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Memória da Dança em São <strong>Paulo</strong> ::<br />

velho e, por isso, é sempre novo. As maneiras, ou seja, os assuntos que nós<br />

temos são sempre velhos, mas a gente sempre os está reorganizando de<br />

outra maneira, sempre novos.<br />

A tirania de buscar o diferente, a idéia de buscar uma coisa sempre<br />

diferente, ou seja, eu não quero fazer o que todo mundo está fazendo, eu<br />

quero fazer uma outra coisa, uma coisa que não está feita, diferente do que<br />

já existe, essa proliferação do diferente é artificial porque ninguém começa<br />

algo dizendo que quer fazer diferente. Você começa a produzir a partir de uma<br />

inquietação a respeito de desejos, repertórios, insatisfações, uma coleção de<br />

circunstâncias que impulsionam um criador a querer se dedicar a entender A.<br />

Ele produz o seu trabalho porque <strong>aqui</strong>lo o ajuda a entender A. E o próximo<br />

o ajuda, também, a entender o que estiver precisando entender. A grande<br />

maravilha de um criador é exatamente não largar mão do seu propósito, das<br />

suas questões, não aceitar a tirania do mercado que quer que ele faça A,<br />

depois faça M e depois faça P, que diz que ele não pode se repetir.<br />

Já olharam os quadros do Kandinski, do Picasso? Picasso não repete<br />

Picasso? Em centenas de quadros ele repete Picasso; Kandinski repete<br />

Kandinski, Miró repete Miró. Por isso é que você olha e diz Miró e não<br />

Picasso. Ele prossegue na sua investigação ao longo de muitas obras. Por<br />

isso elas ficam parecidas umas com as outras<br />

A tirania do novo é entendida como a tirania do não feito, do inédito.<br />

Ele tem que começar fazendo A, depois tem que fazer W, depois tem que<br />

fazer Z, e aí é que ele fica bacana porque não se repete. Precisamos entender<br />

que isso é uma tirania do mercado. Entender o novo como inédito: se a<br />

gente continuar compactuando com isso, estamos contra o que acontece<br />

em todas as outras artes. Quando você lê um livro do Saramago e outro<br />

livro do Saramago e mais outro livro do Saramago, é sempre Saramago. Você<br />

identifica o jeito que ele tem de escrever. Isso não significa se repetir. Ele<br />

precisa ir refazendo as suas idéias, que são as idéias investigativas dele, que<br />

ele organiza em um livro, em outro e em outro. Às vezes, ele é mais bemsucedido,<br />

consegue resolver a sua questão.<br />

O que é resolver uma questão? Ter uma inquietação, desenvolver<br />

hipóteses e propor um modo de apresentá-las que vai ter um determinado<br />

jeito. Às vezes, resolveu mesmo bem no jeito que propôs, às vezes, não<br />

resolveu bem, vai precisar de um outro trabalho <strong>para</strong> continuar a resolver.<br />

Em carreiras mais longas, pode-se ver isso com mais facilidade.<br />

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