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Memória da Dança em São <strong>Paulo</strong> ::<br />
circo, ópera, dança e teatro, artes que não estão nos meios industriais de<br />
divulgação — ficam à margem desses processos que conseguem falar com<br />
muita gente. São consideradas elitistas porque falam com pouca gente, já<br />
que a idéia de elitismo é numérica. A gente não pode comprar essa idéia<br />
numa sociedade em que a cultura recebe zero vírgula do orçamento. Acusar<br />
a dança de elitismo é uma piada.<br />
Para que a dança não seja acusada de elitismo, de falar com poucos<br />
privilegiados, seria necessário criar instrumentos <strong>para</strong> que ela falasse com<br />
mais pessoas menos privilegiadas. A questão precisa ser colocada no contexto<br />
político. Não devemos aceitar elitismo como uma questão numérica a não<br />
ser confrontando com outros números, como os do orçamento. Precisamos<br />
entender a vinculação, desde sempre, dessa arte que foi entretenimento e<br />
que chega aos meios de divulgação industrializados, de grande alcance, e<br />
separá-la de uma outra arte, que não é industrializada nem divulgada nos<br />
meios de comunicação de massa.<br />
Se uma arte, a mais hermética, a mais difícil, música contemporânea<br />
eletrônica, for <strong>para</strong> os meios de comunicação de massa, nós todos<br />
passaremos a cantarolar Stockhausen. Se formos massivamente expostos a<br />
essa informação, vamos tê-la no nosso corpo. Se toda arte contemporânea<br />
tiver acesso aos meios de difusão, de comunicação de massa, a questão do<br />
elitismo não será mais discutida. Daí a entender que a arte, <strong>para</strong> deixar de ser<br />
elitista precisa fazer trabalho social, é um viés que nos está sendo imposto,<br />
e é, no mínimo, uma cilada fatal. A condição a todos os artistas no Brasil é<br />
que, <strong>para</strong> merecer o dinheiro público da Lei de Incentivo, eles precisam dar<br />
uma contrapartida, que é entendida por realizar um trabalho social com a<br />
arte. Então, pede-se ao artista que cumpra o papel do Ministério da Cultura,<br />
que é levar a arte onde ela não está sendo levada por vícios endêmicos e<br />
falta de políticas públicas, etc.<br />
O que temos agora no lugar de políticas públicas são as leis de<br />
incentivo, que são do mercado. Isso não é política pública. A lei de<br />
incentivo é o dinheiro que a empresa não paga ao governo. Se não paga, o<br />
caixa do governo fica baixo, e não pode fazer programa nenhum porque não<br />
tem dinheiro. O dinheiro está no caixa da empresa porque ela não pagou<br />
imposto, ela tem direito a não pagar imposto e usar o dinheiro como quiser,<br />
um dinheiro que não é dela, é dinheiro de incentivo. É o dinheiro do caixa<br />
da empresa que não foi <strong>para</strong> o governo porque ela não pagou o imposto.<br />
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