clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo
clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo
clique aqui para download - Centro Cultural São Paulo
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Memória da Dança em São <strong>Paulo</strong> ::<br />
havia assistido a O Rei da Vela, aos musicais do Arena, ao show Opinião.<br />
Foi impossível ficar indiferente àquela ebulição. Para mim, 1968 ficou<br />
sendo o ano da transição. Eu desisti da engenharia; como meus amigos<br />
faziam arquitetura, resolvi mudar de curso. Prestei novo vestibular e<br />
entrei na FAU e na ECA, no curso de teatro. Naquela época, os vestibulares<br />
eram se<strong>para</strong>dos, e eu passei nos dois. Nesse mesmo ano, em dezembro, a<br />
euforia do país acabou com a edição AI-5, o ato institucional número 5.<br />
Eu resolvi mudar de vida bem no momento em que a ditadura começava<br />
a endurecer, e as aulas na FAU e na ECA iniciaram-se num ambiente de<br />
absoluta depressão. Logo nos primeiros dias, Jean-Claude Bernardet,<br />
Artigas, <strong>Paulo</strong> Mendes da Rocha, entre outros professores, foram cassados.<br />
Toda minha euforia não encontrou mais campo propício <strong>para</strong> seguir em<br />
frente. A censura era muito forte e agentes do DOPS assistiam às aulas, na<br />
mesma sala, <strong>para</strong> nos vigiar. Nesse contexto, o que o teatro e a arte em<br />
geral poderiam fazer?<br />
Em 1970, formou-se na ECA um grupo de pesquisa, com a coordenação<br />
do Alberto Guzik, cujo objetivo era investigar uma linguagem corporal<br />
<strong>para</strong> o teatro. Esse trabalho, que chamávamos de laboratório, foi o meu<br />
primeiro click <strong>para</strong> uma atividade ligada ao corpo e ao movimento. Era uma<br />
pesquisa, mas o que nós queríamos mesmo era ficar juntos, trancados numa<br />
sala, fazendo exercícios de sensibilização, de toque corporal, num espírito<br />
de comunidade. O que estávamos descobrindo, e só fomos compreender<br />
isso tempos depois, era o seguinte: se o clima era de censura, de repressão,<br />
de medo, se saíamos à noite e tínhamos medo das batidas policiais, em<br />
algum lugar era preciso ser livre. Os espaços de liberdade passaram a<br />
ser o corpo e o comportamento. Com essa descoberta, cabelos e barbas<br />
cresceram, as roupas ficaram mais coloridas e o comportamento pessoal<br />
passou a ser o mais anticonvencional possível. Tínhamos projetos, mas o<br />
que queríamos mesmo era ficar fechados numa sala, fazendo os exercícios<br />
do laboratório. Éramos um bando de hippies, resumindo. Não demorou<br />
muito <strong>para</strong> percebermos o esgotamento do grupo, que durou menos de<br />
um ano. Em setembro de 1970, por indicação de um amigo, Iacov Hillel,<br />
procurei Maria Duschenes meu primeiro contato com um trabalho de corpo<br />
mais formal, ligado à dança expressiva. Após 34 anos, continuamos, num<br />
pequeno grupo, a trabalhar os princípios de liberdade de criação que dona<br />
Maria nos ensinou. Esse meu grupo ficou com dona Maria até ela não<br />
11