geraldo sarno - Instituto Moreira Salles
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O último romance de Balzac de Geraldo Sarno<br />
SEXTA 29<br />
14h00, 15h45 e 20h00 :<br />
Sibila (Sibila) de Teresa Arredondo<br />
(Chile, Espanha, França, 2011. 95’)<br />
17h30: <strong>geraldo</strong> <strong>sarno</strong>, a linguagem do cinema<br />
O último romance de Balzac (Brasil, 2010. 74’)<br />
Em 1965, Waldo Vieira, médico, médium espírita<br />
que trabalhava próximo a Chico Xavier, psicografa o<br />
romance “Cristo espera por ti”, ditado pelo espírito do<br />
escritor francês Honoré de Balzac. Muitos anos depois,<br />
o livro cai nas mãos do psicólogo Osmar Ramos Filho,<br />
recém chegado da Universidade Louvain, na Bélgica, que<br />
lhe dedica 10 anos de estudos, ao final dos quais escreve<br />
e publica um livro com o resultado de suas pesquisas: O<br />
Avesso de um Balzac Contemporâneo – Arqueologia de um<br />
Pasticho”. Essa é a história contada em O último romance de<br />
Balzac (prêmio especial do Juri em Gramado, 2010) para<br />
compor uma reflexão sobre o processo de criação.<br />
Sarno diz que “um possível subtítulo para esse filme seria<br />
A palavra e a imagem. É sabido que o Balzac dava primazia<br />
à imagem, inclusive por sua aproximação da pintura. Tanto<br />
que o Osmar, a partir do livro psicografado, identifica um<br />
quadro do século 17, feito pelo pintor holandês Paul Potter,<br />
mais ou menos contemporâneo de Rembrandt. Osmar,<br />
depois de levantar a história do quadro, fez uma análise<br />
entre a pintura e a A pele de onagro (La peau de chagrin),<br />
escrito por Balzac em 1831, algo absolutamente original e,<br />
aparentemente, nunca realizado por nenhum estudioso de<br />
Balzac”.<br />
Não há, na jornada pelo processo de criação artística de O<br />
último romance de Balzac, “intenção de questionar ou de verificar<br />
o quanto há de verdade ou de invenção (pois, mesmo<br />
se não duvidamos de sua autenticidade, há um pouco<br />
dos dois) no relato de Waldo Vieira de como Balzac teria<br />
lhe aparecido e soprado, palavra a palavra, o livro em seu<br />
ouvido. Mediado pela pesquisa acerca do livro de Waldo/<br />
Balzac feita por Osmar Ramos Filho (essa sim uma investigação<br />
mais tradicional), o filme ouve seus relatos apenas<br />
para afirmar o mistério do próprio ato criativo. A cada<br />
nova ‘coincidência’ entre o romance de Waldo e a obra<br />
de Balzac, importa menos o quanto há de religioso ou de<br />
charlatanismo no processo, e mais o quanto esse processo<br />
– opaco e impenetrável – é sempre misterioso (daí o<br />
filme nunca voltar a Waldo com as conclusões do professor<br />
Osmar para conferi-las, ou para questioná-lo). Interessa,<br />
portanto, menos uma verdade por trás do fato, e mais o fato<br />
em si: um filme feito a partir de uma pesquisa, a partir de<br />
um livro que, mesmo que falso, contribui na compreensão<br />
do objeto ‘verdadeiro’ (...) O que Geraldo Sarno faz – com<br />
uma vitalidade absolutamente contagiante – é justamente<br />
emaranhar ainda mais esse espelhamento. O último romance<br />
de Balzac se firma, dessa maneira, como um filme de empréstimo,<br />
dedicado não só ao empilhamento de camadas,<br />
mas principalmente à maneira como cada uma – mesmo<br />
quando exposta em plena falsidade – é capaz de enriquecer<br />
as outras. O filme não questiona a autenticidade de uma<br />
obra, mas sim o autêntico dentro do conceito de obra de<br />
arte. (...) O interesse de Sarno é justamente evidenciar o<br />
quanto essas distorções não só são inerentes ao processo de<br />
criação e entendimento, mas também o quanto são essenciais<br />
na conservação do espírito original das obras. Isso fica<br />
claro na sequência em que um pintor, convidado por Osmar<br />
Ramos Filho para recriar a tela de Potter mencionada<br />
no romance psicografado, explica seu processo de pastiche:<br />
há muito de cópia, de imitação, mas também de leitura,<br />
compreensão e criação. Nesse sentido, O último romance de<br />
Balzac é, de fato, um filme de absoluta imanência: para a<br />
conservação plena do espírito, é sempre preciso moldar-lhe<br />
um corpo ideal”.<br />
(Fábio Andrade em www.revistacinetica.com.br)<br />
Como parte dessa mostra de<br />
filmes em sua maioria dedicados<br />
à análise do processo criativo,<br />
Geraldo Sarno<br />
participa de um debate<br />
no sábado dia 30 às 17h00<br />
com entrada franca:<br />
A linguagem do cinema<br />
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