta às rasuras do vigia,<br />
Chico terá respondido apenas: “Porra Agusto, você perde a<br />
copa e ainda vem me aporrinhar?” JOÃO PEDRO OLIVEIRA<br />
São 360 pá<strong>gina</strong>s,<br />
que alternam<br />
entre os textos<br />
e as histórias<br />
associadas a 133<br />
canções de Chico.<br />
Entre a poesia<br />
e a circunstância<br />
que a viu nascer<br />
CHICO BUARQUE<br />
- HISTÓRIAS DE CANÇÕES<br />
–<br />
WAGNER HOMEM<br />
–<br />
DOM QUIXOTE
Que força é esta?<br />
Os concertos que juntaram José Mário Branco, Sérgio Godinho<br />
e Fausto vão ficar para a memória. De quem lá esteve e quem<br />
comprar “Três Cantos ao Vivo”, duplo álbum com DVD e extras<br />
Uns lamentaram o alinhamento<br />
das canções, muitos<br />
maldisseram o som do concerto,<br />
quase todos culparam<br />
a escolha da sala. Mas à saída<br />
da praça não se achava uma<br />
alma que tivesse dado a noite por perdida. O<br />
Campo Pequeno encheu-se de gente convencida<br />
de que ia viver uma boa memória e<br />
esvaziou-se de gente feliz por ter tido razão.<br />
AreuniãoinéditadeJoséMárioBranco,Sérgio<br />
Godinho e Fausto Bordalo Dias em palco<br />
era um acontecimento à prova de decepção,<br />
mas felizmente foi muito mais que isso. E o<br />
melhor é que todas as falhas que se possam<br />
ter assinalado ao espectáculo saíram completamente<br />
depuradas nesta memória que<br />
dele ficou. “Três Cantos ao Vivo” é uma edição<br />
à medida do momento que regista. Das<br />
quatro noites de reunião dos três cantautores<br />
em Outubro passado – duas no Campo<br />
Pequeno, em Lisboa, outra duas no Coliseu<br />
do Porto - resulta um duplo álbum, mais um<br />
dvd do espectáculo e outro de documentário<br />
(há também a versão apenas com os dois<br />
cd, mas este é um daquele casos em que vale<br />
mesmo a pena perder o amor a mais uns euros).<br />
Comecemos, aliás, pelos extras.<br />
A assinatura do documentário diz alguma<br />
coisa sobre a cumplicidade com que a<br />
câmara olhou para este projecto que já andava<br />
a ser congeminado desde 2003 mas<br />
que só em Maio deste ano ganhou pernas<br />
para andar. Atrás da lente esteve André Godinho,realizador,filhodeSérgioGodinho,e<br />
à frente estiveram os três músicos em conversas<br />
e depoimentos intermeados por uns<br />
escassos minutos de imagens de arquivo e<br />
pouco mais. E é quanto basta para um filme<br />
que, sendo breve, não merece a desconsideração<br />
de ser mencionado apenas como<br />
um extra. Chama-se “Tudo Faz Parte” – título<br />
que apanha boleia do inédito composto<br />
por Sérgio Godinho e por José Mário Branco<br />
propositadamente para esta reunião, “Faz<br />
Parte” – e tem o melhor dos melhores documentários:<br />
uma narrativa impecavelmente<br />
construída e grandes personagens.<br />
E o que fica é uma breve viagem entre os<br />
encontros a três, à volta de uma mesa, à voltadasmúsicas,àvoltadeumcopo,guitarras<br />
no colo a tentar pôr os acordes nas mãos, a<br />
discutir arranjos e a lembrar razões e circunstâncias<br />
que se escondem atrás de cada<br />
um daqueles temas que foram alinhando.<br />
Depois o trabalho num estúdio de ensaio,<br />
já com os 22 músicos que os haveriam de<br />
acompanhar em palco. E pelo meio as conversasasóscomacâmaraeamemóriado<br />
passado a trabalhar ao serviço de um espectáculo<br />
que quis à força ser presente – o primeiro<br />
encontro de Sérgio Godinho e Zé MárioBrancoemParisatempodoMaiode68,o<br />
momento em que José Afonso os descobriu<br />
láeooutroemqueeles,chegadoscá,descobriram<br />
Fausto. E tudo isto tem apoio num<br />
TRÊS CANTOS<br />
–<br />
JOSÉ MÁRIO BRANCO,<br />
SÉRGIO GODINHO<br />
E FAUSTO BORDALO DIAS<br />
–<br />
EMI<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 19<br />
extenso artigo que o jornalista Nuno Pacheco<br />
produziu para o livro da edição, narrando<br />
a génese do projecto e pondo os três a comentar<br />
cada uma das 23 canções que ficaraminscritasnoduploálbum,maisasoutras<br />
que apenas se podem ouvir vendo o dvd e<br />
mais uma ou duas que ficaram apenas para<br />
quem assistiu aos concertos.<br />
E do álbum o que se pode dizer é que é um<br />
belo disco ao vivo, que guarda intacta a<br />
energia das quatro noites – a melhor de<br />
cada uma delas, aliás – com a vantagem de<br />
ter o som que, pelo menos no Campo Pequeno,<br />
ninguém escutou a não ser talvez<br />
quem estava na ‘regie’ de gravação (para os<br />
privilegiados da plateia era amarfanhado,<br />
para os degredados do último balcão era<br />
inaudível).<br />
A soma de tudo isto é um documento valioso<br />
que, como bem sintetizou Rui Tavares<br />
numa crónica que é recuperada para o livro<br />
desta edição, regista o encontro inédito de<br />
três autores que no essencial partilham circunstâncias<br />
históricas e referências artísticas<br />
essenciais – ditadura e revolução, a figura<br />
fundadora de José Afonso –, mas que<br />
sempre tiveram uma voz própria, seguiram<br />
uma trajectória diferenciada, criaram um<br />
universo musical e poético singular e são<br />
hoje, mais do que três pilares essenciais da<br />
música popular portuguesa, três miradouros<br />
para os últimos 40 anos da história do<br />
país. JOÃO PEDRO OLIVEIRA
20 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BEST OF<br />
Santos em festa<br />
É no feriado Santo - terça-feira 8, dia da Imaculada Conceição<br />
– que se comemora o 4 º aniversário da Santos Design District, em Lisboa.<br />
Coincidência topominica ou não, o que importa é que 24 lojas de Santos<br />
(o Velho) abrem em horário alargado, com ofertas para os visitantes<br />
Se a descer todos os santos<br />
ajudam, na zona que lhes<br />
presta homenagem com<br />
certeza também darão uma<br />
mãozinha (pede-se a S. Pedro<br />
tempo de feição). É que<br />
no feriado de dia 8 comemora-se o quarto<br />
aniversário da Santos Design District e, à<br />
boa maneira brasileira (o aniversariante<br />
oferece um mimo ao convidado), no bairro<br />
lisboeta as lojas associadas terão ofertas<br />
como degustação do néctar alentejano<br />
da Quinta do Esporão, Vinha da Defesa,<br />
castanhas assadas e Bolo-rei, entre outros<br />
presentes. Tudo e mais horário alargado,<br />
das 11h00 às 21h00.<br />
A Santos Design District (SDD) é a Associação<br />
Empresarial do Bairro de Santos<br />
criada com o objectivo de “dinamizar a<br />
zona enquanto pólo agregador e concentrar<br />
a melhor oferta para um público exigente”,<br />
conta João Peres Alves, o vice-<br />
-presidente da SDD. Tudo compreendido<br />
entre a zona que vai da rua de Santos o<br />
Velho à rua de S. Paulo, passando ora<br />
mais a norte ora mais a sul, pelas diversas<br />
artérias entre a rua da Esperança e a<br />
avenida 24 de Julho. Actualmente, são 12<br />
os associados, entre lojas, galerias, restaurantes<br />
e outros, número que tem vindo<br />
a aumentar desde a fundação com<br />
quatro lojas: Domo, Loja do Banho, Paris-Sete<br />
e Steinwall. Uma das mais recentes<br />
aderentes é a Gandia Blasco. Madalena<br />
Leite de Castro, a Directora de<br />
Marketing e relações públicas desta loja<br />
de design e decoração, faz votos para que<br />
“se consiga criar um verdadeiro núcleo<br />
para que Santos se torne fundamental<br />
nas áreas da decoração e do design”. A<br />
Gandia Blasco sorteará uma peça da loja<br />
entre os visitantes.<br />
Às iniciais juntaram-se também a Luz e<br />
Som, O Epicurista, Frade dos Mares, Drago<br />
Capital, Projecto Boavista, Transboavista|VPF|Art<br />
Edifício e United Media.<br />
Zona frequentada por uma população<br />
bastante heterogénea (de dia são os universitários,<br />
designers, arquitectos, público<br />
diverso e uma faixa etária mais envelhecida<br />
que aqui reside; à noite são os<br />
jovens que procuram os bares), diz João<br />
Peres Alves, “Santos não pára”. “Temos<br />
cada vez mais agentes associados às in-<br />
dústrias criativas a deslocarem-se para<br />
cá. Sendo o design o ‘drive’ da associação,<br />
assumimos a sua componente cultural“.<br />
Como que a provar estas palavras está a<br />
participação de outros estabelecidos da<br />
zona: Alkantara Associação Cultural,<br />
Branco sobre Branco, Astelle Melu, Estado<br />
Líquido, La Hora Espanola, Flor, Floris,<br />
Purpurina, Santos da Casa, Cool Design,<br />
Mood, O Mundo de Sofia, Gaggenau,<br />
Nogo, Rentagallery 24, Rentagallery Now<br />
e Galeria das Bernardas. Paula Crespo, a<br />
proprietária desta última, está a estudar a<br />
adesão à associação, da qual espera “ima<strong>gina</strong>ção,<br />
iniciativa, divulgação, coesão e<br />
projectos rejuvenescedores para o bairro”.<br />
Neste dia a Bernardas sorteará também<br />
uma jóia.<br />
Feito o balanço, “as pessoas sabem o<br />
que é e onde fica”, o vice-presidente da<br />
SDD deixa uma promessa para o próximo<br />
ano: “Levar à rua, além de eventos nas lojas,<br />
iniciativas culturais, que podem até<br />
não ter o design como eixo principal, mas<br />
que sejam elemento de ligação dos agentes<br />
e população que vive, trabalha e se diverte<br />
em Santos”. CRISTINA S. BORGES<br />
DOMO I LOJA DO BANHO I PARIS SETE I STEINWALL I GANDIA BLASCO I LUZ E SOM I O EPICURISTA I FRADE DOS MARES I DRAGO CAPITAL<br />
I PROJECTO BOAVISTA I TRANSBOAVISTA I VPF I ART EDIFÍCIO I UNITED MEDIA I ALKANTARA ASSOCIAÇÃO CULTURAL I BRANCO SOBRE<br />
BRANCO I ASTELLE MELU I ESTADO LIQUÍDO I LA HORA ESPANOLA I FLOR I FLORIS I PURPURINA I SANTOS DA CASA I COOL DESIGN<br />
I MOOD I O MUNDO DE SOFIA I GAGGENAU I NOGO I GALERIA DAS BERNARDAS I RENTAGALLERY 24 I RENTAGALLERY NOW
Matosinhos à solta<br />
Era uma cidade satélite que cheirava a peixe.<br />
Mas isso era dantes. Agora dá lições ao Porto sobre<br />
como promover a cultura sem cair no disparate.<br />
Um caso de sucesso<br />
Até há uns anos, Matosinhos era a cidade<br />
dos pescadores e das indústrias das<br />
conservas. Depois passou a ser a cidade<br />
da refinaria da Galp. Mais tarde, transformou-se<br />
numa espécie de deserto urbano na<br />
periferia do Porto, onde ninguém queria viver.<br />
Para abreviar: actualmente, Matosinhos<br />
éacidadedoGrandePortoondeaculturaé<br />
mais bem tratada – tem até aparentemente<br />
um lugar próprio, independente, sem ser<br />
umaparentepobredenada–eumexemplo<br />
que, mais que ser estudado, deve ser seguido.<br />
Paraabreviaraindamais:apolíticaculturalde<br />
Matosinhos é a política cultural que o Porto<br />
devia ter, se se desse o caso, que não dá, de na<br />
câmara da segunda maior cidade do país alguém<br />
saber o que raio isso é.<br />
É por isso que, nos próximos dias 7 e 8 de<br />
Dezembro, a Câmara de Matosinhos volta a<br />
cobrir o Porto de vergonha, ao organizar,<br />
através da biblioteca municipal, mais uma<br />
ediçãodaFestadaPoesia.NoPorto,poesiasão<br />
aquelas manchas de texto que não chegam ao<br />
fimdaspá<strong>gina</strong>s,quequaseninguémlêequem<br />
lê não percebe e quem percebe tem no mínimo<br />
um passado duvidoso de bombista; em<br />
Matosinhos é ponto de partida para um encontro<br />
com os escritores João Pedro Mésseder,<br />
José Jorge Letria, José Fanha, Valter Hugo<br />
mãe, João Luís Barreto Guimarães, José Mário<br />
Silva, Ana Luísa Amaral, Manuel António Pina<br />
e Isabel Pires de Lima.<br />
MasaFestadaPoesia–certamequecomoa<br />
própria, a poesia, não é propriamente estanque<br />
– tem muitas coisas que até parece que<br />
não são poesia. Para além dos encontros com<br />
escritores há encontros com músicos (Sam<br />
the Kid, New Max e NBC e um concerto com<br />
Pedro Moutinho); uma exposição de ilustrações;<br />
poesia dita por Victor de Sousa; teatro e<br />
espectáculos (entre os quais “Jorge de Sena o<br />
regresso a casa”); uma oficina de artes com o<br />
muito desconstrutivo nome “Brincar e pintar<br />
Florbela”, que há-de ser a Espanca, que por<br />
ali andou, por Matosinhos, nas suas paixões<br />
de demónio; e uma prova de poemas, que, de<br />
propósito, aqui não se diz o que é.<br />
O tal espectáculo “Jorge de Sena: o regresso<br />
a casa” vale a pena ser levado em consideração:<br />
é uma homenagem ao poeta, ensaísta,<br />
pensador e escritor – um dos mais brilhantes,<br />
lúcidos e esquecidos do país – numa performance<br />
de poesia musicada, com José Jorge<br />
Letria, Guto Lucena e António Palma, assinalando<br />
os 90 anos do seu nascimento e os 50 da<br />
sua partida para o exílio – que nunca mais<br />
acabou, ou não fosse ele exactamente lúcido.<br />
ANTÓNIO FREITAS DE SOUSA<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 21<br />
A MINHA FICÇÃO<br />
Patrícia Reis<br />
O nevoeiro do futuro<br />
O homem desceu a calçada com o jornal debaixo do<br />
braço. Tinha feito várias anotações e analisado o<br />
suplemento de emprego com olhos de lince,<br />
conhecedor e experiente destas coisas. Começou por<br />
riscar todos os anúncios que indicavam idade. Não<br />
valeria a pena ir por aí. Quando tomou o café às sete e<br />
quarenta e cinco havia um nevoeiro em Lisboa que lhe<br />
lembrou a aldeia, outros tempos, uma vida que fora dele<br />
e que hoje, de forma algo estranha, lhe parece alheia.<br />
Na aldeia, em miúdo, correndo com os cães e trincando<br />
pão duro do dia anterior, o futuro não o preocupava.<br />
O futuro não existia simplesmente. Agora, depois de<br />
cinquenta e seis anos a fazer coisas tão diferentes na<br />
grande cidade, o futuro era o dia de amanhã, o levantar<br />
à mesma hora, a hora da vergonha, e não ter para onde<br />
ir. A mulher a arrumar as coisas na cozinha, pronta<br />
para ir para casa de uns senhores lavar e esfregar,<br />
educar uma criança pequena, mimada e demasiado<br />
pesada para andar ao colo. Sete euros à hora, quatro<br />
vezes por semana, já que a mãe da criança a deixava<br />
com os avós às sextas. Daria jeito esse dia extra, mas<br />
nada a fazer, as coisas são o que são. Para não a fazer<br />
perder mais cabelo, para não a levar a tomar mais<br />
medicamentos, ela sempre a caminho da médica de<br />
família, com tantos queixumes, esqueceu-se de lhe<br />
dizer que estava no desemprego desde o início do<br />
Verão. Ponderou na conversa e concluiu que de nada<br />
servia. Alguma coisa apareceria, ele safar-se-ia como<br />
sempre e ela teria menos uma preocupação, ela sempre<br />
com o miúdo às costas e um cesto de roupa para<br />
engomar de segunda à quinta.<br />
O homem que desce a calçada já não se importava com<br />
nada. Das sete e quarenta e cinco às seis da tarde, o<br />
horário do costume, da imobiliária onde esteve os<br />
últimos dez anos e que, de repente, fechou portas por<br />
ser ilegal, por não existirem nem os papéis nem as<br />
cunhas certas, o homem vai vendo o jornal e os<br />
empregos que existem: director de marketing, gestor<br />
com MBA, jovem licenciado para a área da<br />
Publicidade... Impossibilidades que ele não vislumbrou<br />
quando corria pelo nevoeiro da aldeia, já sem sapatos e<br />
sem saber nada do futuro. Podia, hoje à noite, contar<br />
tudo à mulher, em meio tom, depois da novela. Mas<br />
para quê? Agora, tão próximo do Natal, o melhor será<br />
ficar calado e não dizer nada. Se não disser nada talvez<br />
passe. Quem sabe?<br />
Escritora
22 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BEST OF<br />
Para além do tempo,<br />
dentro do museu...<br />
Obras pertencentes à colecção do Museu Nacional Soares dos Reis, datadas<br />
dos séculos passados, entram em diálogo com outras realizadas na nossa<br />
contemporaneidade, estabelecendo relações de génese muito variadas<br />
As disciplinas que tratam da<br />
teoria e da historiografia da<br />
arte são ciências que desde a<br />
sua instituição, no contexto<br />
dos avanços positivistas do<br />
século XVIII, vêm conhecendo<br />
um desenvolvimento baseado fundamentalmente<br />
em estudos filosóficos.<br />
Até uma certa altura, que teve o seu início<br />
a partir da segunda metade do século XX,<br />
acreditava-se que toda a prática artística<br />
se baseava numa perspectiva historicista.<br />
Isto significa que os novos movimentos<br />
artísticos que apontavam novos caminhos,<br />
faziam-no através de um retorno às<br />
grandes questões de outros tempos, com<br />
vista a reproblematizá-los e daí alcançar<br />
novos pontos de vista que por sua vez,<br />
abriam o caminho a novas interrogações.<br />
Hoje em dia, e como ficou expresso através<br />
das teorias defendidas pelos oradores<br />
– Hal Foster e Boris Groys - presentes na<br />
última conferência organizada em Serralves,<br />
nos dias 27 e 28 de Novembro, este caminho<br />
parece ter chegado a uma encruzilhada.<br />
No entanto, as suas, são ainda teorias<br />
em estado de problematização, visando<br />
sobretudo a obra de arte realizada hoje,<br />
isto é, na nossa mais imediata contemporaneidade,<br />
pelo mundo a fora.<br />
Para melhor compreender esta questão,<br />
nada melhor do que presenciar este<br />
processo dialéctico posto em prática. É o<br />
que acontece presentemente no Museu<br />
Nacional Soares dos Reis, no Porto, onde<br />
Maria de Fátima Lambert organizou uma<br />
exposição temporária intitulada “Do séc.<br />
XVII ao séc. XXI: além do tempo, dentro<br />
do Museu”.<br />
O objectivo, segundo as suas próprias<br />
palavras, foi o de “sob desígnios de afinidade,<br />
simulacro/similitude ou diferencialidade,<br />
propor o estabelecimento de confronto<br />
a autores contemporâneos, cujas<br />
obras são demonstrativas de intenção,<br />
conceito e iconografia concretizadas através<br />
de anuências e cumplicidades diversificadas”<br />
Estão presente nomes como os de<br />
João Luís Bento, Duarte Amaral Netto, Rui<br />
Calçada Bastos, João Jacinto, Susana Mendes<br />
Silva, Nuno Sousa Vieira, Isaque Pinheiro,<br />
Pedro Valdez Cardoso, Suzanne<br />
Themlitz, João Tabarra e João Pedro Vale...<br />
“as obras apresentadas percorrem diferentes<br />
registos, linguagens, morfologias e<br />
estratégias reveladoras de uma estética e<br />
artisticidades elaboradas e singulares que,<br />
deste modo, contribuem para uma vivificação<br />
de tempos e espaços no Museu”<br />
continua.<br />
A grande aposta não se limita a esta tarefa<br />
reveladora, mas também e segundo<br />
referiu, de um hipotético início de uma<br />
apreciação contemporânea sobre um património<br />
artístico de valor incalculável,<br />
para as distintas gerações que constituem<br />
ANTÓNIO JOSÉ DA COSTA<br />
> UVAS, 1914, ASSINADA<br />
E DATADA, ÓLEO SOBRE CARTÃO<br />
DIM: 41,5 X 59,5CM<br />
CRUZ RELICÁRIO<br />
> NEFRITE ESCULPIDA, ÍNDIA<br />
MOGOL, SÉCULO XVII / XVIII, OURO<br />
AMARELO INCRUSTADO, PRATA<br />
DOURADA GRAVADA E CRAVAÇÃO<br />
DE RUBIS E VIDRO INCOLOR<br />
DIM: 28,1 X 12,5 CM<br />
INV. 120/1 OUR MNSR<br />
o público de hoje para amanhã. Das salas<br />
do Museu foram escolhidas obras de Augusto<br />
de Roquemont, António José da<br />
Costa, Silva Porto, João Vaz, Manuel Jardim,<br />
Aurélia de Sousa, Sofia de Sousa,<br />
Heitor Cramez e Fernando Lanhas – pintura;<br />
Augusto Santo e Canto da Maya – escultura;<br />
peças de Faiança portuguesa dos<br />
sécs. XVII e XIX; peças de Ourivesaria e de<br />
Joalharia portuguesa (insígnias de ordens<br />
militares) do séc. XVIII, e, ainda, uma das<br />
salas mais emblemáticas do MNSR – a sala<br />
dos espelhos (sala da música).<br />
Atrair novos públicos, habituados a um<br />
diferente segmento artístico e cruzar a sua<br />
própria experiência através do dialogo<br />
entre diferentes tempos e correntes estéticas<br />
de forma a proporcionar uma maior<br />
ligação às praticas artísticas é outro dos<br />
desafios a que se propôs a curadora, incentivada<br />
pela directora do museu, Drª Maria<br />
João Vasconcelos. Nos tempo que correm,<br />
em que a critica à falta de meios é constante,<br />
fica o exemplo de que com pouco também<br />
se pode avançar. O caminho, duro é<br />
certo, não pode ser abandonado e, passo a<br />
passo, se podem e devem continuar a desenvolver<br />
estratégias, que implicam evidentemente<br />
recurso a meios mais variados.<br />
Responsabilidade civil através de<br />
mecenato e maior consciência pública são<br />
as condições que se impõem.<br />
MARIA DO CARMO ESPÍRITO SANTO
O pêndulo<br />
do luxo<br />
O peso é de ouro (branco).<br />
Sustentado por 402 ametistas<br />
e 12 diamantes. Não deixa dúvidas<br />
nem passa incógnita. É uma das<br />
peças da colecção De Grisogono,<br />
de origem suíça e uma das mais<br />
luxuosas marcas de jóias<br />
e relógios do mundo.<br />
Conhecida pela ousadia<br />
e irreverência das suas criações<br />
é presença assídua na passadeira<br />
vermelha dos acontecimentos<br />
mais carismáticos do mundo,<br />
dos eventos de moda aos festivais<br />
de cinema. Charlize Theron, Demi<br />
Moore, Alicia Keys, Monica Belucci<br />
e Beyoncé são algumas das<br />
celebridades que as exibem.<br />
Além deste brincos, são 75 as peças<br />
disponíveis na Boutique<br />
dos Relógios Plus, em Lisboa.<br />
A que escolhemos vale 21.900 euros.<br />
Luz<br />
em seda<br />
LASTING SILK UV FOUNDATION<br />
–<br />
48,70 EUROS<br />
Encontrar a cor e a luz certa e fazê-la<br />
durar, estampada no rosto, o tempo<br />
que se deseja. Eis Lasting Silk UV<br />
Foundation, que anuncia uma nova<br />
composição de finos pigmentos com a<br />
promessa de uma cor radiante e<br />
duradoura. Desde 2001 que Armani investe<br />
na tez feminina através de uma tecnologia<br />
cosmética ori<strong>gina</strong>l – a MicroFilTM -,<br />
baseada na sua tendência de junção e<br />
sobreposição de tecidos. Os ingredientes?<br />
Uma combinação de essência de água,<br />
partículas micronizadas com efeito óptico<br />
e micro pigmentos luminosos, moídos para<br />
produzir uma base leve que potencia a cor<br />
e assegurando uma longa duração. Como<br />
tecidos com efeitos de luz e translucidez.<br />
Analogia que, de resto, se tornou a<br />
assinatura das bases Giorgio Armani.<br />
Desde o ano em que a marca se<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 23<br />
especializou neste tipo de cosmético -<br />
com a base Luminous silk, eleita a melhor<br />
do ano por sete anos consecutivos pela<br />
revista americana de beleza Allure – muita<br />
tinta tem corrido até à presente Lasting<br />
Silk UV foundation, resistente a spotlights,<br />
entre numerosas outras particularidades.<br />
A textura é liquida e sedosa, com um<br />
acabamento semi-mate e está disponível<br />
em oito tons: Ivory Beige, Light Sandy<br />
Beige, Pale Beige, Warm Beige, Natural<br />
Beige, Tawny Beige, Tan e Natural Suede.<br />
De acordo com as distintas tonalidades<br />
das peles femininas. Giorgio Armani<br />
transformou a moda numa era de<br />
elegância descontraída e de ar casual a<br />
partir do momento da desconstrução do<br />
casaco. Resta um conselho: aplicar a base<br />
com um pincel (adequado) para garantir<br />
uma cobertura certa e duradoura.
24 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BEST OF<br />
One for the road<br />
Normalmente, as grandes casas do Vinho do Porto apenas declaram<br />
Vintage três vezes por década. Se as razões são climáticas ou comerciais,<br />
pouco i mporta. O 2007, que agora nos chega, é um ano para celebrar<br />
OPortoVintageéotopodegama<br />
dos rubies (envelhecimento<br />
não oxidativo, logo focados na<br />
pureza dos frutos violetas)<br />
comooPortoColheitaéotopo<br />
de gama dos Tawnies (envelhecimentooxidativo,emtonéisdemadeira,<br />
que mais rapidamente amaciam os vinhos,<br />
que resultam focados em tons de mel e tostados).<br />
Vintage é a palavra inglesa para colheita,<br />
o que não ajuda a diminuir as confusões.<br />
OPortoVintage,aindavaleapenarepeti-<br />
-lo, é uma das jóias da coroa que são os vinhos<br />
fortificados portugueses. Feito apenas<br />
com as melhores uvas de um único ano em<br />
que as circunstâncias climáticas sejam excepcionais,<br />
é um vinho encorpado e retinto,<br />
de um violeta quase preto, que é engarrafado<br />
entre o segundo e o terceiro ano após a<br />
vindima. Pode ser consumido desde logo,<br />
mas agradece a longa e cuidada guarda em<br />
condições apropriadas de baixa temperatura,<br />
humidade relativamente alta, sem luz e<br />
sem vibrações. Os melhores vinhos têm<br />
vida de décadas, durante a qual vão perdendo<br />
devagar a sua cor violeta, e ganhando tonalidades<br />
primeiro vermelhas, depois castanhas,<br />
depois ambarinas, e finalmente de<br />
mel, premiado com laivos esverdeados e, se<br />
estamosjápertodacentenadeanos,amarelos<br />
vivos e brilhantes.<br />
A esta mudança de cor corresponde um<br />
amaciardopaladar,aadstringênciaeagressividade<br />
vão-se dissolvendo no tempo, a<br />
fruta vai mudando de tom, dos primários<br />
dos mirtilos e amoras para frutas mais suaves<br />
como ameixas e romãs, aparecendo aos<br />
poucos os frutos secos como avelãs e nozes,<br />
especiarias, compotas suaves, cacau, chocolate,<br />
café, caramelo, e por vezes tons herbáceos<br />
de mato, casca de árvore, ervas do<br />
monte.Na boca o vinho evolui de uma enorme<br />
concentração em novo, cheio de volume,<br />
taninos, corpo espesso, sabores doces e<br />
frutados, para uma progressiva integração<br />
das componentes, com o álcool a integrar-<br />
-se melhor no vinho, a acidez e os taninos a<br />
fornecer a estrutura que seguram o vinho e<br />
asseguram o bom envelhecimento, ainda<br />
com as características cada vez mais salientes<br />
de complexidade e multi-dimensionalidade.<br />
Um vinho destes mostra complexidade<br />
pela enorme variedade de componentes<br />
integradas, muitas vezes quase indistinguí-<br />
QUINTA DO VESÚVIO<br />
SYMINGTON FAMILY ESTATES<br />
> O Grupo Symington não passa despercebido nas<br />
classificações. Tem marcas que rivalizam umas com<br />
as outras, entre as Graham’s, Dow’s e Warre’s, e<br />
outras menos conhecidas, mais vocacionadas para<br />
o mercado inglês, mas onde se encontram pérolas a<br />
bons preços, como a Smith Woodhouse ou a<br />
Quarles Harris. De 2007, saliento o Quinta do<br />
Vesúvio, propriedade mítica junto a Numão. Mostra<br />
no aroma muita fruta em passa, também ameixas e<br />
ginjas, especiarias, pimenta, traços minerais.<br />
Complexo e elegante, muito sofisticado e tenso. A<br />
boca é sedosa, densa, muito fina, com taninos<br />
elegantes e muito bem envolvidos no vinho. Final<br />
longo, muito refinado.<br />
veis, e mostra multi-dimensionalidade pelas<br />
sensações que fornece nos órgãos sensitivos.<br />
Largo na boca quando se espalha e nos<br />
invade de diferentes percepções nas papilas<br />
gustativas,profundoquandocadanovainspiração<br />
nos revela uma nova característica<br />
antes escondida por outras, longo, quando<br />
após o engolirmos a sensação que deixa na<br />
boca se prolonga por muitos segundos ou<br />
mesmo minutos.<br />
Normalmente, as grandes casas do Vinho<br />
do Porto apenas declaram Vintage três vezes<br />
por década. Se as razões são climáticas ou<br />
comerciais é um pouco relevante, que estas<br />
tradições têm séculos e são para manter. Nos<br />
anos Off-Vintage as casas lançam o que se<br />
tem chamado “single quinta,” vinhos onde<br />
se encontra uma boa relação qualidade preço.<br />
Após as declarações generalizadas de<br />
2000 e 2003, tivemos recentemente a pompa<br />
e circunstância da declaração de 2007. Ao<br />
contráriodosanosmaisquentes,ondeamaturaçãodasuvasfavoreceovinhodoPorto,o<br />
Verão frio e suave de 2007 parece ter favorecido<br />
os vinhos de mesa. No entanto, provados<br />
os Vintages de 2007, encontra-se neles<br />
uma frescura, fruto da boa acidez e da lenta<br />
maturação das uvas, que os torna muito afáveisesedutoresdesdejá.Commaisde60casas<br />
a declarar Vintage (rigorosamente aprovados<br />
pelo Instituto dos Vinhos do Douro e<br />
Porto), é uma declaração generalizada e um<br />
ano clássico. Os suspeitos do costume fizeram<br />
outra vez os melhores vinhos: o Grupo<br />
Symington(Graham’s,Dow’s,Warre,etc.)e<br />
Fladgate Partnership (Taylor’s, Fonseca,<br />
etc.). Estas grandes casas dispõem de grande<br />
variedade de origens de vinhos de onde podem<br />
extrair os melhores lotes. Mas houve<br />
surpresas, com algumas quintas a mostrarem<br />
grande qualidade. Só o tempo dirá se<br />
esta vai ser uma colheita para evoluir durante<br />
muitas décadas, como as míticas 1963,<br />
1970, 1977, 1985, 1994. Agora, é altura de<br />
comprar o mais cedo possível, para apanhar<br />
os melhores preços. Provar logo, que estes<br />
vinhos mostram pouco num período que<br />
pode ir dos 5 aos 12 anos após a vindima. Depois,<br />
ir abrindo pacientemente as garrafas,<br />
decantá-las por causa do grosso depósito<br />
(com o qual se temperam óptimos estufados<br />
de carne ou cogumelos), e combiná-las com<br />
queijos ou frutos secos, sempre com boa<br />
companhia. LUÍS ANTUNES<br />
QUINTA<br />
DA ROMANEIRA<br />
2007<br />
> Desenhado por António Agrellos,<br />
o enólogo da Quinta do Noval,<br />
este vinho vem de uma quinta que<br />
passa do underdog para uma das<br />
estrelas da declaração, rivalizando<br />
com o próprio Quinta do Noval<br />
(este ano não houve Vintage<br />
Nacional, a micro cuvée de uma<br />
vinha de pé franco,<br />
ou seja, com cepas sem porta-<br />
-enxerto americano), e a um<br />
excelente preço. No nariz mostra<br />
bonita fruta como amoras<br />
e outras indistintas, minerais<br />
como alcatrão, especiarias doces<br />
e finas, esteva. Muito complexo,<br />
com profundidade e frescura.<br />
Muito fino na boca, elegante<br />
e estruturado, com muita<br />
densidade mas mantendo<br />
alevezaefrescura,esemperder<br />
nada da estrutura. Longo, com<br />
chocolate preto, especiarias, fino,<br />
requintado.<br />
FONSECA 2007 QUINTA<br />
AND VINEYARD BOTTLERS<br />
> O Vintage Fonseca aparece quase sempre<br />
no topo das classificações de Vintages.<br />
Este 2007 não é excepção.<br />
É um vinho tenso, com um cheiro complexo e<br />
compacto, onde aparecem em crescendo as<br />
especiarias, fruta preta canforada, chocolate,<br />
alfarroba.<br />
Na boca também se nota que o vinho<br />
precisa de tempo e arejamento para abrir.<br />
Mostra-se firme e grave, com excelente<br />
densidade, taninos muito educados,<br />
que lhe dão uma textura sedosa<br />
e sedutora. Tem final muito longo,<br />
saboroso e com boa complexidade.
Rebuçados à moda antiga<br />
Para satisfazer a própria gulodice ou adoçar a boca a alguém,<br />
com um presente personalizado e ori<strong>gina</strong>l, chegaram a Lisboa<br />
os rebuçados artesanais da Papabubble. De comer e voltar por mais<br />
Oque acontece quando uma<br />
pessoa que nunca gostou de<br />
rebuçados visita pela primeira<br />
vez uma loja de doces<br />
artesanais em plena Baixa<br />
lisboeta? Entra de pé atrás,<br />
mas sai rendida. Os menos cépticos, ou<br />
mais gulosos, saem completamente viciados<br />
nos pequenos rebuçados de fabrico<br />
artesanal (feitos ali mesmo, à frente dos<br />
clientes, várias vezes ao dia) de todas as<br />
cores e sabores. Na Papabubble Lisboa,<br />
instalada numa antiga loja de figurinos na<br />
Rua da Conceição, há pedaços de açúcar<br />
puro (a base para os rebuçados feitos à<br />
moda antiga é água com açúcar e glucose,<br />
que coze em lume forte durante mais ou<br />
menos meia hora) com sabores para todos<br />
os gostos: do tradicional mentol à coca-<br />
-cola, mas também piña colada, melancia,<br />
banana, maracujá, violeta, maçã, morango,<br />
kiwi, lima, limão, canela picante, e<br />
por aí fora, até ao limite da ima<strong>gina</strong>ção.<br />
“Qual o sabor dos nossos corações?”, desafia<br />
o blog papabubblelisboa.blogspot.com,<br />
num convite a visitar a loja, no<br />
coração da Baixa.<br />
Todos do mesmo sabor, vendidos em<br />
pequenos saquinhos monocromáticos, ou<br />
então todos misturados em boiões de vidro,<br />
que se podem trazer à loja para voltar<br />
a encher e alimentar o vício. Há também<br />
chupa-chupas de vários tamanhos, até ao<br />
XXL,esushiderebuçado(limãoeeucalipto)<br />
que não dispensa os pauzinhos. Rebuçados<br />
para a tosse, rebuçados sem açúcar<br />
ou rebuçados de coco e laranja recheados<br />
de chocolate serão os próximos lançamentos.<br />
Pequenas obras de arte (que podem<br />
ser personalizadas e feitas por encomenda)<br />
para deixar derreter na boca.<br />
O conceito de ‘caramels artesans’ da<br />
Papabubble nasceu em Barcelona, em<br />
2004, com o “desejo de recuperar a magia<br />
dos rebuçados artesanais” e depressa se<br />
expandiu pelo mundo: Tóquio, Amesterdão,<br />
Nova Iorque, Seul, Taipé e, desde 21<br />
de Novembro, Lisboa. Durante o tempo<br />
em que viveu na capital catalã, Nuno<br />
Couceiro tornou-se cliente e fã incondicional<br />
da Papabubble. Com experiência<br />
no mundo do teatro e da fotografia, decidiu<br />
tornar-se ‘candy maker’ (para aprenderaarteeatécnicafeztrêsmilquilos<br />
de<br />
PAPABUBBLE<br />
> Rua da Conceição, 117-119<br />
Tel. 213427026<br />
lisboa@papabubble.com<br />
> Segunda a Sábado<br />
das 10h30 às 19h30<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 25<br />
Paula Nunes<br />
rebuçado em três meses de formação, entre<br />
Barcelona e Amesterdão) e trazer a<br />
ideia para Portugal. Além de Nuno, toda a<br />
equipa Papabubble está ligada às “artes<br />
visuais”, a começar pelo sócio Vasco, que é<br />
arquitecto e responsável pela visão mais<br />
comercial do projecto.<br />
No número 119 da Rua da Conceição,<br />
Nuno e Sónia são os artistas de serviço. Mal<br />
os ‘candy makers’ começam a juntar “cor<br />
e sabor” à substância pastosa, os clientes<br />
enchem a loja como que por magia. Surgem<br />
imediatamente memórias de infância,<br />
quando todos os tostões eram gastos<br />
em rebuçados na mercearia do bairro.<br />
Ainda a revisitar o passado, os olhos estão<br />
pregados nas massas de várias cores (neste<br />
caso verde, vermelho e preto, para fazer<br />
rebuçados de melancia) que vão ganhando<br />
forma na bancada. O processo é complexo<br />
e trabalhoso, o resultado é artístico. “É<br />
olaria com rebuçado”, define Vasco. Na<br />
loja, o espectáculo é seguido com extrema<br />
atenção. “Isso come-se?”, pergunta um<br />
miúdo que entra na loja para espreitar e sai<br />
entretido a provar um rebuçado quente,<br />
acabado de fazer. BÁRBARA SILVA
26 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
BEST OF<br />
É Natalis<br />
O maior mercado de Lisboa para prendas de Natal abre hoje, na FIL.<br />
Até 13 de Dezembro, a 4.ª edição da NATALIS é a melhor opção<br />
para quem anda à procura de presentes alternativos<br />
Arrisca-se a entrar no Guinness:<br />
a maior concentração<br />
de prendas de Natal alternativas<br />
por metro quadrado<br />
pode ser vista, a partir<br />
de hoje, na FIL, no Parque<br />
das Nações. Em 10 mil metros quadrados<br />
de exposição, o maior mercado de Natal<br />
de Lisboa, que vai na 4.ª edição, tem tudo.<br />
Do artesanato à gastronomia tradicional e<br />
gourmet, passando pelos acessórios de<br />
moda e joalharia, aos livros e até decorações<br />
de Natal (porque há sempre que se<br />
atrase com a compra do pinheiro), há de<br />
tudo na Natalis – Feira de Natal de Lisboa.<br />
Até há bons corações. É que as receitas de<br />
bilheteira revertem a favor das organizações<br />
de solidariedade social ali presentes.<br />
Com um recorde de 23 mil visitas em<br />
2008, a organização espera agora superar-se<br />
e atingir as 27 mil. Este ano, além<br />
das actividades que constam do programa<br />
da Natalis (porque além de compras,<br />
é ali possível fazer workshops de cerâmica<br />
ou de Tai-Chi Chuan ou assistir a<br />
alguns concertos, como o da orquestra<br />
Tocá Rufar, hoje às 16.30), os visitantes<br />
poderão ainda visitar o FIL Fun & Music,<br />
que estará aberto até ao dia três de Janeiro<br />
e onde poderão experimentar (por<br />
suacontaerisco)umapistadegelode<br />
500 metros quadrados, uma parede de<br />
escalada, carrosséis, carrinhos de choque,<br />
veículos eléctricos ou camas elásticas<br />
e insufláveis.<br />
Para visitar a feira, “qualquer dia é<br />
bom”, diz, claro, Miguel Comporta, director<br />
da Área de Feiras da Fil. “Todos os<br />
dias os expositores repõem os seus stocks<br />
e todos os dias haverá novidades. No sector<br />
da gastronomia poderá deliciar-se<br />
com os nossos produtos mais tradicionais.<br />
Haverá uma série de actividades lúdicas<br />
diárias que darão animação e entretenimento<br />
a quem se deslocar à FIL, tais como<br />
animação para crianças, actividades para<br />
a terceira idade, demonstrações de artesanato,<br />
dança, música, entre outras manifestações<br />
que irão encher o pavilhão de<br />
cor e movimento”, diz, em jeito de anúncio<br />
de Natal, o responsável.<br />
Por ser uma feira com uma componente<br />
solidária muito forte, ali estarão presentes<br />
mais de 60 Instituições Particulares<br />
de Solidariedade Social. Até porque<br />
este mercado é uma iniciativa da AIP-CE /<br />
FIL, que conta com o apoio da Câmara<br />
Municipal de Lisboa e do Instituto da Segurança<br />
Social. E que desde a primeira<br />
edição conta com a presença de dezenas<br />
de Instituições Particulares de Solidariedade<br />
Social envolvidas na organização.<br />
“Somos todos fundadores e parceiros,<br />
desde a Santa Casa da Misericórdia de Lis-<br />
Artesanato,<br />
gastronomia<br />
tradicional<br />
e gourmet, bijuteria,<br />
livros, decorações<br />
de Natal. Cabe tudo<br />
no pavilhão 3 da FIl,<br />
no Parque<br />
das Nações. Se está<br />
farto de centros<br />
comerciais<br />
e das mesmas<br />
prendas de sempre,<br />
aproveite<br />
boa às pequenas instituições de bairro”,<br />
conta Miguel Comporta. “A ideia da Natalis<br />
surge na convergência de vários factores:<br />
o Natal é, por excelência, um período<br />
de actividades solidárias”, explica. “E nós<br />
tínhamos a visão de oferecer os serviços<br />
que prestamos à economia eàsociedade<br />
em geral, de forma solidária, às instituições<br />
que no seu quotidiano apoiam os<br />
mais desfavorecidos”, conclui.<br />
Assim, a Associação Industrial Portuguesa<br />
- Confederação Empresarial / Feira<br />
Internacional de Lisboa (AIP-CE / FIL)<br />
decidiu, há quatro anos, colocar à disposição<br />
das IPSS a sua estrutura FIL, como<br />
plataforma de mercado e promover o empreendedorismo<br />
solidário. Para além<br />
desta vertente, “era importante assegurar<br />
um apoio financeiro efectivo que facilitasse<br />
a presença destas entidades na feira.<br />
A partilha da receita de bilheteira, com<br />
todas as IPSS presentes, assume-se como<br />
um contributo efectivo”, afirma.<br />
Se o espírito do Natal lhe pede que dê<br />
também um contributo efectivo a quem<br />
precisa (e já agora que compre presentes<br />
ori<strong>gina</strong>is para toda a família), visite a Natalis.<br />
Entre 5 e 13 de Dezembro, das 14h30<br />
até às 23h. O bilhete custa apenas dois euros.<br />
Mas não lhe podemos garantir que<br />
não vai lá deixar bastante mais.<br />
LUÍSA DE CARVALHO PEREIRA
Um mundo à parte<br />
A sexta geração do BMW Série 5, que vai estar à venda no mercado nacional<br />
a partir de Março, diferencia-se no estilo, no tamanho e, sobretudo, no capítulo<br />
da segurança, ao recorrer à mais avançada e sofisticada tecnologia de controlo<br />
ABMW decidiu seguir uma estratégiadiferenteparaonovo<br />
modelo que se prepara para<br />
lançar na Primavera de 2010,<br />
revelando com alguma antecedência<br />
o seu conteúdo essencial.Trata-sedasextageraçãodoSérie5,<br />
que promete dar que fazer aos seus principais<br />
adversários, designadamente a Audi e a<br />
Mercedes-Benz, num segmento à partida<br />
dominado pelas marcas alemãs. E isso fica a<br />
dever-se, desde logo, não só a uma completa<br />
revisão da estética, tanto por fora como<br />
por dentro, como igualmente a um conjunto<br />
de outros pormenores com destaque para<br />
o facto de o modelo ter crescido em praticamente<br />
todos os sentidos em relação à actual<br />
geração ainda à venda.<br />
Em termos concretos, esta nova geração<br />
Série 5 cresce 5cm no comprimento (para<br />
4,89m) e 2cm na largura (para 2,86m). Porém,<br />
a maior alteração verifica-se na distânciaentreeixos,comumaumentode8cm<br />
(passa para 2,86m), que se traduz numa<br />
maior habitabilidade interior e num reforço<br />
significativo da capacidade da bagageira,<br />
que passa dos 520 litros da geração anterior<br />
para os 620 litros.<br />
Mas o novo BMW Série 5 é um pouco mais<br />
do que tudo isto, já que do ponto de vista<br />
tecnológico foram dados passos importantesnocapítulodasegurança,comaadopção<br />
do sistema de quatro rodas direccionais à<br />
cabeça ou o dispositivo que adverte o condutor<br />
para a redução da distância que o separa<br />
do veículo que segue à sua frente. Ainda<br />
no campo da tecnologia, há a salientar<br />
uma versão melhorada do “Head-up-Display”,<br />
que projecta no pára-brisas a infor-<br />
A versão<br />
turbodiesel mais<br />
acessível desta<br />
sexta geração será<br />
a 520d, equipada<br />
com uma<br />
evolução do<br />
motor de quatro<br />
cilindros que<br />
passará a debitar<br />
184cv, só chegará<br />
ao mercado<br />
nacional em Julho<br />
do próximo ano<br />
mação mais importante relativa à condução,<br />
bem como o Controlo Dinâmico de<br />
Condução, com os seus quatro modos de<br />
funcionamento: Normal, Comfort, Sport e<br />
Sport+, que permitem configurações muito<br />
diferentes para cada situação. A nova berlina<br />
adopta ainda muitas das tecnologias já<br />
patentes no Série 7 e do recentemente lançado<br />
Série 5 GranTurismo, como é o caso do<br />
acesso à Internet, que estará disponível<br />
como opção.<br />
Outro dos aspectos em que esta sexta geraçãoprometemarcarpontosénacompatibilidade<br />
dos seus motores com o meio ambiente,<br />
já que todos eles beneficiarão, em<br />
maior ou menor escala, do programa EfficientDynamics,<br />
que engloba um conjunto<br />
de medidas para maior eficiência e redução<br />
nos consumos e emissões poluentes.<br />
Disponível à partida apenas na versão de<br />
carroçaria berlina de quatro portas (a carrinha,<br />
denominada Touring, deverá chegar<br />
mais tarde, para depois do Verão), o novo<br />
BMW Série 5 irá contar com praticamente o<br />
mesmo leque de motores a gasolina e Diesel<br />
do modelo actual. Isto é, a oferta a gasolina<br />
vai centrar-se nas versões 523i (204cv), a<br />
única que não fazia parte da gama da anterior<br />
geração, 528i (258cv), 535i (306cv) e<br />
550i (407cv). No caso dos motores turbodiesel,<br />
inicialmente estarão disponíveis<br />
duas versões: 525d (204cv), 530d (245cv).<br />
Quanto a preços, só serão conhecidos<br />
mais perto do início da sua comercialização,<br />
em Março do próximo ano, embora não devam<br />
variar muito da actual tabela: entre os<br />
47.350 euros da versão de entrada de gama e<br />
os 141.550 euros da versão mais potente M5.<br />
CORREIA DE OLIVEIRA<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 27
28 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
Dupla imbatível<br />
Heidi & Seal<br />
A modelo Heidi Klum e o cantor Seal formam a verdadeira “família Benetton”:<br />
ela é alta, loura e alemã, ele é filho de nigerianos, criado no Reino Unido. Têm<br />
quatro filhos, de cinco, quatro, três anos, e dois meses. “It don’t matter if you’re<br />
black or white”, como cantava Michael Jackson em 1991<br />
Se fossem casados em 1991, a ‘topmodel’ Heidi Klum e o cantor Seal teriam sido a dupla perfeita<br />
paraprotagonizarovideoclipedançaraosomdorefrão“Itdon’tmatterifyou’reblackorwhite”,<br />
o hino de Michael Jackson contra a discriminação racial. Ainda longe de se conhecerem,<br />
casaremeteremtrêsfilhos(aúltima,LouSamuel,nasceuhámenosdedoismeses),1991foium<br />
ano importante tanto para Heidi como para Seal. Ela tinha 18 anos e vivia em Bergisch<br />
Gladbach, a cidade alemã onde nasceu, quando uma amiga a convenceu a participar no concurso<br />
“Model 92”. A vitória na Alemanha (entre 25 mil participantes) foi a rampa de lançamento para uma<br />
carreira internacional. Nos anos 90, Klum tornou-se numa das ‘topmodels’ mais bem pagas do mundo. Os<br />
desfiles para a marca de lingerie Victoria’s Secret e as fotografias em fato de banho para a revista “Sports<br />
Illustrated” fazem parte da sua imagem de marca. Também em 1991, o cantor britânico (dez anos mais velho),<br />
filho de nigerianos, neto de brasileiros, criado no Reino Unido, lançou o seu primeiro álbum “Seal”<br />
com que no ano seguinte ganhou o prémio “Best British Álbum” nos Brit Awards. Em 1995 recebeu três<br />
Grammys com a canção “Kiss from a Rose”, da banda sonora do filme “Batman Forever”. Os dois conheceram-se<br />
e apaixonaram-se uma década depois, em 2004, quando Heidi estava grávida da sua primeira filha,<br />
Leni, fruto do casamento com o italiano Flávio Briatore, patrão da Fórmula 1. Antes disso, a modelotambém<br />
já tinha sido casada com o ‘hair stylist’ Ric Pipino entre 1997 e 2002. O casamento com Seal aconteceu em<br />
2005,numapraianoMéxico,ondeosdoisvoltamtodososanospararenovaremosvotos.“Casamostodosos<br />
anos no mesmo lugar, na mesma data”, diz Heidi. “É muito romântico, além de ser uma boa desculpa para<br />
reunir a família e celebrar”. Vivem em Los Angeles e, em comum, Heidi e Seal têm três filhos: Henry, de<br />
quatro anos, Johan, de três, e agora Lou Samuel, com dois meses. Apesar de Helene, de cinco anos, não ser<br />
filha biológica de Seal, Heidi garante que o cantor é o “verdadeiro pai”. Sobre a família, a modelo de 36 anos<br />
diz que é um verdadeiro ‘patchwork’. “Podem dizer que a nossa família é ‘black or white’. A verdade é que<br />
temos todos diferentes tons de pele e amamo-nos muito”. BÁRBARA SILVA<br />
Danny Moloshok/Reuters
FUTEBOL<br />
Marcos Borga / Reuters<br />
O direito do mais fraco<br />
Na 12ª jornada da I Liga, Benfica e Sporting podem ter jogos<br />
bem mais complicados do que parecem perante adversários<br />
cuja sobrevivência depende de cada ponto conquistado<br />
TEXTOS POR JOÃO NUNO COELHO / FOOTBALL IDEAS<br />
Sporting. Como seria de esperar para<br />
um “grande“ que segue na sexta posição<br />
da tabela já no segundo terço<br />
da Liga, cada jogo que se segue é uma “final”.<br />
Os 13 pontos de atraso para o líder Sp.<br />
Braga obrigam a que o Sporting não escorregue<br />
em Setúbal, onde mora o último<br />
classificado. Na cidade do Sado, está quase<br />
tudo em jogo para os leões: as derradeiras<br />
esperanças de lutar pelo título e a superação<br />
da “depressão” que teima em ensombrar<br />
Alvalade.<br />
Benfica. Qualquer ponto perdido na Luz<br />
perante a também aflita Académica, em<br />
vésperas de recepção ao FC Porto, pode significar<br />
o alargamento da vantagem dos<br />
bracarenses e confirmar algum desacelaramento<br />
da “máquina” de Jorge Jesus. O jogo<br />
com a Briosa assume pois enorme importência<br />
com a agravante dos encarnados terem<br />
ainda que recuperar de uma longa viagem<br />
à Bielorrússia<br />
Jogar “em casa”. A tarefa do Sporting até<br />
se afigura mais complicada, já que joga fora<br />
de portas, mas uma tendência recente do<br />
campeonato português diz-nos que para os<br />
“grandes”cadavezémaiscomplicadojogar<br />
na condição de visitado. As equipas que actuam<br />
no campo dos três gigantes parecem<br />
terencontradoafórmulaparalhesdificultar<br />
a vida, diminuindo com rigor os espaços e<br />
pressionando fortemente os adversários<br />
nas zonas cruciais do relvado, principal-<br />
mente no seu último terço defensivo. Conseguem<br />
desta forma limitar os estragos provocadospelosjogadoresmaiscriativosedesequilibradores,<br />
que estão quase sempre do<br />
lado dos clubes “grandes”.<br />
“Estacionar o autocarro”. Há quem chame<br />
depreciativamente a esta estratégia colocar<br />
o autocarro em frente à baliza, mas a<br />
verdade é que a estas equipas mais pequenas<br />
assiste algo que poderíamos denominar<br />
como o “direito do mais fraco”. Foi a partir<br />
desta expressão que, na década de 1930, o<br />
treinador suíço Karl Rappan inventou o famoso<br />
“verrou” (que os italianos traduziriam<br />
anos mais tarde como “catenaccio”, “ferrolho”emportuguês).Sedefrontamosumadversário<br />
que tem a qualidade individual do<br />
seu lado, há que construir um plano estratégico,<br />
assente na organização colectiva e no<br />
denso povoamento da defesa, para impedir<br />
queasuasuperioridadefutebolísticaseconfirme<br />
no resultado final. Até porque o futebol<br />
é, antes de mais, um jogo...de estratégia.<br />
O novo “ferrolho”. Não se pretende afirmar<br />
que no futebol português existem equipas<br />
a jogar exactamente neste sistema ultra-defensivo,<br />
mas antes que cada vez mais<br />
se verifica que o direito a resistir com as armas<br />
de que se dispõe se traduz numa estratégia<br />
bem montada, que impeça, acima de<br />
tudo, o adversário de jogar com liberdade<br />
em zonas críticas. Para tal contribuiu o progressivo<br />
nivelamento da preparação física e<br />
Qualquer ponto<br />
perdido na Luz<br />
perante a também<br />
aflita Académica,<br />
em vésperas de<br />
recepção ao FC<br />
Porto, pode significar<br />
o alargamento<br />
da vantagem<br />
dos bracarenses<br />
e confirmar algum<br />
desacelaramento<br />
da “máquina”<br />
de Jorge Jesus<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 29<br />
JOGO DA JORNADA:<br />
V. SETÚBAL - SPORTING<br />
ESTÁDIO DE ALVALADE,<br />
SEG., 7/12, 20.15.,<br />
SPORTTV1<br />
Rui Patrício<br />
Pedro silva Carriço Polga Grimi<br />
João Moutinho Miguel Veloso<br />
Pereirinha<br />
Izmailov<br />
Helder Postiga<br />
Hélder Barbosa<br />
Liedson<br />
Rúben<br />
Lima<br />
Álvaro Fernandes<br />
Sandro Collin Djikiné<br />
André Pinto Zoro<br />
Quim<br />
Keita<br />
Zarabi<br />
JOGOS DA 12ª JORNADA<br />
DO CAMPEONATO<br />
DATA HORA VISITADO VISITANTE TV<br />
Ontem 20:15 Guimarães FC Porto SPORTTV1<br />
Hoje 17:00 Naval 1º Maio P. Ferreira<br />
Hoje 19:15 Rio Ave Belenenses SPORTTV1<br />
Hoje 21:15 Leixões Sp. Braga SPORTTV1<br />
Domingo 16:00 Marítimo Olhanense<br />
Domingo 20:15 Benfica Académica RTP1<br />
Segunda 20:15 U. Leiria Nacional<br />
Segunda 20:15 V. Setúbal Sporting SPORTTV1<br />
tática das equipas, graças também à crescente<br />
capacidade e formação dos treinadores<br />
dos clubes mais modestos.<br />
A cultura do “ponto”. Tendo ainda em<br />
conta que para os técnicos de futebol (actualmente<br />
todos portugueses nos clubes da I<br />
Liga)omercadodetrabalhoéextremamente<br />
competitivo, provocando uma enorme<br />
precaridade na sua situação profissional,<br />
melhor se compreende que encarem com<br />
dramatismo cada partida. É usual os treinadores<br />
afirmarem quequem quer espectáculo<br />
vai ao circo: no futebol os pontos é que<br />
contam, mesmo que isso represente muitas<br />
vezes uma péssima promoção do futebol<br />
enquanto indústria de entretenimento.<br />
André Villas-Boas. O jovem timoneiro da<br />
Académica já mostrou no Dragão (onde<br />
perdeu pela margem mínima) que sabe<br />
como armar uma estratégia defensiva rigorosa<br />
e eficaz, capaz de bloquear o processo<br />
ofensivo de adversários mais fortes. Na Luz,<br />
o plano deverá ser semelhante.<br />
Manuel Fernandes. Porsuavez,emSetúbal<br />
mora um técnico experiente, tarimbado<br />
nesta luta pelo ponto e um conhecedor<br />
profundo do “seu” Sporting. Durante a<br />
passada semana, o técnico sadino preparou<br />
uma defesa com cinco elementos exactamente<br />
no sentido de impedir que os leões<br />
façam deste jogo a rampa de lançamento<br />
para sairem da crise.
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 31
32 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
ALDEIA GLOBAL<br />
Um país pode fechar?<br />
Um país pode ir à falência como se fosse uma empresa? Pode, mas não é propriamente<br />
costume. O Dubai é a mais recente dor de cabeça dos investidores internacionais.<br />
A história prova que não será a última.<br />
TEXTO ANTÓNIO FREITAS DE SOUSA<br />
Apalavra esquizofrenia<br />
pode ser a mais acertada<br />
para entender o mapa da<br />
cidade do Dubai: uma<br />
nesga de terra entre o mar<br />
e o deserto, coberta de arranha-céus<br />
a perder de vista como se estivessem<br />
a tentar chegar às nuvens que<br />
ali quase não existem, num desassossego<br />
paisagístico impossível de compreender.<br />
Vista mais de perto, em imagens<br />
reais, a cidade do Dubai parece um cenário<br />
onde ninguém vive. E não está muito<br />
longe disso: é mesmo um cenário, criado<br />
para albergar as bizarrias imobiliárias de<br />
quem tem dinheiro para as pagar. Ou tinha.<br />
Ou tinha quem tivesse por ele,<br />
como se veio a descobrir há pouco mais<br />
de uma semana – como se ainda nin-<br />
guém tivesse percebido, neste mundo a<br />
ressacar da crise do ‘subprime’ norte-<br />
-americano, a bomba de tijolos que ali<br />
foi construída para desespero da memória<br />
dos beduínos e para felicidade dos<br />
novos-ricos sem-fronteiras.<br />
O caso mais sério de descontrolo-<br />
-motor dos neurónios de quem pensou<br />
que o Dubai devia ser aquilo em que se<br />
transformou, é a ilha em forma de palmeira<br />
que foi plantada à frente da cidade,<br />
em pleno mar, como se de repente os<br />
ricos de todas as latitudes tivessem sido<br />
atingidos por uma doença infecto-contagiosa<br />
só curável através da ingestão de<br />
água do Golfo Pérsico e quisessem todos<br />
terumacasaemcimadofrascodecomprimidos.<br />
As casas construídas naquela<br />
espécie de folhas da tal palmeira demo-<br />
O Dubai foi pensado<br />
para ser um mundo<br />
muito exclusivo de<br />
serviços. Eéisso<br />
que o emirado é: não<br />
produz quase nada<br />
que dure mais que<br />
um par de horas<br />
raram em média três dias a serem colocadas<br />
no mercado. Um mercado que, segundo<br />
relatos oriundos do Dubai, olha como<br />
despiciendo qualquer negócio imobiliário<br />
onde os ganhos fiquem abaixo dos 30%.<br />
UnsmetrosmaisaEste,nosentidodo<br />
estreito de Ormuz – que chegou a ser uma<br />
praça-forte nacional de onde os portugueses<br />
espalhavam a boa-nova entre as<br />
tribos de infiéis à espadeirada – fica o Burj<br />
Al Arab, um dos hotéis mais luxuosos do<br />
mundo (onde qualquer jogador de futebol<br />
ou estrela das televisões sonha passar a<br />
lua-de-mel), também ele construído<br />
numa plataforma artificial sobre o mar –<br />
parece que é uma espécie de desígnio nacional<br />
ou marca-de-água arquitectónica<br />
– e que pretende ser um dos locais mais<br />
recomendáveis do mundo para a conclu-
são de negócios inter-planetários. Negócios<br />
e jogos de ténis, pelo menos a crer<br />
nas imagens de um encontro entre o ex-<br />
-toxicodependente André Agassieosuíço<br />
Roger Federer, mantido no heliporto<br />
do hotel, a muitos metros de altura e sem<br />
o contributo dos tradicionais apanha-<br />
-bolas, todos eles possivelmente mortos<br />
logo no final do primeiro ‘set’. Na plateia<br />
(isto é, na praia que está por detrás desta<br />
tralha toda) o cenário mantém-se: arranha-céus<br />
improváveis e super-espelhados<br />
– com o devido destaque para o Burj<br />
Dubai, o edifício mais alto do mundo,<br />
com 818 metros mas sem campo de ténis<br />
nas nuvens – ‘resorts’ de luxo a fazerem<br />
lembrar estâncias turísticas dos Alpes<br />
suíços, ruas para a classe média/alta copiadas<br />
de Hollywood e por aí.<br />
A cidade do Dubai<br />
transformou-se<br />
numa atracção<br />
turística que<br />
nenhum outro país<br />
da região pode<br />
igualar; e numa<br />
Meca (a verdadeira<br />
não fica muito<br />
longe dali) do<br />
comércio das<br />
grandes marcas<br />
internacionais<br />
Mohammed bin Rashid Al Maktoum,<br />
cuja família controla o Dubai desde 1833,<br />
parece ter sido o mentor, pensador e propulsor<br />
disto tudo. Como o petróleo não<br />
abunda por ali, Mohammed decidiu que o<br />
seu emirado devia atirar-se para a frente<br />
e apostar noutra coisa qualquer. Apostou<br />
nos serviços: nos de luxo, nos do turismo,<br />
nos que devem ser colocados à disposição<br />
dos homens que concluem negócios inter-planetários,<br />
nos que precisam as empresas<br />
que lá instalaram centros de qualquer<br />
coisa e nos que normalmente nascem<br />
a jusante destes. Conclusão: o emirado<br />
do Dubai não produz, ou quase não<br />
produz, nada que dure mais que umas<br />
horas. A estratégia de Mohammed foi um<br />
sucesso: a cidade do Dubai transformou-<br />
-se num dos maiores centros de negócios<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 33<br />
Charles Crowell/Bloomberg<br />
do mundo – seguramente um dos dois<br />
maiores da região, juntamente com Abu<br />
Dhabi; numa atracção turística que nenhum<br />
outro país da região pode igualar; e<br />
numa Meca (a verdadeira não fica muito<br />
longe dali) do comércio das grandes marcas<br />
internacionais. Só não se transformou<br />
num potentado da cultura mundial,<br />
o que era também um dos desígnios de<br />
Mohammed, dado que ninguém conseguiu<br />
ainda provar que muitos metros cúbicos<br />
de tijolos tenham uma correspondência<br />
directo e biunívoca com qualidade<br />
do conhecimento.<br />
EMPRÉSTIMOS INTERNACIONAIS<br />
Como não podia deixar de ser, tudo aquilo<br />
foi construído à custa de vultuosos empréstimos<br />
internacionais, uma vez que a
34 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
ALDEIA GLOBAL<br />
partir do início do milénio abundava dinheiro<br />
em fundos, bancos, caixas económicas<br />
e instituições afins. O problema não<br />
era falta de liquidez, mas exactamente o<br />
contrário: o excesso de dinheiro nos alforges<br />
das instituições – como afirmava<br />
qualquer CEO de qualquer ‘private-<br />
-equity’ de qualquer praça financeira ao<br />
longo de uma série de anos. Por isso, parte<br />
muito substancial desse excesso planetário<br />
foi parar às margens do Golfo Pérsico e<br />
transformado em imobiliário.<br />
O rebentamento da bolha imobiliária<br />
norte-americana, a que se seguiu a explosão<br />
de muitas outras bolhas sucedâneas,<br />
fazia temer o pior. Paradoxalmente, o pior<br />
não aconteceu de imediato – o que fez com<br />
que o mundo se convencesse que o imobiliário<br />
de super-luxo instalado no Dubai<br />
era seguro como um granito antigo. Mas<br />
afinal não era: o grupo Dubai World, que<br />
vive sob o controlo do governo, pediu um<br />
adiamento até, na hipótese menos sombria,<br />
Maio de 2010 do pagamento das<br />
amortizações das suas emissões obrigacionistas<br />
de 40 mil milhões de euros. Ora,<br />
40 mil milhões de euros é um ror de dinheiro:<br />
é quase 25% do PIB português e<br />
dava para comprar de uma assentada um<br />
monte de países por esse planeta fora.<br />
Pior: os 40 mil milhões do empréstimo<br />
obrigacionista serviam para alavancar um<br />
endividamento total da ordem dos 55 mil<br />
milhões de euros.<br />
O mundo ficou de boca à banda. E a<br />
pergunta que mais se ouvia nos mercados<br />
internacionais era um disparate do género:<br />
“Mas então as dívidas do Dubai não estão<br />
cobertas pela produção de petróleo de<br />
Abu Dhabi?” Pois não estão, não senhor.<br />
Segundo relatos posteriores à eclosão<br />
do princípio da catástrofe no Dubai, a coisa<br />
estava à vista de toda a gente que quisesse<br />
ver: os super-ricos que compraram<br />
casas no emirado – e que devem ter pago<br />
uma média de cinco mil euros por tijolo,<br />
fora as tintas – estavam desde 2008 em<br />
debandada geral, devido à terrível tendência<br />
democrática da crise do ‘subprime’.<br />
Segundo esses relatos, o aeroporto<br />
da cidade faz agora lembrar um parque de<br />
estacionamento para onde são rebocados<br />
automóveis abandonados: carros de luxo<br />
são deixados em qualquer esquina porque<br />
não há ninguém que os queira comprar e<br />
já só há tempo para apanhar os aviões de<br />
volta à vidinha de todos os dias nos países<br />
de origem. Paralelamente, os escritórios<br />
começam a ser abandonados e a transformar<br />
a cidade numa espécie de enorme cadáver<br />
defeituoso e sem luz nocturna. Em<br />
cascata, as imobiliárias que vendiam as<br />
casas de sonho que preenchiam os sonhos<br />
do novo-riquismo endinheirado deixaram<br />
de ter listas de espera de futuros<br />
compradores e passaram a não conseguir<br />
colocá-las no mercado. Os preços por<br />
metro quadrado vieram por ali abaixo. Os<br />
negócios com ganhos de 30% passaram a<br />
ser uma miragem longínqua. E o Dubai<br />
está prestes a transformar-se numa história<br />
mal contada.<br />
MAS AFINAL, UM PAÍS PODE FECHAR?<br />
Neste quadro, a pergunta é: pode uma história<br />
mal contada acabar mal? Ou, por outras<br />
palavras: o Dubai vai fechar? A resposta<br />
é ‘não’. Se os países com uma dívida<br />
externa superior ao PIB tivessem fechado<br />
para obras, há muito que não existia mundo<br />
– no que se inclui o nosso país, mas<br />
principalmente os Estados Unidos da<br />
América que aparentam continuar a ser o<br />
motor do desenvolvimento mundial.<br />
No caso português – que poderá ter uma<br />
dívida externa total acima dos 300 mil milhões<br />
de euros (a soma entre a dívida líqui-<br />
daeadívida bancária) – o problema coloca-se<br />
ainda menos: levados ao colo pelo<br />
simpático grupo de países que, fazendo<br />
parte da União Europeia, compõem o ‘port<br />
folio’ da Zona Euro, Portugal está à vontade:<br />
os portugueses podem continuar a<br />
gastar dinheiro a rodos em produtos<br />
oriundos do estrangeiro e os governos podem<br />
continuar a lançar obras públicas<br />
com incorporações nacionais ridículas,<br />
que nada de substancialmente mau nos<br />
vai acontecer. A não ser, claro está, no que<br />
se refere ao nível de vida dos nossos filhos;<br />
mas isso, aparentemente, é um problema<br />
que eles hão-de acabar por saber resolver<br />
(emigrando todos, por exemplo).<br />
Entretanto, as ondas de choque provocadas<br />
no Dubai vão chegando a Portugal:<br />
com os investidores internacionais em situação<br />
de verdadeiro ‘stress’ e a procurarem<br />
a todo o transe entrincheirarem-se –<br />
um pouco tardiamente – em investimentos<br />
mais seguros, as emissões de dívida do<br />
Estado português e das empresas nacionais<br />
têm que suportar taxas de juro a subir,<br />
como tem vindo a suceder de há uma semana<br />
a esta parte, e em favor de países que<br />
apresentam risco mais baixo e contas mais<br />
sólidas, como é o caso da Alemanha.<br />
A história está, aliás, cheia de exemplos<br />
de países ou regiões que entraram em colapso<br />
e recuperaram. O último exemplo foi<br />
o da Islândia, a primeira vítima mortal do<br />
‘subprime’ que, por um endividamento<br />
excessivo à banca e pela acumulação de<br />
crédito mal parado de proporções gigantescas<br />
– que levaram o terceiro maior banco<br />
do país, o Glitnir, a ser nacionalizado<br />
depois de ter declarado falência técnica –<br />
foi à ruína. E de nada valeu a garantia estatal<br />
sobre os depósitos: instalou-se o pânico<br />
junto de investidores e depositantes, e a<br />
corrida aos depósitos fez o resto.<br />
Charles Crowell/Bloomberg<br />
O rebentamento<br />
da bolha imobiliária<br />
americana, a que<br />
se seguiu a explosão<br />
de muitas outras<br />
bolhas sucedâneas,<br />
fazia temer o pior.<br />
Paradoxalmente,<br />
o pior não<br />
aconteceu de<br />
imediato – o que fez<br />
com que o mundo<br />
se convencesse que<br />
o imobiliário de<br />
super-luxo instalado<br />
no Dubai era seguro<br />
como um granito<br />
antigo<br />
A Argentina também sofreu as agruras<br />
da insolvência geral do Estado quando<br />
entrou em total colapso por causa da<br />
sua dívida externa. O país, instalado no<br />
mais abandonado dos continentes, demorou<br />
muito tempo a sair da crise, não<br />
sendo ela alheia ao facto de, ainda há<br />
uma década, <strong>56</strong>% da sua população estar<br />
no limiar da pobreza e o desemprego<br />
estar acima dos 30%.<br />
Um pouco mais acima, em Cuba, a bancarrota<br />
deu-se no início dos anos de 1960,<br />
quando Fidel Castro e Ernesto Guevara expulsaram<br />
os principais financiadores da<br />
ilha – especuladores a precisar de lavar dinheiro,<br />
traficantes de droga e jogadores de<br />
casino, entre outros alegres foliões – e<br />
aindanãoeraclaroqueohorrordoOcidente<br />
perante a revolução armada acabaria<br />
que atirar os cubanos para os braços<br />
tentaculares do antigo bloco comunista.<br />
A própria Rússia no momento em que se<br />
transformava em União Soviética (1917)<br />
estava em falência técnica e o governo liderado<br />
por Lenine teve que se valer da<br />
produção de rublos que não valiam sequer<br />
o custo do papel em que estavam impressos<br />
para pagar as importações e custear as<br />
várias frentes de batalha interna e externa<br />
em que estava envolvido.<br />
Até a Espanha, que digeriu tão mal os<br />
ventos do ‘suprime’, não escapou em<br />
tempos aos apertos da falência: em 1588,<br />
Filipe II organizou aquilo a que chamou a<br />
Invencível Armada (onde também havia<br />
barcos e marinheiros portugueses, uma<br />
vez que por essa altura e até 1640 a Península<br />
Ibérica estava livre de fronteiras) para<br />
acabar de vez com a guerra contra Inglaterra<br />
e apoderar-se do domínio dos mares;<br />
esta estratégia militar anterior mas concomitante<br />
à estratégia comercial que se<br />
lhe seguiria correu mal: a armada era tão<br />
invencível que foi toda ao fundo em menos<br />
de um fósforo, e com ela os sonhos de<br />
grandeza planetária do monarca. Mas no<br />
fundo dos mares não ficavam apenas os<br />
navios e os seus marinheiros: perdia-se<br />
também nas ondas um instrumento de financiamento<br />
do país, que ainda por cima<br />
tinha custado uma fortuna. Os anos seguintes<br />
foram de desesperado aperto.<br />
Mas muito mais que qualquer problema<br />
económico, são as questões políticas que<br />
podem acabar com a existência de um<br />
país. Dois exemplos muito próximos provam<br />
isso mesmo. A Jugoslávia do Marechal<br />
Tito, uma das construções mais impressionantes<br />
do pós-II Guerra Mundial,<br />
desmanchou-se como uma construção<br />
sem alicerces em meia dúzia de meses,<br />
como se anos de cimento atirado para<br />
cima de um problema não tivessem produzido<br />
qualquer efeito.<br />
Mas o caso mais extraordinário - e com<br />
certeza o mais dramático para o seu povo<br />
- é o da Polónia, um país que já deixou de<br />
existirtantasvezes,apesardeverdadeiramente<br />
isso nunca ter chegado a acontecer,<br />
que a sua história parece mais uma<br />
sucessão de reinícios que uma linha contínua<br />
inteligível.<br />
Com tal envolvimento histórico e com<br />
a argamassa da globalização, é fortemente<br />
de supor que o Dubai não vai fechar.<br />
Mas o que é mais que certo é que o seu<br />
prestígio internacional ficou fortemente<br />
abalado e nenhum investidor minimamente<br />
atento vai voltar nos próximos<br />
anos a arriscar a sua liquidez num mercado<br />
que deu mostras de tão fraca sustentabilidade.<br />
A não ser que Mohammed bin<br />
Rashid Al Maktoum encontre uma fonte<br />
segura de petróleo. E isso pode bem suceder<br />
mesmo que essa fonte de petróleo não<br />
seja mais que uma bifurcação de um<br />
oleoduto de Abu Dhabi.
PUB
36 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
ALMANAQUE<br />
Referendos<br />
para que vos queremos<br />
Há uma semana, a Suíça proibiu em referendo a construção<br />
de minaretes nas mesquitas. Há quem diga que foi o medo a votar.<br />
Por cá, recolhem-se assinaturas para levar o casamento gay a votos<br />
TEXTO ÂNGELA MARQUES / ILUSTRAÇÃO GONÇALO VIANA<br />
Se fosse só uma questão de design<br />
e arquitectura, o referendo<br />
que proibiu a construção de<br />
minaretes na Suíça faria facilmente<br />
escola em Portugal:<br />
com a tradição que o país tem<br />
de construir torres e torreões nos jardins de<br />
casa, muito haveria a discutir. Mas não – o<br />
que os suíços votaram não foi o desenho das<br />
torres das mesquitas, mas o seu significado.<br />
E se é verdade que Portugal tem tradição de<br />
arriscar na hora de desenhar as suas vivendas,temmenostradiçãonahoradereferendar.<br />
Esta semana, no entanto, a Plataforma<br />
CidadaniaeCasamentofoiparaasportasdas<br />
igrejas, associações e até estádios de futebol<br />
recolher assinaturas para levar o casamento<br />
gay a votos. Terá sido contágio?<br />
Os títulos dos jornais, como o algodão,<br />
não enganam. Logo após o anúncio dos resultados<br />
do referendo suíço (com 57,5% dos<br />
eleitores, que representam 1,53 milhões de<br />
pessoas, a aprovarem a proibição da construção<br />
de minaretes no país), políticos e<br />
analistas leram-lhe a sentença: este foi “o<br />
voto do medo”. Na hora das reacções, a ministra<br />
da Justiça suíça terá sido a mais branda,<br />
afirmando que o resultado reflectia um<br />
certo receio em relação ao fundamentalismo<br />
islâmico. “Essas preocupações têm de<br />
ser levadas em conta. O governo considera,<br />
porém,quebaniraconstruçãodenovosminaretes<br />
não é um meio fiável para contrariar<br />
oextremismo”,dissearesponsávelàBBC.O<br />
governo considera, mas bane na mesma.<br />
A notícia correu mundo e até o Vaticano<br />
lamentou o “forte golpe à liberdade religiosa”<br />
dado pelos suíços. Que foram também<br />
criticados pela Amnistia Internacional suíça:<br />
“A proibição total de construir minaretes<br />
representa uma violação da liberdade de<br />
religião, incompatível com as convenções<br />
assinadas pelo país.” Ainda assim, o governo<br />
suíço não se comoveu. De resto, mandou<br />
dizer em comunicado que “respeita a decisão<br />
[dos seus cidadãos] e, em consequência<br />
disso, a construção de minaretes deixa de<br />
ser permitida na Suíça”. Nada de estranho,<br />
contudo, uma vez que este referendo foi<br />
promovido pelo Partido Popular Suíço, da<br />
direita conservadora, que domina o parlamento.Eque,segundoosecretário-geralda<br />
Amnistia Internacional, “conseguiu explorar<br />
os medos em relação ao Islão e trazer à<br />
superfície sentimentos xenófobos”.<br />
Escandalizado, o ministro dos Negócios<br />
Estrangeiros francês, Bernard Kouchner,<br />
descreveu o resultado do referendo como<br />
uma “expressão de intolerância”. A presidência<br />
sueca da União Europeia foi mais<br />
longe, considerando a própria realização da<br />
consulta popular “surpreendente”. A ministra<br />
da Integração, Nyambo Sabumi, foi<br />
quem chamou os nomes às coisas: “Os suí-<br />
Por cá,<br />
só a regionalização<br />
e a interrupção<br />
voluntária<br />
da gravidez tiveram<br />
até hoje honras<br />
de referendo.<br />
Mas esta semana<br />
intensificou-se<br />
a campanha para<br />
levar o casamento<br />
civil entre pessoas<br />
do mesma sexo<br />
a consulta popular.<br />
Será que a vontade<br />
de fazer referendos<br />
se pega?<br />
ços têm um excelente sistema de consulta<br />
popular, mas às vezes ele pode ser mal usado,<br />
como aconteceu neste caso.”<br />
CONSULTA (POUCO) POPULAR<br />
Como diz o programa, nós por cá não gostamos<br />
de referendos. “Não se pode comparar<br />
a tradição da Suíçaeanossaemtermos<br />
de referendos”, diz o politólogo João<br />
Cardoso Rosas. Na história da democracia<br />
portuguesa contam-se apenas “o da regionalização<br />
e o da interrupção voluntária da<br />
gravidez”, lembra.<br />
Para Cardoso Rosas, não há grande mistério<br />
aí. A verdade, diz, é que “normalmente<br />
os referendos são algo instrumentalizados.<br />
O que se está a votar ali não é o<br />
que lá está escrito, mas um protesto”. E há<br />
mais: “Também há um certo desconhecimento<br />
dos temas. Se em Portugal se tivesse<br />
feito um referendo sobre a Constituição<br />
Europeia ou sobre o Tratado de Lisboa as<br />
pessoas iriam votar sem saber no que estavam<br />
a votar. E haveria tendência para votar<br />
em termos de terrenos políticos.” Por<br />
estas e por outras, “o referendo acaba por<br />
perder o seu interesse”, diz João Cardoso<br />
Rosas. Que sublinha ainda, para concluir o<br />
seu raciocínio, que daí resulta um “elevadíssimo<br />
grau de abstenção”.<br />
Se “as experiências feitas no passado não<br />
foram satisfatórias”, não há razão para pensar<br />
que o instituto do referendo pode ganhar<br />
pesonademocraciaportuguesaàcustadeste<br />
episódio na Suíça. Não? A questão não é disparatada:<br />
a Comissão Europeia foi a primeira<br />
a levantar essa hipótese. Para logo depois<br />
lembrar aos Estados-membros que se possamsentirtentadosaseguirospassosdaSuíçaearealizar<br />
referendos do mesmo tipo que<br />
é sempre necessário “respeitar os direitos<br />
fundamentaiscomoaliberdadedereligião”.<br />
Claro que a tentação não demorou a manifestar-se.<br />
Na Holanda, um deputado de<br />
extrema-direita apelou à realização de um<br />
referendo sobre os mesmos minaretes no<br />
seu país. Em Itália e em França também<br />
houve quem se congratulasse com o resultado.“Fazendodeadvogadododiabo”,o<br />
politólogo André Freire afirma que “há que<br />
perceber que não é por causa dos minaretes<br />
que se faz este referendo. Há de facto uma<br />
islamização da Europa e isso deve ser encaradosemcairmoscompletamentenopoliticamente<br />
correcto. Não vamos dizer que a<br />
presença islâmica na Europa é idílica. Por<br />
outro lado, sabemos que também não são os<br />
minaretes que vão resolver alguma coisa.”<br />
E o referendo, resolve? “A democracia não<br />
são só eleições, deve haver um instrumento<br />
de ‘check and balance’. E a Suíça tem isso:<br />
uma democracia assente na vontade popular.<br />
Há essa tradição e essas são as regras.”<br />
Para Jaime Nogueira Pinto, “os suíços são
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 37<br />
uma nação muito especial, que deve a sua<br />
independência e neutralidade a ser um dos<br />
países mais militarizados do mundo”. Também<br />
por isso, “levam a sério as suas instituições,<br />
costumes e leis. Mantiveram formas<br />
dedemocraciasemi-directaatémuitotarde<br />
e o referendo é um instrumento de consulta<br />
popular a que recorrem sem grandes dramas.”<br />
E nós, portugueses? “Não temos essa<br />
tradição. Talvez porque as minorias político-culturais<br />
que arbitram os destinos dos<br />
outros receiam a reacção popular à imposição<br />
do politica ou culturalmente correcto.”<br />
CASAMENTO GAY, SIM OU NÃO?<br />
O PS já disse mil vezes que não. Não haverá<br />
referendo ao casamento civil entre pessoas<br />
do mesmo sexo. Mas o CDS-PP, um<br />
dos maiores defensores da ideia, parece<br />
não ouvir. E insiste: “O tema ainda não foi<br />
suficientemente debatido.” Esta semana,<br />
em declarações ao Jornal de Notícias, José<br />
Ribeiro e Castro, um dos mandatários da<br />
Plataforma Cidadania e Casamento, afirmou<br />
que este movimento precisa de 75 mil<br />
assinaturas para que se realize o referendo.<br />
“Estamos a recolher assinaturas em todos<br />
os locais e através de todos os meios que temos<br />
ao nosso dispor”, afirmou. Segundo o<br />
jornal, em centenas de paróquias portuguesas<br />
os párocos estão a convidar, no fim<br />
da celebração da missa, os católicos a passar<br />
pela sacristia para assinar a Iniciativa<br />
Popular de Referendo.<br />
Valerá a pena? “Um referendo ao casamento<br />
civil entre pessoas do mesmo sexo é<br />
viável, porque os referendos são sempre<br />
viáveis. Mas esse referendo em concreto<br />
acho uma aberração”, diz Pedro Adão e<br />
Silva. O politólogo confirma: “Não temos a<br />
tradição de referendar e ainda bem. Habitualmente<br />
os referendos geram coligações<br />
negativas. E muitas vezes resultam em<br />
motivações contra. Além de que sabemos<br />
que não são particularmente mobilizadores.<br />
Aliás, mobilizam quem está muito interessado,<br />
ou seja, quem está nos extremos.<br />
E enviesam.”<br />
Nos estudos de opinião, diz, “os portugueses<br />
dizem sempre que querem referendos,masdepoisnãovotam”.Eisto“acontece<br />
sobretudo nos referendos sobre costumes,<br />
sobre questões sociais”, como é o caso<br />
do referendo ao casamento gay. Mas há ainda<br />
outra questão, diz André Freire. “A protecção<br />
de direitos de grupos minoritários<br />
não deve ser submetida a sufrágio” e “neste<br />
caso em particular, os partidos à esquerda já<br />
apresentaram essa medida nos seus programas,<br />
portanto, o parlamento é soberano<br />
para legislar”. A verificar-se esta lógica,<br />
Portugal não terá o seu referendo tão cedo.<br />
Minaretes até pode ter, mas referendos?<br />
Não conte com eles.
38 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
MADE IN<br />
Madison...<br />
Partiu para os Estados Unidos por amor, com a rádio e a<br />
televisão no baú das recordações. É mixologista (inventa<br />
cocktails) e treina para participar numa prova de Ironman<br />
Corre-lhe nas veias “o bicho da antena”. Após licenciar-se em Ciências da Comunicação<br />
(área de Televisão e Rádio), na Universidade Autónoma de Lisboa, estreou-se em 1995 na<br />
Rádio Nova Antena, passou pela Renascença, deu voz na Rádio Expo 98’ e seguiu para a Antena<br />
1 e Antena 3. Em simultâneo, participou no lançamento de dois canais de televisão:<br />
CNL - Canal de Noticias de Lisboa (onde apresentava a meteorologia e o trânsito), depois na<br />
SIC Notícias, onde participou no “Caras Notícias”, e finalmente na CarnaSic como apresentador<br />
do “Músicas do Mundo”. “Em 2005 a minha carreira entrava oficialmente em banho-maria”. A<br />
culpa é de Renee. Ou melhor, no amor que arrebatou Alexandre por esta americana. Conheceram-se no<br />
México, em 2002. Em Setembro do ano seguinte casaram em Portugal. Dois anos depois, “por motivos familiares”<br />
partiu para a terra da sua mais-que-tudo, para o Estado de Wisconsin, cidade de Madison (duas<br />
horas a norte de Chicago). “Mudar de continente tem o seu custo, emocional e financeiro. A família e os<br />
amigos ficam para trás a carreira fica em ‘stand-by’ e as despesas mensais têm de ser pagas”. Como? Fazendo<br />
um pouco de tudo. Foi vendedor, actor em curtas-metragens, modelo, treinador de futebol e bartender.<br />
E é no Great Dane Pub que tem mostrado os seus dotes de mixologista (criador de cocktails), depois<br />
do curso na Bartender Academy. Nesta cidade universitária – considerada uma das dez melhores dos<br />
EUA - “com uma mentalidade e uma postura muito progressista”, as ofertas<br />
recreativas, gastronómicas e culturais são “fantásticas”. Perfeito, perfeito era<br />
ter o mar por perto: “A praia está a duas horas e meia de avião”. Por aqui não<br />
abundam conterrâneos. “Devem contar-se pelos dedos de uma mão”. Para<br />
além de BTT (bicicleta de todo-o-terreno), faz caminhadas, tem aulas de vela,<br />
pratica ski e, agora, treina para correr maratonas. Já participou numa e tem<br />
outras nos planos: uma em Madison, outra em Chicago. Objectivo é claro:<br />
“Entrar num ‘Ironman’” (quatro quilómetros a nadar, 180 a pedalar e 42 a correr).<br />
Nascido há 37 anos em Paris, acredita que o “bug” de viajar” está no seu<br />
código genético. “Adoro partir e com alguma facilidade me entranho no novo<br />
tecido social que me rodeia”. Em breve está previsto o regresso a Portugal e<br />
“quem sabe, voltar à rádioeàtelevisão”. CRISTINA S. BORGES<br />
...de Filipe Moreira
O MEU MUNDO<br />
Nuno Artur Silva<br />
Novas sobre<br />
o achamento<br />
do Brasil<br />
“Primeiro encontramos, depois procuramos”<br />
dizia Picasso, pintor espanhol e do mundo. Nós,<br />
portugueses, primeiro encontrámos o Brasil.<br />
Falta agora, mais de quinhentos anos depois,<br />
procurá-lo.<br />
O começo não podia ter sido mais auspicioso,<br />
segundo a narrativa que dele fez Pêro Vaz de<br />
Caminha na carta em que escreveu a El Rei D.<br />
Manuel “a nova do achamento desta vossa terra<br />
nova”. E a terra nova que achávamos era, para<br />
além da terra real primeiro intitulada de Vera<br />
Cruz, a nova Língua Portuguesa, pátria que<br />
Pessoa haveria de proclamar séculos depois. E<br />
Caetano de cantar, roçando a sua língua na<br />
língua de Luís de Camões. E perguntando: “o<br />
que quer, o que pode esta língua?”, e<br />
respondendo “Livros, discos, vídeos à mancheia<br />
/ E deixa que digam, que pensem, que falem”.<br />
Faz 75 anos que Pessoa escreveu a “Mensagem”,<br />
o seu único livro de poemas em português que<br />
foi publicado antes da sua morte e que agora a<br />
Guimarães edita em cópia do dactiloscrito<br />
ori<strong>gina</strong>l. Em vez dos poemas com nomes de reis<br />
e heróis, hiperbolizados e ultra-citados, escolho<br />
uma passagem do lado B do livro, do poema<br />
Horizonte, que fala da terra a abrir-se em sons e<br />
cores “E, no desembarcar, há aves, flores, /<br />
Onde era só, de longe a abstracta linha”.<br />
Para além do épico d’”Os Lusíadas” e do pícaro<br />
da “Peregrinação” há na pátria marítima da<br />
Língua Portuguesa navegações e derivas que só a<br />
poesia alcança. “Outros dirão senhor as<br />
singraduras / Eu vos direi a praia onde luzia / A<br />
primitiva manhã da criação”, escrevia Sophia; e<br />
de novo e sempre Sophia: “Vi as águas os cabos<br />
vi as ilhas / E o longo baloiçar dos coqueirais<br />
(...) As ordens que levava não cumpri / E assim<br />
contando tudo quanto vi / Não sei se tudo errei<br />
ou descobri”.<br />
Ou Al Berto no conjunto de poemas Salsugem<br />
escrevendo do marinheiro que “... ficava a<br />
bordo encostado às amuradas horas a fio (...)<br />
com “a vontade sempre urgente de partir” ou<br />
das mulheres que ficavam “à beira mar<br />
debruçadas para a luz caiada / remendando o<br />
pano das velas espiando o mar / e a longitude do<br />
amor embarcado...”, (...) acreditando que<br />
algum homem ao passar se espantasse com a<br />
minha solidão.../ (anos mais tarde, recordo-me<br />
agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas<br />
estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)”<br />
Só na poesia nos encontramos, no esplendor da<br />
Língua que é a Literatura, nossa única pátria.<br />
“Falta cumprir-se Portugal” dizia Pessoa na<br />
“Mensagem”. Esse Quinto Império mítico é o do<br />
sonho e da música da Literatura em Língua<br />
Portuguesa, hoje disseminada por todo o mundo<br />
em “livros, discos, vídeos à mancheia”. O futuro<br />
de Portugal é a mistura, a mestiçagem e a<br />
vadiagem da língua portuguesa pelo mundo. O<br />
futuro de Portugal é o Brasil.<br />
O acordo ortográfico é útil e inútil porque<br />
inevitável. Se não formos com o Brasil para o<br />
mundo ficaremos mirandeses e o nosso<br />
português ficará o mirandês do português.<br />
Se há um desígnio para a CPLP é a criação de<br />
uma verdadeira comunidade cultural. A<br />
revolução da internet definindo um novo<br />
território imaterial traz consigo a oportunidade<br />
para a criação dessa comunidade.<br />
É tempo de procurar o Brasil. É tempo do Brasil<br />
nos descobrir.<br />
Tyler Brûlé<br />
Um canadiano<br />
em Paris<br />
Estou a escrever esta coluna num comboio de alta-<br />
-velocidade entre Paris e Lausanne e, nem de<br />
propósito, sinto cada minuto até ao Natal a correr<br />
tão depressa como estas carruagens.<br />
Não sei como está a vossa agenda, mas o meu<br />
assistente Alex preencheu a minha para as<br />
próximas semanas com tal precisão que não há<br />
espaço para atrasos em Milão em virtude do<br />
nevoeiro, para esperar por passageiros atrasados<br />
em Londres ou para ficar mais uns minutos na<br />
cama. Durante esta semana, mas precisamente na<br />
segunda-feira, gravei uma série radiofónica sobre<br />
o Natal (daqui a uma semana pode aceder a esta<br />
mesma série no iTunes), na terça-feira fui a uma<br />
festa em Milão, na quarta-feira voei para Tóquio,<br />
tive reuniões em Nagoya na sexta-feira, fui à festa<br />
de Natal do pessoal da “Monocle Tóquio” no<br />
sábado, a Quioto no Domingo e nesse mesmo dia<br />
ainda tive outra festa em Tóquio. Na segunda-feira<br />
voei para Madrid e na terça apanhei um avião de<br />
manhã cedo para Londres.<br />
Falta menos de um mês para o Natal, com todas as<br />
delícias, festas e desgaste que acompanham esta<br />
época festiva. Se for super organizado,<br />
provavelmente não está muito preocupado, já que<br />
há meses vem comprando presentes para os seus<br />
entes queridos e colegas e só tem agora que<br />
embrulhá-los e encaminhá-los para as respectivas<br />
árvores de Natal. Há duas semanas atrás, quando<br />
estava eu a coordenar todos os meus presentes<br />
com os meus colegas Pam e Ariel numa verdadeira<br />
sessão intensiva de selecção e etiquetagem que<br />
demorou mais de duas horas na minha loja favorita<br />
quando tive a feliz ideia de esperar para fazer a<br />
maior parte das compras de Natal quando tivesse<br />
tempo na minha escala em Marunouchi e Ginza.<br />
Mas um furo inesperado na minha agenda na<br />
segunda-feira em Paris deu-me a possibilidade de<br />
gozar algumas horas livres entre reuniões e fazer<br />
algumas compras.<br />
Os franceses podem não ser bons em muitas coisas<br />
(o café é um conceito que, pura e simplesmente,<br />
não compreendam, algo que os bons genes<br />
italianos de Carla Bruni talvez ajudem a resolver)<br />
mas fazem um trabalho muito bom quando se trata<br />
de gastar o dinheiro dos contribuintes em<br />
iluminações de Natal. Enquanto em Londres as<br />
luzes desta quadra estão demasiado associadas (ler<br />
financiadas) a Hollywood e são declaradamente<br />
comerciais, já na Place Vendôme e nos Champs-<br />
-Elysées a iluminação pauta-se pela elegância e os<br />
átrios dos hotéis estão muito bem decorados com<br />
velas cintilantes e no ar sente-se o cheiro de doces<br />
fragrâncias. Não é preciso muito para entrarmos<br />
nesse frenesim de compras. Quando dei conta<br />
tinha já comprado os presentes para um quarto das<br />
pessoas da minha lista. Se se começar a sentir<br />
intimidado com a dimensão da sua lista de<br />
compras de Natal e se tiver um dia livre, então um<br />
giro por Paris pode revelar-se bastante frutífero.<br />
Em seguida apresento algumas das lojas<br />
recomendadas onde pode encontrar presentes<br />
para todos.<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 39<br />
Kitsuné Maison. Metade casa de moda, metade<br />
editora, a Kitsuné tem uma pequena colecção<br />
muito chique de vestuário e bons acessórios para<br />
homem e mulher. Aí pode encontrar uma linda<br />
mala a tiracolo para o seu irmão, um casaco com<br />
muito bom corte para o seu assistente, velas<br />
aromáticas de sésamo para os seus vizinhos<br />
encantadores e gillettes de caxemira.<br />
Sadaharu Aoki. Considerada por muito a rainha<br />
dos macarons, as pâtisseries da Aoki têm umas<br />
embalagens muito elegantes e combinações de<br />
sabores exóticos. A sua avó vai adorar e é uma boa<br />
opção para quem gosta de encher as meias<br />
penduradas na chaminé.<br />
APC. Com as suas peças simples de ganga,<br />
camisolas básicas e uma oferta interessante em<br />
matéria de gangas é difícil sair da APC de mãos a<br />
abanar. O visual aqui proposto é intemporal e é<br />
uma boa aposta para adolescentes não rebeldes e<br />
para parceiros mais progressistas.<br />
John Lobb. Agora que as obras do seu novo atelier<br />
na Rue Magadon estão concluída vale a pena ver a<br />
oferta deste criador que faz de usar por casa por<br />
encomenda, sapatos estes que mais parecem um<br />
concorde e que são o ideal para mães, para<br />
membros do conselho de administração e para<br />
baby-sitters.<br />
Hervé Chapelier. Ao fim destes anos todos, as<br />
malas de nylon de Hervé Chapelier continuam a<br />
agradaratodos,dassograsàsirmãsmais<br />
esquisitas, sendo também o presente indicado para<br />
que precisa de um acessório rijo e clássico.<br />
Officina Slowear. Atenção a todas as esposas,<br />
namoradas e namorados. Um dos pedidos que mais<br />
recebi na caixa de correio desta coluna foi uma<br />
lista de agentes das calças Incotex– fabricantes dos<br />
chinos com o melhor corte. A empresa mãe abriu<br />
recentemente uma loja em Paris onde vende<br />
também camisas, camisolas e casacos, pelo que<br />
pode surpreender o homem, ou os homens da sua<br />
vida, seleccionando uma pilha de calças que eles<br />
vão poder usar em qualquer parte. Esta loja<br />
também tem roupa para mulher.<br />
Colette. Se só tem 30 minutos e quer uma boa<br />
selecção de produtos de beleza para as colegas do<br />
seu escritório, T-shirts para os rapazes, DVDs para<br />
as próximas semanas em Verbier e alguns livros<br />
provocantes para colocar sobre a mesa da sala,<br />
então a Colette continua a ser a melhor aposta. E<br />
os seus embrulhos ficam lindos debaixo da árvore<br />
de Natal.<br />
Kurkdjian Parfums. E quando achávamos que na<br />
cidade já não havia lugar mais uma casa de<br />
fragrâncias distintas eis que aparece o maestro<br />
Francis Kurkdjian com a sua pequena loja de<br />
papéis de incenso, uma série de fragrâncias para<br />
homem e para mulher, uma edição especial de<br />
sabões e a melhor coisa que há para colocar nas<br />
meias – bolinhas aromáticas com cheiro a menta e<br />
a relva acabada de aparar.<br />
Tyler Brûlé é director da revista Monocle<br />
Exclusivo Financial Times<br />
Tradução de Carlos Tomé Sousa
40 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
VIDA<br />
José Manuel<br />
Galvão Teles<br />
“É uma loucura<br />
o que se passa<br />
na justiça”<br />
José Manuel Galvão Teles deu três conselhos ao seu cliente,<br />
José Penedos: que lhe contasse tudo sobre a Face Oculta, que não<br />
renunciasse ao cargo de presidente da REN e que nunca dissesse<br />
que tinha a consciência tranquila. “Todos os criminosos dizem<br />
ter a consciência tranquila” é a sua justificação. Entrevista<br />
de Francisco Teixeira e Susana Represas. Fotografias de Paula Nunes
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 41
42 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
VIDA<br />
José Manuel Galvão Teles<br />
não foge ao apelido.<br />
É advogado, sportinguista<br />
e determinado. Diz que<br />
tem mau feitio e que está<br />
farto de ver as violações<br />
de segredo de justiça<br />
passarem impunes.<br />
Defende José Penedos<br />
no caso Face Oculta<br />
e critica o estilo<br />
prossecutório do<br />
Ministério Público.<br />
Aos juízes deixa elogios<br />
pelo bom senso, e sobre<br />
a justiça uma avaliação<br />
mordaz: “É uma loucura<br />
o que se está a passar”<br />
EEm Aveiro, quando ouviu o juiz de<br />
instrução criminal suspender o seu<br />
cliente, José Penedos, arguido na<br />
Face Oculta, porque decidiu escrever<br />
uma declaração escrita?<br />
Consigo fazer duas coisas ao mesmo<br />
tempo e, quando comecei a ouvir o juiz<br />
de instrução criminal a ser coerente no<br />
erro, isto é, errado do princípio ao fim,<br />
fiquei num estado de alguma irritação<br />
pela injustiça cometida e alinhavei então<br />
uns breves apontamentos à mão. Senti a<br />
necessidade de o fazer porque precisava<br />
de ser forte e justo, sem correr o risco de<br />
entrar em polémicas de que o Ministério<br />
Público gosta muito e que normalmente<br />
terminam com queixas em tribunal por<br />
parte dos magistrados (o que, aliás, até<br />
me honra muito). Tudo isto, porque o<br />
Ministério Público se sente ofendido<br />
com as minhas palavras. Sucede que em<br />
alguns processos me vejo obrigado a<br />
dizer que o Ministério Público se ocupa<br />
do assunto de forma incompetente. Eles<br />
dizem que não lhes posso chamar<br />
incompetentes, eu acho que sim, desde<br />
que o juízo recaia sobre o trabalho em<br />
questão. Eles não gostam, acham que<br />
são uma espécie de filhos de Deus,<br />
detentores da verdade, enquanto<br />
supostos órgão de soberania, e, por isso,<br />
tive um certo cuidado. Quis ter uma<br />
linguagem defensável.<br />
Pediu autorização à Ordem dos<br />
Advogados para falar?<br />
Eu nunca quis fazer política<br />
profissionalmente. Sou advogado, fiz<br />
sempre advocacia com convicção e<br />
paixão. A principal virtude dos<br />
advogados é saber escolher a defesa de<br />
quem tem razão, de quem merece<br />
justiça. E defendê-lo com grande<br />
convicção. Ser submetido a julgamento<br />
já é mau, mas se se for inocente ainda é<br />
pior. Mesmo nos casos mais mediáticos<br />
em que tenho tido participação, nunca<br />
falei sem autorização da Ordem dos<br />
Advogados. Foi, entre outros, o caso da<br />
juíza Fátima Galante, acusada pelo<br />
Ministério Público da prática de um<br />
crime de corrupção no exercício das<br />
suas funções, o que é gravíssimo. Mas a<br />
Senhora Juiz não foi sequer<br />
pronunciada, apesar do recurso do<br />
Ministério Público para o Supremo<br />
Tribunal de Justiça. Foi de igual modo o<br />
caso do Eng.º Carlos Melancia, então<br />
Governador de Macau, também ele<br />
acusado de corrupção e que,<br />
obviamente, nunca foi condenado,<br />
apesar dos sucessivos recursos do<br />
Ministério Público. Com vêem, muitas<br />
vezes não são os advogados que atrasam<br />
os processos.<br />
Em relação a José Penedos no caso<br />
Face Oculta, mantém a mesma
“<br />
As associações<br />
sindicais de<br />
juízes e<br />
magistrados<br />
ocupam quase<br />
mais tempo na<br />
comunicação<br />
social do que<br />
o Benfica,<br />
Sporting e<br />
Porto juntos<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 43<br />
perspectiva: estamos perante uma<br />
pessoa inocente, injustiçada?<br />
Estou convencidíssimo que sim.<br />
Em que estado fica a justiça no meio<br />
de tudo isto?<br />
Nesta crise da justiça, os principais<br />
culpados são os portugueses em geral.<br />
Porquê?<br />
Porque não têm o sentido de cidadania,<br />
de responsabilidade e de respeito pelos<br />
tribunais e pela justiça como deviam ter.<br />
Todos os dias aparecem nos escritórios<br />
de advogados, eu diria, à volta de 50%<br />
de clientes que não têm razão. O que<br />
acontece, na maior parte das vezes, é<br />
que o advogado fica a saber que o cliente<br />
não tem razão e mesmo assim aceita<br />
defende-lo.<br />
Mas todos, até os criminosos, têm<br />
direito a ser defendidos.<br />
Mas a defesa não é para mentir. Você<br />
deve dinheiro, pode dizer que paga mais<br />
tarde ou que não pode pagar, há sempre<br />
uma justificação, nem que seja<br />
psicológica. Pode até explicar que não<br />
paga porque é pobre. Não se pode é<br />
mentir. Depois há um conluio entre o<br />
clienteeadefesa para se arranjar<br />
testemunhas que mentem e o pobre do<br />
juiz ouve cinco pessoas a dizer<br />
encarnado e outras cinco a dizer que é<br />
verde, e tem de perceber quem é que<br />
tem razão.<br />
Os juízes sabem fazer bem essa<br />
distinção?<br />
Os juízes portugueses devem ser a classe<br />
menos corrupta que há em Portugal.<br />
Têm bom senso, julgam com bom senso,<br />
e não são corruptos. Nós, advogados,<br />
temos uma deformação profissional e o<br />
Ministério Público também. Por<br />
exemplo no célebre caso de António<br />
Champalimaud, o Ministério Público<br />
teve a coragem de defender a sua<br />
absolvição. De facto, assim o impunha o<br />
princípio da legalidade. Mas quantas<br />
vezes o Ministério Público actua desta<br />
forma? Pelo contrário, tem geralmente<br />
um espírito acusatório sem sentido.<br />
E esse espírito acusatório tem por<br />
detrás uma vontade política?<br />
Eu, que também tenho um particular<br />
gosto pela política e me interesso pela<br />
sua prática quotidiana tenho de<br />
reconhecer que no fundo tudo é política.<br />
Quando os casos parecem ter uma<br />
natureza mais política, é evidente que<br />
isso também conta. Admito, sem ter<br />
feito quaisquer estudos, que no seio do<br />
Ministério Público há uma razoável<br />
percentagem de “ingenuidade”, há<br />
ainda uns “amanhãs que cantam” que<br />
ficaram da revolução do 25 de Abril, mas<br />
o consequente abrandamento dos seus<br />
ideais trouxe para muitos uma nova<br />
esperança: a de se conseguir esses<br />
“amanhãs” através da justiça, o que do<br />
ponto de vista psicológico é natural, mas<br />
do ponto de vista quer político quer<br />
jurídico é certamente errado.<br />
Demorou algum minuto a decidir se<br />
aceitava defender José Penedos no<br />
caso Face Oculta?<br />
Costumo dizer a todos os clientes que<br />
me devem contar a “história” toda,<br />
com todos os pormenores, nunca há<br />
detalhes a mais. E acrescentava que<br />
naquele momento era fácil escolher<br />
outro advogado, tão bom ou melhor do<br />
que eu, mas se no meio do processo a<br />
história que me foi contada não
44 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
VIDA<br />
correspondesse à verdade, eu<br />
renunciaria ao mandato. Não disse isto<br />
ao eng.º José Penedos…<br />
Não foi preciso?<br />
Por um lado, porque já o conhecia; por<br />
outro lado, porque nós fomos<br />
chamados a tomar conta do caso não<br />
pelo engº Penedos, mas pela própria<br />
REN. Somos advogados de referência<br />
da empresa e quando foram alvo da<br />
busca judicial fomos chamados com<br />
urgência pela própria Comissão<br />
Executiva da REN. Acabámos por ser,<br />
naturalmente, advogados de José<br />
Penedos sem que da parte dele tivesse<br />
havido um convite expresso, mas sim<br />
na sequência dos serviços<br />
habitualmente prestados à REN. Não<br />
houve portanto nem ocasião nem<br />
necessidade de com ele termos a<br />
referida conversa. Conheço várias<br />
pessoas que o conhecem bem e que têm<br />
falado comigo, garantindo-me aquilo<br />
em que acredito: é uma pessoa séria e<br />
está inocente.<br />
Entrou sempre no Tribunal de Aveiro<br />
bem disposto até ao último dia em<br />
que estava com um ar visivelmente<br />
incomodado. A decisão do juiz<br />
desiludiu-o?<br />
Apesar desta longa experiência, de<br />
advocacia e de vida, convenci-me de<br />
que não seriam aplicadas aquelas<br />
medidas de coacção. Convenci-me. O<br />
facto de o juiz de instrução criminal se<br />
ter distanciado das medidas de coacção<br />
que foram promovidas pelo Ministério<br />
Público em relação ao Paulo Penedos,<br />
filho do eng.º José Penedos,<br />
descansou-me quanto a uma<br />
preocupação que tinha: a de que o<br />
pensamento do juiz de instrução<br />
criminal andasse a par das intenções do<br />
Ministério Público. O juiz alterou de<br />
250 mil para 25 mil euros a caução de<br />
Paulo Penedos e alterou também a<br />
acusação de dois para apenas um<br />
crime.<br />
Apesar dos 50 anos que leva como<br />
advogado foi surpreendido. Porque<br />
escreveu “é-me difícil encontrar”<br />
uma decisão tão injusta?<br />
Lembro-me que tive cuidado com essa<br />
expressão, pois não posso dizer que<br />
seja a pior decisão com que já fui<br />
confrontado, talvez a da juíza Fátima<br />
Galante, por exemplo, seja mais<br />
ofensiva. No caso Melancia, ao fim de<br />
sucessivos recursos, perdidos pelo<br />
Ministério Público deparei-me com um<br />
homem destruído, em quem muita<br />
gente confiava e que podia ter tido um<br />
futuro brilhante mas que, injustamente<br />
acusado de corrupção, não tinha<br />
resistido ao implacável julgamento<br />
popular que lhe foi montado.<br />
Ainda hoje, a propósito do caso Face<br />
Oculta, os comentadores parecem<br />
brincar com a justiça e a comunicação<br />
social também. Mas com a honra das<br />
pessoas não se brinca.<br />
E isso começa pela violação do<br />
segredo de justiça?<br />
É evidente. Eu com a idade estou a ficar<br />
mais intransigente e costumo dizer que<br />
estou farto de me queixar contra<br />
“terceiros”, gostava sim de ver<br />
apanhados os “primeiros” responsáveis.<br />
Porque na generalidade dos casos que<br />
defendo, tenho feito queixa contra<br />
“terceiros”, (“contra desconhecidos”),<br />
porque não sei quem violou o segredo<br />
de justiça e recebo sempre a notícia de<br />
“<br />
O Ministério<br />
Público<br />
consegue<br />
descobrir<br />
muitos crimes,<br />
felizmente.<br />
Mas quanto<br />
à violação<br />
do segredo<br />
de justiça tem<br />
sido difícil<br />
encontrar os<br />
responsáveis,<br />
salvo quando<br />
são jornalistas<br />
que o processo foi arquivado.<br />
O Ministério Público consegue<br />
descobrir muitos crimes, felizmente,<br />
mas quanto a este crime tem sido difícil<br />
encontrar os responsáveis, salvo<br />
quando são jornalistas.<br />
Quem são os responsáveis pela<br />
violação do segredo de justiça?<br />
Acho que seria fácil descobrir os<br />
responsáveis se o Ministério Público,<br />
de tempos, a tempos escutasse todas as<br />
pessoas que têm contacto com o<br />
processo. Sabiam logo. Têm tanta<br />
escuta, estão tão ocupados a escutar<br />
toda a gente (até a mim se calhar) têm<br />
tantos aparelhos ocupados, que deviam<br />
era colocar esses aparelhos e escutá-los<br />
a eles próprios: Ministério Público,<br />
Polícia Judiciária e funcionários<br />
judiciais. Muitas vezes podem ser os<br />
advogados, que não são melhores nem<br />
piores, mas existem muitos processos<br />
que estão em segredo de justiça e que<br />
aparecem nos jornais antes mesmo dos<br />
advogados terem conhecimento do<br />
processo.<br />
Reparei que tem no seu gabinete<br />
todos os jornais do dia. Tem tido a<br />
preocupação de ver o que dizem os<br />
jornais sobre a Face Oculta?<br />
Eu sou surpreendido muitas vezes. Já li<br />
“Rolexs tramam engenheiro” mas<br />
nunca li a palavra Rolex em nenhuma<br />
parte do processo. Só se têm lá essa<br />
parte guardada, não sei. Tenho ideia<br />
que a comunicação social também<br />
começa a atirar para o ar.<br />
Mas como é possível compatibilizar<br />
o tempo da justiça com o tempo dos<br />
jornais e da informação?<br />
A sociedade civil e a comunicação<br />
social têm um ritmo acelerado, mas os<br />
tribunais não andam ainda a esse ritmo<br />
e têm de se adaptar. A forma de o fazer<br />
é complicada. Por exemplo, perante a<br />
enorme pressão para que José Penedos<br />
renunciasse, eu aconselhei-o sempre a<br />
não suspender funções e assumo essa<br />
responsabilidade, embora a decisão<br />
tenha sido exclusivamente dele. Se ele<br />
sabe que está inocente por que é que<br />
há-de pedir a suspensão? Não
compreendo bem! O caso Casa Pia<br />
ensinou a todos os portugueses um<br />
bocado de direito mas devo dizer que é<br />
melhor não saber nada do que saber<br />
pouco, porque assim os portugueses<br />
passam a julgar que sabem tudo. Mas<br />
não sabem que a constituição de<br />
arguido é para defesa do próprio.<br />
Passaram, sim, a saber que era fácil<br />
constituir alguém arguido, basta uma<br />
carta anónima. Eu, aliás, disse a José<br />
Penedos para não dizer que tinha a<br />
consciência tranquila. Nunca. Dá-me a<br />
sensação que todos os criminosos<br />
dizem que têm a consciência tranquila.<br />
É como aqueles jogadores que quando<br />
cometem uma falta põem logo os<br />
braços no ar. Se eu fosse árbitro e visse<br />
os braços no ar tinha logo a tentação<br />
de marcar pénalti, porque dá a<br />
sensação de culpabilidade. O eng.º José<br />
Penedos sabe que não cometeu<br />
nenhum crime, sabe que é<br />
legitimamente presidente de uma<br />
empresa e, de repente, pressionam-no<br />
para pedir a suspensão? Porquê? O que<br />
ganha com isso? Quem é que ganha<br />
com isso? O Estado? E arranjou-se<br />
logo um problema, porque no dia<br />
seguinte ele tinha uma reunião do<br />
Conselho de Administração em<br />
Espanha, em que a REN se deveria<br />
fazer representar mas não podia<br />
porque não tinha sequer sido<br />
notificada da decisão do tribunal.<br />
A empresa foi muito afectada?<br />
A REN não tem o capital muito<br />
disperso, isto é, o título tem pouca<br />
liquidez. Se tivesse tinha sido uma<br />
tragédia. E quem é que paga isso? O<br />
Ministério Público, o juiz ou os<br />
jornalistas?<br />
Mas afinal de contas o que falta à<br />
justiça para funcionar bem?<br />
Diria que isso passa essencialmente<br />
por uma educação cívica que demora<br />
anos, mas também por uma preparação<br />
dos profissionais, dos advogados, dos<br />
magistrados. O CEJ é muito importante<br />
e os juízes devem ter mais poderes<br />
para actuarem no decurso do processo,<br />
que é demasiado formal e burocrático.<br />
A REN não tem<br />
o capital muito<br />
disperso,<br />
isto é, o título<br />
tem pouca<br />
liquidez.<br />
Se tivesse<br />
tinha sido<br />
uma tragédia.<br />
E quem é que<br />
paga isso?<br />
Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 45<br />
“Acha que temos um sistema penal<br />
que dá muitas garantias aos<br />
arguidos?<br />
Também não é tão garantístico quanto<br />
isso. Eu peço muitas vezes a litigância<br />
de má fé (há quem diga que tenho um<br />
feitio difícil), mas a verdade é que<br />
muitas vezes vê-se mesmo que as<br />
testemunhas estão a mentir. Os juízes<br />
não utilizam o poder que têm,<br />
querem-no mas não o utilizam. Eu<br />
reforçava os poderes dos juízes porque<br />
é a única maneira de termos uma<br />
justiça mais célere. Senão é<br />
impossível. Outro exemplo, é o do<br />
abuso das testemunhas abonatórias, o<br />
que é ridículo. É à portuguesa…<br />
Defende que o juiz tenha mais poder<br />
do que o Ministério Público?<br />
Não me queira liquidar junto do<br />
Ministério Público. Não me vou meter<br />
nisso. Acho que o Ministério Público, a<br />
existir com o estatuto actual, tem de<br />
ter autonomia e independência. Mas o<br />
Ministério Público, embora esteja<br />
submetido a uma hierarquia, está<br />
sempre em constante conflito: critica<br />
o PGR, discute a Constituição,<br />
menospreza todas as leis e opina sobre<br />
processos em curso. E, isso, é que já<br />
não cabe nas suas funções.<br />
E o PGR não tem mão nisso.<br />
Não queria entrar por aí. Mas, de facto,<br />
é uma loucura o que se está a passar.<br />
Este clima, em grande parte<br />
inflacionado pela Associação Sindical<br />
de Juízes, pode estar a criar uma das<br />
maiores crises do Estado Democrático.<br />
Temos a suspeição da classe<br />
política. O que lhe parece?<br />
Acho extraordinário que os dois<br />
sindicatos (a Associação Sindical de<br />
Juízes e o Sindicato do Ministério<br />
Público) ocupem quase mais tempo na<br />
comunicação social do que o Benfica,<br />
Sporting e Porto juntos. Estão<br />
constantemente nas televisões e<br />
jornais a vitimizar-se, a por em causa<br />
tudo aquilo que não lhes agrada.<br />
Acha que falam demais?<br />
Mal e demais. Já estão, por exemplo, a<br />
falar na revisão da Constituição, que só<br />
deverá ter lugar daqui a dois anos.<br />
Mas como se inverte esta<br />
caminhada em passos largos para a<br />
crise?<br />
Tem de haver intervenções a sério<br />
sobreajustiçaeéprecisotrazeras<br />
pessoas para este debate. Por isso, não<br />
estou disposto a assistir passivamente<br />
a que isto continue assim. Será o fim.<br />
Estamos perto do fim?<br />
Estamos numa situação má.<br />
É um advogado experiente e<br />
conhece praticamente todas as<br />
pessoas que têm valor acrescentado<br />
a falar sobre a justiça. Vai fazer<br />
alguma coisa?<br />
Temos um auditório lá em baixo [no<br />
primeiro andar da Morais Leitão,<br />
Galvão Teles, Soares da Silva e<br />
Associados] e gostaria de pôr as<br />
pessoas a discutir os problemas da<br />
justiça. Gostava de ir buscar homens e<br />
mulheres (os senadores, no bom<br />
sentido da palavra, de que vocês<br />
falam) que continuam a ter influência<br />
no país para obrigar os partidos,<br />
também, a tomar consciência de todos<br />
estes problemas. Temos um Ministro
46 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />
VIDA<br />
MAKING OFF<br />
José Manuel Galvão Teles sabe receber.<br />
Antes da entrevista e do almoço que nos<br />
acompanhou, levou-nos a conhecer o<br />
edifício da Morais Leitão, Galvão Teles,<br />
Soares da Silva e Associados.<br />
Começamos pelos quadros que tem no<br />
seu gabinete e parámos, atentamente, na<br />
entrada da firma onde está exposto um<br />
quadro de Nikias Skapinakis, cedido<br />
temporariamente pela Fundação<br />
Serralves. Depois conhecemos o auditório<br />
João Morais Leitão, em homenagem ao<br />
seu colega de curso. Terminaram direito<br />
em 1960, fundaram a firma em 1993. O<br />
seu amigo João, morreu em 2006.<br />
da justiça que é um óptimo jurista, um<br />
óptimo politico, e uma pessoa de bem.<br />
Há que aproveitar o momento.<br />
A Associação Sindical de Juízes<br />
atacou a presença do seu colega Rui<br />
Patrício, na última reunião do<br />
Conselho Superior de Magistratura.<br />
O que lhe pareceu esta crítica?<br />
Acho anormal! Acho irresponsável. A<br />
questão que se coloca éado<br />
cumprimento da lei. Se a lei autoriza e<br />
é igual para todos por que é que este<br />
caso é diferente? Por que incomoda a<br />
associação sindical? São os juízes a<br />
mostrar uma parcialidade e uma<br />
casualidade inacreditáveis. Eu,<br />
pessoalmente, tenho defendido, desde<br />
há muito que os membros do Conselho<br />
Superior de Magistratura deveriam<br />
estar em exclusividade. Mas é a minha<br />
tese. A Associação Sindical de Juízes<br />
gosta de se substituir ao Executivo, ao<br />
legislador, pensa que tem a verdade<br />
toda e proclama-a ao país.<br />
Jorge Sampaio apelou à<br />
responsabilidade de todos.<br />
Reconhece-se neste pedido?<br />
Sim, seria uma das pessoas que gostaria<br />
que interviesse, para que o país possa<br />
contar com uma palavra de bom senso<br />
sobre um problema que também o<br />
preocupa muito. Cunha Rodrigues era<br />
outro dos nomes, é certamente uma das<br />
pessoas que melhor conhece os<br />
problemas da justiça em Portugal.<br />
Os políticos continuam a estar sob<br />
permanente escrutínio e suspeita<br />
por parte da justiça. É possível um<br />
Governo viver debaixo deste clima?<br />
Acho que é muito difícil e deixo a<br />
minha homenagem ao primeiro-<br />
-ministro, porque que tem tido uma<br />
grande capacidade de resistência. Não<br />
conheço os casos concretos, mas o que<br />
sei é que uma pessoa não pode viver<br />
sob suspeição. O direito fez-se para ser<br />
aplicado com base em factos e não em<br />
meros pressupostos. Por isso, é que há<br />
a presunção de inocência. Eu acho que<br />
deve haver respeito por todas e cada“Nova<br />
Iorque a convite de Melo<br />
uma das decisões judiciais. Enquanto<br />
Antunes.<br />
se é arguido, há uma simples suspeição<br />
que não tem sentido nenhum do ponto<br />
Integrou o MES?<br />
de vista social. Ao que parece surgiu<br />
Costumo dizer que estivemos no “préagora<br />
uma outra figura jurídica,<br />
-MES”, porque saímos no primeiro<br />
inventada neste país, que éado“pré-<br />
congresso constitutivo.<br />
-arguido”. Relativamente ao<br />
primeiro-ministro – entretanto<br />
constituído “pré-arguido” – então a<br />
suspeita é zero: não vale nada. Quem a<br />
lança talvez devesse encarnar uma<br />
figura jurídica nova do processo penal:<br />
a do “automaticamente condenado”.<br />
Há uma campanha contra Sócrates?<br />
Eu tenho grande admiração e respeito<br />
pelo senhor ministro da Economia que<br />
falou em “espionagem política” no<br />
caso Face Oculta. Acho que é um<br />
homem muito sério e competente e se<br />
ele me quiser por ao lado dele, tenho<br />
muito gosto. Se for a julgamento, e não<br />
sendo o seu advogado, aceitarei com<br />
muito gosto ser co-arguido. Há uma<br />
quantidade de factos estranhos em<br />
todo este processo. Há nexos de<br />
causalidade que não se compreendem.<br />
A expressão que ele utilizou foi a mais<br />
correcta? O que interessa é ter sido um<br />
homem sério a dizer o que sentia e eu<br />
subscrevo totalmente a ideia. Mas não<br />
fui ao dicionário ver o que quer dizer<br />
“espionagem política”. Acho que o<br />
nosso Ministério Público e os nossos<br />
políticos vêem muitos filmes policiais.<br />
A frase de Vieira da Silva pode ser<br />
vista como espionagem da justiça<br />
ou uma campanha política.<br />
Reconhece-se em alguma dessas<br />
ideias?<br />
Todas estas violações do segredo de<br />
justiça são estranhas e alguém agiu<br />
mal. Não sei quem, mas cabe ao<br />
Ministério Público descobrir.<br />
Formou-se em 1960. Sempre<br />
exerceu advocacia?<br />
Desde 1961 o único ano em que não<br />
exerci advocacia foi quando fui<br />
embaixador nas Nações Unidas, em<br />
Ao que parece<br />
surgiu agora<br />
uma outra<br />
figura jurídica,<br />
inventada<br />
neste<br />
país: a do<br />
“pré arguido”<br />
Considera-se um homem de esquerda?<br />
Da esquerda clássica e socialista?<br />
No 25 de Abril entendíamos que os<br />
partidos socialistas da época (diferentes<br />
do que são hoje) deveriam conciliar a<br />
democracia representativa com<br />
aspirações socialistas. Nessa altura<br />
combatemos o PCP que não aceitava<br />
aquilo a que chamava a democracia<br />
burguesa. Em qualquer caso em 1974<br />
houve uma oportunidade única de fazer<br />
essa experiência.<br />
Sempre foi a tribunal.<br />
É um “advogado de barra”?<br />
Não havia outra advocacia quando eu<br />
comecei a exercer. Trabalhei com o meu<br />
tio que era um grande advogado, o José<br />
Maria Galvão Teles, e tive uma escola de<br />
advocacia muito boa e muito exigente.<br />
Tive a sorte de trabalhar com um grande<br />
advogadoedenãoterdeandara<br />
procurar clientes. É evidente que tinha o<br />
nome feito – Galvão Teles –, o que conta<br />
muito. Hoje costumo dizer aos<br />
advogados mais novos que uma acção<br />
ganha-se na forma como se conduzem as<br />
primeiras reuniões com os clientes. Tem<br />
de se descobrir se o cliente tem razão ou<br />
não, e só aceitar os clientes que têm<br />
razão ou defende-los mas apenas na<br />
medida da sua culpa.<br />
Sabe quantos clientes teve?<br />
Não tenho essa contabilidade feita.<br />
No outro dia um colega meu, mais novo,<br />
estava a criticar os juízes e as decisões<br />
que tomam, e eu dizia que não sinto isso.<br />
Tenho a impressão de que muitos<br />
advogados pegam nos casos sem estudar<br />
o assunto. Posso dizer que tive a vida<br />
facilitada, tinha um nome na praça, feito<br />
pelos meus tios, que sempre procurei<br />
não estragar.
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