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Weekend 1195 : Plano 56 : 1 : P.gina 1 - Económico

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No primeiro debate quinzenal da nova<br />

legislatura, o Governo confirmou que o<br />

salário mínimo vai subir 25 euros em<br />

2010, uma medida que afectará 341 mil<br />

SÁBADO, 5 DE DEZEMBRO 2009 | Nº <strong>1195</strong> | PREÇO (IVA INCLUÍDO): CONTINENTE 2,50 EUROS<br />

DIRECTOR ANTÓNIO COSTA DIRECTOR EXECUTIVO BRUNO PROENÇA<br />

DIRECTORA-ADJUNTA CATARINA CARVALHO SUBDIRECTORES FRANCISCO FERREIRA DA SILVA E PEDRO SOUSA CARVALHO<br />

Entrevista<br />

O advogado José Manuel Galvão<br />

Teles: “Aconselhei José Penedos<br />

a não renunciar na REN”. ➥ OUTLOOK<br />

O ordenado mínimo sobe para 475 euros. Empresários concordam, mas as associações patronais falam em estrangulamento.<br />

trabalhadores. Os empresários ouvidos<br />

pelo <strong>Económico</strong> sublinham a importância<br />

desta medida e acreditam que não<br />

terá um impacto muito significativo nas<br />

Opinião<br />

João Lobo Antunes alerta<br />

para conflitos de interesses<br />

dos juízes. ➥ OUTLOOK<br />

contas. As associações empresariais não<br />

alinham no mesmo discurso e preferem<br />

antecipar as dificuldades que muitas empresas<br />

vão sentir. ➥ P6 A 9<br />

www.economico.pt<br />

Futebol<br />

Brasil, Costa do Marfim e Coreia<br />

do Norte são os adversários<br />

de Portugal no Mundial. ➥ P42<br />

Empresários desdramatizam<br />

efeitos da subida do salário mínimo<br />

Governo<br />

pressiona<br />

accionistas<br />

da Cimpor<br />

para evitarem<br />

guerras<br />

O Ministério<br />

das Finanças está<br />

a fazer contactos para<br />

apaziguar o clima<br />

de guerrilha<br />

na cimenteira<br />

nacional.<br />

O novo homem<br />

forte da<br />

Cimpor, Ricardo<br />

Bayão Horta<br />

(na foto) tem o<br />

apoio de Manuel<br />

Finoedafrancesa<br />

Lafarge. ➥ P34<br />

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Da electrónica à roupa, prendas compradas a partir<br />

dos Estados Unidos - mesmo através da Internet - custam<br />

hoje quase metade do que custavam há um ano. ➥P10 E 11<br />

Jeff Zelevansky/Reuters<br />

Saiba como o euro<br />

forte ajuda a poupar<br />

nas compras de Natal<br />

A tradicional<br />

árvore de Natal<br />

no Rockefeller<br />

Center.<br />

As medidas do Parlamento e do<br />

Governo já comprometeram 924<br />

milhões de euros das receitas de 2010.<br />

Finanças<br />

prometem solução<br />

para o BPP no dia<br />

11 de Dezembro ➥ P48<br />

Aveiro é a cidade<br />

escolhida para nova<br />

fábrica da Nissan<br />

A unidade vai fabricar baterias para<br />

carros eléctricos. Será um investimento<br />

de 250 milhões de euros que permitirá<br />

criar 200 postos de trabalho. ➥ P36<br />

Banco de Portugal<br />

permite regresso<br />

de Vara ao BCP<br />

O regulador terminou processo de<br />

averiguações, alegando que os factos do<br />

processo Face Oculta não se referem<br />

à actividade de Vara no banco. ➥ P24


2 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

A NÃO PERDER<br />

05.07.09<br />

Parlamento afecta 924<br />

milhões de euros<br />

de receitas de 2010<br />

No Paralmento, o Natal chegou mais cedo. E<br />

nem o gelo da crise económica nem o<br />

mialheiro vazio do Estado refrearam os ânimos<br />

na hora de destribuir presentes. O primeiroministro<br />

anunciou que o salário mínimo será<br />

aumentado em 25 euros.➥ DESTAQUE - P8<br />

Fabricantes de sapatos<br />

satisfeitos com reforço<br />

de medidas anti-dumping<br />

Os empresários do sector do calçado estão<br />

satisfeitos com a prorrogação por mais 15<br />

meses das medidas anti-dumping por<br />

parte da Comissão Europeia para o calçado<br />

de couro oriundo da China<br />

e do Vietname. ➥ DESTAQUE - P12 A 13<br />

Há 37 dias que a justiça<br />

é a principal arma de<br />

arremesso político<br />

Há muito que a justiça entrou no debate<br />

político, mas nas últimas três semanas passou<br />

a ser o tema central da troca de acusações<br />

entre partidos. Manuela Ferreira Leite, foi a<br />

primeira a levar estas questões para a<br />

Assembleia da República. ➥ DESTAQUE - P22 A 23<br />

Nissan investe 250<br />

milhões em fábrica<br />

de baterias em Aveiro<br />

A Renault-Nissan já decidiu. Aveiro será a<br />

região onde ficará instalada a futura fábrica<br />

de baterias para carros eléctricos, um<br />

investimento de 250 milhões de euros que é<br />

um dos pilares estratégicos para a introdução<br />

destetipodeveículos.➥DESTAQUE - P36 A 37<br />

Cheques carecas caem<br />

para mínimo da última<br />

década<br />

Entre Janeiro e Setembro deste ano foram<br />

devolvidos mais de 658 mil cheques no valor<br />

de 2,34 mil milhões de euros, o que representa<br />

o menor número de devoluções da última<br />

década. A falta ou insuficiência de provisão é o<br />

principal motivo. ➥ DESTAQUE - P46 A 47<br />

SOCIEDADE ABERTA<br />

Raul Vaz<br />

Jornalista<br />

Onde entra o PSD<br />

O Governo não vai subir impostos, contrariando a<br />

recomendação do FMI. Não parece mal nem bem, ninguém,<br />

em consciência, sabe o que é preferível. Sendo<br />

queogovernadordoBancodePortugaljáexpressoua<br />

sua queda, prontamente reequilibrada quando ela não<br />

coincidiu com a do “patrão”. Fica, contudo, para memória<br />

futura: Vitor Constâncio acha que não há saída a<br />

nãoserahabitualsubidadeimpostos.E,porumavez,<br />

acerta na mouche.<br />

É evidente o que está escrito nas contas do Estado:<br />

seja qual for o Governo, mais cedo que tarde teremos<br />

de pagar o suplemento à dízima. Se não for de forma<br />

directa no imediato será na próxima oportunidade,<br />

num espaço temporal que estica ou encolhe em função<br />

doclimapolítico.ÉaíqueentraoPSD.<br />

Esta semana, Francisco Pinto Balsemão disse o que<br />

o cego vê, se quiser ver. O partido perde influência<br />

desde que Cavaco o deixou por um tabu pessoal e intransmissível.<br />

Nunca mais se endireitou, ao contrário<br />

do personagem que, à custa da rejeição, chegou à Presidência<br />

da República – num processo que responsabiliza<br />

o líder de então, Luís Marques Mendes. Fica, para<br />

memória futura, o concubinato: Mendes pôs ao serviço<br />

deCavacoaestruturadopartido,semqueeles,os<br />

eleitores, dessem pela coisa. Deu no que deu, além da<br />

merecida medalha para Marques Mendes.<br />

Enquanto o PSD não for capaz de impor<br />

o seu traço distintivo, vai continuar<br />

a consumir líderes e a contribuir para<br />

o remanso dos adversários.<br />

Entretanto, o que disse Balsemão? Aquilo que o<br />

“Mourinho de Cavaco” gostaria de dizer mas não ousa. O<br />

PSD tem de ousar, sem complexos ou receio do (seu)<br />

eleitorado. O PSD deve fazer a sua opção sobre as funções<br />

do Estado e, em particular, no desenho de um modelo de<br />

Estado social; o PSD deve afirmar a sua política para um<br />

novo mundo do trabalho; o PSD deve, por que não?,<br />

enunciar escolhas sobre o que está aí, do casamento gay<br />

ao código social sobre drogas. Ou seja: o PSD tem de libertar-se<br />

do espartilho em que se deixou enredar e construir<br />

uma agenda política, pessoal e intransmissível.<br />

EnquantooPSDseesgotarnumaguerrademata-<br />

-mata, ficará sempre aquém dos objectivos. Foi esse o<br />

erro capital da liderança de Manuela Ferreira Leite (todas<br />

as fichas num único número) e será esse o destino de<br />

uma nova liderança se insistir no número. Mesmo que<br />

– como referiu Balsemão – possa ser mais eficaz.<br />

Enquanto o PSD não for capaz de impor o seu traço<br />

distintivo, vai continuar a consumir líderes e a contribuir<br />

para o remanso dos adversários, o PS, ao centro,<br />

e o CDS, à direita. Num processo que, de facto, se assemelha<br />

à figura de um “lento suicídio”. Por enquanto.<br />

À falta de Chávez brilhou Shakira, numa abençoada<br />

benesse a Lisboa. Mas o melhor esteve no frenesim do<br />

casal presidencial. O nosso, Maria e Aníbal, como já<br />

não se via desde as escutas de Belém. ■<br />

AFRASE<br />

“Só se agrava [situação da<br />

justiça] ao misturar política<br />

com justiça”<br />

—Vera Jardim- Deputado do PS<br />

No primeiro debate quinzenal da legislatura, assistiu-se a<br />

um dos momentos mais tensos no parlamento. Ferreira<br />

Leite acusou o ministro da Economia e o vice-presidente<br />

da bancada do PS que levou a reação de Vera Jardim.<br />

Wolfgang Münchau<br />

Editor associado do Financial Times<br />

Grécia sem ajuda da UE<br />

No início do ano, quando os ‘spreads’ das obrigações da<br />

zona euro se alargaram, muitos pensaram que a Grécia<br />

poderia entrar, a qualquer momento, em situação de<br />

incumprimento. Em Fevereiro, Peter Steinbrück, ex-ministro<br />

das Finanças alemão, pôs abruptamente um ponto<br />

final na especulação afirmando que a zona euro agiria se<br />

algum dos seus membros ficasse em apuros. Não existia<br />

um plano de acção concreto nem se havia equacionado<br />

eventuais emendas aos tratados europeus. Havia apenas<br />

uma declaração de intenções. Os investidores acreditaram<br />

em Steinbrück e tudo corria bem – por algum tempo, pelo<br />

menos. A especulação está de regresso, mas com uma diferença.<br />

Desta feita, a zona euro não vai intervir nem ajudar,<br />

salvo se a Grécia cumprir as condições que a União<br />

Europeia (UE) deverá impor nos próximos meses. As<br />

autoridades europeias têm mais receio dos riscos morais<br />

de um ‘bail-out’ do que do alastramento de um hipotético<br />

incumprimento da Grécia a outros países da zona euro. Se<br />

o país tiver de escolher entre preservar a integridade do<br />

pactodeestabilidadeeaintegridadedaGrécia,tudoindica<br />

que prevalecerá a segunda opção. Para salvaguardar o<br />

que ainda resta do pacto de estabilidade, as autoridades<br />

europeias tenderão a condicionar a ajuda à vontade do<br />

país visado em cumprir com as suas obrigações. Ora,<br />

importa lembrar que nenhum outro país da UE desprezou<br />

mais o pacto de estabilidade do que a Grécia.<br />

A UE está apostada no aumento da pressão política –<br />

quem sabe ao ponto de provocar uma crise política – a<br />

pensar num objectivo estratégico: levar o governo grego<br />

a ceder. Uma abordagem perigosa que pode produzir<br />

efeitos contrários ao desejado. Mesmo que o primeiroministro<br />

grego, George Papandreou, estivesse disposto a<br />

acatar a exigência da UE, teria sempre de enfrentar uma<br />

forte oposição interna à implementação de medidas de<br />

austeridade draconianas. Até porque iriam contra o que<br />

prometeu nas recentes eleições. O verdadeiro problema<br />

é este: os líderes políticos gregos não prepararam os<br />

eleitores para o que aí vem.<br />

Nenhum outro país da UE desprezou mais<br />

o pacto de estabilidade do que a Grécia.<br />

O que pode acontecer se a Grécia não pagar as obrigações<br />

emitidas pelo Estado ou se não conseguir alargar o<br />

pagamento da dívida existente? Cerca de dois terços da dívida<br />

pública é detida por estrangeiros. O Deutsche Bank<br />

estima que o governo pretende angariar 31 mil milhões de<br />

euros em novos créditos e €16 mil milhões para dilatar o<br />

prazo de pagamento da dívida no próximo ano. Sem a ajuda<br />

da zona euro, o governo grego terá de recorrer ao Fundo<br />

Monetário Internacional (FMI) se se deparar com mais<br />

obstáculos para refinanciar a dívida. Ao contrário da Argentina,<br />

a Grécia não pode desvalorizar a moeda. Sair da<br />

zona euro também não é uma opção realista.<br />

O governo actual terá, talvez, mais facilidade em gerir<br />

medidas de austeridade impostas por entidades externas<br />

do que internas. A UE ficaria, pois, muito satisfeita por<br />

entregar as rédeas do processo ao FMI. ■<br />

Tradução de Ana Pina<br />

O NÚMERO<br />

25 euros<br />

Ontem, na Assembleia da<br />

República o primeiro-ministro,<br />

José Sócrates anunciou um<br />

aumento de 25 euros para o<br />

salário mínimo para 2010. Este<br />

aumento representa que os<br />

salários mais baixos irão<br />

passar para 475 euros. Agora<br />

só falta discutir em sede de<br />

concertação social.


Victor Fernandes<br />

Director do “Expansão”<br />

O triângulo virtuoso<br />

Sendo uma das figuras geométricas mais interessantes,<br />

o triângulo caracteriza-se por ter três<br />

vértices. Cada um deles pode formar um ângulo de<br />

amplitude diferente como o triângulo isósceles<br />

onde um dos ângulos tem noventa graus e os outros<br />

dois têm cada um quarenta e cinco graus. No<br />

entanto, é a soma de todos eles que dá os cento e<br />

oitenta graus do triângulo.<br />

Angola, Brasil e Portugal estão – neste findar de<br />

década do início do século XXI – cada vez mais empenhados<br />

no fortalecimento das relações entre os<br />

três países lusófonos. Em bom rigor ainda se<br />

fazem as trocas comerciais um pouco à margem<br />

de uma definição estratégica clara. Tratam-se<br />

apenas de iniciativas empresariais de internacionalização<br />

de alguns grupos económicos por um<br />

lado, ou então da importação de matérias-primas<br />

e produtos acabados por outro. Mas o que dizer de<br />

uma hipotética união económica entre estes três<br />

países? Cada um deles representa uma relação com<br />

um mercado económico de milhares de dólares e<br />

milhões de consumidores.<br />

Échegadaaalturadepelomenos<br />

estes três países -Portugal, Angola<br />

e Brasil - assumirem como<br />

estrategicamente importante a<br />

criação de um triângulo económico.<br />

Angola, que se vai afirmando neste momento<br />

como uma potência ao nível regional na zona da<br />

África Austral, tendo a SADCC como instrumento de<br />

trabalho e de garantia da manutenção de uma visão<br />

e de um rumo para aquela zona do continente, regista<br />

nesta altura taxas de crescimento absolutamente<br />

notáveis. O Brasil, que é um dos países do<br />

mundo onde a crise financeira que abalou o mundo<br />

vai ter uma recuperação mais rápida, possui algumas<br />

das maiores empresas do globo na sua área de<br />

actividade. E também está ligado a um dos mercados<br />

mais pujantes e mais densamente povoados da<br />

América, o Mercosul. No outro lado do vértice do<br />

triângulo vem Portugal. Ponta de entrada para o velho<br />

continente, a Europa, representa hoje um acesso<br />

a um mercado de milhões de consumidores e de<br />

grande industrialização e tecnologia de ponta.<br />

A ideia não é de hoje e tem sido mais ou menos<br />

discutida nas várias reuniões em sede da CPLP, mas<br />

pensoqueéchegadaaalturadepelomenosestes<br />

três países assumirem como estrategicamente importante<br />

a criação deste triângulo económico que<br />

pode e deve ser muito virtuoso. ■<br />

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EDITORIAL<br />

O orçamento mais difícil<br />

O Orçamento do Estado para 2010 vai ser mais importante do que<br />

se previa, pelo menos em função dos dados que são hoje<br />

conhecidos e que foram negados durante meses pelo Governo<br />

numa gestão política das expectativas levada ao limite do aceitável.<br />

A situação de desequilíbrio das contas públicas, não só pelo nível de<br />

défice público, mas sobretudo pela dimensão da dívida pública que,<br />

segundo o FMI, vai atingir os 100% do PIB, é de tal forma grave que<br />

a sua correcção tem de começar já, imediatamente. Sem demoras.<br />

Se a necessidade de corrigir as contas públicas já é, por si só, um<br />

problema, ou se quisermos, um desafio, a necessidade de o fazer<br />

num contexto de crise económica, com mais despesa e menos<br />

receita e com a necessidade de apoiar a economia e as empresas, é<br />

uma tarefa hercúlea. E, valha a verdade, todos falam, incluindo o<br />

Governo, mas “ninguém os vê a fazer nada”, parafraseando os Gato<br />

Fedorento. Pelo contrário, todos falam na correcção das contas<br />

públicas, mas o que se vê é a apresentação de propostas para mais<br />

despesa ou menos receita. Vamos por partes: seria uma tragédia<br />

para a economia portuguesa um eventual aumento de impostos,<br />

como sugere o Fundo monetário Internacional. Além de induzir um<br />

novo travão à actividade económica, que está longe, muito longe,<br />

de ser a necessária, o aumento de impostos induziria mesmo um<br />

incentivo negativo à fuga aos impostoseàevasão fiscal, tal é<br />

objectivamente o nivel de carga fiscal no país e, mais do que isso, a<br />

percepção dos portugueses de que pagam impostos a mais,<br />

sobretudo tendo em conta o que recebem do Estado em troca.<br />

Fechado este caminho, esperemos..., torna-se absolutamente<br />

fundamental reduzir a despesa. Exactamente, o Estado precisa de<br />

gastar menos e não apenas de gastar menos em percentagem do<br />

PIB. E isso tem de ser conseguido em simultâneo com a<br />

manutenção de apoios transitórios à economia nesta fase de crise,<br />

apoios selectivos, mas transparentes.<br />

José Sócrates tem razão quando afirma que o Parlamento não<br />

pode, nem deve, criar um ‘orçamento azul’ ou um ‘orçamento<br />

sombra’ e, ao mesmo tempo, aprovar a proposta de orçamento que<br />

o Governo vai apresentar para 2010. Dos dois caminhos, a oposição<br />

vai ter de escolher um, sob pena de bloquear o país. No entanto,<br />

José Sócrates tem também de dar os sinais, mais, tem de tomar as<br />

medidas concretas para mostrar que vai reequilibrar as contas<br />

públicas. Se não o fizer, estará a cavar a sua sepultura política, mas,<br />

pior, estará a cavar a sepultura económica e social do país.<br />

Entendam-se, por favor<br />

A maior empresa industrial do país vive uma guerra accionista que<br />

ameaça o seu futuro e, logo, tem consequências muito negativas<br />

para a economia portuguesa e para as empresas, pequenas, médias<br />

e grandes, com quem trabalha. A Cimpor vive uma espécie de<br />

repetição da crise accionista que atingiu o Millennium bcp,<br />

curiosamente com alguns dos mesmos accionistas, factio<br />

comprovado pela decisão conhecida esta semana de concentrar em<br />

Bayão Horta as funções de charmain e de presidente executivo da<br />

empresa. Todos os accionistas têm a responsabilidade, têm mesmo<br />

a obrigação de se enterem, mas há um accionista com<br />

responsabilidades particulares: a Caixa Geral de Depósitos entrou<br />

na Cimpor para estabilizar a empresa. é, pois, isso que tem de fazer.<br />

Mais e mais leis<br />

Portugal não tem falta de leis. Não é pela diferença entre crimes<br />

de corrupção para acto lícito ou ilícito que este crime é ou não<br />

combatido com mais força em Portugal. O problema está na<br />

aplicação da lei, na qualidade dos processos. E isto tem muito mais<br />

a ver com meios dados à investigação policial e da PGR do que<br />

com leis. Ou, até, mais com a forma como a sociedade encara a<br />

corrupção. Sem sanção social, não há lei que valha no combate à<br />

corrupção. Porque desta decorre a intolerância para com este<br />

crime e a denúncia, essencial para o estancar.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 3<br />

A melhor<br />

notícia<br />

da semana<br />

FRANCISCO FERREIRA DA SILVA<br />

Subdirector<br />

A dois dias do início da Conferência<br />

de Copenhaga sobre as<br />

alterações climáticas e a forma<br />

de as combater, a melhor notícia<br />

da semana é, sem sombra de<br />

dúvida, aquela que hoje publicamos<br />

sobre a decisão da Renault-Nissan<br />

instalar uma fábrica<br />

de baterias para automóveis<br />

eléctricos em Portugal.<br />

Com um investimento previsto<br />

de 250 milhões de euros, a nova<br />

fábrica ficará situada em Aveiro<br />

e deverá criar 200 postos de<br />

trabalho, a partir de 2012.<br />

É uma boa notícia porque representa<br />

uma aposta numa tecnologia<br />

amiga do ambiente,<br />

mas também porque significa<br />

um novo projecto de investimentoestrangeirononosso<br />

país com a correspondente<br />

criação de emprego. Além disso,<br />

este investimento é encarado<br />

como uma âncora para outros<br />

projectos nesta área de negócio<br />

nascente e onde várias<br />

marcas automóveis estão a<br />

apostar, perspectivando-a<br />

comoumaáreapotencialdeexportações<br />

futuras.<br />

Esta iniciativa encaixa ainda<br />

na iniciativa do Governo fomentar<br />

a instalação de uma<br />

rede de 1.300 postos de abastecimento<br />

de carros eléctricos<br />

no nosso país até ao final de<br />

2011. Mas também nos incentivos<br />

à mobilidade sustentável,<br />

através de subsídios à aquisição<br />

de veículos eléctricos por<br />

particulares.<br />

A aposta nos automóveis<br />

eléctricos faz parte de uma estratégia<br />

virada para o ambiente e<br />

para as energias renováveis,<br />

onde o nosso país tem uma posição<br />

de relevo a nível internacional.<br />

Posição que deverá ser reforçada<br />

nos próximos anos com<br />

a instalação de novos parques<br />

eólicos e a construção de oito<br />

novas barragens. ■


4 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

OPINIÃO<br />

Copenhaga<br />

tem de ser o fim<br />

do princípio<br />

MARTIN WOLF<br />

Colunista do Financial<br />

Times<br />

A Cimeira de Copenhaga sobre<br />

as alterações climáticas vai ficar<br />

aquém do desejado. Mas<br />

será que isso tem alguma importância?<br />

Sim e não. Sim<br />

porque é imperativo agir. Não<br />

porque a haver um acordo não<br />

será o mais adequado. Não vai ser fácil lidar<br />

com as alterações climáticas. É fundamental<br />

conseguirmos atingir as metas eficaz e eficientemente.<br />

As novas delongas devem, pois,<br />

ser usadas para alcançar estes objectivos.<br />

Em minha opinião, justifica-se uma acção<br />

determinada e resoluta. Opinião esta controversa.<br />

Os cépticos avançam dois contra-argumentos:<br />

primeiro, a ciência que sustenta as<br />

alterações climáticas é extremamente incerta;<br />

segundo, os custos excedem os benefícios.<br />

Isto não basta, porém, para argumentar<br />

que a ciência é incerta. Dados os riscos, temos<br />

de ter a certeza de que a ciência está errada<br />

antes de acatarmos a opinião dos cépticos.<br />

Quando descobrirmos que está errada<br />

será, talvez, tarde de mais para agirmos eficazmente.<br />

Não podemos repetir experiências<br />

com apenas um planeta.<br />

Felizmente, a evidência diz-nos que os<br />

custos da acção não deverão ser proibitivos.<br />

O Banco Mundial defende no último RelatóriosobreoDesenvolvimentoMundialqueos<br />

custos de restrições mais rigorosas sobre as<br />

emissões seriam modestos. No que respeita<br />

aos benefícios, sublinho a importância de se<br />

evitar uma catástrofe climática. Ora, não temos<br />

o direito de correr tais riscos.<br />

Não obstante, os cépticos prestam-nos um<br />

serviço inestimável ao recordarem-nos que é<br />

fundamental prosseguir com a monitorização<br />

dos desenvolvimentos climáticos actuais.<br />

Mas não só. Também nos lembram que agir<br />

tem custos e que alguns deles – manter milhares<br />

de milhões de pessoas na miséria, por<br />

exemplo – seriam inaceitáveis. Felizmente,<br />

como realça o Banco Mundial, as emissões<br />

dos pobres são ínfimas. A redução nas emissões<br />

que se obteria substituindo a frota americana<br />

de veículos utilitários desportivos<br />

(SUV) por automóveis que obedecem aos padrões<br />

europeus de economia de combustível,<br />

permitiria cobrir as emissões resultantes do<br />

fornecimento de energia eléctrica a quem<br />

não tem acesso à mesma actualmente, isto é,<br />

a cerca de 1,6 mil milhões de pessoas.<br />

Agir justifica-se e, muito provavelmente, o<br />

custo da acção não será proibitivamente oneroso.<br />

O desafio será, apesar disso, imenso. Segundo<br />

o relatório sobre as Perspectivas Energéticas<br />

Mundiais da Agência Internacional de<br />

Energia (AIE), teríamos de “descarbonizar” o<br />

crescimento para podermos cingir as concentrações<br />

atmosféricas de “equivalente de CO2”<br />

a 450 partes por milhão (ppm), isto é, o nível<br />

consistente com um aumento da temperatura<br />

média global na ordem dos 2ºC. Teríamos, pois,<br />

de fazer tudo – reduzir a procura, expandir as<br />

renováveis, investir na energia nuclear, desenvolver<br />

a captura e armazenamento de carbono,<br />

substituir o carvão pelo gás e proteger as florestas<br />

– para atingir esse objectivo. Como nos<br />

temos portado até aqui? Mal, muito mal. Enquanto<br />

falamos, debatemos, discutimos, os níveis<br />

de emissões aumentam. A recessão também<br />

ajudou, no entanto, não podemos nem<br />

devemos depender do “armagedão económico”.<br />

Segundo a AIE, as emissões de CO2 passaram<br />

de 20,9 gigatoneladas (Gt) em 1990 para<br />

28,8 Gt em 2007. No “cenário de referência” da<br />

AIE, as emissões de CO2 deverão ascender a<br />

34,5 Gt em 2020 e a 40,2 Gt em 2030, o que<br />

corresponde a uma taxa média de crescimento<br />

de 1,5% ao ano no referido período. Os países<br />

em desenvolvimento e emergentes “serão responsáveis<br />

pelo crescimento projectado de<br />

emissões resultantes do consumo de energia<br />

até 2030”, sendo que a China responde por<br />

55%desseaumentoeaÍndiapor18%.<br />

Se não alterarmos esta tendência o quanto<br />

antes, os custos inerentes à redução da temperatura<br />

serão muito mais onerosos ou, no<br />

pior dos casos, proibitivos. Para a AIE, se o<br />

objectivo é limitar a concentração de gases<br />

com efeito de estufa para 450 ppm, então, teremos<br />

de somar, por cada ano perdido – isto<br />

é,forada“rota”queénecessárioseguir–<br />

500 mil milhões de dólares ao custo global<br />

estimado de 10.500 biliões de dólares. Estes<br />

custos resultam da vida particularmente longa<br />

dos activos de capital usados na produção<br />

de energia e da vida ainda mais longa do CO2<br />

na atmosfera.<br />

O cenário alternativo é muito diferente:<br />

em vez das 40,2 Gt de emissões resultantes<br />

do consumo de energia em 2030 teríamos<br />

apenas26,4Gt.Odiferencialégrande.AEuropean<br />

Climate Foundation, o maior financiador<br />

de iniciativas que visam mudar as políticas<br />

europeias para o clima, refere num<br />

breve artigo que os progressos alcançados<br />

nos contactos preparatórios da Cimeira de<br />

Copenhaga não bastam*. As propostas em<br />

cima da mesa são modestas e insuficientes,<br />

mesmo numa perspectiva optimista. Isto é,<br />

ficam cerca de um terço aquém das reduções<br />

necessárias até 2020 para podermos fixar um<br />

limite de 450 ppm de equivalente de CO2.<br />

Pretendia-se que Copenhaga fosse a linha<br />

de partida do novo caminho a seguir, mas é<br />

muito provável que isso não aconteça, uma<br />

vez que nem a administração americana nem<br />

os países em desenvolvimento estão dispostos<br />

a assumir compromissos vinculativos.<br />

Copenhaga parece, pois, o fim do princípio. É<br />

praticamente consensual que o mundo deve<br />

agir. É consensual que a retórica poucos frutos<br />

deu até agora. É tempo de agir – se não em<br />

Copenhaga o quanto antes.<br />

Infelizmente, isto não significa que daí<br />

“ A redução<br />

nas emissões<br />

que se obteria<br />

substituindo a frota<br />

americana de<br />

veículos utilitários<br />

desportivos (SUV)<br />

por automóveis<br />

que obedecem aos<br />

padrões europeus<br />

de economia<br />

de combustível,<br />

permitiria cobrir<br />

as emissões<br />

resultantes do<br />

fornecimento de<br />

energia eléctrica a<br />

quem não tem<br />

acesso à mesma<br />

actualmente, isto é,<br />

a cerca de 1,6 mil<br />

milhões de pessoas.<br />

A cimeira de Copenhaga começa na próxima<br />

segunda-feira, na capital dinamarquesa. Sobre a<br />

mesa está a negociação de um ecordo pós-Quioto.<br />

possa emergir o acordo ideal. As políticas a<br />

aplicar devem ser o mais eficazes e eficientes<br />

possível. Que quer isto dizer? Enuncio de seguida<br />

três critérios.<br />

Primeiro, precisamos de preços para o<br />

carbono plausíveis para um planeamento a<br />

longoprazo.Comoéóbvio,nãopoderãoser<br />

fixos para sempre. Terão de ser ajustados em<br />

função das circunstâncias. Porém, terão de<br />

ser muito mais estáveis do que são actualmente<br />

no mercado de licenças de emissões<br />

da União Europeia. A meu ver, é mais apelativa<br />

a solução de um imposto do que o modelo<br />

‘cap and trade’.<br />

Segundo, importa distinguir entre quem<br />

paga a factura e onde se processa a redução


“<br />

Precisamos<br />

de preços para o<br />

carbono plausíveis<br />

para um planeamento<br />

a longo prazo.<br />

Como é óbvio,<br />

não poderão ser<br />

fixos para sempre.<br />

de emissões. Esta deve ter lugar onde a eficiência<br />

for maior. Razão pela qual as emissões dos países<br />

em desenvolvimento têm de ser incluídas, embora<br />

os custos devam recair sobre os países mais ricos.<br />

Não só porque podem suportar o ónus financeiro,<br />

mas porque foram eles quem produziu o grosso<br />

das emissões passadas.<br />

Terceiro, e último, é preciso desenvolver e aplicar<br />

inovação às tecnologias mais relevantes, assim como<br />

atribuir subsídios em larga escala à inovação**.<br />

Resolver o problema das alterações climáticas é<br />

o maior desafio colectivo que a Humanidade alguma<br />

vez teve de enfrentar. O êxito desta demanda<br />

depende de uma acção dispendiosa e concertada<br />

entre numerosos países para podermos dar resposta<br />

a uma ameaça distante em nome daqueles<br />

que ainda não nasceram, sob a inevitável incerteza<br />

dos custos da inacção. Chegámos, contudo, a um<br />

ponto em que existe um amplo consenso sobre a<br />

naturezadaameaçaeotipodepolíticasquedevemos<br />

adoptar para lidar com este problema. PoderemosnãochegaraumacordoemCopenhaga,masé<br />

hora de decidirmos. Ou agimos depressa ou ficaremos<br />

a saber se os cépticos têm razão. A prevalecer a<br />

inacção, como parece provável, espero que eles<br />

tenham razão. Mas duvido que assim seja. ■<br />

* “Taking stock”, 17 de Novembro de 2009,<br />

www.project-catalyst.info<br />

** “No green growth without innovation”,<br />

www.bruegel.org<br />

Exclusivo Financial Times<br />

Tradução de Ana Pina<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 5<br />

Scanpix Denmark/Reuters<br />

RELAÇÃO HISTÓRICA<br />

ENTRE AS EMISSÕES<br />

E O PRODUTO ECONÓMICO<br />

Emissões de CO2 resultantes<br />

do consumo de energia (Gt).<br />

35<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

0<br />

Revolução<br />

Utilização<br />

sustentável<br />

industrial<br />

de energia*<br />

1750 2050<br />

1<br />

10<br />

2007<br />

100<br />

Revolução<br />

energética<br />

e ambiental<br />

2030<br />

1 000<br />

* Partindo do pressuposto de que se mudam as políticas para<br />

se estabilizarem as emissões de gases com efeito de estufa para<br />

a atmosfera nas 450ppm de equivalente de CO2<br />

Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />

CENÁRIOS DE POUPANÇA<br />

DE EMISSÕES<br />

(À ESCALA MUNDIAL)<br />

Emissões de CO2 resultantes<br />

do consumo de energia (Gt).<br />

42<br />

38<br />

34<br />

30<br />

26<br />

2010<br />

2015<br />

Cenário de<br />

referência<br />

Cenário 450*<br />

2020<br />

2025<br />

2030<br />

Fim de<br />

utilização<br />

Centrais<br />

eléctricas<br />

10 000<br />

Renováveis<br />

Biocombustíveis<br />

Nuclear<br />

Captura e<br />

armazenamento<br />

de carbono (CAC)<br />

* Partindo do pressuposto de que se mudam as políticas para<br />

se estabilizarem as emissões de gases com efeito de estufa para<br />

a atmosfera nas 450ppm de equivalente de CO2<br />

Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />

POUPANÇA NOS SUV<br />

CONTRA ELECTRICIDADE<br />

Emissões (milhões de<br />

toneladas de CO2).<br />

200<br />

150<br />

100<br />

50<br />

0<br />

Redução<br />

substituindo<br />

SUV americanos<br />

pelos padrões<br />

europeus de<br />

economia de<br />

combustível<br />

Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />

Aumento<br />

fornecendo<br />

electricidade<br />

básica a<br />

1,6 mil milhões<br />

de pessoas,<br />

actualmente<br />

sem acesso<br />

PREÇO DAS LICENÇAS DE<br />

EMISSÕESDAUE<br />

Contrato de Dezembro de<br />

2009. (€ por tonelada)<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

2006<br />

Fonte: AIE; Banco Mundial; Point Carbon<br />

2009


6 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

DESTAQUE MEDIDAS DE COMBATE À CRISE<br />

No primeiro debate quinzenal da legislatura o Governo<br />

anunciou um aumento do salário mínimo em 25 euros.<br />

Empresários apoiam subida do salário<br />

O impacto não é demasiado relevante, defendem. Mas as associações empresariais alertam para os riscos de au<br />

Mónica Silvares<br />

e Margarida Peixoto<br />

monica.silvares@economico.pt<br />

“Comumordenadomínimode<br />

475 euros por mês não se consegue<br />

ter uma vida minimamente<br />

digna em Portugal”, afirma, peremptoriamente,<br />

ao <strong>Económico</strong>,<br />

o presidente da Opway, Filipe<br />

Soares Franco. No entanto há 341<br />

mil trabalhadores em Portugal<br />

para quem os 25 euros mensais<br />

adicionais farão diferença. Os<br />

empresários ouvidos frisam a<br />

importância da medida ontem<br />

anunciado pelo Governo, no primeiro<br />

debate quinzenal desta legislatura,<br />

e acreditam que não<br />

terá um impacto muito significativo.<br />

Mas as associações empresariais<br />

preferem antecipar as dificuldades<br />

que muitas empresas<br />

vão sentir.<br />

“O sector do turismo não<br />

permite este tipo de aumentos”,<br />

diz José Carlos Pinto Coelho. O<br />

presidente da Confederação do<br />

Turismo Português explica que<br />

“a situação do turismo é excepcionalmente<br />

grave eamaioria<br />

das empresas do sector não suporta<br />

este aumento”. “Vai pro-<br />

AS CONTAS<br />

DO SALÁRIO MÍNIMO<br />

SMN 2010<br />

475 euros<br />

Custo adicional por<br />

trabalhador<br />

25 euros<br />

1% nas contribuições para<br />

a segurança social, que<br />

incidem sobre o valor bruto<br />

de 623 euros<br />

6,23 euros<br />

=<br />

18,77<br />

Nº de trabalhadores<br />

afectados: 341 mil<br />

vocar mais desemprego”, alerta.<br />

Gregório Rocha Novo, um<br />

dos responsáveis da CIP, afina<br />

pelo mesmo diapasão sublinhando<br />

“o estrangulamento”<br />

de vários sectores de bens transaccionáveis<br />

e empresas de<br />

mão-de-obra intensiva – “nas<br />

confecções cerca de 90% dos<br />

trabalhadores são abrangidos<br />

pelo aumento, no têxtil cerca de<br />

80%, no calçado mais de 70% e<br />

o mesmo na cerâmica”. “O definhamento<br />

destas empresas significa<br />

mais desemprego. Sabendo<br />

que tem como consequência<br />

inevitável o aumento do<br />

desemprego, privilegiamos o<br />

salário mínimo?”, questiona.<br />

Com a taxa de desemprego<br />

nos 10,2%, em Outubro, segundo<br />

o Eurostat, o problema é grave.<br />

Mas os empresários preferem<br />

falar de outras medidas, como<br />

um maior flexibilização das regras<br />

laborais, para fomentar o<br />

emprego. “O Código do Trabalho<br />

urge ser revisto. Uma maior flexibilidade<br />

ajudava no emprego.<br />

As empresas não tendo flexibilidade<br />

nos quadros acabam por<br />

nãosearriscartantonaconquista<br />

de novos nichos e de negócios<br />

com maior risco, porque depois<br />

podem confrontar-se com excesso<br />

de pessoal que não podem<br />

dispensar”, explica o presidente<br />

da Gelpeixe, Manuel Tarré. O<br />

responsável desta PME, presente<br />

em vários mercados internacionais,<br />

considera que as medidas<br />

ontem anunciadas – reduzir a<br />

taxa social única num ponto percentual<br />

para os trabalhadores<br />

que ganham o salário mínimo e<br />

aumentar prazo de pagamento<br />

das dívidas ao Fisco – são “muito<br />

mar<strong>gina</strong>is, mas politicamente<br />

com grande impacto”.<br />

Os empresários não consideram<br />

estas medidas uma compensação.<br />

O vice-presidente da Confederação<br />

do comércio e Serviços,<br />

Vieira Lopes, explica porquê:<br />

“Primeiro, o aumento de 25 euros<br />

elimina de imediato, em alguns<br />

acordos colectivos, um conjunto<br />

de escalões, o que poderá ter um<br />

efeito de arrastamento para os<br />

restantes trabalhadores. Segundo,<br />

este aumento pode alterar o<br />

quadro negocial dos vários escalões,<br />

facilitando aos sindicatos a<br />

apresentação de propostas mais<br />

elevadas de aumentos”.<br />

Ter mais tempo para pagar ao<br />

Fisco, “atendendo a retracção<br />

económica ajudará a não provocar<br />

mais sequelas na economia”,<br />

defende o presidente da LN Moldes,<br />

Leonel Costa. “É importante<br />

saber que as empresas têm capacidade<br />

para responder num prazo<br />

mais alargado do que abafá-las<br />

no imediato o que aumentará o<br />

desemprego”, acrescenta. Mas<br />

João Miranda, presidente da Frulact,<br />

uma empresa de preparados<br />

de fruta, lembra que as empresas<br />

cumpridoras acabam por ser vítimas<br />

de “concorrência desleal”.<br />

“Era mais interessante se o Estado<br />

se comprometesse a pagar as<br />

suas dívidas”, sublinha.<br />

A decisão de aumentar o salário<br />

mínimo vai ter impacto sobretudo<br />

na região Norte, onde se<br />

concentra cerca de metade dos<br />

trabalhadores que ganham o salário<br />

mínimo (46%), segundo<br />

um estudo do Gabinete de Estratégia<br />

do Ministério da Economia.<br />

Em seguida vem a região<br />

Centro e Lisboa (22,6% e 21,2%)<br />

onde também se encontram<br />

muitas da indústria de mão de<br />

obra mais intensiva. Precisamente<br />

as regiões onde há mais<br />

desemprego. ■ Com A.F.S., H.S.


PONTOS-CHAVE<br />

mínimo<br />

mento do desemprego.<br />

AS MEDIDAS<br />

● Aumentar o salário mínimo<br />

para 475 euros, contra os<br />

anteriores 450.<br />

João Paulo Dias<br />

● Redução de um ponto<br />

percentual da contribuição para a<br />

Segurança Social a cargo da<br />

empresa relativa a trabalhadores<br />

com salário mínimo, em 2010.<br />

● Alargamento do prazo de<br />

pagamento das dívidas aos Fisco<br />

para o dobro, em 2010.<br />

● Reforço do programa de apoio<br />

à modernização do pequeno<br />

comércio em 20 milhões de<br />

euros e do programa de<br />

qualificação e emprego para os<br />

sectores têxtil, turismo e fabrico<br />

de móveis.<br />

Os empresários ouvidos pelo<br />

Governo Mhghghke df oposição df gdjkfhg<br />

Líderes Mhghghk parlamentares<br />

df df<br />

<strong>Económico</strong> frisam a importância comprometeram, sdfhglkhsdlfjgh sdjfgh em duas<br />

sublinham gdjkfhg a importância de<br />

da subida do salário mínimo. As sjdfh semanas, g hsdfkjgh 924 milhões de euros sdfhglkhsdlfjgh continuar asdjfgh apoiarsjdfh a economia. g<br />

associações empresariais preferem ksdfjgsjdfhkgjh em despesassdfjkgh adicionais ksjdfh para 2010, hsdfkjgh Preocupação ksdfjgsjdfhkgjh com o défice não<br />

antecipar as dificuldades que muitas gkj shdfkjgh assumindo sdjkfhgk os números jsdhfkgjh avançadossdfjkgh<br />

deve ksjdfh ser agkj prioridade shdfkjghem<br />

empresas vão sentir.<br />

skdfjg pelosdfg. próprio Executivo. sdjkfhgk momento jsdhfkgjh de recuperar skdfjg sdfg. da crise.<br />

Empresários<br />

desdramatizam<br />

efeitos da<br />

subida do salário<br />

mínimo<br />

Ludgero Marques<br />

Presidente da Cifial<br />

“O aumento não tem<br />

grande expressão,<br />

como também não tem<br />

o salário mínimo. Mas<br />

não quero ser negativo: o<br />

aumento é um sinal porque mostra<br />

solidariedade. Para quem vai, apesar de<br />

pouco, é necessário.”<br />

Filipe Soares Franco<br />

Presidente da Opway<br />

“O ordenamento mínimo<br />

é fundamental.<br />

Com 475 euros não se<br />

consegue ter um vida<br />

digna em Portugal. O decréscimo<br />

de prestação para a Segurança Social<br />

é um paleativo, para o esforço de muitas<br />

empresas que pagam o salário mínimo que é<br />

a única forma de conseguirem sobreviver.”<br />

Bernardo Vasconcellos e<br />

Souza<br />

CEO da Vista Alegre<br />

“Estas medidas são<br />

avulsas e a questão de<br />

fundo é a alteração do<br />

regime laboral. Não sou<br />

muito partidário de apoios<br />

às empresas, só por períodos curtos. É necessário<br />

aumentar a competitiva a legislação<br />

laboral tem de ser adequada flexível e<br />

realista e a Justiça tem de funcionar.”<br />

José Joaquim Oliveira<br />

CEO da IBM Portugal<br />

“É uma medida de<br />

aplaudir e vem em<br />

linha com o que foi<br />

prometido na campanha.<br />

Representa um esforço<br />

para melhorar as condições de vida. A<br />

maioria das empresas deverá conseguir<br />

responder a este aumento dos custos”.<br />

Pedro Pissarra<br />

Presidente Biotecnol<br />

“Estas medidas não<br />

vão contribuir muito<br />

para uma melhoria<br />

visível nas pessoas.<br />

Beneficiariam mais com uma<br />

redução do IVA. Teria mais impacto. Quanto<br />

às empresas, o Estado deveria preocupar-se<br />

me olhar para as dívidas que tem. A seguir é<br />

que deveriam vir os incentivos.”<br />

Paulo Varela<br />

Presidente da Visabeira<br />

“Estas são medidas<br />

positivas no actual<br />

contexto. O aumento<br />

do salário mínimo é<br />

socialmente justo, embora<br />

admita que para certos sectores possa ser<br />

um problema. O impacto será mar<strong>gina</strong>l e é<br />

um sinal positivo pois qualquer incentivo<br />

tem um efeito multiplicador.”<br />

Carlos Barbot<br />

Presidente da Barbot<br />

Tintas<br />

“O salário mínimo é<br />

de aumentar, até<br />

porque continua a não<br />

ser muito dinheiro.<br />

Preocupa-me mais os<br />

aumentos da função pública. Espero que as<br />

negociações salariais levem em linha de<br />

conta a diminuição dos preços.”<br />

Luís Filipe Pereira<br />

CEO da Efacec<br />

“Temosdeverseo<br />

aumento do salário<br />

mínimo resulta ou não<br />

numa diminuição do<br />

emprego. Todos estamos de<br />

acordo com o aumento, mas temos de ver<br />

se isso compa<strong>gina</strong> com a sobrevivência das<br />

micro-empresas”.<br />

Leonel Costa<br />

Presidente da LN Moldes<br />

“Ter mais tempo para<br />

pagar ao Fisco, atendendoaretracçãoeconómica<br />

e para não provocar<br />

mais sequelas na economia,<br />

é importante saber se as empresas<br />

têm capacidade para responder num prazo<br />

mais alargado do que abafá-las no imediato<br />

o que aumentará o desemprego.”<br />

João Miranda<br />

presidente da Frulact<br />

“Há coisas mais<br />

importantes. Estamos<br />

a trabalhar muito a<br />

jusante quando<br />

deveríamos trabalhar mais a<br />

montante. O Estado está a ir pela via dos<br />

proveitos e deveria ser pela via dos custos.<br />

Os custos associados à administração<br />

publica têm muito por onde ser optimizados.”<br />

Albano Alves<br />

Presidente da Albano<br />

Alves<br />

“Quem paga 450 euros<br />

paga 475. É só propaganda.<br />

Não confio<br />

em nada do que o Governo<br />

prometa ou dê. Se me der<br />

a regalia sei que vou ter de ter outros custos,<br />

como não poder despedir o empregado<br />

ou dar contas adicionais. O que os empresários<br />

precisam é que lhes facilitem a vida.”<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 7<br />

Miguel Júdice<br />

Presidente do grupo<br />

Lagrimas<br />

“Evoluções graduais<br />

do salário mínimo<br />

devem ser feitas,<br />

porque aumentar o<br />

salário mínimo na economia<br />

vai injectar dinheiro na economia. Não<br />

posso acreditar que leve ao desemprego,<br />

que uma empresa que aumente o salário<br />

mínimo seja obrigada a despedir.”<br />

Armindo Monteiro<br />

CEO da Compta<br />

“É generosidade à<br />

custa das empresas,<br />

que o Estado não tem,<br />

com as pensões.<br />

Ninguém vive com o salário<br />

mínimo, mas também ninguém vive com as<br />

pensões. Veremos até que ponto as<br />

empresas vão absorver estes aumentos.”<br />

Manuel Tarré<br />

Presidente da Gelpeixe<br />

“Para algumas<br />

empresas o impacto<br />

será enorme porque<br />

atravessam sérias<br />

dificuldades, para outras<br />

não será tão grande. Reduzir as<br />

contribuições para a Segurança Social ajuda<br />

a compensar, mas falamos de medidas<br />

muito mar<strong>gina</strong>is, medidas políticas.”<br />

Aloisio Leão<br />

Presidente da Inapal Metal<br />

“O salário mínimo deve<br />

ser actualizado, mas as<br />

empresas só podem distribuir<br />

aquilo que têm. É um<br />

problema que tem que ser dimensionado<br />

em função da retoma da economia<br />

no país, e se o primeiro-ministro tem tantas<br />

certezas de que vai haver uma retoma da<br />

economia, não sei onde é que ele as foi buscar.”<br />

Afonso Jubert Almeida<br />

Presidente da Frissul<br />

“É importante subir o<br />

salário mínimo e as<br />

empresas têm de fazer<br />

um esforço para serem<br />

competitivas e ultrapassar<br />

essa dificuldade. Não podemos continuar<br />

com salários desta ordem. Aumentar o prazo<br />

para pagar dívidas ao Fisco significa que se<br />

está a ajudar as empresas não cumpridoras.”<br />

Hipólito Pires<br />

Presidente da Hipogest<br />

“Lamentamos que<br />

o salário mínimo<br />

em Portugal seja<br />

ainda tão pequeno.<br />

Além de que o problema<br />

do nosso país não é o salário mínimo.<br />

O que prejudica as empresas,<br />

o que gera desemprego, é a actual<br />

legislação laboral.”


8 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

DESTAQUE MEDIDAS DE COMBATE À CRISE<br />

Parlamento compromete 924<br />

milhões de receitas de 2010<br />

Sócrates apresentou ontem medidas que comprometem 94 milhões de euros em<br />

receitas do próximo ano. A estes juntam-se mais 830 milhões já destinados.<br />

Margarida Peixoto<br />

margarida.peixoto@economico.pt<br />

No Parlamento, o Natal chegou<br />

mais cedo. E nem o gelo da crise<br />

económica nem o mealheiro vazio<br />

do Estado refrearam os ânimos<br />

na hora de distribuir presentes.<br />

O primeiro-ministro anunciou<br />

que o salário mínimo nacional<br />

será aumentado em 25 euros e<br />

que as empresas terão direito a<br />

medidas compensatórias no valor<br />

de 94 milhões de euros. Esta já<br />

é a terceira ronda de distribuição<br />

de prendas. Nas duas primeiras,<br />

entre Governo e oposição, já tinham<br />

sido gastos 830 milhões do<br />

orçamento do ano que vem.<br />

Feitas as contas, e sem ainda ter<br />

sidoresolvidooproblemadoOrçamento<br />

do Estado deste ano, Governo<br />

e oposição comprometeram<br />

em duas semanas 924 milhões de<br />

euros em despesas adicionais para<br />

2010, assumindo os números<br />

avançados pelo próprio Executivo.<br />

“Muito antes do debate orçamental,<br />

logo na primeira semana<br />

de funcionamento efectivo – e<br />

apenas numa manhã – foram retirados<br />

quase 800 milhões de receita<br />

ao Estado, sem qualquer<br />

compensação”, criticou José Sócrates,<br />

ontem no debate quinzenal<br />

na Assembleia da República.<br />

O primeiro-ministro referia-se<br />

às medidas aprovadas a semana<br />

passada pela oposição: a suspen-<br />

sãodoCódigoContributivo,o<br />

pagamento do IVA a 30 dias, o fim<br />

do Pagamento Especial por Conta<br />

(PEC) e a introdução de juros de<br />

mora quando o Estado se atrasa a<br />

pagar aos seus fornecedores.<br />

Manuela Ferreira Leite respondeu:<br />

“Não temos propostas<br />

deaumentodadespesaeaquebra<br />

de receitas corresponde praticamente<br />

apenas a um adiamento da<br />

entrada de receitas”. A líder do<br />

PSD recordava que o fim do PEC e<br />

o pagamento antecipado de IVA<br />

não implicam menos receita. São<br />

antes medidas que mexem com a<br />

gestão de tesouraria do Estado.<br />

“Também o Governo não espera<br />

pelo debate orçamental para<br />

O mesmo Parlamento<br />

que aprova despesa<br />

adicional para 2010,<br />

multiplica-se em<br />

avisos sobre as contas<br />

do défice. O ministro<br />

das Finanças já<br />

assumiu que o défice<br />

deste ano “não ficará<br />

abaixo de 8%”.<br />

ANÁLISE PARTIDOS MOVIDOS POR VINGANÇA<br />

Oposição quer bloquear Socrates<br />

João Cardoso Rosas<br />

Politólogo<br />

É uma situação estranha e que é<br />

um pouco surpreendente. As expectativas<br />

quando se saiu do processo<br />

eleitoral eram diferentes.<br />

Esperava-se que houvesse negociações<br />

duras no Parlamento – o<br />

chamado conceito de geometria<br />

variável. Acreditava-se que o<br />

Governo teria capacidade para<br />

formar maiorias de geometria<br />

variável para conseguir desbloquear<br />

algumas medidas da oposição<br />

com alianças pontuais, quer<br />

com a esquerda quer com a direita.<br />

Não é isso que está a acontecer.<br />

Passou-se a falar de coligação<br />

negativa. E não é pontualmente.<br />

Parece muito recorrente<br />

para bloquear iniciativas do Go-<br />

verno e impor medidas de iniciativa<br />

legislativa da oposição. É<br />

avassalador o número de projectos-lei<br />

propostos pela oposição. É<br />

um acarnamento legislativo por<br />

parte da oposição, cujo objectivo<br />

é bloquear a acção governativa. A<br />

oposiçãosentequeoGovernoeo<br />

PS estão num momento fraco e<br />

quer aproveitar-se disso para os<br />

enfraquecer ainda mais. E há uma<br />

causa que não é muito nobre, uma<br />

certa ‘révanche’ face ao Governo<br />

anterior. O problema é que os<br />

partidos da oposição não têm alternativa<br />

credível a oferecer. Isto<br />

vai em crescendo, porque o Governo<br />

reage de forma exacerbada.<br />

Gera-se uma dialéctica negativa:<br />

uma Assembleia a querer<br />

governar e Governo bloqueado.<br />

Vamos ver o que se segue. ■<br />

as apresentar”, acrescentou<br />

Aguiar Branco, líder parlamentar<br />

do PSD, acusando o Executivo de<br />

ter “dois pesos e duas medidas”<br />

quando “acabou com as taxas<br />

moderadoras”.<br />

Da responsabilidade do Governo<br />

há que contar com os 30<br />

milhões de euros afectos ao alargamento<br />

da atribuição do subsídiodedesemprego–umamedidaapresentadalogonoprograma<br />

doGoverno–ecomasnovidades<br />

anunciadas ontem como compensação<br />

do aumento do salário<br />

mínimo nacional.<br />

O pagamento de menos um<br />

ponto percentual nas contribuições<br />

das empresas referentes aos<br />

trabalhadores que receberam a remuneração<br />

mínima este ano custará<br />

24 milhões aos cofres do Estado.AextensãodoProgramaQualificação-Emprego<br />

aos sectores têxtil<br />

e vestuário, turismo e fabrico de<br />

mobiliário custará cerca de 50 milhões<br />

de euros, assumindo a afectação<br />

de 20 mil trabalhadores. E<br />

para o programa de modernização<br />

do pequeno comércio serão afectados<br />

mais 20 milhões de euros.<br />

Mas as contas não acabam<br />

aqui. Do lado do Governo falta<br />

ainda saber que medidas implementadas<br />

excepcionalmente este<br />

ano serão revalidadas para 2010,<br />

uma análise que ainda está a ser<br />

feita. Do lado da oposição, há a<br />

forte probabilidade de se impor o<br />

aumento do período de concessão<br />

do subsídio de desemprego,<br />

já que todos os partidos apresentaram<br />

projectos de lei onde admitem<br />

este alargamento, pelo<br />

menos em 2010.<br />

O lado negro das contas<br />

Mas, o mesmo Parlamento que<br />

aprova despesa adicional para<br />

2010, multiplica-se em avisos sobre<br />

as contas do défice. O ministro<br />

das Finanças já assumiu que o<br />

défice orçamental deste ano “não<br />

ficará abaixo de 8%”. A Comissão<br />

Europeia também já avisou que se<br />

nada for feito o buraco das contas<br />

públicas portuguesas vai ficar outra<br />

vez nos 8% em 2010 e em 2011<br />

será ainda maior (8,7%).<br />

Com o objectivo de reduzir o<br />

desequilíbrio para 3% até 2013, os<br />

contribuintes arriscam-se a substituir<br />

rapidamente os sininhos de<br />

Natal por uma melodia menos<br />

agradável. O FMI já sugeriu a possibilidade<br />

de ser necessário aumentar<br />

os impostos – uma “hipótese<br />

teórica” que também já tinha<br />

sido levantada por Vítor Constâncio,<br />

governador do Banco de Portugal.<br />

E na quinta-feira, o presidente<br />

do BCE, Jean-Claude Trichet<br />

juntou-se ao coro de avisos: “Continuamos<br />

a encorajar fortemente<br />

queosGovernoscuidemdassuas<br />

políticas orçamentais e que regressem<br />

muito rapidamente a situações<br />

sustentáveis”. ■ Com M.G.<br />

ANÁLISE APRESENTAÇÃO DE PROPOSTAS<br />

Iniciativas reais e de ficção<br />

António Costa Pinto<br />

Politólogo<br />

Esta tendência dos partidos<br />

para continuarem numa lógica<br />

de apresentar propostas atrás<br />

de propostas tem mais a ver<br />

com a natureza da maioria.<br />

Tem mais a ver com o facto de<br />

termos um Governo minoritário,<br />

com uma alteração da<br />

configuração do Parlamento,<br />

do que com uma questão de<br />

campanha. A curto-prazo vamos<br />

ter que nos habituar a<br />

uma maior iniciativa por parte<br />

dos partidos da oposição. Sobretudo<br />

de dois partidos - BE e<br />

CDS - que precisam de manter<br />

uma iniciativa significativa,<br />

tendo em conta o crescimento<br />

eleitoral que tiveram. Ou seja,<br />

esta postura dos partidos no<br />

Parlamento tem mais a ver<br />

com a nova reconfiguração do<br />

que com um cenário eleitoral.<br />

A tendência será para continuarmos<br />

a assistir a esta apresentação<br />

sistemática de projectos.<br />

Quando o PSD difere<br />

para uma direcção mais estável<br />

pode contribuir para moderar<br />

estas iniciativas. Este<br />

novo quadro exige também<br />

que o Governo, muitas vezes<br />

mais para a opinião do que<br />

para o Parlamento, tenha também<br />

de mostrar uma maior<br />

iniciativa. Vamos ter um maior<br />

conjunto de iniciativas, muitas<br />

delas reais para negociação,<br />

outras que se destinam a<br />

manter a relação entre os partidos<br />

e o seu eleitorado. ■


O que afecta o Orçamento do Estado para 2010<br />

Subsídio<br />

de desemprego<br />

A medida foi anunciada logo no<br />

programa do Governo: o<br />

período de contribuições<br />

necessário para ter direito ao<br />

subsídio de desemprego será<br />

mais curto, facilitando o acesso.<br />

Custa30milhõesdeeurosao<br />

Orçamento de 2010.<br />

30 milhões de euros<br />

Perda de receita em 2010.<br />

Qualificação-Emprego<br />

O Governo aprovou a extensão<br />

do Programa Qualificação-<br />

Emprego aos sectores têxtil e<br />

vestuário, turismo e fabrico de<br />

mobiliário. Vai custar 50<br />

milhões de euros.<br />

Código Contributivo<br />

A oposição decidiu suspender a<br />

aplicação do Código<br />

Contributivo, que deveria entrar<br />

em vigor já em 2010. Esta era<br />

uma reivindicação antiga do<br />

patronato e os partidos da<br />

oposição reclamavam mais<br />

tempo para discutir o diploma.<br />

O Estado deixa de arrecadar 80<br />

milhões de euros.<br />

80 milhões de euros<br />

Receita a menos pela<br />

suspensão no Código<br />

Contributivo.<br />

Juros de mora<br />

O Estado terá de contar com<br />

mais um encargo: de cada vez<br />

que os pagamentos aos<br />

fornecedores ficarem em atraso<br />

o Estado terá de pagar juros de<br />

mora. Foi aplicado o princípio da<br />

reciprocidade.<br />

GOVERNO<br />

OPOSIÇÃO<br />

Pequeno comércio<br />

O programa de modernização do<br />

pequeno comércio será reforçado<br />

com uma dotação adicional<br />

de 20 milhões de euros, como<br />

forma de compensar o aumento<br />

do salário mínimo.<br />

Contribuições sociais<br />

Como compensação, em 2010 a<br />

contribuição das empresas para<br />

a segurança social referente aos<br />

trabalhadores que em 2009<br />

recebiam a retribuição mínima<br />

será um ponto percentual mais<br />

baixa. A medida custa 24<br />

milhões de euros.<br />

24 milhões de euros<br />

Custo da redução temporária<br />

das contribuições.<br />

IVA a 30 dias<br />

Na mesma manhã, os partidos<br />

da oposição decidiram ainda<br />

que o reembolso do IVA às<br />

empresas deverá ser feito em<br />

30 dias. Uma vez mais,<br />

corresponde sobretudo a um<br />

adiantamento de despesa.<br />

FimdoPEC<br />

A oposição também aprovou o<br />

fim do pagamento especial por<br />

conta, um instrumento criado<br />

para combater a fraude e evasão<br />

fiscal. Na teoria, este é apenas<br />

um adiamento da entrada de receita:<br />

ou seja, em vez de serem<br />

pagos à cabeça, os impostos são<br />

liquidados mais tarde.<br />

300 milhões de euros<br />

Impacto do fim do PEC,<br />

segundo o Governo.<br />

TRÊS PERGUNTAS A...<br />

FRANCISCO ASSIS<br />

Líder Parlamentar do PS<br />

“Neste momento<br />

há que sacrificar<br />

um pouco o défice”<br />

O líder da bancada socialista<br />

defende as medidas excepcionais<br />

queoGovernoestáatomare<br />

considera que o rigor orçamental<br />

deve ser sacrificado em nome do<br />

crescimento da economia.<br />

Estas medidas vão onerar<br />

a despesa do Estado. É<br />

aconselhável, nesta altura?<br />

O impacto orçamental dessas<br />

medidas foi devidamente<br />

estudado pelo Governo e não se<br />

afasta da preocupação com o<br />

défice. Mas temos que atender a<br />

uma situação excepcional do país.<br />

O aumento do salário mínimo<br />

significa que não queremos<br />

basear a nossa competitividade<br />

nos baixos salários e em mão de<br />

obra pouco qualificada, mas sim<br />

na inovação, no bom ambiente<br />

nas empresas, a níveis que nos<br />

TRÊS PERGUNTAS A...<br />

MIGUEL FRASQUILHO<br />

Vice-presidente da bancada do PSD<br />

“Prioridade do<br />

Governo em 2010<br />

deve ser a economia”<br />

O deputado do PSD Miguel<br />

Frasquilho olha com desconfiança<br />

para as medidas apresentadas pelo<br />

Governo e acusa-as de serem<br />

pouco eficazes. Para o economista,<br />

a aposta tem que ser no<br />

crescimento da economia e, em<br />

2010, o défice ainda não deve ser<br />

prioridade.<br />

O Governo criticou as medidas<br />

que a oposição aprovou e<br />

diminui as receitas. As<br />

apresentadas pelo Governo não<br />

têm a mesma consequência?<br />

Parece-me evidente e também que<br />

são menos eficazes do que as da<br />

oposição da semana passada. A<br />

descidadataxasocialúnicaem1<br />

ponto percentual para empresas<br />

que empregam trabalhadores com<br />

salário mínimo é de 4,75 euros.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 9<br />

aproximem verdadeiramente da<br />

Europa. As medidas de apoio às<br />

empresas justificam-se, tendo em<br />

consideração, que em<br />

determinados sectores<br />

particularmente expostos à<br />

concorrência internacional, há<br />

necessidade de prestar esse<br />

apoio. São medidas sérias, que<br />

não nos afastam da preocupação<br />

com o rigor orçamental e podem<br />

impulsionar a actividade<br />

económica.<br />

E o défice não deve ser ainda<br />

a prioridade?<br />

Não podemos permitir que o<br />

défice atinja valores<br />

incomportáveis. Mas neste<br />

momento há que sacrificar um<br />

pouco o défice à preocupação de<br />

relançar a actividade económica<br />

dopaís.EoGovernotemfeitoisto<br />

de forma doseada. O risco é se a<br />

Assembleia da República quiser<br />

conduzir a política orçamental de<br />

formaerráticaeincoerente,<br />

aprovando iniciativas diversas de<br />

partidos com visões<br />

contraditórias da economia.<br />

As medidas tomadas pela<br />

oposição e que diminuem as<br />

receitas vêm condicionar os<br />

apoios que o Governo pode<br />

dar?<br />

O impacto orçamental significa<br />

que pode de facto condicionar.<br />

Mas tudo deve ser discutido no<br />

momento certo, que éadiscussão<br />

do Orçamento do Estado. ■ M.G.<br />

Não houve referência ao défice.<br />

Nãodeveseruma<br />

preocupação?<br />

Nem sequer se percebe com o<br />

que é que o Governo está<br />

preocupado. Acho que devia<br />

haver uma preocupação com o<br />

défice, mas não no sentido que o<br />

Governo quer fazer crer. Devia<br />

estar preocupado porque a<br />

despesa corrente não cumpre o<br />

objectivo do PRACE [reforma da<br />

Administração Pública]. Mas a<br />

prioridade do Governo, tanto<br />

este ano como em 2010, deve ser<br />

a economia. Isto aplica-se do<br />

lado da receita e do lado da<br />

despesadeinvestimento.No<br />

entanto, não se deve aplicar às<br />

despesas de funcionamento. Aí,<br />

os objectivos do PRACE falharam<br />

todos em termos financeiros.<br />

Estas medidas, não só da<br />

oposição como do Governo, são<br />

sempre apresentadas como<br />

excepcionais e de curto-prazo,<br />

mas não teremos que vir a<br />

pagá-las no longo prazo?<br />

Se não colocarmos a economia a<br />

crescer, no longo prazo o futuro<br />

do país não será brilhante. Deste<br />

ponto de vista, iremos todos pagar<br />

muito caro quaisquer medidas<br />

que sejam tomadas. A prioridade<br />

tem que ser o crescimento<br />

económico, mas ninguém parece<br />

perceber isso. Continuamos todosalegresecontentesaassobiar<br />

para o lado. ■ M.G.


10 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

ECONOMIA<br />

Dólar sobe, empresas<br />

tremem e famílias<br />

sorriem... no Natal<br />

Numa altura em que cresce o frenesim em torno das compras<br />

do Natal, os consumidores têm no dólar um grande aliado.<br />

Luís Reis Pires<br />

luis.pires@economico.pt<br />

Eles falam, falam, falam, até fazem,<br />

mas não conseguem nada.<br />

Desde os governadores dos bancos<br />

centrais aos líderes políticos<br />

mundiais, já se perdeu a conta à<br />

quantidade de avisos sobre o<br />

perigo que acarreta a actual depreciação<br />

do dólar. O resultado<br />

temsidonuloeamoedanorteamericana<br />

teima em bater mínimos<br />

históricos.<br />

OBancoCentraldaChinaéo<br />

único a agir em vez de falar. Mas<br />

esse mais valia estar quieto – dizem<br />

os norte-americanos, gritam<br />

os europeus – porque só intervém<br />

para manter o iuan desvalorizado,<br />

beneficiando assim<br />

as exportações chinesas. E<br />

quando isso acontece, diz Marco<br />

Annunziata, economista-chefe<br />

do Unicredit e conselheiro da<br />

Comissão Europeia, “as outras<br />

economias asiáticas tendem a<br />

fazer o mesmo, para não perderem<br />

competitividade nas exportações”.<br />

Resultado: a economia<br />

europeia sai prejudicada porque<br />

vê os seus produtos ficarem mais<br />

caros. Mas se a valorização do<br />

euro é uma má notícia para as<br />

empresas europeias exportadoras,<br />

é uma excelente oportunidade<br />

para os consumidores, que<br />

encontram agora uma panóplia<br />

de bens e serviços a preços de<br />

saldo (ver texto ao lado).<br />

As fragilidades reveladas pela<br />

economia dos Estados Unidos<br />

durante a crise levaram os investidores<br />

a travar o assédio à<br />

moeda que outrora consideraram<br />

intocável. E se a opção da<br />

Reserva Federal (Fed) em tornar<br />

o acesso ao dólar praticamente<br />

sem custos (com juros próximos<br />

EURO FACE AO DÓLAR<br />

1,49<br />

A moeda única europeia vale já<br />

quase 1,5 dólares. A divisa norteamericana<br />

continua em queda,<br />

apesar de ter recuperado um<br />

pouco nos últimos dias.<br />

Jean-Claude<br />

Trichet<br />

Governador<br />

do BCE<br />

O governador do BCE já<br />

abordou a questão mais do que<br />

uma vez, mas sempre de forma<br />

muito delicada: “Confio<br />

na sinceridade das autoridades<br />

norte-americanas” [quando<br />

se mostram preocupadas<br />

com a quebra do dólar].<br />

EURO FACE À LIBRA<br />

0,90<br />

A moeda britânica também tem<br />

vindo a perder força e não está<br />

muito longe da paridade. No entanto,<br />

a libra esterlina continua a valer<br />

mais do que a moeda europeia.<br />

de zero) ajudou o sistema financeiro,<br />

prejudicou, por outro<br />

lado, a força da moeda. A desconfiança<br />

face ao dólar agravou-se<br />

ainda mais com os desequilíbrios<br />

nas contas públicas<br />

nooutroladodoAtlântico-o<br />

défice deverá superar os 10% do<br />

PIBesteano.<br />

Tudo somado, o dólar não resistiu<br />

e começou a cair de forma<br />

abrupta face às principais divisas<br />

mundiais, sobretudo o euro e o<br />

iene. A moeda norte-americana<br />

chegou a ser negociada abaixo<br />

dos 50 cêntimos de euro, atingindo<br />

mínimos históricos. Entretanto<br />

já recuperou um pouco<br />

e, neste momento, o dólar vale<br />

cercade0,67cêntimosdeeuros.<br />

Depreciação do dólar<br />

ameaça retoma da Europa<br />

A OCDE avisou recentemente,<br />

no Economic Outlook de Outono,<br />

que caso se mantenha a tendência<br />

da desvalorização do dólar,<br />

a retoma mundial e, sobretudo,<br />

da Europa, pode vir a ser<br />

ameaçada. “Se o dólar cai mais,<br />

aretomaeuropeiaficamuito<br />

ameaçada”, corrobora Marco<br />

Annunziata porque “a recuperação<br />

da Europa está a fazer-se<br />

muito pelo comércio externo”.<br />

Nesse sentido, Portugal até está<br />

um pouco mais protegido, lembra<br />

o economista, porque tem<br />

grande parte dos seus mercados<br />

no Velho Continente. “Mas se a<br />

recuperação das economias europeias<br />

colapsar, as encomendasdaEuropaaPortugalvãode<br />

arrasto”, avisa o economista.<br />

A situação preocupa e, em<br />

Portugal, José Sócrates já se<br />

mostrou apreensivo com o impacto<br />

da queda do dólar nas exportações<br />

portuguesas. ■<br />

EURO FACE AO IUAN<br />

10,13<br />

A China continua a manter<br />

o iuan depreciado por causa das<br />

exportações. E a Europa está a<br />

sofrer com isso: o euro vale já dez<br />

vezes mais que o iuan.


Espanhóis desistem de procurar emprego<br />

O Banco de Espanha destacou ontem, no seu boletim económico de<br />

Novembro, que ao longo deste ano se agravou a passagem de pessoas<br />

para uma situação de inactividade. Pela primeira vez nos últimos anos,<br />

a população activa sofreu uma redução, que se prolonga já por três<br />

trimestres. Segundo a instituição, esta tendência explica-se pelo “efeito<br />

de desânimo” entre os desempregados, que desistem de procurar<br />

emprego.EmPortugal,atendênciaéamesma.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 11<br />

Este Natal, vá às compras na Quinta Avenida!<br />

Oazardeunséasortede<br />

outros. O dólar fraco pode<br />

comprometer as exportações<br />

das empresas, mas também<br />

pode ajudar na poupança das<br />

famílias. O Natal em época de<br />

crise não precisa de ser um<br />

Natal com menos presentes,<br />

basta saber onde comprar.<br />

Neste caso, com a<br />

desvalorização da moeda<br />

norte-americana, a solução é<br />

Uma camisa Hugo Boss custa cerca<br />

de 64 euros (95$). Há um ano, valia<br />

cercade74euros.<br />

Iphone 3GS 32GB<br />

Estados Unidos (Amazon): 201,6 euros<br />

(299$)<br />

Portugal (Fnac): 999 euros<br />

Lost - season 5<br />

Estados Unidos (Amazon): 25 euros<br />

(36,99$)<br />

Portugal (Fnac): 49,99 euros<br />

ir às compras aos Estados<br />

Unidos. E nem é preciso dar<br />

umsaltinhoàterradoTio<br />

Sam, que aí a coisa talvez já<br />

não compense. Basta fazer<br />

usodaInterneteiraum<br />

qualquer site com domínio<br />

“.com”. Produtos<br />

informáticos, telemóveis,<br />

séries e filmes são produtos<br />

que saem muito mais baratos<br />

quando comprados em lojas<br />

Um par de sapatos da Tommy Hilfiger<br />

custa cerca de 54 euros (79,99$). Há<br />

um ano, valia 63 euros.<br />

Playstation 3 120GB<br />

Estados Unidos (Amazon): 202,2 euros<br />

(299,99$)<br />

Portugal (Fnac): 299,99euros<br />

The Beatles stereo box set<br />

Estados Unidos (Amazon): 118,4 euros<br />

175,49$<br />

Portugal (Fnac): 229,95 euros<br />

americanas, não só a custa<br />

da desvalorização da moeda<br />

americana, mas porque, já de<br />

si, são mais baratos no outro<br />

lado do Atlântico. E mesmo<br />

os artigos de vestuários<br />

saem mais baratos quando<br />

comprados nos Estados<br />

Unidos. O dólar tem de subir<br />

para ajudar a economia<br />

nacional. Mas, já agora,<br />

pode ser só em Janeiro?<br />

Um vestido Ralph Lauren para bébé<br />

custa cerca de 30 euros (45$). Há um<br />

ano, custava cerca de 35 euros.<br />

Ipod nano 5ª geração 8GB<br />

Estados Unidos (Amazon): 91 euros<br />

(134,99$)<br />

Portugal (Fnac): 139 euros<br />

Mario Tama/GettyImages<br />

Apple MacBook Pro 13” 2,26GHz<br />

Estados Unidos (Amazon): 1.058 euros<br />

(1,<strong>56</strong>9$)<br />

Portugal (Fnac): 1.149 euros


12 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

ECONOMIA<br />

Fabricantes de sapatos<br />

satisfeitos com reforço<br />

das medidas anti-dumping<br />

Apesar de satisfeitos, os empresários consideram que o prazo de 15 meses é<br />

insuficiente. Daqui a um ano estarão de novo a fazer pressão junto da UE.<br />

Elisabete Felismino<br />

elisabete.felismino@economico.pt<br />

Os empresários do sector do<br />

calçado estão satisfeitos coma<br />

prorrogação por mais 15 meses<br />

das medidas anti-dumping<br />

por parte da Comissão Europeia<br />

para o calçado de couro<br />

oriundo da China e do Vietname.<br />

Os dois países continuam<br />

assim obrigados a pagar taxas<br />

de 16,5% para o calçado chinês<br />

e de 10% para o calçado<br />

vietnamita para entrar no<br />

mercado europeu.<br />

“É bastante positiva para a<br />

indústria portuguesa, sobretudo<br />

num contexto de impasse porque<br />

está a passar a nossa economia”,<br />

diz o presidente do grupo<br />

Kyaia, Fortunato Frederico.<br />

“Obviamente que achamos<br />

que podiam ter ido mais além<br />

naquestãodoprazo,masa<br />

verdade é que assim ganhamos<br />

alguma folga para nos organizarmos<br />

e depois quando o prazo<br />

estiver prestes a terminar<br />

logo vemos o que podemos voltar<br />

a fazer”, acrescentou o<br />

mesmo responsável.<br />

Já Eugénio Faria, da empresa<br />

Jefar, uma das maiores do<br />

sector, considera que “esta é<br />

uma boa medida e uma boa<br />

notícia para o sector, uma vez<br />

que acaba por beneficiar a indústria<br />

de calçado portuguesa”,<br />

que concorre com a chinesa<br />

e vietnamita.<br />

Mas a satisfação por parte<br />

dos empresários do calçado<br />

não é total, uma vez que consideramqueaComissãodeviae<br />

podia ter ido mais além na<br />

TRÊS PERGUNTAS A...<br />

ALFREDO JORGE<br />

Director Executivo da Associação<br />

do Calçado<br />

“O calçado da China e<br />

Vietnam chegam com<br />

um preço artificial”<br />

Que impacto tem a<br />

prorrogação das medidas<br />

anti-dumping para o sector<br />

em Portugal?<br />

O impacto é significativo porque<br />

questão do prazo uma vez que o<br />

limite legal para este tipo de<br />

medidas é de cinco anos. Mais.<br />

Os empresários invocam que<br />

daquiaumanoestarãodenovo<br />

a argumentar junto da Comissão<br />

Europeia por novo prolongamento<br />

de prazo.<br />

A Apiccaps,<br />

associação do sector,<br />

acredita que o prazo<br />

de alargamento de 15<br />

meses resultou<br />

de uma solução<br />

de compromisso<br />

entre os produtores<br />

de calçado, onde está<br />

Portugal,<br />

e os importadores,<br />

onde estão os países<br />

nórdicos.<br />

as importações de calçado da<br />

China e do Vietname chegam à<br />

Europacomumpreço<br />

artificialmente baixo. Ou seja, há<br />

aqui uma distorção da<br />

concorrência. Mas esta medida é<br />

sobretudo o reconhecimento da<br />

sã concorrência e do comércio<br />

justo. Porém, consideramos que<br />

15 meses é um período<br />

insuficiente, e nem se percebe<br />

porque em situações semelhantes<br />

sempre foram adoptados os cinco<br />

anos máximos permitidos por lei.<br />

Porque considera que<br />

No fundo, os empresários<br />

viram satisfeitas as suas reivindicações<br />

com a comissão a reconhecer<br />

por um lado a prática<br />

de dumping e, por outro, que<br />

essa prática implica prejuízo<br />

para os produtores europeus.<br />

Alfredo Jorge, director executivo<br />

da Associação de Calçado é<br />

peremptório sobre esta matéria:<br />

“Estas medidas que tudo<br />

indica entram em vigor a 2 de<br />

Janeiro de 2010 vão vigorar até<br />

Março ou Abril de 2011, o que<br />

quer dizer que em Dezembro<br />

do próximo ano andaremos<br />

mais uma vez a ouvir as partes<br />

interessadas no sentido de voltar<br />

a argumentar junto da Comissão<br />

Europeia”.<br />

E o director executivo da<br />

Apiccaps acrescenta: “Penso<br />

que não se foi mais além porque<br />

é digamos que um compromisso<br />

entre os produtores de calçado<br />

[Portugal, Espanha, Itália,<br />

França] e os importadores<br />

[os países nórdicos]”.<br />

Resposta chinesa<br />

Da parte do governo chinês a<br />

resposta não se fez esperar. Segundo<br />

a imprensa daquele país,<br />

quer os grupos comerciais,<br />

quer o governo chinês estão insatisfeitos<br />

com a proposta da<br />

Comissão Europeia em prolongar<br />

o prazo das medidas antidumpingsobreossapatosde<br />

courodaChinaedoVietname<br />

por mais 15 meses. Um representante<br />

do governo chinês<br />

chega mesmo a adiantar que se<br />

for aprovada esta medida prejudica<br />

os interesses mútuos da<br />

ChinaedaUE.■<br />

15 meses é um prazo<br />

insuficiente?<br />

Considero que 15 meses é<br />

insuficiente na medida em que<br />

não acredito que findo esse<br />

período a China e o Vietname<br />

reveja a sua posição face aos<br />

preços. Repare que os preços<br />

na Europa não aumentaram o<br />

que aconteceu foi que as<br />

margens dos produtores foram<br />

diminuindo pelo que o preço<br />

não se reflectiu no consumidor<br />

final.<br />

Quanto às categorias<br />

abrangidas pensa que estas<br />

CALENDÁRIO<br />

17 de Dezembro<br />

Depois da proposta da Comissão<br />

Europeia, será a vez do comité<br />

dos representantes permanentes<br />

debater o prolongamento das<br />

medidas anti-dumping para a<br />

China e Vietname.<br />

22 de Dezembro<br />

O Conselho Europeu reúne para<br />

deliberar definitivamente, e tudo<br />

leva a crer que aprove, a<br />

recomendação da Comissão<br />

Europeia.<br />

2 de Janeiro<br />

Caso não surjam nas duas datas<br />

anteriores nenhuns entraves, é<br />

esta a altura da publicação da<br />

decisão final dos estados<br />

membros.<br />

deveriam ser alargadas?<br />

Para Portugal as categorias<br />

abrangidas são suficientes, uma<br />

vez que representam entre 65%<br />

a 80% do calçado português.<br />

Numa primeira fase não se<br />

tinha incluído o calçado de<br />

criança, mas numa fase<br />

posterior optou-se por<br />

introduzir também esse<br />

segmento e incluiu-se também<br />

o território de Macau, pois<br />

verificava-se que havia um<br />

grande fluxo oriundo da China e<br />

do Vietname que passava via<br />

Macau. ■<br />

O calçado que chega à Europa<br />

vindo da China e do Vietnam é<br />

vendido ao preço abaixo do custo.<br />

As medidas anti-dumping tentam<br />

esbater estas diferenças.


Jason Lee/Reuters<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 13<br />

Calçado português<br />

custa o dobro<br />

do asiático<br />

O sector do calçado respira<br />

de alívio com as medidas antidumping.<br />

Elisabete Felismino<br />

elisabete.felismino@economico.pt<br />

A Comissão Europeia, depois de<br />

ter comprovado que as empresas<br />

vietnamitas e chinesas exportavam<br />

para a Europa a preços mais<br />

baixos do que o preço de custo,<br />

decidiu impor taxas de 10% e<br />

16,5% respectivamente sobre os<br />

produtos provenientes dessas<br />

países. Esta medida de protecção<br />

foi adoptada em 2006 e agora, três<br />

anos depois, a Comissão Europeia<br />

reconhece de novo as práticas de<br />

dumping por estes dois países.<br />

A situação é tanto mais preocupante<br />

na medida em que as importações<br />

chinesas aumentaram<br />

99,86% em quantidade para os<br />

1.763 milhões de pares de sapatos,<br />

e 96,47% em valor para os 5.789<br />

milhões de euros. Já no que toca<br />

ao Vietname, as exportações daquele<br />

país cresceram 74% para os<br />

2,054 milhões de pares e <strong>56</strong>%<br />

para os 8 mil milhões de euros. No<br />

calçado de couro, o aumento foi<br />

ainda mais significativo, tendo a<br />

China exportado 1.759 milhões de<br />

euros correspondentes 182 milhões<br />

de pares. Já o Vietname exportou<br />

288 milhões de pares no<br />

valor de 2.836 milhões de euros.<br />

O Vietname colocava na Europa<br />

calçado a um preço médio de<br />

9,85 euros, enquanto que o produto<br />

oriundo da China era colocado<br />

no mercado a um preço médio<br />

de 9,63 euros. A situação é<br />

tanto mais preocupante na medida<br />

em que o calçado português é<br />

colocado no mercado a um preço<br />

médio de 19,99 euros, ou seja,<br />

mais do dobro do que o oriundo<br />

dos mercados asiáticos. Em causa<br />

está pois um sector que tem 1.381<br />

empresasedáempregoapertode<br />

36 mil pessoas, sendo ainda responsável<br />

por 1,3 mil milhões de<br />

euros nas exportações.<br />

O sector do calçado tem estado<br />

debaixo dos holofotes, com<br />

a situação periclitante de duas<br />

importantes empresas do sector,<br />

como são a Investvar e a<br />

Rhode. As duas empresas que já<br />

foram consideradas as maiores<br />

do sector estão a braços com<br />

uma importante crise, estando<br />

mesmo a um passo de poderem<br />

fechar portas e deixar no desemprego<br />

mais de 1.600 trabalhadores.<br />

■<br />

Os sapatos que<br />

chegam da China<br />

e do Vietname pagam<br />

taxas por praticarem<br />

preços abaixo<br />

do custo.<br />

EXPORTAÇÕES<br />

1,3 mil milhões<br />

O sector do calçado é responsável<br />

por 1,3 mil milhões de euros,<br />

correspondentes a 64,7 milhões<br />

de sapatos.<br />

Nº EMPRESAS<br />

1.381<br />

O sector tinha 1.448 empresa em<br />

2006. Em 2008, o número de<br />

empresas decresceu para 1381.<br />

EMPREGO<br />

35.767<br />

Osectorteveoseuaugeem<br />

número de empregados em 2004<br />

quando atingiu os 40.255. Quatro<br />

anos depois registava menos<br />

4.488 empregos.<br />

PRODUÇÃO<br />

1,4 mil milhões<br />

A indústria produz 67,689<br />

milhões de pares de sapatos,<br />

responsáveis por um valor de 1,4<br />

milhões de euros.


14 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

ECONOMIA<br />

CRONOLOGIA DA CIMEIRA<br />

Dia 7<br />

Arranca a Conferência do Clima em Copenhaga<br />

(COP15) onde líderes de 191 países<br />

se vão reunir ao largo de duas semanas<br />

para assumir compromissos futuros até<br />

2020 e 2050, que impeçam a temperatura<br />

global de superar dois graus.<br />

Crise económica atenua custos<br />

na resposta ao aquecimento global<br />

Luís Rego, em Bruxelas<br />

luis.rego@economico.pt<br />

A crise financeira<br />

acabou por ter<br />

um efeito positivo<br />

na diminuição<br />

doscustosassociados<br />

ao cumprimento<br />

das promessas<br />

de redução de emissões de<br />

CO2 que os líderes mundiais vão<br />

colocar na mesa de negociações<br />

entre7e19deDezembro,na<br />

Conferência do Clima em Copenhaga,<br />

Dinamarca. Segundo cálculos<br />

feitos pela Agência de Avaliação<br />

Ambiental (AAA) holandesa,<br />

elevar o grau de ambição<br />

nas metas de combate ao aquecimento<br />

global ficará 70% menos<br />

caro agora do que desde o início<br />

da crise, embora a Comissão Europeia<br />

fale de melhorias “pouco<br />

significativas”.<br />

“O total de redução de custos<br />

associados a elevar as propostas<br />

para os níveis mais ambiciosos<br />

[como passar de 20% para 30%<br />

● Objectivos de redução<br />

de emissões para os países<br />

industrializados até 2020<br />

e 2050;<br />

● Acções concretas dos países<br />

emergentes para rever o perfil de<br />

crescimento das suas emissões;<br />

● Quadro de financiamento<br />

aospaísesemviasde<br />

desenvolvimento para adaptar<br />

a sua produção à luta climática;<br />

● Definir forma jurídica do<br />

acordo: uma revisão do Protocolo<br />

de Quioto, como quer a China,<br />

ou um novo protocolo, como<br />

quer a UE.<br />

até2020nocasodaUE]nospaíses<br />

desenvolvidos é de 70% em<br />

consequência da crise financeira”,<br />

nota a AAA.<br />

No inicio da crise, muitos foram<br />

os líderes que moderaram a<br />

sua ambição nas metas de mitigação,<br />

dando prioridade ao combate<br />

à recessão. Agora, tendo em<br />

conta que essa crise, entre 2007 e<br />

2009, fez recuar a produção, arrastando<br />

os níveis de poluição e<br />

reduzindo a base para os anos seguintes,<br />

a tarefa ficou mais fácil.<br />

Ou menos difícil, nota o FMI num<br />

relatório divulgado ontem.<br />

“A crise económica não altera<br />

o desafio climático ou a resposta<br />

adequada. Mesmo uma recessão<br />

séria, com efeitos de recuo prolongados<br />

na produção, tem implicações<br />

limitadas para os objectivos<br />

apropriados de mitigação”,<br />

notam Benjamin Jones e<br />

Michael Keen do FMI, ponderando<br />

os efeitos orçamentais directos<br />

com as eventuais receitas futuras<br />

com a reanimação do mercado<br />

de carbono.<br />

Neste momento, na véspera<br />

das negociações de Copenhaga,<br />

os blocos mais ambiciosos em<br />

termos de mitigação são, além da<br />

UE, o Japão (-25%), a Noruega (-<br />

40%),aRússia(-25%)eaUcrânia<br />

(20%). Os mais renitentes são<br />

a China, que fala apenas em redução<br />

de 45% na intensidade de<br />

CO2 por unidade de PIB pc, o que<br />

pode não implicar uma quebra<br />

efectiva de emissões, e os EUA<br />

que não vão além de uma redução<br />

de 3% de emissões face a 1990.<br />

Se à crise somarmos os efeitos<br />

dos níveis de preços muitos elevados<br />

do petróleo no Verão de 2008,<br />

oaumentoanualdeemissõesglobais<br />

de CO2 oriundos da produção<br />

de petróleo, carvão, gás e cimento<br />

caiu para metade. As emissões<br />

destes sectores mais poluentes<br />

aumentaram em 1,7% em 2008,<br />

contra 3,3% em 2007. Além disso,<br />

o uso crescente de renováveis,<br />

como bio-combustíveis para<br />

transporte rodoviário, energia<br />

eólica teve um impacto na mitigação<br />

das emissões, nota a AAA. ■<br />

Francois Lenoir/Reuters<br />

Nos pólos do planeta são<br />

bem visíveis os efeitos<br />

do aquecimento global.<br />

Tarefa dos países tornou-se menos exigente com a quebra da produção e níveis da poluição associada.<br />

PONTOS FORTES<br />

Dia 9<br />

Barack Obama, o presidente do país rico<br />

mais poluente do mundo, chega à cimeira<br />

para dar o seu aval político à luta contra o<br />

aquecimento global, depois dos EUA nunca<br />

terem ratificado Quioto. Mas não está<br />

disposto a oferecer esforços imediatos.<br />

Dia 12<br />

Grande manifestação organizada por<br />

grupos violentos nas ruas de Copenhaga<br />

que promete fazer estragos e lançar a<br />

cidade no caos. As ONG terão os seus<br />

eventos pacíficos nos arredores do Bella<br />

center onde se realiza a COP15.<br />

Dia 18<br />

Está previsto ser o último dia da COP15,<br />

onde se anunciaria que o planeta está<br />

salvo. Mas não há diplomata que<br />

acredite nisso: as negociações devem<br />

arrastar-se para sábado e os detalhes do<br />

acordo ficam adiados 6 a 12 meses.<br />

Portugal pode ter<br />

de reduzir emissões<br />

Elevar o grau de ambição no corte de<br />

emissões de CO2 entre 1990 e 2020<br />

dos actuais 20% para 30% deve implicar<br />

que Portugal corte em termos<br />

absolutos a sua fatia de poluição emitida<br />

há duas décadas atrás. Neste<br />

momento, a redução de 20% a nível<br />

europeu ainda permite a Portugal subir<br />

o nível de emissões em 1% até<br />

2020 face ao registado em 1990. Porém,<br />

com maior ambição, a actual<br />

grelha de repartição terá de ser negociada<br />

entre os 27. Isso pode ser discutido<br />

na cimeira de líderes que decorre<br />

em Bruxelas no final da próxima<br />

semana mas ninguém espera um<br />

acordo. Em Copenhaga, Portugal tem<br />

objectivos mas não vai lá negociar directamente<br />

a sua posição nacional<br />

na mesa de trabalhos. A sua posição<br />

está definida e fechada no acordo obtido<br />

ao nível dos 27 e a negociação<br />

fica a cargo da presidência sueca e<br />

da Comissão Europeia.


16 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

ECONOMIA A SEMANA<br />

Agenda 05.12 > 11.12<br />

> 07.12<br />

Audição de Jean-Claude Trichet<br />

no Parlamento Europeu<br />

Realiza-se segunda-feira, em Bruxelas, a quarta<br />

audição de 2009 do presidente do Banco Central<br />

Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, na Comissão<br />

de Assuntos <strong>Económico</strong>s e Financeiros<br />

do Parlamento Europeu.<br />

> 09.12<br />

INE divulga contas nacionais<br />

do terceiro trimestre<br />

Está prevista para quarta-feira a divulgação, pelo<br />

Instituto Nacional de Estatística (INE) das contas<br />

nacionais trimestrais (dados do terceiro trimestre<br />

de 2009). O INE tem ainda prevista a divulgação<br />

das estatísticas do comércio internacional e índice<br />

de novas encomendas na indústria.<br />

COTEC organiza encontro<br />

PME Inovação no Estoril<br />

A COTEC organiza o terceiro Encontro PME Inovação<br />

no Centro de Congressos do Estoril, desta vez<br />

subordinado ao tema “Gestão Colaborativa<br />

da Inovação”. Entre os presentes estarão Alexandre<br />

Soares dos Santos (Jerónimo Martins), António<br />

Mexia (EDP), Carlos Melo Ribeiro (COTEC) e Rogério<br />

Carapuça (Novabase). O presidente da República,<br />

Cavaco Silva, encerra o encontro.<br />

> 10.12<br />

Conhecido boletim mensal<br />

do BCE de Novembro<br />

Para quinta-feira está agendada a divulgação,<br />

em Frankfurt, Alemanha, do Boletim Mensal<br />

de Novembro do Banco Central Europeu (BCE).<br />

INE divulga custos de<br />

construção de habitação nova<br />

Osíndicesdecustosdeconstruçãodehabitação<br />

nova e de preços de manutenção e reparação regular<br />

da habitação referentes a Outubro são dados<br />

a conhecer pelo Instituto Nacional de Estatística<br />

(INE).<br />

> 11.12<br />

OCDE dá a conhecer<br />

indicador compósito avançado<br />

Na sexta-feira, a OCDE divulga, em Paris, o indicador<br />

compósito avançado. A organização anuncia<br />

a avaliação da situação económica eaantecipação<br />

da evolução, nos diferentes países membros.<br />

Serão divulgados os pontos de viragem,<br />

nas principais economias mundiais.<br />

Eurostat publica balança de<br />

pagamentos da União Europeia<br />

O gabinete de estatísticas da União Europeia<br />

(Eurostat) tem prevista a divulgação para sexta-feira<br />

da balança de pagamentos, referente ao terceiro<br />

trimestre de 2009.<br />

RECORDE NO DESEMPREGO LEVA OPOSIÇÃO A EXIGIR MAIS APOIOS<br />

O desemprego em Portugal voltou a atingir novo recorde, fixando-se nos 10,2%.<br />

Os dados, que são mais uma dor de cabeça para o ministro da Economia, Vieira<br />

da Silva, provocaram críticas da oposição, que exige o aumento dos apoios sociais.<br />

OFACTO<br />

PREVISÕES DO BCE<br />

Esta semana, Jean-Claude Trichet deu o pontapé<br />

de saída para a retirada dos apoios à liquidez<br />

do sistema bancário. O presidente do Banco Central<br />

Europeu (BCE) já não coloca agora a hipótese<br />

de uma contracção da economia no próximo ano,<br />

mas sublinha que a recuperação será “irregular”<br />

em 2010. A fragilidade do crescimento económico<br />

recomenda cautela: as medidas serão retiradas<br />

“gradualmente” e os juros mantiveram-se, para já,<br />

inalterados em 1%.<br />

Paulo Alexandre Coelho<br />

AFIGURA<br />

STRAUSS-KAHN<br />

Presidente do FMI<br />

O Governo vai ter de actuar rapidamente para fazer<br />

o défice – que, este ano, situar-se-á acima dos 8% –<br />

descer abaixo dos 3% em 2013. Esta semana,<br />

o relatório do FMI não trouxe boas notícias para<br />

Portugal, prevendo um crescimento menor do que a<br />

média europeia e sugerindo uma subida de impostos<br />

e contenção salarial no Estado. O agravamento do<br />

défice é justificado pelo orçamento rectificativo, que<br />

o ministro apresentou esta semana no Parlamento,<br />

sem acrescentar informação adicional.


18 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

DESTAQUE PROJECTO ‘COOL CITY HUNT’<br />

Enganar<br />

a solidão<br />

de forma fixe<br />

Pode-se estar sozinho no meio<br />

de uma multidão.<br />

Carlos Caldeira<br />

carlos.caldeira@economico.pt<br />

Não há felicidade solitária, mas para quem está sozinho,<br />

sem que seja essa a sua vontade, em casa,<br />

uma boa solução pode ser a moderna almofada que<br />

simula um abraço de alguém que está a dormir<br />

connosco. E mesmo para quem está naqueles dias<br />

em que não quer ver ou ouvir ninguém, talvez seja<br />

esta almofada a melhor companhia.<br />

No entanto, há que não esquecer que a referida<br />

almofada tem um preço. É caso para dizer: Tudo se<br />

paga. Conta só contigo.<br />

Mas, de se trata esta almofada ‘cool’? É apontada<br />

como uma forma inovadora de fazer companhia<br />

àqueles que estão mais sozinhos e que no sofá ou na<br />

cama se querem sentir aconchegados. Enfim, uma<br />

ilusão aconchegante.<br />

No ‘ranking’ das ideias mais ‘cool’ de hoje temos<br />

também o portal www.netgranny.ch, onde se pode<br />

“escolher” uma avó para adoptar, que nos permite<br />

falar com ela e pedir-lhe para nos fazer meias, luvas<br />

ou cachecóis de ‘tricot’. Esta é uma afirmação<br />

de um segmento aparentemente afastado das novas<br />

tecnologias de forma inovadora e emocionalmente<br />

envolvente. Apesar de o adoptante receber vários<br />

bens da avó escolhida, é uma forma de interagir<br />

com quem se sente verdadeiramente sozinho – pois<br />

as avós que se dispõem a aparecer neste portal fazem-no<br />

por vontade própria. Uma forma moderna<br />

e interessante de ultrapassar muitos dos problemas<br />

afectivos por que passam as pessoas ao atingirem a<br />

terceira idade.<br />

Sejamos solidários, de forma ‘cool’,<br />

e ajudemos a acabar com a solidão<br />

daqueles que não a querem.<br />

Realce-se, ainda mais na época Natalícia que estamos<br />

a viver, que a solidão é aquele sentimento de<br />

vazio e de isolamento, de falta de companhia. Mas,<br />

passar por uma fase de solidão não implica estar-se<br />

sozinho. Podemos sentirmo-nos solitários no meio<br />

de multidões.<br />

Nesta época de natal, sejamos verdadeiramente<br />

solidários, de forma ‘cool’, e ajudemos a acabar<br />

com a solidão daqueles que não a querem. ■<br />

Lisboa no roteiro ‘cool’<br />

Lisboa continua a ser uma cidade de braços abertos ao<br />

Tejo, cidade de muitas caras, de muitos povos, de muitas<br />

heranças, de muitas vidas. Lisboa é indivisível, una<br />

na multiplicidade, onde se encontram emigrantes,<br />

imigrantes e, com sorte, alguns “alfacinhas de gema”.<br />

Lisboa é ecléctica por herança e sedutora por vocação.<br />

Lisboa é de luz e sombra. Lisboa é uma janela aberta<br />

para o futuro a dar para um pátio onde ecoam os passos<br />

de séculos de história. Daí que o <strong>Económico</strong> <strong>Weekend</strong><br />

e a Ayr tenham lançado o Lisbon ‘Cool City Hunt’.<br />

Porque Lisboa é considerada uma cidade emergente<br />

no seio do ‘Cool Hunting’ mundial.<br />

Conheça o projecto “Cool City Hunters”<br />

em www.ayr-consulting.com<br />

e scienceofthetime.com<br />

??? 5º<br />

Simon Dawson/Bloomberg<br />

1º<br />

3º<br />


PONTOS-CHAVE<br />

A almofada ‘cool’?<br />

é apontada como uma<br />

forma inovadora de fazer<br />

companhia àqueles que estão<br />

mais sozinhos e que se querem<br />

sentir aconchegados.<br />

DR<br />

DR<br />

4º<br />

No Mhghghk ‘ranking’ df das df gdjkfhg ideias<br />

mais sdfhglkhsdlfjgh ‘cool’ de hoje sdjfgh temos<br />

também sjdfh g hsdfkjgh um portal onde se<br />

pode ksdfjgsjdfhkgjh “escolher” sdfjkgh uma avóksjdfh para<br />

adoptar, gkj shdfkjgh que nos sdjkfhgk permite jsdhfkgjh falar<br />

com skdfjg elasdfg. e pedir-lhe ajuda.<br />

Realce-se, Mhghghk df ainda df gdjkfhg mais<br />

sdfhglkhsdlfjgh na época Natalícia sdjfgh<br />

sjdfh que estamos g hsdfkjgh a viver, que<br />

ksdfjgsjdfhkgjh a solidão é aquele sdfjkgh sentimento ksjdfh<br />

gkj de vazio shdfkjgh e desdjkfhgk isolamento,<br />

jsdhfkgjh de falta deskdfjg companhia. sdfg.<br />

DR<br />

DR<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 19<br />

CINCO IDEIAS ‘COOL’ PELO MUNDO<br />

1º<br />

Aluvadospais<br />

OQUEÉ: Uma luva dupla que permite ao mesmo tempo<br />

a colocação de duas mãos – a do pai ou mãe e do filho<br />

ou filha.<br />

INTERPRETAÇÃO: Uma forma diferente de nos dias de frio<br />

conseguir levar pela mão uma criança sem a perder ou<br />

largar uma vez que a luva é una e junta as duas mãos.<br />

‘COOL’ HUNTERS: Science of the Time<br />

2º<br />

A almofada da solidão<br />

OQUEÉ: Uma almofada que simula um abraço<br />

de alguém que está a dormir connosco.<br />

INTERPRETAÇÃO: Uma forma inovadora de fazer<br />

companhia àqueles que estão mais sozinhos e que<br />

no sofá ou na cama se querem sentir aconchegados.<br />

3º<br />

Adoptar uma avó<br />

OQUEÉ: •Um portal onde (netgranny.ch) se pode “escolher”<br />

uma avó para adoptar que nos permite falar com<br />

ela e pedir-lhe para nos fazer meias, luvas ou cachecóis<br />

de tricot.<br />

INTERPRETAÇÃO: É uma afirmação de um segmento aparentemente<br />

afastado das novas tecnologias de forma<br />

inovadora e emocionalmente envolvente. É a possibilidade<br />

de gerar interacção para além do óbvio e do normal. É<br />

a prova de que o mundo virtual também tem espaço para<br />

algo que era apenas do mundo real e local.<br />

4º<br />

Alimentos reciclados para pássaros<br />

OQUEÉ: Um aplicador que permite aproveitar as migalhas<br />

resultantes do cortar o pão e que permite através<br />

de um tubo fazer chegar essas migalhas a um reservatório<br />

igual aos que existem nas gaiolas dos periquitos.<br />

INTERPRETAÇÃO: É uma forma divertida e inovadora de<br />

aproveitamento e reciclagem de sobras de pão sendo<br />

ainda um factor de interesse e diversão ao utilizar.<br />

5º<br />

Nokia Flagship Stores<br />

OQUEÉ: A Nokia abriu 25 lojas para explicar aos seus<br />

clientes como tirar mais partidos dos telemóveis que<br />

têm, sem terem de comprar outro. Sabendo que<br />

as pessoas só utilizam em média 35% da capacidade to<br />

telemóvel a Nokia abriu lojas que não vendem<br />

telemóveis. Apenas ajudam os clientes a explorarem<br />

melhor os telemóveis que já têm.<br />

INTERPRETAÇÃO: Numa altura de crise onde as compras<br />

são mais pensadas e reflectidas a Nokia encontrou uma<br />

forma de manter uma relação de proximidade com os<br />

seus clientes através da prestação de um serviço pedagógico<br />

na optimização da utilização das capacidades do<br />

telemóvel. Indirectamente a Nokia está a preparar o terreno<br />

para que cada cliente ao se sentir mais confortável<br />

com as potencialidades do seu actual telemóvel queira<br />

fazer o upgrade para o telemóvel seguinte mais<br />

avançado. É uma forma de venda indirecta sem adoptar<br />

a tradicional abordagem da persuasão.


20 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

DESTAQUE1 DESTAQUE PROJECTO ‘COOL CITY HUNT’<br />

LISBOA ‘COOL’ NA CRISE<br />

13º<br />

Museu para a Vida<br />

no Rio de janeiro<br />

O novo Museu da Imagem e do Som<br />

no Rio de Janeiro será inaugurado<br />

em 2012, bem na Praia de Copacabana.<br />

Mas não é a localização privilegiada<br />

ou a beleza das suas linhas que<br />

vão fazê-lo mais um marco da cidade,<br />

mas sim a ideia brilhantemente simples<br />

que norteou o trabalho dos arquitectos<br />

Elizabeth Diller e Ricardo Scofidio.<br />

Os cariocas adoram os seus passeios<br />

à beira da praia, e transformaram<br />

isso numa verdadeira arte. E que<br />

melhor maneira, então de não somente<br />

prestar tributo a esta “arte” e,<br />

ao mesmo tempo, atrair visitantes do<br />

que fazer com que o “calçadão” da<br />

praiadeCopacabanafosseaprincipal<br />

via de acesso ao Museu? Mais ainda, o<br />

projecto permite a quem está no interior<br />

ter uma visão total da praia e<br />

vice-versa, o que faz com que a experiência<br />

seja sempre agradável, perfeitamente<br />

inserida no quotidiano carioca<br />

e convide a muitas mais visitas. É<br />

‘cool’ porque é forma e função a trabalharem<br />

em perfeita harmonia, além<br />

de ser um tributo a um dos hábitos<br />

mais arreigados, relaxantes e saudáveis<br />

da vida carioca e que lhe dá uma<br />

dimensão e relevância únicas.<br />

14º<br />

Vasos de flores<br />

em cortiça<br />

O ‘Home Project’ é um estúdio de<br />

‘design’ germano-português que<br />

acaba de lançar um conjunto de<br />

vasos de flores feitos de cortiça.<br />

Produzidos em Portugal a partir de<br />

cortiça reciclada e 100% natural,<br />

pesam uma fracção dos vasos<br />

tradicionais de cerâmica, são antisépticos<br />

e, já que não riscam as<br />

superfícies sobre as quais são<br />

colocados, protegem também o<br />

ambiente caseiro. E são decorativos<br />

na sua simplicidade. São ‘cool’<br />

porque são muito bonitos, claro.<br />

Mas são, principalmente, mais uma<br />

das milhares de formas de utilizar a<br />

cortiça – de extrema importância<br />

económica e ecológica para<br />

Portugal e o mundo – de maneira<br />

criativa, agradável e que ajuda<br />

ainda mais aproteger o ambiente.<br />

Dentroeforadecasa.<br />

15º<br />

Bolos de anos com<br />

marcas do coração<br />

Bolos de aniversário que são<br />

decorados com os logos das marcas<br />

preferidas do aniversariante e que<br />

permitem aumentar a visibilidade<br />

emocional destas. Qualquer uma<br />

das marcas são marcas que, de<br />

uma forma inteligente, trabalham o<br />

lado emocional dos consumidores,<br />

abrindo uma janela na sua mente<br />

num momento importante como o<br />

aniversário.É uma forma inovadora<br />

de envolvimento e que sai fora do<br />

padrão normal de comunicação das<br />

marcas. É divertido e perfeitamente<br />

adaptável a qualquer idade dando<br />

de novo força ao bolo de anos que<br />

deixa de ser algo apenas<br />

direccionado para os mais jovens.<br />

13º<br />

15º<br />

14º<br />

DR DR<br />

DR<br />

DR


22 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

POLÍTICA<br />

Há 37 dias que a justiça<br />

é a principal arma<br />

de arremesso político<br />

O PSD continua a exigir que Sócrates fale sobre a suspeita de “espionagem política”<br />

na Face Oculta. O primeiro-ministro acusa Ferreira Leite de “coscuvilhice” política.<br />

Catarina Madeira<br />

eSusanaRepresas<br />

catarina.madeira@economico.pt<br />

Há muito que a justiça entrou no<br />

debate político, mas nas últimas<br />

três semanas passou a ser o tema<br />

central da troca de acusações entre<br />

os partidos. Manuela Ferreira<br />

Leite, foi a primeira a levar estas<br />

questões para a Assembleia da<br />

República. Em causa estava o caso<br />

Face Oculta e as escutas telefónicas<br />

entre Armando Vara (arguido)<br />

e José Sócrates. A líder do PSD pediu<br />

justificações ao primeiro-ministro<br />

em pleno plenário e, desde<br />

aí, a justiça parece ter entrado<br />

para ficar no debate político, com<br />

a discussão a subir de tom.<br />

Ontem, no primeiro debate<br />

quinzenal da legislatura, assistiuse<br />

a um dos momentos mais tensos<br />

desta cronologia (ver infografia).<br />

Ferreira Leite acusou o ministro<br />

da Economiaeovice-presidente<br />

da bancada socialista de<br />

fazerem um ataque “indigno” à<br />

justiça, quando falaram de “espionagem<br />

política”, e um “ataque<br />

baixo” quando insinuaram que a<br />

líder do PSD teria tido acesso às<br />

escutas antes das eleições legislativas.<br />

“Ou o senhor hoje diz se<br />

subscreve ou não [as declarações<br />

de Vieira da Silva e de Ricardo Rodrigues],<br />

ou dir-lhe-ei que nem<br />

sequer tem consciência da importância<br />

do lugar que desempenha<br />

neste país”.<br />

O líder do Bloco de Esquerda<br />

também quis pressionar uma posição<br />

de Sócrates: “Houve uma<br />

acusação feita por dois ministros,<br />

um está sentado ao seu lado. Uma<br />

acusação política a um juiz de<br />

Aveiro e a magistrados do Ministério<br />

Público que terão conduzido<br />

espionagem política contra si.<br />

Quero saber se se mexe um milímetroousómandaatoardas”,atirou<br />

Francisco Louçã. Em resposta,<br />

o primeiro-ministro recusou usar<br />

a mesma expressão, optando por<br />

afirmar que “o que houve foi violação<br />

do segredo de Justiça”.<br />

Opontoaquechegouesta<br />

crispação levou a que os actores<br />

do sistema judicial sentissem necessidade<br />

de intervir, numa con-<br />

Vera Jardim<br />

Deputado do PS<br />

Vera Jardim considera que a<br />

situação da justiça “só se<br />

agrava” ao “misturar política<br />

com justiça”. Algo que,<br />

segundo o deputado socialista,<br />

“deve ser evitado a todo o<br />

custo”. Mas, perante as<br />

acusações da oposição, o PS<br />

faz ”bem em responder”.<br />

José Miguel<br />

Júdice<br />

Ex-bastonário dos<br />

advogados<br />

José Miguel Júdice, aponta<br />

o dedo aos políticos, jornalistas<br />

e operadores da justiça, que<br />

considera responsáveis por<br />

este cenário. “Toda a gente<br />

está a abusar da justiça. Isto<br />

é de uma gravidade extrema,<br />

é devastador para um país<br />

com sentido de Estado”.<br />

Medina Carreira<br />

Ex-ministro das<br />

Finanças<br />

“É tudo uma vergonha.<br />

Enquanto se perde tempo com<br />

isso, não se trata do que é<br />

essencial”, defende o exministro<br />

das Finanças de<br />

Cavaco Silva, Medina Carreira,<br />

para quem “os políticos estão a<br />

alijar as responsabilidades que<br />

têm no estado da justiça”.<br />

ferência de imprensa do Conselho<br />

Superior da Magistratura que, porém,<br />

se revelou pouco esclarecedora.<br />

Entre os altos cargos da justiça<br />

tem havido um pingue-ponguedeargumentossobreoparadeiroeodestinodasescutas.No<br />

Parlamento, as opiniões também<br />

se dividem sobre esta questão.<br />

Ainda ontem, José Pedro Aguiar<br />

Branco insistiu, em entrevista ao<br />

Diário <strong>Económico</strong>, que Sócrates<br />

deve divulgar o conteúdo das escutas,<br />

justificando que, ao não o<br />

fazer, o primeiro-ministro “corre<br />

o risco de colocar sob suspeita o<br />

desempenho do cargo”. Perante<br />

essa sugestão, repetida por Ferreira<br />

Leite no Parlamento, Sócrates<br />

insurgiu-se: “Um democrata<br />

nunca exige que uma conversa<br />

privada seja publicada”.<br />

Do lado da bancada socialista,<br />

Vera Jardim critica que se levem<br />

casos de justiça para a casa da democracia,<br />

mas – perante o facto<br />

consumado – considera a defesa<br />

dos socialistas mais do que justificada:<br />

“O PS faz bem em responder,<br />

porque este tipo de actuação<br />

só afecta ainda mais as instituições<br />

e o Estado de Direito”.<br />

Para quem está do lado de fora<br />

do debate político, a utilização da<br />

justiça como arma de arremesso<br />

pelos partidos é, em todos os aspectos,<br />

condenável. “É tudo uma<br />

vergonha. Enquanto se perde tempo<br />

com isso, não se trata do que é<br />

essencial”, defende o ex-ministro<br />

das Finanças de Cavaco Silva,<br />

Henrique Medina Carreira, para<br />

quem “os políticos estão a alijar as<br />

responsabilidades que têm, no estado<br />

da justiça”. José Manuel Galvão<br />

Teles, advogado e ex-conselheiro<br />

de Estado, também vê com<br />

apreensão a forma como a política<br />

tem usado a política, uma situação<br />

que a manter-se “será o fim” (ver<br />

entrevista no Outlook). Já o exbastonário<br />

dos Advogados, José<br />

Miguel Júdice, aponta o dedo aos<br />

políticos, jornalistas e operadores<br />

da justiça, que considera responsáveis<br />

por este cenário. “Toda a<br />

gente está a abusar da justiça. Isto<br />

é de uma gravidade extrema, é<br />

devastador para um país com<br />

sentido de Estado”. ■Com M.G.<br />

O INCIDENTE<br />

A indignação de Paulo<br />

Portas e o “juizinho”<br />

de José Sócrates<br />

O debate quinzenal não aqueceu<br />

apenas quando se falou de<br />

justiça. Entre Sócrates e Paulo<br />

Portas a discussão também foi<br />

acesa. O primeiro-ministro<br />

censurou o que considerou ser<br />

um comportamento impróprio”<br />

do líder do CDS-PP, pedindo<br />

“juizinho” a Paulo Portas, o que<br />

motivou a indignação da bancada<br />

dos populares. A partir daí, a<br />

troca de palavras não baixou de<br />

tom. O primeiro-ministro já tinha<br />

manifestado irritação com os<br />

apartes do líder do CDS-PP<br />

durante a sua intervenção em<br />

resposta à bancada do PS,<br />

criticando o “histerismo” da<br />

bancada do CDS. Na sua bancada,<br />

Portas insistia para que José<br />

Sócrates respondesse a<br />

quanto custou a nacionalização<br />

do BPN, uma pergunta sua que<br />

tinha ficado sem resposta.


Militares atropelados estão fora de perigo<br />

A maioria dos 16 militares atropelados ontem de manhã na zona de<br />

Tancos, distrito de Santarém, já teve alta médica. Contudo, alguns dos<br />

feridos que tiveram de ser transportados de helicóptero para Lisboa,<br />

continuam com prognóstico reservado, disse ontem o tenente-coronel<br />

Hélder Perdigão, relações públicas do Exército, citado pelo Público. O<br />

acidente ocorreu durante um exercício de marcha e corrida, quando um<br />

carro abalroou os militares, causando ferimentos em 16 deles.<br />

João Paulo Dias<br />

Infografia: Márta Carvalho | marta.carvalho@economico.pt<br />

ANÁLISE O ESTADO DA JUSTIÇA<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 23<br />

Não se destrua a<br />

presunção de<br />

inocência da justiça<br />

ROGÉRIO ALVES<br />

Ex-bastonário dos Advogados<br />

Só há uma realidade, mas há várias<br />

forma de abordar, de tratar<br />

e de julgar essa mesma realidade.<br />

Desta verdade comezinha<br />

resulta um conflito aberto entre<br />

tempos e modos: o político, o<br />

mediáticoeojudicial. Vivemos<br />

num mundo globalizado e acelerado.<br />

Um rumor, por mais<br />

tosco que seja, ganha parangonas,<br />

ainda que efémeras, espalhando-se<br />

como verdade imaculada.<br />

O dislate torna-se notícia<br />

e pasto de comentários e especulações.<br />

As pessoas querem<br />

saber a verdade e querem-no<br />

depressa, logo, já. Os comentadores<br />

são rápidos, os políticos<br />

tendem a sê-lo também, mas a<br />

justiça, essa, tem de se manter<br />

fiel ao rigor, ao apuramento<br />

exaustivo da verdade, ao sagrado<br />

contraditório, à busca da<br />

certeza em prejuízo do espectáculo.<br />

Por ter a sua velocidade<br />

própriaeasuaexigênciaespecífica,<br />

a justiça é impopular e julgada,<br />

ela mesma, um ouço por<br />

todos nós, com leviandade e superficialidade.<br />

Perde sempre na<br />

corrida com o julgamento popular<br />

e o julgamento mediático.<br />

É natural. Mas não deixa de ser<br />

aquela na qual, ao fim do dia, se<br />

deve acreditar mais. Por isso são<br />

levianos todos os políticos que,<br />

aproveitando a vaga critica, se<br />

atiram, inclementes, à justiça.<br />

Ajudam a transmitir a ideia de<br />

que, tudo ou quase o que faz, é<br />

lento, tendencioso, incompreensível<br />

e inconsequente.<br />

Com sofisma pega-se no caso A,<br />

polvilha-se com o B, leva-se ao<br />

lume com C e temos a justiça de<br />

rastos. Trata-se de um erro<br />

crasso, que pode vir a custar<br />

caro ao regime democrático. A<br />

sensatez com a justiça procura<br />

decidir, pagando um elevado<br />

preço em lentidão, muitas vezes,<br />

lá está, excessiva, é que de-<br />

veriaseroparadigmaadefender.<br />

As medidas a tomar devem<br />

ser de sentido único: ajudar a<br />

justiça a cumprir o seu papel,<br />

mas sem a convidar a ser precipitada,<br />

popularucha, dócil ou<br />

atreita a modas e tendências. Os<br />

políticos devem respeitar a justiça<br />

e não só dizerem que a respeitam.<br />

Devem dar-lhe o espaço<br />

para decidir na sua zona de<br />

competências:oqueécrimeeo<br />

que não é, quem o praticou e<br />

quem deve ser absolvido. Os<br />

políticos devem ter como projecto<br />

comum o de respeitarem a<br />

justiça. A sua esfera de actuação<br />

e o seu insubstituível papel no<br />

regime democrático. Podem,<br />

naturalmente, trazer para o debate<br />

político factos que, estando<br />

a ser objecto de investigação,<br />

têm, igualmente, relevância política.<br />

Tenho-o dito e repetido:<br />

uma coisa é o processo, outra<br />

coisaéoassunto.Pode(edeve)<br />

debater-se o assunto, mas sem<br />

se interferir no decurso do processo.<br />

As realidades não são impermeáveis.<br />

Tocam-se, intersectam-se<br />

e influenciam-se. Se<br />

um caso está em investigação ou<br />

em julgamento, respeite-se a<br />

presunção de inocência, embora<br />

exigindo esclarecimentos sobre<br />

o que politicamente releve.<br />

E, já agora, não se destrua a presunção<br />

de inocência da própria<br />

justiça, condenando-a sem<br />

provas nem razão.■<br />

“Por ter a sua<br />

velocidade própria<br />

a justiça é impopular<br />

e julgada, ela mesma,<br />

com leviandade<br />

e superficialidade”.<br />

“E perde sempre<br />

na corrida com o<br />

julgamento popular<br />

e o julgamento<br />

mediático”.


24 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

POLÍTICA<br />

Caso assim o entenda,<br />

Armando Vara poderá<br />

regressar ao exercício<br />

de funções no BCP.<br />

Banco de Portugal abre a porta<br />

a regresso de Vara ao BCP<br />

Vitor Constâncio esclareceu, em comunicado, que processo de averiguações foi encerrado.<br />

Maria Teixeira Alves e<br />

Francisco Teixeira<br />

maria.alves@economico.pt<br />

O Banco de Portugal suspendeu<br />

as averiguações a Armando<br />

Vara no âmbito do envolvimento<br />

do administrador do<br />

BCP, no processo “Face Oculta”.<br />

Num comunicado enviado<br />

ontem o regulador diz que “o<br />

conhecimento disponível da<br />

situação confirma que os factos<br />

alegadamente atribuídos<br />

ao Dr. Armando Vara não se<br />

referem à sua actividade bancária,<br />

pelo que o Banco de<br />

Portugalseviuforçadoasuspender<br />

as averiguações”.<br />

Constâncio tinha anunciado<br />

que iria abrir averiguações, depois<br />

de o administrador do maior<br />

banco privado português ter sido<br />

constituído arguido pelo Ministério<br />

Público. Mas ontem em comunicado,<br />

o Banco de Portugal<br />

anunciou que suspendeu as averiguações<br />

preliminares à situação<br />

Vítor Constâncio<br />

suspendeu as<br />

averiguações por<br />

o “conhecimento<br />

disponível<br />

da situação” indicar<br />

que os factos<br />

atribuídos a Vara<br />

não resultam da sua<br />

actividade bancária.<br />

de Armando Vara, depois de ter<br />

solicitado informações ao Ministério<br />

Público “que pudessem ser<br />

relevantes para a apreciação do<br />

caso”. O comunicado revela que<br />

“foi, porém, o Banco informado<br />

que, em virtude do processo se<br />

encontrar em segredo de justiça,<br />

não era possível o envio de quaisquer<br />

informações”. Daí decorre<br />

que o Banco de Portugal na impossibilidade<br />

averiguar, e como<br />

“os factos alegadamente atribuídos<br />

ao Dr. Armando Vara não se<br />

referem à sua actividade bancária”<br />

decidiu suspender a averiguações,<br />

dada “a ausência de<br />

competência legal para o fazer”.<br />

Apesar disso, não deixou de<br />

realçar que continuava em estreito<br />

contacto com os órgãos de<br />

gestão do BCP.<br />

A situação de Vara, desde que<br />

pediu a suspensão de funções,<br />

evoluiu tendo ficado indiciado por<br />

um crime de tráfico de influências,<br />

não se confirmando as suspeitas de<br />

corrupção. Ainda assim, teve de<br />

pagar uma caução de 25 mil euros.<br />

Após essa decisão, Vara, que<br />

continua quadro do BCP, embora<br />

esteja suspenso das suas funções,<br />

não afastou a possibilidade de levantar<br />

a sua suspensão, aguardando<br />

para isso um sinal da administração<br />

do banco. “Tenho de<br />

ver isso com a equipa dirigente<br />

do BCP, compreenderão que não é<br />

o momento de falar ainda”, disse<br />

publicamente. Mas as razões que<br />

levaram Vara a pedir a suspensão<br />

prendem-se com a imagem do<br />

banco, que estava a ser afectada<br />

pelo seu envolvimento no processo<br />

“Face Oculta”. Como esse<br />

envolvimento se mantém poderá<br />

manter-se a suspensão até que a<br />

justiça tenha conclusões. O banco<br />

considera que a decisão cabe a<br />

Vara,umavezqueasuspensãofoi<br />

iniciativa sua.<br />

No entanto, há no BCP quem<br />

defenda o seu regresso imediato,<br />

nomeadamente Joe Berardo,<br />

presidentedoConselhodeRemunerações.<br />

■<br />

VARA À SAÍDA DO TRIBUNAL<br />

“Não me sinto<br />

derrotado, sinto-me<br />

frustado. Eu<br />

não desistirei<br />

enquanto não ficar<br />

completamente<br />

provada a minha<br />

inocência”.<br />

“Pode dizer-se<br />

que o pesadelo<br />

não acabou,<br />

lamentavelmente<br />

continua”.<br />

“Não havendo provas<br />

foi tudo inventado.<br />

Isto para mim é<br />

clarinho como água”.<br />

“Eu tenho de ver isso<br />

agora [regresso ao<br />

BCP] com a equipa<br />

dirigente do BCP”.<br />

CASO FACE OCULTA<br />

Paula Nunes<br />

29 Outubro<br />

O nome de Armando Vara<br />

aparece pela primeira vez como<br />

um dos 12 arguidos na operação<br />

Face Oculta.<br />

3 Novembro<br />

O Millennium BCP informa<br />

a Comissão de Mercado<br />

de Valores Mobiliário que recebeu<br />

de Armando Vara um pedido<br />

de suspensão do mandato como<br />

vice presidente e membro<br />

do Conselho de Administração<br />

Executivo do banco.<br />

2 Dezembro<br />

O Tribunal de Aveiro aplicou<br />

a Armando Vara uma caução<br />

de 25 mil euros e a proibição<br />

de falar com alguns arguidos<br />

do processo.


26 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

POLÍTICA<br />

Catarina Madeira<br />

catarina.madeira@economico.pt<br />

No mesmo dia, Francisco Pinto<br />

Balsemão e Marcelo Rebelo de<br />

Sousa pediram ao partido que se<br />

defina para fazer frente ao PS,<br />

numa estratégia que nem sempre<br />

deverá ser de confronto. Se Marcelo<br />

acredita que o PSD, “como<br />

partido de Governo”, não deve<br />

fazer oposição por oposição,<br />

Balsemão defende “pactos de<br />

fundo ou acordos de regime” e<br />

não tem dúvidas em afirmar que<br />

os social-democratas estão<br />

“mais próximos do PS em várias<br />

coisas do que do CDS”.<br />

Em contagem decrescente<br />

para a marcação das eleições directas,<br />

que vão definir o próximo<br />

líder, os dois históricos fazem um<br />

apelo para que o partido se assuma<br />

como uma alternativa de Governo,<br />

colocando-o no centro do<br />

espectro político.<br />

“Estamos mais<br />

próximos do PS<br />

em várias coisas do<br />

que do CDS”, disse<br />

Balsemão defendendo<br />

acordos de regime<br />

em áreas-chave.<br />

“Mais do mesmo, mesmo que<br />

melhor executado, não nos leva a<br />

parte alguma se não a ficarmos<br />

agarrados à paralisia e ao pântano<br />

onde nos encontramos”,<br />

disse Balsemão, com o peso que<br />

lhe confere a posição de militantenúmeroumdopartido.<br />

Perante uma plateia de mais de<br />

150 pessoas que se reuniu para o<br />

primeiro debate organizado<br />

pelo Instituto Francisco Sá Carneiro<br />

(IFSC), o ex-primeiroministro<br />

pediu ao PSD para ser<br />

“coerente com a ideologia, ter<br />

coragem, correr riscos e liderar a<br />

inovação”.<br />

No primeiro de uma série de<br />

debates para preparar o caminho<br />

da sucessão de Ferreira Leite, o<br />

fundador disse que, a manter-se<br />

neste “impasse”, o PSD “caminha<br />

para um lento suicídio”.<br />

Quase ao mesmo tempo, Marcelo<br />

Rebelo de Sousa – que depois<br />

de ter fechado a porta a uma<br />

Infografia: Mário Malhão | mario.malhao@economico.pt<br />

Sem directas marcadas,<br />

o PSD debate o rumo a seguir<br />

A caminho de uma nova liderança, Balsemão e Marcelo colocam PSD no centro.<br />

candidatura à liderança, tem<br />

deixado a janela dos conselhos<br />

entreaberta – defendeu que,<br />

“mais tarde ou mais cedo, as<br />

pessoas [dentro do PSD] vão ter<br />

de fazer o debate de ideias”.<br />

Numa entrevista à RTPN, o professor<br />

apelou à união do partido<br />

“para enfrentar o PS”, a quem,<br />

segundo Marcelo, restam apenas<br />

dois anos de Governo.<br />

OpróximodebatedoIFSCestá<br />

marcado para dia 17 e vai contar<br />

com Paulo Rangel, um dos nomes<br />

que também chegou a ser equacionado<br />

para a liderança pelo núcleo<br />

de Ferreira Leite. Antes ainda,éPassosCoelhoquemdáuma<br />

entrevista ao Jornal de Notícias,<br />

numa altura em que, aos apoios<br />

fiéis de Miguel Relvas e Ângelo<br />

Correia, juntou a ex-vice de<br />

Marques Mendes: Paula Teixeira<br />

da Cruz que vai elaborar a revisão<br />

do programa do PSD caso Passos<br />

seja eleito líder. ■<br />

QUATRO PERGUNTAS A...<br />

Alexandre Relvas<br />

Presidente do IFSC<br />

“PSD deve propor<br />

libertação<br />

da sociedade civil”<br />

Alexandre Relvas faz um balanço<br />

positivo do primeiro, de uma série<br />

de debates, em que pretende<br />

lançar correntes de opinião para<br />

a definir a próxima liderança<br />

social-democrata.<br />

Como reage às provocações<br />

dos oradores sobre<br />

a necessidade do PSD<br />

se reencontrar?<br />

O debate desta noite [última<br />

quarta-feira] mostrou a riqueza<br />

do PSD e a capacidade de se<br />

diferenciar das propostas do PS:<br />

contrapor, ao sobrepeso do<br />

Estado, o valor da sociedade civil;<br />

defender a desmilitarização<br />

do regime; defender a liberdade<br />

da comunicação social<br />

e a abertura ao sector privado<br />

de múltiplas actividade<br />

económicas. A ideia é haver um<br />

debate de ideias que se possa<br />

propagar a todo o partido.<br />

Francisco Pinto Balsemão<br />

falou na necessidade de<br />

acordos de regime em áreaschave<br />

(educação, saúde,<br />

justiça e administração<br />

pública). Concorda?<br />

Essa é uma opinião pessoal entre<br />

muitas, não vou comentar. O mais<br />

interessante é saber como o PSD<br />

deve reagir a um Governo<br />

minoritário e exercer oposição:<br />

deve passar por uma oposição<br />

sistemática ou por uma posição<br />

construtiva que, no limite, chegue<br />

a pactos como os propostos?<br />

Falou-se da posição que o PSD<br />

deve ocupar no espectro<br />

político. A identidade<br />

ideológica do PSD sai mais<br />

clara deste debate?<br />

Falou-se aqui da sociedade civil<br />

e de um Estado omnipresente em<br />

todas as dimensões da vida<br />

económica e social. O que o PSD<br />

deve propor é exactamente a<br />

libertação da sociedade em<br />

relação a esse peso do Estado.<br />

No final destes debates, que<br />

contributo espera ter dado?<br />

O debate de ideias vai criando<br />

correntes de opinião e isso será<br />

útil para a próxima liderança do<br />

PSD. Tem aqui muitas questões<br />

sobre as quais deve reflectir. ■<br />

“Interessante é saber<br />

se o PSD deve fazer<br />

uma oposição<br />

sistemática ou uma<br />

posição construtiva?”


28 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

POLÍTICA<br />

Cervejeiras dão<br />

apoios à educação<br />

em troca de<br />

menos impostos<br />

Alberto da Ponte, representante das cervejeiras<br />

europeias, diz que o sector paga muitos impostos.<br />

Márcia Galrão<br />

marcia.galrao@economico.pt<br />

Numa altura em que a Europa discute<br />

o problema do álcool e as medidas<br />

que devem ser tomadas para<br />

combater o seu consumo abusivo,<br />

Alberto da Ponte, presidente da associação<br />

europeia de produtores de<br />

cerveja Brewers of Europe, defende<br />

uma política de auto-regulação<br />

para o sector e, no caso português,<br />

garante que vai pedir ao Governo<br />

de Sócrates para baixar o Imposto<br />

Especial sobre o Consumo (IEC) na<br />

cerveja, em troca de ajuda do sector<br />

numa política educacional<br />

contra o abuso do álcool.<br />

Em entrevista ao Diário <strong>Económico</strong>,<br />

Alberto da Ponte, revela que<br />

já enviou cartas ao Governo a pedir<br />

audiências e garante que irão<br />

insistir na questão fiscal. Reduzir o<br />

IEC na cerveja e exigir em contraponto<br />

que “a receita seja para o<br />

apoio à exportação” é um “jogo”<br />

CERVEJEIROS<br />

3mil<br />

O Brewers of Europe representa<br />

mais de 3 mil cervejeiros em toda<br />

a Europa. Quatro grandes<br />

companhias internacionais, de que<br />

fazemparteaHeinekenea<br />

Carlsberg, e outra pequenas<br />

indústris.<br />

LITROS<br />

820 milhões<br />

A indústria cervejeira em Portugal<br />

produz 820 milhões de litros, dos<br />

quais 200 milhões são exportados.<br />

Portugal figura em 6º lugar no<br />

ranking dos exportadores de<br />

cerveja.<br />

EMPREGADOS<br />

72 mil<br />

A indústria cervejeira emprega<br />

para cima de 72 mil pessoas em<br />

Portugal, directa e<br />

indirectamente. Cerca de 70% da<br />

cevada que é utilizada no fabrico<br />

de cerveja provém do Alentejo. A<br />

indústria contribui com 1,2% para<br />

o Produto Nacional Bruto.<br />

queopresidentedoBrewersacha<br />

que daria resultado na política de<br />

consumo de álcool. “O que se perderia<br />

na receita seria muito inferioraoqueseganhariaemtermos<br />

de riqueza”, lembrando que “a indústria<br />

produz 820 milhões de litros<br />

de cerveja e exporta 200 milhões,<br />

empregando para cima de<br />

72 mil pessoas directa e indirectamente<br />

e contribuindo com 1,2%<br />

paraoProdutoNacionalBruto.Em<br />

troca, os cervejeiros querem “ajudar<br />

o Governo a lançar uma campanha<br />

educacional contra o abuso<br />

do álcool”, contribuindo com<br />

“know-how e até financeiramente<br />

se for preciso”.<br />

Mas que tipo de campanhas podem<br />

ser promovidas? “Em Portugal<br />

o problema são os chamados<br />

underage drinkers (entre os 11 e os<br />

14 anos), mas são pessoas que muitas<br />

vezes já saem alcoolizadas de<br />

casa, portanto aqui faz falta uma<br />

política educacional na família”.<br />

Além deste, defendem também a<br />

existência de “disciplinas escolares<br />

que abordem estas matérias”.<br />

NumaalturaemqueaUEdebate<br />

o problema do consumo abusivo<br />

de álcool, Alberto da Ponte critica<br />

aquela que tem sido a posição assumida<br />

pela presidência europeia<br />

da Suécia e que passa por aumentar<br />

os preços sobre o álcool e restringir<br />

a comunicação deste tipo de produtos.<br />

Para o presidente do<br />

Brewers of Europe “ouvir o que a<br />

Suécia diz seria um tiro no pé” e<br />

lembra que o país nórdico é neste<br />

campo “o maior falhanço da política<br />

de restrição do consumo conhecido”<br />

que quer “impor a sua<br />

realidade a todos os países da UE,<br />

baseado numa mão cheia de<br />

nada”. Ainda assim, Alberto da<br />

Ponteestáconfiantequeasrecomendações<br />

suecas serão suavizadas<br />

pela pressão de muitos países<br />

europeus, como Alemanha ou Itália,<br />

mas lamenta que “a posição<br />

portuguesa não tenha sido muito<br />

activa para desmascarar os exageros<br />

das posições suecas”.<br />

Divulgando em primeira mão<br />

um estudo da PriceWaterHouse,<br />

Alberto da Ponte explica que se a<br />

recomendação sueca de aumentar<br />

a carga fiscal sobre o álcool<br />

fosse seguida, as perdas seriam<br />

“tremendas”: “Se o equivalente<br />

ao IEC aumentasse 20% nos países<br />

europeus, as consequências<br />

seriam 1,2 biliões de redução de<br />

vendas, a perda de 70 mil empregoseodecréscimodorendimento<br />

fiscal na ordem dos 160 milhões<br />

de euros”. ■<br />

TRÊS PERGUNTAS A...<br />

ALBERTO DA PONTE<br />

Presidente dos Brewers of Europe<br />

“Governos têm<br />

tendência errada para<br />

aumentar impostos”<br />

Alberto da Ponte critica a<br />

presidência sueca, por querer<br />

impor mais restrições à indústria<br />

cervejeira e diz que o caminho para<br />

o combate ao consumo abusivo<br />

passa pela “auto-regulação”.<br />

Como olha para a posição da<br />

presidência sueca?<br />

Os governos têm uma tendência,<br />

na minha opinião errada, para<br />

aumentar os impostos do<br />

álcool. Há uma tendência para<br />

impor restrições à publicidade da<br />

cerveja, que está a ser muito<br />

alimentada pela presidência<br />

europeia sueca e que pode pôr em<br />

risco uma indústria milenar e muito<br />

importante para a Europa. Há um<br />

estudo da Ernst & Young que<br />

demonstra a importância da<br />

cerveja na UE, representando para<br />

cima de 1% do Produto Nacional<br />

bruto,<br />

O que podem fazer as<br />

cervejeiras para contrariar?<br />

O sector tem que mostrar que o<br />

está fazer no campo da autoregulação,<br />

defendendo esse<br />

Paulo Figueiredo<br />

Alberto da Ponte, presidente da<br />

Central de Cervejas, foi eleito<br />

representante máximo das<br />

cervejeiras europeias a 9 de<br />

Novembro e promete lutar pelos<br />

interesses do sector.<br />

caminho. Entre Março e Abril<br />

entregaremos um relatório<br />

auditado pela KPMG<br />

e apresentado à comissão<br />

europeia para demonstrar<br />

que a auto-regulação é possível,<br />

com os vários exemplos que<br />

estão a ser desenvolvidos nos<br />

vários países.<br />

Qual é a expectativa em relação<br />

à recomendação sueca?<br />

Pode haver alguma recomendação<br />

para aumentar o preço com o<br />

intuito de moderar o consumo.<br />

Pode também haver tentativa de<br />

restringir a comunicação, mas<br />

estou convencido que as<br />

insistências de alguns governos,<br />

levará a mitigação do texto.


Agenda 5.12 > 11.12<br />

> 5.12<br />

Jorge Lacão no lançamento<br />

do livro de Manuela Azevedo<br />

O ministro dos Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão,<br />

preside ao lançamento do livro “Memórias<br />

de uma mulher de Letras”, de Manuela Azevedo,<br />

e à inauguração das exposições “Zincoarte”<br />

e “Retrospectiva de Pedro Palma”, no Museu<br />

Nacional da Imprensa, no Porto.<br />

> 6.12<br />

Tributo a Michael Jackson<br />

com os Harlem Gospel Choir<br />

Concerto de Natal com o Harlem Gospel Choir,<br />

considerado o mais famoso grupo de gospel<br />

da América, num tributo a Michael Jackson, no<br />

Casino Estoril. Amanhã, na Casa da Música, no Porto.<br />

> 7.12<br />

Tereza Salgueiro apresenta<br />

álbum “Matriz”<br />

Concerto de apresentação do álbum “Matriz”<br />

de Tereza Salgueiro, acompanhada pela Lusitânia<br />

Ensemble, no Centro Cultural de Belém. Amanhã,<br />

na Casa da Música, no Porto.<br />

> 9.12<br />

Leilão da biblioteca judaica<br />

Afonso Cassuto<br />

Bibliografia judaica e da inquisição, com livros<br />

e manuscritos de diferentes proveniências estarão<br />

a leilão, numa organização do leiloeiro Pedro<br />

Azevedo, no Amazónia Hotel.<br />

Livro de Leonel Cosme<br />

é apresentado hoje no Porto<br />

De Leonel Cosme, com capa de Pires Laranjeira,<br />

o livro “O Chão das Raízes” é apresentado hoje, no<br />

UNICEPE, no Porto. A obra encerra uma pentalogia<br />

(uma saga em cinco livros) sobre os portugueses que<br />

viveram no Sul de Angola e, com a independência<br />

desta, em 1975, tiveram de regressar.<br />

Debatesobreaobraeoseu<br />

tempo na Casa Fernando Pessoa<br />

“Mensagem, o Poema, o Prémio e o Estado Novo”.<br />

Este é o ponto de partida para o debate entre<br />

Richard Zimler, escritor responsável pela fixação<br />

do manuscrito de “O Livro do Desassossego”, José<br />

Blanco e José Carlos Seabra Pereira. A sessão<br />

émoderadaporCarlosVazMarqueseéoúltimo<br />

dos três debates com que a Biblioteca Nacional,<br />

a Casa Pessoa e a Guimarães Editores assinalam<br />

os 75 anos da primeira edição de “Mensagem”.<br />

Às 18:30 na Casa Fernando Pessoa.<br />

Estreia do novo filme de<br />

António-Pedro Vasconcelos<br />

Estreiadofilme“ABelaeoPararazzo”,<br />

de António-Pedro Vasconcelos. Com Marco d’Almeida<br />

e Soraia Chaves.<br />

> 11.12<br />

Projecto de Manuel João Vieira<br />

sobe ao palco do São Luiz<br />

O projecto “O artista português é tão bom como<br />

os melhores”, de Manuel João Vieira, sobe ao palco<br />

do Teatro São Luiz, até 13 de Dezembro.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 29<br />

A SEMANA<br />

BERLUSCONI ACUSADO DE FAZER PACTO COM A MÁFIA PARA CHEGAR AO PODER<br />

Gaspare Spatuzza, um ex-mafioso que colabora com a justiça italiana, contou em tribunal<br />

que o primeiro-ministro Berlusconi pediu à máfia para cometer atentados de<br />

forma a criar um clima de terror no país, que favorecesse a entrada dele na política.<br />

A FIGURA<br />

PAULO PORTAS<br />

Líder do CDS<br />

Portas é um dos mais eficazes políticos do país. Lidera<br />

um pequeno partido que muitas vezes foi dado como<br />

morto mas que lá vai fazendo o seu caminho. Com um<br />

mês e meio de Governo, o PSD ainda em auto-gestão,<br />

Sócrates também a aprender a governar sem maioria<br />

e o foco da governação colocado no Parlamento,<br />

Portas continua a distinguir-se. Todas as sondagens<br />

o apontam como o líder partidário com mais<br />

popularidade e a suspensão do Código Contributivo<br />

por proposta do CDS foi a cereja no topo do bolo.<br />

O MOMENTO<br />

A JUSTIÇA NO PARLAMENTO<br />

Primeiro debate quinzenal com o primeiro-ministro<br />

Eric Vidal/Reuters<br />

Ontem regressaram os debates quinzenais e com eles<br />

duas coisas: o anúncio por parte do Governo<br />

de medidas (apoios a empresas e o aumento do salário<br />

mínimo) e um tema polémico da actualidade. Desta vez,<br />

ajustiça,ocasoFaceOcultaeasuatotaleinequívoca<br />

politização. Sócrates e Ferreira Leite não se entendem<br />

sobre a gestão política da investigação do ano.<br />

A líder do PSD quer conhecer as escutas que envolvem<br />

o primeiro-ministro, Sócrates diz que estamos perante<br />

“coscuvilhice política”. E daqui não sairemos.


30 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

RADAR PORTUGAL<br />

Apesar de já não funcionar, a Universidade Independente continua a dar que falar.<br />

Denúncia de um ex-acionista da universidade<br />

Dinheiro da Independente usado para pagar campanhas<br />

Lima de Carvalho, arguido no<br />

caso da Universidade Independente<br />

(UNI), revelou ontem em<br />

tribunal que o dinheiro da UNI<br />

serviu para financiar uma campanha<br />

política do PSD, a eleição<br />

de um bastonário dos advogados<br />

e pagar viagens de deputados.<br />

Amadeu Lima de Carvalho, accionista<br />

maioritário da SIDES<br />

(empresa detentora da extinta<br />

UNI), foi ontem ao Tribunal<br />

Central de Instrução Criminal<br />

prestar declarações sobre o caso,<br />

emqueéacusadode46crimes,<br />

incluindo branqueamento de<br />

capitais, burla qualificada, corrupção<br />

e fraude fiscal.<br />

Sobre o alegado desvio de dinheiro<br />

da SIDES, Lima de Carvalho<br />

denunciou que 90 mil euros<br />

serviram para financiar a<br />

campanha do ex-bastonário da<br />

Ordem dos Advogados, Rogério<br />

Alves, uma campanha da Associação<br />

Sindical dos Juízes através<br />

da então mulher do também<br />

arguido Rui Verde e para pagar<br />

viagens a deputados da Assembleia<br />

da República a Inglaterra<br />

para aprenderem inglês.<br />

Das verbas supostamente desviadas<br />

da UNI, o arguido revelou<br />

também que 150 mil euros ser-<br />

Lima de Carvalho<br />

revelou ontem em<br />

tribunal que 90 mil<br />

euros serviram para<br />

financiar a campanha<br />

do ex-bastonário<br />

dos advogados,<br />

Rogério Alves.<br />

Paulo Figueiredo<br />

viram para financiar uma campanha<br />

eleitoral do PSD em Santarém,<br />

por intermédio do então<br />

vice-reitor Rui Verde.<br />

Lima de Carvalho acusou ainda<br />

vários funcionários do BCP de<br />

terem falsificado uma garantia<br />

bancária de um milhão de euros<br />

para beneficiar Rui Verde, de<br />

forma a que este lhe pagasse dívidas<br />

pessoais e da então mulher,<br />

a juíza Isabel Magalhães.<br />

Rogério Alves já reagiu à acusação<br />

de Lima Carvalho, que<br />

considera de “uma mentira<br />

grosseira e de “absolutamente<br />

falso”. O ex-bastonário dos<br />

advogados referiu que tal<br />

“mentira” tem vindo a ser dita<br />

desde 2007 e que a mesma<br />

“ofende um conjunto de pessoas<br />

que são visadas por uma<br />

declaração ridícula”. ■ Lusa.<br />

A Leoni era uma empresa de componentes automóveis.<br />

Automóvel<br />

Governo estuda alternativas para Leoni<br />

OGovernoestáaestudaralternativas<br />

para minimizar o encerramento<br />

da Leoni Viana, empresa<br />

de componentes automóveis<br />

que fornecia a Peugeot-Citröen.<br />

O fecho da fábrica vai deixar no<br />

desemprego 599 trabalhadores.<br />

“Estamos a trabalhar no sentido<br />

de perceber/entender quais são<br />

as alternativas que podem existir<br />

para essa localização”, disse<br />

Vieira da Silva, citado pela Lusa.<br />

O ministro da Economia sabia<br />

que “a evolução dessa empresa<br />

era negativa”, mas desconhecia<br />

que“odesfechoestivessetão<br />

curto como se veio a revelar”. A<br />

Leoni Viana, que se dedica ao fa-<br />

Concessões<br />

Estado dá garantia ao empréstimo do BEI<br />

O Governo avançou com uma garantia<br />

sobre o empréstimo contraído<br />

pela Estradas de Portugal<br />

junto do Banco Europeu de Investimento<br />

(BEI), para financiar as<br />

concessões rodoviárias. O empréstimo<br />

de 300 milhões de euros<br />

foi publicado ontem em Diário da<br />

República, após ter sido noticiado<br />

que o BEI estava a acompanhar de<br />

perto os chumbos do Tribunal de<br />

Contas (TC) aos contratos das<br />

concessões rodoviárias.<br />

AEstradasdePortugalapresentou<br />

ainda ao Tribunal de Contas<br />

“alguns pedidos de prorrogação”<br />

do prazo de 30 dias úteis que<br />

o tribunal tem para decidir sobre a<br />

atribuição do visto prévio aos<br />

contratos das concessões rodoviárias,talcomooDiário<strong>Económico</strong><br />

já tinha avançado.<br />

O TC esclareceu, na quintafeira,<br />

que demorou os 30 dias<br />

úteis definidos na Lei para decidir<br />

sobre a atribuição do visto prévio<br />

às concessões rodoviárias, refu-<br />

brico de cablagens, anunciou<br />

ontem que vai encerrar portas<br />

em finais de 2010. A Leoni já tinhaavançadocomodespedimento<br />

colectivo de 120 trabalhadores<br />

e enveredado pelo ‘lay off’.<br />

Também a Lear Corporation, de<br />

Palmela, fabricante de capas<br />

para automóveis, manteve ontem<br />

a intenção de fechar portas,<br />

deixando 200 trabalhadores no<br />

desemprego. Os trabalhadores<br />

sugeriram o recurso ao PASA, o<br />

plano de apoio criado pelo Governoparaosectorautomóvel,<br />

mas a administração mantém a<br />

intenção de encerrar a fábrica<br />

em 2010. ■<br />

tando as declarações de alguns<br />

responsáveis do sector, que criticaram<br />

o facto de a decisão do tribunal<br />

ter surgido um ano depois<br />

da assinatura dos contratos.<br />

“Sempre que o TC solicita um esclarecimento,<br />

suspende o prazo”,<br />

disse fonte oficial da Estradas de<br />

Portugal à Lusa.<br />

O TC recusou a atribuição de<br />

visto prévio aos contratos de cinco<br />

concessões rodoviárias: Auto-<br />

Estrada Transmontana, Douro Interior,<br />

Baixo Alentejo, Algarve Litoral<br />

e Litoral Oeste, decisão conhecida<br />

o mês passado. ■<br />

Almerindo Marques.<br />

Antoine Antoniol/Bloomberg


Fisco<br />

Existem 22.590 devedores na lista do<br />

Ministério das Finanças<br />

O Ministério das Finanças<br />

anunciou ontem que, no total,<br />

existem 22.590 devedores<br />

na lista e quase 7 mil contribuintes<br />

foram incluídos<br />

em 2009. Este valor corresponde<br />

a um aumento de 800<br />

novos devedores face à última<br />

actualização.<br />

O Ministério das Finanças<br />

adiantou em comunicado que<br />

o valor das dívidas já recuperadas<br />

pela Administração Fiscal<br />

aos devedores notificados<br />

ascende a cerca de 900 milhões<br />

de euros, “sendo que em<br />

2009 o valor pago por esses<br />

devedores é já de 253 milhões<br />

de euros”.<br />

A tutela adiantou também que<br />

“a publicitação da lista de devedores<br />

tem sido um importante<br />

instrumento de indução<br />

ao pagamento das dívidas”.<br />

No mesmo documento, o Ministério<br />

das Finanças explicou<br />

que constam na lista os contribuintes<br />

que possuem dívidas<br />

fiscais ao Estado anteriores<br />

a 31 de Dezembro de 2008,<br />

cuja situação de incumprimento<br />

do dever de pagamento<br />

Finanças actualizaram devedores.<br />

persiste, apesar das insistentes<br />

solicitações da administração<br />

fiscal para os devedores<br />

regularizarem a situação e<br />

das medidas de coerção já<br />

adoptadas nos respectivos<br />

processos.<br />

Contas feitas, do total de mais<br />

de 22 mil devedores presentes<br />

na lista, o número de pessoas<br />

colectivas publicitadas é de<br />

8.249 mil. Ou seja, este valor<br />

corresponde a quase metade<br />

do número de pessoas singulares<br />

que integram a lista.<br />

Entre as pessoas singulares o<br />

ministério refere que existe<br />

“uma parcela relevante de<br />

administradores e gerentes<br />

de sociedades que foram responsabilizados<br />

pelo pagamento<br />

dos impostos devidos<br />

por essas sociedades, dada a<br />

respectiva ausência de património.<br />

Em muitos casos, estão<br />

em causa sociedades fictícias<br />

criadas pelos seus responsáveis<br />

para praticarem<br />

operações de fraude e de evasão<br />

fiscal”.<br />

Outrodadoquesaltaàvista<br />

tem a ver com o facto de existir<br />

entre as pessoas singulares<br />

são 105 os contribuintes que<br />

devemcadaummaisdeum<br />

milhão de euros ao fisco.<br />

Existem também 491 contribuintes<br />

a dever mais de 250<br />

mil euros. Lado das empresas,<br />

há também dados que saltam<br />

à vista: existem 10 empresas<br />

que devem mais de 10 milhões<br />

de euros cada uma. ■<br />

Indústria<br />

Vendas caem menos em Outubro<br />

Ovolumedenegóciosdaindústria<br />

baixou em Outubro 10,1%<br />

face ao período homólogo de<br />

2008, aliviando assim a queda<br />

registada no mês anterior.<br />

Os dados divulgados ontem pelo<br />

Instituto Nacional de Estatística<br />

(INE)mostram,noentanto,que<br />

a indústria vendeu mais 2% em<br />

Outubro face a Setembro.<br />

A queda homóloga menos acentuada<br />

foi transversal a todos os<br />

agrupamentos industriais, à excepção<br />

dos bens de consumo.<br />

Tanto nas vendas para o mercado<br />

nacional como para o exterior, o<br />

mês de Outubro foi marcado por<br />

um abrandamento na queda.<br />

O emprego no sector da indústria<br />

caiu 6,2%, ainda assim de<br />

forma menos acentuada em relação<br />

ao mês anterior. As remunerações<br />

pagas no sector baixaram<br />

em Outubro 5%, o que<br />

compara com uma quebra de<br />

5,4% registada em Setembro.<br />

Quanto às horas trabalhadas na<br />

indústria, a queda intensificouse<br />

em Outubro. A taxa de variação<br />

homóloga foi de - 7,8%,<br />

contra -6,7% apresentados em<br />

Setembro. ■<br />

Indústria portuguesa melhora.<br />

Lee Celano/Reuters<br />

BELMIRO INVESTE NA PRODUÇÃO DE KIWIS<br />

Cimeira das Nações Unidas<br />

Próxima reunião será em Lisboa,<br />

em Novembro de 2010<br />

Novembro de 2010 foi o mês escolhido<br />

para acolher próxima<br />

cimeira da NATO que se realizará<br />

em Lisboa. O acordo sobre os<br />

dias exactos ainda não está fechado<br />

por todos os membros da<br />

Aliança, disse ontem o ministro<br />

dos Negócios Estrangeiros, Luís<br />

Amado, mas tudo aponta para a<br />

possibilidade do encontro se<br />

realizar entre 19 e 20 desse mês.<br />

“Há uma data que está referenciada,<br />

que não está ainda assumida<br />

por todos os aliados. Há<br />

ainda um período de consulta<br />

sobreadataproposta,para19e<br />

20 de Novembro do próximo<br />

ano”, indicou ontem Luís Amado,<br />

à margem de uma reunião<br />

dos chefes de diplomacia da<br />

Aliança Atlântica, em Bruxelas.<br />

Lembrando que “será a primeira<br />

vez que Portugal, que é um país<br />

fundador da Aliança, organiza<br />

uma cimeira da Aliança em Lisboa”,<br />

o ministro dos Negócios<br />

Estrangeiros disse que os preparativos<br />

da cimeira implicarão<br />

um trabalho “intenso” com o<br />

secretário-geral da NATO, Anders<br />

Fogh Rasmussen. Trabalho<br />

que já foi iniciado, com uma<br />

primeira reunião de trabalho<br />

que aconteceu no mês passado,<br />

e que prosseguirá “durante os<br />

próximos meses”.<br />

Luís Amado acrescentou a cimeira<br />

será a ocasião onde “se<br />

discutiráeaprovaráonovoconceito<br />

estratégico da Aliança”,<br />

que substituirá o actual, adoptado<br />

em 1999, face às novas<br />

ameaças e desafios na cena<br />

mundial. Segundo Amado, em<br />

Novembro do próximo ano, os<br />

aliados também já estarão “seguramente”<br />

em condições de<br />

“avaliar o desenvolvimento da<br />

estratégia que a Aliança apoia”,<br />

em particular no Afeganistão,<br />

“o teatro mais crítico” para a<br />

NATO.■ Lusa<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 31<br />

Bruno Barbosa<br />

Belmiro de Azevedo, o patrão da Sonae, continua a revelar-se<br />

um empreendedor. Ontem participou no encontro<br />

de fornecedores do grupo que lidera, na qualidade<br />

de produtor de kiwis, um desafio que abraçou há<br />

cerca de três anos com olhos postos no mercado espanhol.<br />

Questionado sobre os resultados, Belmiro diz<br />

apenas que “para já, é só investir”.<br />

Turismo<br />

Rui Moreira quer<br />

Red Bull no Porto<br />

O presidente da Associação<br />

Comercial do Porto (ACP), Rui<br />

Moreira, disse ontem que o<br />

Turismo de Portugal (TP),<br />

sendo uma entidade pública,<br />

devia defender a região Norte<br />

na questão da eventual<br />

transferência da Red Bull Air<br />

Race para Lisboa. “O Turismo<br />

de Portugal não pode ser<br />

neutral nesta matéria, porque<br />

se esta região está pior do que<br />

o resto do país precisa de uma<br />

discriminação positiva. O<br />

Governo não pode ser neutral<br />

em relação a esta região.<br />

Devemos ter uma<br />

discriminação positiva e acho<br />

que temos tido uma<br />

discriminação negativa”, disse<br />

Rui Moreira. O presidente da<br />

ACP falava durante a<br />

apresentação do Concurso de<br />

Saltos Internacional do Porto,<br />

uma competição hípica que se<br />

realiza entre 10 e 13 de<br />

Dezembro, na Exponor<br />

(Matosinhos). Este ano, o<br />

evento, que precisava de um<br />

aumento de apoio para tentar<br />

candidatar-se à realização da<br />

Taça do Mundo, contou com um<br />

corte de 50 por cento no apoio<br />

do TP, disse à Lusa Gonçalo<br />

Patrão, da organização.<br />

“Ontem, numa carta, a<br />

propósito de um outro evento,<br />

o presidente do TP dizia que<br />

não aceitava o que eu disse<br />

com todo o fundamento. Ele<br />

ainda não percebeu que não<br />

nos compete a nós agradecer<br />

[o apoio à realização da Red<br />

Bull no Porto], porque o<br />

dinheiro é nosso. Trata-se de<br />

uma entidade pública, portanto<br />

os dinheiros são da sociedade<br />

e é razoável inquirir quais os<br />

critérios dos apoios”, referiu<br />

Rui Moreira. ■ Lusa<br />

A sede da Aliança Atlântica.<br />

Andrew Harrer/Bloomberg


32 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

RADAR MUNDO<br />

1 Reino Unido<br />

Ajuda estatal aos bancos britânicos<br />

ultrapassou 943 mil milhões<br />

O apoio estatal do Reino Unido<br />

aos bancos britânicos atingiu<br />

942.833,7 milhões de euros em<br />

consequência da crise financeira<br />

global, refere um relatório da<br />

agência National Audit Office<br />

(NAO).<br />

O primeiro-ministro, Gordon<br />

Brown, diz que aquele “montante<br />

sem precedentes” foi justificado<br />

para salvar os bancos,<br />

que entraram em colapso depois<br />

da falência do norte-americano<br />

Lehman Brothers, em 2007.<br />

A Grã-Bretanha gastou vários<br />

milhões de libras para salvar os<br />

seus maiores bancos, incluindo<br />

o Royal Bank of Scotland (RBS)<br />

e Lloyds Banking Group (LBG),<br />

durante a crise, enquanto que o<br />

Northern Rock foi nacionalizado.<br />

O LBG passou a ser detido<br />

pelo Estado em 43%, enquanto<br />

o RBS, devastado pela crise de<br />

crédito à aquisição do gigante<br />

holandês ABN Amro, deverá<br />

passar a ser detido pelo Estado<br />

em 84%.<br />

Amyas Morse, chefe da NAO<br />

disse que a eventual venda do<br />

RBSedoLBGserão“cruciais”<br />

para determinar o custo final<br />

para os contribuintes do salvamento<br />

destas instituições. ■<br />

3 Alemanha<br />

Bundesbank revê crescimento em alta<br />

A crise económica global atingiu<br />

a Alemanha a uma escala<br />

menor do que antecipado, segundo<br />

banco central alemão. O<br />

Bundesbank reviu ontem em<br />

alta o prognóstico para a maior<br />

economia da Europa. Para 2010<br />

os economistas no ‘Buba’ já<br />

não prevêem um crescimento<br />

zero, apontando agora uma subida<br />

de 1,6%, depois de uma<br />

quebra de 4,9% este ano. Ori<strong>gina</strong>lmente<br />

o banco previa um<br />

recuo de 6%, em consequência<br />

da crise económica global. Em<br />

2011, ainda segundo o relatório<br />

mensal do Bundesbank, apresentado<br />

ontem em Frankfurt, a<br />

11<br />

9<br />

8<br />

2<br />

1<br />

10<br />

1<br />

6<br />

Royal Banco of Scotland e o Lloyds doram dois dos bancos intervencionados.<br />

3<br />

Luke MacGregor/Reuters<br />

conjuntura deverá crescer<br />

1,2%,<br />

Os autores do relatório constatam<br />

que as perspectivas da<br />

economia melhoraram “de forma<br />

tangível” nos últimos meses.<br />

A recuperação, iniciada no<br />

Economia deve crescer 1,6% em 2010.<br />

7<br />

2 Alemanha<br />

VW reforça capital<br />

A grande maioria dos<br />

accionistas da Volkswagen<br />

aprovou um aumento de capital<br />

destinado a financiar a compra<br />

de 49,9% da fabricante de<br />

automóveis desportivos de luxo<br />

Porsche, disse a empresa em<br />

comunicado. O reforço será<br />

feito através da emissão de 135<br />

milhões de acções<br />

preferenciais, no valor de<br />

8.000 milhões de euros e foi<br />

aprovado por 98,7% dos<br />

investidores em assembleia<br />

geral extraordinária.<br />

“Com esta estrutura de capital,<br />

que é válida até Dezembro de<br />

2014, a Volkswagen obtém a<br />

flexibilidade financeira<br />

necessária para crescer, ao<br />

mesmo tempo que garante a<br />

liquidez adequada e uma<br />

estrutura financeira saudável”,<br />

diz o mesmo comunicado. Com<br />

esta aquisição, a VW espera<br />

ultrapassar a Toyota como<br />

maior fabricante de automóveis<br />

do mundo em 2018. Os poucos<br />

accionistas que se opuseram<br />

alertaram para o elevado preço<br />

a pagar pela Porsche, de 3,9 mil<br />

milhões de euros, quando a<br />

empresa apresentava uma<br />

dívida de cerca de 11.400<br />

milhões de euros em 31 de<br />

Julho último.<br />

segundo trimestre do ano, ficou<br />

a dever-se a uma política<br />

de estímulo fiscal e monetário,<br />

esperando-se que prossiga<br />

“nos próximos anos”.<br />

Os economistas do ‘Buba’ esperam<br />

que o aumento da exportação<br />

e dos investimentos,<br />

assim como o reforço do consumo,<br />

dêem novos impulsos à<br />

conjuntura. Alerta, no entanto,<br />

para um aumento do desemprego,<br />

que poderá ultrapassar<br />

os 10% em 2011. Também a inflação<br />

deverá subir ligeiramente<br />

nos próximos dois anos,<br />

atingindo 1% em 2011, após<br />

0,3% este ano. ■ C.K.<br />

A Aliança Atlântica segue as passadas de Obama no Afeganistão.<br />

4 Bélgica<br />

Nato envia 7.000 tropas para Afeganistão<br />

A Organização do Tratado do<br />

Atlântico Norte (Nato) disse que<br />

25 dos países aliados prometeram<br />

enviar cerca de 7.000 soldados<br />

para apoiar a guerra liderada<br />

pelos Estados Unidos no<br />

Afeganistão. A decisão surge na<br />

sequência do compromisso do<br />

presidente norte-americano,<br />

Barack Obama, de o seu país<br />

enviar mais 30.000 soldados<br />

para o local.<br />

“As nações estão a apoiar as<br />

suas palavras com acções”, disse<br />

o secretário-geral da Nato,<br />

Anders Fogh Rasmussen, em<br />

entrevista colectiva após reunião<br />

com os ministros dos Negócios<br />

Estrangeiros da Nato.<br />

5 Bolívia<br />

Evo Morales à frente com mais de 50%<br />

Os partidos bolivianos encerraram<br />

quinta-feira a campanha<br />

para as eleições do próximo domingo,<br />

que deverão levar às urnas<br />

cinco milhões de pessoas. O<br />

presidente Evo Morales – apontado<br />

como grande favorito de<br />

acordo com as últimas sondagens<br />

– tenta sua primeira reeleição,<br />

e se vencer governará o<br />

país por mais cinco anos, até Janeiro<br />

de 2015.<br />

Além da Presidência, estão em<br />

jogo a formação da Assembleia<br />

Legislativa Plurinacional, órgão<br />

legislativo que substituirá o<br />

Congresso de acordo com a<br />

Constituição aprovada no princípio<br />

de 2009. O partido de Morales,<br />

o Movimento ao Socialismo<br />

(MAS), precisa obter a<br />

maioria qualificada de dois terços<br />

para “avançar nas suas revoluções<br />

indigenistas e socialistas”<br />

sem ter que negociar com<br />

seus opositores. Nos últimos<br />

dias, a corrida eleitoral foi marcada<br />

por uma polémica prota-<br />

“Pelo menos 25 países vão enviar<br />

mais forças para a missão<br />

em 2010”, reforçou.<br />

Rasmussen afirmou ainda esta<br />

medida, com a contribuição dos<br />

Estados Unidos, irá aumentar o<br />

número total de forças estrangeiras<br />

no Afeganistão para cerca<br />

de 140.000 e irá ajudar a combater<br />

uma insurgência Taliban.<br />

No entanto, na mesma reunião,<br />

os Estados Unidos disseram que<br />

pretendem começar a retirar alguns<br />

dos soldados do Afeganistão<br />

em meados de 2011, estabelecendo<br />

um prazo para as forças<br />

de segurança afegãs assumirem<br />

a responsabilidade do país.■<br />

gonizada pela Corte Nacional<br />

Eleitoral (CNE), que emitiu uma<br />

resolução que impede o voto de<br />

400.671 cidadãos que foram<br />

“observados” pelo órgão e precisam<br />

apresentar certidões de<br />

nascimento para poderem ir às<br />

urnas.<br />

Reyes Villa, ex-militar e ex-governador<br />

de Cochabamba, é o<br />

candidato da oposição mais<br />

bem colocado nas sondagens,<br />

concorrendo pelo <strong>Plano</strong> Progresso<br />

Para Bolívia-Convergência<br />

Nacional (PPB-CN). Chega<br />

às eleições com cerca de 20%<br />

das intenções de voto. ■<br />

Presidente tenta reeleição.<br />

David Mdzinarishvili / Reuters


Itália<br />

Fiat pede devolução<br />

de 500 mil Punto<br />

O grupo automóvel italiano Fiat<br />

alertou para o facto de aproximadamente<br />

500.000 modelos<br />

do Grande Punto e Grande<br />

Punto Abarth em toda a Europa<br />

terem uma “possível anomalia”<br />

na coluna de direcção. E emitiu<br />

mesmo um comunicado a relembrar<br />

os seus consumidores.<br />

“As pessoas estão a receber<br />

uma carta pedindo-lhes para<br />

devolver o veículo aos serviços<br />

de apoio da Fiat para fazer um<br />

controlo técnico”, disse uma<br />

fonte do grupo italiano.<br />

A Fábrica Italiana de Automóveis<br />

de Turim – popularmente<br />

conhecida pelo seu acrónimo<br />

FIAT – é um conglomerado empresarial<br />

fabricante de automóveis,<br />

sediado na cidade italiana,<br />

norte da Itália. Fazem<br />

parte do Grupo FIAT, as marcas<br />

Fiat, Ferrari, Alfa Romeo, Maserati,<br />

Lancia, Autobianchi, Innocenti,<br />

entre muitas outras, e<br />

recentemente a Chrysler, a<br />

DodgeeaJeep.■<br />

O desemprego nos Estados Unidos<br />

registou em Novembro uma<br />

quedainesperadaparaos10%,<br />

um sinal positivo que leva os<br />

analistas a acreditarem que a<br />

pior recessão desde a Grande<br />

depressão dos anos 30 está a<br />

chegar ao fim. O Departamento<br />

de Trabalho norte-americano<br />

avançou que as empresas demitiramemNovembro11milpessoas,<br />

um número bem menor do<br />

que o esperado, o que fez com<br />

que o índice de desemprego<br />

passasse de 10,2% para 10%.<br />

“Há uma moderação substancial<br />

na perda de empregos”, reconheceu<br />

a secretária do Trabalho,<br />

Hilda Solis, lembrando que<br />

só em Janeiro, mês em que o Barack<br />

Obama foi empossado, foram<br />

perdidos 740 mil empregos.<br />

O próprio presidente norteamericano,<br />

que participou sexta-feira<br />

numa reunião com eleitores<br />

na Pensilvânia, reconheceu<br />

que os dados de emprego<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 33<br />

Hannibal Hanschke / Reuters<br />

6 11<br />

10<br />

SUÍÇA: POLANSKI INICIA PRISÃO DOMICILIÁRIA<br />

7 CoreiadoNorte<br />

‘Jeans’ comunistas<br />

no mercado sueco<br />

Os primeiros ‘jeans’ feitos na<br />

Coreia do Norte estão à venda<br />

desde ontem na Suécia. Com a<br />

marca Noko Jeans, as calças<br />

podem ser adquiridas em 1.100<br />

lojas suecas e na Internet por<br />

150 euros, um montante superior<br />

ao salário mensal de um cidadão<br />

do regime estalinista liderado<br />

por Kim Jong.<br />

A ideia surgiu em 2007 quando<br />

três suecos de vinte anos, Jacó<br />

Aastrom, Tor Jakob Rauden e<br />

Källstigen Ohlsson contactaram<br />

as autoridades norte-coreanas.<br />

“Após um ano de reuniões<br />

formais, finalmente fomos<br />

autorizados a entrar no país”,<br />

disse em um comunicado<br />

o trio de inexperientes da moda e<br />

do comércio internacional,<br />

que inicialmente apenas tinham<br />

curiosidade em descobrir<br />

a Coreia do Norte. Porém,<br />

as calças não poderão, nunca,<br />

serem vendidas no país de<br />

origem, porque não são aceitos<br />

no código de vestimenta<br />

do regime de Kim Jong.<br />

A produção dos dois modelos,<br />

agora à venda, só começou<br />

em meados de 2009, depois<br />

de superar todos os tipos<br />

de obstáculos, “como sendo<br />

a negada ajuda da principal fábrica<br />

de roupas na Coreia do Norte”,<br />

dizem os jovens suecos.<br />

As calças nunca poderão ser vendidas<br />

na Coreia do Norte.<br />

Depois de pagar uma caução de três milhões de euros, o realizador Roman Polanski<br />

chegou ontem ao ‘chalet’ da família, na estância suíça de Gstaad. Enquanto aguarda a<br />

decisão das autoridades suíças de ser ou não extraditado para os EUA – por um caso de<br />

alegada pedofilia ocorrida há 32 anos –, Polanski, de 73 anos,ficará em prisão domiciliária,<br />

obrigado a usar uma pulseira electrónica. O realizador de filmes, como<br />

“Chinatown” ou o “Pianista”, está sob custódia suíça desde o passado dia 26 de<br />

Setembro, quando chegou a Zurique para receber um prémio de carreira.<br />

Banco de Espanha considera fundo de Zapatero “insuficiente”.<br />

8 Espanha<br />

Governo aprova Fundo de Economia<br />

Sustentável com 20.000 milhões<br />

O Governo espanhol aprovou<br />

ontem o Fundo de Economia<br />

Sustentável, dotado de 20.000<br />

milhões de euros, que vigorará<br />

em 2010 e 2011, para as quais o<br />

Instituto de Crédito Oficial<br />

(ICO) irá fornecer 10.000 milhões<br />

de euros. A medida entra<br />

em vigor no próximo dia 1 de Janeiro.<br />

A vice-primeiro-ministro,<br />

María Teresa Fernández de<br />

la Vega, em conferência de im-<br />

Juan Medina /Reuters<br />

prensa após o Conselho de Ministros,<br />

disse que o objectivo é<br />

“orientar o investimento privado<br />

para actividades sustentáveis<br />

que gerem emprego”. As instituições<br />

de crédito podem financiar<br />

até 50% dos projectos de<br />

sustentabilidade. O directorgeraldoDepartamentodoBanco<br />

de Espanha, José Luis Malo<br />

de Molina, já declarou a medida<br />

“insuficiente”. ■<br />

9 EUA<br />

Desemprego cai<br />

para 10% em Novembro<br />

EUA<br />

Bank of América<br />

coloca acções<br />

O Bank of America, o maior<br />

banco comercial dos Estados<br />

Unidos, arrecadou 12,963 mil<br />

milhões de euros, numa<br />

operação pública de venda de<br />

activos. Esta foi a maior<br />

colocaçãodecapitalemBolsa,<br />

desde 2000. O banco vendeu o<br />

equivalente a 1,29 mil milhões<br />

de acções – ao valor de 10,08<br />

euros cada –, através de<br />

activos que serão trocados por<br />

acções. Com os fundos<br />

angariados, o Bank of America<br />

planeia pagar a dívida de<br />

30.225,8 milhões de euros, que<br />

contraiu para com o Estado<br />

norte-americano, libertando-se<br />

das restrições impostas pelo<br />

governo.<br />

“É bom para o Bank of<br />

America, é um sinal positivo e<br />

precisava de acontecer”, disse<br />

o director do Thornburg<br />

Investment Management,<br />

Jason Brady à Bloomberg.<br />

Aquele responsável adiantou,<br />

no entanto, que isso não<br />

significa necessariamente que<br />

as acções do Bank of America<br />

sejam uma “coisa maravilhosa,<br />

porque eles gastaram uma<br />

fortuna para retirar” do seu<br />

capital a intervenção estatal.<br />

Em Maio, o banco angariou<br />

9.093 milhões de euros numa<br />

colocação de capital, com as<br />

acções a serem vendidas por<br />

7,2 euros cada, com o objectivo<br />

de fortalecer os seus rácios de<br />

capital.<br />

O banco tenciona pagar os<br />

29.800 milhões de euros que<br />

recebeu no âmbito do<br />

programa de alívio de activos<br />

tóxicos criado pelo Governo<br />

dos EUA no Outono do ano<br />

passado (TARP), pois quer verse<br />

livres dos constrangimentos<br />

a que ele obriga.<br />

divulgados indicam “uma notícia<br />

encorajadora”. Trata-se de<br />

“uma boa notícia”, disse, embora<br />

tenha reconhecido que “as<br />

boas tendências não pagam aluguer”,<br />

ou seja, ainda “há muito<br />

por fazer”.<br />

Desde que começou a recessão<br />

há dois anos, a maior economia<br />

do mundo perdeu 7,3 milhões<br />

de postos de trabalho, mas Hilda<br />

Solis sustentou que o plano<br />

de reactivação económica<br />

anunciado em Fevereiro “contribuiu<br />

para criação e protecção<br />

de 1,5 milhões de empregos”. ■<br />

Taxa cai duas décimas em Novembro.


34 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

EMPRESAS<br />

Finanças pressionam<br />

accionistas para encontrar<br />

solução estável na Cimpor<br />

Há uma nova relação de forças na cimenteira. Em representação da Bipadosa, Bayão<br />

Horta é o novo homem-forte da empresa, com o apoio de Manuel Fino e da Lafarge.<br />

Nuno Miguel Silva<br />

nuno.silva@economico.pt<br />

O Ministério das Finanças está a<br />

desenvolver diversas iniciativas<br />

discretas com o objectivo de apaziguar<br />

o clima de guerrilha interna<br />

que tem lavrado no conselho<br />

de administração da Cimpor. O<br />

Diário <strong>Económico</strong> apurou junto<br />

de várias fontes conhecedoras do<br />

processo que o ministro Teixeira<br />

dos Santos tem confidenciado aos<br />

colaboradores mais próximos que<br />

segue com “muita preocupação”<br />

as movimentações em torno da<br />

estrutura accionista e da composição<br />

da comissão executiva, órgão<br />

máximo de gestão da Cimpor.<br />

Além de ser a maior empresa<br />

industrialportuguesaeamaior<br />

multinacional do País, a Cimpor é<br />

detida indirectamente pelo Estado,<br />

através da Caixa Geral de Depósitos,<br />

com uma posição equivalente<br />

a 10% do respectivo capital<br />

social. E é maioritariamente<br />

por esse canal que as angústias do<br />

Ministério das Finanças face ao<br />

futurodacimenteiraestãoaser<br />

direccionadas.<br />

O Diário <strong>Económico</strong> apurou<br />

que nos últimos conselhos de administração<br />

o ambiente tem sido<br />

bastante frio entre os diversos<br />

membros, tendo mesmo alguns<br />

administradores deixado de comunicar<br />

entre si. Uma situação<br />

que veio em crescendo desde que<br />

a Teixeira Duarte (TD) denunciou<br />

oacordoparaqueaCimporconseguisse<br />

vender a posição na empresa<br />

detida em comum, a C+PA.<br />

Ricardo Bayão Horta, o ‘chairman’<br />

da Cimpor, decidiu cortar<br />

com uma relação de forte amizade<br />

pessoal com Pedro Maria Teixeira<br />

Duarte e de aliança estratégica<br />

duradora com a construtora,<br />

principal accionista da cimenteira.<br />

E o equilíbrio de forças na<br />

Cimpor mais uma vez mudou.<br />

O efeito mais directo dessa alteração<br />

de relações de poder foi a<br />

eleição, no conselho de administração<br />

de quinta-feira, de Ricardo<br />

Bayão Horta, para presidente da<br />

comissão executiva (CEO). A favor<br />

votaram a Bipadosa, de que o<br />

CIMPOR A DESVALORIZAR<br />

As acções da Cimpor<br />

encerraram a sessão de ontem<br />

aperder0,88%para5,059<br />

euros por acção.<br />

5,5<br />

5,4<br />

5,3<br />

5,2<br />

5,1<br />

5,0<br />

04-11-2009<br />

Fonte: Bloomberg.<br />

Teixeira dos<br />

Santos, ministro<br />

das Finanças,<br />

não tem tutela<br />

directa sobre<br />

a Cimpor, mas<br />

a instabilidade<br />

na administração<br />

está a causar-lhe<br />

preocupações.<br />

Ricardo Bayão<br />

Horta, acumula<br />

desde a passada<br />

quinta-feira<br />

ocargo<br />

de ‘chairman’ com<br />

o de presidente<br />

da comissão<br />

executiva<br />

da Cimpor.<br />

04-12-2009<br />

novo homem-forte da Cimpor é<br />

representante, além do bloco formado<br />

pela Investifino, de Manuel<br />

Fino, e pelos franceses da Lafarge,<br />

maior grupo cimenteiro mundial.<br />

Teixeira Duarte perde peso<br />

Esta aliança já perdura desde a assembleia-geral<br />

da Cimpor de 13<br />

de Maio, em que estes dois accionistas<br />

fizeram frente a Pedro MariaTeixeiraDuarte,massóagora<br />

conseguiram nomear um CEO independente<br />

da construtora porque<br />

Ricardo Bayão Horta decidiu<br />

mudar de campo.<br />

Desde essa assembleia-geral<br />

que Pedro Maria tem perdido peso<br />

nas decisões da Cimpor. Deixou<br />

de ser o CEO, integrou apenas a<br />

comissão executiva como vogal,<br />

embora tenha conseguido colocar<br />

Jorge Salavessa Moura no cargo.<br />

No final de Agosto, aparentemente<br />

descontente com as decisões de<br />

gestão na comissão executiva,<br />

abandona este órgão, abrindo<br />

mais uma brecha, que foi de imediato<br />

aproveitada pelos opositores<br />

àsuaestratégia.Agora,comasaída<br />

de Salavessa Moura de CEO e<br />

da comissão executiva, e com a<br />

nova aliança entre a Bipadosa, a<br />

LafargeeaInvestifino,parecejá<br />

mandar muito pouco na Cimpor,<br />

apesar de ser o maior accionista,<br />

com uma posição de 22%.<br />

AC+PAfoiagotadeáguaque<br />

provocou mais esta batalha entre<br />

os diversos blocos accionistas representados<br />

na equipa gestora da<br />

Cimpor. Os administradores não<br />

afectos à TD foram apanhados de<br />

surpresa quando, em Julho, Pedro<br />

Maria denunciou o entendimento<br />

para que a cimenteira alienasse os<br />

seus 48% na empresa. Fino, Lafarge,<br />

Berardo e outros accionistas<br />

sempre criticaram o facto de a<br />

Cimpor ter sido arrastada para<br />

esta “aventura”, que implicou investimentos<br />

em unidades industriais<br />

concorrentes da Cimpor em<br />

mercados como a Namíbia ou a<br />

Ucrânia, além de ter provocado<br />

graves prejuízos financeiros, devido<br />

à queda das acções que a<br />

C+PA tem no BCP. É um assunto<br />

que continua por resolver. ■<br />

OS PONTOS DA DISCÓRDIA<br />

● Manuel Fino, a Lafarge<br />

e outros gestores e accionistas<br />

revoltaram-se contra o facto<br />

de a Cimpor estar a servir<br />

maioritariamente a estratégia<br />

da Teixeira Duarte.<br />

● A oposição a Pedro Maria<br />

Teixeira Duarte obrigou-o<br />

a abandonar o cargo de<br />

presidente da comissão executiva<br />

da Cimpor, na assembleia-geral<br />

de 13 de Maio passado, em nome<br />

de uma gestão mais profissional<br />

e independente na cimenteira.<br />

● Jorge Salavessa Moura foi<br />

a solução de consenso entre os<br />

diversos blocos accionistas para<br />

ocupar o cargo de CEO. Já depois<br />

de Pedro Maria ter abandonado<br />

a comissão executiva da Cimpor,<br />

em final de Agosto, vários blocos<br />

accionistas consideraram<br />

que a sua gestão não era<br />

suficientemente independente<br />

em relação à construtora.<br />

Foi substituído por Bayão Horta<br />

e regressou ao cargo de vogal<br />

do conselho de administração.<br />

Pedro Maria Teixeira Duarte<br />

está a perder poder no conselho<br />

de administração da Cimpor.<br />

Três meses<br />

Nuno Miguel Silva<br />

nuno.silva@economico.pt<br />

A Caixa Geral de Depósitos saiu<br />

novamente derrotada na batalha<br />

que esta semana se desenrolou<br />

nos comandos da Cimpor. Jorge<br />

Tomé, nomeado para a administração<br />

da cimenteira pelo banco<br />

estatal, votou contra a nomeação<br />

de Ricardo Bayão Horta como<br />

presidente da comissão executiva<br />

da empresa, tendo ficado ao lado<br />

da construtora Teixeira Duarte<br />

neste mais recente contar de espingardas<br />

na Cimpor.<br />

Mas, esta sintonia de posições<br />

é apenas aparente. Porque a CGD<br />

quer tentar uma solução de consensoeporquetambémdefende<br />

uma gestão independente o mais<br />

profissionalizada possível, evi-


Galp encaixa 46 milhões com venda à Gestmin<br />

A Galp Energia concluiu o processo de venda à Gestmnin - holding de<br />

Manuel Champalimaud - de alguns activos anteriormente controlados<br />

pela ExxonMobil, anunciou a petrolífera em comunicado à CMVM. Com<br />

esta operação, a empresa liderada por Ferreira de Oliveira encaixou um<br />

total de 46 milhões de euros. A venda “visou dar cumprimento aos<br />

compromissos assumidos pela Galp Energia perante a Comissão<br />

Europeia, no final de 2008”, refere o comunicado.<br />

para a CGD propor nome consensual<br />

Faria de Oliveira,<br />

presidente da CGD,<br />

está a tentar<br />

transmitir<br />

as sensibilidades<br />

do Governo<br />

e estimular<br />

um ambiente<br />

de pacificação<br />

na Cimpor.<br />

tandooclimadeguerrilhaquese<br />

tem vivido nos últimos meses.<br />

Mas, como a Caixa não conseguiu<br />

apresentar um nome alternativo<br />

credível, só lhe restou votar<br />

contra, porque, no seu entender,<br />

não é benéfico que o ‘chairman’<br />

acumule essas funções com<br />

as de administrador executivo,<br />

aliás, como o próprio governo das<br />

sociedades cotadas recomenda.<br />

A CGD, em coordenação com<br />

o Governo, designadamente com<br />

o Ministério das Finanças, tem<br />

agora pouco mais de três meses<br />

para encontrar e apresentar um<br />

nome que mobilize uma plataforma<br />

alargada de apoio entre os diversos<br />

blocos accionistas da<br />

Cimpor.<br />

A próxima assembleia-geral<br />

da empresa, para aprovação das<br />

contas anuais, deverá ocorrer entre<br />

final de Março e início de<br />

Maio, mas não tem poderes electivos.<br />

Qualquer substituição ou<br />

alteração da composição dos órgãos<br />

sociais da empresa, incluindo<br />

o conselho de administração e<br />

acomissãoexecutiva,terádeser<br />

feita por cooptação proposta pelos<br />

actuais administradores.<br />

Em tempos, foram ventilados<br />

os nomes de António Viana Baptista<br />

e Francisco Lacerda como os<br />

preferidos de diversos accionistas<br />

paracomandarosdestinosda<br />

Cimpor e poderão se essas as<br />

mais prováveis alternativas se<br />

neste período que vai decorrer<br />

até à próxima assembleia-geral<br />

Ricardo Bayão Horta não conseguir<br />

convencer a maioria dos accionistas<br />

da cimenteira. ■<br />

ESTRUTURA ACCIONISTA<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 35<br />

Bruno Barbosa<br />

A Teixeira Duarte é a maior<br />

accionista da Cimpor, seguida<br />

da francesa Lafarge.<br />

Outros<br />

Teixeira Duarte<br />

29,8 22,9<br />

10<br />

CGD<br />

10<br />

Fino<br />

Fonte: Bloomberg.<br />

Lafarge<br />

17,3<br />

10<br />

F. Pensoes BCP<br />

CRONOLOGIA DO GRUPO<br />

2001<br />

O Governo vende à Teixeira<br />

Duarte a última tranche de<br />

privatização da Cimpor . Pedro<br />

Queiroz, concorrente preterido<br />

através da Secil, reclama para os<br />

tribunais e acusa a Teixeira<br />

Duarte de actuar em concertação<br />

comoBCPeaLafarge.Essas<br />

acusações nunca foram provadas.<br />

2008<br />

Na sequência da guerra no BCP,<br />

verifica-se um realinhamento de<br />

blocos accionistas na Cimpor .<br />

Manuel Fino passa a entender-se<br />

com os franceses da Large, em<br />

oposição a Pedro Maria. As<br />

acções do empresário são dadas<br />

como garantia à CGD, que passa a<br />

serumnovoaccionistade<br />

referência da cimenteira.<br />

13/05/2009<br />

Após meses de movimentações<br />

nos bastidores, a assembleia<br />

geral de 13 de Maio demora até<br />

chegar a uma lista de consenso<br />

para a administração da Cimpor<br />

entre 2009 e 2012. No final,<br />

ganha Pedro Maria, conseguindo<br />

nomear oito membros afectos à<br />

sua linha de actuação, num total<br />

de 15 administradores. Além<br />

disso, mantém o cargo de<br />

presidente da comissão executiva<br />

da empresa.<br />

27/08/2009<br />

Inesperadamente, Pedro Maria<br />

Teixeira Duarte anuncia ao<br />

mercado o abandono das funções<br />

de presidente da comissão<br />

executiva da Cimpor , alegando<br />

razões “profissionais”. A relações<br />

de forças passa a ter uma outra<br />

configuração e percebe-se que<br />

nos bastidores a guerra entre os<br />

dois blocos continua a fervilhar. A<br />

vaga é preenchida por Pedro<br />

Abecassis Empis, um gestor<br />

próximo de Manuel Fino.<br />

03/12/2009<br />

O conselho de administração<br />

depõe o presidente-executivo,<br />

Jorge Salavessa Moura,<br />

substituindo-o pelo ‘chairman’<br />

Bayão Horta.


36 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

EMPRESAS<br />

Nissan investe 250<br />

milhões em fábrica<br />

de baterias em Aveiro<br />

O grupo franco-japonês escolheu a cidade para a fábrica de<br />

baterias para carros eléctricos que vai criar 200 empregos.<br />

Ana Maria Gonçalves<br />

ana.goncalves@economico.pt<br />

A Renault-Nissan já decidiu.<br />

Aveiro será a região onde ficará<br />

instalada a futura fábrica de baterias<br />

para carros eléctricos, um investimento<br />

de 250 milhões de eurosqueéumdospilaresestratégicos<br />

do projecto-piloto que visa à<br />

criação de uma rede de abastecimento<br />

para este tipo de veículos.<br />

A escolha será tornada pública<br />

na próxima terça-feira, numa cerimónia,<br />

com pompa e circunstância,<br />

a realizar em Lisboa e que<br />

conta com a presença do próprio<br />

Carlos Ghosn, presidente da<br />

construtora automóvel franconipónica,<br />

e do chefe do Executivo,<br />

José Sócrates.<br />

Portugal foi, a par do Reino<br />

Unido, um dos dois pólos mundiais<br />

seleccionados pela Reunault-Nissan<br />

para a instalação de<br />

unidades de baterias de iões de lítio<br />

– uma tecnologia de ponta –<br />

destinadas ao abastecimento dos<br />

futuros carros eléctricos. A nova<br />

fábrica da Renault-Nissan deverá<br />

criar 200 postos de trabalho, estando<br />

o seu arranque previsto<br />

para 2012. A capacidade estimada<br />

deste complexo industrial é de 60<br />

mil unidades anuais.<br />

AopçãoporAveiro,emdetrimento<br />

de Sines, ficou a dever-se à<br />

proximidade de outra fábrica do<br />

grupo Renault-Nissan e às sinergias<br />

daí decorrentes, além da rede<br />

de acessos rodo-ferroviários.<br />

A Companhia Aveirense de<br />

Componentes para a Indústria<br />

Automóvel (CACIA), com quase<br />

três décadas de existência, fornece<br />

exclusivamente fábricas no estrangeiro<br />

da aliança Renault-Nissaneéactualmenteasegunda<br />

maior unidade industrial do sector<br />

automóvel em território nacional,<br />

com um volume de negócios<br />

de 260 milhões e 1.100 trabalhadores.<br />

A Renault estava, no final<br />

do ano passado a negociar<br />

com a AICEP um pacote de incentivos<br />

para um investimento de<br />

cerca de 13 milhões de euros em<br />

CACIA, onde já produz componentes<br />

para caixas de velocidade e<br />

partes de bombas de óleo.<br />

Projecto âncora<br />

Apontado como um investimento<br />

âncora, a nova fábrica de<br />

baterias promete ser um pólo de<br />

atracção para outros projectos<br />

nesta área de negócios.<br />

Carlos Ghosn<br />

CEO da aliança<br />

Renault Nissan<br />

A Renault Nissan estava<br />

dividida entre Sines e Aveiro<br />

para a instalação da fábrica de<br />

baterias para carros eléctricos,<br />

mas a cidade do Vouga acabou<br />

por levar a melhor.<br />

PALAVRA-CHAVE<br />

✽<br />

Leaf<br />

É o nome da primeira viatura<br />

eléctrica que será comercializada<br />

pela Nissan, a partir de 2010.<br />

Totalmente neutro para o<br />

ambiente, não tem escape, nem<br />

nenhum mecanismo que queime<br />

gasolina, apenas baterias de iões<br />

de lítio. Promete uma autonomia<br />

de 160 quilómetros, sem<br />

necessitar de carregamento.<br />

Em Junho passado, foi lançada<br />

aredenacionaldecarregamento<br />

para veículos eléctricos (Mobi-E),<br />

que prevê 320 locais de abastecimento<br />

de carros eléctricos em<br />

2010 e 1300, dentro de dois anos.<br />

O projecto arranca com 21 cidades<br />

e algumas das organizações<br />

e empresas de referência<br />

nacional, como a Inteli, Centro<br />

para a Excelência e Inovação da<br />

Indústria Automóvel, EDP Inovação,<br />

Efacec, Novabase, Critical<br />

Software.<br />

A intenção da Renault-Nissan<br />

é criar dentro do país um mercado<br />

de carros movidos a electricidade<br />

que servirá de rampa de lançamento<br />

para o resto do mundo.<br />

Mas muito está ainda por fazer.<br />

O Governo só esta semana<br />

deu mais um passo decisivo para<br />

agilizar este projecto. Deu luz<br />

verde à regulamentação, acesso<br />

e exercício das actividades relativas<br />

à mobilidade eléctrica, estabelecendo,<br />

igualmente, as regras<br />

destinadas à criação de uma<br />

rede piloto para a mobilidade<br />

eléctrica, tendo em vista a introdução<br />

e massificação deste<br />

tipo de carros.<br />

O diploma posiciona Portugal<br />

como pioneiro na adopção de<br />

novos modelos para a mobilidade,<br />

sustentáveis do ponto de vista<br />

ambiental, que optimizem a<br />

utilização racional de energia<br />

eléctrica e que aproveitem as<br />

vantagens da energia produzida<br />

a partir de fontes renováveis.<br />

Esta rede vai permitir a qualquer<br />

cidadão ou empresa utilizar<br />

o seu veículo eléctrico e carregá-lo<br />

em qualquer ponto da<br />

rede de carregamento no País,<br />

utilizando um cartão de carregamento,<br />

que incluirá soluções<br />

de pré-pagamento.<br />

O novo Decreto-Lei cria,<br />

ainda, um subsídio de cinco mil<br />

euros à aquisição, por particulares,<br />

de veículos automóveis<br />

eléctricos, o qual poderá atingir<br />

os 6.500 euros no caso de haver<br />

simultaneamente abate de veículo<br />

automóvel de combustão<br />

interna, sujeito às condições actualmente<br />

vigentes em matéria<br />

de abate de veículos.<br />

O Governo prevê, também,<br />

adoptar outras medidas nesta<br />

área, como a fixação de majoração<br />

de custo em sede de IRC, em<br />

aquisições de frotas de veículos<br />

eléctricos pelas empresas, em<br />

termos a definir. ■<br />

A estratégia<br />

da Renault-Nissan<br />

passa pela aposta nos<br />

veículos eléctricos.<br />

TRÊS PERGUNTAS A...<br />

FERREIRA NUNES<br />

Presidente da ANECRA<br />

“Ainda há muitos<br />

obstáculos<br />

aultrapassar”<br />

O desafio está lançado. E a ANE-<br />

CRA - Associação Nacional das<br />

Empresas de Comércio e Reparação<br />

Automóvel, que representa<br />

as oficinas e stands, através<br />

do seu presidente, Ferreira Nunes,<br />

garante ao <strong>Económico</strong> que<br />

o sector está preparado para<br />

responder ao novo projecto do<br />

carro eléctrico.<br />

Como é que a ANECRA<br />

encaraoprojectodocarro<br />

eléctrico?<br />

Está a manifestar-se como uma<br />

corrida entre construtores<br />

automóveis, em termos de<br />

investimento e


desenvolvimento, numa<br />

perspectiva de obterem ganhos<br />

de massa crítica no que se<br />

refere a questões<br />

concorrenciais e de mercado.<br />

Porenquanto,oprojectodo<br />

carro eléctrico será parte de<br />

um ‘mix’ de propulsores nos<br />

automóveis e acompanham<br />

várias alternativas à gasolina e<br />

ao diesel, onde se conta<br />

também o hidrogéneo, o ar<br />

comprimido, o GPL (gás de<br />

petróleo liquefeito) e o GNC<br />

(gás natural comprimido), bem<br />

com os híbridos.<br />

Para os carros eléctricos ainda<br />

há muitos obstáculos a<br />

ultrapassar, com destaque para<br />

o fabrico de baterias, a par da<br />

autonomia que é muito<br />

limitada. O terceiro ponto<br />

prende-se com a rede de<br />

abastecimento.<br />

Fica por interpretar quais são<br />

as vontades dos consumidores,<br />

enquanto houver soluções,<br />

sobretudo no diesel, face às<br />

quais as soluções eléctricas não<br />

são vencedoras.<br />

Osectordocomércioe<br />

reparação automóvel está<br />

preparado para responder a<br />

este desafio?<br />

Sobre a rede de distribuição<br />

automóvel não há qualquer<br />

Jacky Naegelen/Reuters<br />

problema para os operadores,<br />

dado que, além da formação<br />

específica dos produtos, os<br />

carros eléctricos poderão ser<br />

distribuídos-vendidos da mesma<br />

forma como hoje acontece com<br />

os modelos híbridos e os outros<br />

produtos no mercado.<br />

O que será necessário fazer<br />

adicionalmente?<br />

Para além da necessidade de<br />

conhecimento e formação<br />

específica para os produtos que<br />

surgirem no mercado, não<br />

parece ser díficil aproveitar as<br />

redes de distribuição existentes<br />

ou criar outras similares. ■<br />

O carro eléctrico promete alterar<br />

o quotidiano e os hábitos de<br />

consumo dos portugueses.<br />

Hermínia Saraiva<br />

herminia.saraiva@economico.pt<br />

O que salta à vista são as vantagens<br />

para o meio ambiente, mas<br />

os carros eléctricos também trazem<br />

benefícios para o bolso dos<br />

consumidores.<br />

1<br />

QUANDO ESTARÃO DISPONÍ-<br />

VEIS OS PRIMEIROS CARROS?<br />

A Mitsubishi promete ter os primeiros<br />

carros nas ruas japonesas<br />

em Abril de 2010. Na Europa, incluindo<br />

Portugal, o i-MiEV chegará<br />

alguns meses depois. Já o<br />

carro da Renault Nissan - grupo<br />

que vai construir uma fábrica de<br />

baterias em Aveiro - deve estar à<br />

venda em Portugal na Primavera<br />

de 2011.<br />

2<br />

QUANTO VAI CUSTAR UM CAR-<br />

RO ELÉCTRICO ?<br />

A Mitsubishi já disse que o i-MiEV<br />

custará cerca de 32.600 euros<br />

(4.380 mil ienes). A Renault Nissan<br />

ainda não definiu um preço,<br />

mas diz que deverá rondar entre<br />

20 mil a 30 mil euros, semelhante<br />

aos carros familiares.<br />

3<br />

QUANTO CUSTARÁ O CARREGA-<br />

MENTO DAS BATERIAS?<br />

O carro eléctrico irá gastar em<br />

média pouco mais de um euro por<br />

cada 100 quilómetros. A este valor<br />

há que adicionar as taxas de serviço<br />

que serão criadas. As contas<br />

partem de um consumo de 10 a 15<br />

kw/h a uma tarifa de 11 cêntimos<br />

por kilowatt, tal como é hoje paga<br />

pelos consumidores domésticos.<br />

Para fazer o mesmo percurso e<br />

partindo de um consumo de sete<br />

litros por cada 100 quilómetros,<br />

um carro a gasolina irá gastar cercaoitoanoveeuros.<br />

4<br />

QUANTO TEMPO DEMORA<br />

A CARREGAR UMA BATERIA<br />

ELÉCTRICA?<br />

Existem dois tipo de carregamentos<br />

- lento [casa] e rápido [rua],<br />

mas tempo de carregamento irá<br />

sempre de acordo com o modelo.<br />

TantonocasodaNissan,comoda<br />

Mitsubishi , o carregamento total<br />

da bateria demorará entre seis a<br />

oito horas em casa. O utilizador<br />

pode sempre optar por carregar<br />

apenas 80% da bateria o que levarácercade30minutos.Seestá<br />

com pressa, o condutor pode trocar<br />

de bateria nos locais de abastecimento.<br />

Uma operação que<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 37<br />

Oito coisas<br />

que precisa<br />

de saber sobre<br />

carros eléctricos<br />

deve demorar cerca de quatro minutos.<br />

5<br />

QUAIS OS BENEFÍCIOS FISCAIS<br />

NA COMPRA DE UM CARRO<br />

ELÉCTRICO ?<br />

Será criado um sistema de benefícios<br />

fiscais específico para os veículos<br />

eléctricos. Para já, particulares<br />

e empresas terão acesso às<br />

mesmas regalias que já são atribuídas<br />

aos híbridos. Os automobilistas<br />

podem deduzir em sede<br />

de IRS até 796 euros do montante<br />

gasto, enquanto que para as empresas<br />

está contemplado uma dedução<br />

de 30%.<br />

6<br />

QUANTO PESAM AS BATERIAS<br />

ELÉCTRICAS?<br />

No caso das baterias fabricadas<br />

pela NEC (parceira da Nissan neste<br />

projecto) e que serão utilizadas<br />

nos carros da Nissan pesam 25O<br />

quilos.<br />

7<br />

QUAL A VELOCIDADE MÁXIMA<br />

QUE O CARRO ATINGE?<br />

No caso do carro eléctrico da Nissan,<br />

poderá atingir uma velocidade<br />

máxima de 145 km/hora.<br />

8<br />

QUANTO TEMPO DEMORA UMA<br />

VIAGEM DE LISBOA AO PORTO?<br />

Ir de Lisboa ao Porto irá demorar<br />

sensivelmente três horas, o<br />

mesmo que se fosse num carro<br />

tradicional. No entanto, como a<br />

autonomia do carro eléctrico é<br />

de 160 quilómetros é preciso<br />

efectuar uma paragem nos postos<br />

de abastecimento de 30 minutos<br />

que permitirá carregar a<br />

bateria a 100%. Segundo o INE,<br />

95% dos condutores portuguesesfazempordiamenosde45<br />

km. ■ com S.P.M. e A.M.G.<br />

Carlos Zorrinho,<br />

secretário de<br />

Estado da Energia<br />

e Inovação, herdou<br />

do seu antecessor<br />

oprojectode<br />

criação de uma<br />

rede para o<br />

abastecimento<br />

eléctrico.


38 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

EMPRESAS<br />

O presidente<br />

da Associação<br />

Nacional<br />

de Farmácias,<br />

João Cordeiro.<br />

Concorrência questiona controlo da<br />

Glintt pela Associação de Farmácias<br />

Queixas levaram Autoridade da Concorrência a obrigar a Farminvest a notificar a operação de fusão.<br />

Hermínia Saraiva<br />

herminia.saraiva@economico.pt<br />

Ano e meio depois de concretizada,<br />

a fusão da Consiste – da<br />

Associação Nacional de Farmácias<br />

– com a Pararede pode voltar<br />

à estaca zero. “Uma queixa<br />

de terceiros” levou a Autoridade<br />

da Concorrência (AdC) a obrigar<br />

à notificação oficiosa da operação,<br />

deixando o futuro da empresa<br />

em aberto.<br />

A notificação oficiosa, confirmada<br />

ontem no site da AdC,<br />

surge depois de, ao que o <strong>Económico</strong><br />

apurou, o regulador ter<br />

recebido queixas que chamaram<br />

a atenção para a operação. Contactada<br />

pelo <strong>Económico</strong>, a AdC<br />

recusou comentar esta situação.<br />

Agora, a operação de concentração<br />

segue os trâmites<br />

normais podendo ter um de três<br />

desfechos: a Concorrência<br />

aprova a fusão, aprova mas impôe<br />

remédios ou chumba a operação.<br />

“Num cenário teórico, a<br />

AdC pode ordenar a anulação da<br />

fusão, o que obrigaria a repor a<br />

situação inicial e levar à nulida-<br />

de de todos os actos jurídicos<br />

realizados pela nova empresa”,<br />

diz um advogado especialista<br />

em concorrência contactado<br />

pelo <strong>Económico</strong>.<br />

A Lei da Concorrência diz<br />

que devem ser notificadas à AdC<br />

todas as operações que criem ou<br />

reforcem uma posição de mercado<br />

superior a 30% ou, em al-<br />

A Glint, presidida<br />

por Fernando Costa<br />

Freire, tem como<br />

principal accionista<br />

a Farminveste,<br />

holding que<br />

concentra as<br />

participações<br />

empresarias da<br />

ANF.<br />

ternativa, as operações em que o<br />

volume de negócios conjunto,<br />

realizado no mercado nacional,<br />

de duas das empresas envolvidas<br />

seja superior a 150 milhões<br />

de euros. A Associação Nacional<br />

de Farmácias, que controlava a<br />

Consiste, e a Pararede terão<br />

considerado que nenhum destes<br />

critérios era aplicável.<br />

“Provavelmente as empresas<br />

estariam convencidas que não<br />

precisariam de fazer a notificação”,<br />

diz Pedro Pitta Barros,<br />

professor universitário. Além de<br />

que, acrescenta este especialista<br />

em matérias de concorrência,<br />

“são relativamente raros os casos<br />

em que não há notificação.<br />

As empresas preferem errar ao<br />

notificar uma operação que não<br />

o exigia do que falhar a notificação<br />

e ser sujeitas às consequências”.<br />

Além de ver a fusão posta<br />

em causa, a Glintt pode ainda<br />

ser obrigada a, de acordo com a<br />

lei da Concorrência, pagar à<br />

Adcumamultade1%dovolume<br />

de negócios de 2008 – 4,2<br />

milhões de euros.<br />

As acções da Glintt foram<br />

ontem suspensas na Euronext<br />

Lisboa, depois da AdC ter publicado<br />

um anúncio em que dava a<br />

conhecer o facto da Farminveste<br />

ter notificado o regulador sobre<br />

a “aquisição do controlo exclusivo<br />

sobre a Glintt”. A Comissão<br />

de Mercado de Valores<br />

Mobiliários decidiu então suspender<br />

as acções até que a Glintt<br />

esclarecesse o mercado, apesar<br />

da empresa ter já informado a 10<br />

de Novembro que a AdC tinha<br />

solicitado à Farminvest que<br />

procedesse “à notificação da<br />

operação de fusão da Consiste<br />

na Pararede, por entender que<br />

essa notificação é obrigatória”.<br />

A Glintt é o resultado da fusão<br />

da Pararede com a Consiste,<br />

empresa que era controlada esclusivamente<br />

pela Farminveste,<br />

holdingqueconcentraegereas<br />

participações do universo empresarial<br />

da Associação Nacional<br />

de Farmácias. Depois da fusão<br />

e de um aumento de capital<br />

concretizado por via da emissão<br />

de acções, a Farminveste passou<br />

a deter, 49,8% do capital da<br />

nova empresa. ■<br />

ACCIONISTAS<br />

Paulo Figueiredo<br />

A Farminvest da ANF controla<br />

a maioria do capital da Glintt.<br />

Empresa % de Capital<br />

Farminveste 49,83<br />

José Ribeiro Gomes 2,98<br />

UBS 2,05<br />

BPI 2,03<br />

Free float<br />

Fonte: Glintt<br />

43,11


40 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

EMPRESAS<br />

Saiba como as estratégias<br />

desportivas afectam<br />

as contas das SAD<br />

Benfica, FC Porto e Sporting têm diferentes estratégias no ataque ao campeonato<br />

nacional. Opções desportivas que se reflectem nas contas das SAD dos três clubes.<br />

Hugo Real<br />

hugo.real@economico.pt<br />

Os “três grandes” do futebol<br />

português seguiram, ao longo<br />

dos últimos anos, diferentes estratégias<br />

desportivas. E essas opções<br />

refelctem-se cada vez mais<br />

nas contas das SAD dos clubes.<br />

O FC Porto tem optado pela<br />

compra de jovens jogadores,<br />

apostando na sua valorização,<br />

através da presença em provas<br />

como a Liga dos Campeões, para<br />

realizar mais valias posteriores.<br />

FoiocasodeLisandroLópez,<br />

Lucho González e Cissokho,<br />

transaccionados este Verão e que<br />

permitiram ao clube um encaixe<br />

próximo dos 60 milhões de euros.<br />

Valor que permitiu ao clube<br />

encerrar este trimestre com um<br />

lucro de 23,5 milhões de euros,<br />

sendo o único dos três com um<br />

resultado positivo. Além disso as<br />

vendas serviram para reforçar os<br />

capitais próprios e retirar o clube<br />

da situação de falência técnica<br />

(ver caixa).<br />

Ao contrário do clube da cidade<br />

Invicta, o Benfica tem optado<br />

pela manutenção dos seus jogadores,<br />

não realizando grandes<br />

encaixes com transferências.<br />

Pelo contrário, tem investido<br />

mais de 20 milhões de euros por<br />

ano em aquisições, como foi o<br />

caso de Saviola, Ramires e Javi<br />

Garcia. Com esta estratégia, os<br />

resultados do clube têm sido<br />

afectados. Ou seja, A SAD registou<br />

um prejuízo de 6,1 milhões<br />

de euros no trimestre, tendo<br />

agravado a situação dos capitais<br />

próprios, que agora se encontram<br />

negativos em 17,9 milhões.<br />

Já o Sporting tem apostado<br />

tudo na formação, com a incorporação<br />

de jovens atletas da aca-<br />

demia na equipa principal de futebol.<br />

Com esta estratégia, as<br />

aquisições ou vendas têm sido<br />

praticamente nulas nos últimos<br />

anos. Sem estas mais valias o<br />

clube tem fechado as contas no<br />

vermelho. Por exemplo, no último<br />

trimestre, a SAD teve um<br />

prejuízo de 2,4 milhões.<br />

As mais valias são, de resto,<br />

essenciais para o equilíbrio financeiro<br />

dos clubes. Esteéocaso<br />

do FC Porto. Apesar de ser o únicodostrêscomlucros,esseresultado<br />

deve-se à s mais valias.<br />

Isto porque o clube da Invicta é<br />

também o único com proveitos<br />

operacionais inferiores aos cus-<br />

AS ESTRATÉGIAS<br />

● FC Porto tem apostado na<br />

contratação de jovens<br />

promessas. O objectivo é a<br />

valorização dos atletas para<br />

posterior realização de mais<br />

valias.<br />

● Nas últimas épocas o Benfica<br />

optou por não vender os<br />

principais jogadores, investindo<br />

ainda cerca de 20 milhões por<br />

ano na compra de jogadores de<br />

renome, como Aimar e Saviola.<br />

● A estratégia do Sporting passa<br />

pela incorporação na equipa<br />

principal do jogadores da sua<br />

Academia. Nas últimas épocas,<br />

há poucas compras e vendas de<br />

relevo a registar.<br />

tos operacionais. O clube fechou<br />

o primeiro trimestre desta época<br />

com 14,5 milhões de receitas<br />

(um crescimento de 22,9%), insuficiente<br />

para cobrir os custos<br />

de 16,1 milhões, que aumentaram<br />

1,9%.<br />

JáoBenficaéoclubemais<br />

“saudável” neste capítulo. Isto<br />

porque é a equipa que gera mais<br />

receitas operacionais, 15,7 milhões<br />

(um crescimento de<br />

19,8%), além de ter custos inferiores<br />

ao do rival nortenho. No<br />

total, os custos do Benfica atingiram<br />

os 14,2 milhões. A situação<br />

mais equilibradaéadoSporting,<br />

que neste trimestre obteve 11 milhões<br />

em receitas (queda de<br />

21,4%) e gastou 10,1 milhões.<br />

No entanto, não se pode dissociar<br />

a performance desportiva<br />

das receitas. Isto porque uma fatia<br />

importante dos proveitos dos<br />

clubes advém das receitas de bilheteira,<br />

pagamento de quotas e,<br />

em grande parte, dos prémios de<br />

participação em provas europeias.<br />

A queda de receitas do<br />

Sporting, por exemplo, é explicada<br />

em grande parte pela ausência<br />

do clube da fase de grupos<br />

da Liga dos Campeões.<br />

Comtrêsmodelosdistintose<br />

com as conhecidas dificuldades<br />

financeiras dos clubes nacionais,<br />

está ainda por provar qual a melhor<br />

estratégia. Entretanto, não<br />

se pode esquecer que o passivo<br />

conjunto dos três grandes é já de<br />

515 milhões de euros. E isto falando<br />

apenas dos números das<br />

SAD.Asomadopassivodosclubes<br />

ao das SAD pode atirar este<br />

valor para perto dos 800 milhões<br />

de euros, aproximadamente o<br />

mesmo valor que o Estado português<br />

pagou pela construção da<br />

ponte Vasco da Gama.■<br />

ANÁLISE RUI OLIVEIRA E COSTA, PRESIDENTE DA EUROSONDAGEM E ADEPTO DO SPORTING<br />

Futebol português tem passivo de mil milhões<br />

Os números conhecidos esta semana<br />

não surpreendem quem<br />

acompanha a actividade do futebol.<br />

O FC Porto tem os melhores<br />

resultados, devido às receitas<br />

provenientes da venda de direitos<br />

desportivos, uma área onde tem<br />

tido bons resultados. Já o Sporting<br />

não teve estas receitas, o que<br />

explica o resultado negativo. O<br />

mesmo acontece com o Benfica,<br />

que sofre também as consequências<br />

de estar fora da Liga dos<br />

Campeões há várias épocas.<br />

No entanto, é preciso ver que<br />

os números que são públicos dizemrespeitoapenasàsSADenão<br />

reflectem o passivo dos clubes.<br />

Para se ter uma ideia, o passivo<br />

do Benfica é superior a 400 milhões<br />

de euros e os do Sporting e<br />

do Porto são superiores a 200<br />

milhões. E se aos três grandes se<br />

juntar os restantes clubes, vemos<br />

que o passivo do futebol português<br />

é de cerca de mil milhões de<br />

euros. É um passivo assente num<br />

PALAVRA-CHAVE<br />

✽<br />

Falência técnica<br />

Com a realização de mais-valias<br />

com as transferências, o FC Porto<br />

aumentou os capitais próprios para<br />

46,2 milhões de euros e voltou a<br />

cumprir o artigo 35º do Código das<br />

Sociedades Comerciais, que obriga<br />

a que os capitais próprios sejam<br />

superiores a metade do capital<br />

social. Para estar em cumprimento<br />

com este artigo, a SAD do Benfica<br />

necessita de 55,4 milhões de<br />

euros, enquanto que a SAD do<br />

Sporting precisa de 39,4 milhões.<br />

Para corrigir esta situação, o<br />

Benfica anunciou que pretende<br />

aumentar o capital da SAD até 40<br />

milhões de euros através da fusão<br />

com a Benfica Estádio. Já o<br />

Sporting aprovou a transferência<br />

da Sporting Comércio e Serviços<br />

paraaSAD.<br />

barril de pólvora, já que esta é<br />

uma actividade deficitária, em<br />

Portugal e na maioria dos clubes<br />

estrangeiros. Por cá, com o mercado<br />

que temos, o prejuízo é uma<br />

constante e só se consegue equilibrar<br />

as contas com a venda de<br />

activos ou uma boa campanha na<br />

Liga dos Campeões. ■


FC PORTO<br />

A venda de jogadores<br />

permitiu ao FC Porto<br />

aumentar os lucros.<br />

1º tri 2008 1ºtri 2009<br />

Receitas 11,8 14,5 22,9%<br />

Resultado Liquido 6,8 23,5 245,6%<br />

Capitais próprios 24,5 46,2 88,6%<br />

BENFICA<br />

A estratégia de comprar<br />

e não vender agravou<br />

os resultados do Benfica.<br />

Nacho Doce/Reuters<br />

1º tri 2008 1ºtri 2009<br />

Receitas 13,1 15,7 19,8%<br />

ResultadoLiquido -2 -6,1 205,0%<br />

Capitais próprios -11,8 -17,9 51,7%<br />

SPORTING<br />

Aausênciadafasedegrupos<br />

da Liga dos Campeões fez<br />

cair os proveitos do Sporting.<br />

1º tri 2008 1ºtri 2009<br />

Receitas 14 11 -21,4%<br />

Resultado Liquido 0,016 -2,4 -15100,0%<br />

Capitais próprios -2,6 -18,4 607,7%<br />

Fernando Gomes assume que as<br />

receitas tradicionais têm pouca<br />

elasticidade. Segredo está nas<br />

vendas e na Liga dos Campeões.<br />

Hugo Real<br />

hugo.real@economico.pt<br />

O FC Porto assumiu uma estratégia<br />

financeira diferente da dos<br />

seus concorrentes, apostando na<br />

realização de mais-valias com<br />

transacções de jogadores para<br />

alcançar resultados positivos,<br />

explica Fernando Gomes, administrador<br />

da SAD, em entrevista<br />

por email.<br />

Qual o impacto desta estratégia<br />

nas receitas do clube?<br />

É verdade que os resultados operacionais,<br />

excluindo transacções<br />

de passes de jogadores, foram negativos.<br />

Na nossa actividade, as<br />

transacções de jogadores são proveitos<br />

operacionais, uma vez que<br />

a SAD engloba, regularmente, um<br />

valor significativo nesta rubrica.<br />

A FCPorto SAD assumiu a estratégia<br />

de estar neste negócio com alguma<br />

dose de risco, para criar<br />

equipas competitivas e estar a um<br />

nível elevado nos contextos nacional<br />

e europeu. Isto é impossível<br />

de conseguir com custos reduzidos!<br />

Temos a segurança de estar<br />

sempre na alta roda europeia, obtendo<br />

de forma directa as receitas<br />

da prova e valorizando os nossos<br />

activos, o que permite gerar as<br />

mais valias necessárias para colmatar<br />

os défices de exploração.<br />

Oquepodeserfeitoparaaumentar<br />

os proveitos operacionais?<br />

A estrutura de proveitos é constituída<br />

pelas receitas tradicionais<br />

[bilheteira, televisão, publicidade<br />

e sponsorização] e pelas receitas<br />

da participação na Liga dos<br />

Campeões. Após o início da utilização<br />

do Estádio do Dragão, as<br />

receitas tradicionais têm-se<br />

mantido estabilizadas. As receitas<br />

televisivas e de sponsorização<br />

assentam em contratos de médio/longo<br />

prazo, pelo que são relativamente<br />

estáveis, logo a obtenção<br />

de volumes de negócios<br />

superiores têm de passar pelas receitas<br />

da Liga dos Campeões e<br />

pela transferência de jogadores.<br />

Apesar da elasticidade das receitas<br />

ser extremamente reduzida, a<br />

SAD soube maximizar as receitas<br />

ao longo das últimas épocas.<br />

O facto dos proveitos<br />

operacionais serem inferiores aos<br />

custos é uma situação que<br />

preocupa a SAD do FC Porto?<br />

Essa é uma falsa questão. Obtivemos<br />

resultados operacionais positivos<br />

de 24,6M€! Quando se diz<br />

que os proveitos operacionais são<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 41<br />

ENTREVISTA FERNANDO GOMES admnistrador da FCPorto SAD<br />

“Estamos neste<br />

negócio com uma<br />

dose de risco”<br />

inferiores aos custos, não se está a<br />

considerar as transacções de jogadores,<br />

que são uma consequência<br />

da boa performance desportiva,<br />

pelo que, reforço, não a pretendemos<br />

evitar. No entanto,<br />

como foi já referido, esta é uma<br />

gestão que engloba algum risco.<br />

Dada a dificuldade de aumentar<br />

as receitas ‘tradicionais’, resta<br />

tentar controlar os custos. A administração<br />

tem-se empenhado<br />

numa maior eficiência no mercado<br />

de transferências, através da<br />

aposta em jogadores jovens ou sob<br />

empréstimo, para diminuir o risco,<br />

e num maior controlo dos<br />

custos salariais através da negociação<br />

de contratos que privilegiem<br />

a componente variável da<br />

remuneração.<br />

O passivo está controlado?<br />

A FCPorto SAD apresentou, a 30<br />

de Setembro, um passivo de<br />

1<strong>56</strong>M€. O número em si não permite<br />

qualquer conclusão quanto à<br />

situação financeira. O segredo<br />

está na correlação do montante<br />

em dívida com a capacidade de<br />

gerar meios para a pagar. O rácio<br />

“Net Debt EBITDA”, que significa<br />

quantas vezes, ou em quantos<br />

anos, é que o Cash-Flow Operacional<br />

(EBITDA) do exercício paga<br />

(amortiza) a dívida financeira líquida<br />

da empresa. Tendo em conta<br />

este rácio, a situação da FCPorto<br />

SAD é confortável. Com base<br />

nas contas de 2008/2009 a dívida<br />

financeiralíquidaéde84,1M€eo<br />

EBITDA de 38,1M€, pelo que o<br />

Net Debt EBITDA era, em 30 de<br />

Junho, de 2,21, o que significa que<br />

a sociedade tem a capacidade de<br />

saldar os seus compromissos em<br />

menos de 3 anos, o que é um valor<br />

normal e aceitável. ■<br />

Fernando Gomes<br />

diz que a SAD do<br />

Porto está a<br />

trabalhar no<br />

controlo de custos,<br />

nomeadamente<br />

com contratos que<br />

privilegiem as<br />

componentes<br />

variáveis.


42 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

DESTAQUE PORTUGAL NO MUNDIAL DE FUTEBOL<br />

O Mundial pode<br />

começar ou acabar<br />

no primeiro jogo<br />

A Costa do Marfim, de Didier Drogba, parece ser o alvo a abater para Portugal na fase<br />

de grupos do Mundial. Ainda para mais é o primeiro adversário da equipa nacional.<br />

João Coelho<br />

Football Ideas<br />

Portugal não foi bafejado pela<br />

sorte. Afinal de contas, conta com<br />

a companhia do penta-campeão<br />

mundialBrasilnoseugrupoea<br />

Costa de Marfim é neste momento<br />

um dos mais fortes conjuntos<br />

africanos, a par do Gana. É verdade<br />

que a Coreia da Norte constituiu<br />

um oponente sem qualquer<br />

estatuto no futebol internacional<br />

(apenas participou num campeonato<br />

do Mundo, exactamente o de<br />

1966) mas encerra uma dificuldade<br />

óbvia: trata-se de um perfeito<br />

desconhecido.<br />

A ordem dos jogos da selecção<br />

na África do Sul torna ainda mais<br />

decisivoojádesihabitualmente<br />

crucial primeiro jogo numa competição<br />

deste tipo, em que é muito<br />

difícil recuperar de um eventual<br />

percalço. Portugal começa por<br />

defrontar aquele que será teoricamente<br />

o seu adversário directo no<br />

apuramento para os oitavos-definal:<br />

a Costa do Marfim. Desta<br />

forma, a Selecção Nacional pode<br />

atéchegaraoúltimoencontro<br />

desta fase, com o Brasil, já apurado,<br />

mas se assim não for dificilmente<br />

se conseguirá fugir a essa<br />

negra memória recente: a goleada<br />

sofrida (2-6) em Brasília, há cerca<br />

de um ano.<br />

Tudo se poderá jogar então<br />

nesse jogo de estreia, em Port Elizabeth,<br />

a 15 de Junho (o quinto<br />

diadacompetição),noqualaté<br />

um empate poderá ser um mau<br />

resultado, dado que mesmo que<br />

vençaaCoreiadoNortenasegunda<br />

partida, a Selecção Nacional ficará<br />

dependente do encontro<br />

com o Brasil.<br />

Refira-se que a Costa do Marfim<br />

conseguiu pela segunda vez o<br />

apuramento para uma fase final<br />

de um Mundial, depois de ter<br />

marcado presença na Alemanha,<br />

Umacoisaécerta:se<br />

os jogadores e os<br />

responsáveis da<br />

selecção portuguesa<br />

se consideram<br />

realmente candidatos<br />

à conquista do título<br />

mundial, não será<br />

este grupo que deverá<br />

assustar a equipa das<br />

quinas.<br />

em 2006. Os “Elefantes”, como é<br />

conhecida a equipa africana,<br />

venceram o Grupo E da qualificação<br />

africana, com alguma facilidade<br />

e sem qualquer derrota, perante<br />

Burkina Faso, Malawi e<br />

Guiné.<br />

A selecção marfinense, treinada<br />

pelo bósnio Vahid Halilhodžic,<br />

tem em Didier Drogba o seu grande<br />

nome, apesar de contar com<br />

outros elementos de qualidade<br />

reconhecida, como o parceiro de<br />

ataque de Drogba no Chelsea, Salomon<br />

Kalou, ou o defesa Kolo<br />

Touré (Manchester City). Refirase<br />

no entanto que apesar de possuir<br />

jogadores que brilham nas<br />

melhores ligas europeias, a Costa<br />

do Marfim não tem um palmarés<br />

relevante: apenas a conquista de<br />

uma Taça das Nações Africana<br />

(1992) e um segundo lugar nesta<br />

competição (2006).<br />

Umacoisaécerta:seosjogadores<br />

e os responsáveis da selecção<br />

portuguesa se consideram<br />

realmente candidatos à conquista<br />

do título mundial, não será este<br />

grupo que deverá assustar a equipa<br />

das quinas. Bem mais problemática<br />

será a possibilidade de, ficando<br />

em segundo lugar nesta<br />

série, ter que defrontar a Espanha<br />

logo nos oitavos-de-final.<br />

Naturalmente, Portugal não<br />

entrará em circunstância alguma<br />

derrotado para o jogo com a selecção<br />

brasileira. Mesmo que o<br />

histórico dos confrontos com o<br />

Brasil esteja longe de ser favorável,<br />

a única vez que os portugueses<br />

defrontaram os “irmãos” sulamericanos<br />

num Mundial venceram<br />

de forma convincente. Foi no<br />

Mundial de 1996, em que os brasileiros<br />

tombaram aos pés de Eusébio<br />

e Cª no Mundial de Inglaterra,<br />

o mesmo acontecendo aos<br />

norte-coreanos, no jogo da famosa<br />

reviravolta de 0-3 para 5-3.<br />

Pode ser um bom augúrio. ■<br />

A selecção nacional tem<br />

como adversários no grupo G<br />

a Costa do Marfim, a Coreia<br />

do Norte e o Brasil.<br />

SÃO 32 AS EQUIPAS QUE VÃO PARTICIPAR NO MUNDIAL DA ÁFRICA DO SUL. OS DOIS PRIMEIROS DE CADA GRUPO SÃO APURADOS PARA OS OITAVOS-DE-FI<br />

O jogo inaugural é entre a<br />

selecção da casa e o México<br />

Grupo A<br />

África do Sul<br />

México<br />

Uruguai<br />

França<br />

A Argentina, treinada por<br />

Maradona, é a favorita do grupo<br />

Grupo B<br />

Argentina<br />

Nigéria<br />

Coreia do Sul<br />

Grécia<br />

A Inglaterra está num dos grupos<br />

menos complicados do mundial<br />

Grupo C<br />

Inglaterra<br />

Estados Unidos<br />

Argélia<br />

Eslovénia<br />

PALAVRA-CHAVE<br />

✽<br />

Jogo de abertura:<br />

África do Sul-México<br />

Portugal garantiu a sua terceira<br />

presença consecutiva em fases<br />

finais de campeonatos do Mundo,<br />

todas no século XXI (2002, 2006,<br />

2010), o que ultrapassa o número<br />

de presenças nesta prova em<br />

todo o século XX (apenas 2:<br />

1966 e 1986).<br />

A selecção da Alemanha é uma das<br />

favoritas à vitória na competição<br />

Grupo D<br />

Alemanha<br />

Austrália<br />

Sérvia<br />

Gana<br />

A Holanda é favorita, mas este é<br />

um dos grupos mais difíceis<br />

Grupo E<br />

Holanda<br />

Dinamarca<br />

Japão<br />

Camarões


PONTOS-CHAVE<br />

A grande comunidade<br />

lusófona presente<br />

na África do Sul e a<br />

proximidade com Moçambique<br />

podem garantir à selecção uma<br />

forte base de apoio.<br />

NAL. AS FASES SEGUINTES SÃO POR ELIMINAÇÃO DIRECTA<br />

A Itália raramente joga bem, mas<br />

ganha quase sempre<br />

Grupo F<br />

Itália<br />

Paraguai<br />

Nova Zelândia<br />

Eslováquia<br />

O jogo entre Brasil e Portugal é o<br />

mais atractivo da fase de grupos<br />

Grupo G<br />

Brasil<br />

Coreia do Norte<br />

Costa do Marfim<br />

Portugal<br />

AMhghghk selecçãodfdadfCosta gdjkfhg do<br />

Marfim sdfhglkhsdlfjgh conta comsdjfgh estrelas<br />

como sjdfh gDrogba, hsdfkjgh mas a sua<br />

inexperiência ksdfjgsjdfhkgjh pode sdfjkgh jogarksjdfh a<br />

favor gkj shdfkjgh de Portugal. sdjkfhgk A vitória jsdhfkgjh no<br />

primeiro skdfjg sdfg. jogo é fundamental.<br />

Radu Sigheti/Reuters<br />

A Espanha, campeã da Europa,<br />

espera chegar à Final<br />

Grupo<br />

Espanha<br />

Suíça<br />

Honduras<br />

Chile<br />

OMhghghk sorteio ditou df df que gdjkfhg<br />

sdfhglkhsdlfjgh o último jogo de sdjfgh Portugal<br />

sjdfh será com g hsdfkjgh o Brasil. Ou seja,<br />

ksdfjgsjdfhkgjh as duas selecções sdfjkgh podemksjdfh<br />

gkj chegar shdfkjgh a estesdjkfhgk embate já com<br />

jsdhfkgjh o apuramento skdfjg garantido. sdfg.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 43<br />

OS JOGOS QUE PORTUGAL PODERÁ DISPUTAR<br />

Portugal - Costa do Marfim<br />

A selecção nacional, que integra<br />

o grupo G, irá defrontar no<br />

primeiro jogo a Costa do Marfim,<br />

de Didier Drogba, Touré e Kalou.<br />

A partida está marcada para o dia<br />

15 de Junho no estádio Nelson<br />

Mandela Bay, em Port Elizabeth.<br />

Portugal- Coreia do Norte<br />

No Mundial de 66, Portugal<br />

defrontou a Coreia do Norte e, ao<br />

intervalo, perdia por 3-0. Eusébio<br />

deu a volta ao marcador (marcou<br />

4 golos) e Portugal venceu por 5-<br />

3. Agora, no dia 21 de Junho, na<br />

cidade do Cabo, espera-se que a<br />

vitória seja mais fácil<br />

Portugal-Brasil<br />

O ano passado, a selecção<br />

defrontou o Brasil num jogo<br />

particular e foi goleada por -6-2.<br />

Na cidade de Durban, no dia 25<br />

de Junho, Portugal poderá ter de<br />

decidir a qualificação no grupo<br />

contra uma das favoritas à<br />

conquista do Mundial.<br />

Oitavos-de-final<br />

Se Portugal chegar a esta fase<br />

terá de defrontar o primeiro ou<br />

segundo classificado do grupo H,<br />

composto por Espanha, Suíça,<br />

Honduras e Chile. As equipas que<br />

chegarem aos Oitavos realizam-se<br />

nos dias 28 e 29 de Junho, em<br />

Joanesburgo e Cidade do Cabo.<br />

Quartos-de-final<br />

Caso Portugal continue em prova,<br />

a partida dos quartos-de-final<br />

será disputada no dia 3 de Julho,<br />

em Joanesburgo. No último<br />

mundial, na Alemanha, em 2006,<br />

a selecção nacional eliminou a<br />

Inglaterra nesta fase através do<br />

desempate por penalties.<br />

Meias-Finais<br />

Chegar até aqui seria repetir o<br />

feito dos “magriços”, em 1966, e<br />

em 2006, na Alemanha. Portugal<br />

passou daqui, Na primeira vez<br />

perdeu contra Inglaterra e mais<br />

tarde com França. As meias estão<br />

marcadas para 6 e 7 de Julho na<br />

Cidade do Cabo e Durban.<br />

Final<br />

Carlos Queiroz já afirmou que<br />

Portugal pode ganhar o Mundial<br />

da África do Sul. A final está<br />

marcada para o dia 11 de Julho, na<br />

cidade de Joanesburgo. A partida<br />

será disputada no estádio Soccer<br />

City, com capacidade para 95 mil<br />

espectadores.


44 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

EMPRESAS A SEMANA<br />

Agenda 05.12 > 11.12<br />

> 05.12<br />

EuroEstates realiza leilão<br />

imobiliário no Porto<br />

A EuroEstates realiza hoje e amanhã dois leilões<br />

imobiliários, O primeiro, no Porto, acontece no hotel<br />

Ipanema Park, estando o segundo marcado para<br />

amanhã no Hotel Villa Rica Lisboa. Ambos estão<br />

agendados para as 15 horas.<br />

> 07.12<br />

Governo dá a conhecer plano<br />

de recuperação da Aerosoles<br />

Vieira da Silva deverá revelar hoje qual a solução<br />

do Governo para recuperar a Investvar, depois de ter<br />

chumbado o plano que previa a conversão da maior<br />

parte da dívida em acções.<br />

> 08.12<br />

Dia para a comunicação<br />

social da IATA<br />

A Associação Internacional de Transporte Aéreo<br />

(IATA) organiza em Geneve um encontro com<br />

jornalistas onde serão discutidos os temas que estão<br />

em cima da mesa no sector da aviação, como<br />

o ambiente, os custos da indústria ou a segurança.<br />

> 09.12<br />

COTEC organiza 3º Encontro<br />

PME Inovação<br />

Subordinado ao tema “Gestão Colaborativa da<br />

Inovação”, a Cotec promove o terceiro encontro<br />

das PME Inovação que decorrerá no Centro de<br />

Congressos do Estoril. Estarão presentes, entre<br />

outros, António Mexia, presidente da EDP, e<br />

Alexandre Soares dos Santos, ‘chairman’ da<br />

Jerónimo Martins.<br />

Starbucks abre primeira loja<br />

no centro de Lisboa<br />

A cadeia norte-americana Starbucks abre na quartafeiraaquintalojaemPortugalquemarcaaentrada<br />

no centro de Lisboa. A nova loja está localizada nos<br />

Armazéns do Chiado, uma zona da capital muito<br />

cobiçada pela Starbucks mas também com muitas<br />

dificuldades de licenciamento. Esta éaterceira<br />

abertura da Starbucks este ano, depois da loja<br />

do Fórum Almada e do Dolce Vita Tejo.<br />

> 10.12<br />

Câmara de Palmela discute<br />

futuro da indústria automóvel<br />

A Biblioteca Muncipal de Palmela recebe entre as<br />

16h00 e aa 19 horas o seminário “Posicionar Palmela<br />

na Europa e no Mundo - Indústria Automóvel”.<br />

Seminário “Portos do Futuro<br />

- A Rede Europeia de Clusters<br />

Marítimos”<br />

A Logistel, sociedade anónima de que são accionistas<br />

o Grupo Barraqueiro, a TAAG o ISG – Instituto<br />

Superior de Gestão organiza o seminário “Portos<br />

do Futuro - A Rede Europeia de Clusters Marítimos”<br />

mas instalações da sociedade.<br />

GUERRA NA CIMPOR LEVA À DEPOSIÇÃO DE JORGE SALAVESSA MOURA<br />

A instabilidade regressou em pleno à Cimpor, a maior cimenteira nacional. Numa<br />

decisão que reflecte a tensão entre accionistas, a administração da empresa depôs o<br />

presidente-executivo Salavessa Moura, substituindo-o pelo ‘charman’ Bayão Horta.<br />

A FIGURA<br />

PEDRO RIBEIRO DA CUNHA<br />

Presidente da Aerosoles<br />

Após meses de avanços e recuos no processo<br />

de salvação da maior fabricante portuguesa de<br />

calçado, Pedro Ribeiro da Cunha decidiu bater com<br />

a porta e abandonar a presidência da Investvar.<br />

O futuro da empresa, que utiliza a marca Aerosoles,<br />

está agora nas mãos do ministro da Economia, Vieira<br />

da Silva, a quem Ribeiro da Cunha - que foi nomeado<br />

para o cargo por indicação do anterior ministro,<br />

Manuel Pinho -, acusa de falta de vontade<br />

na salvação da empresa.<br />

O MOMENTO<br />

NOVO CONCURSO EÓLICO<br />

Arquivo <strong>Económico</strong><br />

OGovernoestáaestudarolançamentodeumnovo<br />

concurso eólico, que nas previsões mais optimistas<br />

poderia acarretar uma potência de 3.000 megawatts<br />

e um investimento global superior a 4 mil milhões<br />

de euros. Porém, numa altura em que falta ainda<br />

terminar vários parques atribuídos nos anteriores<br />

concursos - e em que surgem cada vez mais<br />

entraves ambientais -, o sector da energia não<br />

se mostra muito receptivo a esta ideia. Até porque a<br />

banca tem reduzido o financiamento às renováveis.


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46 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

FINANÇAS<br />

Cheques carecas caem para<br />

mínimo da última década<br />

Menor aceitação de cheques explica queda. Em contrapartida,<br />

este ano quase triplicou a falsificação de cheques.<br />

Sandra Almeida Simões<br />

sandra.simoes@economico.pt<br />

Entre Janeiro e Setembro deste<br />

ano foram devolvidos mais de 658<br />

mil cheques no valor de 2,34 mil<br />

milhões de euros, o que representa<br />

menor número de devoluções da<br />

última década. A falta ou insuficiência<br />

de provisão é o principal<br />

motivo de devolução, numa altura<br />

em que os cheques viciados triplicaram,<br />

fruto da crise económica e<br />

financeira. Especialistas alertam<br />

para a “inconsciência” das famílias<br />

e das empresas sobre os riscos<br />

que comporta a utilização indevida<br />

dos cheques e, o consequente,<br />

registo na “lista negra” de utilizadores<br />

de cheques.<br />

Segundo dados fornecidos pelo<br />

Banco de Portugal ao <strong>Económico</strong>,<br />

os bancos devolveram mais de<br />

2.400 cheques por dia. Ainda assim,<br />

este é o número mais baixo de<br />

devoluções em, pelo menos, dez<br />

anos, uma vez que os dados disponibilizados<br />

pelo supervisor só vão<br />

até 1999, altura em que foram recusados<br />

cerca 1,3 milhões de cheques.<br />

Também o valor dos cheques<br />

devolvidos está em rota descendente.<br />

Foram rejeitados mais 2,3<br />

mil milhões até Setembro, o que<br />

compara com os mais de 3,9 mil<br />

milhões do ano anterior.<br />

Esta redução reflecte o decréscimo<br />

na utilização do cheque<br />

como meio de pagamento. “Há<br />

um número crescente de famílias e<br />

empresas a optarem por outras<br />

formas de pagamento mais electrónicas<br />

e mais agilizadas, ou seja,<br />

o cheque é cada vez mais visto<br />

como um instrumento antiquado<br />

e obsoleto, inspirando pouca segurança<br />

e pouco prático”, afirmou<br />

o economista João Cantiga Esteves.<br />

Até Setembro foram emitidos<br />

82,3 milhões de cheques, o que,<br />

feitas as contas, representa menos<br />

13% face à média mensal do ano<br />

anterior e traduz um decréscimo<br />

de 67% face ao número de cheques<br />

apresentados em 1999.<br />

São vários os motivos de rejeição,<br />

no entanto 75% do total de<br />

recusas da banca em pagar ou receber<br />

cheques deve-se ao facto de<br />

João Cantigas<br />

Esteves<br />

Economista<br />

“O cheque é cada vez mais<br />

visto como um instrumento<br />

antiquado e obsoleto,<br />

inspirando pouca segurança<br />

e pouco prático”.<br />

João César<br />

das Neves<br />

Economista<br />

“O cheque é ainda um veículo<br />

tecnologicamente pouco<br />

evoluído e controlado, o que<br />

aguça o apetite de quem tem<br />

problemas graves de<br />

insolvência e resvala para<br />

situações ilícitas”.<br />

GRANDES QUANTIAS<br />

1.172<br />

Número de cheques passados<br />

com valor acima dos 5 milhões de<br />

euros cada. Curiosamente, destes,<br />

só dois foram recusados.<br />

serem “carecas”. Este ano, foram<br />

identificados 497 mil cheques sem<br />

provisão, o correspondente a 1,4<br />

mil milhões. Cantiga Esteves<br />

acrescenta: “Será visível o efeito<br />

da crise na solvência das empresas<br />

e famílias, havendo algumas que,<br />

ao sentir a pressão dos seus fornecedores<br />

e outros credores, não resistem<br />

à tentação de emitir cheques,<br />

mesmo sabendo que podem<br />

não vir a ter provisão, para ganhar<br />

alguns dias na sua tesouraria”.<br />

Cheques viciados em crescimento<br />

Os cheques viciados - o cheque é<br />

legítimo mas o valor ou o nome é<br />

alterado - estão em forte crescimento,<br />

estando inclusive no valor<br />

mais elevado de sempre e quase<br />

triplicaram face ao ano anterior.<br />

Até Setembro, foram identificados<br />

1.422 cheques, mais 143% face aos<br />

584 detectados durante todo o ano<br />

de 2008, reflexo da crise, mas<br />

também das próprias características<br />

do cheque. “O cheque é ainda<br />

um veículo tecnologicamente<br />

pouco evoluído e controlado, o que<br />

permite aguçar o apetite de quem<br />

tem problemas graves de insolvência<br />

e resvala para situações ilícitas<br />

para resolução dos seus problemas”,<br />

afirmou Cantiga Esteves.<br />

O aumento do crime é também<br />

outra das causas. “À medida que<br />

menos pessoas usam cheques, as<br />

que o fazem são mais sujeitas a<br />

fraude”, afirma César das Neves.<br />

Quase 19% dos cheques recusados<br />

situam-se entre os 500 e os<br />

mil euros. O segundo escalão fixase<br />

entre os 2.500 e os cinco mil euros.<br />

No final de 2008 - últimos dados<br />

disponibilizados pelo BdP -, o<br />

número de utilizadores na “lista<br />

negra”, ou seja, que oferecem risco<br />

na utilização de cheques ascende<br />

a mais de 85.700, em linha com<br />

o ano anterior (ver texto ao lado).<br />

Para Cantiga Esteves, abrandou-se<br />

na pedagogia feita em torno deste<br />

instrumento, daí que considere<br />

que existe alguma “inconsciência<br />

dos portugueses”. César das Neves<br />

é mais brando, referindo apenas<br />

que a forma de entrar na lista deve<br />

eliminar os casos de distracção<br />

pontual ou erro. ■


Nomura melhora avaliação dos bancos nacionais<br />

A casa de investimento Nomura melhorou ontem a sua avaliação<br />

para os bancos cotados nacionais. O banco subiu o preço-alvo<br />

para BCP, BES e BPI, sendo que este último não escapou, ainda assim,<br />

a uma descida de recomendação, de neutral para reduzir. O BCP passou<br />

a contar com uma recomendação de neutral, enquanto o BES merece<br />

um “comprar”, continuando a ser o banco preferido do Nomura<br />

para o mercado português.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 47<br />

Como escapar à lista<br />

negra dos cheques?<br />

Se for parar à lista negra dos<br />

utilizadores de cheques, não está<br />

condenado para sempre.<br />

Sandra Almeida Simões<br />

sandra.simoes@economico.pt<br />

Ter o nome inscrito na listagem<br />

de utilizadores que oferecem risco<br />

é uma das consequências da<br />

utilização indevida dos cheques.<br />

Os últimos que o Banco de Portugal<br />

disponibiliza – referentes ao<br />

final de 2008 – revelam que são<br />

mais de 85 mil os portugueses<br />

com o nome na “lista negra”, ou<br />

seja, que estão inibidos de usar o<br />

cheque. O supervisor explica<br />

quais as consequências da lista,<br />

como conseguir a remoção e disponibiliza<br />

ainda um conjunto de<br />

boas práticas na utilização deste<br />

meio de pagamento.<br />

1<br />

COMO UTILIZAR OS CHEQUES<br />

DE FORMA CORRECTA?<br />

Regranúmeroum:ochequesó<br />

deve ser utilizado se o saldo disponível<br />

na conta for suficiente para<br />

permitir o seu pagamento. O supervisor<br />

revela no Portal do Cliente<br />

Bancário as regras básicas do<br />

uso dos cheques como, por exemplo,<br />

as formas de preenchimento<br />

ou os prazos e questões essenciais<br />

relacionadas com a segurança.<br />

2<br />

EM QUE SITUAÇÕES SE CONSI-<br />

DERA QUE O CHEQUE ESTÁ A<br />

SER USADO INDEVIDAMENTE?<br />

Irregularidades no preenchimento,<br />

como assinatura diferente da que<br />

consta na ficha do banco, assinatura<br />

não autorizada ou insuficiente,<br />

são algumas dessas situações. A falta<br />

de saldo para o pagamento, contas<br />

encerradas ou bloqueadas são<br />

situações em que o banco não procede<br />

ao pagamento do cheque e<br />

devolve-o ao portador. Se o montante<br />

do cheque for inferior a 150<br />

euros e não houver provisão suficiente,<br />

o banco está legalmente<br />

obrigado ao seu pagamento, mas<br />

considera-se que o emitente utilizou-o<br />

indevidamente.<br />

3<br />

O USO INDEVIDO É PUNIDO?<br />

“A utilização indevida do cheque<br />

pode ter como consequência a<br />

restrição ao seu uso (impedimento<br />

temporário do uso de cheque) e,<br />

em certos casos, pode ser consi-<br />

João Paulo Dias<br />

derada crime, punível com multa<br />

ou pena de prisão e/ou interdição<br />

judicial do uso de cheque”, explica<br />

o BdP. Se um cheque utilizado indevidamente<br />

não for regularizado,<br />

o banco deve por fim ao acordoquepermitiaqueoclientebancário<br />

movimentasse os fundos da<br />

sua conta através de cheque. Após<br />

a rescisão, o banco transmite o<br />

nome do emitente (e os dos co-titulares<br />

da mesma conta) ao BdP,<br />

para que passe a fazer parte da lista<br />

de pessoas inibidas do uso de<br />

cheque – Listagem de Utilizadores<br />

de cheque que oferecem Risco<br />

(LUR). Há ainda o crime de emissão<br />

de cheque sem provisão, semprequeafaltadedinheirocause<br />

prejuízos patrimoniais.<br />

4<br />

O QUE É A “LISTA NEGRA” DE<br />

UTILIZADORES DE CHEQUE?<br />

É uma lista organizada pelo BdP,<br />

com base nas comunicações<br />

efectuadas pelos bancos e pelos<br />

Tribunais, contendo os nomes<br />

das pessoas ou das entidades às<br />

quais os bancos estão impedidos<br />

de fornecer cheques. Esta lista é<br />

actualizada diariamente e difundida<br />

por todos os bancos. O período<br />

máximo de permanência é<br />

de2anos.Nofimdoprazo,ou<br />

terminado o período de inibição<br />

judicial, ou após a remoção/anulação<br />

de uma entidade da LUR, os<br />

bancos devem obrigatoriamente<br />

eliminar toda a informação.<br />

5<br />

É POSSÍVEL RETIRAR O NOME<br />

DA LISTA?<br />

Sim. O interessado deve solicitar<br />

ao seu banco que submeta ao BdP<br />

umpedidoderemoçãoda“lista<br />

negra”. Para tanto, deverá, junto<br />

do seu banco, demonstrar a regularização<br />

do cheque usado indevidamente.<br />

■<br />

As consequências de<br />

utilização fraudulenta<br />

de cheques podem ser<br />

ainibiçãode<br />

utilização deste<br />

instrumento e até, em<br />

casos mais graves,<br />

penas de prisão.


48 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

FINANÇAS<br />

Depois de um ano de espera e de tantos protestos,<br />

os clientes do BPP poderão estar perto de conhecer<br />

a solução para os seus problemas.<br />

Finanças prometem solução<br />

para o BPP no dia 11 de Dezembro<br />

O anúncio público de uma solução final para o BPP não contempla o plano de viabilização do banco.<br />

Maria Teixeira Alves<br />

maria.alves@economico.pt<br />

O anúncio público de uma solução<br />

final do Ministério das<br />

Finanças para o Banco Privado<br />

Português voltou a ser adiada.<br />

Em comunicado, o Ministério<br />

das Finanças comprometeu-se<br />

com uma data para o anúncio<br />

público da sua posição final sobreoBPP.Destavezodiaprevisto<br />

para o anúncio é no próximo<br />

dia 11 de Dezembro. Altura<br />

em que a posição do Governo<br />

será “detalhadamente apresentada”,<br />

garante o Ministério<br />

de Teixeira dos Santos.<br />

O comunicado enviado ontem,<br />

na sequência de uma reunião<br />

das Finanças com a Associação<br />

de clientes do BPP, que<br />

ocorreu a 18 de Novembro, revela<br />

que o Executivo continua<br />

a resumir as soluções para o<br />

BPP ao fundo de investimento<br />

especial que receberá os activos<br />

do retorno absoluto. Da<br />

Teixeira dos Santos,<br />

para acalmar os<br />

clientes do BPP,<br />

solicitou “a<br />

apresentação urgente<br />

de proposta final”<br />

para o fundo de<br />

investimento especial.<br />

viabilização do BPP, o comunicado<br />

nada refere.<br />

As Finanças voltam a canalizar<br />

as responsabilidades de solucionar<br />

os problemas dos<br />

clientes para CMVM, Banco de<br />

Portugal e administração provisória<br />

do banco, liderada por<br />

Fernando Adão da Fonseca. “O<br />

Governo tem continuado e<br />

continua a insistir junto do<br />

Conselho de Administração do<br />

BPP e do Conselho Directivo da<br />

CMVM para que o pedido de<br />

constituição do fundo seja rápida<br />

e urgentemente instruído,<br />

apreciado e aprovado, de forma<br />

a proceder-se à sua apresentação<br />

aos clientes”, revelam as<br />

Finanças. Para acalmar os ânimos<br />

dos clientes desesperados,<br />

o Ministério “voltou a apelar ao<br />

conselho de administração do<br />

BPP e às duas autoridades reguladoras<br />

no sentido da rápida<br />

conclusão dos trabalhos em<br />

curso relativos às poupanças<br />

aplicadas nos produtos de re-<br />

torno absoluto”. E “solicitou a<br />

apresentação urgente de proposta<br />

final para o efeito, tendo em<br />

conta as posições anteriormente<br />

assumidas pelo Governo”.<br />

No entanto, não depende de<br />

apelos do Governo o registo do<br />

fundo que aglutinará os activos<br />

que compõem os produtos de<br />

retorno absoluto. Depende antes<br />

de documentos que não têm<br />

sido fáceis de reunir pelo BPP,<br />

em parte porque os activos estão<br />

em veículos sediados em<br />

vários paraísos fiscais com legislações<br />

díspares e complexas.<br />

Uma boa parte dos activos que<br />

terão de ser transferidos para o<br />

fundo estão sediados nas Ilhas<br />

Virgens Britânicas, com um<br />

sistema jurídico próprio. Em<br />

falta está, por exemplo, a lista<br />

completa de activos e passivos<br />

que irão constituir o patrimóniodofundo.<br />

No comunicado das Finanças<br />

não há sinal de viabilização<br />

do BPP, que ficará com as res-<br />

Paula Nunes<br />

ponsabilidades de garantia do<br />

capital investido, uma vez que o<br />

fundo não o garante. Mas um dos<br />

requisitos para o registo do fundo<br />

é a clarificação sobre o futuro<br />

do BPP. O Ministério explicou,<br />

mais tarde, que “quaisquer propostas<br />

que possam existir para<br />

viabilização do banco devem ser<br />

enviadas ao BdP e por este apreciadas<br />

ou discutidas, não tendo o<br />

Ministério competências legais<br />

na matéria”. Desta forma Teixeira<br />

dos Santos deixa a viabilizaçãodoBPPparaoBancode<br />

Portugal. A Orey Financial juntamente<br />

com a Privado Holding<br />

têm um plano de viabilização<br />

desenhado, mas mais uma vez<br />

corre o risco de não avançar<br />

porque há divergências em relação<br />

ao valor real dos activos que<br />

servem de contra-garantia ao<br />

empréstimo bancário de 450<br />

milhões de euros, tal como Diário<br />

<strong>Económico</strong> avançou em primeiramão.Oempréstimovence<br />

no fim do ano. ■


Bancos de Wall Street<br />

abremguerraàsfestasdeNatal<br />

PUB<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 49<br />

Goldman Sachs proíbe funcionários de se juntarem em grupos de 12 ou mais fora do local de trabalho.<br />

Tiago Figueiredo Silva<br />

tiago.silva@economico.pt<br />

Quem não gosta de um bom<br />

jantar de Natal pago pela empresa?<br />

Comida e bebida à borla,<br />

festa até às tantas da madrugadaeafortepossibilidadedever<br />

o chefe a fazer figuras tristes<br />

depois de uns copos a mais, são<br />

algunsdos“aperitivos”para<br />

estar presente no evento anual.<br />

Contudo, este ano a história<br />

será diferente em Wall Street.<br />

Confrontados com uma opinião<br />

pública cada vez mais crítica<br />

sobre os bónus pagos e as ajudas<br />

estatais concedidas, os “gigantes”<br />

da banca norte-americana<br />

decidiram manter este<br />

ano as garrafas de champanhe<br />

no congelador e cancelar as<br />

festas de Natal.<br />

OMorganStanleyfoioprimeiro<br />

a dar o exemplo. A instituição<br />

financeira anunciou que<br />

este ano não vai patrocinar<br />

qualquer festa natalícia para os<br />

empregados, pretendendo doar<br />

o dinheiro do jantar a uma ins-<br />

tituição de caridade. Bank of<br />

America e Citigroup, que se encontram<br />

ainda num estado de<br />

saúde considerado ‘crítico’, seguiram<br />

o mesmo exemplo. Ambos<br />

já avisaram que não têm<br />

qualquer intenção de juntar os<br />

respectivos “staff” num evento<br />

natalício. Apesar das más notícias<br />

e uma vez que estamos<br />

numa época de solidariedade, o<br />

Bank of America parece não ter<br />

perdidooespíritonatalícioe<br />

encorajou os seus trabalhadores<br />

a juntar dinheiro para ser doado<br />

a uma instituição de caridade<br />

local. Já os funcionários do Citigroup<br />

podem celebrar o nascimento<br />

de Jesus fora do local de<br />

trabalho. No entanto, o banco<br />

deixou um aviso: o dinheiro<br />

gasto com a festa não será<br />

reembolsado pela empresa.<br />

“Esta nãoéamelhoralturapara<br />

o sector andar a dar nas vistas.<br />

O ideal é manter um ‘low-profile’”,<br />

afirmou um analista citado<br />

pela CNN Money.<br />

O Goldman Sachs não quis ficar<br />

fora da tendência e, pelo se-<br />

Opresidentedo<br />

Goldman Sachs,<br />

Lloyd Blankfein,<br />

proibiu os<br />

funcionários de se<br />

juntarem, durante o<br />

mês de Dezembro,<br />

em grupos de 12 ou<br />

mais fora do<br />

trabalho.<br />

gundo ano consecutivo, cancelou<br />

a sua festa de Natal. No entanto,<br />

os funcionários do banco<br />

não quiseram deixar passar a<br />

época sem um mínimo de celebração<br />

e começaram a organizar<br />

pequenos jantares privados de<br />

Natal. Totalmente preocupado<br />

com o estado da economia e<br />

comaelevadataxadedesemprego,<br />

o presidente do Goldman<br />

Sachs, Lloyd Blankfein, decidiu<br />

enviar uma mensagem por voicemail<br />

a cada um dos trabalhadores.<br />

Apesar de simples, a<br />

mensagem é insólita: proibir as<br />

festas privadas, mesmo que não<br />

seja a firma a pagá-las. Assim,<br />

durante o mês de Dezembro, os<br />

funcionários estão proibidos de<br />

se juntarem em grupos de doze<br />

ou mais fora do local de trabalho.<br />

Não será por isso de estranhar<br />

ver onze banqueiros juntos<br />

num qualquer bar ou restaurante<br />

em Wall Street.<br />

Os tempos parecem ter mudado<br />

em definitivo. Na época<br />

das “vacas gordas” muitos milhares<br />

de milhões de dólares fo-<br />

ram gastos pela banca com festasejantaresdeNatalnosmelhores<br />

restaurantes e discotecas.<br />

Há dois anos atrás, a instituição<br />

financeira britânica Barclays,<br />

que ficou conhecido por ter<br />

comprado no ano passado algumas<br />

das unidades do falido<br />

Lehman Brothers, desembolsou<br />

aproximadamente 1,2 milhões<br />

de dólares (cerca de 800 mil euros)<br />

com uma festa de Natal para<br />

mais de 3.000 pessoas.<br />

Depois do colapso da Lehman<br />

Brothers, o Natal deixou de ser<br />

um motivo de festa para o sector<br />

financeiro. Quase todas as firmas<br />

de Wall Street decidiram<br />

cancelar os seus planos para a<br />

época, não só como uma forma<br />

de conter custos face à crise<br />

como para afastar as atenções<br />

da opinião pública. Ainda assim,<br />

nem todos seguem o mesmo<br />

caminho. De acordo com<br />

rumores de mercado, o JP<br />

Morgan está a preparar a sua<br />

festa de Natal deste ano nos antigos<br />

escritórios do rival Bear<br />

Stearns. ■


50 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

MERCADOS<br />

AS ÚLTIMAS RECOMENDAÇÕES<br />

BCP<br />

PREÇO-ALVO<br />

1,00¤<br />

COTAÇÃO ACTUAL<br />

0,88¤<br />

POTENCIAL<br />

12,6%<br />

O Nomura reviu em alta o seu preço-alvo para os títulos do BCP, para os 1 euros dos<br />

anteriores 0,59 euros. A casa de investimento subiu a recomendação para as<br />

acções do banco liderado por Carlos Santos Ferreira, para “neutral” de “reduzir”.<br />

O Dubai já brilhou tanto<br />

quantooouro,comtodaa<br />

excentricidade imobiliária<br />

exibida ao mundo. As<br />

recentes notícias de<br />

problemas da ‘holding’<br />

estatal Dubai World vieram<br />

colocar algumas ‘nuvens<br />

negras’ sobre o emirado.<br />

PT<br />

PREÇO-ALVO<br />

9,41¤<br />

Semana de ouro com<br />

tranquilidade no Dubai<br />

Marta Reis<br />

marta.reis@economico.pt<br />

Os últimos cinco dias foram<br />

marcados pelo regresso da tranquilidade<br />

às praças financeiras,<br />

depois de acalmados os receios<br />

dos investidores sobre a situação<br />

do Dubai, e por novos máximos<br />

do ouro.<br />

A principais bolsas europeias<br />

terminaram a semana com ganhos<br />

entre 1,51% e 2,84%, enquanto<br />

em Portugal, o PSI 20 ficou-se<br />

por uma subida ligeira<br />

de 0,12%. O índice de referência<br />

europeu DJ Stoxx 600, terminouasemanacomumasubida<br />

superior a 2%.<br />

O primeiro passo para a tranquilização<br />

dos mercados foi<br />

dado no domingo, com o banco<br />

central dos Emirados Árabes<br />

Unidos a garantir que apoiaria o<br />

sistema financeiro da região e<br />

que iria voltar a disponibilizar<br />

liquidez. A notícia de que a<br />

‘holding’ estatal Dubai World<br />

tinha pedido uma moratória de<br />

seis meses para cumprimento<br />

do pagamento de obrigações, no<br />

final da semana passada, trouxe<br />

instabilidade aos mercados.<br />

A intervenção do banco central<br />

e o anúncio de que a Dubai<br />

World já estava em conversações<br />

para renegociação de 26<br />

mil milhões de dívida, menos de<br />

COTAÇÃO ACTUAL<br />

8,60¤<br />

POTENCIAL<br />

9,4%<br />

O Banesto Bolsa reviu em alta o seu ‘target’ para os títulos da Portugal Telecom,<br />

para os 9,41 euros dos anteriores 6,18 euros. A casa de investimento subiu<br />

igualmente a recomendação de “underweight” para “overweight”.<br />

A matéria-prima continuou a renovar máximos, o último dos quais a 1.226,<strong>56</strong> dólares.<br />

Passos para a renegociação da dívida da Dubai World acalmaram os mercados.<br />

STOXX 600 SOBE 2,65%<br />

Índice de referência acumulou<br />

ganhos nos últimos cinco dias.<br />

1000<br />

900<br />

800<br />

30-06-2009<br />

Fonte: Bloomberg<br />

31-07-2009<br />

Staff Photographer / Reuters<br />

metade do total de 59 mil milhões,<br />

tranquilizou os investidores,<br />

trazendo os mercados de<br />

regresso às valorizações.<br />

A subir esteve também o<br />

ouro. A matéria-prima foi renovando<br />

máximos e atingiu novo<br />

valor recorde na quinta-feira, a<br />

1.226,<strong>56</strong> dólares. E a tendência<br />

deverá ser para continuar. Um<br />

inquérito efectuado pela<br />

Bloomberg a corretores, analistas<br />

e investidores mostra que a<br />

maioria acredita que o ouro<br />

continuará forte. A influenciar a<br />

cotação estará a manutenção da<br />

procura por parte de investidores<br />

e bancos centrais, num cenáriodefraquezadodólar.■<br />

CAMBIOS<br />

Dólar em alta<br />

com dados<br />

do desemprego<br />

O dólar terminou a semana<br />

em alta face ao euro, depois<br />

de os números do emprego<br />

nos EUA terem saído melhor<br />

do que o esperado e de a taxa<br />

de desemprego ter recuado<br />

inesperadamente, passando<br />

de 10,2% para 10%. Em queda<br />

face à ‘nota verde’ estava<br />

também o iene; a divisa<br />

nipónica acumulou a primeira<br />

queda semanal face ao dólar<br />

desde Outubro.<br />

1,52<br />

1,46<br />

1,40<br />

Fonte: FMI<br />

27-11-2009<br />

MATÉRIAS PRIMAS<br />

04-12-2009<br />

Preço do barril<br />

de crude e queda<br />

nos últimos dias<br />

O preço do barril de crude,<br />

negociado em Nova Iorque,<br />

perdia cerca de 0,6% na<br />

última semana, seguindo ao<br />

final do dia de ontem a cotar<br />

am 75,62 dólares. Nas últimas<br />

três sessões, o petróleo<br />

esteve sempre em queda,<br />

reflectindo uma quebra na<br />

procura desta ‘commodity’<br />

por parte dos investidores,<br />

bem como o aumento das<br />

reservas de crude nos<br />

Estados Unidos.


BRISA<br />

PREÇO-ALVO<br />

7,80¤<br />

COTAÇÃO ACTUAL<br />

6,79¤<br />

POTENCIAL<br />

14,9%<br />

O Nomura reviu em alta a sua recomendação para os papéis da concessionária<br />

Brisa, para “comprar” de “neutral”. A casa de investimento manteve o preço-alvo<br />

inalterado nos 7,8 euros por acção.<br />

EUROLIST BY EURONEXT. ACÇÕES<br />

Última Var. Var. Máx. Mín. Quant. Máx. Mín. Divid. Data Divid. Comport.<br />

Valor Mobiliário Data cotação % sessão sessão transcc. do ano do ano Ex-dív yeld% anual%<br />

Compartimento A<br />

B.COM.PORTUGUES 04-12-2009 0.89 0.00 0.11 0.90 0.88 15,168,205 1.08 0.<strong>56</strong> 0.02 16-04-2009 1.92 8.83<br />

B.ESPIRITO SANTO 04-12-2009 4.62 0.00 -0.09 4.64 4.59 2,010,980 5.34 2.65 0.16 26-03-2009 3.46 9.67<br />

BANCO BPI SA 04-12-2009 2.24 -0.01 -0.22 2.25 2.19 539,497 2.57 1.34 0.07 04-05-2009 2.98 28.29<br />

BRISA 04-12-2009 6.80 -0.03 -0.45 6.88 6.78 444,481 7.23 4.26 0.31 30-04-2009 4.54 27.64<br />

CIMPOR SGPS 04-12-2009 5.06 -0.05 -0.88 5.13 5.03 403,693 5.85 3.00 0.19 12-06-2009 3.63 46.67<br />

EDP 04-12-2009 3.09 0.02 0.62 3.10 3.06 3,692,864 3.22 2.29 0.14 14-05-2009 4.<strong>56</strong> 13.95<br />

EDP RENOVAVEIS 04-12-2009 6.51 -0.09 -1.29 6.58 6.49 839,642 7.83 4.41 0.00 0.00 31.72<br />

GALP ENERGIA 04-12-2009 11.97 0.01 0.04 12.12 11.88 859,623 12.65 7.03 0.23 22-10-2009 1.93 66.64<br />

J MARTINS SGPS 04-12-2009 6.64 -0.06 -0.93 6.70 6.<strong>56</strong> 1,075,081 6.94 3.01 0.11 06-05-2009 1.64 68.77<br />

PORTUGAL TELECOM 04-12-2009 8.60 0.11 1.30 8.60 8.37 2,825,069 8.49 5.48 0.57 24-04-2009 6.77 39.87<br />

ZON MULTIMEDIA 04-12-2009 4.32 -0.03 -0.58 4.35 4.27 280,02 5.01 3.55 0.16 27-05-2009 3.69 16.98<br />

Compartimento B<br />

SONAE INDUSTRIA 04-12-2009 2.<strong>56</strong> -0.01 -0.23 2.57 2.53 130,771 2.86 1.15 0.00 16.61 68.20<br />

SONAECOM SGPS 04-12-2009 1.83 -0.02 -1.03 1.86 1.82 629,202 2.15 0.97 0.00 0.00 83.98<br />

MOTA ENGIL 04-12-2009 3.79 -0.02 -0.45 3.84 3.74 146,601 4.53 2.10 0.11 15-05-2009 2.89 62.00<br />

SEMAPA 04-12-2009 7.65 0.14 1.81 7.65 7.50 127,744 8.95 5.65 0.25 23-04-2009 3.40 17.33<br />

PORTUCEL 04-12-2009 1.91 0.00 0.21 1.91 1.89 140,989 2.13 1.31 0.10 06-04-2009 5.51 23.05<br />

SONAE 04-12-2009 0.90 - - 0.91 0.89 2,024,882 0.98 0.38 0.03 20-05-2009 3.33 105.95<br />

BANIF-SGPS 04-12-2009 1.26 0.01 0.80 1.27 1.25 100,205 1.54 0.95 0.06 22-04-2009 4.90 21.80<br />

SONAE CAPITAL 04-12-2009 0.88 -0.01 -1.12 0.89 0.88 324,857 1.00 0.41 0.00 0.00 102.27<br />

REN 04-12-2009 2.98 0.01 0.17 2.99 2.97 200,896 3.25 2.39 0.17 27-04-2009 5.55 4.94<br />

MARTIFER 04-12-2009 3.<strong>56</strong> 0.01 0.28 3.57 3.53 14,83 4.59 2.53 0.00 0.00 -5.59<br />

GRUPO MEDIA CAP 24-11-2009 4.59 - - - - - 5.00 2.00 0.23 09-04-2009 5.01 50.49<br />

SAG GEST 03-12-2009 1.31 - - - - - 1.59 0.90 0.02 10-11-2008 1.54 37.89<br />

TEIXEIRA DUARTE 04-12-2009 1.04 0.00 0.29 1.05 1.03 381,999 1.26 0.41 0.00 1.71 72.58<br />

FINIBANCO SGPS 04-12-2009 1.54 -0.01 -0.65 1.<strong>56</strong> 1.50 4,255 2.39 1.43 0.00 4.29 -22.11<br />

ALTRI SGPS SA 04-12-2009 3.79 0.01 0.29 3.80 3.75 112,46 4.25 1.50 0.00 2.00 80.33<br />

TOYOTA CAETANO 27-11-2009 4.16 - - - - - 8.80 4.00 0.07 26-05-2009 1.68 -46.04<br />

Compartimento C<br />

BENFICA-FUTEBOL 04-12-2009 2.70 -0.01 -0.37 2.75 2.70 830 3.55 1.70 0.00 0.00 29.05<br />

COFINA SGPS 04-12-2009 1.04 0.01 0.97 1.04 1.02 27,167 1.07 0.39 0.00 4.21 128.89<br />

COMPTA 04-12-2009 0.39 -0.05 -11.36 0.39 0.39 1,3 0.46 0.36 0.00 0.00 22.22<br />

CORTICEIRA AMORI 04-12-2009 0.97 0.01 1.04 0.97 0.95 36,14 1.05 0.54 0.00 6.74 18.52<br />

ESTORIL SOL N 22-09-1998 8.91 - - - - - 0.00 0.00 0.22 16-05-2007 2.47 -3.47<br />

ESTORIL SOL P 02-12-2009 6.70 - - - - - 9.88 6.51 0.00 4.54 -23.86<br />

F RAMADA INVEST 04-12-2009 0.85 -0.01 -1.05 0.85 0.81 2,578 0.98 0.57 0.00 0.00 37.44<br />

FISIPE 04-12-2009 0.16 - - 0.16 0.15 3,21 0.20 0.09 0.00 0.00 77.78<br />

FUT.CLUBE PORTO 04-12-2009 1.30 0.01 0.78 1.33 1.25 5,59 1.75 1.25 0.00 0.00 -7.86<br />

GLINTT 04-12-2009 0.88 0.01 1.15 0.92 0.86 544,245 1.03 0.60 0.00 0.00 35.94<br />

IBERSOL SGPS 04-12-2009 9.40 - - 9.40 9.26 2,484 10.00 5.51 0.05 22-05-2009 0.59 36.23<br />

IMOB GRAO PARA 25-11-2009 3.65 - - - - - 3.82 2.33 0.00 0.00 21.67<br />

IMPRESA SGPS 04-12-2009 1.87 0.11 6.25 1.88 1.76 404,553 2.00 0.<strong>56</strong> 0.00 0.00 109.52<br />

INAPA-INV.P.GEST 04-12-2009 0.64 0.01 1.59 0.64 0.62 170,202 0.73 0.23 0.00 0.00 85.29<br />

LISGRAFICA 03-12-2009 0.09 - - - - - 0.12 0.06 0.00 0.00 28.57<br />

NOVABASE SGPS 04-12-2009 4.<strong>56</strong> 0.07 1.<strong>56</strong> 4.<strong>56</strong> 4.47 46,122 5.06 3.21 0.00 0.00 -2.18<br />

OREY ANTUNES 04-12-2009 1.90 0.01 0.53 1.90 1.90 100 2.90 1.80 0.11 30-04-2009 5.82 -17.83<br />

PAP.FERNANDES 28-01-2009 2.66 - - - - - 2.70 2.65 0.00 0.00 0.38<br />

REDITUS SGPS 04-12-2009 7.15 - - 7.15 7.15 1,084 8.00 5.83 0.00 0.00 0.70<br />

S.COSTA 04-12-2009 1.24 0.01 0.81 1.24 1.22 424,618 1.32 0.48 0.03 27-05-2009 2.52 95.24<br />

S.COSTA-PREF 18-09-2009 1.16 - - - - - 1.16 1.16 0.15 27-05-2009 12.93 -15.94<br />

SPORTING 04-12-2009 1.28 0.02 1.59 1.28 1.28 36 1.52 1.01 0.00 0.00 -7.35<br />

SUMOL COMPAL 30-11-2009 1.40 - - - - - 1.70 0.94 0.00 0.00 -15.15<br />

VAA VISTA ALEGRE 04-12-2009 0.10 -0.01 -9.09 0.10 0.10 273 0.14 0.06 0.00 0.00 57.14<br />

VAA-V.ALEGRE-FUS 04-12-2009 0.08 - - 0.08 0.07 25,1 0.10 0.04 0.00 0.00 60.00<br />

VAA-V.ALEGRE-FUS 04-12-2009 0.08 - - 0.08 0.07 25,1 0.10 0.04 0.00 0.00 60.00<br />

Compartimento Estrangeiras<br />

BANCO POPULAR 04-12-2009 0.00 0.09 1.57 5.84 5.74 2,381 7.58 3.23 0.46 12-01-2009 7.99 -0.31<br />

BANCO SANTANDER 04-12-2009 0.00 0.27 2.31 11.97 11.61 34,771 11.85 3.94 0.63 01-08-2009 5.43 87.24<br />

E.SANTO FINANC N 12-11-2009 0.00 - - - - - 15.20 8.64 0.25 25-05-2009 1.65 48.87<br />

E.SANTO FINANCIA 04-12-2009 0.00 -0.05 -0.33 14.93 14.90 4,619 15.49 9.92 0.25 25-05-2009 1.71 40.38<br />

PAPELES Y CARTON 27-11-2009 0.00 - - - - - 4.25 2.45 0.03 16-01-2009 0.80 21.04<br />

SACYR VALLEHERM 06-05-2009 0.00 - - - - - 7.95 7.55 0.57 31-10-2008 7.17 5.02<br />

As cotações do PSI 20, dos índices internacionais e dos seus respectivos componentes podem ser acompanhadas em: www.diarioeconomico.com<br />

Última cotação – Corresponde na grande maioria dos títulos, à cotação de fecho da última sessão, a menos que seja indicada outra data. Preços indicados em euros; Variação absoluta e percentual – diferença entre<br />

a última cotação e o fecho da sessão imediatamente anterior em que o título transaccionou; Dividendo – valor bruto, indicado em euros e respectiva data a partir da qual a aquisição do título deixou de dar direito<br />

ao pagamento do dividendo; Dividend Yield – Rendimento do dividendo, que resulta da divisão do último dividendo pago pela cotação; Comportamento anual – variação percentual da cotação em relação ao último<br />

preço do ano anterior. Compartimento A – Capitalização bolsista superior a 1.000 milhões de euros; Compartimento B – Capitalização bolsista entre 150 milhões e 1.000 milhões de euros; Compartimento C – Capitalização<br />

bolsista inferior a 150 milhões de euros; Compartimento Estrangeiras – Emitentes estrangeiras.<br />

MAIORES SUBIDAS<br />

TÍTULO VAR. %<br />

PORTUGAL TELECOM 6,19<br />

SEMAPA 2,92<br />

SONAECOM 1,67<br />

ZON MULTIMÉDIA 1,17<br />

EDP 0,39<br />

EDP RENOVÁVEIS 0,26<br />

SONAE SGPS 0,11<br />

As “telecom” foram as<br />

grandes protagonistas da<br />

semana, ao beneficiarem<br />

dos dados positivos<br />

divulgados pela Anacom. O<br />

sector energético também<br />

esteve em destaque ao<br />

fechar com ganhos<br />

semanais.<br />

MAIORES DESCIDAS<br />

TÍTULO VAR. %<br />

GALP ENERGIA -2,68<br />

B.ESPIRITO SANTO -2,61<br />

MOTA-ENGIL -2,32<br />

B.COM.PORTUGUES -1,66<br />

CIMPOR -1,19<br />

TEIXEIRA DUARTE -1,05<br />

ALTRI -1,04<br />

BANCO BPI -0,62<br />

GALP<br />

PREÇO-ALVO<br />

12,00¤<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 51<br />

O UBS reviu em baixa o seu preço-alvo para os títulos da Galp Energia, para os 12<br />

eurosfaceaosanteriores13eurosporacção.Acasadeinvestimentomanteveasua<br />

recomendação para a petrolífera em “neutral”.<br />

A petrolífera nacional<br />

liderada por Ferreira da<br />

Oliveira liderou as quedas<br />

da semana ao afundar<br />

quase 3%. O sector da<br />

banca também não fez<br />

melhor figura, com os três<br />

bancos cotados a<br />

encerrarem no “vermelho”.<br />

COTAÇÃO ACTUAL<br />

11,97¤<br />

COMENTÁRIO DE BOLSA<br />

TIAGO FIGUEIREDO SILVA<br />

tiago.silva@economico.pt<br />

PSI 20 regressa aos<br />

ganhos em Dezembro<br />

A semana que ontem findou foi positiva para a praça<br />

lisboeta. Depois de duas semanas consecutivas de perdas,<br />

o PSI 20 regressou aos ganhos semanais. Contas<br />

feitas, o índice fechou os últimos cinco dias com uma<br />

subida de 0,12%.<br />

Lá fora, a tendência semanal também foi positiva,<br />

com o índice DJ Stoxx 600 a fechar com uma valorização<br />

2,7%, numa semana em que o Banco Central Europeu<br />

decidiu manter, tal como esperado pelo mercado,<br />

a taxa de referência no nível mais baixo de sempre, nos<br />

1%, assim como a retirada “muito gradual” das ajudas<br />

ao sistema financeiro.<br />

Entre os protagonistas da semana esteve a Portugal<br />

Telecom. Os títulos da operadora nacional lideraram os<br />

ganhos semanais do índice ao dispararem 6,19%, suportados<br />

pelos dados revelados pela Anacom, segundo<br />

os quais o número de assinantes de televisão paga em<br />

Portugal subiu 2,6% no terceiro trimestre, enquanto os<br />

clientes de acesso directo a telecomunicações subiram<br />

4,6% no terceiro trimestre.<br />

ASemapaeaSonaecomocuparam os restantes lugares<br />

do pódio das melhores cotadas da semana com<br />

ganhos de 2,92% e de 1,67%, respectivamente.<br />

O sector da banca não conseguiu “sobreviver” e fechou<br />

no “vermelho”. O BES terminou a semana com<br />

perdas de 2,61%, acompanhado pelo BCP que recuou<br />

1,66% e pelo BPI que derrapou 0,62%.<br />

Nota negativa para os títulos da Galp Energia que<br />

registaram a pior performance semanal do PSI 20. Com<br />

uma queda de 2,68%, a petrolífera foi pressionada pela<br />

desvalorização dos preços do petróleo. ■<br />

PSI 20 ACUMULA GANHOS DE 31% EM 2009<br />

Evolução diária do principal índice português desde o<br />

arranque do ano.<br />

9000<br />

7000<br />

5000<br />

31-12-2008<br />

Fonte: Bloomberg<br />

POTENCIAL<br />

0,3%<br />

acompanhe as bolsas ao minuto e todas as notícias em<br />

www.economico.pt<br />

04-12-2009


52 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

DESTAQUE “A IDEIA QUE É A AMÉRICA” DE ANNE-MARIE SLAUGHTER<br />

A ideia de América<br />

JOÃO MARQUES<br />

DE ALMEIDA<br />

Colunista do <strong>Económico</strong><br />

Tal como muitos outros académicos e intelectuais<br />

próximos do Partido Democrata,<br />

Slaughter foi muito crítica (sem nunca<br />

cair em radicalismos excessivos) da política<br />

externa norte-americana durante as<br />

Presidências de George W. Bush. A reacção<br />

à “deriva unilateral” do seu país foi<br />

repensar os próprios fundamentos da diplomacia<br />

dos Estados Unidos. The Idea<br />

that is America é o resultado dessa reflexão.<br />

Slaughter começa por colocar duas<br />

questões existenciais: “qual deve ser o<br />

papel dos Estados Unidos no mundo?” e,<br />

sendo que a segunda questão decorre de<br />

uma resposta implícita à primeira, “de<br />

que modo a diplomacia norte-americana<br />

é fiel aos valores do país?”<br />

Dito de outro modo, o objectivo fundamental<br />

da política externa dos Estados<br />

Unidos deve ser a promoção dos valores<br />

americanos. Esta convicção demonstra,<br />

desde logo, que os grandes objectivos da<br />

Administração Obama, no essencial, são<br />

semelhantes aos do Presidente anterior<br />

(tal como de resto de todos os outros Presidentes<br />

americanos desde 1945). As políticas<br />

serão diferentes. Obviamente que<br />

esta diferença não é menor; segundo muitos<br />

críticos, entre eles Slaughter, algumas<br />

das políticas da Administração Bush significaram<br />

uma violação dos valores fundamentais<br />

americanos.<br />

Os sete capítulos substanciais do livro<br />

são dedicados aos valores centrais que definem<br />

os Estados Unidos: liberdade, democracia,<br />

igualdade, justiça, tolerância,<br />

humildade e fé. Misturando a história<br />

americana com a filosofia política, a discussão<br />

sobre os valores é rica e interessante.<br />

Além disso, a escrita é simples, elegante<br />

e acessível. À excepção dos últimos dois<br />

valores, humildade e fé, os restantes cinco<br />

são igualmente cruciais para os europeus e<br />

mostram a proximidade ideológica e cultural<br />

entre os dois lados do Atlântico.<br />

Existem algumas diferenças no tratamento<br />

entre valores distintos. Por exemplo, a relação<br />

entre liberdade e igualdade não é idêntica<br />

para americanos e europeus (mas mesmonaEuropa,asituaçãonãoéuniforme).<br />

No entendimento de democracia também<br />

se notam diferenças (neste caso, talvez<br />

mais substanciais). Nos Estados Unidos, a<br />

dimensão institucional e normativa ocupa<br />

um lugar central. Enquanto, em muitos<br />

países europeus, a dimensão popular da<br />

democracia prevalece muitas vezes sobre<br />

os requisitos institucionais. No entanto,<br />

no essencial, principalmente se colocarmos<br />

a discussão no plano global, as semelhanças<br />

entre americanos e europeus são<br />

maiores do que as diferenças.<br />

No plano dos valores, as excepções à<br />

identidade comum entre americanos e<br />

europeus, são a humildade eafé.Apesar<br />

da natureza histórica da discussão, o capítulo<br />

sobre a humildade visa um objectivo<br />

político muito concreto. Traçar uma<br />

distinção muito clara entre a “arrogância”<br />

do Presidente Bush e a necessária<br />

humildadedofuturoPresidente(olivro<br />

foi publicado antes da eleição de Obama).<br />

Uma conduta humilde teria que ser a<br />

condição para uma nova política externa<br />

assente na cooperação e em parcerias<br />

multilaterais.<br />

A discussão sobre a humildade tem<br />

ainda uma dimensão religiosa e prepara o<br />

tratamento do último valor da tabela<br />

ideológica de Slaughter.<br />

A importância da fé na vida pública<br />

americana aparece poderosamente nas<br />

primeiras palavras do capítulo:<br />

O ano académico na Universidade de<br />

Princeton abre e termina com serviços religiosos.Todososanossaiosdessascerimónias<br />

profundamente emocionada e<br />

com o sentimento que entendo algo profundo<br />

sobre a vida americana.<br />

A seguir, a autora discute a importância<br />

da religião na história americana e o<br />

modo como moldou as instituições e o<br />

discurso público. Mas a religião, entre os<br />

norte-americanos, está associada à liberdadeeátolerância,<br />

e não ao domínio de<br />

um credo sobre os outros; e é esta característica<br />

que afasta os Estados Unidos de<br />

muitos outros países.<br />

A “fé” tem igualmente uma dimensão<br />

secular: “a fé que faz parte da ideia do<br />

queéaAméricaémaisdoqueféreligiosa”.<br />

As suas raízes encontram-se no Iluminismo<br />

europeu, nos filósofos que os<br />

“Pais Fundadores” leram: “Locke, MontesquieueHume”(entreoutros).Estaé<br />

uma fé nas capacidades individuais, no<br />

futuro e na força da “América”. É em<br />

suma, como diz Slaughter, a “audácia da<br />

esperança” (citando o título da auto-biografia<br />

de Obama).<br />

O “asilo da liberdade”<br />

A eleição de Obama simboliza, de certo<br />

modo, a força da esperança no futuro e a<br />

convicção de que o povo americano, através<br />

de um acto voluntário (a eleição), é o<br />

dono do seu futuro e do seu destino. Este<br />

ponto leva-nos a considerar, com mais<br />

detalhe, as duas ideias centrais no pensamento<br />

de Slaughter.<br />

Em primeiro lugar, como nos diz o títulodolivro,a“Américaéumaideia”.<br />

Uma ideia que se apoia num conjunto de<br />

valores fundamentais e na crença no futuro,<br />

o famoso “destino manifesto”. Recordamo-nos<br />

imediatamente no modo como<br />

Thomas Paine definiu a América”, no ano<br />

daRevoluçãode1776,comoo“asilodaliberdade”.<br />

O asilo para onde tantos europeus<br />

(como Paine) tinham fugido das perseguições<br />

religiosas, das tiranias políticas<br />

edapobrezaemisériasocial.Eparaonde<br />

muitos outros, da Ásia, de África e, ainda,<br />

“ Slaughter foi<br />

muito crítica<br />

(sem nunca cair<br />

em radicalismos<br />

excessivos) da<br />

política externa<br />

dos Estados Unidos<br />

durante as<br />

presidências de<br />

George W. Bush.<br />

“TheIdeathat<br />

is America” é<br />

o resultado<br />

dessa reflexão.<br />

O livro “The Idea that is<br />

America: Keeping Faith with<br />

Our Values in a Dangerous<br />

World” (A Ideia da América)<br />

está disponível na Amazon,<br />

tem 272 pá<strong>gina</strong>s e custa<br />

15 euros.<br />

Do ponto de vista dos valores, os objectivos<br />

da administração Obama são, no eeesncial,<br />

semelhantes aos do presidente anterior.<br />

da Europa continuaram a dirigir-se duranteoséculoXX.Quemfogedapobreza<br />

e da perseguição para se tornar próspero e<br />

viver em liberdade, tem que acreditar no<br />

futuro e na sua capacidade para moldar o<br />

destino. Apesar da crise, apesar do suposto<br />

“declínio”, esta herança continua<br />

bem viva nos Estados Unidos.<br />

O facto de milhões de indivíduos, originários<br />

dos quatro cantos do mundo, terem<br />

construído um “asilo de liberdade”<br />

produziu mais duas convicções muito fortes.<br />

Por um lado, os valores, aparentemente,<br />

“americanos” são, na realidade,<br />

universais. Por outro lado, os valores universais<br />

não só “constituem uma ponte [de<br />

regresso] para o mundo”, como consti-


“ Os valores,<br />

aparentemente<br />

“americanos” são,<br />

na realidade,<br />

universais. Por<br />

outro lado, os<br />

valores universais<br />

“constituem os<br />

fundamentos da<br />

visão americana”.<br />

tuem os fundamentos da visão americana<br />

de uma “ordem mundial justa”. Subjacente<br />

à ideia “América”, está uma visão<br />

da ordem mundial”. O destino da América<br />

é deixar de ser simplesmente um “asilo”<br />

e promover a “liberdade ao resto do<br />

mundo”. Slaughter acredita profundamente<br />

neste destino. Tal como Obama<br />

(talvez ainda com mais força do que o seu<br />

antecessor).<br />

O livro acaba por não responder a uma<br />

questão crucial: como deve ser uma diplomacia<br />

que promove os valores americanos?<br />

Não era, sejamos justos, o objectivo<br />

da autora. No último capítulo,<br />

Slaughter limita-se a avisar contra dois<br />

perigos: o “isolacionismo” e os “fervores<br />

Mhghghk df df gdjkfhg<br />

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skdfjg sdfg.<br />

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gkj shdfkjgh sdjkfhgk<br />

jsdhfkgjh skdfjg sdfg.<br />

missionários” (apesar da discussão ser<br />

bem mais complicada do que dá a entender,<br />

sobretudo é necessário tratar dos<br />

dois perigos no contexto de uma análise<br />

mais alargada sobre as ideias de “destino<br />

manifesto” e de “excepcionalismo americano”).<br />

Nada disto retira mérito ao livro<br />

e, acima de tudo à qualidade dos argumentos.<br />

Será agora interessante ver<br />

como irá Slaughter contribuir para a promoção<br />

da “ideia de América” nas suas novas<br />

funções. ■<br />

João Marques de Almeida escreve aos<br />

sábados no <strong>Weekend</strong> <strong>Económico</strong> sobre<br />

grandes líderes europeus e grandes livros.<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 53<br />

PERFIL<br />

Kevin Lamarque/Reuters<br />

Anne-Marie Slaughter<br />

Directora “think-tank” departamento de Estado.<br />

Anne-Marie Slaughter constitui mais<br />

um exemplo de um académico que abandonou,<br />

temporariamente, a universidade para servir<br />

o poder político. Deixou a direcção do “Centro<br />

Woodrow Wilson”, na Universidade<br />

de Princeton para se tornar Directora<br />

do Planning Policy Service, o “think-tank”<br />

estratégico do Departamento de Estado,<br />

criado após a II Guerra por George Kennan.<br />

Ou seja, Slaughter é a cabeça pensante<br />

de Hillary Clinton. Nesse sentido, vale certamente<br />

a pena saber o que pensa.


54 <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

PUBLICIDADE & MEDIA<br />

1 A campanha lançada<br />

pelo governo de Pequim<br />

apela às contribuições<br />

mundiais para a<br />

produção chinesa. Quer<br />

seja 1 calçado<br />

desportivo, 2<br />

medicamentos, 3 roupa<br />

de alta costura ou 4<br />

o a tecnologia que<br />

permite altos voo.<br />

3 4<br />

Pequim lança campanha para<br />

limpar imagem do “Made in China”<br />

“Made in China. Made with the World” é a assinatura da campanha criada pela DDB Guon.<br />

Margarida Henriques<br />

margarida.henriques@economico.pt<br />

“MadeinChina.Madeinthe<br />

Worldӎolemadaprimeira<br />

campanha publicitária lançada<br />

pelo governo chinês a nível<br />

global, com o objectivo de<br />

mostrar que os produtos chineses<br />

são o resultado de uma parceriaentreaChinaeorestodo<br />

mundo. E assim é também<br />

dado o primeiro passo para<br />

limpar a imagem negativa que<br />

o “made in China” transporta –<br />

apesar de a China ser um dos<br />

maiores exportadores mundiais<br />

de produtos industriais,<br />

estes sempre foram considerados<br />

baratos mas de má qualidade<br />

e prejudiciais à saúde.<br />

“O anúncio tem por base o<br />

conceito de cooperação e participação,<br />

com o objectivo de<br />

A campanha<br />

publicitária arrancou<br />

no passado dia 23<br />

na CNN nos Estados<br />

Unidos bem<br />

enaÁsia,enaCNN<br />

Headline News,<br />

edeveráestar<br />

no ar durante<br />

seis semanas.<br />

passar a mensagem de que a<br />

Chinadáamãoaorestodo<br />

mundo para desenvolver produtos<br />

de elevada qualidade<br />

para os consumidores”, disse o<br />

ministro do comércio chinês<br />

ao jornal “Global Times”. E a<br />

mesma fonte acrescentou ainda<br />

que “na realidade, o ‘made<br />

in China’ é equivalente a “made<br />

in the world’, sendo esta<br />

cooperação é benéfica tanto<br />

para a China como para o resto<br />

do mundo”.<br />

Ao longo do filme de 30 segundos<br />

desfilam vários produtos<br />

desenvolvidos na China<br />

mas que partilham a tecnologia<br />

ou então foram desenhados<br />

noutros países, valorizando,<br />

no final, a sua qualidade. Entre<br />

os vários produtos que aparecem<br />

contam-se uns ténis<br />

“produzidos na China com<br />

2<br />

tecnologia americana”, um<br />

iPod “feito na China com tecnologia<br />

de Sillicon Valley” ou<br />

uma modelo que desfila com<br />

roupas “criadas na China por<br />

designers franceses”.<br />

Com a criatividade a cargo<br />

da agência de publicidade DDB<br />

Guon, em Pequim, para o ministério<br />

do comércio chinês<br />

em parceria com algumas associações<br />

industriais e comerciais,<br />

a campanha publicitária<br />

arrancou no passado dia 23 de<br />

Novembro na CNN nos Estados<br />

Unidos bem como na Ásia, e<br />

na CNN Headline News, e deverá<br />

estar no ar durante seis<br />

semanas, ou seja, até ao início<br />

de Janeiro.<br />

Para já está a ser bem recebida<br />

pelos analistas chineses,<br />

que consideram ser importante<br />

para o governo promover os<br />

produtos chineses. Em especial<br />

porque surge numa altura em<br />

que os Estados Unidos e a<br />

União Europeia estão cada vez<br />

mais preocupados com a invasão<br />

de produtos chineses. No<br />

entanto, agora os analistas<br />

também afirmam que é importante<br />

que o governo invista na<br />

melhoria da tecnologia, de<br />

modoaqueaChinanãoseja<br />

apenas um produtor para designers<br />

estrangeiros.<br />

Eesteéoerroquemuitos<br />

publicitários apontam a esta<br />

campanha, afirmando que<br />

continua a posicionar a China<br />

como a fábrica do mundo inteiro<br />

e reforça a ideia de que os<br />

seus bons produtos são vendidos<br />

sob outras marcas. Por isso,<br />

defendem que a China tem de<br />

evoluir do “Made in China”<br />

para o “Created in China”. ■


Mais alto cartaz publicitário de Portugal<br />

Uma equipa de oito alpinistas colocou ontem o mais alto cartaz<br />

publicitário de Portugal na Torre Vasco da Gama, no Parque das Nações<br />

para antecipar a passagem do ano em Lisboa. A tela, em tons de<br />

vermelho e branco, tem 500 metros quadrados de dimensão e<br />

foi elevada a 100 metros do solo. A organização da passagem de ano<br />

no Parque das Nações promete uma festa diferente dos anos anteriores,<br />

e conta divulgar o programa no decorrer da próxima semana.<br />

Gigantes americanas lutam<br />

para usar a marca no Twitter<br />

Quando tentaram registar a marca no Twitter, descobriram que já estava a ser utilizada.<br />

Margarida Henriques<br />

margarida.henriques@economico.pt<br />

O erro é frequente mas parece<br />

que os ‘marketeers’ teimam<br />

em não aprender. E continuam<br />

sem se preocuparem muito em<br />

acompanhar a velocidade das<br />

mudanças no mundo da Internet.Porisso,quandopercebem<br />

que devem investir, às<br />

vezes é tarde. Foi o que aconteceu<br />

a marcas como a Burger<br />

King, a Walmart, a VolkswagenouaLVMH,queforamtão<br />

lentas na abertura das suas<br />

contas no Twitter que, quando<br />

o tentaram fazer, já não podiam:<br />

as suas marcas já tinham<br />

sido ocupadas por outros<br />

utilizadores, revela o ‘site’<br />

“Advertising Age”.<br />

E é nessa altura que começam<br />

os problemas para os<br />

‘marketeers’ porque a partir<br />

do momento em que a marca<br />

está “na posse” de outros utilizadores,<br />

tudo pode acontecer<br />

umavezqueestáforadoseu<br />

controlo e regras de utilização.<br />

Um dos perigos é que a reputação<br />

da empresa seja prejudicada<br />

por utilizadores mal-intencionados.<br />

Por exemplo, quem<br />

entrar no Twitter da coreana<br />

Hyundai, por exemplo, não<br />

encontra carros mas sim mulheres<br />

com roupas bem decotadas.Outroriscoéqueaempresa<br />

fique de fora das redes<br />

sociais – seja o Twitter, o Facebook<br />

ou outra qualquer – por<br />

não poder utilizar a sua própria<br />

marca. Nestes casos não há outra<br />

alternativa a não ser encontrar<br />

um nome o mais parecido<br />

possível com a sua marca.<br />

PUB<br />

Um dos perigos<br />

équeareputação<br />

da empresa seja<br />

prejudicada<br />

por utilizadores<br />

mal-intencionados.<br />

Ainda assim, a Volkswagen<br />

teve dificuldades em consegui-lo<br />

porque os nomes @vw<br />

ou @volkswagen já estavam a<br />

ser utilizados. A solução foi ficar<br />

com o @vwcars.<br />

No entanto, de acordo com<br />

o “Advertising Age”, há outras<br />

marcas com o mesmo problema<br />

– é o caso da General Electric<br />

ou da General Motors,<br />

mas também da Mastercard,<br />

daNike,daMacy’seatéda<br />

Walt Disney.<br />

É fundamental registar<br />

a marca no ‘online’ e ‘offline’<br />

Mas isto está a acontecer agoracomoTwitterdamesma<br />

forma que aconteceu no momento<br />

em que a Internet deu<br />

os seus primeiros passos ou<br />

até mesmo quando alguma<br />

marca tenta entrar num novo<br />

mercado. Daí que seja muito<br />

importante que, no momento<br />

da criação de uma marca e antes<br />

da definição da estratégia,<br />

os seus responsáveis se preocupem<br />

não só com a escolha<br />

do nome certo mas que analisem<br />

também os mercados<br />

onde prevêem que a marca<br />

possa vir a entrar. Isto para<br />

garantir que o nome não tem<br />

significados indesejáveis noutras<br />

línguas e também para<br />

evitar que outros utilizadores<br />

registem o mesmo nome.<br />

Porque quando isso acontece<br />

só há duas soluções: ou<br />

encontra um nome semelhante<br />

– como fez a Volkswagen<br />

no Twitter – ou então<br />

paga ao outro utilizador para<br />

que lhe ceda os direitos do uso<br />

da sua marca. ■<br />

Sábado 5 Dezembro 2009 <strong>Weekend</strong> — <strong>Económico</strong> 55<br />

Antoine Antoniol/Bloomberg<br />

A LVMH, que reúne mais de 50<br />

marcas de luxo como a Louis<br />

Vuitton, a Moët & Chandon, ou o<br />

perfume Dior, foi uma das que<br />

chegou atrasada ao Twitter.


<strong>56</strong> <strong>Económico</strong> — <strong>Weekend</strong> Sábado 5 Dezembro 2009<br />

ÚLTIMA<br />

ÚLTIMA HORA<br />

A ANMP, presidida<br />

por Fernando Ruas, quer rever<br />

a Lei das Finanças Locais.<br />

PS e PSD vão adiar fim<br />

das actuais taxas municipais<br />

Os dois partidos dão mais tempo às autarquias para rever as taxas que cobram.<br />

OPSeoPSDqueremalargaroprazo<br />

que os 308 municípios têm para rever<br />

as taxas municipais. O prazo actual<br />

terminava no último dia do ano, mas<br />

os socialistas querem dar mais quatro<br />

meses e os sociais-democratas defendem<br />

um alargamento da data limite<br />

até ao final de Junho.<br />

A actual lei das taxas municipais<br />

prevê que as câmaras só podem cobrar<br />

taxas aos munícipes se as justificarem<br />

tecnicamente. Este trabalho<br />

implica o fim das actuais taxas praticadas<br />

e aprovação das novas, o<br />

que teria de ser feito até ao último<br />

diadoano.Noentanto,oslamentos<br />

de alguns autarcas já encontraram<br />

OS COMENTÁRIOS DA SEMANA<br />

Bancos europeus “estão a<br />

semear” a próxima crise<br />

● Finalmente uma notícia que<br />

espelha o que se sente e o que se vê<br />

na economia real: o sector bancário<br />

estárealmenteafortalecer-secoma<br />

actual crise. Arranjaram uma forma<br />

de terem espaço para cobrarem mais<br />

pelos mesmos serviços. No crédito à<br />

habitação a taxa de referência é a<br />

Euribornosvariadosprazos,eneste<br />

momento segundo dizem os<br />

circuitos financeiros, os bancos<br />

Acompanhe ao minuto em www.economico.pt<br />

eco nos dois maiores partidos que já<br />

apresentaram projectos-lei para<br />

dar mais tempo aos autarcas. A<br />

única diferença entre os dois partidos<br />

está no tempo adicional a dar<br />

aos municípios, com o PSD a dar<br />

um prazo mais alargado.<br />

A Câmara Municipal de Lisboa é<br />

uma das que já tem o trabalho adiantado,<br />

prevendo eliminar cerca de<br />

2.000 taxas.<br />

Além desta alteração, que deverá<br />

passar no Parlamento bastando para<br />

isso um acerto nas datas, as câmaras<br />

municipais reclamam ainda uma revisão<br />

da Lei das Finanças Locais.<br />

Reunidos desde ontem em Congres-<br />

www.economico.pt<br />

estão a comprar o dinheiro mais<br />

caro, devido à analise feita em<br />

termos de rating, ou seja o que aqui<br />

temos são manobras de bastidores.<br />

- GDS, LISBOA<br />

● Alguém descobriu a pólvora em pleno<br />

século XXI. Os bancos cada vez têm<br />

mais poder e os governos têm de se rebaixar<br />

(como está a acontecer com o<br />

governo americano e inglês) perante<br />

esses grupos económicos que têm tal<br />

poder que o governo tem de lhes dar<br />

tudo o que eles querem. -JOSÉ<br />

Propriedade S.T. & S. F., Sociedade de Publicações Lda, Registo Comercial de Lisboa n.º 02958911033.<br />

Registo Semanário <strong>Económico</strong> nº 111 672 Administração Rua Vítor Cordon, n.º 19, 1º, 1200 - 482 Lisboa Telefones 213 236 700<br />

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Sogapal, Estrada de São Marcos, 27B São Marcos 2735-521 Agualva - Cacém Distribuição Logista Portugal, Distribuição<br />

de Publicações, S.A. Edifício Logista Expansão da Área Industrial do Passil Lote 1 – A Palhavã 2894 002 Alcochete<br />

so, a Associação Nacional de Municípios<br />

Portugueses (ANMP), presidida<br />

por Fernando Ruas, quer tratar destas<br />

questões com o Governo, podendoaproveitarapresençadoprimeiro-ministro,<br />

José Sócrates, hoje no<br />

encerramento do congresso.<br />

A Lei das Finanças Locais “criou<br />

desequilíbrios novos, problemas ao<br />

nível da sustentabilidade financeira<br />

das câmaras”, disse Ribau Esteves,<br />

autarca de Ílhavo à Lusa. Em causa<br />

está o facto de em 2010 serem levantados<br />

“os chamados mecanismos<br />

travão”, que impedem quedas acentuadas<br />

nas transferências do Orçamento<br />

do Estado. M.M.O.■<br />

MAIS LIDAS DA SEMANA<br />

● Veja quanto vai baixar a sua<br />

prestação em Dezembros<br />

Arquivo <strong>Económico</strong><br />

● Gripe A faz mais uma vítima<br />

mortal<br />

● Bancos europeus “estão a semear”<br />

a próxima crise<br />

● Bin Laden visto no Afeganistão<br />

● Detectadas 28 reacções adversasàvacinadaGripeAnaúltima<br />

semana<br />

Leia versão completa em<br />

www.economico.pt<br />

Sogrape vende<br />

activos da<br />

Sandeman Jerez<br />

A Sogrape, o maior grupo vitivinícola português,<br />

acabou de vender os activos que possuía em Jerez de<br />

la Frontera e que estavam sob alçada da marca Sandeman<br />

ao grupo espanhol Nueva Rumasa. A empresa<br />

portuguesa alienou os escritórios e a cave que estavam<br />

ligados ao vinho Sandeman Jerez, depois de<br />

em 2004 ter vendido ao mesmo grupo espanhol as<br />

vinhas que detinha nesta região espanhola. Fonte<br />

oficial da Sogrape escusou-se a revelar qual foi o valor<br />

da operação, frisando apenas que a marca Sandeman<br />

se mantém nas mãos da Sogrape.<br />

A Sogrape tem vindo a produzir o vinho Sandeman<br />

Jerez tendo por base fornecedores locais. Aliás,<br />

após a vendas das vinhas, o grupo espanhol Nueva<br />

Rumasa firmou um contrato de fornecimento para a<br />

marca Sandeman dos vinhos do Jerez. Segundo a<br />

mesma fonte, a Sogrape vai agora “concentrar esforços<br />

na dinamização da marca Sandeman aos níveis<br />

comercial e de marketing”. A aposta estará<br />

centrada na Alemanha, mercado onde a Sandeman<br />

Jerez é líder nos vinhos do Jerez, e na Holanda, onde<br />

também detém uma forte posição, adiantou ainda.<br />

A Sogrape irá manter um escritório em Jerez de la<br />

Frontera (noutro local) e a cave agora alienada, que<br />

está aberta ao público, continuará a manter um<br />

centro de visitas ligado à marca Sandeman Jerez.<br />

Saliente-se que a marca Sandeman comercializa vinhodoPortoevinhodoJerez.<br />

A marca Sandeman mantém-se nas<br />

mãos da Sogrape. A cave, escritórios<br />

e vinhas foram vendidos ao grupo<br />

espanhol Nueva Rumasa.<br />

A Sogrape, que detém 18 marcas entre vinho do<br />

Porto e vinhos de mesa do Alentejo, Dão, Douro,<br />

verde e rosé, tem também presença internacional na<br />

Argentina, Nova Zelândia e Chile. O grupo liderado<br />

por Salvador Guedes tem vindo a apostar no Novo<br />

Mundo vinícola, tendo feito a primeira incursão na<br />

Argentina, em 1997, com a compra da Finca Flichman.<br />

Já mais recentemente, a empresa comprou a<br />

Framingham, na Nova Zelândia, ao grupo Pernord<br />

Ricard, e a empresa chilena Chateau Los Boldos à<br />

família Dominique Massenez.<br />

O grupo português facturou 181,9 milhões de euros<br />

em 2008, representado as exportações cerca de<br />

85% das vendas. A Sogrape prevê para este ano um<br />

crescimento no volume de negócios, apesar da quebra<br />

no consumo sentida a nível nacional e internacional.<br />

Os vinhos de mesa têm sido bem acolhidos<br />

pelo mercado, sendo que o negócio do vinho do<br />

Porto tem sido mais penalizado. S.S.P. ■<br />

Suplemento especial de Copenhaga<br />

Na próxima segunda-feira,<br />

começa a grande Conferência do<br />

Clima Copenhaga. Um evento de<br />

importância crucial para os<br />

próximos anos do planeta terra.<br />

O Diário <strong>Económico</strong> associa-se<br />

ao evento com um suplemento<br />

especial, feito com reportagens<br />

nacionais e conteúdos exclusivos<br />

do “Financial Times”: o que se espera dos líderes<br />

que estarão na Cimeira, casos de sucesso de<br />

empresas portuguesas que conseguiram baixar a<br />

sua factura energética, o mercado do carbono, e as<br />

últimas polémicas sobre o aquecimento global.


Outlook<br />

SUPLEMENTO DE SÁBADO<br />

ECONÓMICO WEEKEND<br />

54<br />

05/12/2009<br />

“Só aceito clientes que têm razão”<br />

José Manuel Galvão Teles


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Look at<br />

5.12.09<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 3<br />

O diagnóstico pode até nem ser ori<strong>gina</strong>l, mas<br />

ganha a força de autoridade quando feito por<br />

um decano da advocacia que se mantém na linha<br />

da frente do exercício do Direito e que neste<br />

momento defende um dos principais arguidos<br />

do processo Face Oculta: é uma loucura o que<br />

se passa na justiça, diz José Manuel Galvão Teles,<br />

numa entrevista em que não se furtou a falar<br />

de nada do que lhe é permitido falar 40 O caso<br />

concreto que move o jurista é o mesmo que<br />

inspira mais uma crónica de João Lobo Antunes,<br />

num texto sobre a natureza dos conflitos<br />

de interesses 11 Também nós procurámos fazer<br />

uma radiografia dos interesses que afundaram<br />

a economia do Dubai e responder à pergunta<br />

simples: pode um país fechar? 32 Outra pergunta,<br />

mais complicada, é a de saber que perguntas<br />

faz sentido levar a referendo numa democracia.<br />

Fomos tentar perceber, olhando o caso suíço 36<br />

De caminho, ficámos a ver aviões serem<br />

desmontados como legos 12 e hotéis a serem<br />

pensados como obras de arte 6 E o Natal está<br />

aí à porta, com um janela aberta no nosso Best Of.<br />

João Pedro Oliveira


4 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

IDEIAS FORTES<br />

No momento em que a UE ensaia<br />

um novo passo com o Tratado de Lisboa,<br />

Gisa Martinho faz a radiografia<br />

da complexa relação de minorias<br />

que continua a definir a essência da<br />

Europa. Enquanto isso, Mónica Silvares<br />

explica-lhe por que razão as decisões<br />

saídas da última reunião da Organização<br />

Mundial do Comércio lhe dizem<br />

mais respeito do que possa ima<strong>gina</strong>r.<br />

A ilustração é de Conçalo Viana<br />

Novas minorias<br />

Quase nem se dá por elas. Discretas na maior parte dos dias, de vez em<br />

quando mexem-se e têm força suficiente para, por exemplo, desbloquear<br />

de uma vez por todas o Tratado de Lisboa. Chamam-lhes minorias, mas<br />

são diferentes das que chegam de ‘patera’ pelo Mediterrâneo, com um<br />

falso visto de turista transatlântico ou de mala de cartão do Leste. Em<br />

comum têm o facto de se ressentirem sempre que um político precisa de<br />

uma injecção rápida de popularidade. Mas a memória de quem ficou do<br />

lado errado da fronteira, não se apaga. Saídas das grandes guerras do<br />

século passado ou do colapso soviético, as novas minorias europeias<br />

mantêm as tradições ori<strong>gina</strong>is e são fiéis à sua versão da história, por mais<br />

que isso ofenda o país onde vivem. Alguns dos grupos étnicos estão só no<br />

imaginário, como é o caso dos Sudetas. Mas os três milhões de alemães,<br />

expulsos de território checo e polaco após a Segunda Guerra, foram a<br />

chave para que o novo tratado europeu entrasse em vigor esta semana.<br />

Sem a garantia de que os Sudetas desistiriam de perseguir uma<br />

compensação pelos bens e terrenos que deixaram para trás durante o seu<br />

‘pogrom’, o presidente checo não ratificou o Tratado de Lisboa.<br />

Já as outras minorias europeias existem e estão em grande forma. As várias<br />

fricções diplomáticas e atropelos aos direitos destes grupos abanam o<br />

santuário dos direitos humanos que devia ser a União Europeia. O mais<br />

recente episódio chega da Eslováquia, da região de Komarno, onde a<br />

convivência com a minoria húngara – 10% da população, cerca de meio<br />

milhão de pessoas – está cada vez mais difícil. Desde que os húngaros<br />

decidiram erigir uma estátua ao rei Estêvão I, um herói do império austro-<br />

-húngaro, que as relações entre Bratislava e Budapeste são as piores<br />

dentro do espaço europeu. A cartada da retórica anti-húngara foi jogada<br />

quase de imediato pelo partido nacionalista da coligação governamental e<br />

serviu de desculpa para passar uma lei polémica. A língua eslovaca, desde<br />

1 de Setembro, deve vir em primeiro lugar quer seja no quadro das escolas,<br />

nos monumentos ou nas conferências de imprensa. Os húngaros acusam o<br />

poder central de discriminação – num protesto que já chegou ao<br />

Congresso norte-americano. Em Bratislava receia-se o regresso de uma<br />

Grande Hungria, através do impulso da minoria magiar espalhada também<br />

pela Roménia, Sérvia e Croácia. Aliás, a mania das grandezas também não<br />

é um mito na zona dos Balcãs, cujos países são candidatos a entrar na<br />

União Europeia. O que antes era o povo jugoslavo é hoje um complicado<br />

tabuleiro geográfico de minorias. Ali ainda se temem as ambições de uma<br />

Grande Sérvia, mas sobretudo de uma Grande Albânia. Na Macedónia, por<br />

exemplo, os albaneses somam 25,2% da população e são a maioria na<br />

quase-nação Kosovo.<br />

De volta ao interior das fronteiras europeias, dois países bálticos<br />

protagonizam o caso mais bizarro de violação de direitos humanos da UE.<br />

Uma parte da minoria russa – que atinge 16,4% da população na Letónia e<br />

7,7% na Estónia – tem o estatuto de ‘não-cidadão’. Uma nova classe<br />

inventada para aqueles que não passam ou não se sujeitam a testes de<br />

cidadania numa das línguas bálticas, mesmo que vivam há gerações no<br />

país. A estes cidadãos de terceira só é permitido viver no país sem visto ou<br />

certificado de residência. Os outros direitos estão num limbo: acesso<br />

condicionado ao sistema de pensões, emprego vedado em organismos<br />

públicos e proibição do russo nas escolas. Bruxelas finge que não vê.<br />

Mesmo quando Vladimir Putin, numa encenação dramática entre o<br />

‘kitsch’ verde e dourado do Kremlin, lê a carta de uma criança báltica cujo<br />

único desejo é poder aprender russo na escola.<br />

A União Europeia, que se sente guardiã e um exemplo a seguir nos direitos<br />

humanos, aceita mal que lhe apontem fraquezas enquanto espera, num<br />

estado de negação, que as diferenças étnicas entre os seus povos se diluam<br />

numa teórica identidade europeia. Fora da fronteira, a atitude de Bruxelas<br />

atinge outros níveis, de censura moral. Desde que a Turquia bateu à porta<br />

da UE, que o caso dos direitos da minoria curda no leste do país é um<br />

ponto de fricção bilateral. Madrinha desde a primeira hora da causa curda,<br />

Bruxelas pressiona o uso da língua da minoria nas escolas públicas e<br />

qualquer incidente na região serve para mostrar como a Turquia continua<br />

‘verde’ demais para entrar na liga europeia.<br />

A distracção cultivada da UE perante as suas próprias minorias não deixa<br />

de ser uma estratégia pensada e cuidada. Sem atenção dos holofotes, os<br />

grupos minoritários têm menos hipótese de ganhar escala, de se<br />

organizarem politicamente e, um dia mais tarde, pedirem, primeiro a<br />

autonomia e depois a independência. As velhas minorias europeias, como<br />

catalães, bascos, flamengos ou valões, continuam a alimentar o sonho de<br />

cisão do poder central. Os escoceses, governados agora por nacionalistas,<br />

apresentaram esta semana uma proposta de independência do reino para<br />

2010. Bruxelas mantém-se uma espectadora atenta às convulsões das<br />

velhas minorias e quase indiferente aos novos grupos étnicos que herdou<br />

dos últimos alargamentos. Não deixa de ser uma boa notícia para Ancara.<br />

Se um dia a Turquia entrar no clube europeu, o capítulo curdo desaparece.<br />

Nessa altura todos serão europeus aos olhos, semicerrados, de Bruxelas.


Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 5<br />

O grande desígnio da OMC<br />

Esta semana foi um marco para o comércio internacional. Em Genebra<br />

realizou-se a sétima reunião ministerial da Organização Mundial de<br />

Comércio, de onde saiu a promessa de acelerar as negociações da Ronda de<br />

Doha com vista à liberalização do comércio, a Comissão Europeia propôs<br />

prolongar por mais 15 meses as medidas anti-dumping impostas às<br />

importações de sapatos de pele oriundos da China e do Vietname, e<br />

celebraram-se dez anos das mega manifestações de Seattle que reuniram<br />

cerca de 50 mil pessoas num protesto contra a globalização. Uma<br />

característica que passou a marcar todas as reuniões onde se discute o<br />

tema, embora com níveis de brutalidade decrescentes.<br />

No entanto a maior parte dos portugueses não sabe, nem quer saber o que<br />

se discute nestes círculos. A ideia dominante é a de mais uma sala, cheia de<br />

ministros e burocratas que discutem temas esotéricos, durante anos a fio e<br />

sem resultados práticos. Não é bem assim. E os portugueses já sentiram na<br />

pele as consequências das decisões tomadas nessas altas esferas.<br />

A liberalização do sector têxtilearesultanteinvasãodomercadoeuropeu<br />

de produtos oriundos de outros país menos desenvolvidos foi um duro<br />

golpe para a indústria nacional e que arrastou centenas para o desemprego.<br />

Quer isto dizer que a liberalização é um erro? Não. Apenas que se deveria<br />

seguir com mais atenção aquilo que é discutido em Genebra, a sede da<br />

Organização Mundial de Comércio (OMC). Por um lado, aproveitar os<br />

períodos de transição que são dados para reformar e preparar os sectores<br />

visados e, por outro, formar negociadores que possam, defender, com as<br />

mesmas armas, os interesses portugueses no seio da União Europeia, já<br />

que é esta que negoceia em nome de todos os Estados-membro junto da<br />

OMC. Ou seja, por exemplo, quando os acordos de Marraquexe foram<br />

assinados, em 2001, o têxtil nacional sabia que dez anos depois o sector<br />

seria liberalizado. Houve quem tenha feito o trabalho de casa. As<br />

empresas que decidiram avançar para nichos mais competitivos – os<br />

têxteis técnicos são um exemplo de uma aposta ganha – perceberam o<br />

que estava em jogo, mas houve outras que não tiveram visão de futuro,<br />

deixaram-se arrastar na espuma dos dias e quando se aperceberam do<br />

que se estava a passar era tarde demais. Em abono da verdade é preciso<br />

frisar que houve uma pequena, grande mudança desde que o acordo foi<br />

concluído – a adesão da China à OMC.<br />

Quando a liberalização total entrou em vigor, a 1 de Janeiro de 2005, as<br />

restrições que até então tinham protegidos as indústrias europeias deste<br />

sector caíram. Em breve, as notícias dos jornais davam conta da “invasão”<br />

de vestidos de senhora, toalhas de mesa, soutiens, meias chineses e muitas<br />

outras categorias têxteis. Os empresários bramavam por justiça porque<br />

argumentavam que as empresas chinesas não obedeciam às mesmas regras:<br />

sem o mesmo tipo de restrições ambientais, com mão-de-obra muito<br />

barata e quase sem direitos e muitas vezes com a electricidade subsidiada<br />

pelo próprio Estado. Naturalmente, os produtos tinham de ser mais baratos.<br />

Mas a concorrência não era leal. Depois de intensas lutas de interesses<br />

dentro da própria União Europeia – os países que apenas distribuem<br />

têxteis, ou seja, não produzem, viam com bons olhos estas importações<br />

porque lhes permitia ter margens de lucro superiores e aos olhos dos<br />

consumidores roupa e tecidos baratos é sempre um boa notícia – foi<br />

possível assinar o Acordo de Xangai que definia, novamente, quotas para as<br />

sete categorias de produtos mais problemáticos.<br />

Um problema semelhante é vivido na indústria do calçado, que emprega<br />

mais de 260 mil pessoas na Europa e que por isso gera maiores simpatias.<br />

China e Vietname produzem sapatos abaixo do custo de produção. Um sinal<br />

de que as regras não estão a ser cumpridas. A União Europeia apresentou<br />

queixa junto da OMC e recebeu luz verde para, desde 2006, impor medidas<br />

anti-dumping a estas importações. O prazo das mesmas estava a chegar ao<br />

fim, mas após uma investigação, Bruxelas entendeu esta semana que<br />

existem razões para continuar a cobrar direitos aduaneiros de 16,5% aos<br />

sapatos chineses e de 10% aos vietnamitas, durante mais 15 meses.<br />

O papel de garante das regras comerciais pode ser o grande desígnio da<br />

OMC. Este é já, aliás, um dos pilares da actuação da organização,<br />

presentemente dirigida por Pascal Lamy, antigo comissário europeu do<br />

Comércio. A resolução de conflitos comerciais poderá ser a maior utilidade<br />

desta organização que, enquanto tribunal comercial internacional, já teve<br />

de deliberar sobre disputas tão graves, prolongadas e famosas como a<br />

guerra das bananas ou a dos bovinos com hormonas. O Órgão de Resolução<br />

de Conflitos tem por objectivo dar segurança e previsibilidade ao sistema<br />

multilateral de comércio e é eficiente nessa tarefa precisamente porque<br />

todas as decisões da OMC são tomadas por unanimidade. Os 153 países que<br />

integram a organização têm de votar todos a favor para que algo passe. Esta<br />

é por isso a principal fragilidade, mas também a principal força da<br />

instituição. Isto explica porque é tão duro chegar a acordo sobre a<br />

liberalização dos vários sectores do comércio. Se por um lado, os países<br />

desenvolvidos gostariam de ver liberalizados os serviços financeiros, os<br />

países mais pobres querem liberalizar o sector agrícola. Este equilíbrio de<br />

forças faz a OMC caminhar a passo de caracol e explica porque nove anos<br />

depois de ter lançado a ronda de Doha, o fim está longe de chegar.


6 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

SUCESSO<br />

Chama-se Nini<br />

E o seu nome está nas bocas do mundo. Venceu o prémio de melhor design<br />

de suites com o Hotel The Vine, no Funchal. Mas relativiza. Que outra coisa<br />

pode fazer uma designer que já planeia decorar hotéis no espaço?<br />

TEXTO ÂNGELA MARQUES / FOTOS PAULO ALEXANDRE COELHO<br />

Aacreditar em Paulo de Carvalho,<br />

aos 15 anos Nini vestia<br />

de organdi e dançava,<br />

dançava. Mas já se sabe<br />

como são os artistas – inventam<br />

muito. A verdade é<br />

que aos 15 anos Nini Andrade Silva vivia no<br />

Funchal, longe de Paulo de Carvalho, e<br />

criava, criava. Por essa altura já pensava<br />

fazer uma de três coisas: trabalhar no circo,<br />

ser hospedeira ou designer de interiores.<br />

À sua maneira, hoje consegue ser<br />

tudo. E ainda ganhar prémios.<br />

Por partes: Nini diz que na sua vida,<br />

como no circo, tudo acontece. Que é preciso<br />

um bocadinho de loucura para trabalhar<br />

com ela e perceber que num dia pode<br />

estar ali, no ateliê da Sé de Lisboa (castanho-cosy),<br />

e no outro estar a jantar com<br />

Frank Gerry em Santa Monica. “Há pessoas<br />

que se espantam, mas o Frank Gerry<br />

esteve duas vezes na Madeira e nessas<br />

duas vezes eu estive com ele. Agora combinámos<br />

encontrar-nos.” Não se gaba,<br />

partilha. “As pessoas acham que viver<br />

numa ilha nos fecha. Eu acho que é preciso<br />

perceber que quando as pessoas de fora<br />

vão à ilha vão com outra disposição. E é<br />

preciso aproveitar isso. Conheci pessoas<br />

de todo o mundo lá.”<br />

Por essas e por outras, Nini é uma espécie<br />

de Anita, faz-tudo, vai a todo o lado. E<br />

sente que cumpriu um sonho: também é<br />

hospedeira. “A minha vida é andar no ar.<br />

Ando sempre de avião, estou há um mês<br />

sem ir a casa, só em viagens. Acho que já<br />

sou hospedeira, não?” Sim. “E vivo de hotel.”<br />

Como disse? “Não vou ao Funchal há<br />

um mês e é lá que tenho a minha casa. O<br />

resto vivo de hotel. É por isso que sei fazer<br />

hotéis.” Quando está em Lisboa, passa<br />

muitas vezes a semana num hotel e depois<br />

muda-se para outro no fim de semana.<br />

Outro, mas não outro qualquer. Só fica no<br />

Ritz, no Pestana Palace ou no Fontana Parque,<br />

que decorou.<br />

E é na história de como começou a desenhar<br />

que se percebe como Nini só podia<br />

ser designer (terceiro dos sonhos). “Na escola<br />

fazia os desenhos das minhas colegas.<br />

Levava-os para casaeamãeminhaestranhava.<br />

Perguntava-me porque é que tinha<br />

tantos trabalhos de casa.” Quando teve de<br />

escolher que curso queria tirar, disse à<br />

mãe que queria ser designer. “Ela ainda<br />

me perguntou: tens a certeza de que não<br />

queres ser arquitecta? Eu disse que não,<br />

que queria ser designer e ela acrescentou:<br />

então é isso que tens de fazer.”<br />

Num encontro<br />

de arquitectos<br />

e designers<br />

de interiores,<br />

Nini ouviu uma<br />

frase de que não<br />

se esquece:<br />

“Hoje em dia,<br />

quanto mais ‘cool’<br />

é o quarto mais<br />

difícil é abrir<br />

as cortinas<br />

e acender as luzes.”<br />

E não pode<br />

ser assim, diz.<br />

“Os clientes<br />

não podem sentir<br />

que precisam<br />

de um curso para<br />

sobreviver dentro<br />

do quarto do hotel”<br />

Aos 18 anos Nini mudou-se para Lisboa,<br />

para estudar no IADE. “E adorei. O IADE<br />

ainda era no Palácio de Pombal, no meio<br />

do Chiado. Estávamos em 1980 e tudo<br />

acontecia ali: os pintores estavam ali, as<br />

exposições aconteciam ali.” Adorou, mas<br />

soube-lhe a pouco. Decidiu que tinha de<br />

estudar mais. Foi para os Estados Unidos<br />

(“tinha amigos lá”), depois para a África<br />

do Sul (“para estudar murais e pinturas”),<br />

ainda esteve na Dinamarca (“a estudar arranjos<br />

florais”) e só depois voltou ao Funchal.<br />

Quis aprender para poder mandar:<br />

“Acho que tem de se saber o que se está a<br />

fazer para se poder mandar alguém fazer a<br />

mesma coisa.”<br />

Regressada ao Funchal, decidiu lançar,<br />

com dois sócios, a empresa Esboço. E começou<br />

a decorar casas. Entretanto, a sua<br />

morada já era ponto de paragem obrigatório<br />

no Funchal. “A minha casa fica mesmo<br />

em frente ao mar. O secretário da Cultura<br />

é meu amigo e sempre que lá ia alguém especial<br />

pedia-me para levar lá as pessoas.<br />

Também fui conhecendo muitas pessoas<br />

assim. Hoje a minha casa é conhecida<br />

como o Santuário da Amizade, porque<br />

toda a gente lá vai.”<br />

De dois em dois anos a Esboço abria<br />

uma loja. E das casas Nini passou para os<br />

hotéis. Primeiro pequenos, depois grandes.<br />

Até que o Funchal ficou minúsculo<br />

para tanto sucesso. Nini assumiu o seu<br />

nome como marca e montou um ateliê em<br />

Lisboa (sem deixar a Madeira, onde ainda<br />

hoje tem a maior parte da sua equipa). O<br />

que já corria bem, começou a correr melhor.<br />

Mas Nini sabe porquê. “Sei o que os<br />

clientes querem porque também sou exigente.<br />

Quer dizer, sou péssima. A última<br />

vez que estive em Londres mudei de quarto<br />

três vezes. E via o desespero na cara da<br />

recepcionista. Até lhe disse: compreendo<br />

o seu desespero, mas compreenda também<br />

o meu. As pessoas às vezes não sabem<br />

o que é estar cansada, querer dormir e só<br />

ouvir o barulho do ar condicionado. E os<br />

hotéis têm de ter essas preocupações.”<br />

Mas há mais: para Nini, os quartos têm<br />

de ser funcionais. “Há pouco tempo, num<br />

encontro de arquitectos e designers de interiores<br />

ouvi dizer uma coisa que é mesmo<br />

verdade: hoje em dia, quanto mais ‘cool’ é<br />

o quarto mais difícil é abrir a cortina e<br />

acender as luzes.” E não pode ser, diz. “O<br />

cliente do hotel não pode ficar com a sensação<br />

que precisa de tirar um curso para<br />

ficar ali dentro. Até porque ele quer tecnologia,<br />

mas quer sentir-se bem, quer des-<br />

cansar.” E descansar também quer dizer<br />

dormir. “Uma boa cama é essencial. Os<br />

lençóis têm de ser muito bons. Se o cliente<br />

souber que os lençóis são de algodão egípcio,<br />

até deseja ir para lá dormir.”<br />

É que decorar hotéis não é escolher alcatifas.<br />

Quando se mete num projecto, Nini<br />

trabalha desde o início com os directores<br />

dos hotéis. Foi assim no AquaPura, no<br />

Douro, primeiro hotel que lhe deu notoriedade<br />

em Portugal. Este ano, a decoração<br />

do The Vine valeu-lhe, no início de<br />

Novembro, ficar no top 3 mundial na categoria<br />

de “Interiors and Fit Out” do World<br />

Architecture Festival e ganhar o prémio<br />

de melhor design de suites no European<br />

Hotel Design Awards. Mas os prémios não<br />

são tudo, avisa. “Estar, por exemplo, no<br />

Festival Internacional de Arquitectura,<br />

em Barcelona, já é um prémio.”<br />

E Nini não se limita a estar. Também<br />

gosta de surpreender. “Há pouco tempo<br />

pediram-me para decorar um hotel da Expo.<br />

Eu sugeri algumas alterações, mas disseram-me<br />

que não podia mudar a alma do<br />

hotel. Eu tentei explicar que se podia fazer<br />

alterações sem mudar a alma, mas não me<br />

deixavam. Um dia estava no cabeleireiro e<br />

vi uma peruca. Perguntei se a podia comprar<br />

e levei-a para o hotel. Numa apresentação<br />

de trabalhos perante um júri pus a<br />

peruca. Falei o tempo todo sobre a alma<br />

dos hotéis de peruca posta. Até que, no final,<br />

a tirei. O júri ficou tão surpreendido<br />

que já não sabia se aquela era eu ou não. E<br />

isto serviu para lhes provar que a imagem<br />

pode mudar muitas vezes e a alma ser a<br />

mesma. Ah, também serviu para ganhar<br />

um trabalho em Londres [risos]”<br />

Nini trabalha com uma grande equipa:<br />

trinta pessoas no Funchal e dez em Lisboa.<br />

“Todas um bocadinho loucas. Capazes de<br />

arriscar. Sabem como eu penso e temos<br />

uma linha. E não há impossíveis. Nem<br />

problemas, só soluções.” Por pensarem<br />

também assim, já não se espantam. Um<br />

destes dias, Nini chegou de uma viagem a<br />

dizer que tinha lido no avião que no futuro<br />

será possível construir hotéis no espaço.<br />

Não foi preciso mais nada – começou logo<br />

a fazer planos. E não se escusou a falar deles.<br />

“Trabalho muito na Ásia e tenho um<br />

amigo que sempre me ajudou lá. Um dia<br />

destes, quando soube que um dos meus<br />

planos para o futuro é o de decorar um hotel<br />

no espaço (porque é mesmo, estou a<br />

pensar nisso), disse-me: Nini, as embaixadas<br />

na terra eu ainda conheço, mas<br />

quando for fora da terra...”


Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 7


8 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

UTOPIAS<br />

Game over<br />

A luta constante pelo domínio das salas<br />

de estar pode estar a chegar ao fim.<br />

As consolas de videojogos enfrentam,<br />

pela primeira vez, uma ameaça<br />

real de substituição. Pior que isso,<br />

por um sistema bem mais simples,<br />

mais prático e mais barato<br />

TEXTO LUÍSA DE CARVALHO PEREIRA<br />

Os dias da Playstation e da Xbox podem<br />

estar a chegar ao fim. Todos os anos<br />

por esta altura, saem milhares de unidades<br />

das estantes das lojas direitinhas<br />

para debaixo da árvore. Este ano<br />

não será excepção e não é preciso<br />

pertencer ao ‘staff’ do Pai Natal para adivinhar que<br />

esta é uma das prendas mais vezes inscrita nas listas<br />

de pedidos da época. Mas pode não ser assim por<br />

muito mais tempo e talvez seja esta a altura certa<br />

para começar a ponderar melhor o investimento. É<br />

que dentro em breve, as consolas, tal como as conhecemos,<br />

ameaçam tornar-se obsoletas. Um novo<br />

sistema ‘on-demand’ vai permitir-lhe estar na sua<br />

sala, escolher o jogo que quiser, de qualquer consola,<br />

sem que para isso precise de mais do que um comando<br />

e um canal de televisão. Esta será a forma<br />

mais fácil, barata e diversificada de aceder aos jogos<br />

favoritos com o menor esforço possível. Acabou o<br />

botão On/Off.<br />

O sistema Playcast é um novo avanço tecnológico<br />

que combina a conveniência do Vídeo on Demand e<br />

uma nova geração de jogabilidade difundida por<br />

cabo ou IPTV (Internet Protocol Television). Este<br />

sistema permite jogar sem o auxílio de uma consola<br />

ou a necessidade de comprar, fisicamente, os jogos.<br />

“Precisamos ter em mente que, para o utilizador,<br />

é algo totalmente novo. Imagine assistir a um jogo<br />

de futebol num canal desportivo por cabo e ser capaz<br />

de desencadear uma versão de FIFA ou Pro Evolution<br />

Soccer com as mesmas equipas, com o toque<br />

de um botão. Com o nosso serviço livre de consolas<br />

e modelos de preços de custo eficaz, o nosso público-alvo<br />

vai muito além de todos os ‘hard-core gamers’”,<br />

explica Alon Shtruzman, presidente de<br />

Media da Playcast.<br />

A Playcast é empresa de capital de risco<br />

sediada no Reino Unido e em Israel.<br />

Shtruzman explica que o sistema vai<br />

oferecer uma selecção de<br />

jogos de vídeo<br />

A Playcast<br />

anuncia-se com<br />

tecnologia para<br />

jogar jogos sem ter<br />

uma Playstation 3<br />

ou Xbox 360.<br />

Não é necessário<br />

descarregar os jogos<br />

e tudo que precisa<br />

é de um comando e<br />

de uma ligação<br />

Cabo/IPTV.<br />

O sistema já está<br />

a trabalhar em<br />

várias plataformas<br />

mas deverá ser<br />

lançado<br />

comercialmente<br />

algures no inicio<br />

do próximo ano<br />

das principais editoras como um canal de assinatura.<br />

“Vemo-nos como uma operação de televisão<br />

paga, em colaboração com companhias como a Virgin,<br />

a Sky, a BT no Reino Unido e a Cablevision na<br />

América, oferecendo jogos de vídeo on-demand,<br />

como parte do mix da televisão. O portal de jogos<br />

vai aparecer como um canal no EPG (electronic<br />

programme guide)”. Alon revela que “qualquer<br />

jogo pode ser acedido através do Playcast. Uma vez<br />

que é baseado em vídeo podemos transmitir os mais<br />

avançados e pesados jogos, incluindo os títulos mais<br />

recentes”.<br />

Ao que parece tudo o que necessita é de um comando.<br />

O Playcast anuncia-se como uma tecnologia<br />

para jogar sem ter uma Playstation 3 ou Xbox<br />

360. Não necessita descarregar os jogos como no<br />

serviço da GameTap, Steam ou Xbox Live. O servidor<br />

da Playcast converte, codifica e transmite jogos<br />

de alta gama em tempo real com fluxo MPEG (transmissões<br />

contínuas).<br />

O maior problema técnico de jogos em ‘streaming’<br />

deve-se à latência, ou seja, o atraso entre<br />

premir um botão de um controlo remoto e algo<br />

acontecer no ecrã. Se estivermos a ver um filme,<br />

meio segundo pode ser aceitável mas nunca quando<br />

jogamos um jogo. O Playcast apregoa ter ultrapassado<br />

essa barreira utilizando algoritmos patenteados<br />

pela própria empresa, que reduzem drasticamente<br />

a latência inerente, mantendo a qualidade do<br />

vídeo semelhante às consolas e a formação de um<br />

padrão de transmissão contínua de MPEG e bitrates.<br />

“O Playcast representa um salto quântico para jogos<br />

on demand”, diz Guy De Beer, CEO da empresa.<br />

“Enquanto os sistemas de televisão por cabo oferecem<br />

actualmente, na melhor das hipóteses, apenas<br />

jogos rudimentares, o Playcast marca o início de<br />

uma nova geração de distribuição de jogo. Finalmente,<br />

o espaço de televisão e jogos reais unem-<br />

-se para oferecer novos caminhos para alcançar<br />

os utilizadores”.<br />

Shtruzman conta-nos que o sistema já<br />

está a trabalhar em várias plataformas mas<br />

que será lançado comercialmente algures<br />

no início do próximo ano. Questionado<br />

sobre a reacção do consumidor, Alon<br />

diz: “Ainda não o comercializamos<br />

mas os ensaios e ‘shows’ pilotos<br />

mostram um grande potencial”.


O MERCADO DOS VIDEOJOGOS<br />

Para os editores de jogos de vídeo, o Playcast representa<br />

uma resposta às suas preces. Ao contrário<br />

dos filmes, da televisão e da música, estes editores<br />

têm imensa dificuldade em diversificar e rentabilizar<br />

os jogos fora do modelo de negócio básico. Eles<br />

lançam um jogo ao um preço entre 50 e 60 euros e a<br />

maioria do retorno vem nas primeiras semanas. Depois<br />

disso começam os descontos até desaparecerem<br />

das prateleiras de promoções. Isto significa que no<br />

caso destes editores não conseguirem uma venda<br />

massiva do jogo na primeira semana, geralmente<br />

graças a campanhas de marketing muito caras, o título<br />

pode ser considerado uma flop comercial, desencorajando<br />

o risco de investimento. Para agravar o<br />

problema, a percepção que os utilizadores têm do<br />

valor da media hoje faz com que os editores procurem<br />

uma solução de menor custo para a divulgação<br />

do produto. Este é o motivo porque sistemas como o<br />

Playcast são tão apelativos para os editores.<br />

O OnLive e Gaikai são os rivais directos do<br />

Playcast. Ambos competem para serem o primeiro<br />

serviço de jogos on-demand. Embora as suas tecnologias<br />

ainda não estejam completamente provadas e<br />

os seus modelos de negócio não testados, o que oferecem<br />

é muito apelativo. Tanto ao jogador como ao<br />

editor do jogo. A Playcast fala de uma qualidade estilo<br />

Sky Movies Premiere, onde poderá usufruir dos<br />

jogos poucos meses depois de estes serem lançados.<br />

O facto do sistema oferecer aos editores e criadores a<br />

distribuição através de um canal de televisão directo<br />

faz com que o Playcast seja o sistema mais forte dentro<br />

do segmento.<br />

“Centenas de milhões de transacções de vídeo<br />

on-demand são feitas todos os dias, portanto, o potencial<br />

de trazer este volume de negócios para as editoras<br />

e de lhes permitir tirar partido dos seus catálogos<br />

é muito significativo”, explicou Shtruzman.<br />

O INÍCIO<br />

O primeiro país a experimentar o sistema<br />

Playcast será Israel. O lançamento é esperado<br />

para Janeiro ou Fevereiro de 2010,<br />

através do provedor de tv cabo. Seguem-se<br />

Reino Unido e Espanha para<br />

o fim de 2010. Russel Barash, o director<br />

da Playcast no Reino<br />

Unido, diz que a empresa<br />

pretende ofe-<br />

O primeiro país<br />

a experimentar<br />

o sistema Playcast<br />

será Israel.<br />

O lançamento oficial<br />

é esperado para<br />

Janeiro ou Fevereiro<br />

de 2010, através<br />

do provedor de tv<br />

cabo. Seguem-se<br />

Reino Unido<br />

e Espanha.<br />

No lançamento,<br />

vai disponibilizar<br />

entre 15 e 20 jogos<br />

desenhados para<br />

apelar a todos<br />

os gostos, desde<br />

os enigmas<br />

e quebra-cabeças<br />

mais simples aos<br />

mais complexos<br />

jogos como<br />

‘Call of Duty’<br />

recer o serviço no mesmo modelo de ‘pay-<br />

-per-view’. “No lançamento, vamos oferecer<br />

um mix entre 15 e 20 jogos desenhados para apelar<br />

a todos os gostos, desde os enigmas e quebra-<br />

-cabeças mais simples aos mais complexos jogos<br />

como ‘Call of Duty’. Queremos lançar um pacote de<br />

jogos que apele a inscrever-se como faria para um<br />

canal de filmes”.<br />

Apesar de não ser imediato e de, tal como para os<br />

filmes, ser preciso aguardar uns meses para ter acesso<br />

aos títulos mais recentes, a Sony e a Microsoft podem<br />

sair muito afectadas desta ‘batalha’. “Podemos<br />

estar a observar a última geração de consolas de jogo<br />

separadas”, afirma Shtruzman.<br />

NINTENDO_WII<br />

Mas porque não estará a Nintendo neste rol? Talvez<br />

porque, antecipando este movimento na luta<br />

pelo domínio dos videojogos, a empresa se tenha<br />

adiantado e esteja a preparar o seu próprio canal: o<br />

Wii-No-Ma.<br />

Quando questionado sobre o impacto do Playcast<br />

na Nintendo, Nelson Calvinho, relações públicas da<br />

empresa, preferiu não comentar. “É um produto que<br />

ainda não vimos, portanto não podemos garantir até<br />

que ponto o sistema PlayCast, e outros semelhantes<br />

que têm sido anunciados, vão ter impacto na indústria<br />

e nas vidas dos jogadores. Estamos certos de que<br />

a indústria quer saber mais detalhes sobre os custos<br />

mensais e desempenho real do serviço, a forma de<br />

controlo dos videojogos e, mais importante, o número<br />

e qualidade dos jogos disponibilizados - especialmente<br />

saber mais sobre os jogos exclusivos que<br />

irá apresentar”. O relações públicas explica ainda<br />

que a Nintendo, enquanto empresa que tem contribuído<br />

para a expansão da população de jogadores em<br />

todo o mundo, dá as boas-vindas a todas as iniciativasqueaumentemaprofundidadeeademografiada<br />

indústria. Mas realça que, “ao eliminar as dezenas<br />

de milhões de lares que ainda não possuem acesso à<br />

banda larga, é difícil ver como é que este serviço<br />

pode ajudar a alargar o acesso aos videojogos”.<br />

Sobre o novo canal, Nelson Cravinho explica que<br />

este é “um serviço de distribuição de vídeo para consolas<br />

Wii ligadas online. Actualmente só está disponível<br />

no Japão, não existindo de momento nenhum<br />

plano de o lançar em Portugal”. O canal será visível<br />

por todos aqueles que tenham uma consola Wii e ligação<br />

à Internet e terá conteúdos para toda a família.<br />

Desenhos animados, ‘brain-training’, ‘quizzes’, culinária,<br />

programas educacionais e de estilo de vida<br />

serão apenas alguns dos conteúdos disponíveis. Todos<br />

produzidos exclusivamente para a Nintendo.<br />

Já vimos que uma consola com movimento sensorial<br />

remoto faz o delírio das massas. O mesmo<br />

pode acontecer com o Playcast. Qualquer pessoa<br />

que use IPTV/Cabo e que queira aceder ao seu jogo<br />

favorito vai ter uma solução substancialmente mais<br />

barata do que comprar uma nova consola. Resta<br />

agora apenas saber se os jogadores vão prescindir<br />

de terem os jogos ori<strong>gina</strong>is só para si<br />

na sua videoteca pessoal ou abraçar a<br />

ideia de pagarem uma subscrição<br />

para não terem nada<br />

em concreto.<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 9


10 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

A MINHA JANELA<br />

A23 de Novembro, na gala<br />

dos American Music<br />

Awards, a cantora e actriz<br />

Jennifer Lopez, vulgo J-Lo,<br />

caiu de rabo para o ar. Coincidência,<br />

ou não, também<br />

eu fiz a mesma figura três dias antes. O acidente<br />

foi idêntico, mas as diferenças na<br />

queda não podiam ser maiores.<br />

J-Lo subia uma escada humana composta<br />

por dançarinos quase nus, usava calções<br />

minúsculos e justos, e cantava vigorosamente.<br />

No meu caso, levantava-me<br />

discreta e tranquilamente da minha cadeira<br />

para discursar num jantar formal para<br />

investidores em acções japonesas quando<br />

tropecei na mala que havia deixado no<br />

chão e me estatelei de braços e pernas<br />

abertas no meio do chão. Pumba e catrapumba!<br />

O microfone que tinha na lapela<br />

serviu para ilustrar a queda àqueles que,<br />

por estarem mais longe, não a acompanharam<br />

visualmente.<br />

Falar em público é para mim, tal como<br />

para a maioria das pessoas, mais assustador<br />

do que ver um bando de aranhas ou ser<br />

assaltada num beco escuro. O que mais me<br />

horroriza, porém, é a ideia de humilhação,<br />

de falhar redondamente perante uma assistência.<br />

Ou de dar um trambolhão, metaforicamente<br />

falando. O que nunca me tinha<br />

ocorrido é que isso pudesse acontecer<br />

literalmente.<br />

Ao contrário de outras fobias, é perfeitamente<br />

racional ter medo de falar em público.<br />

É raro um discurso correr bem, mesmo<br />

quando o orador se mantém estoicamente<br />

firme até ao fim. Os discursos pós<br />

jantar são um drama, mesmo quando a refeiçãoébemregadaeaassistênciajásucumbiu<br />

ao charme de Baco. O orador só<br />

pensa em duas coisas: quero ir para casa o<br />

mais depressa possível ou gostava de saber<br />

contar piadas. Discursar às massas durante<br />

o dia também não é muito diferente: uns<br />

divertem-se a entreter o tédio enviando e-<br />

-mails, outros jogam no BlackBerry e outros<br />

ainda falam sozinhos ou passam pelas<br />

brasas.<br />

Raros são os homens com talento para<br />

falarem em público. Mas, no caso das mulheres,<br />

é ainda pior. A explicação para este<br />

fenómeno é relativamente simples: as mulheres<br />

não têm jeito para contar piadas, no<br />

entanto, são melhores do que os homens<br />

em termos de auto-conhecimento. Ou<br />

seja, reconhecem que a sua eloquência é<br />

mediana e que a assistência preferia estar<br />

noutro lado a fazer outra coisa. Ora, nada<br />

disto ajuda a melhorar o desempenho do<br />

orador.<br />

Para combater o medo e paralisar o desespero<br />

dou o tudo por tudo para fazer melhor<br />

de cada vez que tenho de passar por<br />

um “filme” destes. Sempre que recebo um<br />

livro novo sobre como falar em público<br />

mergulho imediatamente no capítulo dedicado<br />

às dicas e técnicas da oratória. Na<br />

maior parte dos casos, a primeira recomendação<br />

não foge muito ao “relaxe” e<br />

“seja você mesmo”, o que é uma perfeita<br />

Lucy Kellaway<br />

Como falar<br />

em público sem<br />

dar trambolhões<br />

Falar em público<br />

é para mim, tal<br />

como para a maioria<br />

das pessoas, mais<br />

assustador<br />

do que ver um<br />

bando de aranhas<br />

ou ser assaltada<br />

num beco escuro.<br />

O que mais me<br />

horroriza, porém,<br />

éaideia<br />

de humilhação,<br />

de falhar<br />

redondamente<br />

perante uma<br />

assistência<br />

irresponsabilidade. Isto só serve para<br />

aquela pessoa que, entre milhões, nasceu<br />

eloquente. Para todos os outros ser bom<br />

orador significa muito nervoso miudinho,<br />

nó no estômago e na garganta, e uma grande<br />

dose de teatralidade para parecer natural<br />

e descontraído.<br />

O livro mais recente nesta área intitula-<br />

-se “The Top 100” e contém dicas dos 100<br />

melhores oradores de todos os tempos. Entre<br />

outros mimos revela que o segredo de<br />

Bill Clinton é “inspirar confiança” e que o<br />

de Gandhi era “fugir ao ego”. Até pode ser<br />

verdade, mas de pouco serve para os comuns<br />

mortais. Seria uma veleidade pensarmos<br />

que basta ver um vídeo da obra “O<br />

Cisne Negro” dançada por Nureyev para<br />

estarmos aptos a rodopiar sala fora com a<br />

mesma elegância.<br />

De todas as dicas e conselhos apenas<br />

dois me pareceram úteis. O primeiro é<br />

“praticar, praticar, praticar”. Uma chatice,<br />

como é óbvio, porque consome muito<br />

tempo. Mas não há alternativa. O segundo<br />

é livrarmo-nos de toda uma série de inutilidades.<br />

O Power Point, por exemplo, é<br />

uma muleta inestética e só nos complica a<br />

vida se quisermos dirigir-nos ao público<br />

andando de um lado para o outro na tribuna.<br />

Este ponto inclui também outra regra<br />

de ouro: nunca se deve ler um discurso. Escreva-o,<br />

leia-o as vezes que forem precisas,<br />

interiorize-o e deixe-o em casa no dia<br />

fatídico. Leve consigo apenas algumas notas,<br />

de preferência minimais.<br />

Gostaria de complementar estes dois<br />

conselhos com duas sugestões da minha<br />

lavra, mas alerto desde já para um aspecto<br />

importante e comum às duas: exigem esforço.<br />

A primeira implica perceber se o<br />

orador é realmente chato e se traz consigo<br />

um computador portátil para fazer uma<br />

apresentação em Power Point. A segunda é<br />

escolher a assistência certa. Em tempos,<br />

foi convidada para participar num jantar<br />

que reunia gestores de Recursos Humanos<br />

do Norte de Inglaterra. De que forma? Discursando<br />

depois do jantar. Tarefa titânica,<br />

portanto. Passei dias a ensaiar o dito cujo e<br />

não consegui pregar olho na véspera dado<br />

o nervosismo. Cheguei inclusive a tomar<br />

beta-bloqueadores para domar a ansiedade<br />

e fazer boa figura. Estava tudo previsto.<br />

Foi uma verdadeira desgraça e nem sequer<br />

consegui arrancar um sorriso aos presentes,<br />

quanto mais uma gargalhada. Senti-me<br />

mal semanas a fio, mas agora compreendo<br />

que a culpa foi da assistência. Porquê?<br />

Porque não estavam dispostos a ouvir<br />

uma pespineta da capital a falar sobre as<br />

tendências na área da gestão.<br />

O leitor decerto se pergunta como pude<br />

eu e J-Lo recuperar de tamanho trambolhão.<br />

Ela levantou-se e pôs-se a dançar. No<br />

meu caso, consegui levantar-me com a<br />

ajuda dos organizadores do evento e reaver<br />

o sapato que perdera no momento da queda.<br />

Aí, aproveitei para dizer à assistência<br />

que tinha sido de propósito. Como não<br />

descobrira uma piada para iniciar o discurso,<br />

resolvi improvisar e estrear-me na farsa.<br />

Pareceu-me ouvir algumas gargalhadas<br />

de pura cortesia. Nada mau. Se tivesse<br />

começado o meu discurso contando a únicapiadaqueseidecorteriasidomuito<br />

pior. “Qual é o cúmulo da paciência? Ver<br />

uma corrida de caracóis em câmara lenta”.<br />

Exclusivo Financial Times<br />

Tradução de Ana Pina


O MEU OLHAR<br />

João Lobo Antunes<br />

Conflito<br />

de interesses<br />

Há alguns anos já, apresentou-se<br />

num concurso académiconaminhaFaculdade,<br />

alguém com quem tinha<br />

cortado relações por ter cometido<br />

o que eu entendi ser<br />

um imperdoável pecado de carácter. O dilema,<br />

se aceitasse fazer parte do júri, era<br />

para mim complicado: iria ser mais severo<br />

no juízo porque, simplesmente, não o estimava?<br />

E se o aprovasse seria porque, não o<br />

estimando e temendo cometer uma injustiça,<br />

iria ser mais brando na minha avaliação?<br />

Acabei por decidir não integrar o júri, pois<br />

ainda na Universidade de Columbia eu<br />

aprendera que uma das obrigações mais sagradasdaUniversidadeéojuízoindependente<br />

do mérito.<br />

Maistarde,comoPresidentedoConselho<br />

Científico da minha Faculdade consegui<br />

acabar com o costume de os orientadores<br />

das teses de doutoramento e, muitas vezes,<br />

co-autores dos trabalhos científicos que as<br />

constituíam, serem os arguentes na respectiva<br />

discussão.<br />

E, já agora, uma outra história académica.<br />

Quando me apresentei a concurso para<br />

Professor Agregado, terminadas as provas,<br />

o júri reuniu-se para uma inesperadamente<br />

longa deliberação. Depois lá me chamaram,<br />

cumprimentaram-me efusivamente e pousámos<br />

todos, risonhamente, para a fotografia<br />

tradicional. Porque teriam demorado<br />

tanto tempo, interrogava-me? Explicaram-me<br />

depois que tinha surgido na votação<br />

uma bola preta. O Professor Jaime Celestino<br />

da Costa, decano de Cirurgia, argumentara<br />

então que teria decerto havido engano,<br />

pois eu não merecia tal bola e propôs<br />

nova votação. Todos concordaram. Só que,<br />

desta vez, surgiram duas bolas pretas: uma<br />

certamente para mim e a outra para o professor<br />

que sugerira segunda votação. Enfim,<br />

um estupendo exemplo de injustiça académica,<br />

pelo menos na segunda ronda...<br />

Perguntarão os leitores onde me irá levar<br />

esta breve incursão nos meandros da justiça<br />

universitária. A razão foi a revelação, muito<br />

comentada nos ‘media’, de um advogado de<br />

uma das personagens envolvidas no caso<br />

chamado de “Face Oculta”, ser membro do<br />

Conselho Superior da Magistratura que tem<br />

como missão, se bem percebi, avaliar os juízes<br />

e assim determinar a sua progressão na<br />

carreira. Porque tenho escrito e pregado sobre<br />

a questão do conflito de interesses a diversas<br />

audiências, sempre um pouco incomodadas<br />

pelo tema, e porque também já me<br />

atrevi a falar sobre a profissão da magistratura<br />

e da advocacia e o que de comum têm<br />

com a medicina, gostaria de alinhar algumas<br />

reflexões sobre o assunto.<br />

Qualquer profissão é essencialmente um<br />

contrato social que obriga à protecção de<br />

pessoas e valores vulneráveis por gente especialmente<br />

preparada para tal. No caso do<br />

médico as pessoas são os doentes e os valores<br />

a saúde; no caso dos juízes e advogados<br />

as pessoas são aquelas que a eles recorrem,<br />

clientes, queixosos, arguidos ou réus, e os<br />

valores são os da justiça. Estes são, eviden-<br />

temente, os compromissos primários nestas<br />

profissões.<br />

O conflito de interesses surge sempre<br />

que um indivíduo ou uma instituição têm<br />

um compromisso primário e, simultaneamente,<br />

um compromisso secundário que<br />

pode anular o primeiro, ou é suficientemente<br />

tentador para criar a possibilidade<br />

ou a aparência de que isso pode acontecer.<br />

Ou seja, o interesse primário pode ser indevidamente<br />

influenciado por um interesse<br />

secundário.<br />

É importante sublinhar que o conflito de<br />

interesses é um acontecimento e não um<br />

tipo de comportamento sistemático e,<br />

como disse, pode quedar-se simplesmente<br />

pela aparência. No caso de um juiz, o compromisso<br />

primário pode entrar em conflito<br />

com um interesse secundário como, por<br />

exemplo, o de ascender na carreira. No<br />

caso do advogado, importa-lhe, em primeiro<br />

lugar, a defesa dos interesses do seu<br />

cliente e, secundariamente, a avaliação<br />

isenta do juiz cuja progressão profissional<br />

está, em certa medida, reduzida que seja,<br />

dependente da sua avaliação. É evidente<br />

que o conflito extinguir-se-ia imediatamente,<br />

se os advogados no “activo” não<br />

integrassem o tal Conselho.<br />

No caso da medicina o que está em causa<br />

são fundamentalmente os conflitos de natureza<br />

financeira, não só pelas benesses e<br />

prebendas que os médicos recebem da indústria<br />

farmacêutica, que podem condicionar<br />

os seus hábitos prescritivos, mas também<br />

porque são eles próprios, cada vez<br />

mais, investidores no florescente negócio<br />

da saúde. Por exemplo, há evidência na literatura<br />

norte-americana, de que as clínicas<br />

que são propriedade de médicos recebem<br />

mais 50% de visitas por doentes, naturalmente,<br />

desses mesmos médicos.<br />

A atenção crescente a esta área deve-se<br />

Nunca foi tão<br />

complexo, tão<br />

arriscado e tão<br />

difícil ser juiz como<br />

hoje. Tudo o que<br />

de alguma forma<br />

possa limitar<br />

ou condicionar<br />

a independência<br />

do magistrado<br />

degrada o sentido<br />

nobilíssimo de uma<br />

profissão que é, não<br />

o devemos esquecer,<br />

eminentemente<br />

moral<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 11<br />

também, entre outros factores, a justificadas<br />

suspeitas de enviesamento na apreciação<br />

dos resultados de ensaios com novos<br />

fármacos, quando os investigadores têm laços<br />

económicos com as empresas que produzem<br />

os medicamentos em causa.<br />

Em relação às ofertas da indústria, mesmo<br />

àquelas de valor quase insignificante,<br />

quem estuda estas matérias chama a atenção<br />

para o facto de o objectivo da dádiva ser<br />

gravar a identidade do dador na mente de<br />

quem a recebe, e criar, aberta ou subliminarmente,<br />

a obrigação de retribuir, ou seja,<br />

de reciprocidade. Por isso nos Estados Unidos,<br />

há quem proponha uma tolerância zero<br />

em relação a qualquer dádiva, e a comunicação<br />

pública na ‘net’ de quanto cada firma<br />

paga aos médicos como palestrantes, consultores,<br />

etc. Nesta área o progresso entre<br />

nós tem sido embaraçosamente lento, mas<br />

estou certo que, mas mais tarde ou mais cedo,<br />

a legislação europeia irá disciplinar uma<br />

área que é um dos segredos mais mal guardados<br />

da profissão.<br />

Diga-se, em abono da verdade, que o<br />

conflitodeinteressesestápresenteemtodas<br />

as profissões, desde deputados a árbitros de<br />

futebol. Esta é matéria delicada no seio de<br />

uma sociedade cada vez mais vigilante que<br />

exige bom senso e lucidez para desarmar o<br />

risco que representa, mesmo apenas na<br />

mera aparência que sugere. Ignorar a questão,<br />

escondê-la, mistificá-la, apenas serve<br />

para tornar mais palpável a realidade da sua<br />

existência, num tempo de sistemática desconfiança.<br />

Como escrevi já, nunca foi tão complexo,<br />

tão arriscado e tão difícil ser juiz como hoje.<br />

Tudooquedealgumaformapossalimitarou<br />

condicionar a independência do magistrado<br />

degrada o sentido nobilíssimo de uma<br />

profissão que é, não o devemos esquecer,<br />

eminentemente moral.


12 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BASTIDORES<br />

Os aviões parecem brinquedos<br />

Nas oficinas da OGMA, em Alverca, montam-se e desmontam-se F-16, Airbus,<br />

C-130 e helicópteros Puma como se fossem peças de lego. Algumas máquinas aterram<br />

ali moribundas e, meses depois, descolam com uma segunda vida pela frente<br />

TEXTO ANTÓNIO SARMENTO / FOTOS PAULA NUNES<br />

Os indianos são os clientes<br />

mais meticulosos. No hangar<br />

da aviação executiva das<br />

Oficinas Gerais de Material<br />

Aeronáutico (OGMA), em<br />

Alverca, dois técnicos observavam<br />

atentamente o trabalho dos mecânicos<br />

portugueses. Ali estava um avião<br />

Legacy, usado por membros do governo<br />

da Índia, com capacidade para 12 passageiros.<br />

Quando, por algum motivo, se<br />

aproximavam pessoas sem fato-macaco<br />

eles ficavam agitados. Começavam a andar<br />

de um lado para o outro e mexiam as<br />

mãos de forma nervosa. Queriam saber<br />

tudo e tinham razão. Afinal de contas, o<br />

governo da Índia confiou nestes dois homens<br />

para vigiar o avião durante o mês<br />

que teve de passar em Alverca.<br />

No dia 11 de Dezembro, a manutenção<br />

ficará completa eoLegacyregressaráa<br />

casa. Nesse dia, os dois indianos poderão,<br />

finalmente, respirar de alívio. Os atenta-<br />

A manutenção<br />

de um avião nas<br />

oficinas da OGMA,<br />

em Alverca, custa<br />

entre os 200 mil<br />

euros e o milhão.<br />

Clientes russos,<br />

nigerianos e árabes<br />

costumam deixar<br />

ali os seus aviões<br />

executivos<br />

dos em Bombaim ainda estão na memória<br />

e todo o cuidado é pouco. “Este avião é luxuoso.<br />

Os móveis são feitos com folha de<br />

raiz de árvore da Amazónia e levam 18 camadas<br />

de verniz. Os passageiros sentam-<br />

-se em poltronas individuais, de pele, e há<br />

uma mini cozinha a bordo”, explica um<br />

mecânico português.<br />

A OGMA é uma das empresas de aviação<br />

mais antigas do mundo. Faz a manutenção<br />

de aviões comerciais, militares e<br />

helicópteros, bem como o fabrico e manutenção<br />

de peças e outros componentes.<br />

“Somos uma empresa que dá lucro.<br />

Temos clientes em mais de 45 países e<br />

aplicámos um modelo de gestão que permite<br />

melhorar a qualidade de trabalho<br />

dos funcionários”, diz Eduardo Bonini, o<br />

CEO da OGMA. As instalações da empresa<br />

têm 400 mil metros quadrados, 11 hangares<br />

e uma pista de três quilómetros<br />

onde aterram e levantam voo aviões Airbus,<br />

C-130, executivos e helicópteros.<br />

“Eles entram aqui a voar e vão embora<br />

também a voar, mas com outro aspecto,<br />

novinhos em folha”, diz João Santos, do<br />

gabinete de comunicação<br />

No caso da aviação executiva, os donos<br />

dos aviões nunca aparecem em Alverca.<br />

Exigem descrição máxima. Os clientes<br />

particulares vêm na sua maioria da Rússia,<br />

Nigéria e países árabes. Para já, não há<br />

portugueses a usar as oficinas da OGMA<br />

para fazer a revisão aos aviões. É que o<br />

preço do serviço não é para todos os bolsos,<br />

nem mesmo para milionários – a manutenção<br />

varia entre os 200 mil euros e o<br />

milhão, no caso dos C-130.<br />

MONTAR E DESMONTAR UM F-16<br />

Noutro hangar, está um avião F-16 desmembrado<br />

da Força Aérea Portuguesa.<br />

Uma máquina que atinge duas vezes a<br />

velocidade do som (2448 quilómetros por<br />

hora) parece transformado num brinquedo.<br />

Os mecânicos tiraram-lhe as pe-


ças quase todas e resta apenas uma carcaça,<br />

com um monte de serradura por<br />

baixo para absorver o óleo que cai do motor.<br />

Alguns componentes do avião, como<br />

os ‘speed breakers’ou processadores de<br />

radares, são colocados em prateleiras.<br />

Depois, o F16 passará por diversas áreas<br />

dentro do hangar até ser montado outra<br />

vez. “Durante a fase de montagem os<br />

técnicos terão de interpretar 40 mil desenhos”,<br />

explica Saul Pascoal, o responsável<br />

da empresa pelo relacionamento<br />

com o governo.<br />

Mais tarde, o avião viaja de camião até à<br />

base de Monte Real para as asas serem<br />

postas. Depois, o F16 volta novamente a<br />

Alverca para ser pintado e está pronto para<br />

voar. “Aqui não pode falhar nada. O tempo<br />

de reacção é muito mais curto do que<br />

num avião comercial. Claro que o piloto<br />

tem a vantagem de se poder ejectar”, explica<br />

Saul Pascoal.<br />

A OGMA está ainda encarregue da ma-<br />

“Durante a fase<br />

de montagem<br />

de um F-16<br />

os técnicos terão<br />

de interpretar<br />

40 mil desenhos”,<br />

explica Saul Pascoal,<br />

o responsável<br />

da OGMA pelo<br />

relacionamento<br />

com o governo<br />

Nas oficinas<br />

da OGMA todas<br />

as peças podem<br />

ser tiradas.<br />

Na foto<br />

à esquerda,<br />

um mecânico<br />

espreita<br />

ointeriordeum<br />

motor de avião.<br />

Ao centro, um<br />

avião executivo<br />

eumC-130<br />

da Força Aérea<br />

da França<br />

em trabalhos<br />

de manutenção.<br />

Na foto à direita,<br />

a carcaça de um<br />

F-16 com<br />

as peças<br />

arrumadas<br />

em prateleiras<br />

nutenção de uma frota de aviões C130,<br />

vindos, entre outros países, de França,<br />

Tunísia, Chade, Líbia e República Centro<br />

Africana. Alguns deles, sobretudo os<br />

africanos, podem estar em mau estado e a<br />

viagem até Lisboa é arriscada. Nesse<br />

caso, a única solução é enviar uma equipa<br />

de mecânicos portugueses até África.<br />

“Os aviões não caem por acaso. Tal como<br />

um professor me ensinou, na aviação já<br />

não se inventa nada, está tudo escrito”,<br />

alerta um mecânico.<br />

António Ribeiro, chefe da equipa de<br />

manutenção de helicópteros já teve ir ao<br />

Sudão. No entanto, ainda antes de pegar<br />

nas ferramentas assistiu a uma aula em<br />

Cartum, a capital deste país . “Ensinara-<br />

-me o que devia fazer no caso de ser raptado.<br />

Basicamente não devia fazer nada,<br />

era ficar quieto”, conta.<br />

António Ribeiro garante que voar de<br />

helicóptero é mais seguro do que ir até ao<br />

Sudão ou mesmo viajar de avião comer-<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 13<br />

cial. “Porque se o motor falhar pode entrar<br />

no modo de auto-rotação”, explica o<br />

supervisor, que tem a seu cargo cinco helicópteros<br />

Puma do exército francês.<br />

“Uma manutenção profunda demora dois<br />

meses porque o sistema de rotores é mais<br />

complexo. Chamar hélices aos rotores é a<br />

mesma coisa que dizer que um campista<br />

dorme numa barraca”, compara.<br />

Além da manutenção, nas oficinas da<br />

OGMA, em Alverca, também se fabrica o<br />

avião EH-101, um monomotor de nove<br />

lugares.Atéaomomento,jáseproduziram<br />

980 unidades. As encomendas são<br />

feitas por uma empresa suíça, que os<br />

transporta partir de Alverca num camião<br />

TIR. Na Ogma, o trabalho nunca acaba.<br />

Num dos hangares da empresa está uma<br />

placa amarela que diz. “Lembre-se: o<br />

próximo inspector é o cliente.” Esta é<br />

uma profissão que exige muita perfeição.<br />

Uma peça mal postaeasegurançadovoo<br />

pode estar em risco.


14 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

A MINHA ECONOMIA<br />

Sobre o jogo de poderes<br />

que se vai desenhando<br />

na União Europeia<br />

depois do Tratado<br />

de Lisboa, Fernando<br />

Pacheco tira as medidas<br />

à estratégia francesa.<br />

Quanto a Tim Harford,<br />

volta a aplicar os<br />

princípios da teoria<br />

económica à vida<br />

detodososdias<br />

e assume a difícil tarefa<br />

de ser conselheiro<br />

profissional e amoroso<br />

em apenas vinte linhas<br />

Tim Harford<br />

Querido<br />

Economista<br />

Tenho 32 anos, sou americana e mudei-me há<br />

cerca de cinco anos para Itália, tendo pouco<br />

depois iniciado um mestrado numa<br />

universidade italiana. A média da minha<br />

licenciatura em ciência política era baixa, pelo<br />

que não tinha muito a perder. E tenho agora<br />

dois problemas. O primeiro é namorar. A Itália é<br />

o segundo país com a população mais<br />

envelhecida do mundo. Encontrar um trintão<br />

solteiro é tão difícil como encontrar um<br />

unicórnio. E se eliminar os homens que ainda<br />

vivem com as mães, os fumadores intensivos ou<br />

os homens mais baixos do que eu, então é como<br />

se estivesse num convento.<br />

Em segundo lugar, a universidade italiana que<br />

frequento decidiu voltar atrás na decisão de<br />

aceitar a minha licenciatura americana. Vejo-<br />

-me assim obrigada a frequentar algumas<br />

cadeiras para tirar uma licenciatura italiana,<br />

algo que pode demorar mais um ano.<br />

Detestaria ter que recusar essa possibilidade e<br />

estudar mais um ano, mas será que vou<br />

conseguir aguentar mais doze meses a comer<br />

massa neste estado de celibato forçado?<br />

O meu plano é ir para São Francisco quando<br />

regressar, isto apesar de ter a possibilidade de<br />

ter um emprego semi-permanente no meio de<br />

nenhures. Também posso ficar em Itália; mas se<br />

continuar mais um ano solteira vou morrer<br />

sozinha como diz a minha mãe. E aqui estou eu<br />

a chorar par cima do meu cappuccino<br />

Cara Choramingas,<br />

Parece empenhada em permanecer num país<br />

cuja comida, burocracia e ambiente de namoro<br />

não parece ser o mais indicado para si. A sua<br />

avaliação da situação está ofuscada pela falácia<br />

do custo perdido: estava à espera de tirar um<br />

mestrado, de boa comida e de um romance<br />

italiano. As coisas não funcionaram e acabou<br />

por perder cinco anos da sua vida. Errar é<br />

humano e pode dar-se ao luxo de perder mais<br />

um ano, mas acho que está a cometer um<br />

grande erro. Volte para casa.<br />

Quanto à sua carreira, esqueça o dinheiro: as<br />

obras literárias que se centram na felicidade<br />

sugerem que ter uma relação feliz e um<br />

emprego seguro são muito mais importantes.<br />

São Francisco não é muito famoso pelo seu<br />

excesso de solteirões heterossexuais, mas as<br />

condições demográficas no meio de nenhures<br />

são excelentes e o que não falta aí são<br />

solteirões casadoiros. Tem toda uma nova vida<br />

à sua espera.<br />

Exclusivo Financial Times<br />

Tradução de Carlos Tomé Sousa<br />

Fernando Pacheco<br />

Os jogos<br />

que algumas<br />

pessoas jogam<br />

O Presidente da Comissão Europeia José Manuel<br />

Barroso escolheu para Comissário do Mercado<br />

Interno, com a tutela dos serviços financeiros, o<br />

senhor Michel Barnier. Nada de especial, poder-<br />

-se-ia pensar, não fora o Presidente Francês<br />

partir daqui para concluir que o Reino Unido foi<br />

o grande perdedor na distribuição dos postos em<br />

Bruxelas. Talvez sim, talvez não, dizem outros,<br />

pois o mesmo Reino Unido tem a cargo a<br />

diplomacia da Europa, através da Senhora<br />

Ashton, a mesma que outros dizem que não tem<br />

nem a experiência nem o peso político indicados<br />

para o lugar.<br />

Para não simplificar as coisas, o senhor Sarkozy<br />

é partidário de uma regulação apertada do<br />

sector financeiro europeu, com o objectivo<br />

declarado de prevenir crises como a que<br />

atravessámos ou atravessamos. Acresce que, de<br />

acordo com a decisão dos ministros das<br />

Finanças dos vinte e sete do passado dia 2, no<br />

próximo ano vai ser instituída a Autoridade<br />

Europeia de Supervisão dos Riscos Sistémicos e<br />

três autoridades europeias de controlo para as<br />

Bolsas, os Bancos e o sector dos Seguros. Reino<br />

Unido e França enfrentaram-se muitas vezes<br />

nos últimos tempos sobre as regras e as<br />

competências destas novas autoridades, pois a<br />

City londrina vê-as como um risco sobre o<br />

futurodaquelaqueéaprincipalpraçafinanceira<br />

europeia. Não ajuda a serenar os ânimos o<br />

mesmo senhor Sarkozy ter declarado que “são<br />

as ideias francesas de regulação que triunfam na<br />

Europa.”<br />

Para já, o senhor Barnier recusa-se a nomear<br />

um conselheiro financeiro para o seu gabinete<br />

favorável à posição britânica, ao que estes<br />

últimos estão a responder pressionando a<br />

senhora Ashton a não escolher nenhum francês<br />

para o seu gabinete. Aguardam-se as cenas dos<br />

próximos capítulos.<br />

Um velho problema de Teoria dos Jogos explica<br />

como duas pessoas podem controlar um<br />

Conselho de Administração de nove membros.<br />

Sendo as decisões tomadas por maioria<br />

simples, basta que um destes chame quatro e<br />

lhes explique que se, no dia anterior à reunião<br />

do Conselho, eles cinco se reunirem e<br />

tomarem, por maioria, uma posição comum<br />

sobre os assuntos a ser discutidos no dia<br />

seguinte, os cinco ganham qualquer votação<br />

entre nove eéseguramentemelhorpara<br />

qualquer um decidir entre cinco do que entre<br />

nove. Depois do acordo de todos, é só chamar à<br />

parte dois destes cinco e propor-lhes reunirem<br />

os três na véspera de reunirem os cinco para<br />

fazerem o mesmo; três ganham entre cinco,<br />

que ganham entre nove. Finalmente, é chamar<br />

à parte um destes dois e propor-lhe reunirem<br />

os dois na véspera de reunirem os três. Nos<br />

próximos dias vamos saber se o presidente<br />

francês fez o trabalho de casa.<br />

Administrador da Iberdrola


Bestof<br />

Na hora certa |<br />

O tempo é<br />

agora, este que<br />

nos diz que<br />

há 18 milhões<br />

de crianças<br />

refugiadas em<br />

todoomundo.<br />

Este relógio mede<br />

esse tempo e luta<br />

contra ele. Chama-se<br />

Caçula, da Swatch, e<br />

pretende recolher fundos<br />

para erguer o primeiro<br />

Centro de Acolhimento<br />

Temporário para crianças<br />

refugiadas em Portugal.<br />

Uma casa com tecto,<br />

refeições, educação e<br />

afecto. Não dói nada.<br />

São 46 euros que<br />

equivalem a uma<br />

porta, uma janela,<br />

ou qualquer outro<br />

pedaço de um<br />

lugar para 14<br />

crianças. À venda<br />

em relojoarias<br />

autorizadas e nas<br />

lojas Swatch<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 15


16 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

O filme eterno<br />

O 70º aniversário de “E Tudo o Vento Levou”, de Victor Fleming, realizado<br />

em 1939, um ano histórico para o cinema americano, é agora comemorado com<br />

uma edição em DVD com cinco discos. Das oito horas de extras, três são inéditas<br />

Não são só os vinhos que têm<br />

colheitas de excepção. O<br />

ano de 1939 costuma ser<br />

referenciado pelos historiadores<br />

e críticos de cinema<br />

como o “ano de ouro de<br />

Hollywood”. Foi em 1939 que chegaram<br />

aos cinemas filmes como “E Tudo o Vento<br />

Levou” e “ O Feiticeiro de Oz”, ambos de<br />

Victor Fleming, “Cavalgada Heróica”, de<br />

John Ford, “Peço a Palavra”, de Frank Capra,<br />

“Ninotchka”, de Ernst Lubitsch, ou<br />

“O Monte dos Vendavais”, de William<br />

Wyler. Um alinhamento de sonho e uma<br />

demonstraçãoporesmagamentodaexcelência<br />

da indústria cinematográfica americana<br />

no seu auge criativo e de produção.<br />

Setenta anos mais tarde, e para assinalar<br />

a data, “E Tudo o Vento Levou” volta a<br />

ser editado em DVD, numa sumptuosa<br />

edição de cinco discos (dois em Blu-Ray).<br />

Esta caixa para coleccionadores é “gémea”,<br />

em qualidade, quantidade, variedade,<br />

exploração minuciosa do filme e<br />

iconografia, da lançada há poucas semanas<br />

para celebrar os 70 anos de “O Feiticeiro<br />

de Oz”, também de Victor Fleming.<br />

Curiosamente, o realizador não foi<br />

“primeira escolha” dos produtores de<br />

ambos estes clássicos, pois substituiu o<br />

despedido Richard Thorpe em “O Feiti-<br />

ceiro de Oz”; e mesmo antes de o ter acabado,<br />

foi contratado por David O.<br />

Selznick para suceder a George Cukor em<br />

“E Tudo o Vento Levou”, por sugestão de<br />

Clark Gable, que já antes tinha sido dirigido<br />

por ele, tendo ficado muito amigos. Cineasta<br />

muito mais talentoso do que geralmente<br />

se julga, e dotado de uma enorme<br />

capacidade de trabalho e experiência técnica<br />

(começou ainda no tempo do mudo<br />

como director de fotografia), Victor Fleming<br />

preferiu receber ordenado em vez<br />

deumapercentagemdoslucrosquelhefoi<br />

oferecida por Selznick, porque não acreditava<br />

no sucesso de “E Tudo o Vento Levou”.<br />

“Vai ser um dos maiores elefantes<br />

brancos de todos os tempos, David”, disse<br />

ao lendário produtor.<br />

Das oito horas de extras desta edição de<br />

“E Tudo o Vento Levou” especialmente<br />

remasterizada para a comemoração dos<br />

70 anos da sua estreia, e com comentários<br />

exaustivamente eruditos do historiador<br />

do cinema Rudy Behlmer, três são inéditas<br />

e exclusivas. E dado que um dos prazeres<br />

de possuir uma caixa com estas características,<br />

é a exploração da (muito bem<br />

arrum adinha) floresta de extras, ficam<br />

referidos apenas alguns, e mais significativos.<br />

É o caso do esmagador documentário<br />

de duas horas “The Making of a Le-<br />

A filmografia<br />

de 1939 traduz-se<br />

num alinhamento<br />

de sonho e uma<br />

demonstração,<br />

por esmagamento,<br />

da excelência da<br />

indústria americana<br />

no seu auge criativo<br />

e de produção<br />

gend: ‘Gone With the Wind’”, de 1998,<br />

uma mina sem fundo de informação, histórias<br />

e curiosidades, escrito pelo crítico e<br />

historiador britânico do cinema David<br />

Thomson, realizado por David Hinton e<br />

narrado por Christopher Plummer, que se<br />

transformou, por mérito próprio, num<br />

clássico deste formato; de “Melanie Remembers:<br />

Reflections by Olivia de Havilland”,<br />

um documentário de 2004 em<br />

que Olivia de Havilland, intérprete de<br />

Melanie, hoje com 93 anos e única sobrevivente<br />

do elenco ori<strong>gina</strong>l, conta as suas<br />

recordações da rodagem; ou de “1939:<br />

Hollywood’s Greatest Year”, um novo<br />

trabalho documental produzido este ano,<br />

com narração de Kenneth Branagh, que se<br />

centranessejáreferidoehistórico“anode<br />

ouro”de1939etemdepoimentosdeespecialistas<br />

como Leonard Maltin, Molly<br />

Haskell ou F.X. Feeney, além de dezenas<br />

de entrevistas de arquivo.<br />

Junte-se ainda a isto (e à miríade de extras<br />

que ficaram por descrever) uma reprodução<br />

do programa ori<strong>gina</strong>l do filme<br />

de 1939, com 20 pá<strong>gina</strong>s, um livro de 52<br />

pá<strong>gina</strong>s com fotografias e notas de produção,<br />

e ainda oito fotografias a cores da fita.<br />

Afinal, o vento não levou nada. E foram<br />

precisos cinco discos de DVD para caber lá<br />

tudo. VICTOR SILVÉRIO


Com ganas<br />

Um empresário, um ‘bodyboarder’ e um ‘street<br />

artist’. Entre Madrid, Barcelona, País Basco e<br />

Portugal, contam como é largar tudo e ir à<br />

procura do sucesso. Passa hoje, às 21.00, na RTP2<br />

Aideia foi cozinhada num restaurante<br />

de hamburgueres em Madrid. Hugo<br />

Gonçalves, jornalista e autor do<br />

guião, comprou-a antes ainda da sobremesa.<br />

À mesa estavam sentados o produtor do<br />

documentário, Enrico Saraiva, e um amigo<br />

peruano, Alexei Lock, com quem Enrico tinha<br />

decidido montar uma produtora. Ao<br />

guionista foi explicado que o plano era contar<br />

a história dos novos emigrantes portugueses.<br />

Aqueles que trocam os lamentos<br />

pela garra. E que já havia um na mira.<br />

Foi o primeiro. Rui Ferreira, bodyboarder,<br />

entrou nas contas de Enrico, Alexei,<br />

Hugo e Marco Espírito Santo, o realizador.<br />

“A ideia inicial era ver se havia mais portuguesesnovosecomoinconformismodoRui<br />

[que deixou Portugal para ir surfar as ondas<br />

do País Basco e hoje tem a sua (grande) marca<br />

de produtos da modalidade]. Começámos<br />

a procurar em Espanha porque era o<br />

país onde vivíamos e porque reparámos que<br />

cada vez mais havia jovens portugueses naquele<br />

país. Isso e por falta de dinheiro para<br />

poder procurar portugueses inconformistas<br />

nas florestas da Indonésia”, conta Hugo.<br />

“Em Madrid, eu conhecia o José Filipe<br />

Torres, mas não éramos próximos. Um dia<br />

fui entrevistá-lo, curiosamente para o<br />

Diário <strong>Económico</strong>, sobre o seu negócio de<br />

‘branding’ e ficámos uma tarde à conver-<br />

sa. Nessa noite fui beber uns copos com o<br />

produtore e disse-lhe: temos um gajo em<br />

Madrid para o documentário – é mais<br />

do que podíamos esperar.” Por último,<br />

“em Barcelona fez-se um ‘casting’ a dezenas<br />

de pessoas. Apenas uma disse que não<br />

ia, que se quiséssemos que passássemos lá<br />

em casa dele. Curiosos com a arrogância,<br />

fomos. E o Uiu [o street artist] era perfeito.<br />

Era o contrabalanço, o cocktail ‘molotov’<br />

com bom coração.”<br />

No coração do documentário esteve também<br />

o facto de tanto o realizador como o<br />

guionistaeoprodutorsaberemoqueéser<br />

português e viver no estrangeiro. “Já passámospeloqueelespassarametemosamesma<br />

relação com Portugal: num dia apetece-nos<br />

estar cá, no outro apetece-nos mandar isto<br />

ao fundo. É importante sublinhar que todos<br />

os protagonistas do documentário amam<br />

Portugal.Aconteceque,paraeles,Portugalé<br />

aquela mulher a quem se volta sempre para,<br />

passado uns tempos, se voltar a bater com a<br />

porta com o grito: “Tu não mudas”.<br />

A Primeira Fronteira tem três anos de trabalho<br />

dentro. Mas hoje, sábado, conhece a<br />

luz na RTP2, às 21.00. Depois? “Depois festivais<br />

por essa Europa fora e, claro, a possibilidade<br />

de passar num canal espanhol.” Parece<br />

que, afinal, também é possível ter ganas<br />

em Portugal. ÂNGELA MARQUES<br />

O MEU DRAMA<br />

João Tordo<br />

Bola de Berlim<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 17<br />

Só os provincianos é que comem bolas de Berlim. Eu<br />

sou provinciano. Logo, eu como bolas de Berlim. Foi<br />

este o silogismo que consegui formular depois de uma<br />

estadia na cidade de que toda a gente fala. Certo, eu não<br />

sou particularmente dado a silogismos – e também não<br />

sou fanático por doces – mas, quando levo uma<br />

chapada de mão aberta, sei reconhecer a potência da<br />

mão que a deu. Falo, neste caso, da nova capital da<br />

Alemanha (até 1990 Bona ocupava esse cargo na<br />

Alemanha Ocidental) que, por estes dias, começa a dar<br />

nas vistas pela capacidade que tem de se transformar na<br />

nova Paris 1920 – ou, então, no muro (caído) das<br />

lamentações do ‘avant garde’ da arte europeia. Chapada<br />

na cara: o estilo de vida que Berlim pode proporcionar a<br />

uma Europa de novos e ambiciosos artistas à procura de<br />

um lugar ao sol (ou à neve), um lugar onde a terra não<br />

tem valor de mercado, onde se gasta mensalmente um<br />

terço do que se gasta nas capitais mais ocidentais, onde<br />

a comunidade artística está firmemente enraizada e<br />

arranjou meios de auto-subsistência (os artistas são<br />

proprietários de galerias que, por sua vez, fomentam<br />

outros artistas). Bola de Berlim: quando se confunde o<br />

talento com a possibilidade do talento, julgando que<br />

este advirá dessa comunidade e de um certo estilo de<br />

vida. Tenho um amigo que está sempre a citar alguém<br />

que dizia que nunca tinha visto, como hoje, “tantos<br />

artistas e tão poucas obras de arte”; o mesmo<br />

aconteceu-me na Alemanha ao visitar algumas ruas de<br />

galerias onde estão expostos os pedaços mais<br />

miseráveis e indignos de arte urbana que alguma vez<br />

encontrei. Não tentarei justificar-me porque, embora<br />

eu seja leigo em arte, também o sou em culinária, e no<br />

entanto sei distinguir um bife do lombo de uma coxa de<br />

gato; direi apenas que são indignos. Alguns tinham<br />

assinatura portuguesa; a maioria pertencia ao resto do<br />

mundo. Nas festas que se seguiam às galerias, os artistas<br />

e a arte estavam no centro das conversas, como se o<br />

mundo parasse por ali (uma vez mais o efeito bola: o<br />

que acontece ao escritor quando todos os habitantes da<br />

cidade forem, eles próprios, escritores?). A capital<br />

alemã é uma grande cidade e uma cidade grande; mas,<br />

se é um facto que só os provincianos, como eu, é que<br />

comem bolas de Berlim, também é verdade que só os<br />

provincianos é que acham que o engenho aguça a<br />

necessidade; ou, neste caso, que a cidade é que faz o<br />

homem. Bola de Berlim? Sim, mas com creme, se faz<br />

favor.<br />

Escritor


18 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

Construção<br />

Pode ler-se como um romance<br />

ou uma lista telefónica, de um fôlego<br />

ou em consultas rápidas. É a história<br />

de Chico Buarque contada pelas<br />

histórias que se escondem atrás<br />

de cada canção sua<br />

Já o encaixotaram em antologias, empacotaram<br />

emhorasdefilme,biografaramemlivro,jápartilharam<br />

o trovador em ‘songbook’, celebraram o<br />

escritoremcolóquios,esmiuçaramocronistaem<br />

debates. Chico Buarque já foi objecto de todos os<br />

olhares possíveis e a sua obra matéria para toda a<br />

espécie de edição - já se publicaram até análises semióticas das<br />

suas canções (não é piada: vale a pena ver o número 7 da revista<br />

“Textos e Pretextos” da Universidade de Lisboa, que lhe foi<br />

inteiramente dedicada). E ainda assim, alguém encontrou espaço<br />

para mais qualquer coisa. Para uma ideia simples que resultou<br />

neste livro que é, ao mesmo tempo, um olhar compreensivo<br />

sobre o autor, um documento sobre quarenta anos<br />

de história do seu país e, claro, mais uma peça de colecção para<br />

militantes da sua obra.<br />

O título é certeiro: “Chico Buarque - Histórias de Canções”.<br />

Porque é disso que se trata. De revolver as razões guardadas nas<br />

133 canções que aqui se incluem, o onde, o quando, o como e,<br />

na medida do possível, o porquê de cada uma delas. Por cada<br />

canção, uma história. O resultado são 360 pá<strong>gina</strong>s que se podem<br />

ler como um romance ou uma lista telefónica – conforme<br />

queiramos uma biografia de Chico na idade adulta ou um manualdeconsultaeapoioàaudiçãodasuamúsica.Aassinaturaé<br />

de Wagner Homem, jornalista que se fez amigo de Chico Buarque<br />

em 1989, quando elaborou o seu primeiro ‘songbook’, e<br />

que desde então tem gerido o site do autor (chicobuarque.com.br)<br />

E foi precisamente daí que a ideia nasceu, quando<br />

Homem percebeu que a pá<strong>gina</strong> onde ia inscrevendo pequenas<br />

histórias e curiosidades associadas às músicas de Chico era, de<br />

longe, a mais lida de todo o portal. E foi desses onze anos de garimpo<br />

acumulado de pequenos detalhes, entre conversas com<br />

o autor, correspondências antigas com parceiros como Vinicius<br />

ou Toquinho e memórias sacadas a músicos e amigos, que<br />

tudo isto nasceu. E parece irrecusável a tentação de descobrir<br />

coisas triviais como quem foi a moça que inspirou a “Morena<br />

dos Olhos de Água”, responder à dúvida metafísica de saber<br />

afinal “O que será que será?”, estudar as fintas com que o poetadriblouacensuraparafazeramensagempassar,ousimplesmente<br />

perceber que não havia mensagem alguma encriptada<br />

naquele verso que sempre nos intrigou.<br />

Certo é que a receita é tão simples quanto eficaz e o livro –<br />

com que a Leya se estreia no mercado brasileiro – já evoluiu<br />

para uma colecção (a obra de Toquinho dará origem ao segundovolumede“HistóriasdeCanções”).Porquenãohánadaque<br />

valha uma boa história e mesmo para quem julga conhecê-la<br />

por dentro parece sobrar sempre um episódio por revelar. Por<br />

exemplo, é do domínio público que a canção “Tanto Mar” teve<br />

duas versões, uma ori<strong>gina</strong>l de 1975, que era uma saudação<br />

emocionada à revolução portuguesa da Primavera anterior, e<br />

uma segunda de 1978, quando Chico, decepcionado com o desenrolardosacontecimentosdesteladodomar,reviuembaixa<br />

o seu entusiasmo. Onde antes se lia “Eu queria estar na festa,<br />

pá”, passou a ler-se “Já murcharam tua festa, pá.” Mas atrás<br />

disso há o delicioso pormenor histórico de uma censura que<br />

nãogostoudequalquerumadasversõeseimpôstesouradasem<br />

ambas. O censor de serviço era Augusto da Costa, antigo titular<br />

da baliza canarinha, sob cuja jurisdição o Brasil sofreu os dois<br />

golos que lhe custaram o campeonato do mundo de futebol<br />

frente ao Uruguai em 1950. Na resposta às rasuras do vigia,<br />

Chico terá respondido apenas: “Porra Agusto, você perde a<br />

copa e ainda vem me aporrinhar?” JOÃO PEDRO OLIVEIRA<br />

São 360 pá<strong>gina</strong>s,<br />

que alternam<br />

entre os textos<br />

e as histórias<br />

associadas a 133<br />

canções de Chico.<br />

Entre a poesia<br />

e a circunstância<br />

que a viu nascer<br />

CHICO BUARQUE<br />

- HISTÓRIAS DE CANÇÕES<br />

–<br />

WAGNER HOMEM<br />

–<br />

DOM QUIXOTE


Que força é esta?<br />

Os concertos que juntaram José Mário Branco, Sérgio Godinho<br />

e Fausto vão ficar para a memória. De quem lá esteve e quem<br />

comprar “Três Cantos ao Vivo”, duplo álbum com DVD e extras<br />

Uns lamentaram o alinhamento<br />

das canções, muitos<br />

maldisseram o som do concerto,<br />

quase todos culparam<br />

a escolha da sala. Mas à saída<br />

da praça não se achava uma<br />

alma que tivesse dado a noite por perdida. O<br />

Campo Pequeno encheu-se de gente convencida<br />

de que ia viver uma boa memória e<br />

esvaziou-se de gente feliz por ter tido razão.<br />

AreuniãoinéditadeJoséMárioBranco,Sérgio<br />

Godinho e Fausto Bordalo Dias em palco<br />

era um acontecimento à prova de decepção,<br />

mas felizmente foi muito mais que isso. E o<br />

melhor é que todas as falhas que se possam<br />

ter assinalado ao espectáculo saíram completamente<br />

depuradas nesta memória que<br />

dele ficou. “Três Cantos ao Vivo” é uma edição<br />

à medida do momento que regista. Das<br />

quatro noites de reunião dos três cantautores<br />

em Outubro passado – duas no Campo<br />

Pequeno, em Lisboa, outra duas no Coliseu<br />

do Porto - resulta um duplo álbum, mais um<br />

dvd do espectáculo e outro de documentário<br />

(há também a versão apenas com os dois<br />

cd, mas este é um daquele casos em que vale<br />

mesmo a pena perder o amor a mais uns euros).<br />

Comecemos, aliás, pelos extras.<br />

A assinatura do documentário diz alguma<br />

coisa sobre a cumplicidade com que a<br />

câmara olhou para este projecto que já andava<br />

a ser congeminado desde 2003 mas<br />

que só em Maio deste ano ganhou pernas<br />

para andar. Atrás da lente esteve André Godinho,realizador,filhodeSérgioGodinho,e<br />

à frente estiveram os três músicos em conversas<br />

e depoimentos intermeados por uns<br />

escassos minutos de imagens de arquivo e<br />

pouco mais. E é quanto basta para um filme<br />

que, sendo breve, não merece a desconsideração<br />

de ser mencionado apenas como<br />

um extra. Chama-se “Tudo Faz Parte” – título<br />

que apanha boleia do inédito composto<br />

por Sérgio Godinho e por José Mário Branco<br />

propositadamente para esta reunião, “Faz<br />

Parte” – e tem o melhor dos melhores documentários:<br />

uma narrativa impecavelmente<br />

construída e grandes personagens.<br />

E o que fica é uma breve viagem entre os<br />

encontros a três, à volta de uma mesa, à voltadasmúsicas,àvoltadeumcopo,guitarras<br />

no colo a tentar pôr os acordes nas mãos, a<br />

discutir arranjos e a lembrar razões e circunstâncias<br />

que se escondem atrás de cada<br />

um daqueles temas que foram alinhando.<br />

Depois o trabalho num estúdio de ensaio,<br />

já com os 22 músicos que os haveriam de<br />

acompanhar em palco. E pelo meio as conversasasóscomacâmaraeamemóriado<br />

passado a trabalhar ao serviço de um espectáculo<br />

que quis à força ser presente – o primeiro<br />

encontro de Sérgio Godinho e Zé MárioBrancoemParisatempodoMaiode68,o<br />

momento em que José Afonso os descobriu<br />

láeooutroemqueeles,chegadoscá,descobriram<br />

Fausto. E tudo isto tem apoio num<br />

TRÊS CANTOS<br />

–<br />

JOSÉ MÁRIO BRANCO,<br />

SÉRGIO GODINHO<br />

E FAUSTO BORDALO DIAS<br />

–<br />

EMI<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 19<br />

extenso artigo que o jornalista Nuno Pacheco<br />

produziu para o livro da edição, narrando<br />

a génese do projecto e pondo os três a comentar<br />

cada uma das 23 canções que ficaraminscritasnoduploálbum,maisasoutras<br />

que apenas se podem ouvir vendo o dvd e<br />

mais uma ou duas que ficaram apenas para<br />

quem assistiu aos concertos.<br />

E do álbum o que se pode dizer é que é um<br />

belo disco ao vivo, que guarda intacta a<br />

energia das quatro noites – a melhor de<br />

cada uma delas, aliás – com a vantagem de<br />

ter o som que, pelo menos no Campo Pequeno,<br />

ninguém escutou a não ser talvez<br />

quem estava na ‘regie’ de gravação (para os<br />

privilegiados da plateia era amarfanhado,<br />

para os degredados do último balcão era<br />

inaudível).<br />

A soma de tudo isto é um documento valioso<br />

que, como bem sintetizou Rui Tavares<br />

numa crónica que é recuperada para o livro<br />

desta edição, regista o encontro inédito de<br />

três autores que no essencial partilham circunstâncias<br />

históricas e referências artísticas<br />

essenciais – ditadura e revolução, a figura<br />

fundadora de José Afonso –, mas que<br />

sempre tiveram uma voz própria, seguiram<br />

uma trajectória diferenciada, criaram um<br />

universo musical e poético singular e são<br />

hoje, mais do que três pilares essenciais da<br />

música popular portuguesa, três miradouros<br />

para os últimos 40 anos da história do<br />

país. JOÃO PEDRO OLIVEIRA


20 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

Santos em festa<br />

É no feriado Santo - terça-feira 8, dia da Imaculada Conceição<br />

– que se comemora o 4 º aniversário da Santos Design District, em Lisboa.<br />

Coincidência topominica ou não, o que importa é que 24 lojas de Santos<br />

(o Velho) abrem em horário alargado, com ofertas para os visitantes<br />

Se a descer todos os santos<br />

ajudam, na zona que lhes<br />

presta homenagem com<br />

certeza também darão uma<br />

mãozinha (pede-se a S. Pedro<br />

tempo de feição). É que<br />

no feriado de dia 8 comemora-se o quarto<br />

aniversário da Santos Design District e, à<br />

boa maneira brasileira (o aniversariante<br />

oferece um mimo ao convidado), no bairro<br />

lisboeta as lojas associadas terão ofertas<br />

como degustação do néctar alentejano<br />

da Quinta do Esporão, Vinha da Defesa,<br />

castanhas assadas e Bolo-rei, entre outros<br />

presentes. Tudo e mais horário alargado,<br />

das 11h00 às 21h00.<br />

A Santos Design District (SDD) é a Associação<br />

Empresarial do Bairro de Santos<br />

criada com o objectivo de “dinamizar a<br />

zona enquanto pólo agregador e concentrar<br />

a melhor oferta para um público exigente”,<br />

conta João Peres Alves, o vice-<br />

-presidente da SDD. Tudo compreendido<br />

entre a zona que vai da rua de Santos o<br />

Velho à rua de S. Paulo, passando ora<br />

mais a norte ora mais a sul, pelas diversas<br />

artérias entre a rua da Esperança e a<br />

avenida 24 de Julho. Actualmente, são 12<br />

os associados, entre lojas, galerias, restaurantes<br />

e outros, número que tem vindo<br />

a aumentar desde a fundação com<br />

quatro lojas: Domo, Loja do Banho, Paris-Sete<br />

e Steinwall. Uma das mais recentes<br />

aderentes é a Gandia Blasco. Madalena<br />

Leite de Castro, a Directora de<br />

Marketing e relações públicas desta loja<br />

de design e decoração, faz votos para que<br />

“se consiga criar um verdadeiro núcleo<br />

para que Santos se torne fundamental<br />

nas áreas da decoração e do design”. A<br />

Gandia Blasco sorteará uma peça da loja<br />

entre os visitantes.<br />

Às iniciais juntaram-se também a Luz e<br />

Som, O Epicurista, Frade dos Mares, Drago<br />

Capital, Projecto Boavista, Transboavista|VPF|Art<br />

Edifício e United Media.<br />

Zona frequentada por uma população<br />

bastante heterogénea (de dia são os universitários,<br />

designers, arquitectos, público<br />

diverso e uma faixa etária mais envelhecida<br />

que aqui reside; à noite são os<br />

jovens que procuram os bares), diz João<br />

Peres Alves, “Santos não pára”. “Temos<br />

cada vez mais agentes associados às in-<br />

dústrias criativas a deslocarem-se para<br />

cá. Sendo o design o ‘drive’ da associação,<br />

assumimos a sua componente cultural“.<br />

Como que a provar estas palavras está a<br />

participação de outros estabelecidos da<br />

zona: Alkantara Associação Cultural,<br />

Branco sobre Branco, Astelle Melu, Estado<br />

Líquido, La Hora Espanola, Flor, Floris,<br />

Purpurina, Santos da Casa, Cool Design,<br />

Mood, O Mundo de Sofia, Gaggenau,<br />

Nogo, Rentagallery 24, Rentagallery Now<br />

e Galeria das Bernardas. Paula Crespo, a<br />

proprietária desta última, está a estudar a<br />

adesão à associação, da qual espera “ima<strong>gina</strong>ção,<br />

iniciativa, divulgação, coesão e<br />

projectos rejuvenescedores para o bairro”.<br />

Neste dia a Bernardas sorteará também<br />

uma jóia.<br />

Feito o balanço, “as pessoas sabem o<br />

que é e onde fica”, o vice-presidente da<br />

SDD deixa uma promessa para o próximo<br />

ano: “Levar à rua, além de eventos nas lojas,<br />

iniciativas culturais, que podem até<br />

não ter o design como eixo principal, mas<br />

que sejam elemento de ligação dos agentes<br />

e população que vive, trabalha e se diverte<br />

em Santos”. CRISTINA S. BORGES<br />

DOMO I LOJA DO BANHO I PARIS SETE I STEINWALL I GANDIA BLASCO I LUZ E SOM I O EPICURISTA I FRADE DOS MARES I DRAGO CAPITAL<br />

I PROJECTO BOAVISTA I TRANSBOAVISTA I VPF I ART EDIFÍCIO I UNITED MEDIA I ALKANTARA ASSOCIAÇÃO CULTURAL I BRANCO SOBRE<br />

BRANCO I ASTELLE MELU I ESTADO LIQUÍDO I LA HORA ESPANOLA I FLOR I FLORIS I PURPURINA I SANTOS DA CASA I COOL DESIGN<br />

I MOOD I O MUNDO DE SOFIA I GAGGENAU I NOGO I GALERIA DAS BERNARDAS I RENTAGALLERY 24 I RENTAGALLERY NOW


Matosinhos à solta<br />

Era uma cidade satélite que cheirava a peixe.<br />

Mas isso era dantes. Agora dá lições ao Porto sobre<br />

como promover a cultura sem cair no disparate.<br />

Um caso de sucesso<br />

Até há uns anos, Matosinhos era a cidade<br />

dos pescadores e das indústrias das<br />

conservas. Depois passou a ser a cidade<br />

da refinaria da Galp. Mais tarde, transformou-se<br />

numa espécie de deserto urbano na<br />

periferia do Porto, onde ninguém queria viver.<br />

Para abreviar: actualmente, Matosinhos<br />

éacidadedoGrandePortoondeaculturaé<br />

mais bem tratada – tem até aparentemente<br />

um lugar próprio, independente, sem ser<br />

umaparentepobredenada–eumexemplo<br />

que, mais que ser estudado, deve ser seguido.<br />

Paraabreviaraindamais:apolíticaculturalde<br />

Matosinhos é a política cultural que o Porto<br />

devia ter, se se desse o caso, que não dá, de na<br />

câmara da segunda maior cidade do país alguém<br />

saber o que raio isso é.<br />

É por isso que, nos próximos dias 7 e 8 de<br />

Dezembro, a Câmara de Matosinhos volta a<br />

cobrir o Porto de vergonha, ao organizar,<br />

através da biblioteca municipal, mais uma<br />

ediçãodaFestadaPoesia.NoPorto,poesiasão<br />

aquelas manchas de texto que não chegam ao<br />

fimdaspá<strong>gina</strong>s,quequaseninguémlêequem<br />

lê não percebe e quem percebe tem no mínimo<br />

um passado duvidoso de bombista; em<br />

Matosinhos é ponto de partida para um encontro<br />

com os escritores João Pedro Mésseder,<br />

José Jorge Letria, José Fanha, Valter Hugo<br />

mãe, João Luís Barreto Guimarães, José Mário<br />

Silva, Ana Luísa Amaral, Manuel António Pina<br />

e Isabel Pires de Lima.<br />

MasaFestadaPoesia–certamequecomoa<br />

própria, a poesia, não é propriamente estanque<br />

– tem muitas coisas que até parece que<br />

não são poesia. Para além dos encontros com<br />

escritores há encontros com músicos (Sam<br />

the Kid, New Max e NBC e um concerto com<br />

Pedro Moutinho); uma exposição de ilustrações;<br />

poesia dita por Victor de Sousa; teatro e<br />

espectáculos (entre os quais “Jorge de Sena o<br />

regresso a casa”); uma oficina de artes com o<br />

muito desconstrutivo nome “Brincar e pintar<br />

Florbela”, que há-de ser a Espanca, que por<br />

ali andou, por Matosinhos, nas suas paixões<br />

de demónio; e uma prova de poemas, que, de<br />

propósito, aqui não se diz o que é.<br />

O tal espectáculo “Jorge de Sena: o regresso<br />

a casa” vale a pena ser levado em consideração:<br />

é uma homenagem ao poeta, ensaísta,<br />

pensador e escritor – um dos mais brilhantes,<br />

lúcidos e esquecidos do país – numa performance<br />

de poesia musicada, com José Jorge<br />

Letria, Guto Lucena e António Palma, assinalando<br />

os 90 anos do seu nascimento e os 50 da<br />

sua partida para o exílio – que nunca mais<br />

acabou, ou não fosse ele exactamente lúcido.<br />

ANTÓNIO FREITAS DE SOUSA<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 21<br />

A MINHA FICÇÃO<br />

Patrícia Reis<br />

O nevoeiro do futuro<br />

O homem desceu a calçada com o jornal debaixo do<br />

braço. Tinha feito várias anotações e analisado o<br />

suplemento de emprego com olhos de lince,<br />

conhecedor e experiente destas coisas. Começou por<br />

riscar todos os anúncios que indicavam idade. Não<br />

valeria a pena ir por aí. Quando tomou o café às sete e<br />

quarenta e cinco havia um nevoeiro em Lisboa que lhe<br />

lembrou a aldeia, outros tempos, uma vida que fora dele<br />

e que hoje, de forma algo estranha, lhe parece alheia.<br />

Na aldeia, em miúdo, correndo com os cães e trincando<br />

pão duro do dia anterior, o futuro não o preocupava.<br />

O futuro não existia simplesmente. Agora, depois de<br />

cinquenta e seis anos a fazer coisas tão diferentes na<br />

grande cidade, o futuro era o dia de amanhã, o levantar<br />

à mesma hora, a hora da vergonha, e não ter para onde<br />

ir. A mulher a arrumar as coisas na cozinha, pronta<br />

para ir para casa de uns senhores lavar e esfregar,<br />

educar uma criança pequena, mimada e demasiado<br />

pesada para andar ao colo. Sete euros à hora, quatro<br />

vezes por semana, já que a mãe da criança a deixava<br />

com os avós às sextas. Daria jeito esse dia extra, mas<br />

nada a fazer, as coisas são o que são. Para não a fazer<br />

perder mais cabelo, para não a levar a tomar mais<br />

medicamentos, ela sempre a caminho da médica de<br />

família, com tantos queixumes, esqueceu-se de lhe<br />

dizer que estava no desemprego desde o início do<br />

Verão. Ponderou na conversa e concluiu que de nada<br />

servia. Alguma coisa apareceria, ele safar-se-ia como<br />

sempre e ela teria menos uma preocupação, ela sempre<br />

com o miúdo às costas e um cesto de roupa para<br />

engomar de segunda à quinta.<br />

O homem que desce a calçada já não se importava com<br />

nada. Das sete e quarenta e cinco às seis da tarde, o<br />

horário do costume, da imobiliária onde esteve os<br />

últimos dez anos e que, de repente, fechou portas por<br />

ser ilegal, por não existirem nem os papéis nem as<br />

cunhas certas, o homem vai vendo o jornal e os<br />

empregos que existem: director de marketing, gestor<br />

com MBA, jovem licenciado para a área da<br />

Publicidade... Impossibilidades que ele não vislumbrou<br />

quando corria pelo nevoeiro da aldeia, já sem sapatos e<br />

sem saber nada do futuro. Podia, hoje à noite, contar<br />

tudo à mulher, em meio tom, depois da novela. Mas<br />

para quê? Agora, tão próximo do Natal, o melhor será<br />

ficar calado e não dizer nada. Se não disser nada talvez<br />

passe. Quem sabe?<br />

Escritora


22 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

Para além do tempo,<br />

dentro do museu...<br />

Obras pertencentes à colecção do Museu Nacional Soares dos Reis, datadas<br />

dos séculos passados, entram em diálogo com outras realizadas na nossa<br />

contemporaneidade, estabelecendo relações de génese muito variadas<br />

As disciplinas que tratam da<br />

teoria e da historiografia da<br />

arte são ciências que desde a<br />

sua instituição, no contexto<br />

dos avanços positivistas do<br />

século XVIII, vêm conhecendo<br />

um desenvolvimento baseado fundamentalmente<br />

em estudos filosóficos.<br />

Até uma certa altura, que teve o seu início<br />

a partir da segunda metade do século XX,<br />

acreditava-se que toda a prática artística<br />

se baseava numa perspectiva historicista.<br />

Isto significa que os novos movimentos<br />

artísticos que apontavam novos caminhos,<br />

faziam-no através de um retorno às<br />

grandes questões de outros tempos, com<br />

vista a reproblematizá-los e daí alcançar<br />

novos pontos de vista que por sua vez,<br />

abriam o caminho a novas interrogações.<br />

Hoje em dia, e como ficou expresso através<br />

das teorias defendidas pelos oradores<br />

– Hal Foster e Boris Groys - presentes na<br />

última conferência organizada em Serralves,<br />

nos dias 27 e 28 de Novembro, este caminho<br />

parece ter chegado a uma encruzilhada.<br />

No entanto, as suas, são ainda teorias<br />

em estado de problematização, visando<br />

sobretudo a obra de arte realizada hoje,<br />

isto é, na nossa mais imediata contemporaneidade,<br />

pelo mundo a fora.<br />

Para melhor compreender esta questão,<br />

nada melhor do que presenciar este<br />

processo dialéctico posto em prática. É o<br />

que acontece presentemente no Museu<br />

Nacional Soares dos Reis, no Porto, onde<br />

Maria de Fátima Lambert organizou uma<br />

exposição temporária intitulada “Do séc.<br />

XVII ao séc. XXI: além do tempo, dentro<br />

do Museu”.<br />

O objectivo, segundo as suas próprias<br />

palavras, foi o de “sob desígnios de afinidade,<br />

simulacro/similitude ou diferencialidade,<br />

propor o estabelecimento de confronto<br />

a autores contemporâneos, cujas<br />

obras são demonstrativas de intenção,<br />

conceito e iconografia concretizadas através<br />

de anuências e cumplicidades diversificadas”<br />

Estão presente nomes como os de<br />

João Luís Bento, Duarte Amaral Netto, Rui<br />

Calçada Bastos, João Jacinto, Susana Mendes<br />

Silva, Nuno Sousa Vieira, Isaque Pinheiro,<br />

Pedro Valdez Cardoso, Suzanne<br />

Themlitz, João Tabarra e João Pedro Vale...<br />

“as obras apresentadas percorrem diferentes<br />

registos, linguagens, morfologias e<br />

estratégias reveladoras de uma estética e<br />

artisticidades elaboradas e singulares que,<br />

deste modo, contribuem para uma vivificação<br />

de tempos e espaços no Museu”<br />

continua.<br />

A grande aposta não se limita a esta tarefa<br />

reveladora, mas também e segundo<br />

referiu, de um hipotético início de uma<br />

apreciação contemporânea sobre um património<br />

artístico de valor incalculável,<br />

para as distintas gerações que constituem<br />

ANTÓNIO JOSÉ DA COSTA<br />

> UVAS, 1914, ASSINADA<br />

E DATADA, ÓLEO SOBRE CARTÃO<br />

DIM: 41,5 X 59,5CM<br />

CRUZ RELICÁRIO<br />

> NEFRITE ESCULPIDA, ÍNDIA<br />

MOGOL, SÉCULO XVII / XVIII, OURO<br />

AMARELO INCRUSTADO, PRATA<br />

DOURADA GRAVADA E CRAVAÇÃO<br />

DE RUBIS E VIDRO INCOLOR<br />

DIM: 28,1 X 12,5 CM<br />

INV. 120/1 OUR MNSR<br />

o público de hoje para amanhã. Das salas<br />

do Museu foram escolhidas obras de Augusto<br />

de Roquemont, António José da<br />

Costa, Silva Porto, João Vaz, Manuel Jardim,<br />

Aurélia de Sousa, Sofia de Sousa,<br />

Heitor Cramez e Fernando Lanhas – pintura;<br />

Augusto Santo e Canto da Maya – escultura;<br />

peças de Faiança portuguesa dos<br />

sécs. XVII e XIX; peças de Ourivesaria e de<br />

Joalharia portuguesa (insígnias de ordens<br />

militares) do séc. XVIII, e, ainda, uma das<br />

salas mais emblemáticas do MNSR – a sala<br />

dos espelhos (sala da música).<br />

Atrair novos públicos, habituados a um<br />

diferente segmento artístico e cruzar a sua<br />

própria experiência através do dialogo<br />

entre diferentes tempos e correntes estéticas<br />

de forma a proporcionar uma maior<br />

ligação às praticas artísticas é outro dos<br />

desafios a que se propôs a curadora, incentivada<br />

pela directora do museu, Drª Maria<br />

João Vasconcelos. Nos tempo que correm,<br />

em que a critica à falta de meios é constante,<br />

fica o exemplo de que com pouco também<br />

se pode avançar. O caminho, duro é<br />

certo, não pode ser abandonado e, passo a<br />

passo, se podem e devem continuar a desenvolver<br />

estratégias, que implicam evidentemente<br />

recurso a meios mais variados.<br />

Responsabilidade civil através de<br />

mecenato e maior consciência pública são<br />

as condições que se impõem.<br />

MARIA DO CARMO ESPÍRITO SANTO


O pêndulo<br />

do luxo<br />

O peso é de ouro (branco).<br />

Sustentado por 402 ametistas<br />

e 12 diamantes. Não deixa dúvidas<br />

nem passa incógnita. É uma das<br />

peças da colecção De Grisogono,<br />

de origem suíça e uma das mais<br />

luxuosas marcas de jóias<br />

e relógios do mundo.<br />

Conhecida pela ousadia<br />

e irreverência das suas criações<br />

é presença assídua na passadeira<br />

vermelha dos acontecimentos<br />

mais carismáticos do mundo,<br />

dos eventos de moda aos festivais<br />

de cinema. Charlize Theron, Demi<br />

Moore, Alicia Keys, Monica Belucci<br />

e Beyoncé são algumas das<br />

celebridades que as exibem.<br />

Além deste brincos, são 75 as peças<br />

disponíveis na Boutique<br />

dos Relógios Plus, em Lisboa.<br />

A que escolhemos vale 21.900 euros.<br />

Luz<br />

em seda<br />

LASTING SILK UV FOUNDATION<br />

–<br />

48,70 EUROS<br />

Encontrar a cor e a luz certa e fazê-la<br />

durar, estampada no rosto, o tempo<br />

que se deseja. Eis Lasting Silk UV<br />

Foundation, que anuncia uma nova<br />

composição de finos pigmentos com a<br />

promessa de uma cor radiante e<br />

duradoura. Desde 2001 que Armani investe<br />

na tez feminina através de uma tecnologia<br />

cosmética ori<strong>gina</strong>l – a MicroFilTM -,<br />

baseada na sua tendência de junção e<br />

sobreposição de tecidos. Os ingredientes?<br />

Uma combinação de essência de água,<br />

partículas micronizadas com efeito óptico<br />

e micro pigmentos luminosos, moídos para<br />

produzir uma base leve que potencia a cor<br />

e assegurando uma longa duração. Como<br />

tecidos com efeitos de luz e translucidez.<br />

Analogia que, de resto, se tornou a<br />

assinatura das bases Giorgio Armani.<br />

Desde o ano em que a marca se<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 23<br />

especializou neste tipo de cosmético -<br />

com a base Luminous silk, eleita a melhor<br />

do ano por sete anos consecutivos pela<br />

revista americana de beleza Allure – muita<br />

tinta tem corrido até à presente Lasting<br />

Silk UV foundation, resistente a spotlights,<br />

entre numerosas outras particularidades.<br />

A textura é liquida e sedosa, com um<br />

acabamento semi-mate e está disponível<br />

em oito tons: Ivory Beige, Light Sandy<br />

Beige, Pale Beige, Warm Beige, Natural<br />

Beige, Tawny Beige, Tan e Natural Suede.<br />

De acordo com as distintas tonalidades<br />

das peles femininas. Giorgio Armani<br />

transformou a moda numa era de<br />

elegância descontraída e de ar casual a<br />

partir do momento da desconstrução do<br />

casaco. Resta um conselho: aplicar a base<br />

com um pincel (adequado) para garantir<br />

uma cobertura certa e duradoura.


24 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

One for the road<br />

Normalmente, as grandes casas do Vinho do Porto apenas declaram<br />

Vintage três vezes por década. Se as razões são climáticas ou comerciais,<br />

pouco i mporta. O 2007, que agora nos chega, é um ano para celebrar<br />

OPortoVintageéotopodegama<br />

dos rubies (envelhecimento<br />

não oxidativo, logo focados na<br />

pureza dos frutos violetas)<br />

comooPortoColheitaéotopo<br />

de gama dos Tawnies (envelhecimentooxidativo,emtonéisdemadeira,<br />

que mais rapidamente amaciam os vinhos,<br />

que resultam focados em tons de mel e tostados).<br />

Vintage é a palavra inglesa para colheita,<br />

o que não ajuda a diminuir as confusões.<br />

OPortoVintage,aindavaleapenarepeti-<br />

-lo, é uma das jóias da coroa que são os vinhos<br />

fortificados portugueses. Feito apenas<br />

com as melhores uvas de um único ano em<br />

que as circunstâncias climáticas sejam excepcionais,<br />

é um vinho encorpado e retinto,<br />

de um violeta quase preto, que é engarrafado<br />

entre o segundo e o terceiro ano após a<br />

vindima. Pode ser consumido desde logo,<br />

mas agradece a longa e cuidada guarda em<br />

condições apropriadas de baixa temperatura,<br />

humidade relativamente alta, sem luz e<br />

sem vibrações. Os melhores vinhos têm<br />

vida de décadas, durante a qual vão perdendo<br />

devagar a sua cor violeta, e ganhando tonalidades<br />

primeiro vermelhas, depois castanhas,<br />

depois ambarinas, e finalmente de<br />

mel, premiado com laivos esverdeados e, se<br />

estamosjápertodacentenadeanos,amarelos<br />

vivos e brilhantes.<br />

A esta mudança de cor corresponde um<br />

amaciardopaladar,aadstringênciaeagressividade<br />

vão-se dissolvendo no tempo, a<br />

fruta vai mudando de tom, dos primários<br />

dos mirtilos e amoras para frutas mais suaves<br />

como ameixas e romãs, aparecendo aos<br />

poucos os frutos secos como avelãs e nozes,<br />

especiarias, compotas suaves, cacau, chocolate,<br />

café, caramelo, e por vezes tons herbáceos<br />

de mato, casca de árvore, ervas do<br />

monte.Na boca o vinho evolui de uma enorme<br />

concentração em novo, cheio de volume,<br />

taninos, corpo espesso, sabores doces e<br />

frutados, para uma progressiva integração<br />

das componentes, com o álcool a integrar-<br />

-se melhor no vinho, a acidez e os taninos a<br />

fornecer a estrutura que seguram o vinho e<br />

asseguram o bom envelhecimento, ainda<br />

com as características cada vez mais salientes<br />

de complexidade e multi-dimensionalidade.<br />

Um vinho destes mostra complexidade<br />

pela enorme variedade de componentes<br />

integradas, muitas vezes quase indistinguí-<br />

QUINTA DO VESÚVIO<br />

SYMINGTON FAMILY ESTATES<br />

> O Grupo Symington não passa despercebido nas<br />

classificações. Tem marcas que rivalizam umas com<br />

as outras, entre as Graham’s, Dow’s e Warre’s, e<br />

outras menos conhecidas, mais vocacionadas para<br />

o mercado inglês, mas onde se encontram pérolas a<br />

bons preços, como a Smith Woodhouse ou a<br />

Quarles Harris. De 2007, saliento o Quinta do<br />

Vesúvio, propriedade mítica junto a Numão. Mostra<br />

no aroma muita fruta em passa, também ameixas e<br />

ginjas, especiarias, pimenta, traços minerais.<br />

Complexo e elegante, muito sofisticado e tenso. A<br />

boca é sedosa, densa, muito fina, com taninos<br />

elegantes e muito bem envolvidos no vinho. Final<br />

longo, muito refinado.<br />

veis, e mostra multi-dimensionalidade pelas<br />

sensações que fornece nos órgãos sensitivos.<br />

Largo na boca quando se espalha e nos<br />

invade de diferentes percepções nas papilas<br />

gustativas,profundoquandocadanovainspiração<br />

nos revela uma nova característica<br />

antes escondida por outras, longo, quando<br />

após o engolirmos a sensação que deixa na<br />

boca se prolonga por muitos segundos ou<br />

mesmo minutos.<br />

Normalmente, as grandes casas do Vinho<br />

do Porto apenas declaram Vintage três vezes<br />

por década. Se as razões são climáticas ou<br />

comerciais é um pouco relevante, que estas<br />

tradições têm séculos e são para manter. Nos<br />

anos Off-Vintage as casas lançam o que se<br />

tem chamado “single quinta,” vinhos onde<br />

se encontra uma boa relação qualidade preço.<br />

Após as declarações generalizadas de<br />

2000 e 2003, tivemos recentemente a pompa<br />

e circunstância da declaração de 2007. Ao<br />

contráriodosanosmaisquentes,ondeamaturaçãodasuvasfavoreceovinhodoPorto,o<br />

Verão frio e suave de 2007 parece ter favorecido<br />

os vinhos de mesa. No entanto, provados<br />

os Vintages de 2007, encontra-se neles<br />

uma frescura, fruto da boa acidez e da lenta<br />

maturação das uvas, que os torna muito afáveisesedutoresdesdejá.Commaisde60casas<br />

a declarar Vintage (rigorosamente aprovados<br />

pelo Instituto dos Vinhos do Douro e<br />

Porto), é uma declaração generalizada e um<br />

ano clássico. Os suspeitos do costume fizeram<br />

outra vez os melhores vinhos: o Grupo<br />

Symington(Graham’s,Dow’s,Warre,etc.)e<br />

Fladgate Partnership (Taylor’s, Fonseca,<br />

etc.). Estas grandes casas dispõem de grande<br />

variedade de origens de vinhos de onde podem<br />

extrair os melhores lotes. Mas houve<br />

surpresas, com algumas quintas a mostrarem<br />

grande qualidade. Só o tempo dirá se<br />

esta vai ser uma colheita para evoluir durante<br />

muitas décadas, como as míticas 1963,<br />

1970, 1977, 1985, 1994. Agora, é altura de<br />

comprar o mais cedo possível, para apanhar<br />

os melhores preços. Provar logo, que estes<br />

vinhos mostram pouco num período que<br />

pode ir dos 5 aos 12 anos após a vindima. Depois,<br />

ir abrindo pacientemente as garrafas,<br />

decantá-las por causa do grosso depósito<br />

(com o qual se temperam óptimos estufados<br />

de carne ou cogumelos), e combiná-las com<br />

queijos ou frutos secos, sempre com boa<br />

companhia. LUÍS ANTUNES<br />

QUINTA<br />

DA ROMANEIRA<br />

2007<br />

> Desenhado por António Agrellos,<br />

o enólogo da Quinta do Noval,<br />

este vinho vem de uma quinta que<br />

passa do underdog para uma das<br />

estrelas da declaração, rivalizando<br />

com o próprio Quinta do Noval<br />

(este ano não houve Vintage<br />

Nacional, a micro cuvée de uma<br />

vinha de pé franco,<br />

ou seja, com cepas sem porta-<br />

-enxerto americano), e a um<br />

excelente preço. No nariz mostra<br />

bonita fruta como amoras<br />

e outras indistintas, minerais<br />

como alcatrão, especiarias doces<br />

e finas, esteva. Muito complexo,<br />

com profundidade e frescura.<br />

Muito fino na boca, elegante<br />

e estruturado, com muita<br />

densidade mas mantendo<br />

alevezaefrescura,esemperder<br />

nada da estrutura. Longo, com<br />

chocolate preto, especiarias, fino,<br />

requintado.<br />

FONSECA 2007 QUINTA<br />

AND VINEYARD BOTTLERS<br />

> O Vintage Fonseca aparece quase sempre<br />

no topo das classificações de Vintages.<br />

Este 2007 não é excepção.<br />

É um vinho tenso, com um cheiro complexo e<br />

compacto, onde aparecem em crescendo as<br />

especiarias, fruta preta canforada, chocolate,<br />

alfarroba.<br />

Na boca também se nota que o vinho<br />

precisa de tempo e arejamento para abrir.<br />

Mostra-se firme e grave, com excelente<br />

densidade, taninos muito educados,<br />

que lhe dão uma textura sedosa<br />

e sedutora. Tem final muito longo,<br />

saboroso e com boa complexidade.


Rebuçados à moda antiga<br />

Para satisfazer a própria gulodice ou adoçar a boca a alguém,<br />

com um presente personalizado e ori<strong>gina</strong>l, chegaram a Lisboa<br />

os rebuçados artesanais da Papabubble. De comer e voltar por mais<br />

Oque acontece quando uma<br />

pessoa que nunca gostou de<br />

rebuçados visita pela primeira<br />

vez uma loja de doces<br />

artesanais em plena Baixa<br />

lisboeta? Entra de pé atrás,<br />

mas sai rendida. Os menos cépticos, ou<br />

mais gulosos, saem completamente viciados<br />

nos pequenos rebuçados de fabrico<br />

artesanal (feitos ali mesmo, à frente dos<br />

clientes, várias vezes ao dia) de todas as<br />

cores e sabores. Na Papabubble Lisboa,<br />

instalada numa antiga loja de figurinos na<br />

Rua da Conceição, há pedaços de açúcar<br />

puro (a base para os rebuçados feitos à<br />

moda antiga é água com açúcar e glucose,<br />

que coze em lume forte durante mais ou<br />

menos meia hora) com sabores para todos<br />

os gostos: do tradicional mentol à coca-<br />

-cola, mas também piña colada, melancia,<br />

banana, maracujá, violeta, maçã, morango,<br />

kiwi, lima, limão, canela picante, e<br />

por aí fora, até ao limite da ima<strong>gina</strong>ção.<br />

“Qual o sabor dos nossos corações?”, desafia<br />

o blog papabubblelisboa.blogspot.com,<br />

num convite a visitar a loja, no<br />

coração da Baixa.<br />

Todos do mesmo sabor, vendidos em<br />

pequenos saquinhos monocromáticos, ou<br />

então todos misturados em boiões de vidro,<br />

que se podem trazer à loja para voltar<br />

a encher e alimentar o vício. Há também<br />

chupa-chupas de vários tamanhos, até ao<br />

XXL,esushiderebuçado(limãoeeucalipto)<br />

que não dispensa os pauzinhos. Rebuçados<br />

para a tosse, rebuçados sem açúcar<br />

ou rebuçados de coco e laranja recheados<br />

de chocolate serão os próximos lançamentos.<br />

Pequenas obras de arte (que podem<br />

ser personalizadas e feitas por encomenda)<br />

para deixar derreter na boca.<br />

O conceito de ‘caramels artesans’ da<br />

Papabubble nasceu em Barcelona, em<br />

2004, com o “desejo de recuperar a magia<br />

dos rebuçados artesanais” e depressa se<br />

expandiu pelo mundo: Tóquio, Amesterdão,<br />

Nova Iorque, Seul, Taipé e, desde 21<br />

de Novembro, Lisboa. Durante o tempo<br />

em que viveu na capital catalã, Nuno<br />

Couceiro tornou-se cliente e fã incondicional<br />

da Papabubble. Com experiência<br />

no mundo do teatro e da fotografia, decidiu<br />

tornar-se ‘candy maker’ (para aprenderaarteeatécnicafeztrêsmilquilos<br />

de<br />

PAPABUBBLE<br />

> Rua da Conceição, 117-119<br />

Tel. 213427026<br />

lisboa@papabubble.com<br />

> Segunda a Sábado<br />

das 10h30 às 19h30<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 25<br />

Paula Nunes<br />

rebuçado em três meses de formação, entre<br />

Barcelona e Amesterdão) e trazer a<br />

ideia para Portugal. Além de Nuno, toda a<br />

equipa Papabubble está ligada às “artes<br />

visuais”, a começar pelo sócio Vasco, que é<br />

arquitecto e responsável pela visão mais<br />

comercial do projecto.<br />

No número 119 da Rua da Conceição,<br />

Nuno e Sónia são os artistas de serviço. Mal<br />

os ‘candy makers’ começam a juntar “cor<br />

e sabor” à substância pastosa, os clientes<br />

enchem a loja como que por magia. Surgem<br />

imediatamente memórias de infância,<br />

quando todos os tostões eram gastos<br />

em rebuçados na mercearia do bairro.<br />

Ainda a revisitar o passado, os olhos estão<br />

pregados nas massas de várias cores (neste<br />

caso verde, vermelho e preto, para fazer<br />

rebuçados de melancia) que vão ganhando<br />

forma na bancada. O processo é complexo<br />

e trabalhoso, o resultado é artístico. “É<br />

olaria com rebuçado”, define Vasco. Na<br />

loja, o espectáculo é seguido com extrema<br />

atenção. “Isso come-se?”, pergunta um<br />

miúdo que entra na loja para espreitar e sai<br />

entretido a provar um rebuçado quente,<br />

acabado de fazer. BÁRBARA SILVA


26 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

BEST OF<br />

É Natalis<br />

O maior mercado de Lisboa para prendas de Natal abre hoje, na FIL.<br />

Até 13 de Dezembro, a 4.ª edição da NATALIS é a melhor opção<br />

para quem anda à procura de presentes alternativos<br />

Arrisca-se a entrar no Guinness:<br />

a maior concentração<br />

de prendas de Natal alternativas<br />

por metro quadrado<br />

pode ser vista, a partir<br />

de hoje, na FIL, no Parque<br />

das Nações. Em 10 mil metros quadrados<br />

de exposição, o maior mercado de Natal<br />

de Lisboa, que vai na 4.ª edição, tem tudo.<br />

Do artesanato à gastronomia tradicional e<br />

gourmet, passando pelos acessórios de<br />

moda e joalharia, aos livros e até decorações<br />

de Natal (porque há sempre que se<br />

atrase com a compra do pinheiro), há de<br />

tudo na Natalis – Feira de Natal de Lisboa.<br />

Até há bons corações. É que as receitas de<br />

bilheteira revertem a favor das organizações<br />

de solidariedade social ali presentes.<br />

Com um recorde de 23 mil visitas em<br />

2008, a organização espera agora superar-se<br />

e atingir as 27 mil. Este ano, além<br />

das actividades que constam do programa<br />

da Natalis (porque além de compras,<br />

é ali possível fazer workshops de cerâmica<br />

ou de Tai-Chi Chuan ou assistir a<br />

alguns concertos, como o da orquestra<br />

Tocá Rufar, hoje às 16.30), os visitantes<br />

poderão ainda visitar o FIL Fun & Music,<br />

que estará aberto até ao dia três de Janeiro<br />

e onde poderão experimentar (por<br />

suacontaerisco)umapistadegelode<br />

500 metros quadrados, uma parede de<br />

escalada, carrosséis, carrinhos de choque,<br />

veículos eléctricos ou camas elásticas<br />

e insufláveis.<br />

Para visitar a feira, “qualquer dia é<br />

bom”, diz, claro, Miguel Comporta, director<br />

da Área de Feiras da Fil. “Todos os<br />

dias os expositores repõem os seus stocks<br />

e todos os dias haverá novidades. No sector<br />

da gastronomia poderá deliciar-se<br />

com os nossos produtos mais tradicionais.<br />

Haverá uma série de actividades lúdicas<br />

diárias que darão animação e entretenimento<br />

a quem se deslocar à FIL, tais como<br />

animação para crianças, actividades para<br />

a terceira idade, demonstrações de artesanato,<br />

dança, música, entre outras manifestações<br />

que irão encher o pavilhão de<br />

cor e movimento”, diz, em jeito de anúncio<br />

de Natal, o responsável.<br />

Por ser uma feira com uma componente<br />

solidária muito forte, ali estarão presentes<br />

mais de 60 Instituições Particulares<br />

de Solidariedade Social. Até porque<br />

este mercado é uma iniciativa da AIP-CE /<br />

FIL, que conta com o apoio da Câmara<br />

Municipal de Lisboa e do Instituto da Segurança<br />

Social. E que desde a primeira<br />

edição conta com a presença de dezenas<br />

de Instituições Particulares de Solidariedade<br />

Social envolvidas na organização.<br />

“Somos todos fundadores e parceiros,<br />

desde a Santa Casa da Misericórdia de Lis-<br />

Artesanato,<br />

gastronomia<br />

tradicional<br />

e gourmet, bijuteria,<br />

livros, decorações<br />

de Natal. Cabe tudo<br />

no pavilhão 3 da FIl,<br />

no Parque<br />

das Nações. Se está<br />

farto de centros<br />

comerciais<br />

e das mesmas<br />

prendas de sempre,<br />

aproveite<br />

boa às pequenas instituições de bairro”,<br />

conta Miguel Comporta. “A ideia da Natalis<br />

surge na convergência de vários factores:<br />

o Natal é, por excelência, um período<br />

de actividades solidárias”, explica. “E nós<br />

tínhamos a visão de oferecer os serviços<br />

que prestamos à economia eàsociedade<br />

em geral, de forma solidária, às instituições<br />

que no seu quotidiano apoiam os<br />

mais desfavorecidos”, conclui.<br />

Assim, a Associação Industrial Portuguesa<br />

- Confederação Empresarial / Feira<br />

Internacional de Lisboa (AIP-CE / FIL)<br />

decidiu, há quatro anos, colocar à disposição<br />

das IPSS a sua estrutura FIL, como<br />

plataforma de mercado e promover o empreendedorismo<br />

solidário. Para além<br />

desta vertente, “era importante assegurar<br />

um apoio financeiro efectivo que facilitasse<br />

a presença destas entidades na feira.<br />

A partilha da receita de bilheteira, com<br />

todas as IPSS presentes, assume-se como<br />

um contributo efectivo”, afirma.<br />

Se o espírito do Natal lhe pede que dê<br />

também um contributo efectivo a quem<br />

precisa (e já agora que compre presentes<br />

ori<strong>gina</strong>is para toda a família), visite a Natalis.<br />

Entre 5 e 13 de Dezembro, das 14h30<br />

até às 23h. O bilhete custa apenas dois euros.<br />

Mas não lhe podemos garantir que<br />

não vai lá deixar bastante mais.<br />

LUÍSA DE CARVALHO PEREIRA


Um mundo à parte<br />

A sexta geração do BMW Série 5, que vai estar à venda no mercado nacional<br />

a partir de Março, diferencia-se no estilo, no tamanho e, sobretudo, no capítulo<br />

da segurança, ao recorrer à mais avançada e sofisticada tecnologia de controlo<br />

ABMW decidiu seguir uma estratégiadiferenteparaonovo<br />

modelo que se prepara para<br />

lançar na Primavera de 2010,<br />

revelando com alguma antecedência<br />

o seu conteúdo essencial.Trata-sedasextageraçãodoSérie5,<br />

que promete dar que fazer aos seus principais<br />

adversários, designadamente a Audi e a<br />

Mercedes-Benz, num segmento à partida<br />

dominado pelas marcas alemãs. E isso fica a<br />

dever-se, desde logo, não só a uma completa<br />

revisão da estética, tanto por fora como<br />

por dentro, como igualmente a um conjunto<br />

de outros pormenores com destaque para<br />

o facto de o modelo ter crescido em praticamente<br />

todos os sentidos em relação à actual<br />

geração ainda à venda.<br />

Em termos concretos, esta nova geração<br />

Série 5 cresce 5cm no comprimento (para<br />

4,89m) e 2cm na largura (para 2,86m). Porém,<br />

a maior alteração verifica-se na distânciaentreeixos,comumaumentode8cm<br />

(passa para 2,86m), que se traduz numa<br />

maior habitabilidade interior e num reforço<br />

significativo da capacidade da bagageira,<br />

que passa dos 520 litros da geração anterior<br />

para os 620 litros.<br />

Mas o novo BMW Série 5 é um pouco mais<br />

do que tudo isto, já que do ponto de vista<br />

tecnológico foram dados passos importantesnocapítulodasegurança,comaadopção<br />

do sistema de quatro rodas direccionais à<br />

cabeça ou o dispositivo que adverte o condutor<br />

para a redução da distância que o separa<br />

do veículo que segue à sua frente. Ainda<br />

no campo da tecnologia, há a salientar<br />

uma versão melhorada do “Head-up-Display”,<br />

que projecta no pára-brisas a infor-<br />

A versão<br />

turbodiesel mais<br />

acessível desta<br />

sexta geração será<br />

a 520d, equipada<br />

com uma<br />

evolução do<br />

motor de quatro<br />

cilindros que<br />

passará a debitar<br />

184cv, só chegará<br />

ao mercado<br />

nacional em Julho<br />

do próximo ano<br />

mação mais importante relativa à condução,<br />

bem como o Controlo Dinâmico de<br />

Condução, com os seus quatro modos de<br />

funcionamento: Normal, Comfort, Sport e<br />

Sport+, que permitem configurações muito<br />

diferentes para cada situação. A nova berlina<br />

adopta ainda muitas das tecnologias já<br />

patentes no Série 7 e do recentemente lançado<br />

Série 5 GranTurismo, como é o caso do<br />

acesso à Internet, que estará disponível<br />

como opção.<br />

Outro dos aspectos em que esta sexta geraçãoprometemarcarpontosénacompatibilidade<br />

dos seus motores com o meio ambiente,<br />

já que todos eles beneficiarão, em<br />

maior ou menor escala, do programa EfficientDynamics,<br />

que engloba um conjunto<br />

de medidas para maior eficiência e redução<br />

nos consumos e emissões poluentes.<br />

Disponível à partida apenas na versão de<br />

carroçaria berlina de quatro portas (a carrinha,<br />

denominada Touring, deverá chegar<br />

mais tarde, para depois do Verão), o novo<br />

BMW Série 5 irá contar com praticamente o<br />

mesmo leque de motores a gasolina e Diesel<br />

do modelo actual. Isto é, a oferta a gasolina<br />

vai centrar-se nas versões 523i (204cv), a<br />

única que não fazia parte da gama da anterior<br />

geração, 528i (258cv), 535i (306cv) e<br />

550i (407cv). No caso dos motores turbodiesel,<br />

inicialmente estarão disponíveis<br />

duas versões: 525d (204cv), 530d (245cv).<br />

Quanto a preços, só serão conhecidos<br />

mais perto do início da sua comercialização,<br />

em Março do próximo ano, embora não devam<br />

variar muito da actual tabela: entre os<br />

47.350 euros da versão de entrada de gama e<br />

os 141.550 euros da versão mais potente M5.<br />

CORREIA DE OLIVEIRA<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 27


28 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

Dupla imbatível<br />

Heidi & Seal<br />

A modelo Heidi Klum e o cantor Seal formam a verdadeira “família Benetton”:<br />

ela é alta, loura e alemã, ele é filho de nigerianos, criado no Reino Unido. Têm<br />

quatro filhos, de cinco, quatro, três anos, e dois meses. “It don’t matter if you’re<br />

black or white”, como cantava Michael Jackson em 1991<br />

Se fossem casados em 1991, a ‘topmodel’ Heidi Klum e o cantor Seal teriam sido a dupla perfeita<br />

paraprotagonizarovideoclipedançaraosomdorefrão“Itdon’tmatterifyou’reblackorwhite”,<br />

o hino de Michael Jackson contra a discriminação racial. Ainda longe de se conhecerem,<br />

casaremeteremtrêsfilhos(aúltima,LouSamuel,nasceuhámenosdedoismeses),1991foium<br />

ano importante tanto para Heidi como para Seal. Ela tinha 18 anos e vivia em Bergisch<br />

Gladbach, a cidade alemã onde nasceu, quando uma amiga a convenceu a participar no concurso<br />

“Model 92”. A vitória na Alemanha (entre 25 mil participantes) foi a rampa de lançamento para uma<br />

carreira internacional. Nos anos 90, Klum tornou-se numa das ‘topmodels’ mais bem pagas do mundo. Os<br />

desfiles para a marca de lingerie Victoria’s Secret e as fotografias em fato de banho para a revista “Sports<br />

Illustrated” fazem parte da sua imagem de marca. Também em 1991, o cantor britânico (dez anos mais velho),<br />

filho de nigerianos, neto de brasileiros, criado no Reino Unido, lançou o seu primeiro álbum “Seal”<br />

com que no ano seguinte ganhou o prémio “Best British Álbum” nos Brit Awards. Em 1995 recebeu três<br />

Grammys com a canção “Kiss from a Rose”, da banda sonora do filme “Batman Forever”. Os dois conheceram-se<br />

e apaixonaram-se uma década depois, em 2004, quando Heidi estava grávida da sua primeira filha,<br />

Leni, fruto do casamento com o italiano Flávio Briatore, patrão da Fórmula 1. Antes disso, a modelotambém<br />

já tinha sido casada com o ‘hair stylist’ Ric Pipino entre 1997 e 2002. O casamento com Seal aconteceu em<br />

2005,numapraianoMéxico,ondeosdoisvoltamtodososanospararenovaremosvotos.“Casamostodosos<br />

anos no mesmo lugar, na mesma data”, diz Heidi. “É muito romântico, além de ser uma boa desculpa para<br />

reunir a família e celebrar”. Vivem em Los Angeles e, em comum, Heidi e Seal têm três filhos: Henry, de<br />

quatro anos, Johan, de três, e agora Lou Samuel, com dois meses. Apesar de Helene, de cinco anos, não ser<br />

filha biológica de Seal, Heidi garante que o cantor é o “verdadeiro pai”. Sobre a família, a modelo de 36 anos<br />

diz que é um verdadeiro ‘patchwork’. “Podem dizer que a nossa família é ‘black or white’. A verdade é que<br />

temos todos diferentes tons de pele e amamo-nos muito”. BÁRBARA SILVA<br />

Danny Moloshok/Reuters


FUTEBOL<br />

Marcos Borga / Reuters<br />

O direito do mais fraco<br />

Na 12ª jornada da I Liga, Benfica e Sporting podem ter jogos<br />

bem mais complicados do que parecem perante adversários<br />

cuja sobrevivência depende de cada ponto conquistado<br />

TEXTOS POR JOÃO NUNO COELHO / FOOTBALL IDEAS<br />

Sporting. Como seria de esperar para<br />

um “grande“ que segue na sexta posição<br />

da tabela já no segundo terço<br />

da Liga, cada jogo que se segue é uma “final”.<br />

Os 13 pontos de atraso para o líder Sp.<br />

Braga obrigam a que o Sporting não escorregue<br />

em Setúbal, onde mora o último<br />

classificado. Na cidade do Sado, está quase<br />

tudo em jogo para os leões: as derradeiras<br />

esperanças de lutar pelo título e a superação<br />

da “depressão” que teima em ensombrar<br />

Alvalade.<br />

Benfica. Qualquer ponto perdido na Luz<br />

perante a também aflita Académica, em<br />

vésperas de recepção ao FC Porto, pode significar<br />

o alargamento da vantagem dos<br />

bracarenses e confirmar algum desacelaramento<br />

da “máquina” de Jorge Jesus. O jogo<br />

com a Briosa assume pois enorme importência<br />

com a agravante dos encarnados terem<br />

ainda que recuperar de uma longa viagem<br />

à Bielorrússia<br />

Jogar “em casa”. A tarefa do Sporting até<br />

se afigura mais complicada, já que joga fora<br />

de portas, mas uma tendência recente do<br />

campeonato português diz-nos que para os<br />

“grandes”cadavezémaiscomplicadojogar<br />

na condição de visitado. As equipas que actuam<br />

no campo dos três gigantes parecem<br />

terencontradoafórmulaparalhesdificultar<br />

a vida, diminuindo com rigor os espaços e<br />

pressionando fortemente os adversários<br />

nas zonas cruciais do relvado, principal-<br />

mente no seu último terço defensivo. Conseguem<br />

desta forma limitar os estragos provocadospelosjogadoresmaiscriativosedesequilibradores,<br />

que estão quase sempre do<br />

lado dos clubes “grandes”.<br />

“Estacionar o autocarro”. Há quem chame<br />

depreciativamente a esta estratégia colocar<br />

o autocarro em frente à baliza, mas a<br />

verdade é que a estas equipas mais pequenas<br />

assiste algo que poderíamos denominar<br />

como o “direito do mais fraco”. Foi a partir<br />

desta expressão que, na década de 1930, o<br />

treinador suíço Karl Rappan inventou o famoso<br />

“verrou” (que os italianos traduziriam<br />

anos mais tarde como “catenaccio”, “ferrolho”emportuguês).Sedefrontamosumadversário<br />

que tem a qualidade individual do<br />

seu lado, há que construir um plano estratégico,<br />

assente na organização colectiva e no<br />

denso povoamento da defesa, para impedir<br />

queasuasuperioridadefutebolísticaseconfirme<br />

no resultado final. Até porque o futebol<br />

é, antes de mais, um jogo...de estratégia.<br />

O novo “ferrolho”. Não se pretende afirmar<br />

que no futebol português existem equipas<br />

a jogar exactamente neste sistema ultra-defensivo,<br />

mas antes que cada vez mais<br />

se verifica que o direito a resistir com as armas<br />

de que se dispõe se traduz numa estratégia<br />

bem montada, que impeça, acima de<br />

tudo, o adversário de jogar com liberdade<br />

em zonas críticas. Para tal contribuiu o progressivo<br />

nivelamento da preparação física e<br />

Qualquer ponto<br />

perdido na Luz<br />

perante a também<br />

aflita Académica,<br />

em vésperas de<br />

recepção ao FC<br />

Porto, pode significar<br />

o alargamento<br />

da vantagem<br />

dos bracarenses<br />

e confirmar algum<br />

desacelaramento<br />

da “máquina”<br />

de Jorge Jesus<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 29<br />

JOGO DA JORNADA:<br />

V. SETÚBAL - SPORTING<br />

ESTÁDIO DE ALVALADE,<br />

SEG., 7/12, 20.15.,<br />

SPORTTV1<br />

Rui Patrício<br />

Pedro silva Carriço Polga Grimi<br />

João Moutinho Miguel Veloso<br />

Pereirinha<br />

Izmailov<br />

Helder Postiga<br />

Hélder Barbosa<br />

Liedson<br />

Rúben<br />

Lima<br />

Álvaro Fernandes<br />

Sandro Collin Djikiné<br />

André Pinto Zoro<br />

Quim<br />

Keita<br />

Zarabi<br />

JOGOS DA 12ª JORNADA<br />

DO CAMPEONATO<br />

DATA HORA VISITADO VISITANTE TV<br />

Ontem 20:15 Guimarães FC Porto SPORTTV1<br />

Hoje 17:00 Naval 1º Maio P. Ferreira<br />

Hoje 19:15 Rio Ave Belenenses SPORTTV1<br />

Hoje 21:15 Leixões Sp. Braga SPORTTV1<br />

Domingo 16:00 Marítimo Olhanense<br />

Domingo 20:15 Benfica Académica RTP1<br />

Segunda 20:15 U. Leiria Nacional<br />

Segunda 20:15 V. Setúbal Sporting SPORTTV1<br />

tática das equipas, graças também à crescente<br />

capacidade e formação dos treinadores<br />

dos clubes mais modestos.<br />

A cultura do “ponto”. Tendo ainda em<br />

conta que para os técnicos de futebol (actualmente<br />

todos portugueses nos clubes da I<br />

Liga)omercadodetrabalhoéextremamente<br />

competitivo, provocando uma enorme<br />

precaridade na sua situação profissional,<br />

melhor se compreende que encarem com<br />

dramatismo cada partida. É usual os treinadores<br />

afirmarem quequem quer espectáculo<br />

vai ao circo: no futebol os pontos é que<br />

contam, mesmo que isso represente muitas<br />

vezes uma péssima promoção do futebol<br />

enquanto indústria de entretenimento.<br />

André Villas-Boas. O jovem timoneiro da<br />

Académica já mostrou no Dragão (onde<br />

perdeu pela margem mínima) que sabe<br />

como armar uma estratégia defensiva rigorosa<br />

e eficaz, capaz de bloquear o processo<br />

ofensivo de adversários mais fortes. Na Luz,<br />

o plano deverá ser semelhante.<br />

Manuel Fernandes. Porsuavez,emSetúbal<br />

mora um técnico experiente, tarimbado<br />

nesta luta pelo ponto e um conhecedor<br />

profundo do “seu” Sporting. Durante a<br />

passada semana, o técnico sadino preparou<br />

uma defesa com cinco elementos exactamente<br />

no sentido de impedir que os leões<br />

façam deste jogo a rampa de lançamento<br />

para sairem da crise.


Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 31


32 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

ALDEIA GLOBAL<br />

Um país pode fechar?<br />

Um país pode ir à falência como se fosse uma empresa? Pode, mas não é propriamente<br />

costume. O Dubai é a mais recente dor de cabeça dos investidores internacionais.<br />

A história prova que não será a última.<br />

TEXTO ANTÓNIO FREITAS DE SOUSA<br />

Apalavra esquizofrenia<br />

pode ser a mais acertada<br />

para entender o mapa da<br />

cidade do Dubai: uma<br />

nesga de terra entre o mar<br />

e o deserto, coberta de arranha-céus<br />

a perder de vista como se estivessem<br />

a tentar chegar às nuvens que<br />

ali quase não existem, num desassossego<br />

paisagístico impossível de compreender.<br />

Vista mais de perto, em imagens<br />

reais, a cidade do Dubai parece um cenário<br />

onde ninguém vive. E não está muito<br />

longe disso: é mesmo um cenário, criado<br />

para albergar as bizarrias imobiliárias de<br />

quem tem dinheiro para as pagar. Ou tinha.<br />

Ou tinha quem tivesse por ele,<br />

como se veio a descobrir há pouco mais<br />

de uma semana – como se ainda nin-<br />

guém tivesse percebido, neste mundo a<br />

ressacar da crise do ‘subprime’ norte-<br />

-americano, a bomba de tijolos que ali<br />

foi construída para desespero da memória<br />

dos beduínos e para felicidade dos<br />

novos-ricos sem-fronteiras.<br />

O caso mais sério de descontrolo-<br />

-motor dos neurónios de quem pensou<br />

que o Dubai devia ser aquilo em que se<br />

transformou, é a ilha em forma de palmeira<br />

que foi plantada à frente da cidade,<br />

em pleno mar, como se de repente os<br />

ricos de todas as latitudes tivessem sido<br />

atingidos por uma doença infecto-contagiosa<br />

só curável através da ingestão de<br />

água do Golfo Pérsico e quisessem todos<br />

terumacasaemcimadofrascodecomprimidos.<br />

As casas construídas naquela<br />

espécie de folhas da tal palmeira demo-<br />

O Dubai foi pensado<br />

para ser um mundo<br />

muito exclusivo de<br />

serviços. Eéisso<br />

que o emirado é: não<br />

produz quase nada<br />

que dure mais que<br />

um par de horas<br />

raram em média três dias a serem colocadas<br />

no mercado. Um mercado que, segundo<br />

relatos oriundos do Dubai, olha como<br />

despiciendo qualquer negócio imobiliário<br />

onde os ganhos fiquem abaixo dos 30%.<br />

UnsmetrosmaisaEste,nosentidodo<br />

estreito de Ormuz – que chegou a ser uma<br />

praça-forte nacional de onde os portugueses<br />

espalhavam a boa-nova entre as<br />

tribos de infiéis à espadeirada – fica o Burj<br />

Al Arab, um dos hotéis mais luxuosos do<br />

mundo (onde qualquer jogador de futebol<br />

ou estrela das televisões sonha passar a<br />

lua-de-mel), também ele construído<br />

numa plataforma artificial sobre o mar –<br />

parece que é uma espécie de desígnio nacional<br />

ou marca-de-água arquitectónica<br />

– e que pretende ser um dos locais mais<br />

recomendáveis do mundo para a conclu-


são de negócios inter-planetários. Negócios<br />

e jogos de ténis, pelo menos a crer<br />

nas imagens de um encontro entre o ex-<br />

-toxicodependente André Agassieosuíço<br />

Roger Federer, mantido no heliporto<br />

do hotel, a muitos metros de altura e sem<br />

o contributo dos tradicionais apanha-<br />

-bolas, todos eles possivelmente mortos<br />

logo no final do primeiro ‘set’. Na plateia<br />

(isto é, na praia que está por detrás desta<br />

tralha toda) o cenário mantém-se: arranha-céus<br />

improváveis e super-espelhados<br />

– com o devido destaque para o Burj<br />

Dubai, o edifício mais alto do mundo,<br />

com 818 metros mas sem campo de ténis<br />

nas nuvens – ‘resorts’ de luxo a fazerem<br />

lembrar estâncias turísticas dos Alpes<br />

suíços, ruas para a classe média/alta copiadas<br />

de Hollywood e por aí.<br />

A cidade do Dubai<br />

transformou-se<br />

numa atracção<br />

turística que<br />

nenhum outro país<br />

da região pode<br />

igualar; e numa<br />

Meca (a verdadeira<br />

não fica muito<br />

longe dali) do<br />

comércio das<br />

grandes marcas<br />

internacionais<br />

Mohammed bin Rashid Al Maktoum,<br />

cuja família controla o Dubai desde 1833,<br />

parece ter sido o mentor, pensador e propulsor<br />

disto tudo. Como o petróleo não<br />

abunda por ali, Mohammed decidiu que o<br />

seu emirado devia atirar-se para a frente<br />

e apostar noutra coisa qualquer. Apostou<br />

nos serviços: nos de luxo, nos do turismo,<br />

nos que devem ser colocados à disposição<br />

dos homens que concluem negócios inter-planetários,<br />

nos que precisam as empresas<br />

que lá instalaram centros de qualquer<br />

coisa e nos que normalmente nascem<br />

a jusante destes. Conclusão: o emirado<br />

do Dubai não produz, ou quase não<br />

produz, nada que dure mais que umas<br />

horas. A estratégia de Mohammed foi um<br />

sucesso: a cidade do Dubai transformou-<br />

-se num dos maiores centros de negócios<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 33<br />

Charles Crowell/Bloomberg<br />

do mundo – seguramente um dos dois<br />

maiores da região, juntamente com Abu<br />

Dhabi; numa atracção turística que nenhum<br />

outro país da região pode igualar; e<br />

numa Meca (a verdadeira não fica muito<br />

longe dali) do comércio das grandes marcas<br />

internacionais. Só não se transformou<br />

num potentado da cultura mundial,<br />

o que era também um dos desígnios de<br />

Mohammed, dado que ninguém conseguiu<br />

ainda provar que muitos metros cúbicos<br />

de tijolos tenham uma correspondência<br />

directo e biunívoca com qualidade<br />

do conhecimento.<br />

EMPRÉSTIMOS INTERNACIONAIS<br />

Como não podia deixar de ser, tudo aquilo<br />

foi construído à custa de vultuosos empréstimos<br />

internacionais, uma vez que a


34 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

ALDEIA GLOBAL<br />

partir do início do milénio abundava dinheiro<br />

em fundos, bancos, caixas económicas<br />

e instituições afins. O problema não<br />

era falta de liquidez, mas exactamente o<br />

contrário: o excesso de dinheiro nos alforges<br />

das instituições – como afirmava<br />

qualquer CEO de qualquer ‘private-<br />

-equity’ de qualquer praça financeira ao<br />

longo de uma série de anos. Por isso, parte<br />

muito substancial desse excesso planetário<br />

foi parar às margens do Golfo Pérsico e<br />

transformado em imobiliário.<br />

O rebentamento da bolha imobiliária<br />

norte-americana, a que se seguiu a explosão<br />

de muitas outras bolhas sucedâneas,<br />

fazia temer o pior. Paradoxalmente, o pior<br />

não aconteceu de imediato – o que fez com<br />

que o mundo se convencesse que o imobiliário<br />

de super-luxo instalado no Dubai<br />

era seguro como um granito antigo. Mas<br />

afinal não era: o grupo Dubai World, que<br />

vive sob o controlo do governo, pediu um<br />

adiamento até, na hipótese menos sombria,<br />

Maio de 2010 do pagamento das<br />

amortizações das suas emissões obrigacionistas<br />

de 40 mil milhões de euros. Ora,<br />

40 mil milhões de euros é um ror de dinheiro:<br />

é quase 25% do PIB português e<br />

dava para comprar de uma assentada um<br />

monte de países por esse planeta fora.<br />

Pior: os 40 mil milhões do empréstimo<br />

obrigacionista serviam para alavancar um<br />

endividamento total da ordem dos 55 mil<br />

milhões de euros.<br />

O mundo ficou de boca à banda. E a<br />

pergunta que mais se ouvia nos mercados<br />

internacionais era um disparate do género:<br />

“Mas então as dívidas do Dubai não estão<br />

cobertas pela produção de petróleo de<br />

Abu Dhabi?” Pois não estão, não senhor.<br />

Segundo relatos posteriores à eclosão<br />

do princípio da catástrofe no Dubai, a coisa<br />

estava à vista de toda a gente que quisesse<br />

ver: os super-ricos que compraram<br />

casas no emirado – e que devem ter pago<br />

uma média de cinco mil euros por tijolo,<br />

fora as tintas – estavam desde 2008 em<br />

debandada geral, devido à terrível tendência<br />

democrática da crise do ‘subprime’.<br />

Segundo esses relatos, o aeroporto<br />

da cidade faz agora lembrar um parque de<br />

estacionamento para onde são rebocados<br />

automóveis abandonados: carros de luxo<br />

são deixados em qualquer esquina porque<br />

não há ninguém que os queira comprar e<br />

já só há tempo para apanhar os aviões de<br />

volta à vidinha de todos os dias nos países<br />

de origem. Paralelamente, os escritórios<br />

começam a ser abandonados e a transformar<br />

a cidade numa espécie de enorme cadáver<br />

defeituoso e sem luz nocturna. Em<br />

cascata, as imobiliárias que vendiam as<br />

casas de sonho que preenchiam os sonhos<br />

do novo-riquismo endinheirado deixaram<br />

de ter listas de espera de futuros<br />

compradores e passaram a não conseguir<br />

colocá-las no mercado. Os preços por<br />

metro quadrado vieram por ali abaixo. Os<br />

negócios com ganhos de 30% passaram a<br />

ser uma miragem longínqua. E o Dubai<br />

está prestes a transformar-se numa história<br />

mal contada.<br />

MAS AFINAL, UM PAÍS PODE FECHAR?<br />

Neste quadro, a pergunta é: pode uma história<br />

mal contada acabar mal? Ou, por outras<br />

palavras: o Dubai vai fechar? A resposta<br />

é ‘não’. Se os países com uma dívida<br />

externa superior ao PIB tivessem fechado<br />

para obras, há muito que não existia mundo<br />

– no que se inclui o nosso país, mas<br />

principalmente os Estados Unidos da<br />

América que aparentam continuar a ser o<br />

motor do desenvolvimento mundial.<br />

No caso português – que poderá ter uma<br />

dívida externa total acima dos 300 mil milhões<br />

de euros (a soma entre a dívida líqui-<br />

daeadívida bancária) – o problema coloca-se<br />

ainda menos: levados ao colo pelo<br />

simpático grupo de países que, fazendo<br />

parte da União Europeia, compõem o ‘port<br />

folio’ da Zona Euro, Portugal está à vontade:<br />

os portugueses podem continuar a<br />

gastar dinheiro a rodos em produtos<br />

oriundos do estrangeiro e os governos podem<br />

continuar a lançar obras públicas<br />

com incorporações nacionais ridículas,<br />

que nada de substancialmente mau nos<br />

vai acontecer. A não ser, claro está, no que<br />

se refere ao nível de vida dos nossos filhos;<br />

mas isso, aparentemente, é um problema<br />

que eles hão-de acabar por saber resolver<br />

(emigrando todos, por exemplo).<br />

Entretanto, as ondas de choque provocadas<br />

no Dubai vão chegando a Portugal:<br />

com os investidores internacionais em situação<br />

de verdadeiro ‘stress’ e a procurarem<br />

a todo o transe entrincheirarem-se –<br />

um pouco tardiamente – em investimentos<br />

mais seguros, as emissões de dívida do<br />

Estado português e das empresas nacionais<br />

têm que suportar taxas de juro a subir,<br />

como tem vindo a suceder de há uma semana<br />

a esta parte, e em favor de países que<br />

apresentam risco mais baixo e contas mais<br />

sólidas, como é o caso da Alemanha.<br />

A história está, aliás, cheia de exemplos<br />

de países ou regiões que entraram em colapso<br />

e recuperaram. O último exemplo foi<br />

o da Islândia, a primeira vítima mortal do<br />

‘subprime’ que, por um endividamento<br />

excessivo à banca e pela acumulação de<br />

crédito mal parado de proporções gigantescas<br />

– que levaram o terceiro maior banco<br />

do país, o Glitnir, a ser nacionalizado<br />

depois de ter declarado falência técnica –<br />

foi à ruína. E de nada valeu a garantia estatal<br />

sobre os depósitos: instalou-se o pânico<br />

junto de investidores e depositantes, e a<br />

corrida aos depósitos fez o resto.<br />

Charles Crowell/Bloomberg<br />

O rebentamento<br />

da bolha imobiliária<br />

americana, a que<br />

se seguiu a explosão<br />

de muitas outras<br />

bolhas sucedâneas,<br />

fazia temer o pior.<br />

Paradoxalmente,<br />

o pior não<br />

aconteceu de<br />

imediato – o que fez<br />

com que o mundo<br />

se convencesse que<br />

o imobiliário de<br />

super-luxo instalado<br />

no Dubai era seguro<br />

como um granito<br />

antigo<br />

A Argentina também sofreu as agruras<br />

da insolvência geral do Estado quando<br />

entrou em total colapso por causa da<br />

sua dívida externa. O país, instalado no<br />

mais abandonado dos continentes, demorou<br />

muito tempo a sair da crise, não<br />

sendo ela alheia ao facto de, ainda há<br />

uma década, <strong>56</strong>% da sua população estar<br />

no limiar da pobreza e o desemprego<br />

estar acima dos 30%.<br />

Um pouco mais acima, em Cuba, a bancarrota<br />

deu-se no início dos anos de 1960,<br />

quando Fidel Castro e Ernesto Guevara expulsaram<br />

os principais financiadores da<br />

ilha – especuladores a precisar de lavar dinheiro,<br />

traficantes de droga e jogadores de<br />

casino, entre outros alegres foliões – e<br />

aindanãoeraclaroqueohorrordoOcidente<br />

perante a revolução armada acabaria<br />

que atirar os cubanos para os braços<br />

tentaculares do antigo bloco comunista.<br />

A própria Rússia no momento em que se<br />

transformava em União Soviética (1917)<br />

estava em falência técnica e o governo liderado<br />

por Lenine teve que se valer da<br />

produção de rublos que não valiam sequer<br />

o custo do papel em que estavam impressos<br />

para pagar as importações e custear as<br />

várias frentes de batalha interna e externa<br />

em que estava envolvido.<br />

Até a Espanha, que digeriu tão mal os<br />

ventos do ‘suprime’, não escapou em<br />

tempos aos apertos da falência: em 1588,<br />

Filipe II organizou aquilo a que chamou a<br />

Invencível Armada (onde também havia<br />

barcos e marinheiros portugueses, uma<br />

vez que por essa altura e até 1640 a Península<br />

Ibérica estava livre de fronteiras) para<br />

acabar de vez com a guerra contra Inglaterra<br />

e apoderar-se do domínio dos mares;<br />

esta estratégia militar anterior mas concomitante<br />

à estratégia comercial que se<br />

lhe seguiria correu mal: a armada era tão<br />

invencível que foi toda ao fundo em menos<br />

de um fósforo, e com ela os sonhos de<br />

grandeza planetária do monarca. Mas no<br />

fundo dos mares não ficavam apenas os<br />

navios e os seus marinheiros: perdia-se<br />

também nas ondas um instrumento de financiamento<br />

do país, que ainda por cima<br />

tinha custado uma fortuna. Os anos seguintes<br />

foram de desesperado aperto.<br />

Mas muito mais que qualquer problema<br />

económico, são as questões políticas que<br />

podem acabar com a existência de um<br />

país. Dois exemplos muito próximos provam<br />

isso mesmo. A Jugoslávia do Marechal<br />

Tito, uma das construções mais impressionantes<br />

do pós-II Guerra Mundial,<br />

desmanchou-se como uma construção<br />

sem alicerces em meia dúzia de meses,<br />

como se anos de cimento atirado para<br />

cima de um problema não tivessem produzido<br />

qualquer efeito.<br />

Mas o caso mais extraordinário - e com<br />

certeza o mais dramático para o seu povo<br />

- é o da Polónia, um país que já deixou de<br />

existirtantasvezes,apesardeverdadeiramente<br />

isso nunca ter chegado a acontecer,<br />

que a sua história parece mais uma<br />

sucessão de reinícios que uma linha contínua<br />

inteligível.<br />

Com tal envolvimento histórico e com<br />

a argamassa da globalização, é fortemente<br />

de supor que o Dubai não vai fechar.<br />

Mas o que é mais que certo é que o seu<br />

prestígio internacional ficou fortemente<br />

abalado e nenhum investidor minimamente<br />

atento vai voltar nos próximos<br />

anos a arriscar a sua liquidez num mercado<br />

que deu mostras de tão fraca sustentabilidade.<br />

A não ser que Mohammed bin<br />

Rashid Al Maktoum encontre uma fonte<br />

segura de petróleo. E isso pode bem suceder<br />

mesmo que essa fonte de petróleo não<br />

seja mais que uma bifurcação de um<br />

oleoduto de Abu Dhabi.


PUB


36 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

ALMANAQUE<br />

Referendos<br />

para que vos queremos<br />

Há uma semana, a Suíça proibiu em referendo a construção<br />

de minaretes nas mesquitas. Há quem diga que foi o medo a votar.<br />

Por cá, recolhem-se assinaturas para levar o casamento gay a votos<br />

TEXTO ÂNGELA MARQUES / ILUSTRAÇÃO GONÇALO VIANA<br />

Se fosse só uma questão de design<br />

e arquitectura, o referendo<br />

que proibiu a construção de<br />

minaretes na Suíça faria facilmente<br />

escola em Portugal:<br />

com a tradição que o país tem<br />

de construir torres e torreões nos jardins de<br />

casa, muito haveria a discutir. Mas não – o<br />

que os suíços votaram não foi o desenho das<br />

torres das mesquitas, mas o seu significado.<br />

E se é verdade que Portugal tem tradição de<br />

arriscar na hora de desenhar as suas vivendas,temmenostradiçãonahoradereferendar.<br />

Esta semana, no entanto, a Plataforma<br />

CidadaniaeCasamentofoiparaasportasdas<br />

igrejas, associações e até estádios de futebol<br />

recolher assinaturas para levar o casamento<br />

gay a votos. Terá sido contágio?<br />

Os títulos dos jornais, como o algodão,<br />

não enganam. Logo após o anúncio dos resultados<br />

do referendo suíço (com 57,5% dos<br />

eleitores, que representam 1,53 milhões de<br />

pessoas, a aprovarem a proibição da construção<br />

de minaretes no país), políticos e<br />

analistas leram-lhe a sentença: este foi “o<br />

voto do medo”. Na hora das reacções, a ministra<br />

da Justiça suíça terá sido a mais branda,<br />

afirmando que o resultado reflectia um<br />

certo receio em relação ao fundamentalismo<br />

islâmico. “Essas preocupações têm de<br />

ser levadas em conta. O governo considera,<br />

porém,quebaniraconstruçãodenovosminaretes<br />

não é um meio fiável para contrariar<br />

oextremismo”,dissearesponsávelàBBC.O<br />

governo considera, mas bane na mesma.<br />

A notícia correu mundo e até o Vaticano<br />

lamentou o “forte golpe à liberdade religiosa”<br />

dado pelos suíços. Que foram também<br />

criticados pela Amnistia Internacional suíça:<br />

“A proibição total de construir minaretes<br />

representa uma violação da liberdade de<br />

religião, incompatível com as convenções<br />

assinadas pelo país.” Ainda assim, o governo<br />

suíço não se comoveu. De resto, mandou<br />

dizer em comunicado que “respeita a decisão<br />

[dos seus cidadãos] e, em consequência<br />

disso, a construção de minaretes deixa de<br />

ser permitida na Suíça”. Nada de estranho,<br />

contudo, uma vez que este referendo foi<br />

promovido pelo Partido Popular Suíço, da<br />

direita conservadora, que domina o parlamento.Eque,segundoosecretário-geralda<br />

Amnistia Internacional, “conseguiu explorar<br />

os medos em relação ao Islão e trazer à<br />

superfície sentimentos xenófobos”.<br />

Escandalizado, o ministro dos Negócios<br />

Estrangeiros francês, Bernard Kouchner,<br />

descreveu o resultado do referendo como<br />

uma “expressão de intolerância”. A presidência<br />

sueca da União Europeia foi mais<br />

longe, considerando a própria realização da<br />

consulta popular “surpreendente”. A ministra<br />

da Integração, Nyambo Sabumi, foi<br />

quem chamou os nomes às coisas: “Os suí-<br />

Por cá,<br />

só a regionalização<br />

e a interrupção<br />

voluntária<br />

da gravidez tiveram<br />

até hoje honras<br />

de referendo.<br />

Mas esta semana<br />

intensificou-se<br />

a campanha para<br />

levar o casamento<br />

civil entre pessoas<br />

do mesma sexo<br />

a consulta popular.<br />

Será que a vontade<br />

de fazer referendos<br />

se pega?<br />

ços têm um excelente sistema de consulta<br />

popular, mas às vezes ele pode ser mal usado,<br />

como aconteceu neste caso.”<br />

CONSULTA (POUCO) POPULAR<br />

Como diz o programa, nós por cá não gostamos<br />

de referendos. “Não se pode comparar<br />

a tradição da Suíçaeanossaemtermos<br />

de referendos”, diz o politólogo João<br />

Cardoso Rosas. Na história da democracia<br />

portuguesa contam-se apenas “o da regionalização<br />

e o da interrupção voluntária da<br />

gravidez”, lembra.<br />

Para Cardoso Rosas, não há grande mistério<br />

aí. A verdade, diz, é que “normalmente<br />

os referendos são algo instrumentalizados.<br />

O que se está a votar ali não é o<br />

que lá está escrito, mas um protesto”. E há<br />

mais: “Também há um certo desconhecimento<br />

dos temas. Se em Portugal se tivesse<br />

feito um referendo sobre a Constituição<br />

Europeia ou sobre o Tratado de Lisboa as<br />

pessoas iriam votar sem saber no que estavam<br />

a votar. E haveria tendência para votar<br />

em termos de terrenos políticos.” Por<br />

estas e por outras, “o referendo acaba por<br />

perder o seu interesse”, diz João Cardoso<br />

Rosas. Que sublinha ainda, para concluir o<br />

seu raciocínio, que daí resulta um “elevadíssimo<br />

grau de abstenção”.<br />

Se “as experiências feitas no passado não<br />

foram satisfatórias”, não há razão para pensar<br />

que o instituto do referendo pode ganhar<br />

pesonademocraciaportuguesaàcustadeste<br />

episódio na Suíça. Não? A questão não é disparatada:<br />

a Comissão Europeia foi a primeira<br />

a levantar essa hipótese. Para logo depois<br />

lembrar aos Estados-membros que se possamsentirtentadosaseguirospassosdaSuíçaearealizar<br />

referendos do mesmo tipo que<br />

é sempre necessário “respeitar os direitos<br />

fundamentaiscomoaliberdadedereligião”.<br />

Claro que a tentação não demorou a manifestar-se.<br />

Na Holanda, um deputado de<br />

extrema-direita apelou à realização de um<br />

referendo sobre os mesmos minaretes no<br />

seu país. Em Itália e em França também<br />

houve quem se congratulasse com o resultado.“Fazendodeadvogadododiabo”,o<br />

politólogo André Freire afirma que “há que<br />

perceber que não é por causa dos minaretes<br />

que se faz este referendo. Há de facto uma<br />

islamização da Europa e isso deve ser encaradosemcairmoscompletamentenopoliticamente<br />

correcto. Não vamos dizer que a<br />

presença islâmica na Europa é idílica. Por<br />

outro lado, sabemos que também não são os<br />

minaretes que vão resolver alguma coisa.”<br />

E o referendo, resolve? “A democracia não<br />

são só eleições, deve haver um instrumento<br />

de ‘check and balance’. E a Suíça tem isso:<br />

uma democracia assente na vontade popular.<br />

Há essa tradição e essas são as regras.”<br />

Para Jaime Nogueira Pinto, “os suíços são


Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 37<br />

uma nação muito especial, que deve a sua<br />

independência e neutralidade a ser um dos<br />

países mais militarizados do mundo”. Também<br />

por isso, “levam a sério as suas instituições,<br />

costumes e leis. Mantiveram formas<br />

dedemocraciasemi-directaatémuitotarde<br />

e o referendo é um instrumento de consulta<br />

popular a que recorrem sem grandes dramas.”<br />

E nós, portugueses? “Não temos essa<br />

tradição. Talvez porque as minorias político-culturais<br />

que arbitram os destinos dos<br />

outros receiam a reacção popular à imposição<br />

do politica ou culturalmente correcto.”<br />

CASAMENTO GAY, SIM OU NÃO?<br />

O PS já disse mil vezes que não. Não haverá<br />

referendo ao casamento civil entre pessoas<br />

do mesmo sexo. Mas o CDS-PP, um<br />

dos maiores defensores da ideia, parece<br />

não ouvir. E insiste: “O tema ainda não foi<br />

suficientemente debatido.” Esta semana,<br />

em declarações ao Jornal de Notícias, José<br />

Ribeiro e Castro, um dos mandatários da<br />

Plataforma Cidadania e Casamento, afirmou<br />

que este movimento precisa de 75 mil<br />

assinaturas para que se realize o referendo.<br />

“Estamos a recolher assinaturas em todos<br />

os locais e através de todos os meios que temos<br />

ao nosso dispor”, afirmou. Segundo o<br />

jornal, em centenas de paróquias portuguesas<br />

os párocos estão a convidar, no fim<br />

da celebração da missa, os católicos a passar<br />

pela sacristia para assinar a Iniciativa<br />

Popular de Referendo.<br />

Valerá a pena? “Um referendo ao casamento<br />

civil entre pessoas do mesmo sexo é<br />

viável, porque os referendos são sempre<br />

viáveis. Mas esse referendo em concreto<br />

acho uma aberração”, diz Pedro Adão e<br />

Silva. O politólogo confirma: “Não temos a<br />

tradição de referendar e ainda bem. Habitualmente<br />

os referendos geram coligações<br />

negativas. E muitas vezes resultam em<br />

motivações contra. Além de que sabemos<br />

que não são particularmente mobilizadores.<br />

Aliás, mobilizam quem está muito interessado,<br />

ou seja, quem está nos extremos.<br />

E enviesam.”<br />

Nos estudos de opinião, diz, “os portugueses<br />

dizem sempre que querem referendos,masdepoisnãovotam”.Eisto“acontece<br />

sobretudo nos referendos sobre costumes,<br />

sobre questões sociais”, como é o caso<br />

do referendo ao casamento gay. Mas há ainda<br />

outra questão, diz André Freire. “A protecção<br />

de direitos de grupos minoritários<br />

não deve ser submetida a sufrágio” e “neste<br />

caso em particular, os partidos à esquerda já<br />

apresentaram essa medida nos seus programas,<br />

portanto, o parlamento é soberano<br />

para legislar”. A verificar-se esta lógica,<br />

Portugal não terá o seu referendo tão cedo.<br />

Minaretes até pode ter, mas referendos?<br />

Não conte com eles.


38 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

MADE IN<br />

Madison...<br />

Partiu para os Estados Unidos por amor, com a rádio e a<br />

televisão no baú das recordações. É mixologista (inventa<br />

cocktails) e treina para participar numa prova de Ironman<br />

Corre-lhe nas veias “o bicho da antena”. Após licenciar-se em Ciências da Comunicação<br />

(área de Televisão e Rádio), na Universidade Autónoma de Lisboa, estreou-se em 1995 na<br />

Rádio Nova Antena, passou pela Renascença, deu voz na Rádio Expo 98’ e seguiu para a Antena<br />

1 e Antena 3. Em simultâneo, participou no lançamento de dois canais de televisão:<br />

CNL - Canal de Noticias de Lisboa (onde apresentava a meteorologia e o trânsito), depois na<br />

SIC Notícias, onde participou no “Caras Notícias”, e finalmente na CarnaSic como apresentador<br />

do “Músicas do Mundo”. “Em 2005 a minha carreira entrava oficialmente em banho-maria”. A<br />

culpa é de Renee. Ou melhor, no amor que arrebatou Alexandre por esta americana. Conheceram-se no<br />

México, em 2002. Em Setembro do ano seguinte casaram em Portugal. Dois anos depois, “por motivos familiares”<br />

partiu para a terra da sua mais-que-tudo, para o Estado de Wisconsin, cidade de Madison (duas<br />

horas a norte de Chicago). “Mudar de continente tem o seu custo, emocional e financeiro. A família e os<br />

amigos ficam para trás a carreira fica em ‘stand-by’ e as despesas mensais têm de ser pagas”. Como? Fazendo<br />

um pouco de tudo. Foi vendedor, actor em curtas-metragens, modelo, treinador de futebol e bartender.<br />

E é no Great Dane Pub que tem mostrado os seus dotes de mixologista (criador de cocktails), depois<br />

do curso na Bartender Academy. Nesta cidade universitária – considerada uma das dez melhores dos<br />

EUA - “com uma mentalidade e uma postura muito progressista”, as ofertas<br />

recreativas, gastronómicas e culturais são “fantásticas”. Perfeito, perfeito era<br />

ter o mar por perto: “A praia está a duas horas e meia de avião”. Por aqui não<br />

abundam conterrâneos. “Devem contar-se pelos dedos de uma mão”. Para<br />

além de BTT (bicicleta de todo-o-terreno), faz caminhadas, tem aulas de vela,<br />

pratica ski e, agora, treina para correr maratonas. Já participou numa e tem<br />

outras nos planos: uma em Madison, outra em Chicago. Objectivo é claro:<br />

“Entrar num ‘Ironman’” (quatro quilómetros a nadar, 180 a pedalar e 42 a correr).<br />

Nascido há 37 anos em Paris, acredita que o “bug” de viajar” está no seu<br />

código genético. “Adoro partir e com alguma facilidade me entranho no novo<br />

tecido social que me rodeia”. Em breve está previsto o regresso a Portugal e<br />

“quem sabe, voltar à rádioeàtelevisão”. CRISTINA S. BORGES<br />

...de Filipe Moreira


O MEU MUNDO<br />

Nuno Artur Silva<br />

Novas sobre<br />

o achamento<br />

do Brasil<br />

“Primeiro encontramos, depois procuramos”<br />

dizia Picasso, pintor espanhol e do mundo. Nós,<br />

portugueses, primeiro encontrámos o Brasil.<br />

Falta agora, mais de quinhentos anos depois,<br />

procurá-lo.<br />

O começo não podia ter sido mais auspicioso,<br />

segundo a narrativa que dele fez Pêro Vaz de<br />

Caminha na carta em que escreveu a El Rei D.<br />

Manuel “a nova do achamento desta vossa terra<br />

nova”. E a terra nova que achávamos era, para<br />

além da terra real primeiro intitulada de Vera<br />

Cruz, a nova Língua Portuguesa, pátria que<br />

Pessoa haveria de proclamar séculos depois. E<br />

Caetano de cantar, roçando a sua língua na<br />

língua de Luís de Camões. E perguntando: “o<br />

que quer, o que pode esta língua?”, e<br />

respondendo “Livros, discos, vídeos à mancheia<br />

/ E deixa que digam, que pensem, que falem”.<br />

Faz 75 anos que Pessoa escreveu a “Mensagem”,<br />

o seu único livro de poemas em português que<br />

foi publicado antes da sua morte e que agora a<br />

Guimarães edita em cópia do dactiloscrito<br />

ori<strong>gina</strong>l. Em vez dos poemas com nomes de reis<br />

e heróis, hiperbolizados e ultra-citados, escolho<br />

uma passagem do lado B do livro, do poema<br />

Horizonte, que fala da terra a abrir-se em sons e<br />

cores “E, no desembarcar, há aves, flores, /<br />

Onde era só, de longe a abstracta linha”.<br />

Para além do épico d’”Os Lusíadas” e do pícaro<br />

da “Peregrinação” há na pátria marítima da<br />

Língua Portuguesa navegações e derivas que só a<br />

poesia alcança. “Outros dirão senhor as<br />

singraduras / Eu vos direi a praia onde luzia / A<br />

primitiva manhã da criação”, escrevia Sophia; e<br />

de novo e sempre Sophia: “Vi as águas os cabos<br />

vi as ilhas / E o longo baloiçar dos coqueirais<br />

(...) As ordens que levava não cumpri / E assim<br />

contando tudo quanto vi / Não sei se tudo errei<br />

ou descobri”.<br />

Ou Al Berto no conjunto de poemas Salsugem<br />

escrevendo do marinheiro que “... ficava a<br />

bordo encostado às amuradas horas a fio (...)<br />

com “a vontade sempre urgente de partir” ou<br />

das mulheres que ficavam “à beira mar<br />

debruçadas para a luz caiada / remendando o<br />

pano das velas espiando o mar / e a longitude do<br />

amor embarcado...”, (...) acreditando que<br />

algum homem ao passar se espantasse com a<br />

minha solidão.../ (anos mais tarde, recordo-me<br />

agora, cresceu-me uma pérola no coração, mas<br />

estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)”<br />

Só na poesia nos encontramos, no esplendor da<br />

Língua que é a Literatura, nossa única pátria.<br />

“Falta cumprir-se Portugal” dizia Pessoa na<br />

“Mensagem”. Esse Quinto Império mítico é o do<br />

sonho e da música da Literatura em Língua<br />

Portuguesa, hoje disseminada por todo o mundo<br />

em “livros, discos, vídeos à mancheia”. O futuro<br />

de Portugal é a mistura, a mestiçagem e a<br />

vadiagem da língua portuguesa pelo mundo. O<br />

futuro de Portugal é o Brasil.<br />

O acordo ortográfico é útil e inútil porque<br />

inevitável. Se não formos com o Brasil para o<br />

mundo ficaremos mirandeses e o nosso<br />

português ficará o mirandês do português.<br />

Se há um desígnio para a CPLP é a criação de<br />

uma verdadeira comunidade cultural. A<br />

revolução da internet definindo um novo<br />

território imaterial traz consigo a oportunidade<br />

para a criação dessa comunidade.<br />

É tempo de procurar o Brasil. É tempo do Brasil<br />

nos descobrir.<br />

Tyler Brûlé<br />

Um canadiano<br />

em Paris<br />

Estou a escrever esta coluna num comboio de alta-<br />

-velocidade entre Paris e Lausanne e, nem de<br />

propósito, sinto cada minuto até ao Natal a correr<br />

tão depressa como estas carruagens.<br />

Não sei como está a vossa agenda, mas o meu<br />

assistente Alex preencheu a minha para as<br />

próximas semanas com tal precisão que não há<br />

espaço para atrasos em Milão em virtude do<br />

nevoeiro, para esperar por passageiros atrasados<br />

em Londres ou para ficar mais uns minutos na<br />

cama. Durante esta semana, mas precisamente na<br />

segunda-feira, gravei uma série radiofónica sobre<br />

o Natal (daqui a uma semana pode aceder a esta<br />

mesma série no iTunes), na terça-feira fui a uma<br />

festa em Milão, na quarta-feira voei para Tóquio,<br />

tive reuniões em Nagoya na sexta-feira, fui à festa<br />

de Natal do pessoal da “Monocle Tóquio” no<br />

sábado, a Quioto no Domingo e nesse mesmo dia<br />

ainda tive outra festa em Tóquio. Na segunda-feira<br />

voei para Madrid e na terça apanhei um avião de<br />

manhã cedo para Londres.<br />

Falta menos de um mês para o Natal, com todas as<br />

delícias, festas e desgaste que acompanham esta<br />

época festiva. Se for super organizado,<br />

provavelmente não está muito preocupado, já que<br />

há meses vem comprando presentes para os seus<br />

entes queridos e colegas e só tem agora que<br />

embrulhá-los e encaminhá-los para as respectivas<br />

árvores de Natal. Há duas semanas atrás, quando<br />

estava eu a coordenar todos os meus presentes<br />

com os meus colegas Pam e Ariel numa verdadeira<br />

sessão intensiva de selecção e etiquetagem que<br />

demorou mais de duas horas na minha loja favorita<br />

quando tive a feliz ideia de esperar para fazer a<br />

maior parte das compras de Natal quando tivesse<br />

tempo na minha escala em Marunouchi e Ginza.<br />

Mas um furo inesperado na minha agenda na<br />

segunda-feira em Paris deu-me a possibilidade de<br />

gozar algumas horas livres entre reuniões e fazer<br />

algumas compras.<br />

Os franceses podem não ser bons em muitas coisas<br />

(o café é um conceito que, pura e simplesmente,<br />

não compreendam, algo que os bons genes<br />

italianos de Carla Bruni talvez ajudem a resolver)<br />

mas fazem um trabalho muito bom quando se trata<br />

de gastar o dinheiro dos contribuintes em<br />

iluminações de Natal. Enquanto em Londres as<br />

luzes desta quadra estão demasiado associadas (ler<br />

financiadas) a Hollywood e são declaradamente<br />

comerciais, já na Place Vendôme e nos Champs-<br />

-Elysées a iluminação pauta-se pela elegância e os<br />

átrios dos hotéis estão muito bem decorados com<br />

velas cintilantes e no ar sente-se o cheiro de doces<br />

fragrâncias. Não é preciso muito para entrarmos<br />

nesse frenesim de compras. Quando dei conta<br />

tinha já comprado os presentes para um quarto das<br />

pessoas da minha lista. Se se começar a sentir<br />

intimidado com a dimensão da sua lista de<br />

compras de Natal e se tiver um dia livre, então um<br />

giro por Paris pode revelar-se bastante frutífero.<br />

Em seguida apresento algumas das lojas<br />

recomendadas onde pode encontrar presentes<br />

para todos.<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 39<br />

Kitsuné Maison. Metade casa de moda, metade<br />

editora, a Kitsuné tem uma pequena colecção<br />

muito chique de vestuário e bons acessórios para<br />

homem e mulher. Aí pode encontrar uma linda<br />

mala a tiracolo para o seu irmão, um casaco com<br />

muito bom corte para o seu assistente, velas<br />

aromáticas de sésamo para os seus vizinhos<br />

encantadores e gillettes de caxemira.<br />

Sadaharu Aoki. Considerada por muito a rainha<br />

dos macarons, as pâtisseries da Aoki têm umas<br />

embalagens muito elegantes e combinações de<br />

sabores exóticos. A sua avó vai adorar e é uma boa<br />

opção para quem gosta de encher as meias<br />

penduradas na chaminé.<br />

APC. Com as suas peças simples de ganga,<br />

camisolas básicas e uma oferta interessante em<br />

matéria de gangas é difícil sair da APC de mãos a<br />

abanar. O visual aqui proposto é intemporal e é<br />

uma boa aposta para adolescentes não rebeldes e<br />

para parceiros mais progressistas.<br />

John Lobb. Agora que as obras do seu novo atelier<br />

na Rue Magadon estão concluída vale a pena ver a<br />

oferta deste criador que faz de usar por casa por<br />

encomenda, sapatos estes que mais parecem um<br />

concorde e que são o ideal para mães, para<br />

membros do conselho de administração e para<br />

baby-sitters.<br />

Hervé Chapelier. Ao fim destes anos todos, as<br />

malas de nylon de Hervé Chapelier continuam a<br />

agradaratodos,dassograsàsirmãsmais<br />

esquisitas, sendo também o presente indicado para<br />

que precisa de um acessório rijo e clássico.<br />

Officina Slowear. Atenção a todas as esposas,<br />

namoradas e namorados. Um dos pedidos que mais<br />

recebi na caixa de correio desta coluna foi uma<br />

lista de agentes das calças Incotex– fabricantes dos<br />

chinos com o melhor corte. A empresa mãe abriu<br />

recentemente uma loja em Paris onde vende<br />

também camisas, camisolas e casacos, pelo que<br />

pode surpreender o homem, ou os homens da sua<br />

vida, seleccionando uma pilha de calças que eles<br />

vão poder usar em qualquer parte. Esta loja<br />

também tem roupa para mulher.<br />

Colette. Se só tem 30 minutos e quer uma boa<br />

selecção de produtos de beleza para as colegas do<br />

seu escritório, T-shirts para os rapazes, DVDs para<br />

as próximas semanas em Verbier e alguns livros<br />

provocantes para colocar sobre a mesa da sala,<br />

então a Colette continua a ser a melhor aposta. E<br />

os seus embrulhos ficam lindos debaixo da árvore<br />

de Natal.<br />

Kurkdjian Parfums. E quando achávamos que na<br />

cidade já não havia lugar mais uma casa de<br />

fragrâncias distintas eis que aparece o maestro<br />

Francis Kurkdjian com a sua pequena loja de<br />

papéis de incenso, uma série de fragrâncias para<br />

homem e para mulher, uma edição especial de<br />

sabões e a melhor coisa que há para colocar nas<br />

meias – bolinhas aromáticas com cheiro a menta e<br />

a relva acabada de aparar.<br />

Tyler Brûlé é director da revista Monocle<br />

Exclusivo Financial Times<br />

Tradução de Carlos Tomé Sousa


40 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

VIDA<br />

José Manuel<br />

Galvão Teles<br />

“É uma loucura<br />

o que se passa<br />

na justiça”<br />

José Manuel Galvão Teles deu três conselhos ao seu cliente,<br />

José Penedos: que lhe contasse tudo sobre a Face Oculta, que não<br />

renunciasse ao cargo de presidente da REN e que nunca dissesse<br />

que tinha a consciência tranquila. “Todos os criminosos dizem<br />

ter a consciência tranquila” é a sua justificação. Entrevista<br />

de Francisco Teixeira e Susana Represas. Fotografias de Paula Nunes


Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 41


42 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

VIDA<br />

José Manuel Galvão Teles<br />

não foge ao apelido.<br />

É advogado, sportinguista<br />

e determinado. Diz que<br />

tem mau feitio e que está<br />

farto de ver as violações<br />

de segredo de justiça<br />

passarem impunes.<br />

Defende José Penedos<br />

no caso Face Oculta<br />

e critica o estilo<br />

prossecutório do<br />

Ministério Público.<br />

Aos juízes deixa elogios<br />

pelo bom senso, e sobre<br />

a justiça uma avaliação<br />

mordaz: “É uma loucura<br />

o que se está a passar”<br />

EEm Aveiro, quando ouviu o juiz de<br />

instrução criminal suspender o seu<br />

cliente, José Penedos, arguido na<br />

Face Oculta, porque decidiu escrever<br />

uma declaração escrita?<br />

Consigo fazer duas coisas ao mesmo<br />

tempo e, quando comecei a ouvir o juiz<br />

de instrução criminal a ser coerente no<br />

erro, isto é, errado do princípio ao fim,<br />

fiquei num estado de alguma irritação<br />

pela injustiça cometida e alinhavei então<br />

uns breves apontamentos à mão. Senti a<br />

necessidade de o fazer porque precisava<br />

de ser forte e justo, sem correr o risco de<br />

entrar em polémicas de que o Ministério<br />

Público gosta muito e que normalmente<br />

terminam com queixas em tribunal por<br />

parte dos magistrados (o que, aliás, até<br />

me honra muito). Tudo isto, porque o<br />

Ministério Público se sente ofendido<br />

com as minhas palavras. Sucede que em<br />

alguns processos me vejo obrigado a<br />

dizer que o Ministério Público se ocupa<br />

do assunto de forma incompetente. Eles<br />

dizem que não lhes posso chamar<br />

incompetentes, eu acho que sim, desde<br />

que o juízo recaia sobre o trabalho em<br />

questão. Eles não gostam, acham que<br />

são uma espécie de filhos de Deus,<br />

detentores da verdade, enquanto<br />

supostos órgão de soberania, e, por isso,<br />

tive um certo cuidado. Quis ter uma<br />

linguagem defensável.<br />

Pediu autorização à Ordem dos<br />

Advogados para falar?<br />

Eu nunca quis fazer política<br />

profissionalmente. Sou advogado, fiz<br />

sempre advocacia com convicção e<br />

paixão. A principal virtude dos<br />

advogados é saber escolher a defesa de<br />

quem tem razão, de quem merece<br />

justiça. E defendê-lo com grande<br />

convicção. Ser submetido a julgamento<br />

já é mau, mas se se for inocente ainda é<br />

pior. Mesmo nos casos mais mediáticos<br />

em que tenho tido participação, nunca<br />

falei sem autorização da Ordem dos<br />

Advogados. Foi, entre outros, o caso da<br />

juíza Fátima Galante, acusada pelo<br />

Ministério Público da prática de um<br />

crime de corrupção no exercício das<br />

suas funções, o que é gravíssimo. Mas a<br />

Senhora Juiz não foi sequer<br />

pronunciada, apesar do recurso do<br />

Ministério Público para o Supremo<br />

Tribunal de Justiça. Foi de igual modo o<br />

caso do Eng.º Carlos Melancia, então<br />

Governador de Macau, também ele<br />

acusado de corrupção e que,<br />

obviamente, nunca foi condenado,<br />

apesar dos sucessivos recursos do<br />

Ministério Público. Com vêem, muitas<br />

vezes não são os advogados que atrasam<br />

os processos.<br />

Em relação a José Penedos no caso<br />

Face Oculta, mantém a mesma


“<br />

As associações<br />

sindicais de<br />

juízes e<br />

magistrados<br />

ocupam quase<br />

mais tempo na<br />

comunicação<br />

social do que<br />

o Benfica,<br />

Sporting e<br />

Porto juntos<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 43<br />

perspectiva: estamos perante uma<br />

pessoa inocente, injustiçada?<br />

Estou convencidíssimo que sim.<br />

Em que estado fica a justiça no meio<br />

de tudo isto?<br />

Nesta crise da justiça, os principais<br />

culpados são os portugueses em geral.<br />

Porquê?<br />

Porque não têm o sentido de cidadania,<br />

de responsabilidade e de respeito pelos<br />

tribunais e pela justiça como deviam ter.<br />

Todos os dias aparecem nos escritórios<br />

de advogados, eu diria, à volta de 50%<br />

de clientes que não têm razão. O que<br />

acontece, na maior parte das vezes, é<br />

que o advogado fica a saber que o cliente<br />

não tem razão e mesmo assim aceita<br />

defende-lo.<br />

Mas todos, até os criminosos, têm<br />

direito a ser defendidos.<br />

Mas a defesa não é para mentir. Você<br />

deve dinheiro, pode dizer que paga mais<br />

tarde ou que não pode pagar, há sempre<br />

uma justificação, nem que seja<br />

psicológica. Pode até explicar que não<br />

paga porque é pobre. Não se pode é<br />

mentir. Depois há um conluio entre o<br />

clienteeadefesa para se arranjar<br />

testemunhas que mentem e o pobre do<br />

juiz ouve cinco pessoas a dizer<br />

encarnado e outras cinco a dizer que é<br />

verde, e tem de perceber quem é que<br />

tem razão.<br />

Os juízes sabem fazer bem essa<br />

distinção?<br />

Os juízes portugueses devem ser a classe<br />

menos corrupta que há em Portugal.<br />

Têm bom senso, julgam com bom senso,<br />

e não são corruptos. Nós, advogados,<br />

temos uma deformação profissional e o<br />

Ministério Público também. Por<br />

exemplo no célebre caso de António<br />

Champalimaud, o Ministério Público<br />

teve a coragem de defender a sua<br />

absolvição. De facto, assim o impunha o<br />

princípio da legalidade. Mas quantas<br />

vezes o Ministério Público actua desta<br />

forma? Pelo contrário, tem geralmente<br />

um espírito acusatório sem sentido.<br />

E esse espírito acusatório tem por<br />

detrás uma vontade política?<br />

Eu, que também tenho um particular<br />

gosto pela política e me interesso pela<br />

sua prática quotidiana tenho de<br />

reconhecer que no fundo tudo é política.<br />

Quando os casos parecem ter uma<br />

natureza mais política, é evidente que<br />

isso também conta. Admito, sem ter<br />

feito quaisquer estudos, que no seio do<br />

Ministério Público há uma razoável<br />

percentagem de “ingenuidade”, há<br />

ainda uns “amanhãs que cantam” que<br />

ficaram da revolução do 25 de Abril, mas<br />

o consequente abrandamento dos seus<br />

ideais trouxe para muitos uma nova<br />

esperança: a de se conseguir esses<br />

“amanhãs” através da justiça, o que do<br />

ponto de vista psicológico é natural, mas<br />

do ponto de vista quer político quer<br />

jurídico é certamente errado.<br />

Demorou algum minuto a decidir se<br />

aceitava defender José Penedos no<br />

caso Face Oculta?<br />

Costumo dizer a todos os clientes que<br />

me devem contar a “história” toda,<br />

com todos os pormenores, nunca há<br />

detalhes a mais. E acrescentava que<br />

naquele momento era fácil escolher<br />

outro advogado, tão bom ou melhor do<br />

que eu, mas se no meio do processo a<br />

história que me foi contada não


44 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

VIDA<br />

correspondesse à verdade, eu<br />

renunciaria ao mandato. Não disse isto<br />

ao eng.º José Penedos…<br />

Não foi preciso?<br />

Por um lado, porque já o conhecia; por<br />

outro lado, porque nós fomos<br />

chamados a tomar conta do caso não<br />

pelo engº Penedos, mas pela própria<br />

REN. Somos advogados de referência<br />

da empresa e quando foram alvo da<br />

busca judicial fomos chamados com<br />

urgência pela própria Comissão<br />

Executiva da REN. Acabámos por ser,<br />

naturalmente, advogados de José<br />

Penedos sem que da parte dele tivesse<br />

havido um convite expresso, mas sim<br />

na sequência dos serviços<br />

habitualmente prestados à REN. Não<br />

houve portanto nem ocasião nem<br />

necessidade de com ele termos a<br />

referida conversa. Conheço várias<br />

pessoas que o conhecem bem e que têm<br />

falado comigo, garantindo-me aquilo<br />

em que acredito: é uma pessoa séria e<br />

está inocente.<br />

Entrou sempre no Tribunal de Aveiro<br />

bem disposto até ao último dia em<br />

que estava com um ar visivelmente<br />

incomodado. A decisão do juiz<br />

desiludiu-o?<br />

Apesar desta longa experiência, de<br />

advocacia e de vida, convenci-me de<br />

que não seriam aplicadas aquelas<br />

medidas de coacção. Convenci-me. O<br />

facto de o juiz de instrução criminal se<br />

ter distanciado das medidas de coacção<br />

que foram promovidas pelo Ministério<br />

Público em relação ao Paulo Penedos,<br />

filho do eng.º José Penedos,<br />

descansou-me quanto a uma<br />

preocupação que tinha: a de que o<br />

pensamento do juiz de instrução<br />

criminal andasse a par das intenções do<br />

Ministério Público. O juiz alterou de<br />

250 mil para 25 mil euros a caução de<br />

Paulo Penedos e alterou também a<br />

acusação de dois para apenas um<br />

crime.<br />

Apesar dos 50 anos que leva como<br />

advogado foi surpreendido. Porque<br />

escreveu “é-me difícil encontrar”<br />

uma decisão tão injusta?<br />

Lembro-me que tive cuidado com essa<br />

expressão, pois não posso dizer que<br />

seja a pior decisão com que já fui<br />

confrontado, talvez a da juíza Fátima<br />

Galante, por exemplo, seja mais<br />

ofensiva. No caso Melancia, ao fim de<br />

sucessivos recursos, perdidos pelo<br />

Ministério Público deparei-me com um<br />

homem destruído, em quem muita<br />

gente confiava e que podia ter tido um<br />

futuro brilhante mas que, injustamente<br />

acusado de corrupção, não tinha<br />

resistido ao implacável julgamento<br />

popular que lhe foi montado.<br />

Ainda hoje, a propósito do caso Face<br />

Oculta, os comentadores parecem<br />

brincar com a justiça e a comunicação<br />

social também. Mas com a honra das<br />

pessoas não se brinca.<br />

E isso começa pela violação do<br />

segredo de justiça?<br />

É evidente. Eu com a idade estou a ficar<br />

mais intransigente e costumo dizer que<br />

estou farto de me queixar contra<br />

“terceiros”, gostava sim de ver<br />

apanhados os “primeiros” responsáveis.<br />

Porque na generalidade dos casos que<br />

defendo, tenho feito queixa contra<br />

“terceiros”, (“contra desconhecidos”),<br />

porque não sei quem violou o segredo<br />

de justiça e recebo sempre a notícia de<br />

“<br />

O Ministério<br />

Público<br />

consegue<br />

descobrir<br />

muitos crimes,<br />

felizmente.<br />

Mas quanto<br />

à violação<br />

do segredo<br />

de justiça tem<br />

sido difícil<br />

encontrar os<br />

responsáveis,<br />

salvo quando<br />

são jornalistas<br />

que o processo foi arquivado.<br />

O Ministério Público consegue<br />

descobrir muitos crimes, felizmente,<br />

mas quanto a este crime tem sido difícil<br />

encontrar os responsáveis, salvo<br />

quando são jornalistas.<br />

Quem são os responsáveis pela<br />

violação do segredo de justiça?<br />

Acho que seria fácil descobrir os<br />

responsáveis se o Ministério Público,<br />

de tempos, a tempos escutasse todas as<br />

pessoas que têm contacto com o<br />

processo. Sabiam logo. Têm tanta<br />

escuta, estão tão ocupados a escutar<br />

toda a gente (até a mim se calhar) têm<br />

tantos aparelhos ocupados, que deviam<br />

era colocar esses aparelhos e escutá-los<br />

a eles próprios: Ministério Público,<br />

Polícia Judiciária e funcionários<br />

judiciais. Muitas vezes podem ser os<br />

advogados, que não são melhores nem<br />

piores, mas existem muitos processos<br />

que estão em segredo de justiça e que<br />

aparecem nos jornais antes mesmo dos<br />

advogados terem conhecimento do<br />

processo.<br />

Reparei que tem no seu gabinete<br />

todos os jornais do dia. Tem tido a<br />

preocupação de ver o que dizem os<br />

jornais sobre a Face Oculta?<br />

Eu sou surpreendido muitas vezes. Já li<br />

“Rolexs tramam engenheiro” mas<br />

nunca li a palavra Rolex em nenhuma<br />

parte do processo. Só se têm lá essa<br />

parte guardada, não sei. Tenho ideia<br />

que a comunicação social também<br />

começa a atirar para o ar.<br />

Mas como é possível compatibilizar<br />

o tempo da justiça com o tempo dos<br />

jornais e da informação?<br />

A sociedade civil e a comunicação<br />

social têm um ritmo acelerado, mas os<br />

tribunais não andam ainda a esse ritmo<br />

e têm de se adaptar. A forma de o fazer<br />

é complicada. Por exemplo, perante a<br />

enorme pressão para que José Penedos<br />

renunciasse, eu aconselhei-o sempre a<br />

não suspender funções e assumo essa<br />

responsabilidade, embora a decisão<br />

tenha sido exclusivamente dele. Se ele<br />

sabe que está inocente por que é que<br />

há-de pedir a suspensão? Não


compreendo bem! O caso Casa Pia<br />

ensinou a todos os portugueses um<br />

bocado de direito mas devo dizer que é<br />

melhor não saber nada do que saber<br />

pouco, porque assim os portugueses<br />

passam a julgar que sabem tudo. Mas<br />

não sabem que a constituição de<br />

arguido é para defesa do próprio.<br />

Passaram, sim, a saber que era fácil<br />

constituir alguém arguido, basta uma<br />

carta anónima. Eu, aliás, disse a José<br />

Penedos para não dizer que tinha a<br />

consciência tranquila. Nunca. Dá-me a<br />

sensação que todos os criminosos<br />

dizem que têm a consciência tranquila.<br />

É como aqueles jogadores que quando<br />

cometem uma falta põem logo os<br />

braços no ar. Se eu fosse árbitro e visse<br />

os braços no ar tinha logo a tentação<br />

de marcar pénalti, porque dá a<br />

sensação de culpabilidade. O eng.º José<br />

Penedos sabe que não cometeu<br />

nenhum crime, sabe que é<br />

legitimamente presidente de uma<br />

empresa e, de repente, pressionam-no<br />

para pedir a suspensão? Porquê? O que<br />

ganha com isso? Quem é que ganha<br />

com isso? O Estado? E arranjou-se<br />

logo um problema, porque no dia<br />

seguinte ele tinha uma reunião do<br />

Conselho de Administração em<br />

Espanha, em que a REN se deveria<br />

fazer representar mas não podia<br />

porque não tinha sequer sido<br />

notificada da decisão do tribunal.<br />

A empresa foi muito afectada?<br />

A REN não tem o capital muito<br />

disperso, isto é, o título tem pouca<br />

liquidez. Se tivesse tinha sido uma<br />

tragédia. E quem é que paga isso? O<br />

Ministério Público, o juiz ou os<br />

jornalistas?<br />

Mas afinal de contas o que falta à<br />

justiça para funcionar bem?<br />

Diria que isso passa essencialmente<br />

por uma educação cívica que demora<br />

anos, mas também por uma preparação<br />

dos profissionais, dos advogados, dos<br />

magistrados. O CEJ é muito importante<br />

e os juízes devem ter mais poderes<br />

para actuarem no decurso do processo,<br />

que é demasiado formal e burocrático.<br />

A REN não tem<br />

o capital muito<br />

disperso,<br />

isto é, o título<br />

tem pouca<br />

liquidez.<br />

Se tivesse<br />

tinha sido<br />

uma tragédia.<br />

E quem é que<br />

paga isso?<br />

Outlook | Sábado, 5.12.2009 | 45<br />

“Acha que temos um sistema penal<br />

que dá muitas garantias aos<br />

arguidos?<br />

Também não é tão garantístico quanto<br />

isso. Eu peço muitas vezes a litigância<br />

de má fé (há quem diga que tenho um<br />

feitio difícil), mas a verdade é que<br />

muitas vezes vê-se mesmo que as<br />

testemunhas estão a mentir. Os juízes<br />

não utilizam o poder que têm,<br />

querem-no mas não o utilizam. Eu<br />

reforçava os poderes dos juízes porque<br />

é a única maneira de termos uma<br />

justiça mais célere. Senão é<br />

impossível. Outro exemplo, é o do<br />

abuso das testemunhas abonatórias, o<br />

que é ridículo. É à portuguesa…<br />

Defende que o juiz tenha mais poder<br />

do que o Ministério Público?<br />

Não me queira liquidar junto do<br />

Ministério Público. Não me vou meter<br />

nisso. Acho que o Ministério Público, a<br />

existir com o estatuto actual, tem de<br />

ter autonomia e independência. Mas o<br />

Ministério Público, embora esteja<br />

submetido a uma hierarquia, está<br />

sempre em constante conflito: critica<br />

o PGR, discute a Constituição,<br />

menospreza todas as leis e opina sobre<br />

processos em curso. E, isso, é que já<br />

não cabe nas suas funções.<br />

E o PGR não tem mão nisso.<br />

Não queria entrar por aí. Mas, de facto,<br />

é uma loucura o que se está a passar.<br />

Este clima, em grande parte<br />

inflacionado pela Associação Sindical<br />

de Juízes, pode estar a criar uma das<br />

maiores crises do Estado Democrático.<br />

Temos a suspeição da classe<br />

política. O que lhe parece?<br />

Acho extraordinário que os dois<br />

sindicatos (a Associação Sindical de<br />

Juízes e o Sindicato do Ministério<br />

Público) ocupem quase mais tempo na<br />

comunicação social do que o Benfica,<br />

Sporting e Porto juntos. Estão<br />

constantemente nas televisões e<br />

jornais a vitimizar-se, a por em causa<br />

tudo aquilo que não lhes agrada.<br />

Acha que falam demais?<br />

Mal e demais. Já estão, por exemplo, a<br />

falar na revisão da Constituição, que só<br />

deverá ter lugar daqui a dois anos.<br />

Mas como se inverte esta<br />

caminhada em passos largos para a<br />

crise?<br />

Tem de haver intervenções a sério<br />

sobreajustiçaeéprecisotrazeras<br />

pessoas para este debate. Por isso, não<br />

estou disposto a assistir passivamente<br />

a que isto continue assim. Será o fim.<br />

Estamos perto do fim?<br />

Estamos numa situação má.<br />

É um advogado experiente e<br />

conhece praticamente todas as<br />

pessoas que têm valor acrescentado<br />

a falar sobre a justiça. Vai fazer<br />

alguma coisa?<br />

Temos um auditório lá em baixo [no<br />

primeiro andar da Morais Leitão,<br />

Galvão Teles, Soares da Silva e<br />

Associados] e gostaria de pôr as<br />

pessoas a discutir os problemas da<br />

justiça. Gostava de ir buscar homens e<br />

mulheres (os senadores, no bom<br />

sentido da palavra, de que vocês<br />

falam) que continuam a ter influência<br />

no país para obrigar os partidos,<br />

também, a tomar consciência de todos<br />

estes problemas. Temos um Ministro


46 | Outlook | Sábado, 5.12.2009<br />

VIDA<br />

MAKING OFF<br />

José Manuel Galvão Teles sabe receber.<br />

Antes da entrevista e do almoço que nos<br />

acompanhou, levou-nos a conhecer o<br />

edifício da Morais Leitão, Galvão Teles,<br />

Soares da Silva e Associados.<br />

Começamos pelos quadros que tem no<br />

seu gabinete e parámos, atentamente, na<br />

entrada da firma onde está exposto um<br />

quadro de Nikias Skapinakis, cedido<br />

temporariamente pela Fundação<br />

Serralves. Depois conhecemos o auditório<br />

João Morais Leitão, em homenagem ao<br />

seu colega de curso. Terminaram direito<br />

em 1960, fundaram a firma em 1993. O<br />

seu amigo João, morreu em 2006.<br />

da justiça que é um óptimo jurista, um<br />

óptimo politico, e uma pessoa de bem.<br />

Há que aproveitar o momento.<br />

A Associação Sindical de Juízes<br />

atacou a presença do seu colega Rui<br />

Patrício, na última reunião do<br />

Conselho Superior de Magistratura.<br />

O que lhe pareceu esta crítica?<br />

Acho anormal! Acho irresponsável. A<br />

questão que se coloca éado<br />

cumprimento da lei. Se a lei autoriza e<br />

é igual para todos por que é que este<br />

caso é diferente? Por que incomoda a<br />

associação sindical? São os juízes a<br />

mostrar uma parcialidade e uma<br />

casualidade inacreditáveis. Eu,<br />

pessoalmente, tenho defendido, desde<br />

há muito que os membros do Conselho<br />

Superior de Magistratura deveriam<br />

estar em exclusividade. Mas é a minha<br />

tese. A Associação Sindical de Juízes<br />

gosta de se substituir ao Executivo, ao<br />

legislador, pensa que tem a verdade<br />

toda e proclama-a ao país.<br />

Jorge Sampaio apelou à<br />

responsabilidade de todos.<br />

Reconhece-se neste pedido?<br />

Sim, seria uma das pessoas que gostaria<br />

que interviesse, para que o país possa<br />

contar com uma palavra de bom senso<br />

sobre um problema que também o<br />

preocupa muito. Cunha Rodrigues era<br />

outro dos nomes, é certamente uma das<br />

pessoas que melhor conhece os<br />

problemas da justiça em Portugal.<br />

Os políticos continuam a estar sob<br />

permanente escrutínio e suspeita<br />

por parte da justiça. É possível um<br />

Governo viver debaixo deste clima?<br />

Acho que é muito difícil e deixo a<br />

minha homenagem ao primeiro-<br />

-ministro, porque que tem tido uma<br />

grande capacidade de resistência. Não<br />

conheço os casos concretos, mas o que<br />

sei é que uma pessoa não pode viver<br />

sob suspeição. O direito fez-se para ser<br />

aplicado com base em factos e não em<br />

meros pressupostos. Por isso, é que há<br />

a presunção de inocência. Eu acho que<br />

deve haver respeito por todas e cada“Nova<br />

Iorque a convite de Melo<br />

uma das decisões judiciais. Enquanto<br />

Antunes.<br />

se é arguido, há uma simples suspeição<br />

que não tem sentido nenhum do ponto<br />

Integrou o MES?<br />

de vista social. Ao que parece surgiu<br />

Costumo dizer que estivemos no “préagora<br />

uma outra figura jurídica,<br />

-MES”, porque saímos no primeiro<br />

inventada neste país, que éado“pré-<br />

congresso constitutivo.<br />

-arguido”. Relativamente ao<br />

primeiro-ministro – entretanto<br />

constituído “pré-arguido” – então a<br />

suspeita é zero: não vale nada. Quem a<br />

lança talvez devesse encarnar uma<br />

figura jurídica nova do processo penal:<br />

a do “automaticamente condenado”.<br />

Há uma campanha contra Sócrates?<br />

Eu tenho grande admiração e respeito<br />

pelo senhor ministro da Economia que<br />

falou em “espionagem política” no<br />

caso Face Oculta. Acho que é um<br />

homem muito sério e competente e se<br />

ele me quiser por ao lado dele, tenho<br />

muito gosto. Se for a julgamento, e não<br />

sendo o seu advogado, aceitarei com<br />

muito gosto ser co-arguido. Há uma<br />

quantidade de factos estranhos em<br />

todo este processo. Há nexos de<br />

causalidade que não se compreendem.<br />

A expressão que ele utilizou foi a mais<br />

correcta? O que interessa é ter sido um<br />

homem sério a dizer o que sentia e eu<br />

subscrevo totalmente a ideia. Mas não<br />

fui ao dicionário ver o que quer dizer<br />

“espionagem política”. Acho que o<br />

nosso Ministério Público e os nossos<br />

políticos vêem muitos filmes policiais.<br />

A frase de Vieira da Silva pode ser<br />

vista como espionagem da justiça<br />

ou uma campanha política.<br />

Reconhece-se em alguma dessas<br />

ideias?<br />

Todas estas violações do segredo de<br />

justiça são estranhas e alguém agiu<br />

mal. Não sei quem, mas cabe ao<br />

Ministério Público descobrir.<br />

Formou-se em 1960. Sempre<br />

exerceu advocacia?<br />

Desde 1961 o único ano em que não<br />

exerci advocacia foi quando fui<br />

embaixador nas Nações Unidas, em<br />

Ao que parece<br />

surgiu agora<br />

uma outra<br />

figura jurídica,<br />

inventada<br />

neste<br />

país: a do<br />

“pré arguido”<br />

Considera-se um homem de esquerda?<br />

Da esquerda clássica e socialista?<br />

No 25 de Abril entendíamos que os<br />

partidos socialistas da época (diferentes<br />

do que são hoje) deveriam conciliar a<br />

democracia representativa com<br />

aspirações socialistas. Nessa altura<br />

combatemos o PCP que não aceitava<br />

aquilo a que chamava a democracia<br />

burguesa. Em qualquer caso em 1974<br />

houve uma oportunidade única de fazer<br />

essa experiência.<br />

Sempre foi a tribunal.<br />

É um “advogado de barra”?<br />

Não havia outra advocacia quando eu<br />

comecei a exercer. Trabalhei com o meu<br />

tio que era um grande advogado, o José<br />

Maria Galvão Teles, e tive uma escola de<br />

advocacia muito boa e muito exigente.<br />

Tive a sorte de trabalhar com um grande<br />

advogadoedenãoterdeandara<br />

procurar clientes. É evidente que tinha o<br />

nome feito – Galvão Teles –, o que conta<br />

muito. Hoje costumo dizer aos<br />

advogados mais novos que uma acção<br />

ganha-se na forma como se conduzem as<br />

primeiras reuniões com os clientes. Tem<br />

de se descobrir se o cliente tem razão ou<br />

não, e só aceitar os clientes que têm<br />

razão ou defende-los mas apenas na<br />

medida da sua culpa.<br />

Sabe quantos clientes teve?<br />

Não tenho essa contabilidade feita.<br />

No outro dia um colega meu, mais novo,<br />

estava a criticar os juízes e as decisões<br />

que tomam, e eu dizia que não sinto isso.<br />

Tenho a impressão de que muitos<br />

advogados pegam nos casos sem estudar<br />

o assunto. Posso dizer que tive a vida<br />

facilitada, tinha um nome na praça, feito<br />

pelos meus tios, que sempre procurei<br />

não estragar.


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