Aspectos Legais para Abertura de Laboratórios de ... - NewsLab
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Artigo<br />
<strong>Aspectos</strong> <strong>Legais</strong> <strong>para</strong> <strong>Abertura</strong> <strong>de</strong> Laboratórios <strong>de</strong> Análises<br />
Clínicas e Responsabilida<strong>de</strong> Técnica dos Exames<br />
Adriana Antônia da Cruz Furini 1 , Margarete Teresa Gottardo <strong>de</strong> Almeida 2<br />
1 - Centro Universitário <strong>de</strong> Rio Preto – Unirp<br />
2 - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> São José do Rio Preto – Famerp<br />
Resumo<br />
Summary<br />
<strong>Aspectos</strong> legais <strong>para</strong> abertura <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> análises<br />
clínicas e responsabilida<strong>de</strong> técnica dos exames<br />
A presente revisão preten<strong>de</strong> fornecer informações sobre as<br />
condições e os aspectos legais estabelecidos <strong>para</strong> abertura <strong>de</strong><br />
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas. As informações são ampliadas<br />
nas especificações <strong>de</strong> normas, legislações <strong>para</strong> instalações, organização,<br />
funcionamento e procedimentos operacionais padrão,<br />
<strong>para</strong> que um panorama global possa ser apreciado pelo leitor<br />
quanto à abrangência <strong>de</strong>ste tema. Destacam-se também aspectos<br />
como a responsabilida<strong>de</strong> legal e ética dos resultados dos exames<br />
laboratoriais, <strong>de</strong> acordo com os respectivos Conselhos Regionais<br />
<strong>de</strong> Farmácia, Medicina, Biologia e Biomedicina. A atuação dos<br />
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas é ferramenta <strong>de</strong> real suporte técnico<br />
aos diagnósticos médicos, favorecendo o direcionamento das<br />
ações voltadas <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong>, o bem-estar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
Legal aspects established for the opening of clinical<br />
analysis laboratory and technical responsibility<br />
of the tests<br />
This literature revision provi<strong>de</strong>s information about conditions<br />
and legal aspects established for the opening of Clinical<br />
Analysis Laboratory. That information are amplified on rules<br />
and legislations specifications for installation, organization<br />
and functioning procedures, so a global panorama can be appreciate<br />
by rea<strong>de</strong>r about the embrace for this theme. This text<br />
also approach, the ethical and legal responsibilities concerning<br />
the results of the laboratory exams, according to the respective<br />
professional councils. The activation of these Clinical Analysis<br />
Laboratories is an instrument of real technical support to medicals<br />
diagnostics, supporting the direction actions by the health and<br />
for a quality of live.<br />
Palavras-chave: Laboratório <strong>de</strong> análises clínicas, procedimentos<br />
operacionais padrões, diagnósticos<br />
Keywords: Clinical analysis laboratory, standards operational<br />
procedures, diagnostics<br />
Introdução<br />
A<br />
s condições e aspectos legais<br />
estabelecidos <strong>para</strong> a<br />
abertura <strong>de</strong> um laboratório<br />
<strong>de</strong> análises clínicas e a responsabilida<strong>de</strong><br />
legal e ética dos resultados dos<br />
exames possuem nítida importância,<br />
<strong>de</strong>vido a serem encontradas escassas<br />
bibliografias sobre o assunto na<br />
revisão da literatura.<br />
A responsabilida<strong>de</strong> legal e ética<br />
dos resultados dos exames é conferida<br />
a médicos, biólogos, biomédicos<br />
e farmacêuticos-bioquímicos, <strong>de</strong><br />
acordo com seus respectivos Conselhos,<br />
que estabelecem condições<br />
<strong>para</strong> ativida<strong>de</strong> do profissional.<br />
A excelência em exames laboratoriais<br />
é adquirida <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />
conceitos e postulados estritamente<br />
científicos, através <strong>de</strong> rigorosos controles<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> dos processos,<br />
equipe profissional altamente treinada<br />
através <strong>de</strong> cursos, palestras e<br />
congressos, equipamentos <strong>de</strong> última<br />
geração e melhoria contínua dos<br />
métodos <strong>de</strong> trabalho.<br />
As exigências legais <strong>para</strong> abertura<br />
<strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> análises<br />
contribuem <strong>para</strong> excelência <strong>de</strong><br />
exames laboratoriais, na medida<br />
em que Decretos-Lei <strong>de</strong>vem ser<br />
seguidos igualmente por todos os<br />
estabelecimentos <strong>para</strong> certificações<br />
e acreditações, num processo contí-<br />
194<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
nuo <strong>de</strong> aperfeiçoamento pela busca<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />
O objetivo <strong>de</strong>sta revisão bibliográfica<br />
é especificar as condições e<br />
aspectos legais estabelecidos <strong>para</strong><br />
abertura <strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> análises<br />
clínicas; abrangendo também<br />
a responsabilida<strong>de</strong> legal e ética dos<br />
resultados dos exames.<br />
Descrição do serviço<br />
Recorrendo às orientações <strong>de</strong><br />
Oliveira (2006), laboratório é qualquer<br />
estrutura que realiza exames<br />
complementares em amostras provenientes<br />
<strong>de</strong> seres vivos <strong>para</strong> fins<br />
preventivos, diagnósticos, prognósticos<br />
e <strong>de</strong> monitorização na preservação<br />
da vida.<br />
A abrangência <strong>de</strong>ste serviço é<br />
compatível com a classificação dada<br />
a cada tipo <strong>de</strong> laboratório.<br />
Os laboratórios são classificados<br />
em: laboratório <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>stinado<br />
<strong>para</strong> fins didáticos e treinamento; e<br />
em laboratório clínico <strong>de</strong> Patologia,<br />
Análises Clínicas, Anatomia, Citopatologia,<br />
Microbiologia, Micologia,<br />
Virologia, Parasitologia, Imunologia,<br />
Bioquímica, Toxicologia, Urinálise,<br />
Endocrinologia, Radiobioensaios,<br />
Histocompatibilida<strong>de</strong>, Citogenética,<br />
Hematologia, Imunohematologia,<br />
Genética Clínica, Biologia Molecular<br />
(Oliveira, 2006).<br />
Normas <strong>para</strong> licenciamento <strong>de</strong> um<br />
laboratório <strong>de</strong> análises clínicas<br />
No licenciamento <strong>de</strong> laboratórios<br />
<strong>de</strong> análises clínicas, segundo a Portaria<br />
nº. 1884 <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> novembro<br />
<strong>de</strong> 1994, todos os projetos <strong>de</strong> estabelecimento<br />
direcionados à área <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>verão ser elaborados em<br />
conformida<strong>de</strong>s com códigos, leis<br />
e normas pertinentes ao assunto;<br />
quer na esfera Municipal, Estadual<br />
ou Fe<strong>de</strong>ral (Oliveira, 2006).<br />
De acordo com o Decreto-Lei<br />
nº. 217/99 (1999), do Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong>, os laboratórios <strong>de</strong>vem<br />
observar vários requisitos quanto<br />
às instalações, organização e<br />
funcionamento, contribuindo <strong>para</strong><br />
garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> técnica e assistencial<br />
<strong>de</strong>stes estabelecimentos.<br />
O citado Decreto-Lei orienta quanto<br />
ao pedido <strong>de</strong> licenciamento <strong>de</strong> um<br />
laboratório <strong>de</strong> análises clínicas, o<br />
qual <strong>de</strong>ve ser efetuado mediante<br />
um requerimento dirigido ao Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong>.<br />
No referido requerimento <strong>de</strong>ve<br />
constar a <strong>de</strong>nominação social ou<br />
nome e elementos i<strong>de</strong>ntificativos do<br />
requerente, indicações da se<strong>de</strong> ou<br />
residência, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, número fiscal<br />
dos contribuintes, localização da unida<strong>de</strong><br />
e sua <strong>de</strong>signação, i<strong>de</strong>ntificação<br />
da direção técnica e do serviço que<br />
se propõe a prestar.<br />
Conforme o artigo 12º do Decreto-Lei<br />
nº. 217/99, o requerimento<br />
ainda <strong>de</strong>ve ser acompanhado <strong>de</strong> certidão<br />
atualizada do registro comercial,<br />
relação <strong>de</strong>talhada do pessoal<br />
e respectivo mapa, certificados <strong>de</strong><br />
habilitações literárias dos profissionais;<br />
progresso funcional, memória<br />
<strong>de</strong>scritiva e projeto <strong>de</strong> instalações<br />
em que o laboratório <strong>de</strong>ve funcionar<br />
assinado por técnico habilitado, impresso<br />
<strong>de</strong> licença <strong>de</strong> funcionamento<br />
<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo normatizado e projeto <strong>de</strong><br />
regularida<strong>de</strong> interna.<br />
A licença <strong>de</strong> funcionamento é<br />
atribuída mediante idoneida<strong>de</strong> do<br />
requerente e do diretor técnico e<br />
<strong>de</strong>mais profissionais da saú<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> instalações, equipamentos e<br />
organização.<br />
A atribuição da licença <strong>de</strong> funcionamento<br />
é precedida <strong>de</strong> vistorias pela<br />
Comissão <strong>de</strong> Verificação Técnica (CVT).<br />
Efetuada a vistoria, o processo <strong>de</strong>ve ser<br />
informado ao diretor geral da saú<strong>de</strong>.<br />
Instalações<br />
S e g u n d o o D e c r e t o - L e i n º .<br />
217/99, do Ministério da Saú<strong>de</strong>, a<br />
ativida<strong>de</strong> laboratorial <strong>de</strong>ve ser realizada<br />
em áreas exclusivamente <strong>de</strong>stinadas<br />
a esse fim; os laboratórios<br />
<strong>de</strong> análises clínicas po<strong>de</strong>m mediante<br />
autorização do ministro da saú<strong>de</strong><br />
instalar postos <strong>para</strong> a colheita <strong>de</strong><br />
produtos biológicos em local externo<br />
ao estabelecimento.<br />
As instalações dos laboratórios<br />
<strong>de</strong> análises clínicas <strong>de</strong>vem ter, no<br />
conjunto, uma dimensão mínima <strong>de</strong><br />
120 m 2 , incluindo zona <strong>de</strong> circulação;<br />
recepção <strong>de</strong> produtos, setor <strong>de</strong><br />
atendimento <strong>de</strong> pacientes, arquivos<br />
<strong>de</strong> resultados, sala <strong>de</strong> espera com<br />
instalações sanitárias, salas <strong>de</strong><br />
colheita, zona <strong>de</strong> lavagem e esterilização<br />
<strong>de</strong> materiais, área <strong>para</strong><br />
execução <strong>de</strong> análises (Decreto-Lei<br />
nº. 217/99).<br />
De acordo com a Comissão Interna<br />
<strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes<br />
(CIPA), artigo 170, as edificações<br />
<strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer aos requisitos que<br />
garantam segurança aos que nela<br />
trabalham. O artigo 171 estabelece<br />
que os locais <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vam ter<br />
no mínimo 3 metros <strong>de</strong> pé direito,<br />
assim consi<strong>de</strong>rados altura livre do<br />
piso do teto, po<strong>de</strong>ndo ser reduzido<br />
esse mínimo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que atendidas<br />
condições <strong>de</strong> iluminação e conforto<br />
térmico compatíveis com a natureza<br />
do trabalho.<br />
Conforme o artigo 172 da CIPA,<br />
os pisos dos locais <strong>de</strong> trabalho não<br />
<strong>de</strong>verão apresentar saliências nem<br />
<strong>de</strong>pressões que prejudiquem a circulação<br />
<strong>de</strong> pessoas ou a movimentação<br />
<strong>de</strong> materiais.<br />
O artigo 174 da CIPA estabelece<br />
que as escadas, pare<strong>de</strong>s, rampas <strong>de</strong><br />
acesso, passarelas, pisos e corredores<br />
<strong>de</strong>vam ser mantidos em estados<br />
<strong>de</strong> conservações e limpeza.<br />
196<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Segundo Oliveira (2006) os<br />
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas<br />
<strong>de</strong>verão ter um programa básico <strong>de</strong><br />
instalações elétricas, on<strong>de</strong> constem<br />
a localização e características da<br />
re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong><br />
energia elétrica, tensão local do<br />
fornecimento <strong>de</strong> energia elétrica,<br />
entrada, transformação, medição e<br />
distribuição <strong>de</strong> energia.<br />
O sistema <strong>de</strong> proteção contra<br />
<strong>de</strong>scargas atmosféricas, localização<br />
e característica da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong><br />
telefonia, <strong>de</strong>scrição do sistema <strong>de</strong><br />
geração <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> emergência<br />
(baterias <strong>de</strong> geradores) e <strong>de</strong>scrição<br />
do sistema <strong>de</strong> alarme contra incêndio<br />
<strong>de</strong>vem ser documentados e<br />
conhecidos (Oliveira, 2006).<br />
O artigo 175 da CIPA estabelece<br />
que os locais <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vam<br />
ter iluminação a<strong>de</strong>quada, natural<br />
ou artificial, sendo uniformemente<br />
distribuída, geral e difusa a fim <strong>de</strong><br />
evitar reflexos incômodos, sombras<br />
e contrastes excessivos.<br />
Para Oliveira (2006), as instalações<br />
hidráulicas <strong>de</strong>verão ser<br />
<strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> acordo com um<br />
programa básico, composto pela<br />
localização da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> fornecimento<br />
<strong>de</strong> água, indicação <strong>de</strong> poço<br />
artesiano, <strong>de</strong>scrição do sistema <strong>de</strong><br />
abastecimento <strong>de</strong> água e combate a<br />
incêndio, localização da re<strong>de</strong> pública<br />
<strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> gás combustível<br />
e gás engarrafado e localização da<br />
re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> esgoto.<br />
Os laboratórios <strong>de</strong>vem cumprir<br />
as normas do Decreto-Lei 217/99<br />
quanto às instalações técnicas e<br />
equipamentos a<strong>de</strong>quados, pois <strong>de</strong>vem<br />
contribuir e ter capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong><br />
assegurar a qualida<strong>de</strong> técnica dos<br />
exames. As instalações técnicas e<br />
equipamentos abrangem instalações<br />
elétricas, climatização, <strong>de</strong>sinfecção e<br />
esterilização <strong>de</strong> materiais, gestão <strong>de</strong><br />
resíduos, equipamentos frigoríficos, clínica, exames complementares,<br />
re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água e segurança<br />
contra incêndio.<br />
a exercer. O exame médico <strong>de</strong>ve ser<br />
aptidão física e mental <strong>para</strong> função<br />
renovado <strong>de</strong> seis em seis meses nas<br />
A Comissão Interna <strong>de</strong> Prevenção<br />
<strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes (CIPA) e o uso anualmente nos <strong>de</strong>mais casos e na<br />
ativida<strong>de</strong>s e operações insalubres e<br />
<strong>de</strong> equipamentos especiais cessação do contrato <strong>de</strong> trabalho.<br />
De acordo com a CIPA (NR5, O estabelecimento <strong>de</strong>ve possuir<br />
2004), as empresas privadas e material necessário à prestação <strong>de</strong><br />
públicas que possuem empregados primeiros socorros médicos.<br />
regidos pela consolidação das leis do Os laboratórios on<strong>de</strong> se manuseiam<br />
produtos tóxicos, irritantes ou<br />
trabalho ficam obrigadas a manter<br />
uma comissão <strong>de</strong> riscos no ambiente<br />
<strong>de</strong> trabalho, solicitando medidas emergência, pois trata <strong>de</strong> exigências<br />
corrosivos <strong>de</strong>vem possuir ducha <strong>de</strong><br />
<strong>para</strong> reduzí-los ou neutralizá-los, presentes no Decreto-Lei 217/99.<br />
orientando os trabalhadores quanto As doenças profissionais e produzidas<br />
em virtu<strong>de</strong> das condições<br />
à prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.<br />
O artigo 166 referente às medidas especiais <strong>de</strong> trabalho, comprovadas<br />
preventivas da medicina do trabalho <strong>de</strong> objetivos <strong>de</strong> suspeita, <strong>de</strong>vem ser<br />
estabelece o exame médico obrigatório,<br />
on<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rá investigação 196 da CIPA. A empresa é obrigada<br />
notificadas, <strong>de</strong> acordo com o artigo<br />
Tabela 1. Ambientes do laboratório<br />
Unida<strong>de</strong>/Ambiente<br />
Dimensão<br />
Urinálise 10,0 m 2<br />
Bioquímica Enzimologia 15,0 m 2<br />
Virologia Imuno/Sorologia 15,0 m 2<br />
Parasitologia Clínica 10,0 m 2<br />
Hematologia/Coagulação 15,0 m 2<br />
Reprodução Humana 10,0 m 2<br />
Microbiologia Clínica 15,0 m 2<br />
Micologia Clínica 10,0 m 2<br />
Biologia Molecular 10,0 m 2<br />
Recepção e Coleta 60,0 m 2<br />
Triagem <strong>de</strong> Material 15,0 m 2<br />
Lavagem e Esterilização 10,0 m 2<br />
Emissão <strong>de</strong> Laudos 10,0 m 2<br />
Sala <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação 15,0 m 2<br />
Fonte: Prof. Carlos Jorge Rocha <strong>de</strong> Oliveira. Gestão Laboratorial p.12<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
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a fornecer aos empregados, gratuitamente,<br />
equipamento <strong>de</strong> proteção<br />
individual a<strong>de</strong>quado ao risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<br />
e danos à saú<strong>de</strong> dos mesmos,<br />
segundo o artigo 166 da CIPA.<br />
A CIPA é obrigatória <strong>para</strong> empresas<br />
que possuam empregados com<br />
vínculo <strong>de</strong> emprego (NR5, 2004).<br />
Para os servidores públicos, <strong>de</strong>vido<br />
à falta <strong>de</strong> regulamentação constitucional,<br />
não é <strong>de</strong>finido a quem cabe<br />
regulamentar questões <strong>de</strong> segurança<br />
<strong>para</strong> essa categoria.<br />
Ambientes do laboratório<br />
A existência ou não <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />
ambiente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da execução<br />
da ativida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte.<br />
Na avaliação do projeto aceitam-se<br />
variações <strong>de</strong> até 5% nas dimensões<br />
dos ambientes, principalmente<br />
<strong>para</strong> modulações arquitetônicas e<br />
estruturais, conforme ilustrado no<br />
Apêndice A (Oliveira, 2006).<br />
“Todos os ambientes estão sujeitos<br />
à a<strong>de</strong>quação das edificações<br />
e do mobiliário urbano, à pessoa<br />
<strong>de</strong>ficiente, segundo a ABNT” (Oliveira,<br />
2006).<br />
Organização e funcionamento<br />
• Regulamento interno<br />
Em conformida<strong>de</strong> com o Decreto-<br />
Lei nº. 217/99 do Ministério da<br />
Saú<strong>de</strong>, os laboratórios <strong>de</strong> análises<br />
clínicas <strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> um regulamento<br />
interno <strong>de</strong>finido pelo diretor<br />
técnico, on<strong>de</strong> conste a i<strong>de</strong>ntificação<br />
do diretor técnico e do seu substituto,<br />
bem como dos especialistas e<br />
colaboradores da estrutura organizacional,<br />
<strong>de</strong>veres gerais dos profissionais,<br />
funções e competências<br />
por grupos <strong>de</strong> profissionais; normas<br />
<strong>de</strong> funcionamento, localização das<br />
unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colheita e i<strong>de</strong>ntificação<br />
do pessoal que realiza a colheita <strong>de</strong><br />
material biológico; laboratórios com<br />
os quais tem colaboração; normas<br />
relativas aos utilizadores.<br />
• Pessoal<br />
Conforme o artigo 30 do Decreto-<br />
Lei nº. 217/99, os laboratórios <strong>de</strong><br />
análises clínicas <strong>de</strong>vem dispor no<br />
exercício <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> especialistas<br />
habilitados e <strong>de</strong> pessoal<br />
técnico com formação a<strong>de</strong>quada,<br />
<strong>de</strong> acordo com os exames executados.<br />
Em princípio o laboratório<br />
<strong>de</strong> análises clínicas <strong>de</strong>ve dispor <strong>de</strong><br />
pelo menos um especialista inscrito<br />
<strong>para</strong> cada seis técnicos, em tempo<br />
completo. A administração por via<br />
endovenosa <strong>de</strong> drogas <strong>para</strong> avaliações<br />
analíticas, as punções arteriais,<br />
medulares e as biopsias somente<br />
po<strong>de</strong>rão ser executadas por médicos<br />
ou sob vigilância médica.<br />
Esse <strong>de</strong>creto ainda informa que<br />
laboratórios que utilizam radioisótopos<br />
<strong>para</strong> realização <strong>de</strong> análises<br />
<strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong>vidamente<br />
habilitado na área e segurança<br />
radiológica.<br />
• I<strong>de</strong>ntificação<br />
Por força do citado Decreto-Lei<br />
(217/99), os laboratórios <strong>de</strong>vem ser<br />
i<strong>de</strong>ntificados em tabuleta exterior<br />
com indicação do nome e habilitação<br />
profissional do diretor técnico. Os<br />
postos <strong>de</strong> colheita <strong>de</strong>vem ser i<strong>de</strong>ntificados<br />
em tabuleta exterior com<br />
a indicação e a localização do laboratório<br />
<strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m e do respectivo<br />
diretor técnico, mencionando<br />
suas habilitações profissionais.<br />
• Informações aos pacientes<br />
O horário <strong>de</strong> funcionamento e a<br />
licença <strong>de</strong> autorização <strong>de</strong> funcionamento<br />
<strong>de</strong>vem ser afixados em local<br />
visível e acessível aos pacientes, e<br />
a tabela <strong>de</strong> preços <strong>de</strong>ve estar obrigatoriamente<br />
disponível à consulta<br />
pelos utilizadores. Trata-se <strong>de</strong> respeito<br />
ao público e <strong>de</strong> norma presente<br />
no Decreto- Lei 217/99.<br />
As normas também se esten<strong>de</strong>m<br />
a <strong>de</strong>talhes, como a disposição <strong>de</strong><br />
livro <strong>de</strong> reclamações <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
normatizado, insusceptível <strong>de</strong> ser<br />
<strong>de</strong>svirtuado, com termo <strong>de</strong> abertura<br />
datado e assinado pela Vigilância<br />
Sanitária. Estas reclamações <strong>de</strong>vem<br />
ser enviadas mensalmente a este órgão,<br />
as quais <strong>de</strong>vem obter resposta<br />
no prazo máximo <strong>de</strong> 30 dias.<br />
• Transportes <strong>de</strong> produtos<br />
biológicos<br />
O acondicionamento e o transporte<br />
<strong>de</strong> produtos biológicos <strong>para</strong> os<br />
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas <strong>de</strong>vem<br />
ser efetuados em condições térmicas<br />
e <strong>de</strong> estabilização a<strong>de</strong>quadas,<br />
em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colheita, <strong>de</strong>vendo<br />
ser efetuado por pessoal qualificado,<br />
sendo vedada a utilização <strong>de</strong><br />
transportes públicos. Os produtos<br />
<strong>de</strong>stinados a exames anatomopatológicos<br />
<strong>de</strong>vem ser transportados<br />
em meios <strong>de</strong> fixação apropriados e<br />
<strong>de</strong>vidamente acondicionados em recipientes<br />
<strong>de</strong>stinados <strong>para</strong> esse fim;<br />
estas orientações também estão<br />
presentes no Decreto-Lei 217/99.<br />
• Conservação <strong>de</strong> arquivo<br />
As orientações governamentais<br />
aos laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas<br />
quanto à manutenção <strong>de</strong> dados é a<br />
<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem conservar, por qualquer<br />
processo, pelo menos durante<br />
cinco anos seus arquivos, sem prejuízo<br />
<strong>de</strong> outros prazos que venham<br />
a ser estabelecidos pelo Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong>.<br />
De acordo com situações específicas<br />
<strong>de</strong>vem ser conservados<br />
documentos tais como resultados<br />
nominativos dos exames analíticos<br />
198<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
ealizados, resultados dos programas<br />
<strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, resultado<br />
das vistorias da Vigilância Sanitária,<br />
contrato celebrado com a empresa<br />
coletora dos resíduos, acordos relativos<br />
à aquisição <strong>de</strong> equipamentos e<br />
reagentes; protocolos <strong>de</strong> colaboração<br />
com outros laboratórios.<br />
Procedimentos Operacionais<br />
Padrão<br />
Os procedimentos operacionais<br />
escritos <strong>de</strong>finem como realizar a<br />
ativida<strong>de</strong> laboratorial em toda a sua<br />
extensão, sendo exigidos por todos<br />
os regulamentos existentes das<br />
Boas Práticas Laboratoriais (BPL).<br />
Estes procedimentos escritos são<br />
<strong>para</strong> diversas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotina<br />
envolvidas na realização <strong>de</strong> tarefas<br />
a serem cumpridas.<br />
Constituem os Procedimentos<br />
Operacionais Padrões (POPs) instruções<br />
aprovadas pela gerência e ou<br />
orientadores <strong>de</strong> ensino, necessários<br />
ao cientista <strong>para</strong> <strong>de</strong>sempenhar sua<br />
ativida<strong>de</strong> e efetuar ação corretiva,<br />
caso ocorra algo errado, em locais<br />
múltiplos por diversos cientistas.<br />
Os POPs <strong>de</strong>vem ser redigidos <strong>de</strong> tal<br />
forma que seja suficientemente geral<br />
<strong>para</strong> permitir a utilização <strong>de</strong> técnicas<br />
familiares <strong>para</strong> cada cientista e/ou<br />
pesquisador (Oliveira, 2006).<br />
Para elaboração dos POPs, po<strong>de</strong>m<br />
ser utilizados como suplemento livros<br />
textos, artigos, fichas, resumos<br />
e literatura técnica. Os sumários<br />
<strong>de</strong>stes po<strong>de</strong>m ser usados como referência<br />
nas bancadas <strong>para</strong> orientação<br />
dos profissionais.<br />
Certificação<br />
Segundo Oliveira (2006), as empresas<br />
buscam a certificação <strong>para</strong><br />
regulamentarem-se, normatizando<br />
suas ativida<strong>de</strong>s e processos. Os<br />
serviços ou processos certificados<br />
recebem o selo da entida<strong>de</strong> Internacional<br />
Organization for Standardization<br />
- ISO, da qual o Brasil participa<br />
por meio da Associação Brasileira <strong>de</strong><br />
Normas Técnicas (ABNT).<br />
O processo <strong>de</strong> certificação <strong>de</strong>mora<br />
no mínimo seis meses, sendo<br />
um processo contínuo, que começa<br />
com uma auditoria inicial e semestralmente<br />
os auditores fazem manutenção<br />
<strong>para</strong> avaliar se o programa<br />
está sendo cumprido rigorosamente.<br />
O selo é recebido após serem cumpridos<br />
todos os requisitos solicitados<br />
pelas normas. A certificação po<strong>de</strong><br />
ser feita com auxílio <strong>de</strong> uma consultoria<br />
(Oliveira, 2006).<br />
Acreditação<br />
De acordo com Oliveira (2006),<br />
acreditação é um programa <strong>de</strong><br />
reconhecimento da competência<br />
técnica dos laboratórios, através<br />
do atendimento a requisitos préestabelecidos,<br />
valiosos quando é<br />
necessário comprovar boas práticas<br />
a autorida<strong>de</strong>s sanitárias, consumidores<br />
e compradores <strong>de</strong> serviços.<br />
Os programas nacionais <strong>de</strong> acreditação,<br />
promovidos por socieda<strong>de</strong>s<br />
científicas, são <strong>de</strong>nominados: Programa<br />
<strong>de</strong> Acreditação <strong>de</strong> Laboratórios<br />
Clínicos (PALC), da Socieda<strong>de</strong><br />
Brasileira <strong>de</strong> Patologia Clínica e<br />
Departamento <strong>de</strong> Inspeção e Cre<strong>de</strong>nciamento<br />
da Qualida<strong>de</strong> (DICQ)<br />
da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Análises<br />
Clínicas (SBAC).<br />
Internacionalmente o cre<strong>de</strong>nciamento<br />
po<strong>de</strong> ser pelo Colégio Americano<br />
<strong>de</strong> Patologia (CAP).<br />
Em todos os processos <strong>de</strong> acreditação<br />
os programas são semelhantes.<br />
Após a a<strong>de</strong>quação das<br />
exigências, o laboratório passa pelas<br />
auditorias específicas, e aten<strong>de</strong>ndo<br />
os requisitos, é concedido ou não o<br />
certificado. A Acreditação é anual<br />
<strong>de</strong>vendo ser renovada sempre com<br />
nova auditoria.<br />
Controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
O controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, <strong>para</strong> Oliveira<br />
(2006), visa à auto-avaliação,<br />
capacitação técnica, i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> problemas e correções quando<br />
necessárias nos ambientes <strong>de</strong> trabalho.<br />
Os programas existentes são da<br />
Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Patologia<br />
Clínica, sendo o Programa <strong>de</strong> Excelência<br />
<strong>para</strong> Laboratórios Médicos<br />
(PELM) e pela Socieda<strong>de</strong> Brasileira<br />
<strong>de</strong> Análises Clínicas, o Programa Nacional<br />
<strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong>.<br />
Os ensaios controlados <strong>de</strong>vem<br />
fazer parte da rotina do laboratório,<br />
sendo realizados com a mesma metodologia<br />
e equipamentos utilizados<br />
nos exames dos clientes. O controle<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> interna e externa é<br />
complementar e um não substitui<br />
o outro. O controle interno informa<br />
o comportamento das análises dos<br />
ensaios <strong>de</strong> todos os dias e o controle<br />
externo fornece o quanto o laboratório<br />
está <strong>de</strong> acordo segundo os outros<br />
laboratórios.<br />
A execução do programa é <strong>de</strong><br />
responsabilida<strong>de</strong> do pessoal interno<br />
do laboratório, sendo que a instituição<br />
provedora do programa se compromete<br />
a fornecer o material <strong>para</strong><br />
teste. Os programas básicos são das<br />
áreas <strong>de</strong> bioquímica, coagulação,<br />
hormônios, drogas terapêuticas,<br />
eletroforese <strong>de</strong> proteínas, gasometria,<br />
imunologia e uroanálise<br />
(Oliveira, 2006).<br />
O laboratório clínico e a eliminação<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos e<br />
infecciosos<br />
A resolução nº. 283/12 <strong>de</strong> julho<br />
<strong>de</strong> 2001, do Conselho Nacional do<br />
Meio Ambiente - Conama refere-se<br />
200<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
ao tratamento e <strong>de</strong>stinação final dos<br />
resíduos dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com<br />
vistas a preservar a saú<strong>de</strong> pública e<br />
o meio ambiente. Para efeitos <strong>de</strong>sta<br />
resolução os resíduos <strong>de</strong> serviços<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são aqueles provenientes<br />
<strong>de</strong> qualquer unida<strong>de</strong> que execute<br />
ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> natureza médicoassistencial<br />
humana ou animal e<br />
aqueles provenientes <strong>de</strong> centros<br />
<strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimento ou<br />
experimentação na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
e Farmacologia.<br />
O Plano <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong><br />
Resíduos <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> –<br />
PGRSS é um documento integrante<br />
do processo <strong>de</strong> licenciamento<br />
ambiental, baseado nos princípios<br />
da não geração <strong>de</strong> resíduos e na<br />
minimização <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> resíduos,<br />
contemplando os aspectos<br />
referentes à geração, segregação,<br />
acondicionamento, coleta, armazenamento,<br />
transporte, tratamento e<br />
disposição final, bem como proteção<br />
a saú<strong>de</strong> pública. Esse plano <strong>de</strong>ve ser<br />
elaborado pelo gerador <strong>de</strong> resíduos,<br />
<strong>de</strong> acordo com critérios estabelecidos<br />
pelos Órgãos <strong>de</strong> Vigilância Sanitária<br />
e Órgãos Ambientais, em suas<br />
esferas Fe<strong>de</strong>ral, Estadual e Municipal<br />
(Resolução 283/2001).<br />
A resolução 283/2001 do Conama<br />
classifica os resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> em grupos A, B, C e D. Os<br />
resíduos dos laboratórios <strong>de</strong> análises<br />
clínicas estão no grupo A e C. No<br />
grupo A estão resíduos que apresentam<br />
risco potencial à saú<strong>de</strong> e ao<br />
meio ambiente <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong><br />
materiais biológicos, como inóculos,<br />
misturas <strong>de</strong> microrganismos e meios<br />
<strong>de</strong> cultura provenientes <strong>de</strong> laboratório<br />
<strong>de</strong> análises clínicas. Os resíduos<br />
do grupo A <strong>de</strong>vem ser submetidos a<br />
processos <strong>de</strong> tratamento específicos,<br />
<strong>de</strong> maneira a torná-los resíduos comuns<br />
do Grupo D.<br />
No grupo C estão rejeitos radionuclí<strong>de</strong>os,<br />
provenientes <strong>de</strong> laboratórios<br />
<strong>de</strong> análises clínicas, serviços<br />
<strong>de</strong> medicina nuclear e radioterapia<br />
que obe<strong>de</strong>cerão às exigências <strong>de</strong>finidas<br />
pela Comissão Nacional <strong>de</strong><br />
Energia Nuclear – CNEN (Resolução<br />
283/2001).<br />
A Agência Americana <strong>de</strong> Proteção<br />
ao Meio Ambiente, Envirommental<br />
Protection Agency (EPA), iniciou<br />
seus trabalhos em 1976, regulamentando<br />
a manipulação e <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>tritos perigosos sob supervisão do<br />
RCRA, Resource Conservation and<br />
Recovery. De acordo com Sannazzaro<br />
(1989), os <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />
são <strong>de</strong>finidos como espécimes<br />
clínicos, culturas que contenham<br />
microrganismos capazes <strong>de</strong> causar<br />
doenças em humanos, elementos<br />
contun<strong>de</strong>ntes que tiveram contato<br />
com pacientes e/ou espécimes, pipetas<br />
e tubos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> sangue<br />
<strong>de</strong>scartáveis, frascos vazios e alguns<br />
TIPO<br />
Detritos microbiológicos<br />
(culturas, etc.)<br />
Sangue/produtos do<br />
sangue<br />
CDC<br />
Infeccioso<br />
Sim<br />
casos carcaças e partes <strong>de</strong> animais<br />
<strong>de</strong> laboratório.<br />
Para este teórico nos Estados<br />
Unidos, a Joint Comission Accreditation<br />
of Hospitals (JCAGH) tem<br />
influência nos cuidados com a saú<strong>de</strong>,<br />
principalmente na administração <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>tritos microbiológicos, sangue e<br />
agulhas usadas. O College of American<br />
Pathologist (CAP), <strong>para</strong> creditar<br />
um laboratório exige que exista local<br />
<strong>para</strong> <strong>de</strong>pósito dos <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />
e haja o cumprimento das regras<br />
estabelecidas pelo E.P.A., e pelo<br />
Center for Disease Control (CDC)<br />
(Sannazzaro, 1989).<br />
A Tabela 2 classifica os <strong>de</strong>tritos<br />
infecciosos segundo o Envirommental<br />
Protection Agency e Center for<br />
Disease Control (CDC), agências<br />
americanas <strong>de</strong> proteção ao meio<br />
ambiente.<br />
Segundo a legislação americana,<br />
recomenda-se que na coleta e<br />
transporte <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />
Tabela 2. Classificação dos <strong>de</strong>tritos infecciosos pelo EPA e CDC (*)<br />
Detritos isolados <strong>de</strong><br />
doenças comunicáveis<br />
Detritos patológicos<br />
(materiais <strong>de</strong> autópsia)<br />
Detritos <strong>de</strong> Espécimes <strong>de</strong><br />
Laboratórios<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Não<br />
EPA<br />
Infeccioso<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Sim<br />
Opcional<br />
Detritos Cirúrgicos Não Opcional<br />
(*) CDC = US Center for Disease Control<br />
EPA = US Environmental Protection Agency<br />
Fonte: Sannazzaro. O laboratório clínico e a eliminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos. p.64<br />
202<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Tabela 3. Recomendações da EPA e CDC <strong>para</strong> <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />
Tipo <strong>de</strong> Detrito EPA CDC<br />
Material cortante/ou contun<strong>de</strong>nte Esterilização a vapor incineração Esterilização a vapor incineração<br />
Microbiológico<br />
Esterilização a vapor incineração<br />
Desinfecção química<br />
Esterilização a vapor incineração<br />
Sangue e produtos do sangue Esterilização a vapor incineração-esgoto Esterilização a vapor Esgoto<br />
Carcaça <strong>de</strong> animais ou partes Esterilização a vapor incineração N.A.**<br />
Outros <strong>de</strong>tritos Esterilização a vapor incineração N.A.**<br />
** = N.A. = Não aplicável<br />
Fonte: Sannazzaro. O laboratório clínico e a eliminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos. P.66<br />
sejam usados sacos plásticos vermelhos<br />
grossos e resistentes, caixa<br />
plástica em material rígido e resistente<br />
<strong>para</strong> preservar os <strong>de</strong>tritos<br />
durante a estocagem e transporte.<br />
Os materiais cortantes <strong>de</strong>vem ser<br />
coletados em saco vermelho rígidos,<br />
à prova <strong>de</strong> furos, e os <strong>de</strong>tritos<br />
líquidos <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scartados<br />
em recipientes selados. Todos os<br />
recipientes <strong>de</strong>vem estar gravados<br />
<strong>de</strong> maneira visível as palavras “Detritos<br />
Infecciosos e Detritos Perigosos”<br />
(Sannazzaro, 1989).<br />
A Tabela 3 ilustra as recomendações<br />
do EPA e CDC <strong>para</strong> a <strong>de</strong>stinação<br />
final <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos.<br />
Responsabilida<strong>de</strong> legal dos<br />
exames<br />
Segundo a Socieda<strong>de</strong> Brasileira<br />
<strong>de</strong> Análises Clínicas (SBAC), somente<br />
o biomédico, o farmacêutico<br />
especializado em análises clínicas e<br />
o médico patologista clínico po<strong>de</strong>m<br />
exercer responsabilida<strong>de</strong>s técnicas<br />
em análises clínicas, fornecendo<br />
laudos diagnósticos.<br />
A Lei Municipal nº. 8.764, <strong>de</strong> 18<br />
<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1978, impossibilitou<br />
os farmacêuticos <strong>de</strong> assumirem<br />
a chefia do serviço <strong>de</strong> Patologia<br />
Clínica, pois <strong>de</strong>stinou o cargo a<br />
médicos, regularmente inscritos<br />
no Conselho Regional <strong>de</strong> Medicina,<br />
mas a chefia dos laboratórios <strong>de</strong><br />
análises clínicas não é privativa<br />
<strong>de</strong> médicos. Segundo o Conselho<br />
Regional <strong>de</strong> Medicina do Estado<br />
<strong>de</strong> São Paulo - Cremesp (1983),<br />
esses serviços, quer no âmbito do<br />
po<strong>de</strong>r público, quer na iniciativa<br />
privada, po<strong>de</strong>rão ser executados<br />
pelos farmacêuticos-bioquímicos<br />
<strong>de</strong>vidamente inscritos no Conselho<br />
Regional <strong>de</strong> Farmácia, estando inclusive<br />
qualificados <strong>para</strong> o exercício<br />
dos cargos <strong>de</strong> chefia ou direção.<br />
De acordo com a Resolução<br />
nº78, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2002 do<br />
Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Biomedicina, o<br />
biomédico po<strong>de</strong>rá ser responsável<br />
técnico em laboratório <strong>de</strong> análises<br />
clínicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que comprovada a<br />
realização do estágio com duração<br />
igual ou superior a quinhentas<br />
horas em instituições oficiais ou<br />
particulares, reconhecidas pelo<br />
órgão competente no Ministério da<br />
Educação ou em laboratório conveniado<br />
com instituições <strong>de</strong> nível<br />
superior, ou cursos <strong>de</strong> especialização<br />
reconhecido pelo MEC. Exige-se<br />
também que possua as disciplinas<br />
<strong>de</strong> Patologia Clínica, Parasitologia,<br />
Microbiologia, Imunologia, Hematologia,<br />
Bioquímica, Banco <strong>de</strong> Sangue<br />
e outras especialida<strong>de</strong>s.<br />
O profissional biomédico com<br />
habilitação em análises clínicas tem<br />
competência legal <strong>para</strong> assumir<br />
e executar o processamento <strong>de</strong><br />
sangue, suas sorologias e exames<br />
pré-transfusionais e é capacitado<br />
legalmente <strong>para</strong> assumir chefias<br />
técnicas, assessorias e direção<br />
<strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s.<br />
A R e s o l u ç ã o n º . 0 1 2 d e<br />
19/07/1993, do Conselho Regional<br />
<strong>de</strong> Biologia, <strong>de</strong>liberou que o profissional<br />
legalmente habilitado em<br />
Ciências Biológicas po<strong>de</strong>rá solicitar<br />
aos Conselhos Regionais <strong>de</strong> Biologia<br />
o Termo <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Técnica<br />
em Análises Clínicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha<br />
como experiência profissional estágio<br />
supervisionado em análises clínicas<br />
com duração mínima <strong>de</strong> 360 horas.<br />
A Resolução 296/96 do Conselho<br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Farmácia normatiza o<br />
exercício das análises clínicas pelo<br />
farmacêutico- bioquímico.<br />
Nos requerimentos <strong>para</strong> registros <strong>de</strong><br />
204<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas, o mesmo<br />
<strong>de</strong>verá ser registrado no conselho<br />
que o profissional responsável esteja<br />
inscrito, sendo este <strong>de</strong> Biomedicina, <strong>de</strong><br />
Medicina, <strong>de</strong> Farmácia e Biologia.<br />
Em Portugal, o Estado reconhece<br />
às or<strong>de</strong>ns dos farmacêuticos e<br />
dos médicos a competência <strong>para</strong> a<br />
atribuição <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> especialistas<br />
na área <strong>de</strong> análises. Somente estes<br />
especialistas po<strong>de</strong>m ser diretores <strong>de</strong><br />
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas.<br />
Os títulos <strong>de</strong> especialistas atribuídos<br />
pela Or<strong>de</strong>m dos Farmacêuticos<br />
<strong>de</strong> Portugal (2003) exigem<br />
do candidato aprovação no exame<br />
realizado na Or<strong>de</strong>m, com provas<br />
teóricas, práticas e análise <strong>de</strong> currículo,<br />
perante um júri nacional constituído<br />
por especialistas pertencentes<br />
ao colégio da Especialida<strong>de</strong> em<br />
Análises Clínicas da Or<strong>de</strong>m. Após<br />
formação universitária <strong>de</strong> cinco<br />
anos, <strong>de</strong>ve seguir-se uma formação<br />
especializada <strong>de</strong> pelo menos quatro<br />
anos, realizada na Universida<strong>de</strong> e<br />
em laboratórios hospitalares ou<br />
privados reconhecidos.<br />
Contudo, o título <strong>de</strong> especialista<br />
obtido com esta formação não permite<br />
aos farmacêuticos assumirem<br />
a direção técnica dos laboratórios<br />
privados, nem a chefia dos laboratórios<br />
públicos, reservadas apenas<br />
aos médicos que, por sua vez, estão<br />
integrados nas carreiras médicas.<br />
Discussão<br />
O presente artigo apresentou-se<br />
como um breve manual <strong>para</strong> consulta<br />
em relação a normas <strong>para</strong> laboratórios<br />
<strong>de</strong> análises clínicas. É importante<br />
ressaltar que os tópicos apresentados<br />
não preten<strong>de</strong>m esgotar as possibilida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> consultas e avaliações nesta<br />
temática e sim contribuir <strong>para</strong> revisão<br />
bibliográfica. Novos estudos <strong>de</strong>vem<br />
ser <strong>de</strong>senvolvidos na presente temática<br />
<strong>para</strong> que haja aprofundamento e<br />
maior compreensão do assunto.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
Adriana Antônia da Cruz Furini<br />
adriana@unirpnet.com.br<br />
Referências Bibliográficas<br />
1.<br />
2.<br />
3.<br />
4.<br />
5.<br />
6.<br />
7.<br />
8.<br />
9.<br />
10.<br />
11.<br />
12.<br />
Oliveira CJR. Manual <strong>de</strong> Boas Práticas – Laboratórios clínicos. 1. ed. São Paulo: Ponto Crítico, 2006. 144p.<br />
Brasil. Decreto – Lei n.217/99, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 99/2000. Desenvolve o regime jurídico criado pelo Decreto – Lei nº. 19/93, no<br />
que concerne ao licenciamento dos laboratórios. Disponível em: http://www.or<strong>de</strong>mdosmedicos.pt/ie/ institucional/CNE/legislacao/<br />
Declei217_99. Acesso em: 22 out. 2003.<br />
Comissão Interna <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte. Disponível em: http://www.puc-rio.br/parcerias/cipa/clt/sec05.html . Acesso em: 05 mar.<br />
2004.<br />
Manual CIPA. A nova NR5. A CIPA é obrigatória <strong>para</strong> empresas que possuam empregados com vínculo <strong>de</strong> emprego. Disponível<br />
em: www.ib.unicamp.br/institucional/ib/cipa/manual.pdf. Acesso: em 18 mar. 2004<br />
Brasil. Resolução n 283, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001. Dispõe sobre o tratamento e a <strong>de</strong>stinação final dos resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />
Diário Oficial da União, Brasília, p.1-5.<br />
Sannazzaro CAC, Coelho LT, Lima VC et al. O laboratório clínico e a eliminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos. Laes/Haes, 10(60): 60-67.<br />
1989.<br />
Cremesp. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/legislacao/pareceres/parcrn/1453-34_1983.htm. Acesso em: 20 set. 2003.<br />
Conselho Regional <strong>de</strong> Biomedicina. Ato Profissional Biomédico. Disponível em: http://www.crbm1.com.br/bio47/rev16.asp. Acesso em:<br />
10 set. 2003.<br />
O Biomédico. Disponível em: http://www.25.brinkster.com/agab/bio.htm. Acesso em: 10 set. 2003.<br />
Nossa história, mensagem do presi<strong>de</strong>nte, referimento do CRBIO – 2 símbolo do biólogo. Disponível em: http://www.abio2.org.br/<br />
renducao.asp. Acesso em: 28 jan. 2004.<br />
Brasil. Conselho Regional <strong>de</strong> Farmácia. Deliberação n.535, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2001. Dispõe sobre o Exercício Profissional <strong>de</strong> Farmacêuticos-<br />
Bioquimicos em Laboratórios <strong>de</strong> Análises Clinicas. CRF/PR, Paraná, p.1-4. Disponível em: http://www.crfpr.org.br/legislacao/legisprofissional/<br />
<strong>de</strong>ll535analcli.htm. Acesso em: 10 set. 2003.<br />
Portugal. Or<strong>de</strong>m dos Farmacêuticos. Análises Clínicas. Disponível em: www.or<strong>de</strong>mfarmaceuticos.pt/frontffice/pager/<strong>de</strong>faultcatgory/.<br />
Acesso em: 05 set. 2003.<br />
206<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Artigo<br />
Avaliação do Conhecimento sobre Biossegurança em<br />
Trabalhadores <strong>de</strong> Laboratórios <strong>de</strong> Análises Clínicas<br />
Tatiana Barbaresco 1 , Jorge Luiz Freire Pinto 2 , Alexandre Luiz Affonso Fonseca 2 ,<br />
Luciana Zambeli Caputo 2 , Juliana Pereira 2 , Fernando Luiz Affonso Fonseca 2,3<br />
1 - Aluna do Curso <strong>de</strong> Especialização Lato Sensu em Análises Clínicas - IPESSP<br />
2 - Professores do Curso <strong>de</strong> Especialização Lato Sensu em Análises Clínicas - IPESSP<br />
3 - Professor do Curso <strong>de</strong> Ciências Farmacêuticas da FMABC, Chefe do Laboratório <strong>de</strong> Análises Clínicas da FMABC<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Avaliação do conhecimento sobre biossegurança em<br />
trabalhadores <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas<br />
Biossegurança ou segurança biológica refere-se à aplicação do<br />
conhecimento, técnicas e equipamentos com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir<br />
a exposição do trabalhador, laboratório e ambiente a agentes potencialmente<br />
infecciosos que possam ser seguramente manipulados e<br />
contidos <strong>de</strong> forma segura. Este artigo trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa com<br />
trabalhadores da área da saú<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se submeteram a respon<strong>de</strong>r<br />
um questionário referente a conhecimentos e práticas <strong>de</strong> biossegurança.<br />
Percebe-se que muitos dos profissionais avaliados conhecem as<br />
práticas e normas <strong>de</strong> biossegurança, porém nem sempre as utilizam<br />
e outros não as utilizam corretamente.<br />
Palavras-chave: Análises clínicas, risco ocupacional,<br />
segurança biológica<br />
Evaluation of the knowledge about biological security<br />
among clinical laboratories workers<br />
Biological security refers to the use of knowledge, techniques<br />
and equipment to prevent the exposal of workers, laboratories<br />
and environments to potentially infectious agents that can be<br />
safely manipulated and contained. This article is based on a<br />
questionnaire about biological security knowledge and procedures<br />
that was answered by health care workers. It conclu<strong>de</strong>s<br />
that most of the professionals know proper biological security,<br />
but not often make correct use of them.<br />
Keywords: Clinical analysis, occupational risk, biological<br />
security<br />
Introdução<br />
No Brasil, a legislação <strong>de</strong><br />
Biossegurança foi criada em<br />
1995 e, apesar da gran<strong>de</strong><br />
incidência <strong>de</strong> doenças ocupacionais<br />
em profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, englobava<br />
apenas a tecnologia <strong>de</strong> engenharia<br />
genética, estabelecendo os requisitos<br />
<strong>para</strong> o manejo <strong>de</strong> organismos geneticamente<br />
modificados (Funasa – Vigilância<br />
Epi<strong>de</strong>miológica, 2001).<br />
Biossegurança ou segurança biológica<br />
refere-se à aplicação do conhecimento,<br />
técnicas e equipamentos com<br />
a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir a exposição<br />
do trabalhador, laboratório e ambiente<br />
a agentes potencialmente infecciosos<br />
ou biorriscos. Biossegurança <strong>de</strong>fine as<br />
condições sobre as quais os agentes<br />
infecciosos po<strong>de</strong>m ser seguramente<br />
manipulados e contidos <strong>de</strong> forma segura<br />
(Mastroeni, 2006).<br />
A lógica da construção do conceito<br />
<strong>de</strong> biossegurança teve seu inicio<br />
na década <strong>de</strong> 1970 na reunião <strong>de</strong><br />
Asilomar na Califórnia, on<strong>de</strong> a comunida<strong>de</strong><br />
científica iniciou a discussão<br />
sobre os impactos da engenharia<br />
genética na socieda<strong>de</strong>. Foi a primeira<br />
vez que se discutiram os aspectos<br />
<strong>de</strong> proteção aos pesquisadores e<br />
<strong>de</strong>mais profissionais envolvidos nas<br />
áreas on<strong>de</strong> se realiza o projeto <strong>de</strong><br />
pesquisa. A partir daí o termo biossegurança,<br />
vem, ao longo dos anos,<br />
sofrendo alterações.<br />
O foco <strong>de</strong> atenção voltava-se <strong>para</strong><br />
a saú<strong>de</strong> do trabalhador frente aos riscos<br />
biológicos no ambiente ocupacional.<br />
Já na década <strong>de</strong> 1980, a própria<br />
OMS (WHO, 1993) incorporou a essa<br />
<strong>de</strong>finição os chamados riscos periféricos<br />
presentes em ambientes laboratoriais<br />
que trabalhavam com agentes<br />
112<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
patogênicos <strong>para</strong> o homem, como os<br />
riscos químicos, físicos, radioativos e<br />
ergonômicos. Nos anos 1990, verificamos<br />
que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> biossegurança<br />
sofre mudanças significativas.<br />
As infecções contraídas em um laboratório<br />
têm sido <strong>de</strong>scritas por meio<br />
da história da microbiologia. Os relatórios<br />
<strong>de</strong> microbiologia publicados<br />
na virada do século <strong>de</strong>screvem casos<br />
<strong>de</strong> tifo, cólera, mormo, brucelose e<br />
tétano associados a laboratórios. Em<br />
1941, Meyer e Eddie publicaram uma<br />
pesquisa <strong>de</strong> 74 casos <strong>de</strong> brucelose<br />
associados a laboratórios, ocorridos<br />
nos Estados Unidos, e concluíram<br />
que “a manipulação <strong>de</strong> culturas ou<br />
espécimes ou ainda a inalação da<br />
poeira contendo bactéria Brucella<br />
é eminentemente perigosa <strong>para</strong> os<br />
trabalhadores <strong>de</strong> um laboratório”.<br />
Inúmeros casos foram atribuídos à<br />
falta <strong>de</strong> cuidados ou a uma técnica<br />
<strong>de</strong> manuseio ruim <strong>de</strong> materiais infecciosos<br />
(Funasa – Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica,<br />
2001).<br />
Em, 1949, Sulkim e Pike publicaram<br />
a primeira <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />
pesquisas sobre infecções associadas<br />
a laboratórios. Em 1951, Sulkim<br />
e Pike publicaram a segunda <strong>de</strong> uma<br />
série <strong>de</strong> pesquisas baseada em um<br />
questionário a 5.000 laboratórios.<br />
A brucelose era a infecção mais<br />
freqüentemente encontrada nos relatórios<br />
em relação às infecções contraídas<br />
em um laboratório. O índice<br />
total <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> 3% e<br />
somente 16% <strong>de</strong> todas as infecções<br />
relatadas estavam associadas a um<br />
aci<strong>de</strong>nte documentado. A maioria<br />
<strong>de</strong>stes estava relacionada ao uso<br />
<strong>de</strong> pipetas, seringas e agulhas. Em<br />
1974, Skinholj publicou os resultados<br />
<strong>de</strong> uma pesquisa segundo a<br />
qual os funcionários dos laboratórios<br />
clínicos dinamarqueses apresentavam<br />
uma alta incidência <strong>de</strong> hepatite<br />
(2,3 casos ao ano por 1.000<br />
funcionários), sete vezes maior que<br />
a população em geral. A hepatite B<br />
e a shigelose também eram conhecidas<br />
por serem um contínuo risco<br />
ocupacional (Costa, 2000).<br />
Na opinião <strong>de</strong> especialistas que<br />
discutem a biossegurança, o gran<strong>de</strong><br />
problema não está nas tecnologias<br />
disponíveis <strong>para</strong> eliminar ou minimizar<br />
os riscos e, sim, no comportamento<br />
dos profissionais (Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
Pública, 2005).<br />
Os trabalhadores que manipulam<br />
agentes infecciosos <strong>de</strong>vem receber<br />
treinamento e atualizações constantes<br />
em relação às técnicas <strong>de</strong> biossegurança.<br />
Cada laboratório e/ou instituição<br />
<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver seu próprio<br />
manual <strong>de</strong> biossegurança, i<strong>de</strong>ntificando<br />
os riscos e procedimentos <strong>de</strong><br />
contorná-los, <strong>de</strong> forma a garantir a<br />
segurança ao trabalhador, ambiente<br />
e processo (Mastroeni, 2006)<br />
Quando as práticas laboratoriais<br />
padrões não forem suficientes <strong>para</strong><br />
controlar os perigos associados a um<br />
agente ou a um procedimento laboratorial<br />
em partículas, medidas adicionais<br />
po<strong>de</strong>rão ser necessárias. O diretor do<br />
laboratório será o responsável pela<br />
seleção das práticas adicionais <strong>de</strong> segurança<br />
que <strong>de</strong>vem estar relacionadas<br />
aos riscos associados aos agentes ou<br />
aos procedimentos (Funasa – Vigilância<br />
Epi<strong>de</strong>miológica, 2001).<br />
A equipe, as práticas <strong>de</strong> segurança<br />
e as técnicas laboratoriais <strong>de</strong>verão<br />
ser complementadas com um projeto<br />
apropriado das instalações e<br />
das características da arquitetura,<br />
do equipamento <strong>de</strong> segurança e das<br />
práticas <strong>de</strong> gerenciamento (Funasa –<br />
Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica, 2001). Os<br />
equipamentos <strong>de</strong> segurança são consi<strong>de</strong>rados<br />
barreiras primárias, visando<br />
a proteger o trabalhador e o ambiente<br />
laboratorial (Mastroeni, 2006).<br />
Segundo o Ministério do Trabalho<br />
e Emprego (MTE), na Norma Regulamentadora<br />
6 (NR 6), da Portaria<br />
3.214, consi<strong>de</strong>ra-se Equipamento<br />
<strong>de</strong> Proteção Individual (EPI) todo<br />
dispositivo ou produto, <strong>de</strong> uso individual<br />
utilizado pelo trabalhador,<br />
<strong>de</strong>stinado à proteção <strong>de</strong> riscos<br />
suscetíveis <strong>de</strong> ameaçar a segurança<br />
e a saú<strong>de</strong> no trabalho. Já os<br />
equipamentos <strong>de</strong> proteção coletiva<br />
(EPC), como o próprio nome sugere,<br />
dizem respeito ao coletivo, <strong>de</strong>vendo<br />
proteger todos os trabalhadores expostos<br />
a <strong>de</strong>terminado risco (http://<br />
www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/<br />
bisbiogr.htm).<br />
Conforme as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />
no laboratório, <strong>de</strong>vem ser<br />
disponíveis aos seguintes EPC: cabine<br />
<strong>de</strong> segurança biológica, cabine<br />
<strong>de</strong> segurança química, chuveiro <strong>de</strong><br />
emergência, lava-olhos, equipamento<br />
<strong>de</strong> combate a incêndio e kit <strong>para</strong><br />
<strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> produtos químicos.<br />
Todos estes equipamentos <strong>de</strong>vem<br />
ser mantidos em boas condições <strong>de</strong><br />
funcionamento, sendo recomendado<br />
um programa <strong>para</strong> inspeção periódica<br />
(Mastroeni, 2006). As barreiras<br />
secundárias nos laboratórios po<strong>de</strong>m<br />
incluir o isolamento da área <strong>de</strong> trabalho<br />
<strong>para</strong> o acesso público, a disponibilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pendência <strong>para</strong><br />
<strong>de</strong>scontaminação (por exemplo, uma<br />
autoclave) e as <strong>de</strong>pendências <strong>para</strong> a<br />
lavagem das mãos.<br />
Existem quatro níveis <strong>de</strong> segurança<br />
classificados conforme a ativida<strong>de</strong><br />
e o microrganismo <strong>de</strong> maior risco<br />
envolvido no trabalho (Oplustil, C.P;<br />
et al. 2004). O nível <strong>de</strong> Biossegurança<br />
1 é o <strong>de</strong> contenção laboratorial, que<br />
se aplica aos laboratórios <strong>de</strong> ensino<br />
básico, on<strong>de</strong> são manipulados os microrganismos<br />
pertencentes a classe<br />
<strong>de</strong> risco 1. Não é requerida nenhuma<br />
característica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, além <strong>de</strong><br />
114<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
um bom planejamento espacial e<br />
funcional e a adoção <strong>de</strong> boas práticas<br />
laboratoriais. O risco individual e <strong>para</strong><br />
a comunida<strong>de</strong> é ausente ou muito baixo,<br />
ou seja, são microrganismos que<br />
têm baixa probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar<br />
infecções no homem ou em animais.<br />
Exemplos: Bacillus subtilis. (http://<br />
www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/<br />
bisbiogr.htm).<br />
O nível <strong>de</strong> Biossegurança 2 diz<br />
respeito ao laboratório em contenção,<br />
on<strong>de</strong> são manipulados microrganismos<br />
da classe <strong>de</strong> risco 2. É<br />
aplicado aos laboratórios clínicos ou<br />
hospitalares <strong>de</strong> níveis primários <strong>de</strong><br />
diagnóstico, sendo necessário, além<br />
da adoção das boas práticas, o uso<br />
<strong>de</strong> barreiras físicas primárias (cabine<br />
<strong>de</strong> segurança biológica e equipamentos<br />
<strong>de</strong> proteção individual) e<br />
secundárias (<strong>de</strong>senho e organização<br />
do laboratório). O vírus da hepatite<br />
B, o HIV, a salmonela e o Toxoplasma<br />
spp. são exemplos <strong>de</strong> microrganismos<br />
<strong>de</strong>signados <strong>para</strong> esse nível <strong>de</strong><br />
contenção. O nível <strong>de</strong> Biossegurança<br />
2 é a<strong>de</strong>quando <strong>para</strong> qualquer trabalho<br />
que envolva sangue humano,<br />
líquidos corporais, tecidos ou linhagens<br />
<strong>de</strong> células humanas primárias<br />
em que a presença <strong>de</strong> um agente<br />
infeccioso po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconhecida.<br />
Os perigos primários em relação aos<br />
funcionários que trabalham com esses<br />
agentes estão relacionados com<br />
aci<strong>de</strong>ntes percutâneos das exposições<br />
da membrana mucosa ou com<br />
a ingestão <strong>de</strong> materiais infecciosos.<br />
(http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/bisbiogr.htm).<br />
O nível <strong>de</strong> Biossegurança 3 é<br />
<strong>de</strong>stinado ao trabalho com microrganismos<br />
da classe <strong>de</strong> risco 3 ou <strong>para</strong><br />
manipulação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes e<br />
altas concentrações <strong>de</strong> microrganismos<br />
da classe <strong>de</strong> risco 2. Para este<br />
nível <strong>de</strong> contenção são requeridos<br />
além dos itens referidos no nível 2,<br />
<strong>de</strong>senho e construção laboratoriais<br />
especiais. Deve ser mantido controle<br />
rígido quanto à operação, inspeção e<br />
manutenção das instalações e equipamentos<br />
e o pessoal técnico <strong>de</strong>ve<br />
receber treinamento específico sobre<br />
procedimentos <strong>de</strong> segurança <strong>para</strong> a<br />
manipulação <strong>de</strong>stes microrganismos<br />
(http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/bisbiogr.htm).<br />
O nível <strong>de</strong> Biossegurança 4, ou<br />
laboratório <strong>de</strong> contenção máxima,<br />
<strong>de</strong>stina-se à manipulação <strong>de</strong> microrganismos<br />
da classe <strong>de</strong> risco 4, on<strong>de</strong><br />
há o mais alto nível <strong>de</strong> contenção,<br />
além <strong>de</strong> representar uma unida<strong>de</strong><br />
geográfica e funcionalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />
<strong>de</strong> outras áreas. Esses<br />
laboratórios requerem, além dos<br />
requisitos físicos e operacionais<br />
dos níveis <strong>de</strong> contenção 1, 2 e 3,<br />
barreiras <strong>de</strong> contenção (instalações,<br />
<strong>de</strong>senho equipamentos <strong>de</strong><br />
proteção) e procedimentos especiais<br />
<strong>de</strong> segurança. Os riscos primários<br />
aos trabalhadores que manuseiam<br />
agentes do nível <strong>de</strong> Biossegurança 4<br />
incluem a exposição respiratória aos<br />
aerossóis infecciosos, a exposição<br />
da membrana mucosa e/ou da pele<br />
lesionada às gotículas infecciosas e<br />
a auto-inoculação.<br />
O risco individual e <strong>para</strong> a comunida<strong>de</strong><br />
é elevado. São microrganismos<br />
que representam sério risco <strong>para</strong> o<br />
homem e <strong>para</strong> os animais, sendo<br />
altamente patogênicos, <strong>de</strong> fácil propagação,<br />
não existindo medidas profiláticas<br />
ou terapêuticas. Exemplos:<br />
Vírus Marburg e Vírus Ebola (http://<br />
www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/<br />
bisbiogr.htm).<br />
Uma das ativida<strong>de</strong>s mais importantes<br />
<strong>para</strong> manter a área física e os<br />
equipamentos em condições a<strong>de</strong>quadas<br />
é a limpeza geral do laboratório.<br />
A limpeza inclui o cuidado com as<br />
superfícies e com o resíduo gerado<br />
<strong>de</strong>ntro do laboratório. A ação do <strong>de</strong>sinfetante<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da natureza do material<br />
<strong>de</strong>rramado e da superfície a ser<br />
<strong>de</strong>scontaminada. Materiais com alta<br />
concentração <strong>de</strong> proteínas (sangue e<br />
soro) po<strong>de</strong>m inativar o <strong>de</strong>sinfetante<br />
(Oplustil, C.P; et al. 2004).<br />
Sabe-se que existem normas regulatórias,<br />
bem como classificações dos<br />
níveis <strong>de</strong> segurança, porém percebemos<br />
que nem todos os profissionais<br />
atuantes em análises clínicas possuem<br />
conhecimento ou ainda não são treinados<br />
<strong>para</strong> evitarem riscos e posteriores<br />
aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho. Dessa maneira,<br />
o estudo teve como objetivo avaliar<br />
o conhecimento <strong>de</strong> biossegurança<br />
dos profissionais que atuam na área<br />
técnica e administrativa em diferentes<br />
laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas da<br />
cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Materiais e Métodos<br />
Foi <strong>de</strong>senvolvido um questionário<br />
com 20 questões, pelas quais obtivemos<br />
dados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a formação do trabalhador<br />
até conhecimentos básicos<br />
e específicos sobre Biossegurança.<br />
O questionário aplicado também foi<br />
capaz <strong>de</strong> extrair conhecimento sobre<br />
medidas a serem tomadas caso ocorra<br />
um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho e a existência<br />
<strong>de</strong> protocolo que evite aci<strong>de</strong>ntes<br />
(Anexo 1).<br />
Um total <strong>de</strong> 33 profissionais atuantes<br />
em diferentes laboratórios <strong>de</strong><br />
análises clínicas distribuídos na cida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> São Paulo foi entrevistado pela pesquisadora<br />
(TB). A pesquisadora fazia<br />
contato telefônico com os laboratórios<br />
que foram escolhidos aleatoriamente<br />
e agendava a entrevista. A entrevista<br />
foi realizada no local <strong>de</strong> trabalho dos<br />
entrevistados em sala fechada com<br />
duração média <strong>de</strong> 30 minutos.<br />
116<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Resultados e<br />
Discussão<br />
Foram entrevistados 33 profissionais<br />
da área laboratorial e administrativa,<br />
<strong>de</strong>ntre os quais possuíam as seguintes<br />
formações: 36% biomédicos,<br />
9% biólogos, 3% farmacêuticos e 52%<br />
outros (auxiliares técnicos e técnicos<br />
<strong>de</strong> laboratório). A avaliação consistiu<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes no<br />
local <strong>de</strong> trabalho até a classificação<br />
do risco ocupacional.<br />
Quando perguntados sobre a<br />
ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho,<br />
30% dos entrevistados respon<strong>de</strong>ram<br />
que já sofreram algum tipo <strong>de</strong><br />
aci<strong>de</strong>nte (Gráfico 1). Sendo estes<br />
aci<strong>de</strong>ntes ocorrendo na sua maioria<br />
das vezes no manuseio do material<br />
no próprio laboratório (70% das<br />
respostas), os outros 30% estão<br />
distribuídos entre ambulatório e enfermaria<br />
(no momento da coleta <strong>de</strong><br />
material biológico). Verificamos que<br />
apesar do risco ser maior quando se<br />
manuseia material perfucortante, o<br />
número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes é maior na fase<br />
analítica <strong>de</strong> realização dos exames<br />
laboratoriais. Isso ocorre muito provavelmente<br />
pela ausência <strong>de</strong> cuidado<br />
ou ainda ausência <strong>de</strong> protocolo <strong>de</strong><br />
manuseio <strong>de</strong> amostras nessa fase<br />
do exame.<br />
Verificamos também que quando<br />
ocorre um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho, a sorologia<br />
é realizada <strong>de</strong> imediato, porém<br />
muitas vezes esse resultado não é<br />
acompanhado e é negligenciado pelo<br />
próprio aci<strong>de</strong>ntado. Isso se <strong>de</strong>ve pela<br />
ausência <strong>de</strong> protocolos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção, que apesar <strong>de</strong> serem<br />
exigidos, alguns laboratórios não os<br />
possuem ocasionando em um aumento<br />
do risco <strong>de</strong> exposição do trabalhador<br />
e negligenciando o seu tratamento<br />
frente a um problema adquirido no<br />
local <strong>de</strong> trabalho (Gráficos 2 e 3).<br />
Gráfico 1. Ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho<br />
Gráfico 2. Existência <strong>de</strong> protocolo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção em ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />
Gráfico 3. Protocolo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes ocupacionais em ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />
118<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Existem profissionais que não<br />
tiveram orientação ao ingressar na<br />
área técnica sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
vacinação (6% dos entrevistados). A<br />
carteira <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong>veria estar<br />
completa, mas não é isto que ocorre<br />
com os profissionais da área laboratorial,<br />
conforme mostra o Gráfico<br />
4. O gráfico nos mostra que 3% dos<br />
entrevistados alegaram não saber a<br />
informação perguntada.<br />
Quando questionados se foram<br />
submetidos corretamente à vacinação<br />
contra hepatite B, verificamos<br />
que muitos dos entrevistados foram<br />
vacinados somente até a segunda<br />
dose (15%). Porém, 3% relataram<br />
verificação <strong>de</strong> soroconversão e<br />
ainda dose extra <strong>para</strong> hepatite B<br />
(Gráfico 5). Importante ressaltar<br />
que todos que respon<strong>de</strong>ram quanto<br />
ao conhecimento da soroconversão<br />
pertenciam ao mesmo local <strong>de</strong> trabalho<br />
com protocolo <strong>de</strong> vacinação<br />
bem <strong>de</strong>scrito.<br />
Em termos <strong>de</strong> contaminação, a <strong>de</strong><br />
maior periculosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stina-se à hepatite<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se tenha a vacina<br />
em dia e a soroconversão confirmada,<br />
mas não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar<br />
as outras patologias, conforme mostra<br />
o Gráfico 6.<br />
Referente ao uso <strong>de</strong> Equipamentos<br />
<strong>de</strong> Proteção Individual (EPI), o que<br />
seria <strong>de</strong> extrema obrigatorieda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ntre do ambiente <strong>de</strong> trabalho e<br />
exigido pelas normas <strong>de</strong> segurança,<br />
9% dos entrevistados alegam não<br />
utilizar estes equipamentos, os outros<br />
91% que utilizam relacionaram os<br />
equipamentos que são mais utilizados<br />
(Gráfico 7).<br />
Conforme os entrevistados, a classificação<br />
<strong>de</strong> risco em seus ambientes<br />
<strong>de</strong> trabalho é <strong>de</strong> alto risco (43%). O<br />
Gráfico 8 mostra a distribuição referente<br />
à classificação <strong>de</strong> risco. Interessantemente,<br />
com esse dado verificamos<br />
Gráfico 4. Conhecimento sobre a carteira <strong>de</strong> vacinação<br />
Gráfico 5. Conhecimento sobre vacinação contra a hepatite B<br />
Gráfico 6. Patologias com maior periculosida<strong>de</strong><br />
120<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Gráfico 7. Distribuição dos tipos <strong>de</strong> EPI utilizados pelos entrevistados<br />
Gráfico 8. Classificação do risco <strong>de</strong> trabalho pelos entrevistados<br />
que o trabalhador possui consciência<br />
em relação à exposição, porém não<br />
possui preocupação em relação ao uso<br />
dos equipamentos <strong>de</strong> proteção.<br />
A conscientização <strong>para</strong> uma melhora<br />
na biossegurança laboratorial não<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente dos profissionais<br />
envolvidos, mas também das instituições,<br />
dando-lhes boas condições <strong>de</strong><br />
trabalho e exigindo-os a segurança<br />
necessária <strong>para</strong> uma boa prática laboratorial,<br />
pois o risco existente em<br />
laboratórios clínicos e suas <strong>de</strong>pendências<br />
é alto.<br />
O caráter silencioso e a ausência<br />
<strong>de</strong> evidências em aci<strong>de</strong>ntes com agentes<br />
biológicos em laboratórios clínicos<br />
po<strong>de</strong>m contribuir <strong>para</strong> a não realização<br />
<strong>de</strong> procedimentos estabelecidos.<br />
As normas exigidas pelos órgãos<br />
responsáveis <strong>de</strong> Biossegurança só<br />
ten<strong>de</strong>m a minimizar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
aci<strong>de</strong>ntes e ainda provêem subsídios<br />
<strong>para</strong> agir <strong>de</strong> maneira objetiva frente<br />
aos mesmos. Uma das alternativas<br />
seriam os programas <strong>de</strong> conscientização<br />
ao trabalhador com o objetivo <strong>de</strong><br />
explicar os riscos a que está exposto<br />
e como ele po<strong>de</strong> evitar esses riscos. A<br />
vulnerabilida<strong>de</strong> ao aci<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> ser<br />
atenuada com medidas <strong>de</strong> educação<br />
e conscientização.<br />
Referências Bibliográficas<br />
1.<br />
Richmond JY, Mckunney R. Biossegurança em Laboratórios Biomédicos e <strong>de</strong> Microbiologia – Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica . Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong> Fundação Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (Funasa), 2001. p. 1-30.<br />
2.<br />
3.<br />
Mastroeni MF. Biossegurança Aplicada a Laboratórios e Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 2ª Ed. – São Paulo. Ed. Atheneu, 2006. p. 3-18<br />
Oplustil CP, Zoccoli CM, Toboti NR, Sinto SI. Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica, 2ª Ed. – São Paulo. Ed. Sarvier,<br />
2004 p. 2-9.<br />
4.<br />
Legislação. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Publica vol.39 nº. 6. São Paulo, Dec/2005.<br />
5. Disponível: < http://www.ib.unicamp.br/institucional/cibio/cartilha.html#introducao> Acessado em 06 Nov. 2006.<br />
6. Disponível: < http://www.geocities.com/exp_animal/Biosseguranca.htm> Acessado em 15 Out. 2006.<br />
7. Disponível: < http://inforum.insite.com.br/biosseguranca-laboratorial> Acessado em 07 Dez. 2006.<br />
8. Disponível: < http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/bisbiogr.htm> Acessado em 06 Nov. 2006.<br />
122<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Anexo I<br />
Questionário referente à Biossegurança<br />
1 – Qual sua profissão <br />
_______________________________________________________<br />
2 – Você já sofreu algum aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho <br />
( ) Sim ( ) Não<br />
3 – Caso tenha sofrido algum aci<strong>de</strong>nte, em qual tempo foi realizada a sorologia<br />
( ) Imediatamente ( ) após 2 horas ( ) dia seguinte<br />
( ) outro _________________________<br />
4 – Qual local você sofreu o aci<strong>de</strong>nte<br />
( ) Posto <strong>de</strong> coleta ( ) Laboratório ( ) Enfermaria ( ) Leito do paciente<br />
5 – Verificou se houve conversação após a vacinação<br />
( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />
6 – Ao entrar na área profissional foi <strong>de</strong>vidamente aconselhado a tomar as vacinas pertinentes<br />
( ) Sim ( ) Não<br />
7 – Sua carteira <strong>de</strong> vacinação está em dia<br />
( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />
8 – Quantas doses tomou <strong>para</strong> a vacina <strong>de</strong> hepatite B<br />
( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) nenhuma<br />
9 – Tem conhecimento sobre EPI (Equipamento <strong>de</strong> Proteção Individual)<br />
( ) Sim ( ) Não<br />
10 – Utiliza os equipamentos <strong>de</strong> Proteção Individual em seu local <strong>de</strong> trabalho<br />
( ) Sim ( )Não<br />
11 – Se sim, assinale quais equipamentos abaixo você utiliza em seu local <strong>de</strong> trabalho<br />
( ) Jaleco ( ) Luvas ( ) Óculos ( ) Máscara ( ) Cabine <strong>de</strong> Proteção (capela)<br />
( ) Gorro ( ) PróPrés<br />
12 – On<strong>de</strong> é feito o <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> material perfurocortante<br />
__________________________________________________________________<br />
13 – Qual álcool é utilizado <strong>para</strong> fazer anti-sepsia do ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />
( ) Álcool 100% ( ) Álcool 70% ( ) Álcool 95% ( ) Álcool 80%<br />
( ) Álcool 92,8%<br />
14 – Existe protocolo padronizado referente à <strong>de</strong>sinfecção no seu local <strong>de</strong> trabalho<br />
( ) Sim ( ) Não<br />
15 - E protocolo referente a aci<strong>de</strong>ntes, existe no seu local <strong>de</strong> trabalho<br />
( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />
16 – Descreva como <strong>de</strong>ve agir se quebrar algum tubo com sangue _____________________________________<br />
________________________________<br />
17 – Em sua opinião qual das doenças abaixo po<strong>de</strong> oferece maior risco<br />
( ) HIV ( ) Hepatite ( ) Sífilis ( ) Rubéola ( ) Sarampo<br />
( ) Caxumba ( ) Chagas<br />
18 – Você utiliza um par <strong>de</strong> luvas <strong>para</strong> cada procedimento<br />
( ) Sim ( ) Não ( ) Nem Sempre<br />
19 – Conhece todos os riscos ocupacionais que po<strong>de</strong>m ocasionar em seu ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />
( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />
20 – Como você classificaria seu risco ocupacional<br />
( ) Muito Alto ( ) Alto ( ) Médio ( ) Baixo ( ) Muito Baixo<br />
124<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Artigo<br />
Análise dos Hemogramas Solicitados por Suspeita <strong>de</strong><br />
Dengue com Sorologias Positivas e Negativas, no Laboratório<br />
Clínico <strong>de</strong> Campinas, Nova Veneza, Sumaré, SP<br />
Gislaine Vieira<br />
Biomédica, Mestranda em Fisiopatologia Médica, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, UNICAMP<br />
Trabalho realizado no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Análise dos hemogramas solicitados por suspeita <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ngue com sorologias positivas e negativas, no Laboratório<br />
Clínico <strong>de</strong> Campinas, Nova Veneza, Sumaré, SP<br />
Foram coletadas, no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas (Labclin),<br />
localizado em Nova Veneza, Sumaré-SP, 257 sorologias <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue.<br />
Tais coletas - <strong>de</strong> pacientes que apresentavam sintomas clínicos<br />
<strong>para</strong> a doença - foram feitas no período <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> março a 16 <strong>de</strong><br />
fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />
Durante a coleta <strong>de</strong> dados, observamos que das sorologias<br />
negativas 63,3% dos hemogramas apresentavam dois ou mais<br />
índices compatíveis com <strong>de</strong>ngue. Dentre eles, contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />
menor que 100.000mm 3 , leucopenia, linfocitose com ou<br />
sem linfócitos atípicos e hematócrito aumentado em 20% ou mais<br />
em relação ao valor basal. Além disso, observamos que em alguns<br />
hemogramas, ainda que não houvesse plaquetopenia igual ou menor<br />
que 100.000mm 3 , havia uma diminuição na contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />
(menor que 150.000 e maior 100.000mm 3 ).<br />
Dos hemogramas que tiveram sorologias positivas, 47,62% apresentaram<br />
contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior a 150.000mm 3 , <strong>de</strong>stes,<br />
34,7% apresentavam plaquetopenias entre 100.000 e 50.000mm 3 ;<br />
80% leucopenia (leucócitos inferior a 5.000), 71,4% apresentavam<br />
linfocitose e <strong>de</strong>stes linfócitos 86,6% eram atípicos, 58,4% tinham<br />
dosagem <strong>de</strong> hematócritos discretamente elevados.<br />
Dos hemogramas, que tiveram sorologia consi<strong>de</strong>rada negativa<br />
<strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue, 63,6% apresentavam índices compatíveis com a<br />
<strong>de</strong>ngue (além do sintoma clínico, requisito <strong>para</strong> coleta, e residir em<br />
região <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia <strong>para</strong> a doença). O que nos leva a crer que a<br />
sorologia po<strong>de</strong> ter sido feita fora do período recomendado (5° dia<br />
após a presença dos sintomas) pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo<br />
ser, portanto, resultados falsos-negativos.<br />
Palavras-chave: Hemograma, <strong>de</strong>ngue, sorologia falsanegativa,<br />
plaquetopenia, linfopenia, linfocitose<br />
Analysis of blood tests requested for suspicion of<br />
<strong>de</strong>ngue fever in the Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas,<br />
Nova Veneza, Sumaré, Brazil<br />
Two hundred and fifty-seven Dengue fever tests were evaluated<br />
in the Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas (Labclin), located in Nova<br />
Veneza, Sumaré. These samples, from patients who presented with<br />
clinical symptoms of the disease, were collected in the period from<br />
March 1 st to February 16 th 2007.<br />
During data analysis, it was observed that 63.3% of the negative<br />
results presented two or more in<strong>de</strong>xes compatible with Dengue fever.<br />
These in<strong>de</strong>xes inclu<strong>de</strong>d platelet counts of less than 100,000/mm 3 ,<br />
leukopenia, lymphocytosis with or without atypical lymphocytes and<br />
hematocrit levels 20% higher than the basal level or more. Additionally,<br />
in some blood tests, even when the platelet count was greater<br />
than 100,000/mm 3 , there was a reduced platelet count (between<br />
150,000 and 100,000/mm 3 ).<br />
Of the positive blood tests, 47.62% presented platelet counts less<br />
than 150,000/mm 3 and of these 34.7% presented counts between<br />
100,000 and 150,000/mm 3 ; 80% presented with leukopenia<br />
(leukocyte count less than 5,000/mm 3 ), 71.4% with lymphocytosis<br />
and of these 86.6% were atypical and 58.4% had slightly higher<br />
hematocrit levels.<br />
Of the blood tests that were consi<strong>de</strong>red negative, 63.6% presented<br />
in<strong>de</strong>xes compatible with Dengue fever (the patients also had<br />
clinical symptoms, the reason for testing, and lived in an en<strong>de</strong>mic<br />
region). This leads us to believe that the tests were performed outsi<strong>de</strong><br />
the period (5 th day after the presence of symptoms) recommen<strong>de</strong>d by<br />
the Health Ministry and so may be false-negative results.<br />
Keywords: Blood test, Dengue fever, false-negative serology,<br />
thrombocytopenia, lymphopenia, lymphocytosis<br />
Introdução<br />
A<strong>de</strong>ngue é um dos principais<br />
problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública no<br />
mundo. A Organização Mundial<br />
da Saú<strong>de</strong> (1) estima que entre 50 a<br />
100 milhões <strong>de</strong> pessoas se infectem<br />
anualmente, em mais <strong>de</strong> 100 países,<br />
em todos os continentes, exceto Europa.<br />
Cerca <strong>de</strong> 550 mil doentes necessitam<br />
<strong>de</strong> hospitalização e 20 mil morrem<br />
em conseqüência da <strong>de</strong>ngue (2).<br />
As condições socioambientais <strong>de</strong><br />
nosso país, tais como: estrutura urbana<br />
<strong>de</strong> saneamento, aspectos socioeconômicos<br />
e culturais das comunida<strong>de</strong>s,<br />
são favoráveis à expansão do Ae<strong>de</strong>s<br />
aegypti e possibilitaram a dispersão<br />
do vetor e o avanço da doença (3).<br />
Programas com baixíssima ou mesmo<br />
nenhuma participação da comunida<strong>de</strong>,<br />
224<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
e com pequena utilização do instrumental<br />
epi<strong>de</strong>miológico, mostraram-se<br />
incapazes <strong>de</strong> conter um vetor com<br />
altíssima capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação ao<br />
novo ambiente criado pela urbanização<br />
acelerada e pelos novos hábitos. (2).<br />
Segundo a Secretaria <strong>de</strong> Vigilância<br />
em Saú<strong>de</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong>, no<br />
período <strong>de</strong> janeiro a julho <strong>de</strong> 2007,<br />
houve 438.949 casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue clássica,<br />
926 casos <strong>de</strong> febre hemorrágica<br />
da <strong>de</strong>ngue e a ocorrência <strong>de</strong> 98 óbitos<br />
no país (1).<br />
A região Su<strong>de</strong>ste concentrou 33%<br />
dos casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue (146.352), sendo<br />
que houve maior transmissão nos municípios<br />
<strong>de</strong> médio porte, com população<br />
acima <strong>de</strong> 100 mil habitantes, a exemplo<br />
dos registros nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Serra/<br />
ES, Teófilo Otoni/MG, Niterói/RJ, São<br />
José do Rio Preto/SP, Campinas/SP,<br />
Sumaré/SP e Ribeirão Preto/SP (1).<br />
O <strong>de</strong>ngue é uma doença infecciosa<br />
aguda causada por um arbovírus, do<br />
gênero Flavivírus (sorotipos: 1, 2, 3<br />
e 4) (Sucem). Po<strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
uma forma assintomática até o quadro<br />
clínico conhecido como Dengue Hemorrágico<br />
(Dengue Hemorragic Fever<br />
ou DHF) e/ou Síndrome <strong>de</strong> Choque da<br />
Dengue (Dengue Shock Syndrome ou<br />
DSS). DHF/DSS se caracterizam por<br />
hemorragias, plaquetopenia *100000/<br />
mm 3 , <strong>de</strong>ficiências na coagulação, vasculopatia<br />
e coagulação intravascular<br />
disseminada; po<strong>de</strong> haver um aumento<br />
da permeabilida<strong>de</strong> vascular resultando<br />
em <strong>de</strong>rrames cavitários e elevação do<br />
hematócrito (*20% valores basais) e/<br />
ou choque hipovolêmico (4).<br />
É transmitida principalmente pelo<br />
mosquito Ae<strong>de</strong>s aegypti infectado, mas<br />
também, pelo Ae<strong>de</strong>s albopictus (1,2).<br />
As epi<strong>de</strong>mias geralmente ocorrem<br />
no verão, durante ou imediatamente<br />
após períodos chuvosos. A <strong>de</strong>ngue<br />
está se expandindo rapidamente e<br />
a gran<strong>de</strong> preocupação é que nos<br />
próximos anos a transmissão aumente<br />
por todas as áreas tropicais<br />
do mundo se medidas eficientes não<br />
forem tomadas <strong>para</strong> a contenção das<br />
epi<strong>de</strong>mias (1).<br />
Objetivo<br />
O objetivo do presente trabalho foi<br />
correlacionar dados <strong>de</strong> hemogramas,<br />
(plaquetas, leucócitos, hematócrito e linfócitos)<br />
solicitados por suspeita <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue<br />
com resultados <strong>de</strong> sorologia positivas,<br />
cujas amostras foram coletadas e processadas<br />
no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas<br />
e no Laboratório <strong>de</strong> apoio Rhesus.<br />
Materiais e Métodos<br />
Realizou-se uma análise retrospectiva<br />
dos dados <strong>de</strong> hemogramas<br />
coletados por suspeita <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue e<br />
resultados das respectivas sorologias.<br />
Os hemogramas foram realizados<br />
neste serviço, Laboratório Clínico <strong>de</strong><br />
Campinas (Labclin), no aparelho Coulter<br />
e corados pelo método <strong>de</strong> Leishman. As<br />
sorologias foram realizadas no serviço <strong>de</strong><br />
apoio: Rhesus Medicina Laboratorial.<br />
Os dados analisados estão arquivados<br />
no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas,<br />
Nova Veneza, Sumaré.<br />
Resultados e<br />
Discussão<br />
Foram coletadas, no Laboratório<br />
Clínico <strong>de</strong> Campinas (Labclin), localizado<br />
em Nova Veneza, Sumaré-SP, 257<br />
sorologias <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue. Tais coletas<br />
- <strong>de</strong> pacientes que apresentavam sintomas<br />
clínicos <strong>para</strong> a doença - foram<br />
feitas no período <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> março a 16<br />
<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />
Das 257 amostras analisadas foram<br />
excluídas as sorologias que não tinham<br />
resultado <strong>para</strong> hemograma, já que o<br />
intuito do presente trabalho era correlacionar<br />
sorologias <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue com<br />
dados do hemograma. É importante<br />
salientar que os resultados analisados<br />
estão arquivados no Labclin.<br />
Das sorologias realizadas, 115 foram<br />
positivas <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue, ou seja, 44,7%<br />
(Gráfico 1). Todos os casos tiveram<br />
evolução benigna. Ainda que o Labclin<br />
tenha atendido pacientes com quadro<br />
clínico compatível com o da <strong>de</strong>ngue e<br />
estes pacientes fossem oriundos <strong>de</strong> uma<br />
região epidêmica <strong>para</strong> esta enfermida<strong>de</strong>,<br />
55,3% das amostras analisadas apresentaram<br />
resultado negativo.<br />
Destas sorologias negativas, 63,6%<br />
dos hemogramas foram compatíveis<br />
com <strong>de</strong>ngue (Gráfico 2). A coleta <strong>de</strong><br />
amostra <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong>ve ser feita no<br />
quinto dia a partir da presença dos<br />
sintomas; caso a coleta seja realizada<br />
fora do período i<strong>de</strong>al po<strong>de</strong> ocorrer uma<br />
sorologia falso-negativa, on<strong>de</strong> o paciente<br />
apesar <strong>de</strong> apresentar sintomas<br />
clínicos e hemograma característico <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ngue a sorologia é negativa (1).<br />
Durante a coleta <strong>de</strong> dados, observamos<br />
que das sorologias negativas,<br />
63,3% dos hemogramas apresentavam<br />
dois ou mais índices compatíveis com<br />
<strong>de</strong>ngue. Dentre eles, contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />
menor que 100.000mm 3 , leucopenia,<br />
linfocitose com ou sem linfócitos<br />
atípicos e hematócrito aumentado em<br />
20% ou mais em relação ao valor basal.<br />
Além disso, observamos que em alguns<br />
hemogramas, ainda que não houvesse<br />
plaquetopenia igual ou menor que<br />
100.000mm 3 , havia uma diminuição<br />
na contagem <strong>de</strong> plaquetas (menor que<br />
150.000 e maior 100.000mm 3 ).<br />
Dos hemogramas, cujas sorologias<br />
foram negativas, 13% apresentavam<br />
contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior<br />
a 150.000mm 3 e 6,15% menor que<br />
100.000 mm 3 ; 66,4% do total <strong>de</strong>stes<br />
hemogramas apresentavam diminuição<br />
na contagem total <strong>de</strong> leucócitos. Dos que<br />
apresentavam contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />
menor que 150.000mm 3 , 15,6% eram<br />
leucopênicos e dos que tinham a contagem<br />
inferior a 100.00 mm 3 , 5,38%<br />
apresentaram leucopenia (Gráfico 3).<br />
Dentre os indivíduos com sorologia<br />
negativa, 38,46 % apresentaram<br />
linfócitos atípicos. Dentre estes: 64%<br />
apresentam raros linfócitos atípicos;<br />
20% apresentam até 10% <strong>de</strong> linfócitos<br />
atípicos em relação ao total <strong>de</strong> linfócitos;<br />
16% apresentaram entre 10 e 15% <strong>de</strong><br />
linfócitos atípicos em relação ao total <strong>de</strong><br />
linfócitos (Gráfico 4).<br />
Destas amostras que apresentaram<br />
226<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
1<br />
2<br />
Gráfico 1<br />
Sorologia Positiva<br />
Sorologia Negativa<br />
Gráfico 2. Hemogramas que tiveram sorologia negativa <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue (63,3<br />
% dos hemogramas apresentavam dados compatíveis com <strong>de</strong>ngue)<br />
16,00%<br />
14,00%<br />
12,00%<br />
10,00%<br />
8,00%<br />
6,00%<br />
4,00%<br />
2,00%<br />
0,00%<br />
Gráfico 3<br />
1<br />
1. Leucopenia e<br />
2<br />
2. Leucopenia e<br />
Plaquetopenia <<br />
100.000 mm 3<br />
S1<br />
70%<br />
60%<br />
50%<br />
40%<br />
30%<br />
20%<br />
10%<br />
0%<br />
Raros<br />
linfócitos<br />
atipícos<br />
Até 10%<br />
<strong>de</strong> linfócitos<br />
atipícos<br />
Entre 10 e 15%<br />
<strong>de</strong> linfócitos<br />
atípicos<br />
Plaquetopenia < 150.000 mm 3 <strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
Gráfico 4. Sorologias Negativas, cujos hemogramas apresentaram<br />
linfócitos atipícos<br />
linfócitos atípicos, 12,3% apresentavam<br />
contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior<br />
a 150.000mm 3 e leucopenia; 1,54%<br />
apresentavam plaquetopenia menor<br />
que 100.000mm 3 e leucopenia;<br />
19,24% somente leucopenia e 12,3%<br />
não apresentavam diminuição na<br />
contagem <strong>de</strong> plaquetas, leucócitos e<br />
aumento na dosagem <strong>de</strong> hematócrito<br />
(Tabela 1).<br />
Dos hemogramas que tiveram<br />
sorologias positivas, 47,62% apresentaram<br />
contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior<br />
a 150.000mm 3 , 80% leucopenia<br />
(leucócitos inferior a 5.000), 71,4%<br />
apresentavam linfocitose e, <strong>de</strong>stes<br />
linfócitos, 86,6% eram atípicos, 58,4%<br />
tinham dosagem <strong>de</strong> hematócritos discretamente<br />
elevados (Gráfico 5). No<br />
<strong>de</strong>ngue os valores <strong>para</strong> hematócritos<br />
são: 20% maior que o valor basal ou:<br />
crianças: Ht > 38%; mulheres: Ht ><br />
40% e homens: Ht > 45%.<br />
Dentre os indivíduos com sorologia<br />
positiva, 73,45% apresentavam hemograma<br />
com leucopenia (contagem<br />
<strong>de</strong> leucócitos inferior a 5.000mm 3 ),<br />
sendo que 2,6% tinham valor menor<br />
que 2.000mm 3 ; 43,4% apresentavam<br />
contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior a<br />
150.000 mm 3 , <strong>de</strong>stes, 34,7% apresentavam<br />
valores entre 100.000 e<br />
150.000.000mm 3 e 65,3% valores<br />
entre 100.000 e 50.000mm 3 (Gráfico<br />
6). Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />
(1, 2) plaquetopenia entre 100.000 e<br />
50.000mm 3 é classificado como <strong>de</strong>ngue<br />
mo<strong>de</strong>rada e o paciente <strong>de</strong>ve ter<br />
acompanhamento ambulatorial.<br />
Para estes pacientes com <strong>de</strong>ngue<br />
confirmada, 39,82% tinham contagem<br />
<strong>de</strong> plaquetas inferior a 150.000 mm 3<br />
acompanhado <strong>de</strong> leucopenia; 50,4%<br />
apresentavam linfocitose; <strong>de</strong>stes linfócitos,<br />
66,6% eram atípicos. Dos hemogramas<br />
que não apresentavam linfocitose,<br />
7,9 % tinham linfócitos atípicos, exceto<br />
um caso on<strong>de</strong> 10% do total <strong>de</strong> linfócitos<br />
eram atípicos. Em estudo realizado<br />
por Jampangern et al (5) observou-se<br />
um aumento significante na contagem<br />
absoluta <strong>de</strong> linfócitos atípicos no dia da<br />
febre e um dia após a febre durante a<br />
infecção viral aguda, especialmente em<br />
pacientes que evoluíram <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue<br />
hemorrágica. Estes pesquisadores tam-<br />
Tabela 1. Hemogramas cujas sorologias foram negativas <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue.<br />
Nº <strong>de</strong> plaquetas Leucopenia Linfócitos Atipícos<br />
< que 150.000 mm 3 Sim 12,3%<br />
< que 100.000 mm 3 Sim 1,54%<br />
Normal Sim 19,24%<br />
Sem alteração no hemograma Não 6,92%<br />
228
Dengue.<br />
80,00%<br />
70,00%<br />
60,00%<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
Contagem<br />
<strong>de</strong> plaquetas<br />
inferior a<br />
150.000mm 3<br />
Leucopenia<br />
Linfocitose<br />
Hematócrito<br />
20% maior que<br />
o valor basal<br />
Gráfico 5. Hemogramas cuja sorologia foi positiva <strong>para</strong><br />
<strong>de</strong>ngue<br />
80,0%<br />
60,0%<br />
40,0%<br />
20,0%<br />
0,0%<br />
S1<br />
Contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />
entre 50.000 e Contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />
100.000mm 3<br />
entre 100.000 e<br />
150.000mm 3<br />
Gráfico 6. Hemograma com plaquetopenia (sorologia <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue positiva)<br />
bém concluíram que linfócitos atípicos<br />
po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> contagem<br />
<strong>de</strong> plaquetas e leucócitos, como<br />
uma boa ferramenta no diagnóstico <strong>para</strong><br />
infecção por <strong>de</strong>ngue.<br />
Para a dosagem <strong>de</strong> hematócrito,<br />
58,4% apresentaram um leve aumento<br />
em relação ao valor basal (obe<strong>de</strong>cendo<br />
ao critério <strong>de</strong>terminado pelo Ministério<br />
da Saú<strong>de</strong>: crianças: Ht > 38%;<br />
mulheres: Ht > 40% e homens: Ht ><br />
45%.). Destes pacientes não houve<br />
nenhum caso <strong>de</strong> evolução <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue<br />
hemorrágica e todos os casos tiveram<br />
evolução benigna.<br />
A média <strong>de</strong> dosagem <strong>de</strong> hematócrito<br />
<strong>de</strong> pacientes com sorologia positiva<br />
foi <strong>de</strong>: 42,54%, enquanto que a média<br />
<strong>para</strong> pacientes com sorologia negativa<br />
foi <strong>de</strong> 43,5%, não havendo em média<br />
diferença significativa na dosagem <strong>de</strong><br />
hematócrito.<br />
Conclusão<br />
A análise <strong>de</strong> dados, referente aos<br />
resultados dos hemogramas e suas<br />
respectivas sorologias, mostrounos<br />
que 55,3% são negativos <strong>para</strong><br />
<strong>de</strong>ngue. Dentre estes hemogramas,<br />
que tiveram sorologia consi<strong>de</strong>rada<br />
negativa, 63,6% apresentavam<br />
índices compatíveis com a <strong>de</strong>ngue<br />
(sintoma clínico, requisito <strong>para</strong> coleta,<br />
residir em região <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia<br />
<strong>para</strong> a doença).<br />
O que nos leva a crer que a sorolo-<br />
1. Dosagem <strong>de</strong> hematócrito <strong>de</strong> paciente com<br />
sorologia <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue positiva<br />
2. Dosagem <strong>de</strong> hematócrito <strong>de</strong> paciente com<br />
sorologia <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue negativa<br />
Gráfico 7<br />
gia po<strong>de</strong> ter sido feita fora do período<br />
recomendado (5° dia após a presença<br />
dos sintomas) pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser, portanto, resultados<br />
falsos-negativos.<br />
Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />
Ao Dr. Rui Macedo, Dra Denise Chenubill,<br />
Rosiney, Carla, Lara, Dra. Cristina<br />
Rosa, Jenifer, Sueli (funcionários do<br />
Labclim) e Erika Anne (Unicamp) por<br />
terem tornado possível a realização<br />
<strong>de</strong>ste trabalho.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
Gislaine Vieira<br />
gvieira@fcm.unicamp.br<br />
Referências Bibliográficas<br />
Referências Bibliográficas<br />
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2. www.sau<strong>de</strong>.gov.br<br />
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Paulo Dec. 2002<br />
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Fiocruz, RJ.<br />
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25: 27-36<br />
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nova abordagem. Rev. Soc. Bras. Méd.<br />
Trop. Vol. 33 n.5, 2000.<br />
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e Manejo Clínico. Man. Vol II, Min. da<br />
Saú<strong>de</strong> 2002.<br />
8. Saú<strong>de</strong> Fund Nac. Programa nacional<br />
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à execução das ações <strong>de</strong> campo: imóveis<br />
fechados, abandonados ou com<br />
acesso não permitido pelo morador.<br />
Funasa 2002.<br />
9. Teixeira, MLGC. Dengue e espaços<br />
intra-urbanos: dinâmica <strong>de</strong> transmissão<br />
viral e efetivida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong><br />
combate vetorial. Tese dout. UFBA,<br />
2000.<br />
10. Espinosa NJ, Dantes HG, Quintal JCQ,<br />
Martinez JLV. Clinical profile of <strong>de</strong>ngue<br />
hemorrhagic fever case in México.<br />
Salud pública Méx: 47(3): 193-200,<br />
maio-jun.2005.<br />
230<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Artigo<br />
Exame Citopatológico e Inspeção Visual com<br />
Ácido Acético e Lugol no Rastreamento <strong>de</strong> Lesões Cervicais<br />
Genara dos Santos 1 , Fabiane Andra<strong>de</strong> Vargas 2 e Vera Regina Andra<strong>de</strong> Vargas 3<br />
1 - Aluna do Curso <strong>de</strong> Farmácia Bioquímica Clínica<br />
2 - Médica, especialista em Ginecologia e Obstetrícia<br />
3 - Mestre em Gerontologia Biomédica; Pós-Graduada em Citologia Clínica, Professora <strong>de</strong> Citologia Clínica <strong>de</strong> Curso <strong>de</strong> Farmácia<br />
Universida<strong>de</strong> Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus <strong>de</strong> Santo Ângelo,<br />
Departamento <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>, Curso <strong>de</strong> Farmácia Bioquímica Clínica<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Exame Citopatológico e Inspeção Visual com Ácido<br />
Acético e Lugol no Rastreamento <strong>de</strong> Lesões Cervicais<br />
O câncer do colo uterino é o segundo câncer mais comum na<br />
população feminina mundial. O programa <strong>de</strong> rastreamento <strong>de</strong> lesões<br />
cervicais e <strong>de</strong> câncer é realizado pela citologia, colposcopia e histopatologia.<br />
No entanto, existem outros métodos alternativos, como: inspeção<br />
visual com ácido acético e teste <strong>de</strong> lugol. Os objetivos <strong>de</strong>ste estudo foram<br />
correlacionar os resultados dos exames citopatológicos com a inspeção<br />
visual com ácido acético (IVA) e lugol (IVL) em <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong><br />
mulheres do Município <strong>de</strong> Santo Ângelo/RS, com os resultados dos exames<br />
<strong>de</strong> Papanicolaou, além <strong>de</strong> caracterizar as mulheres participantes do<br />
estudo. A amostra foi constituída por mulheres que fizeram os exames<br />
na Liga Feminina <strong>de</strong> Combate ao Câncer, no período <strong>de</strong> abril a junho<br />
<strong>de</strong> 2006. Das 41 mulheres estudadas, a ida<strong>de</strong> média foi <strong>de</strong> 38,36<br />
anos; a maioria era casada (63,41%); gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las tinha <strong>de</strong> dois<br />
a quatro filhos (41,46%); o início da ativida<strong>de</strong> sexual <strong>para</strong> a maioria<br />
foi acima dos 18 anos (53,65%) e os exames <strong>de</strong> Papanicolaou, IVA<br />
e IVL foram negativos <strong>para</strong> a maioria das participantes <strong>de</strong>sse estudo.<br />
Na associação dos resultados dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou com IVA<br />
e IVL foi observada uma pobre concordância.<br />
Palavras-chave: Citopatologia, inspeção visual com ácido<br />
acético, inspeção visual com lugol, câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero<br />
PAP Smear and Visual Inspection with Acetic Acid<br />
and Lugol in Screening of Cervical Cancer<br />
The cervical cancer is the second more frequent malignant diseases<br />
world-wi<strong>de</strong> among the female population. The screening programs<br />
of cervical lesion and cancer was based on the use of the cytological<br />
(Pap) smear, colposcopy and histopathology. However, there are other<br />
methods, so as the visual inspection with acetic acid and lugol. The<br />
aim of this study was to correlate the results of the cytological smear<br />
with the visual inspection with acetic acid and lugol in <strong>de</strong>termined<br />
group of women on Santo Ângelo/RS city, and to characterize the<br />
women. The sample was constituted by women that submitted on<br />
the Liga Feminina <strong>de</strong> Combate ao Câncer, between April and June<br />
2006. From 41 women studied, the mean was of 38,36 years old;<br />
most of them were married (63,41%); the most part had 2-4 children<br />
(41,46%); the precocity age of sexual for the major was 18 years<br />
old (53,65%), cytological smear and the visual inspection with acetic<br />
acid and lugol were negative for the major participants of this study.<br />
In the association of the results Pap smear with visual inspection with<br />
acetic acid and lugol was observed one poor agreement.<br />
Keywords: Pap smear, colposcopy, histopathology, visual inspection<br />
with acetic acid, visual inspection with lugol, cervical cancer<br />
Introdução<br />
O<br />
câncer <strong>de</strong> colo do útero é o<br />
segundo mais comum entre<br />
mulheres no mundo, sendo<br />
responsável por cerca <strong>de</strong> 470 mil<br />
casos novos e pelo óbito <strong>de</strong> 230 mil<br />
mulheres por ano. Quase 80% dos<br />
casos novos ocorrem em países em<br />
<strong>de</strong>senvolvimento on<strong>de</strong>, em algumas<br />
regiões, é o câncer mais comum entre<br />
as mulheres. A incidência por este<br />
tipo <strong>de</strong> câncer torna-se evi<strong>de</strong>nte na<br />
faixa etária <strong>de</strong> 20 a 29 anos e o risco<br />
aumenta até atingir seu pico na faixa<br />
etária <strong>de</strong> 45 a 49 anos (Flores et. al,<br />
2002; Gomes et al., 2002; Pinho &<br />
Mattos, 2002; Duarte & Soares, 2003;<br />
Santos et al., 2003; Varela & Rojas,<br />
2003; Men<strong>de</strong>s et al., 2004; Brasil,<br />
2006a).<br />
128<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
No Brasil, o número <strong>de</strong> casos novos<br />
<strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> colo do útero esperados<br />
<strong>para</strong> o ano <strong>de</strong> 2006 foi <strong>de</strong> 19.260, com<br />
um risco estimado <strong>de</strong> 20 casos a cada<br />
100 mil mulheres. O Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />
tem uma taxa estimada <strong>de</strong> 30,9 casos<br />
<strong>para</strong> cada 100.000 mulheres. Esses<br />
casos são encontrados em estágios<br />
relativamente avançados em mais <strong>de</strong><br />
80%. Em muitos países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />
o <strong>de</strong>clínio na incidência da mortalida<strong>de</strong><br />
causada por este tipo <strong>de</strong> câncer tem sido<br />
observado, nas últimas três décadas, <strong>de</strong>vido<br />
a programas <strong>de</strong> rastreamento populacional.<br />
No entanto, estes programas,<br />
em muitos países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />
não existem ou não são tão efetivos em<br />
reduzir a incidência <strong>de</strong>sta doença (Febrasgo,<br />
1997; Hass et. al, 2003; Varela<br />
& Rojas, 2003; Brasil, 2006b).<br />
O principal fator <strong>de</strong> risco <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento do câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong><br />
útero é a infecção pelo Papilomavírus<br />
Humano (HPV). Outros fatores importantes<br />
associados a esta neoplasia estão<br />
relacionados com o início precoce da<br />
ativida<strong>de</strong> sexual, com múltiplos parceiros<br />
e com a promiscuida<strong>de</strong> do parceiro<br />
sexual. Além <strong>de</strong>stes, outros fatores, tais<br />
como: hábitos <strong>de</strong> vida, fatores sociais e<br />
ambientais, também contribuem <strong>para</strong> o<br />
<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> câncer<br />
(Febrasgo, 1997; Halbe, 1998; Carrillo<br />
et al, 2004; Brasil, 2006c).<br />
O HPV po<strong>de</strong> infectar diferentes partes<br />
do organismo, tais como: as mãos<br />
e os pés, pelo aparecimento <strong>de</strong> verrugas<br />
plantares; a face com papilomas<br />
orais e laríngeos e o trato anogenital<br />
com condilomas acuminados planos<br />
e invertidos. As alterações <strong>de</strong> maior<br />
freqüência causadas pelo HPV na<br />
região anogenital são os condilomas<br />
acuminados. As lesões planas e invertidas<br />
po<strong>de</strong>m passar <strong>de</strong>spercebidas ao<br />
exame clínico, sendo que, nestes casos,<br />
outros exames contribuem <strong>para</strong> o<br />
diagnóstico <strong>de</strong>ssa infecção. A progressão<br />
lenta da lesão pré-neoplásica até<br />
o estágio <strong>de</strong> câncer cervical permite<br />
uma janela <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos ou mais <strong>para</strong><br />
a <strong>de</strong>tecção e tratamento das mesmas<br />
(Chuichetta et al., 2001; Serman,<br />
2002; Carrillo et al., 2004; Silva et al.,<br />
2004; Hyppolito et al. 2005).<br />
O rastreamento e o diagnóstico<br />
<strong>de</strong> lesões pré-cancerosas e <strong>de</strong> câncer<br />
<strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero são realizados pela<br />
citologia, colposcopia e histopatologia.<br />
No entanto, existem outros métodos<br />
alternativos que possuem gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>,<br />
que po<strong>de</strong>m ser utilizados em<br />
populações on<strong>de</strong> a prevalência <strong>de</strong>ssas<br />
lesões é elevada, <strong>para</strong> suprirem falhas<br />
e obstáculos inerentes a estes programas.<br />
A inspeção visual do colo uterino,<br />
após aplicação <strong>de</strong> ácido acético (IVA)<br />
e <strong>de</strong> lugol (IVL), parecem ser métodos<br />
promissores, pois po<strong>de</strong>m reduzir custos<br />
e ampliar a cobertura da população<br />
nos programas <strong>de</strong> rastreamento.<br />
Esses métodos são simples, requerem<br />
mínima infra-estrutura e poucos equipamentos,<br />
po<strong>de</strong>ndo ser realizados por<br />
profissionais não-médicos da equipe <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> em unida<strong>de</strong>s básicas (Cor<strong>de</strong>iro<br />
et. al., 2005; Gontijo et. al, 2005).<br />
A citologia cérvico-vaginal foi introduzida,<br />
na década <strong>de</strong> 1940, por<br />
Papanicolaou e Traut, e representa<br />
um gran<strong>de</strong> avanço no controle do<br />
carcinoma cervical e na redução da<br />
incidência e da mortalida<strong>de</strong> por este<br />
tipo <strong>de</strong> câncer. No Brasil, este exame<br />
vem sendo utilizado como o principal<br />
teste <strong>de</strong> rastreamento <strong>para</strong> a sua <strong>de</strong>tecção.<br />
A alta especificida<strong>de</strong> do teste<br />
permite a inclusão entre os casos<br />
suspeitos, <strong>de</strong> um baixo número <strong>de</strong><br />
mulheres sem a doença, evitando a<br />
sobrecarga <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda no sistema<br />
<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública (Chiuchetta et al.,<br />
2002; Pinho & Matos, 2002; Silva et<br />
al., 2002; Duarte & Soares, 2003;<br />
Men<strong>de</strong>s et al., 2004; Gontijo, et al.,<br />
2005; Hyppolito et al., 2005).<br />
A colposcopia é um método rápido,<br />
realizado com um aparelho conhecido<br />
como colposcópio, que permite visualizar<br />
o colo uterino com um aumento<br />
<strong>de</strong> 10 a 40 vezes, ampliando assim<br />
uma pequena lesão não visualizada<br />
pela inspeção visual (Febrasgo, 1997;<br />
Gontijo et. al., 2004).<br />
O diagnóstico histopatológico é realizado<br />
com amostras retiradas da lesão e<br />
está baseado em critérios morfológicos<br />
da arquitetura celular, sendo consi<strong>de</strong>rado<br />
uma técnica padrão ouro do diagnóstico<br />
morfológico (Febrasgo, 1997).<br />
A inspeção visual com ácido acético<br />
(IVA) e com lugol (IVL) é uma<br />
técnica utilizada <strong>para</strong> reduzir as taxas<br />
<strong>de</strong> carcinomas cervicais nos lugares<br />
on<strong>de</strong> os programas <strong>de</strong> rastreamento,<br />
baseados em citologia, não são<br />
a<strong>de</strong>quados, <strong>de</strong>vendo ser usada como<br />
método associado à citologia. No método<br />
<strong>de</strong> IVA é aplicada uma solução<br />
<strong>de</strong> ácido acético a 5% no colo e a<br />
cérvice é observada a olho nu. Para<br />
o teste IVL, é aplicada solução <strong>de</strong><br />
iodo, sendo o colo do útero observado<br />
novamente. Estes métodos são simples,<br />
possuem resultados imediatos<br />
e po<strong>de</strong>m ser utilizados em unida<strong>de</strong>s<br />
básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Gontijo et. al,<br />
2004; Hyppolito et al. 2005).<br />
Os objetivos <strong>de</strong>ste estudo foram<br />
correlacionar os resultados dos exames<br />
citopatológicos com a inspeção<br />
visual com ácido acético (IVA) e lugol<br />
(IVL) em <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> mulheres<br />
do Município <strong>de</strong> Santo Ângelo/<br />
RS, com os resultados dos exames <strong>de</strong><br />
Papanicolaou, além <strong>de</strong> caracterizar as<br />
mulheres participantes do estudo.<br />
Metodologia<br />
Foi realizado um estudo observacional,<br />
transversal e prospectivo. A<br />
amostra foi constituída pelas mulheres<br />
130<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
que fizeram coleta <strong>de</strong> exame citopatológico<br />
<strong>de</strong> rotina no serviço da Liga<br />
Feminina <strong>de</strong> Combate ao Câncer, do<br />
Município <strong>de</strong> Santo Ângelo, no período<br />
<strong>de</strong> abril a junho <strong>de</strong> 2006. Foram incluídas<br />
no estudo as mulheres maiores<br />
<strong>de</strong> 18 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, assintomáticas,<br />
com útero íntegro e sem diagnóstico<br />
anterior <strong>de</strong> lesões pré-cancerosas ou<br />
câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero. As mulheres<br />
foram informadas sobre os <strong>de</strong>talhes<br />
e propósitos do estudo e as que concordaram<br />
em participar assinaram o<br />
termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido<br />
e respon<strong>de</strong>ram a um questionário<br />
com alguns dados clínicos.<br />
As participantes do estudo foram<br />
submetidas ao exame, com a utilização<br />
<strong>de</strong> espéculo <strong>de</strong> Collins, <strong>para</strong><br />
avaliação do canal vaginal e da cérvice<br />
uterina. Foram coletadas duas<br />
amostras, <strong>para</strong> o esfregaço citológico,<br />
representativo da endocérvice com a<br />
escova endocervical e da ectocérvice<br />
com a espátula <strong>de</strong> Ayre.<br />
Os esfregaços do exame citopatológico<br />
foram pre<strong>para</strong>dos na forma<br />
convencional e os laudos foram expressos<br />
utilizando a nomenclatura <strong>de</strong><br />
Bethesda <strong>de</strong> 2001. Após a coleta da<br />
citologia, foi realizada a inspeção com<br />
ácido acético (IVA). Para a realização<br />
da IVA, foi aplicada uma solução <strong>de</strong><br />
ácido acético a 5% no colo do útero e,<br />
após um minuto, o colo foi iluminado<br />
com lâmpada elétrica <strong>de</strong> 100 wats e<br />
examinado a olho nu. Para o teste com<br />
lugol (IVL), foi aplicada uma solução<br />
<strong>de</strong> iodo e, novamente, o colo do útero<br />
foi observado.<br />
Definição dos resultados<br />
A citologia foi consi<strong>de</strong>rada positiva<br />
quando a amostra apresentava<br />
resultados <strong>de</strong> células escamosas<br />
atípicas <strong>de</strong> significado in<strong>de</strong>terminado<br />
(atypical squamous cells of un<strong>de</strong>termined<br />
significance, ASC-US); células<br />
escamosas atípicas, não excluem lesão<br />
<strong>de</strong> alto grau (atypical squamous<br />
cells, don’t exclu<strong>de</strong> high-gra<strong>de</strong> lesion,<br />
ASC-H); lesão intra-epitelial escamosa<br />
<strong>de</strong> baixo grau (low-gra<strong>de</strong> squamous<br />
intraepithelial lesion, LSIL); lesão<br />
intra-epitelial escamosa <strong>de</strong> alto grau<br />
(high-gra<strong>de</strong> squamous intraepithelial<br />
lesion, HSIL); carcinoma <strong>de</strong> células<br />
escamosas; células glandulares atípicas<br />
(atypical glandular cells, AG) e<br />
a<strong>de</strong>nocarcinoma in situ. Foi consi<strong>de</strong>rada<br />
negativa quando o resultado era<br />
negativo <strong>para</strong> lesões intra-epiteliais<br />
ou malignida<strong>de</strong> (NM), ou seja, na presença<br />
<strong>de</strong> achados normais, alterações<br />
reativas, inflamatórias e re<strong>para</strong>tivas.<br />
A inspeção visual com ácido acético<br />
a 5% foi consi<strong>de</strong>rada positiva<br />
quando foi observada a presença <strong>de</strong><br />
qualquer lesão aceto-branca, opaca<br />
ou brilhante, plana ou sobrelevada, <strong>de</strong><br />
aspecto verrucoso ou não, no colo do<br />
útero. Foi consi<strong>de</strong>rada negativa se o<br />
colo permanecesse com sua coloração<br />
normal (rósea, lisa e uniforme), após<br />
a aplicação da solução.<br />
O teste <strong>de</strong> inspeção visual com lugol<br />
(IVL) foi consi<strong>de</strong>rado positivo com<br />
áreas iodo-negativo (não coradas pela<br />
solução), ou se ficasse amarelo. Foi<br />
consi<strong>de</strong>rado negativo se o colo inteiro<br />
se corasse <strong>de</strong> marrom.<br />
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê<br />
<strong>de</strong> Ética em Pesquisa da URI (COBE),<br />
cadastro número 117-4/TCH/05 e<br />
CAAE número 0238.0.232.000-05.<br />
Foi realizada uma análise <strong>de</strong>scritiva<br />
dos dados e análise estatística com<br />
teste <strong>de</strong> Kappa, intervalo <strong>de</strong> confiança<br />
<strong>de</strong> 95%. Esse teste está disponível<br />
no site www.lee.dante.br/pesquisa/<br />
kappa. O Kappa é uma medida que<br />
me<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> concordância além do<br />
que seria esperado tão somente pelo<br />
acaso. Esta medida tem como valor<br />
máximo o 1, on<strong>de</strong> esse representa total<br />
concordância e os valores próximos<br />
e até abaixo <strong>de</strong> 0 indicam nenhuma<br />
concordância. Os valores entre 0 e<br />
0,39 sugerem uma fraca concordância,<br />
entre 0,40 e 0,59 sugerem uma<br />
mo<strong>de</strong>rada concordância, entre 0,60 e<br />
0,79 sugerem uma substancial concordância<br />
e entre 0,80 e 1 sugerem<br />
uma concordância quase perfeita.<br />
Resultados<br />
Antes <strong>de</strong> serem excluídas as participantes<br />
que apresentaram dados<br />
incompletos ou resultados anteriores<br />
<strong>de</strong> lesões, a amostra era constituída<br />
<strong>de</strong> 41 mulheres com ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong><br />
38,36 anos, variando <strong>de</strong> 21 anos a<br />
65 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Destas, 36,58%<br />
(15/41) mulheres estavam na faixa<br />
etária <strong>de</strong> 21-30 anos. A maioria das<br />
mulheres (63,41%, 26/41) era casada<br />
ou unida, 41,46% (17/41) tinham <strong>de</strong><br />
dois a quatro filhos. Das mulheres<br />
que partici<strong>para</strong>m do estudo, o início<br />
da ativida<strong>de</strong> sexual variou dos 13<br />
aos 30 anos, sendo que <strong>para</strong> 4,87%<br />
(2/41) foi com ida<strong>de</strong> menor que 14<br />
anos (Tabela 1).<br />
Durante o período do estudo, foram<br />
realizados os exames <strong>de</strong> inspeção visual<br />
com ácido acético a 5% e com solução<br />
<strong>de</strong> lugol (teste <strong>de</strong> Schiller) e foram<br />
coletadas as amostras <strong>para</strong> o exame<br />
citológico. Das 41 mulheres que aceitaram<br />
participar do estudo, seis foram<br />
excluídas. Destas, quatro mulheres<br />
foram excluídas por não ter resultado<br />
<strong>de</strong> IVA e IVL e duas por ter diagnóstico<br />
anterior <strong>de</strong> lesão escamosa <strong>de</strong> colo <strong>de</strong><br />
útero. Depois <strong>de</strong> excluídas, 35 mulheres<br />
permaneceram no estudo.<br />
No exame citopatológico, o resultado<br />
foi consi<strong>de</strong>rado negativo<br />
em 65,71% (23/35) e positivo em<br />
34,29% (12/35) dos casos, on<strong>de</strong> foram<br />
encontradas células anormais. Os<br />
resultados positivos foram distribuídos<br />
132<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
em 20% (7/35) <strong>de</strong> células escamosas<br />
atípicas <strong>de</strong> significado in<strong>de</strong>terminado<br />
(ASC-US), 5,71% (2/35) <strong>de</strong> lesão<br />
intra-epitelial escamosa <strong>de</strong> baixo grau<br />
(LSIL). Não foram encontrados lesão<br />
intra-epitelial escamosa <strong>de</strong> alto grau<br />
(HSIL) e câncer cervical (Tabela 2).<br />
Quando foram associados os resultados<br />
positivos e negativos dos<br />
exames <strong>de</strong> Papanicolaou, IVA e IVL,<br />
os índices foram: 34,28% (12/35)<br />
positivos e 65,71% (23/35) negativos.<br />
A inspeção visual com ácido acético<br />
(IVA) foi consi<strong>de</strong>rada positiva em<br />
22,85% (8/35) e negativa em 77,14%<br />
(27/35) dos casos. O teste <strong>de</strong> lugol<br />
(IVL) foi positivo em 17,14% (6/35)<br />
e negativo em 82,85% (29/35) das<br />
pacientes (Tabela 3).<br />
Quando foi realizada uma associação<br />
dos resultados dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou<br />
com IVA e IVL foi observada<br />
uma pobre concordância (Tabela 3).<br />
A Tabela 4 mostra a distribuição<br />
dos resultados dos três exames entre<br />
as participantes do estudo. Em<br />
48,57% (17/35) todos os testes foram<br />
negativos e em 5,71% (2/35) foram<br />
positivos nos três testes. No caso do<br />
IVL negativo e Papanicolaou e IVA<br />
positivo e o no caso <strong>de</strong> IVL positivo e<br />
Papanicolaou e IVA negativo não foi<br />
registrado em nenhum caso.<br />
Quando foram associados os resultados<br />
dos exames com as características<br />
das participantes, algumas<br />
apresentaram mo<strong>de</strong>rada e substancial<br />
concordância, com intervalo <strong>de</strong> 95%<br />
<strong>de</strong> confiança do Kappa, quando foi<br />
associada com os resultados das IVA,<br />
IVL e Citologia como a faixa etária <strong>de</strong><br />
41-50, ser solteira ou se<strong>para</strong>da/viúva<br />
e início da ativida<strong>de</strong> sexual <strong>de</strong> 15-17<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Apresentaram uma<br />
fraca concordância <strong>para</strong> 21-30 anos,<br />
nas mulheres casadas e nas mulheres<br />
com início da ativida<strong>de</strong> sexual maior<br />
ou igual a 18 anos (Tabela 5).<br />
Tabela 1. Perfil das participantes da pesquisa atendidas na Liga Feminina <strong>de</strong> Combate<br />
ao Câncer, Santo Ângelo-RS, 2006<br />
Perfil das Participantes N (%)<br />
Faixa Etária das Pacientes<br />
21-30 15 (36,58)<br />
31-40 08 (19,51)<br />
41-50 09 (21,95)<br />
>51 09 (21,95)<br />
Estado Civil<br />
Solteira 10 (24,39)<br />
Casada/unida 26 (63,41)<br />
Se<strong>para</strong>da/viúva 04 (9,75)<br />
Início Ativida<strong>de</strong> Sexual<br />
≤14 2 (4,87)<br />
15-17 17 (41,46)<br />
≥18 22 (53,65)<br />
Parida<strong>de</strong><br />
Nenhum 07 (17,70)<br />
1 11 (26,82)<br />
2 -4 17 (41,46)<br />
Mais <strong>de</strong> 4 06 (14,63)<br />
Tabela 2. Resultados dos exames citológicos das participantes do estudo<br />
Papanicolaou n %<br />
NM 23 65,71<br />
ASC-US 6 17,14<br />
ASC-US/AG 1 2,85<br />
ASC-H 2 2,85<br />
AG 1 2,85<br />
LSIL 2 5,71<br />
Tabela 3. Resultados positivos e negativos dos exames citológicos, IVA e IVL das<br />
participantes do estudo<br />
Papanicolaou n %<br />
Positivo 12 34,28<br />
Negativo 23 65,71<br />
IVA (ácido acético)<br />
Positivo 08 22,85<br />
Negativo 27 77,14<br />
IVL (lugol)<br />
Positivo 06 17,14<br />
Negativo 29 82,85<br />
K = 0.373, intervalo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%<br />
134<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Tabela 4. Distribuição dos resultados dos exames positivos e negativos<br />
Papanicolaou IVA Schiller n (%)<br />
+ + + 2 (5,71)<br />
+ + - 0 (0)<br />
+ - + 2 (5,71)<br />
+ - - 8 (22,85)<br />
- + + 2 (5,71)<br />
- + - 4 (11,42)<br />
- - + 0 (0)<br />
- - - 17 (48,57)<br />
Total 35<br />
Tabela 5. Distribuição percentual <strong>de</strong> algumas características das participantes do estudo com relação ao resultado da Citologia,<br />
IVA e Schiller<br />
IVA IVL CITOLOGIA<br />
+ - + - + - n k<br />
Ida<strong>de</strong><br />
21 – 30 anos 5 10 2 15 13 4 11 0,209<br />
31 – 40 anos 1 3 2 4 2 4 0 0.537<br />
41 – 50 anos 2 5 1 7 6 2 5 0.903<br />
>51 anos 0 9 1 9 8 2 7 0.497<br />
Estado Civil<br />
Solteira 4 5 3 9 6 2 7 0.711<br />
Casada 4 19 2 23 21 8 15 0.388<br />
Se<strong>para</strong>da/ Viúva 0 3 1 3 2 2 1 0.653<br />
Início Ativida<strong>de</strong> Sexual<br />
≤14 0 2 0 2 2 0 2 *<br />
15-17 4 9 3 13 10 6 7 0.631<br />
≥18 4 16 3 20 17 6 14 0.211<br />
Parida<strong>de</strong><br />
Nenhum 3 2 2 5 3 2 3 0.447<br />
1 1 9 0 10 10 2 8 *<br />
2 a 4 3 11 1 14 13 5 9 *<br />
Mais <strong>de</strong> 4 1 5 3 6 3 3 3 0.532<br />
Intervalo <strong>de</strong> 95% <strong>de</strong> confiança do Kappa.<br />
* Não é interpretável e não se aplica teste <strong>de</strong> significância<br />
Discussão Discussáo<br />
No estudo <strong>de</strong> Roteli-Martins et<br />
al., em 2003, sobre rastreamento <strong>de</strong><br />
câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero com mulheres<br />
brasileiras e argentinas, a ida<strong>de</strong> média<br />
das mulheres foi <strong>de</strong> 36,9 anos (16-62<br />
anos) e 71,50% das mulheres eram<br />
casadas ou unidas. Cor<strong>de</strong>iro et al.,<br />
em 2005, estudaram 893 com ida<strong>de</strong><br />
média <strong>de</strong> 32 anos (18-65 anos), on<strong>de</strong><br />
66,62% eram casadas, pouco mais <strong>de</strong><br />
60% tinham dois ou mais filhos e com<br />
início das ativida<strong>de</strong>s sexuais e primeiro<br />
parto a partir dos 16 anos.<br />
Na pesquisa realizada por Gontijo<br />
et al., em 2005, com mulheres<br />
<strong>de</strong> 18 a 60 anos, observaram que<br />
136<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
62% tinham menos <strong>de</strong> 35 anos, 71%<br />
eram casadas ou unidas, 54% com<br />
dois ou mais filhos e 60% iniciaram<br />
sua ativida<strong>de</strong> sexual com menos <strong>de</strong><br />
18 anos. Shastri et al., em 2005, em<br />
Mumbai, Índia, realizaram um estudo<br />
com 4.039 mulheres com ida<strong>de</strong>s<br />
entre 30 a 65 anos; <strong>de</strong>stas, 84% das<br />
mulheres tinham ida<strong>de</strong>s entre 30 e 49<br />
anos e 6% com ida<strong>de</strong>s entre 60 e 65<br />
anos. Com relação à parida<strong>de</strong>, 64,5%<br />
tinham <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> três filhos.<br />
No nosso estudo, a ida<strong>de</strong> média<br />
das mulheres foi <strong>de</strong> 38,36 anos (21-<br />
65 anos), o início da ativida<strong>de</strong> sexual<br />
variou dos 13 aos 30 anos, sendo que<br />
4,87% (4/41) foi com ida<strong>de</strong> menor ou<br />
igual a 14 anos, 41,46% (17/41) o<br />
início ocorreu na faixa <strong>de</strong> 15-17 anos<br />
e <strong>para</strong> 53,65% (22/41) foi maior ou<br />
igual a 18 anos, 63,41% (26/41) eram<br />
casadas ou unidas e 41,46% (17/41)<br />
tiveram <strong>de</strong> dois a quatro filhos. Conforme<br />
o perfil das mulheres analisadas, os<br />
dados são semelhantes aos encontrados<br />
na literatura com relação às ida<strong>de</strong>s<br />
e estado civil e diferem em relação ao<br />
início da ativida<strong>de</strong> sexual e parida<strong>de</strong>.<br />
Isto po<strong>de</strong> ser explicado pelo fato <strong>de</strong> que<br />
no presente estudo foi estudada uma<br />
pequena amostra (Roteli-Martins et al.,<br />
2003; Cor<strong>de</strong>iro et al., 2005; Gontijo et<br />
al., 2005; Shastri et al., 2005).<br />
Cor<strong>de</strong>iro et al., ao avaliarem os<br />
resultados da citologia, observaram<br />
que, o exame foi consi<strong>de</strong>rado negativo<br />
em 99,3% das mulheres, 0,7% dos<br />
exames foram distribuídos em 0,1% <strong>de</strong><br />
ASCUS, 0,5% <strong>de</strong> LSIL e 0,1% <strong>de</strong> HSIL.<br />
No estudo <strong>de</strong> Gontijo et al., em 2004, a<br />
citologia apresentou resultado negativo<br />
em 90,8% das mulheres, apresentando<br />
atipias celulares em 9,2% dos<br />
resultados, sendo 6,5% <strong>de</strong> ASC-US,<br />
0,5% <strong>de</strong> AG, 1,5% <strong>de</strong> LSIL e 0,7%<br />
<strong>de</strong> HSIL. Em outro estudo <strong>de</strong> Gontijo<br />
et al., em 2005, foi observado 10,4%<br />
com atipias celulares, sendo 7,3% <strong>de</strong><br />
ASC-US, 0,1% AG, 2,2% <strong>de</strong> LSIL 0,7%<br />
<strong>de</strong> HSIL. Roteli-Martins et al., em um<br />
trabalho com exames <strong>de</strong> Papanicolaou,<br />
observaram que 92% dos exames foram<br />
normais. Das amostras analisadas,<br />
4,2% apresentaram ASC-US, 1,4%<br />
LSIL, 0,57% HSIL e 0,83% com carcinoma<br />
<strong>de</strong> células escamosas.<br />
No presente estudo, <strong>para</strong> o exame<br />
citopatológico, o resultado foi consi<strong>de</strong>rado<br />
negativo em 65,71% (23/35)<br />
e positivo em 34,29% (12/35). Os<br />
resultados positivos foram distribuídos<br />
em: 17,14% (6/35) com células<br />
escamosas atípicas <strong>de</strong> significado in<strong>de</strong>terminado<br />
(ASC-US), 5,71% (2/35)<br />
com lesão intra-epitelial escamosa <strong>de</strong><br />
baixo grau (LSIL). Não foram encontrados<br />
lesão intra-epitelial escamosa<br />
<strong>de</strong> alto grau (HSIL) e câncer cervical.<br />
Esses dados diferem dos dados <strong>de</strong> outros<br />
autores. Essa diferença po<strong>de</strong> ser<br />
explicada pelo fato <strong>de</strong> que na nossa<br />
população o início da ativida<strong>de</strong> sexual<br />
ocorreu dos 14 aos 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />
<strong>para</strong> 46,33% (Roteli-Martins et al.,<br />
2003; Gontijo et al., 2004; Gontijo et<br />
al., 2005; Cor<strong>de</strong>iro et al.,2005).<br />
Gontijo et al., em 2004, observaram<br />
que em relação a IVA, 10,9% das<br />
mulheres apresentaram o resultado<br />
positivo. Em outro estudo, realizado<br />
em 2005, pelos mesmos pesquisadores,<br />
foi verificado que 8% das<br />
mulheres apresentaram resultado do<br />
IVA positivo. Roteli-Martins et al., ao<br />
analisarem a inspeção visual com ácido<br />
acético (IVA), observaram que 13%<br />
foram anormais e 0,13% sugestivos <strong>de</strong><br />
câncer. No estudo <strong>de</strong> Bellinson et al.,<br />
ao analisarem os resultados <strong>de</strong> 1997<br />
mulheres, o resultado <strong>de</strong> IVA foi normal<br />
em 72%. Nos estudos <strong>de</strong> Shastri et al.<br />
e <strong>de</strong> Sarian et al., os resultados positivos<br />
da inspeção visual com lugol foram<br />
<strong>de</strong> 17% e 23%, respectivamente.<br />
Na nossa casuística, a IVA foi consi<strong>de</strong>rada<br />
negativa em 77,14% (27/35)<br />
dos casos e positiva em 22,85% (8/35).<br />
Com relação a esses dados, são compatíveis<br />
com o estudo <strong>de</strong> Bellinson et<br />
al., e com relação a IVA e IVL não estão<br />
conformes a outros autores pesquisados.<br />
Da mesma forma, ao associarmos<br />
os resultados dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou<br />
do nosso estudo com os resultados<br />
dos IVA e IVL observamos uma pobre<br />
concordância, diferindo do estudo <strong>de</strong><br />
Rotelli-Martins et al. que <strong>de</strong>screveram<br />
uma associação estatisticamente significativa.<br />
Isto po<strong>de</strong> ser explicado pelo<br />
fato <strong>de</strong> que no presente estudo foi estudada<br />
uma pequena amostra (Bellinson<br />
et al., 2001; Roteli-Martins et al., 2003;<br />
Gontijo et al., 2004; Shastri et al., 2005;<br />
Sarian et al., 2005).<br />
A distribuição dos resultados dos<br />
três exames, no presente estudo,<br />
mostrou que em 48,57% (17/35) <strong>de</strong><br />
todos os testes foram negativos e em<br />
5,71% (2/35) foram positivos nos três<br />
testes. No caso do teste IVL negativo<br />
Papanicolaou positivo e IVA positivo<br />
e IVL positivo, Papanicolaou negativo<br />
e IVA negativo não foram registrados<br />
em nenhum dos casos. Apesar da pequena<br />
amostra estudada no presente<br />
estudo, estes dados estão <strong>de</strong> acordo<br />
com o estudo <strong>de</strong> Blumenthal et al.<br />
(Blumenthal et al., 2000).<br />
No estudo <strong>de</strong> Roteli-Martins et al.,<br />
foi achada correlação significativa somente<br />
com relação ao início precoce<br />
da ativida<strong>de</strong> sexual, sendo que <strong>para</strong> as<br />
outras características não houve correlação<br />
significativa com os resultados<br />
dos exames. No presente estudo, o<br />
início precoce da ativida<strong>de</strong> sexual foi<br />
observado uma substancial concordância<br />
<strong>para</strong> a faixa etária dos 15-17<br />
anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, estando <strong>de</strong> acordo com<br />
o estudo <strong>de</strong> Roteli-Martins et al.. Como<br />
somente duas pacientes tiveram início<br />
da ativida<strong>de</strong> sexual com menos <strong>de</strong> 14<br />
anos, não foi possível interpretar este<br />
dado (Roteli-Martins et al., 2003).<br />
138<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Conclusão<br />
Com base nos resultados, po<strong>de</strong>mos<br />
concluir que, das 41 mulheres<br />
estudadas, a ida<strong>de</strong> média foi <strong>de</strong> 38,36<br />
anos, variando <strong>de</strong> 21 a 65 anos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong>; a maioria era casada ou unida,<br />
e gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las tinha <strong>de</strong> dois a<br />
quatro filhos; o início da ativida<strong>de</strong><br />
sexual variou dos 13 aos 30 anos; os<br />
exames <strong>de</strong> Papanicolaou, IVA e IVL<br />
foram negativos <strong>para</strong> a maioria das<br />
participantes; quando foi realizada<br />
uma associação geral dos resultados<br />
dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou com<br />
IVA e IVL foi observada uma pobre<br />
concordância; a distribuição dos resultados<br />
positivos e negativos <strong>para</strong> os<br />
três exames mostrou que em gran<strong>de</strong><br />
parte <strong>de</strong>les foi negativa.<br />
Correspondência <strong>para</strong>:<br />
Prof a Vera Regina Andra<strong>de</strong> Vargas<br />
vvargas@urisan.tche.br<br />
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140<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
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<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
141
Artigo<br />
Análise da Fertilização e Efeitos Teratogênicos<br />
em Ratos Wistars Tratados com Amoxicilina<br />
Andrea Sayuri Suguino, Swelen Gouvêa<br />
Trabalho realizado na Uniara - Centro Universitário <strong>de</strong> Araraquara, Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas e da Saú<strong>de</strong>, Curso <strong>de</strong> Farmácia<br />
Orientadora: Profª. Drª. Renata Dellalibera-Joviliano<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Análise da Fertilização e Efeitos Teratogênicos em<br />
Ratos Wistars Tratados com Amoxicilina<br />
A infertilida<strong>de</strong> é uma condição que acomete muitos casais, tendo<br />
conseqüências econômicas, psicológicas, <strong>de</strong>mográficas e médicas<br />
importantes. Existem fármacos e substâncias tóxicas em nosso meio que<br />
po<strong>de</strong>m causar infertilida<strong>de</strong>, seja por efeito direto sobre os testículos, ou<br />
por afetar os hormônios envolvidos na produção dos espermatozói<strong>de</strong>s.<br />
As gonadotoxinas mais perigosas são: radiação, medicamentos usados<br />
na quimioterapia (câncer), pesticidas, calor excessivo, nicotina, álcool<br />
em excesso, maconha e os anabolizantes. Existem ainda outros medicamentos<br />
que diminuem a fertilida<strong>de</strong>, entre eles <strong>de</strong>stacam-se alguns<br />
antibióticos, anti-hipertensivos, medicamentos usados no tratamento<br />
da <strong>de</strong>pressão, etc. O antibiótico em estudo é usado em tratamento<br />
alternativo <strong>para</strong> infecções genitais. A amoxicilina é um antibiótico<br />
ß-lactâmico <strong>de</strong> amplo espectro, que atua sobre bactérias sensíveis,<br />
interferindo na biossíntese do peptidioglicano (pare<strong>de</strong> celular). Este<br />
trabaho tem por objetivo a análise da fertilização e possíveis efeitos<br />
teratogênicos em ratos Wistars tratados com amoxicilina. Para a<br />
realização do experimento, foram utilizados ratos machos e fêmeas<br />
Wistars, sob os quais foram administrados o medicamento nas doses<br />
<strong>de</strong> 125 mg e 250 mg através do método <strong>de</strong> gavagem, e submetidos<br />
ao cruzamento. Posteriormente, observou-se a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acasalamento<br />
e malformações congênitas. Após as análises iniciais dos dados,<br />
verificamos que os diversos grupos <strong>de</strong> animais conseguiram realizar<br />
acasalamento, porém observamos que nas fêmeas que receberam<br />
250mg <strong>de</strong> amoxicilina, houve a presença <strong>de</strong> filhotes mortos após o<br />
nascimento (n=5) e encurtamento dos membros inferiores. Com isso<br />
po<strong>de</strong>mos concluir que a amoxicilina em concentrações terapêuticas<br />
elevadas po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar efeitos teratogênicos, porém não afeta a<br />
fertilida<strong>de</strong> em mo<strong>de</strong>los experimentais <strong>de</strong> ratos Wistars.<br />
Analysis of the fertilization and possible teratogenical<br />
effects in mices Wistars treated with amoxilin<br />
The infertility is a condition that affects many couples and<br />
brings economical, psychological, <strong>de</strong>mographic and medical<br />
consequences. There are many medicines and toxic substances<br />
that are used daily, which can cause infertility, affecting directly<br />
the testicles or affecting the hormones involved on the production<br />
of the spermatozoon. The most dangerous gonad toxin are:<br />
radiation, medicines used in chemotherapy (cancer), pestici<strong>de</strong>,<br />
excessive heat, nicotine, alcohol in excess, marijuana and anabolic<br />
steroids. There are, also, medicines that reduce the fertility, like<br />
some antibiotics, anti hypertensive, medicines used in <strong>de</strong>pression<br />
treatment, etc. The antibiotic analyzed is used in alternative treatment<br />
of genital infection. The amoxilin is a ß-lactamic antibiotic<br />
with wi<strong>de</strong> spectrum, that acts on sensitive bacteria, interfering in<br />
the biosynthesis of the pepti<strong>de</strong>oglican (cellular wall). This work<br />
focus on the analysis of the fertilization and possible teratogenical<br />
effects in mices wistars treated with amoxilin. To realize the<br />
experiment were used in males and females wistars mices doses<br />
of 125mg and 250 mg of amoxilin by gavages method and after<br />
submitted to the crossing. Later it was observed the capacity of<br />
mating and bad congenital formation. After initial data analyses,<br />
were observed that several groups of animals got mate, although<br />
in females that received 250 mg of amoxilin some mices died after<br />
birth ( n = 5 ) and shortening of the inferior members. Therefore,<br />
we can conclu<strong>de</strong> that the amoxilin in high therapeutic concentrations<br />
can unchain teratogenical effects, besi<strong>de</strong>s it doesn’t effect the<br />
fertility in experimental mo<strong>de</strong>ls of mice wistars.<br />
Keywords: Antibiotic, amoxilin, infertility<br />
Palavras-chave: Antibiótico, amoxicilina, infertilida<strong>de</strong><br />
178<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Introdução<br />
Os agentes antibacterianos<br />
situam-se entre as mais importantes<br />
<strong>de</strong>scobertas terapêuticas<br />
do século 20, tendo modificado<br />
dramaticamente o curso <strong>de</strong> muitas<br />
doenças, com redução da mortalida<strong>de</strong><br />
humana. Por outro lado, os antibióticos<br />
estão entre os agentes mais indiscriminadamente<br />
prescritos, sendo o uso<br />
aleatório um importante fator <strong>de</strong> contribuição<br />
<strong>para</strong> o crescente problema <strong>de</strong><br />
resistência bacteriana (16).<br />
Ao contrário <strong>de</strong> outros agentes,<br />
entretanto, seu uso excessivo e<br />
<strong>de</strong>snecessário acarreta, além <strong>de</strong> aumento<br />
<strong>de</strong> risco <strong>de</strong> eventos adversos e<br />
excesso <strong>de</strong> custo, comprometimento<br />
<strong>de</strong> sua própria eficácia, em gran<strong>de</strong><br />
parte pela adaptação microbiana aos<br />
mesmos por mecanismos variados<br />
<strong>de</strong> resistência. Em razão disso, o uso<br />
racional (que muitas vezes, mas não<br />
exclusivamente, significa restrição ao<br />
uso ou acesso) <strong>de</strong> antimicrobianos é<br />
<strong>de</strong> interesse vital <strong>de</strong> hospitais e mais<br />
recentemente <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> planejamento<br />
<strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (3).<br />
A preocupação dos órgãos sanitários,<br />
entre eles a Organização Mundial <strong>de</strong><br />
Saú<strong>de</strong> (OMS), o Ministério da Saú<strong>de</strong> e<br />
o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Farmácia (CFF), é<br />
traduzida em números. Segundo dados<br />
da OMS, 75% dos antibióticos são prescritos<br />
inapropriadamente, acarretando<br />
o crescimento da resistência da maioria<br />
dos germes causadores <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s<br />
infecciosas <strong>de</strong>vido ao seu uso excessivo.<br />
Com isto, cresce a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
investir na qualificação profissional dos<br />
farmacêuticos que atuam nos estabelecimentos<br />
públicos e privados, com o objetivo<br />
<strong>de</strong> se estabelecer uma assistência<br />
farmacêutica <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> como parte<br />
integrante e essencial dos processos <strong>de</strong><br />
atenção à saú<strong>de</strong> em todos os níveis <strong>de</strong><br />
complexida<strong>de</strong> (1).<br />
CH 3<br />
HO<br />
CHCONH<br />
H H<br />
S<br />
CH .3 H<br />
NH 3<br />
2<br />
O<br />
2<br />
N<br />
O<br />
COOH<br />
Amoxicilina<br />
Figura 1. Estrutura da amoxicilina triidratada. Ácido [2S-[2α,5α,6ß(S*)]]-6-[[amino(4-<br />
hidroxifenil)acetil]amino]-3,3-dimetil-7-oxo-4-tia-1-azabiciclo[3.2.0]heptano-2-carboxílico<br />
triidratado - “Fonte: Farmacopéia Brasileira (2000)”<br />
De acordo com Katzung e Silva<br />
(1998), os mecanismos <strong>de</strong> ação dos<br />
antibióticos po<strong>de</strong>m ser divididos em<br />
quatro tipos: inibição da síntese da<br />
pare<strong>de</strong> celular; alteração da permeabilida<strong>de</strong><br />
da membrana e do transporte<br />
ativo através da membrana celular;<br />
inibição da síntese protéica; inibição<br />
da síntese <strong>de</strong> ácidos nucléicos.<br />
As penicilinas constituem um dos<br />
grupos mais importantes <strong>de</strong> antibióticos,<br />
sentar ativida<strong>de</strong> sobre germes Grampositivos<br />
e cocos Gram-negativos em<br />
concentrações baixas, situadas entre<br />
0,01 e 0,1 μg/mL. Para os bacilos<br />
Gram-negativos sensíveis a concentração<br />
inibitória mínima situa-se entre<br />
0,5 e 5,0 μg/mL. Em geral, os bacilos<br />
Gram-negativos resistentes e o estafilococos<br />
produtor <strong>de</strong> penicilase são<br />
resistentes a concentrações superiores<br />
a 250 μg/mL (23).<br />
apesar <strong>de</strong> terem sido produzidos<br />
outros numerosos agentes antimicrobianos<br />
Farmacocinética<br />
(9). A penicilina foi <strong>de</strong>scober-<br />
ta por Alexan<strong>de</strong>r Fleming em 1928<br />
como um subproduto do Penicillium<br />
notatum, da qual originou o nome do<br />
medicamento. As penicilinas consistem<br />
<strong>de</strong> um anel β-lactâmico fundido<br />
a um anel sulfúrico <strong>de</strong> cinco membros<br />
contendo tiazolidina (16).<br />
Particularmente, a amoxicilina é<br />
uma penicilina semi-sintética sensível<br />
à penicilase, com proximida<strong>de</strong> químicofarmacológica<br />
a ampicilina. Sendo estável<br />
em meio ácido e projetada <strong>para</strong><br />
uso oral. Os máximos <strong>de</strong> concentração<br />
plasmática da amoxicilina são entre<br />
duas vezes e meia maiores do que os<br />
da ampicilina após a administração oral<br />
<strong>de</strong> uma dose idêntica (9).<br />
A amoxicilina é caracterizada por<br />
ter estabilida<strong>de</strong> em meio ácido e apre-<br />
Tem característica <strong>de</strong> ser resistente<br />
à ação do suco gástrico e sua absorção<br />
pelo trato gastrintestinal atinge 75 a<br />
90% da dose oral (20). As concentrações<br />
séricas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dose única<br />
<strong>de</strong> 500mg são <strong>de</strong> 3 μg/mL após 45<br />
minutos, 7 a 7,5 μg/mL após 1 a 2<br />
horas e traços após 8 horas. O volume<br />
da distribuição é <strong>de</strong> 0,25 a 0,42 L/kg<br />
(10). A alimentação não interfere, <strong>de</strong><br />
maneira significativa, na absorção do<br />
antibiótico, motivo pelo qual é preferido<br />
por alguns autores em lugar da<br />
ampicilina, por via oral (20).<br />
Amoxicilina se liga às proteínas<br />
plasmáticas na taxa <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />
20%. Distribui-se, primariamente, no<br />
líquido extracelular, e atinge elevadas<br />
concentrações na bile e na urina (20).<br />
180<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Cerca <strong>de</strong> 5% da dose administrada é<br />
eliminada pela bile sob a forma ativa,<br />
havendo concentração dos antibióticos<br />
neste líquido; nos pacientes com obstrução<br />
do canal biliar, o fármaco não<br />
é encontrado na bile (23).<br />
É eliminada rapidamente por<br />
secreção tubular renal, sendo que<br />
cerca <strong>de</strong> 50 a 70% são excretadas<br />
pela urina, sob a forma inalterada<br />
(20). Sofre biotransformação apenas<br />
parcial (10%), resultando em ácido<br />
penicilóico correspon<strong>de</strong>nte inativo<br />
(10). Nos pacientes com função renal<br />
normal, a meia-vida na fase beta <strong>de</strong><br />
eliminação dura aproximadamente 1<br />
hora. A meia-vida é prolongada nos<br />
anúricos, <strong>de</strong> 8 a 16 horas, exigindo<br />
ajuste <strong>de</strong> posologia (20).<br />
É capaz <strong>de</strong> manter concentrações<br />
terapêuticas sobre germes muito<br />
sensíveis até por 8 horas (23). É removível<br />
por hemodiálise e excretada<br />
pelo leite (10). Atravessa a barreira<br />
placentária, atingindo níveis terapêuticos<br />
no feto e no líquido amniótico<br />
em torno <strong>de</strong> 60% dos níveis maternos,<br />
atravessando também a barreira<br />
hematoencefálica em pacientes com<br />
meningoencefalites (23).<br />
Mecanismo <strong>de</strong> ação da amoxicilina<br />
Pelo fato <strong>de</strong> ser uma penicilina<br />
semi-sintética, apresenta as mesmas<br />
proprieda<strong>de</strong>s antimicrobianas e farmacodinâmicas<br />
da ampicilina (22).<br />
A fim <strong>de</strong> se protegerem as bactérias,<br />
biossintetizam membranas plasmáticas,<br />
pare<strong>de</strong>s celulares e cápsula. Tal<br />
proteção se faz necessária <strong>para</strong> seu<br />
crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento porque<br />
o interior bacteriano é hiperosmolar em<br />
relação ao meio extracelular. Sem ela,<br />
a célula se <strong>de</strong>sintegraria. A rigi<strong>de</strong>z da<br />
pare<strong>de</strong> celular bacteriana é proporcionada<br />
por um peptidioglicano, formado<br />
<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias dissacarí<strong>de</strong>as, ligadas entre<br />
si por intermédio <strong>de</strong> pontes peptídicas.<br />
A amoxicilina atua sobre bactérias<br />
sensíveis, interferindo na biossíntese<br />
<strong>de</strong>sse peptidioglicano (9).<br />
Na primeira etapa da biossíntese do<br />
peptidioglicano da pare<strong>de</strong> bacteriana,<br />
forma-se um precursor que se acumula<br />
no citoplasma da célula bacteriana,<br />
chamada uridinodifosfato-muramilpentapeptídio.<br />
Na formação <strong>de</strong>ste produto,<br />
ocorre a adição <strong>de</strong> um dipeptídio,<br />
a D-alanina-D-alanina. Na síntese <strong>de</strong>sse<br />
dipeptídio, observam-se a racemização<br />
(por uma racemase) da L-alanina e uma<br />
con<strong>de</strong>nsação catalisada pela D-alanina-<br />
D-alanina sintetase (20).<br />
Na segunda etapa <strong>de</strong>ste processo,<br />
o UDP-muramil-pentapeptídio se liga<br />
a UDP-acetilglicosamina, liberando os<br />
nucleotí<strong>de</strong>os uridínicos. Este <strong>de</strong>rivado<br />
dissacarídico-peptídico é ligado a um<br />
lipí<strong>de</strong>o transportador. Ocorre, então, a<br />
adição <strong>de</strong> uma ponte <strong>de</strong> pentaglicina à<br />
lisina <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia pentapeptídica. Neste<br />
momento, libera-se o lipí<strong>de</strong>o transportador<br />
e, <strong>de</strong>sse modo, se forma a<br />
unida<strong>de</strong> do enorme polímero que é o<br />
peptidioglicano. Esta unida<strong>de</strong> é levada<br />
<strong>para</strong> a extremida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento<br />
da pare<strong>de</strong> bacteriana, aumentando a<br />
ca<strong>de</strong>ia polissacarídica em <strong>de</strong>senvolvimento<br />
(20).<br />
Na terceira etapa, ocorre a ligação<br />
cruzada peptídica dos polímeros lineares<br />
<strong>de</strong> peptidioglicano, através <strong>de</strong><br />
uma reação <strong>de</strong> transpeptidação que se<br />
verifica do lado <strong>de</strong> fora da membrana<br />
plasmática, à custa <strong>de</strong> uma transpeptidase,<br />
enzima localizada na membrana<br />
plasmática. A transpeptidação é<br />
realizada pela ponte <strong>de</strong> pentaglicina,<br />
que se liga ao quarto componente<br />
(D-alanina) do pentapeptídio original,<br />
liberando neste ataque o seu quinto<br />
componente (também D-alanina).<br />
Esse passo terminal da biossíntese<br />
do peptidioglicano é bloqueado pelos<br />
antibióticos β-lactâmicos (20).<br />
Indicação<br />
A amoxicilina po<strong>de</strong> ser indicada<br />
<strong>para</strong> o tratamento <strong>de</strong>:<br />
• Otite média aguda, sinusite aguda<br />
• Tratamento <strong>de</strong> mordida <strong>de</strong> cão<br />
(cobertura <strong>de</strong> Pasteurella multocida)<br />
• Amigdalite<br />
• Infecções pulmonares<br />
• Infecção do trato geniturinário<br />
• Infecção respiratória alta<br />
• Exacerbações bacterianas da<br />
bronquite crônica<br />
• Infecções do trato biliar<br />
• Infecções <strong>de</strong> feridas causadas<br />
por queimaduras da pele e do<br />
tecido mole<br />
• Febre Tifói<strong>de</strong> (2,5,14,17)<br />
Infertilida<strong>de</strong><br />
A infertilida<strong>de</strong> é uma condição<br />
que acomete muitos casais e que<br />
tem consequências econômicas,<br />
psicológicas, <strong>de</strong>mográficas e médicas<br />
importantes (6).<br />
O homem impotente é tecnicamente<br />
infértil (se sua impotência for<br />
temporária ou curável) ou estéril (se<br />
ela for <strong>de</strong>finitiva). Mas o homem infértil<br />
não é necessariamente impotente.<br />
Na maioria dos casos, a infertilida<strong>de</strong><br />
do homem <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> fatores que<br />
não afetam seu <strong>de</strong>sejo sexual e nem<br />
sua capacida<strong>de</strong> normal <strong>de</strong> satisfazêlo.<br />
A infertilida<strong>de</strong> do homem significa<br />
apenas a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fecundar<br />
mulheres normalmente férteis (18).<br />
Classifica-se a infertilida<strong>de</strong> em<br />
primária (quando não houve geração<br />
<strong>de</strong> filhos) e secundária (quando há<br />
dificulda<strong>de</strong>s em se conseguir uma<br />
gravi<strong>de</strong>z subseqüente) (11).<br />
Um casal é consi<strong>de</strong>rado infértil se<br />
não conseguir a gravi<strong>de</strong>z após cerca<br />
<strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> relacionamento sexual<br />
182<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
ativo, sem uso <strong>de</strong> qualquer método anticoncepcional.<br />
O processo <strong>de</strong> produção<br />
dos espermatozói<strong>de</strong>s, amadurecimento,<br />
transporte, bem como a própria ejaculação<br />
também sofrem interferência <strong>de</strong><br />
alguns hormônios produzidos no nosso<br />
organismo. Assim sendo, qualquer interferência<br />
em alguma <strong>de</strong>ssas etapas po<strong>de</strong><br />
causar infertilida<strong>de</strong> masculina (7).<br />
Teratogênese<br />
A teratologia é a ciência que se<br />
preocupa em estudar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
humano anormal e suas causas<br />
(agentes teratogênicos). No <strong>de</strong>senvolvimento<br />
anormal, costuma-se usar o<br />
termo malformações congênitas, que<br />
representa as anomalias morfológicas<br />
presentes ao nascimento (12).<br />
Distúrbios do <strong>de</strong>senvolvimento são<br />
reconhecidos há séculos, mas uma relação<br />
direta entre os teratógenos ambientais<br />
e <strong>de</strong>feitos congênitos humanos<br />
só foi <strong>de</strong>monstrada em 1941 (4).<br />
Na análise da teratogenicida<strong>de</strong>,<br />
reconhecem-se fatores importantes:<br />
• Época da exposição ao teratógeno:<br />
esses exercem seus efeitos<br />
quando a diferenciação e morfogênese<br />
estão no auge<br />
• Dosagem: há poucas informações<br />
sobre a dosagem nos estudos<br />
humanos, mas pesquisas<br />
em animais mostraram a relação<br />
dose-resposta prevista. A dose<br />
que atinge o feto é parcialmente<br />
<strong>de</strong>terminada pela capacida<strong>de</strong><br />
materna <strong>de</strong> metabolizar a substância<br />
tóxica, que por sua vez<br />
é influenciada pelo genótipo da<br />
mãe<br />
• Genótipo do feto: existem muitos<br />
exemplos comprocados em<br />
animais <strong>de</strong> laboratório e vários<br />
exemplos humanos suspeitados,<br />
<strong>de</strong> diferenças genéticas na resposta<br />
a um teratógeno<br />
• Genótipo materno: pouco se<br />
estudou o efeito teratogênico<br />
do genétipo materno sobre as<br />
crianças expostas in utero. Qualquer<br />
efeito <strong>de</strong>ste tipo resultaria<br />
das conseqüências metabólicas<br />
anormais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito genético<br />
materno (24).<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento anormal resulta<br />
<strong>de</strong> influências ambientais sobrepostas<br />
às suscetibilida<strong>de</strong> genética. Os fatores<br />
envolvidos no <strong>de</strong>senvolvimento anormal<br />
incluem ida<strong>de</strong>, raça, país, nutrição<br />
e época do ano (4).<br />
Fatores genéticos são causadores<br />
<strong>de</strong> um número significante <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos<br />
congênitos. Um número anormal <strong>de</strong><br />
cromossomos está associado à morte<br />
pré-natal e à síndromes <strong>de</strong> estruturas<br />
normais. Causas comuns <strong>de</strong> anomalias<br />
são as monossomais e as trissomias, que<br />
geralmente resultam <strong>de</strong> não-disjunção<br />
durante a meiose. Outras malformações<br />
têm como base a estrutura cromossomal.<br />
Certas malformações baseiam-se<br />
em mutações genéticas (4).<br />
Entre os fatores ambientais que levam<br />
a um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>feituoso<br />
estão infecções maternas, teratógenos<br />
químicos, fatores físicos, tais como<br />
radiação ionizante, fatores maternos<br />
e fatores mecânicos (4).<br />
Uma anomalia congênita é qualquer<br />
tipo <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong> estrutural;<br />
entretanto, nem todas as variações do<br />
<strong>de</strong>senvolvimento são anomalias. Há<br />
quatro tipos <strong>de</strong> anomalias congênitas<br />
clinicamente significantes: malformação,<br />
perturbação, <strong>de</strong>formação e<br />
displasia (13).<br />
A incidência global das malformações<br />
congênitas variam <strong>de</strong> uma<br />
pesquisa <strong>para</strong> outra, não apenas por<br />
serem os dados colhidos em populações<br />
diferentes, mas também por<br />
variarem os métodos <strong>de</strong> averiguação<br />
e os critérios <strong>de</strong> observação e classificação<br />
(15).<br />
Calcula-se que no Brasil cerca<br />
<strong>de</strong> 7% das crianças apresentam algum<br />
tipo <strong>de</strong> malformação, mas esse<br />
percentual po<strong>de</strong> ser aumentado se<br />
consi<strong>de</strong>rarmos que 20% dos abortos<br />
espontâneos são <strong>de</strong> crianças malformadas<br />
e ainda que uma boa parte<br />
das crianças malformadas apresente<br />
anomalias que não são visíveis ao nascimento<br />
(12). Os <strong>de</strong>feitos congênitos<br />
humanos são resultante <strong>de</strong> ações perturbadoras<br />
<strong>de</strong> drogas, vírus e outros<br />
fatores ambientais (13).<br />
A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong><br />
consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> pesquisas durante<br />
os últimos 50 anos, a causa <strong>de</strong><br />
pelo menos 50% das malformações<br />
congênitas humanas ainda permanece<br />
<strong>de</strong>sconhecida. Dos outros 50%,<br />
aproximadamente 25% têm base<br />
genética (<strong>de</strong>feitos cromossomais ou<br />
mutantes com base em genéticas<br />
men<strong>de</strong>liana) e menos <strong>de</strong> 10% são<br />
atribuídos a fatores ambientais ou<br />
teratógenos físicos ou químicos.<br />
Causas multifatoriais completam o<br />
restante (4).<br />
Materiais e Métodos<br />
Materiais<br />
Os animais utilizados neste experimento<br />
foram provenientes <strong>de</strong> cruzamentos<br />
<strong>de</strong> ratas fêmeas doadas do<br />
biotério da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />
São Paulo (Unesp) campus Araraquara<br />
com machos pertencentes ao biotério<br />
da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araraquara (Uniara).<br />
As linhagens foram cruzadas,<br />
simultaneamente, <strong>de</strong> modo que os<br />
mesmos não apresentassem grau<br />
<strong>de</strong> parentesco durante a realização<br />
<strong>de</strong>ste protocolo experimental. O projeto<br />
foi submetido ao Comitê <strong>de</strong> Ética<br />
em Pesquisa (CEP) do HCFMRP-USP,<br />
sendo aprovado sob ofício no 1787/07<br />
– Processo HCRP no 1801/07.<br />
184<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Foi utilizado um total <strong>de</strong> 52 ratos<br />
Wistars adultos distribuídos em<br />
machos (n=26) e fêmeas (n=26),<br />
on<strong>de</strong> os mesmos foram divididos em<br />
12 grupos.<br />
Nos animais tratados <strong>de</strong> ambos os<br />
sexos, foi administrado o antibiótico<br />
amoxicilina diluída em 1 mL <strong>de</strong> solução<br />
salina 0,9%, por via oral, através do<br />
método <strong>de</strong> gavagem. As concentrações<br />
farmacológicas utilizadas <strong>para</strong> a<br />
realização do experimento objetivou<br />
dois aspectos: (1) alta concentração<br />
farmacológica; (2) concentração elevada<br />
nos animais, porém, que não<br />
provocassem mortes dos mesmos.<br />
A concentração <strong>de</strong> 125 mg foi dada<br />
através <strong>de</strong> uma única administração,<br />
enquanto a dose <strong>de</strong> 250 mg foi distribuída<br />
em duas administrações em<br />
dias consecutivos.<br />
Para a diluição do medicamento<br />
utilizamos eppendorffes e com auxílio<br />
<strong>de</strong> pipeta automática <strong>de</strong> 1 mL,<br />
adicionou-se a solução salina 0,9%.<br />
Na administração do medicamento<br />
foram usadas cânulas <strong>de</strong> irrigação<br />
revestidas com dispositivo plástico,<br />
acopladas às seringas <strong>de</strong> 1 mL.<br />
Realizou-se uma abertura cirúrgica<br />
em duas ratas. Para a visualização dos<br />
órgãos internos, utilizamos o anestésico<br />
Ketamina (10%) e o relaxante muscular<br />
Xilazina, ambos na concentração<br />
<strong>de</strong> 0,1 mL/100g <strong>de</strong> peso (i.m.). Para a<br />
realização da cirurgia usamos a mesa<br />
cirúrgica, tesoura, bisturi e seringa<br />
com agulha <strong>para</strong> a administração dos<br />
medicamentos supracitados.<br />
Métodos<br />
Antes da administração do medicamento,<br />
todos os animais que foram submetidos<br />
ao teste não se alimentaram<br />
por um período <strong>de</strong> aproximadamente<br />
5 horas que antecedia a administração<br />
do mesmo, objetivando a eficiência no<br />
mecanismo <strong>de</strong> absorção intestinal.<br />
Os animais tratados com uma dose<br />
única <strong>de</strong> 125 mg do antibiótico foram<br />
submetidos ao acasalamento após 24<br />
horas da administração farmacológica.<br />
Já aqueles que foram tratados com 250<br />
mg do antibiótico, a dose foi dividida em<br />
dois dias consecutivos, e somente após<br />
24 horas ao término da administração<br />
farmacológica é que esses animais<br />
foram submetidos ao acasalamento<br />
por um período <strong>de</strong> aproximadamente<br />
15 dias. Após esse período, foi observada<br />
a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acasalamento e<br />
prenhez das fêmeas. Todos os animais<br />
recém-nascidos foram contabilizados e<br />
avaliados quanto ao peso, tamanho e<br />
morfologia externa.<br />
Os animais recém-nascidos tiveram<br />
acompanhamento no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia <strong>de</strong> vida até<br />
completarem, aproximadamente, 30<br />
dias, on<strong>de</strong> nesse período, realizaramse<br />
pesagens dos mesmos.<br />
Após o período <strong>de</strong> acasalamento, todos<br />
os ratos machos foram sacrificados<br />
com CO 2<br />
. As fêmeas e seus filhotes só<br />
foram sacrificados quando eles estavam<br />
com um mês <strong>de</strong> vida, em média.<br />
Particularmente, a fêmea 3 (que<br />
apresentou nascimento <strong>de</strong> todos<br />
ratos mortos) foi submetida à ação<br />
cirúrgica (Figura 2), sob o efeito<br />
do anestésico, on<strong>de</strong> uma abertura<br />
na região abdominal foi realizada,<br />
verificando-se ainda a presença <strong>de</strong><br />
fetos intra-uterinos mortos.<br />
Figura 2. Rata 3 após cirurgia, mostrando<br />
na figura seu útero contendo dois filhotes<br />
mortos, sendo um <strong>de</strong>les com malformação<br />
Resultados e<br />
Discussão<br />
Para a compreensão dos resultados,<br />
elaboramos no Quadro 1 os<br />
cruzamentos realizados associando<br />
os animais que receberam ou não<br />
a amoxicilina nas concentrações <strong>de</strong><br />
125 ou 250 mg/oral. Além disso, este<br />
mesmo Quadro 1 ilustra o período<br />
<strong>de</strong> gestação contabilizado a partir do<br />
início do período <strong>de</strong> acasalamento,<br />
número <strong>de</strong> filhotes vivos, mortos e<br />
aqueles que apresentaram efeito <strong>de</strong><br />
teratogenicida<strong>de</strong>. O peso e tamanho<br />
dos animais estão apresentados neste<br />
trabalho no formato <strong>de</strong> Anexo, <strong>para</strong><br />
que possa ser apreciado.<br />
Posto que há dificulda<strong>de</strong> na observação<br />
do momento exato do<br />
acasalamento machos e fêmeas, os<br />
resultados dos dias <strong>de</strong> gestação das<br />
fêmeas são uma estimativa, pois não<br />
tem como haver um monitoramento<br />
constante 24h. É importante ressaltar<br />
que todos os ratos (machos e fêmeas)<br />
ficaram submetidos ao acasalamento<br />
durante um período <strong>de</strong> 15 dias.<br />
Analisando as médias feitas dos<br />
resultados (Quadro 2), no grupo A<br />
po<strong>de</strong>mos observar que a média do<br />
número <strong>de</strong> filhotes está <strong>de</strong>ntro do<br />
<strong>de</strong>svio permitido, e em relação à média<br />
dos dias <strong>de</strong> gestação verificou-se<br />
que está abaixo da variação permitida<br />
pelo <strong>de</strong>svio, porém, <strong>de</strong> acordo<br />
com conceitos literários está <strong>de</strong>ntro<br />
do padrão.<br />
Os grupos B e C foram os que<br />
apresentaram valores <strong>de</strong>ntro do padrão<br />
segundo a média <strong>de</strong> gestação e<br />
média do número <strong>de</strong> filhotes nascidos.<br />
Porém, no grupo C os machos (n=5)<br />
tratados com 250mg do medicamento,<br />
observou-se uma redução significativa<br />
do número <strong>de</strong> filhotes resultantes do<br />
cruzamento C9 quando com<strong>para</strong>do<br />
com a média do número <strong>de</strong> filhotes<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
185
Quadro 1. Resultados observados nos cruzamentos entre machos e fêmeas que receberam amoxicilina em diferentes concentrações<br />
Cruzamento<br />
Período <strong>de</strong> Nº total<br />
Macho<br />
Fêmea gestação (dias) filhotes<br />
Filhotes mortos Teratogenicida<strong>de</strong><br />
C 1 --- 250 mg 22 13 2 ---<br />
C 2 --- 250 mg 22 10 --- ---<br />
C 3 --- 250 mg 22 7 7 2<br />
C 4 --- 125 mg 22 13 --- ---<br />
C 5 --- 125 mg 25 11 --- ---<br />
C 6 --- 125 mg --- --- --- ---<br />
C 7 250 mg --- 23 15 --- ---<br />
C 8 250 mg --- 21 13 --- ---<br />
C 9 250 mg --- 23 6 --- ---<br />
C 10 125 mg --- 23 3 --- ---<br />
C 11 125 mg --- 34 14 --- ---<br />
C 12 --- 250 mg 21 14 --- ---<br />
C 13 --- 250 mg 23 13 --- ---<br />
C 14 --- 250 mg 23 11 --- ---<br />
C 15 250 mg --- 21 14 1 ---<br />
C 16 250 mg --- 27 12 --- ---<br />
C 17 125 mg --- 21 16 --- ---<br />
C 18 125 mg --- --- --- --- ---<br />
C 19 2 mL (sol.<br />
salina)<br />
--- 21 11 1 ---<br />
C 20 1 mL (sol.<br />
salina)<br />
--- 21 13 --- ---<br />
C 21 --- 2 mL (sol. salina) 21 13 --- ---<br />
C 22 --- 1 mL (sol. salina) 21 13 --- ---<br />
C 23 250 mg 250 mg 27 11 --- ---<br />
C 24 250 mg 125 mg 27 14 1 ---<br />
C 25 125 mg 125 mg 26 11 --- ---<br />
C 26 125 mg 250 mg 27 12 2 ---<br />
Média 24 12 ---<br />
(n=12). Po<strong>de</strong>mos sugerir que neste<br />
momento po<strong>de</strong>m existir fatores atribuídos<br />
pela ação farmacológica, que<br />
possa estar influenciando na espermatogênese<br />
dos animais machos.<br />
No grupo D, verificou-se a redução<br />
relativamente gran<strong>de</strong> do número<br />
<strong>de</strong> filhotes provenientes <strong>de</strong> um dos<br />
cruzamentos (C10) sendo este pertencente<br />
ao grupo <strong>de</strong> machos (n=4)<br />
tratados com 125mg <strong>de</strong> amoxicilina.<br />
A média do número <strong>de</strong> filhotes está<br />
<strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>svio permitido e a média<br />
do período <strong>de</strong> gestação está exce<strong>de</strong>ndo<br />
a variação permitida, todavia, está<br />
<strong>de</strong> acordo com a análise estatística<br />
o geral, estando então, <strong>de</strong>ntro do<br />
padrão permitido.<br />
Os grupos E, F, G e H são os do<br />
grupo controle on<strong>de</strong> macho ou fêmea<br />
recebem dosagens diferentes <strong>de</strong> solução<br />
salina (0,9%). Os resultados <strong>de</strong>sses<br />
grupos estão <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>svio padrão<br />
permitido.<br />
Quando observamos os grupos (I, J,<br />
K e L) em que ambos os animais foram<br />
tratados com AMX, <strong>de</strong> acordo com a<br />
média feita po<strong>de</strong>mos sugerir que aumentou<br />
o tempo do acasalamento pelo<br />
fato <strong>de</strong> uma possível libido alterada, e<br />
com isso observamos um tempo maior<br />
gestacional, similar aos resultados observado<br />
no grupo D.<br />
186<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Quadro 2. Grupos e seus respectivos cruzamentos, relacionando média <strong>de</strong> gestação e média do número <strong>de</strong> filhotes nascidos<br />
Grupos Cruzamentos Média <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> gestação Média do número <strong>de</strong> filhotes<br />
nascidos<br />
Grupo A C1, C2, C3, C12, C13 e C14 22 11<br />
Grupo B C4, C5 e C6 23 12<br />
Grupo C C7, C8, C9, C15 e C16 23 12<br />
Grupo D C10, C11, C17 e C18 26 11<br />
Grupo E C22 21 13<br />
Grupo F C21 21 13<br />
Grupo G C20 21 13<br />
Grupo H C19 21 11<br />
Grupo I C24 27 14<br />
Grupo J C25 26 11<br />
Grupo K C23 27 11<br />
Grupo L C26 27 12<br />
Resultados quanto às mortes e<br />
teratogenicida<strong>de</strong> dos filhotes<br />
Observando os resultados do grupo<br />
A, on<strong>de</strong> as fêmeas foram tratadas com<br />
250 mg <strong>de</strong> AMX, foi possível verificar<br />
em duas gestações (C1 e C3) nove<br />
filhotes mortos. Além disso, dois filhotes<br />
apresentavam encurtamento dos<br />
membros inferiores, sugerindo teratogenicida<strong>de</strong><br />
(Figuras 3, 4 e 5). Dentro<br />
<strong>de</strong>ste grupo <strong>de</strong> fêmeas analisadas,<br />
uma <strong>de</strong>las não apresentou nenhum<br />
filhote vivo quando com<strong>para</strong>do às<br />
<strong>de</strong>mais fêmeas pertencentes.<br />
No grupo B outra alteração que<br />
pô<strong>de</strong> ser observada foi a ausência <strong>de</strong><br />
prenhez em uma das fêmeas (C6),<br />
sugerindo a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fecundação<br />
ou fertilização.<br />
Durante o acompanhamento do crescimento<br />
dos filhotes provenientes do C15<br />
houve a morte <strong>de</strong> um filhote, sendo este<br />
cruzamento pertencente ao grupo C.<br />
No grupo D, a fêmea do C18, no<br />
período previsto <strong>para</strong> o nascimento <strong>de</strong><br />
seus filhotes observou-se sangue na<br />
serragem da caixa, sugerindo aborto<br />
espontâneo. Devido a este fato ocorrido<br />
foi realizada uma cirurgia no animal<br />
Figura 3. Filhote proveniente do C3, apresentando encurtamento dos membros inferiores<br />
Figura 4. Filhotes nascidos<br />
mortos (extra-uterino),<br />
provenientes do C3. Da<br />
esquerda <strong>para</strong> direita, um filhote<br />
aparentemente normal e o outro<br />
apresentando encurtamento dos<br />
membros inferiores<br />
Figura 5. Filhotes nascidos mortos extra-uterino, provenientes do C3<br />
188<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
<strong>para</strong> verificar a possível alteração. A<br />
mesma apresentou uma resistência<br />
ao efeito do anestésico após sua administração,<br />
tendo que administrar uma<br />
dosagem maior que a recomendada.<br />
Após a cirurgia, verificou-se que os<br />
órgãos da fêmea não apresentavam<br />
nenhuma alteração. O macho que<br />
recebeu 125mg <strong>de</strong> AMX, que veio a<br />
cruzar com essa fêmea, provavelmente<br />
apresentava comprometimento na espermatogênese<br />
ou redução da libido,<br />
não fecundando a fêmea, <strong>de</strong>scartando<br />
então, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aborto espontâneo.<br />
No grupo H, seis dias após o nascimento<br />
dos filhotes do C19, observouse<br />
a morte <strong>de</strong> um dos filhotes.<br />
No grupo I, em que tratamos<br />
tanto o macho quanto a fêmea, com<br />
Figura 6. Filhotes nascidos mortos do C1,<br />
com características aparentemente normais<br />
dosagens respectivas <strong>de</strong> 250mg e<br />
125 mg do antibiótico em estudo,<br />
verificamos após sete dias do nascimento<br />
dos filhotes <strong>de</strong>sse cruzamento<br />
(C24) um filhote morto.<br />
O grupo L, em que o macho recebeu<br />
125 mg do medicamento e fêmea<br />
250 mg, observou-se que, após sete<br />
dias do nascimento <strong>de</strong> seus filhotes,<br />
a morte <strong>de</strong> dois <strong>de</strong>les.<br />
Os outros grupos que não foram<br />
citados não houve alterações quanto à<br />
morte ou teratogenicida<strong>de</strong> dos filhotes<br />
provenientes dos cruzamentos.<br />
Assim, concluímos que a amoxicilina<br />
em concentrações terapêuticas<br />
elevadas po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar efeitos<br />
teratogênicos, sugerindo, porém que<br />
não afeta diretamente a fertilida<strong>de</strong> em<br />
mo<strong>de</strong>los experimentais <strong>de</strong> ratos Wistars,<br />
consi<strong>de</strong>rando que, praticamente<br />
todos os casais <strong>de</strong> animais foram capazes<br />
<strong>de</strong> promover prenhez.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
Andrea Sayuri Suguino<br />
asuguino@yahoo.com.br<br />
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333 p.<br />
190<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Artigo<br />
Kit <strong>para</strong> I<strong>de</strong>ntificação Bioquímica <strong>de</strong> Enterococos<br />
Isolados <strong>de</strong> Espécimes Clínicos Humanos<br />
Carlos Henrique Pessôa <strong>de</strong> Menezes e Silva, Alessandro Pereira Lins<br />
Farmacêuticos-Bioquímicos, Centro Tecnológico <strong>de</strong> Análises (CETAN), Vila Velha-ES<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Kit <strong>para</strong> I<strong>de</strong>ntificação Bioquímica <strong>de</strong> Enterococos<br />
Isolados <strong>de</strong> Espécimes Clínicos Humanos<br />
O aparecimento <strong>de</strong> resistência a drogas antimicrobianas nos<br />
isolados <strong>de</strong> enterococos faz com que seja necessária a diferenciação<br />
a<strong>de</strong>quada das espécies <strong>de</strong>ste gênero daquelas dos estreptococos<br />
do grupo D. Procedimentos bioquímicos tradicionais <strong>para</strong><br />
a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos são complexos, pois<br />
muitas são as espécies encontradas como patógenos humanos. Tal<br />
fato po<strong>de</strong> gerar resultados ina<strong>de</strong>quados, os quais po<strong>de</strong>m levar à<br />
antibioticoterapia imprópria. O kit miniaturizado e <strong>de</strong>sidratado<br />
proposto neste estudo mostrou-se confiável e prático <strong>para</strong> uso<br />
nos laboratórios clínicos. Cepas <strong>de</strong> referência e isolados clínicos<br />
foram i<strong>de</strong>ntificados com 100% <strong>de</strong> acurácia. O sistema <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong>scrito permite aos microbiologistas i<strong>de</strong>ntificar a maioria<br />
das espécies <strong>de</strong> Enterococcus com um número mínimo <strong>de</strong> provas<br />
bioquímicas convencionais.<br />
Kit for Biochemical I<strong>de</strong>ntification of Enterococci Isolated<br />
from Human Clinical Sources<br />
Emerging drug resistance of the enterococci necessitates<br />
differentiation from group D streptococci and accurate species<br />
i<strong>de</strong>ntification. Current biochemical procedures for the i<strong>de</strong>ntification<br />
of the enterococci species are overly complex for the large number<br />
of species encountered as human pathogen. This may result in an<br />
inaccurate report which could lead to improper antibiotic therapy.<br />
The proposed miniaturized <strong>de</strong>hydrated kit was shown to be both<br />
reliable and practical for use in the diagnostic laboratory. Reference<br />
strains and clinical isolates were i<strong>de</strong>ntified and the overall accuracy<br />
of i<strong>de</strong>ntification was 100%. The i<strong>de</strong>ntification system <strong>de</strong>scribed will<br />
enable microbiologists to accurately i<strong>de</strong>ntify most Enterococcus species<br />
with a minimal number of conventional physiologic tests.<br />
Keywords: Enterococcus, i<strong>de</strong>ntification, biochemical tests<br />
Palavras-Chaves: Enterococcus, i<strong>de</strong>ntificação, testes<br />
bioquímicos<br />
Introdução<br />
A<br />
taxonomia dos Streptococcus<br />
tem mudado drasticamente<br />
ao longo dos últimos 20 anos.<br />
Baseado em estudos <strong>de</strong> homologia<br />
<strong>de</strong> DNA, o gênero foi dividido em três<br />
outros: Enterococcus, Lactococcus e<br />
Streptococcus (2, 10, 12, 18). Espécies<br />
adicionais têm sido <strong>de</strong>scritas<br />
e novas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> espécies já<br />
conhecidas também. Estudos usando<br />
hibridização <strong>de</strong> DNA <strong>para</strong> diferenciar<br />
as espécies tem sido usados em combinação<br />
aos testes bacteriológicos<br />
convencionais, bem como o uso <strong>de</strong><br />
testes miniaturizados <strong>de</strong>sidratados<br />
<strong>para</strong> <strong>de</strong>screver fenotipicamente novas<br />
espécies (4, 24, 25).<br />
O gênero Enterococcus é formado<br />
por bactérias Gram-positivas, anaeróbias<br />
facultativas, em forma <strong>de</strong> cocos<br />
ligeiramente ovais e po<strong>de</strong>m aparecer<br />
microscopicamente como ca<strong>de</strong>ias<br />
curtas, aos pares ou como células<br />
isoladas. Como os estreptococos,<br />
estas bactérias também são oxidase<br />
e catalase negativos. São ubíquos e<br />
po<strong>de</strong>m ser encontrados no solo, em<br />
plantas, em produtos industrializados<br />
a base <strong>de</strong> carne e leite e como parte da<br />
microbiota normal do trato gastrointestinal<br />
<strong>de</strong> humanos, cães, pássaros,<br />
ruminantes, suínos e outros animais.<br />
Os Enterococcus po<strong>de</strong>m causar infecções<br />
em uma ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
sítios anatômicos no homem, incluindo<br />
o trato urinário, corrente sanguínea,<br />
coração e infecções do trato biliar e<br />
intestinal, bem como feridas cirúrgicas<br />
e após queimaduras (17).<br />
Collins et al. (4) incluíram as<br />
210<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
espécies E. avium, E. casseliflavus,<br />
E. durans e E. gallinarum à lista das<br />
espécies clinicamente importantes<br />
pertencentes ao gênero Enterococcus.<br />
Posteriormente, 12 novas espécies<br />
foram <strong>de</strong>scritas. E. dispar, E. hirae,<br />
E. flavescens, E. mundtii e E. raffinosus<br />
têm sido isoladas <strong>de</strong> espécimes<br />
clínicos humanos e <strong>de</strong> outras fontes<br />
ambientais (11, 16). E. pseudoavium<br />
e E. saccharolyticus têm sido isolados<br />
<strong>de</strong> gado bovino e outros mamíferos.<br />
E. columbae e E. cecorum têm sido<br />
isolados <strong>de</strong> pombos e galinhas, respectivamente.<br />
E. sulfureus tem sido<br />
isolado <strong>de</strong> plantas (16). E. solitarius,<br />
isolado <strong>de</strong> otites <strong>de</strong> pacientes admitidos<br />
em um hospital público (16) e<br />
também a partir <strong>de</strong> ruminantes (20)<br />
é agora <strong>de</strong>nominado Tetragenococcus<br />
halophilus (27). Da mesma forma, E.<br />
seriolicida, isolado <strong>de</strong> peixes e mastite<br />
bovina, é agora <strong>de</strong>nominado Lactococcus<br />
garviae (26).<br />
Os estreptococos possuidores <strong>de</strong><br />
antígeno do grupo D <strong>de</strong> Lancefield<br />
eram, no passado, divididos em duas<br />
categorias: os enterococos e os nãoenterococos.<br />
Com a alocação dos<br />
enterococos em uma novo gênero,<br />
os estreptococos do grupo D são,<br />
atualmente, em termos <strong>de</strong> importância<br />
médica, representados pelo<br />
Streptococcus bovis. Esses microrganismos<br />
são positivos <strong>para</strong> o teste <strong>de</strong><br />
bile-esculina mas em geral negativos<br />
<strong>para</strong> os testes <strong>de</strong> crescimento na<br />
presença <strong>de</strong> 6,5% <strong>de</strong> NaCl e hidrólise<br />
do ácido piroglutâmico β-naftilamida,<br />
PYR (reações bioquímicas classicamente<br />
utilizadas <strong>para</strong> caracterizar os<br />
enterococos) (22).<br />
Apresentam sensibilida<strong>de</strong> a muitos<br />
antimicrobianos, sendo encontrados<br />
normalmente no trato gastrointestinal.<br />
Existe uma tendência <strong>de</strong> se encontrar<br />
o S. bovis associado ao câncer <strong>de</strong> intestino<br />
grosso e endocardite infecciosa<br />
(16). Além disso, outros cocos Grampositivos<br />
catalase(-) como Lactococcus<br />
e Leuconostoc também hidrolisam<br />
a esculina e po<strong>de</strong>m crescer em meio<br />
contendo 6,5% <strong>de</strong> NaCl. Procedimentos<br />
atuais <strong>para</strong> a diferenciação entre<br />
estas espécies são complexos e como<br />
consequência, muitos laboratórios não<br />
estão familiarizados principalmente<br />
com as várias espécies <strong>de</strong> enterococos<br />
e ten<strong>de</strong>m a i<strong>de</strong>ntificá-los incorretamente,<br />
pois muitos laboratórios não<br />
possuem testes <strong>de</strong> maior acurácia<br />
<strong>para</strong> a correta i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>stas<br />
espécies (21).<br />
Nos laboratórios clínicos, os enterococos<br />
têm sido i<strong>de</strong>ntificados presuntivamente<br />
durante anos pela sua<br />
aparência microscópica e em meios <strong>de</strong><br />
cultura sólidos, além da sua habilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> hidrolisar a esculina na presença <strong>de</strong><br />
bile e <strong>de</strong> crescer na presença <strong>de</strong> 6,5%<br />
<strong>de</strong> NaCl (7). Entretanto, pelo fato <strong>de</strong><br />
alguns enterococos necessitarem <strong>de</strong><br />
até 48 horas <strong>de</strong> incubação <strong>para</strong> que a<br />
reação ocorra corretamente (1) e ainda<br />
por ser freqüentemente necessária<br />
a sua rápida i<strong>de</strong>ntificação em casos<br />
como sepsis e endocardites, testes<br />
mais rápidos tem sido <strong>de</strong>scritos como<br />
forma <strong>de</strong> triagem <strong>para</strong> caracterizar<br />
se o coco Gram-positivo isolado é um<br />
enterococo ou não.<br />
Um <strong>de</strong>stes testes <strong>de</strong> triagem rápida<br />
utiliza esculina a 0,2% em uma solução<br />
tamponada <strong>de</strong> NaCl a 6,5%, com a<br />
<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> 239 (100%) enterococos<br />
positivos após 2 horas <strong>de</strong> incubação<br />
observando, também, que os S. bovis<br />
testados geraram resultados positivos<br />
somente após 6 horas <strong>de</strong> incubação<br />
(23). Muitos outros sistemas <strong>de</strong> triagem<br />
utilizam a habilida<strong>de</strong> dos enterococos<br />
<strong>de</strong> hidrolisar o PYR. Bosley et al. (1)<br />
relataram que todos os 78 enterococos<br />
testados (incluindo 32 E. faecalis, 28<br />
E. faecium, 13 E. avium e 5 E. durans)<br />
foram positivos após 4 horas <strong>de</strong> incubação.<br />
Várias formulações <strong>de</strong>ste teste tem<br />
sido sugeridas, resultando em reações<br />
positivas <strong>para</strong> os enterococos em até<br />
10 minutos (26). No entanto, trata-se<br />
<strong>de</strong> um teste que, quando usado isoladamente<br />
ou em conjunção somente<br />
com os testes <strong>de</strong> rotina (bile-esculina<br />
e NaCl 6,5%) não fornece informações<br />
úteis com relação a i<strong>de</strong>ntificação da<br />
espécie em estudo.<br />
Kits <strong>para</strong> realizar i<strong>de</strong>ntificações bioquímicas<br />
<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos<br />
raramente são fabricados no Brasil e,<br />
portanto, até o momento, a maioria<br />
é importada, elevando sobremaneira<br />
o custo final do exame, muitas vezes<br />
impraticável pelo retorno financeiro<br />
recebido da maioria dos convênios <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong>. Exemplos <strong>de</strong>stes kits (manuais<br />
e automatizados) são: API 20 Strep e<br />
Rapid ID 32 Strep (bioMérieux, França),<br />
Strep-Zym (Rosco, Dinamarca), Pos<br />
Combo 21 (Da<strong>de</strong> Behring, EUA) (21).<br />
Material e Métodos<br />
Culturas<br />
Foram utilizados 128 isolados clínicos<br />
humanos <strong>de</strong> enterococos neste<br />
estudo (48 E. faecalis, 27 E. faecium,<br />
18 E. gallinarum, 12 E. casseliflavus, 8<br />
E. avium, 4 E. mundtii, 3 E. hirae, 2 E.<br />
durans, 2 E. raffinosus, 2 E. solitarius,<br />
2 E. malodoratus). Cepas padrão ATCC<br />
(American Type Culture Collection) foram<br />
incluídas em todos os testes como<br />
referência e controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (E.<br />
faecalis ATCC 29212, E. faecium ATCC<br />
27270, E. casseliflavus ATCC 25788,<br />
E. durans ATCC 49135, E. avium ATCC<br />
49464, E. gallinarum ATCC 49573, E.<br />
hirae ATCC 10541).<br />
Incluímos, ainda, 14 isolados clínicos<br />
<strong>de</strong> Streptococcus bovis e duas cepas<br />
padrão ATCC <strong>de</strong> S. bovis (ATCC 33317<br />
e 49133) como referência. Os isolados<br />
clínicos e as cepas padrão ATCC foram<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
211
semeados em placas <strong>de</strong> ágar sangue <strong>de</strong><br />
carneiro a 5% <strong>para</strong> checar sua pureza<br />
e repicadas <strong>para</strong> tubos contendo caldo<br />
Todd-Hewitt (Difco).<br />
Estoques das cepas foram mantidos<br />
a -70 o C em caldo Todd-Hewitt.<br />
A reativação das cepas do estoque<br />
ocorreu em caldo BHI (Difco) com<br />
incubação aeróbica a 35 o C. Após 18<br />
horas as amostras foram repicadas<br />
em placas <strong>de</strong> ágar sangue <strong>de</strong> carneiro<br />
a 5%, reincubadas aerobicamente a<br />
35 o C durante 24 horas e estas foram<br />
utilizadas <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong> todos<br />
os testes (8).<br />
Testes fisiológicos<br />
a) Triagem: tubos <strong>de</strong> poliestireno<br />
estéreis com 2 mL <strong>de</strong> meio <strong>de</strong><br />
triagem, <strong>de</strong>nominado ágar esculinasal-azida<br />
e outros contendo 1 mL <strong>de</strong><br />
ácido piroglutâmico β-naftilamida a<br />
0,01% em caldo Todd-Hewitt (Difco)<br />
foram utilizados <strong>para</strong> triagem dos enterococos<br />
(29). O meio <strong>de</strong> triagem foi<br />
<strong>de</strong>senvolvido a partir dos estudos <strong>de</strong><br />
Qadri et al. (23) modificado em nosso<br />
laboratório <strong>para</strong> obtenção <strong>de</strong> resultados<br />
positivos em menor tempo (1 a 2<br />
horas). O meio <strong>de</strong> esculina possui a<br />
seguinte formulação: esculina monohidratada<br />
(2,0 g), citrato férrico amoniacal<br />
(0,05 g), NaCl (65,0 g), peptona<br />
<strong>de</strong> caseína (10,0 g), azida sódica (0,2<br />
g) e ágar (13,0 g) em 1.000 mL <strong>de</strong><br />
água <strong>de</strong>ionizada. Ambos os meios <strong>de</strong><br />
triagem foram esterilizados a 121 o C<br />
durante 15 minutos antes <strong>de</strong> serem<br />
colocados assepticamente nos tubos<br />
<strong>de</strong> poliestireno, estes previamente<br />
esterilizados por óxido <strong>de</strong> etileno. Todas<br />
as cepas testadas (incluindo os S.<br />
bovis) foram inoculados nestes caldos,<br />
perfazendo suspensões com turbi<strong>de</strong>z<br />
equivalente ao tubo 3 da escala <strong>de</strong><br />
MacFarland e incubados em estufa<br />
bacteriológica a 35 o C durante 1 a 2<br />
horas. Após este período, as bactérias<br />
A<br />
A) Meio sem inocular<br />
B) E. gallinarum após 1hora <strong>de</strong><br />
incubação a 35-37 o C<br />
C) E. gallinarum após 2 horas <strong>de</strong><br />
incubação a 35-37 o C<br />
Figura 1. Reações dos enterococos no ágar<br />
esculina-sal-azida<br />
A<br />
B<br />
Figura 2. Reações dos enterococos<br />
no meio contendo ácido piroglutâmico<br />
ß-naftilamida<br />
que apresentaram coloração preta no<br />
ágar esculina-sal-azida (Figura 1) e<br />
hidrolisaram o PYR (aparecimento <strong>de</strong><br />
coloração vermelha (Figura 2) após a<br />
adição <strong>de</strong> uma gota <strong>de</strong> p-dimetilaminocinamal<strong>de</strong>ído)<br />
foram consi<strong>de</strong>radas<br />
presuntivamente como pertencentes<br />
ao gênero Enterococcus.<br />
b) Série bioquímica miniaturizada<br />
<strong>de</strong>sidratada: Cocos Grampositivos,<br />
catalase(-), cujos meios<br />
B<br />
A) E. faecalis (reação positiva)<br />
B) S. bovis (reação negativa)<br />
C<br />
apresentaram triagem positiva <strong>para</strong><br />
enterococos foram então inoculados<br />
no sistema miniaturizado proposto.<br />
Este sistema consiste em uma base<br />
plástica (placa <strong>de</strong> poliestireno estéril<br />
<strong>de</strong> 96 cavida<strong>de</strong>s com fundo “U”)<br />
contendo os substratos <strong>de</strong>sidratados<br />
(kit <strong>de</strong>nominado Enterococcus-ID).<br />
Escolhemos as provas que melhor<br />
diferenciassem as espécies <strong>de</strong> enterococos<br />
<strong>para</strong> a composição <strong>de</strong>ste kit<br />
(hidrólise da arginina, fermentação<br />
<strong>de</strong> arabinose, sorbitol, rafinose, lactose,<br />
sacarose e manitol). Os substratos<br />
foram <strong>de</strong>sidratados (Figura<br />
3) através <strong>de</strong> procedimento criado<br />
em nosso laboratório. O caldo <strong>para</strong><br />
a fermentação dos carboidratos foi<br />
formulado em nosso laboratório,<br />
consistindo em: peptona <strong>de</strong> caseína<br />
(10,0 g), extrato <strong>de</strong> levedura (3,0<br />
g), NaCl (5,0 g), vermelho <strong>de</strong> fenol<br />
(0,02 g), carboidrato (10,0 g), água<br />
<strong>de</strong>ionizada (1.000mL). A solução foi<br />
aquecida <strong>para</strong> a dissolução <strong>de</strong> todos<br />
os ingredientes e o pH foi ajustado a<br />
7,8 com solução <strong>de</strong> NaOH 1M. Todas<br />
as soluções foram esterilizadas por<br />
filtração (filtro <strong>de</strong> 0,22 µm, Millipore).<br />
Todos os isolados clínicos e as cepas<br />
<strong>de</strong> controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> foram inoculados<br />
em triplicata e incubados em<br />
estufa bacteriológica regulada a 35 o C<br />
durante 18-24 horas e os resultados<br />
foram interpretados e registrados<br />
(Figura 4).<br />
c) Provas bioquímicas convencionais:<br />
Foram utilizados os<br />
testes tradicionais empregados pela<br />
maioria dos laboratórios clínicos (ágar<br />
bile-esculina [Difco], caldo arginina<br />
<strong>de</strong>hidrolase segundo Moeller [Difco] e<br />
caldo nutriente [Merck] com 6,5% <strong>de</strong><br />
NaCl). Todos os isolados clínicos e as<br />
cepas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> foram<br />
inoculados em triplicata e incubados<br />
em estufa bacteriológica regulada a<br />
35 o C durante 18-24 horas.<br />
212<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
A) Verso da placa B) Frente da placa<br />
Figura 3. Placa contendo os testes <strong>de</strong>sidratados<br />
Figura 5. Produção <strong>de</strong> pigmento amarelo<br />
por E. casseliflavus em meio sólido<br />
1) E. faecalis; 2) E. faecium; 3) E. casseliflavus;<br />
4) E. gallinarum; 5) E. durans; 6) E. avium<br />
Figura 4. Reações dos isolados no kit Enterococcus-ID<br />
Resultados<br />
Os resultados obtidos pelo kit miniaturizado<br />
proposto neste estudo foram<br />
consistentes com os dados da literatura<br />
(1, 8, 11, 14, 22) tanto <strong>para</strong> as cepas<br />
padrão ATCC usadas como controle<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (Tabela 1) quanto <strong>para</strong><br />
aquelas isoladas <strong>de</strong> espécimes clínicos<br />
humanos (Tabelas 2, 3 e 4). Os testes<br />
<strong>de</strong> fermentação <strong>de</strong> carboidratos produziram<br />
uma cor amarela nítida <strong>para</strong> os<br />
resultados positivos e vermelha <strong>para</strong> os<br />
resultados negativos. O teste <strong>de</strong> hidrólise<br />
da arginina produziu cor vermelha<br />
<strong>para</strong> os resultados positivos e amarela<br />
<strong>para</strong> os resultados negativos.<br />
Resultados similares po<strong>de</strong>m ser encontrados<br />
com as provas bioquímicas<br />
do kit Enterococcus-ID quando são isolados<br />
E. faecium ou E. gallinarum como<br />
i<strong>de</strong>ntificados na Figura 4. No entanto, a<br />
cepa testada <strong>de</strong> E. faecium <strong>de</strong>monstrou<br />
reação atípica <strong>para</strong> a fermentação do<br />
sorbitol (somente 30% <strong>de</strong>stas espécies<br />
fermentam este carboidrato).<br />
Apesar <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> reação<br />
atípica, quando isso ocorreu pô<strong>de</strong>-se<br />
diferenciar as duas espécies utilizandose<br />
uma simples prova <strong>de</strong> motilida<strong>de</strong>,<br />
idêntica à usada em kits <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> enterobactérias, uma vez<br />
que E. gallinarum apresenta reação (+)<br />
(móvel) e E. faecium é imóvel. Outra<br />
situação que po<strong>de</strong> ocorrer é a i<strong>de</strong>ntificação<br />
bioquímica <strong>de</strong> E. faecium e E.<br />
casseliflavus simultaneamente quando<br />
ambos fermentam o sorbitol. Apesar <strong>de</strong><br />
atípica, esta situação po<strong>de</strong> ser contornada<br />
com a i<strong>de</strong>ntificação correta <strong>de</strong> E.<br />
casseliflavus, pois esta espécie produz<br />
um pigmento amarelo quando um swab<br />
<strong>de</strong> algodão é passado sobre as colônias<br />
crescidas no meio sólido, principalmente<br />
no caso <strong>de</strong> isolamento primário em<br />
ágar sangue <strong>de</strong> carneiro (Figura 5).<br />
O grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> do teste<br />
<strong>de</strong> arginina é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do meio<br />
utilizado. Embora a maioria dos E.<br />
faecalis e E. faecium produzam reações<br />
positivas em meios convencionais<br />
como os <strong>de</strong> Falkow e Moeller, outros<br />
enterococos tem <strong>de</strong>monstrado reações<br />
tardias nestes meios, com relatos <strong>de</strong><br />
positivida<strong>de</strong> somente após 48 horas <strong>de</strong><br />
incubação (4, 12, 24), o que também<br />
foi evi<strong>de</strong>nciado neste estudo pela utilização<br />
do caldo <strong>de</strong> arginina <strong>de</strong>hidrolase<br />
segundo Moeller na bateria <strong>de</strong> testes<br />
convencionais com<strong>para</strong>tivos.<br />
214<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Tabela 1. Resultados dos testes bioquímicos das cepas padrão ATCC usadas como controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />
Testes<br />
E. faecalis<br />
ATCC++<br />
29212<br />
E.<br />
faecium<br />
ATCC<br />
27270<br />
E.<br />
casseliflavus<br />
ATCC 25788<br />
E.<br />
durans<br />
ATCC<br />
49135<br />
E. avium<br />
ATCC<br />
49464<br />
E.<br />
gallinarum<br />
ATCC<br />
49573<br />
E. hirae<br />
ATCC<br />
10541<br />
S. bovis<br />
ATCC<br />
33317<br />
S.<br />
bovis<br />
ATCC<br />
49133<br />
Provas<br />
convencionais<br />
Ágar bileesculina<br />
+ + + + + + + + +<br />
(24 h)<br />
Caldo nutriente + + + + + + + + - -<br />
NaCl 6,5% (24 h)<br />
Kit proposto<br />
Triagem:<br />
ESC*-NaCl<br />
+ + + + + + + - -<br />
6,5% 1-2 h<br />
PYR** 1-2 h + + + + + + + - -<br />
Confirmativo:<br />
Arginina + + + + - + +<br />
Manitol + + + - + + -<br />
Arabinose - + + - + + -<br />
Sorbitol + - + - + - -<br />
Rafinose - + + - - + +<br />
Sacarose + + + - + + +<br />
Lactose + + + + + + +<br />
Adicional<br />
Pigmento - - + - - - -<br />
+: reação positiva (> 90%); -: reação negativa (< 10%); v: variável (+ ou -); *: ágar esculina-sal-azida; **: hidrólise do ácido piroglutâmico ß-naftilamida;<br />
++: cepa padrão (American Type Culture Collection)<br />
Tabela 2. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes em grupos #<br />
Provas bioquímicas (% positivos) a<br />
Espécies N o <strong>de</strong> isolados clínicos testados Grupo Manitol Sorbitol Arginina<br />
E. avium 12 1 + (100) + (97) - (0)<br />
E. raffinosus<br />
E. malodoratus<br />
E. faecalis 111 2 + (99) v (63) + (94)<br />
E. solitariusb<br />
E. gallinarum<br />
E. faecium<br />
E. casseliflavus<br />
E. mundtii<br />
E. durans 5 3 - (7) - (0) + (100)<br />
E. hirae<br />
#<br />
adaptado da referência (8) ; a +: reação positiva; -: reação negativa; v: reação variável (algumas cepas + e outras -); b nova <strong>de</strong>nominação: Tetragenococcus<br />
halophilus<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
215
Todas as cepas <strong>de</strong> E. mundtii e<br />
E. casselifalvus (incluindo as cepas<br />
padrão ATCC) apresentaram reação<br />
positiva no meio <strong>de</strong> Moeller somente<br />
após 48 horas <strong>de</strong> incubação, ao passo<br />
que todas foram positivas após 18-24<br />
horas <strong>de</strong> incubação no kit miniaturizado<br />
proposto, evi<strong>de</strong>nciando que a<br />
modificação da formulação foi extremamente<br />
benéfica e influenciou positivamente<br />
a performance do teste.<br />
Classicamente, os laboratórios clínicos<br />
que utilizam somente os testes <strong>de</strong><br />
bile-esculina e caldo nutriente com 6,5%<br />
<strong>de</strong> NaCl ten<strong>de</strong>m a classificar a bactéria<br />
em estudo como “estreptococo do grupo<br />
D – enterococo” quando ocorrem reações<br />
positivas em ambos os testes e como<br />
“estreptococo do grupo D – não enterococo”<br />
quando somente a reação <strong>de</strong> bileesculina<br />
é positiva. Entretanto, esta classificação<br />
mínima po<strong>de</strong> ser perigosamente<br />
falha, uma vez que diversos estudos já<br />
relataram cepas <strong>de</strong> E. faecalis, E. faecium<br />
e E. avium incapazes <strong>de</strong> crescer em caldo<br />
nutriente contendo 6,5% <strong>de</strong> NaCl após 24<br />
horas <strong>de</strong> incubação (11, 13, 14).<br />
Com o uso do teste <strong>de</strong> PYR aliado<br />
ao meio esculina-azida-sal conforme<br />
proposto neste estudo, 100% das<br />
cepas pu<strong>de</strong>ram ser presuntivamente<br />
classificadas como pertencentes aos<br />
gênero Enterococcus. Todas as cepas<br />
<strong>de</strong> S. bovis (incluindo as <strong>de</strong> controle<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>) geraram resultados<br />
negativos em ambos os testes <strong>de</strong><br />
triagem e, portanto, foram excluídas<br />
da inoculação na bateria <strong>de</strong> provas<br />
posterior.<br />
Facklam et al. (8) também propuseram<br />
a utilização <strong>de</strong> um esquema simplificado<br />
<strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies<br />
<strong>de</strong> Enterococcus, utilizando um número<br />
maior <strong>de</strong> testes bioquímicos. Com o kit<br />
miniaturizado proposto neste estudo,<br />
pô<strong>de</strong>-se dividir as espécies mais importantes<br />
clinicamente <strong>para</strong> o homem em<br />
três grupos, utilizando um número me-<br />
Tabela 3. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes pertencentes ao grupo 1 #<br />
Espécies<br />
N o <strong>de</strong> isolados<br />
clínicos testados<br />
Provas bioquímicas (% positivos) a<br />
Manitol Sorbitol Arginina Arabinose Rafinose<br />
E. avium 8 + (100) + (100) - (0) + (99) - (0)<br />
E. raffinosus 2 + (100) + (100) - (0) + (100) + (100)<br />
E. malodoratus 2 + (100) + (100) - (0) + (100) + (100)<br />
#<br />
adaptado da referência (8); a +: reação positiva; -: reação negativa<br />
Tabela 4. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes pertencentes ao grupo 2 #<br />
Espécies<br />
N o <strong>de</strong> isolados<br />
clínicos testados<br />
Provas bioquímicas (% positivos) a<br />
Manitol Arginina Arabinose Sorbitol Lactose Pigmento<br />
E. faecalis 48 + (100) + (96) - (0) + (98) + (100) - (0)<br />
E. solitariusb 2 + (98) + (94) - (0) + (98) - (30) - (0)<br />
E. gallinarum 18 + (100) + (94) + (100) - (0) + (100) - (0)<br />
E. faecium 27 + (100) + (92) + (100) v (30)c + (100) - (0)<br />
E. casseliflavus 12 + (98) + (94) + (100) v (48) + (100) + (100)<br />
E. mundtii 4 + (100) + (96) + (100) v (51) - (0) + (100)<br />
#<br />
adaptado da referência (8) ; a +: reação positiva; -: reação negativa; v: reação variável (algumas cepas + e outras -) ; b nova <strong>de</strong>nominação: Tetragenococcus halophilus<br />
c<br />
nos casos <strong>de</strong> reação negativa, a diferenciação <strong>de</strong> E. gallinarum se dá pelo uso da prova <strong>de</strong> motilida<strong>de</strong> (E. faecium é imóvel e E. gallinarum é móvel)<br />
Tabela 5. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes pertencentes ao grupo 3 #<br />
Espécies<br />
N o <strong>de</strong> isolados<br />
clínicos<br />
testados<br />
Provas bioquímicas (% positivos) a<br />
Manitol Sorbitol Arginina Sacarose Rafinose<br />
E. durans 2 - (8) - (0) + (100) - (0) - (0)<br />
E. hirae 3 - (6) - (0) + (100) + (88) v (75)<br />
#<br />
adaptado da referência (8); a +: reação positiva; -: reação negativa; v: reação variável (algumas cepas + e outras -)<br />
216<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
nor <strong>de</strong> provas. A partir das informações<br />
preliminares <strong>de</strong> fermentação do manitol<br />
e do sorbitol e da hidrólise da arginina<br />
(Tabela 2) pô<strong>de</strong>-se dividir as espécies em<br />
três grupos distintos e somente a utilização<br />
das provas <strong>de</strong> cada grupo (Tabelas<br />
3, 4 e 5) é suficiente <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />
da espécie em estudo. A utilização dos<br />
dados apresentados nas Tabelas 2, 3 e<br />
4 permitiram a i<strong>de</strong>ntificação correta <strong>de</strong><br />
100% das espécies avaliadas.<br />
Discussão<br />
Nos anos 1970 e 1980 os enterococos<br />
foram reconhecidos como<br />
patógenos importantes causadores <strong>de</strong><br />
infecções hospitalares. Eles são intrinsecamente<br />
resistentes a muitos antimicrobianos<br />
(como cefalosporinas, sulfas<br />
e clindamicina), com as concentrações<br />
inibitórias mínimas <strong>de</strong>stas drogas sendo<br />
muito maiores do que <strong>para</strong> a maioria<br />
dos estreptococos. Eles também são<br />
resistentes a baixos níveis <strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os<br />
e têm adquirido resistência<br />
ao cloranfenicol e eritromicina (21).<br />
Em 1973 foram <strong>de</strong>scritos os primeiros<br />
casos <strong>de</strong> enterococos resistentes a altos<br />
níveis <strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os, bem como<br />
às combinações sinérgicas <strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os<br />
e inibidores da formação <strong>de</strong><br />
pare<strong>de</strong> celular (19). A aquisição <strong>de</strong> genes<br />
<strong>de</strong> resistência a vancomicina, droga<br />
usada <strong>para</strong> tratar infecções causadas<br />
por cocos Gram-positivos resistentes<br />
a outros antibióticos, tem sido <strong>de</strong>scrita<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos 80 (22).<br />
Inicialmente três tipos <strong>de</strong> resistência<br />
foram bem estudados e <strong>de</strong>scritos<br />
(VanA, VanB e VanC) (28). A resistência<br />
adquirida <strong>de</strong> E. faecalis e E. faecium é<br />
<strong>de</strong>vida principalmente a VanA, VanB e<br />
VanD. A resistência adquirida <strong>de</strong>vida a<br />
VanA também tem sido encontrada em<br />
E. avium, E. durans, E. hirae, E. mundtii<br />
e E. raffinosus. A resistência <strong>de</strong> E.<br />
gallinarum, E. casseliflavus e E. flavescens<br />
a vancomicina po<strong>de</strong> ser intrínseca<br />
<strong>de</strong>vido a presença <strong>de</strong> VanC1 e VanC2 ou<br />
adquirida <strong>de</strong>vido a VanA (19). A correta<br />
i<strong>de</strong>ntificação das espécies <strong>de</strong> enterococos<br />
(e, portanto, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />
correta intervenção terapêutica), tais<br />
como E. gallinarum e E. casseliflavus,<br />
tem tido cada vez mais importância no<br />
laboratório clínico, principalmente <strong>de</strong>vido<br />
a resistência intrínseca <strong>de</strong> baixo nível aos<br />
glicopeptí<strong>de</strong>os apresentada por estas espécies<br />
e a dificulda<strong>de</strong> em diferenciá-las<br />
<strong>de</strong> E. faecium somente com os testes <strong>de</strong><br />
rotina. Além disso, os testes <strong>de</strong> discodifusão<br />
convencionais não <strong>de</strong>tectam este<br />
nível <strong>de</strong> resistência.<br />
Alternativas <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos têm sido<br />
propostas (3, 4, 8, 12), baseadas nos<br />
testes <strong>de</strong> motilida<strong>de</strong> e produção <strong>de</strong> pigmento<br />
pelas colônias. E. casseliflavus,<br />
por exemplo, é móvel e produz colônias<br />
com pigmento amarelo; E. mundtii<br />
também produz pigmento amarelo<br />
mas é imóvel; E. gallinarum é também<br />
imóvel mas não produz pigmento amarelo<br />
e outras espécies <strong>de</strong> enterococos<br />
apresentam resultados negativos <strong>para</strong><br />
ambos os testes (3, 5).<br />
Outros testes como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
crescimento em pH 9,6 em meios hipertônicos,<br />
redução do azul <strong>de</strong> metileno<br />
em caldo a base <strong>de</strong> leite, resistência ao<br />
telurito <strong>de</strong> potássio, redução do cloreto<br />
<strong>de</strong> 2,3,5 trifenil tetrazólio (TTC), <strong>de</strong>scarboxilação<br />
da tirosina, produção <strong>de</strong> ácido<br />
a partir <strong>de</strong> metil-α-D-glicopiranosí<strong>de</strong>o e<br />
susceptibilida<strong>de</strong> a efrotomicina também<br />
tem sido <strong>de</strong>scritos e oficialmente aceitos<br />
(15). No entanto, <strong>para</strong> o laboratório clínico<br />
<strong>de</strong> rotina, estes testes po<strong>de</strong>m gerar<br />
gran<strong>de</strong> variação em sua performance<br />
além <strong>de</strong> serem <strong>de</strong> difícil execução e<br />
padronização (5,6).<br />
A habilida<strong>de</strong> dos enterococos em<br />
crescer sob condições particulares é<br />
amplamente usada em seu isolamento<br />
seletivo. Estas características permitem<br />
a <strong>de</strong>tecção e enumeração dos<br />
enterococos utilizando meios seletivos<br />
(por exemplo, ágar M-Enterococcus ou<br />
ágar KF-Streptococcus) e ainda pelo<br />
uso <strong>de</strong> ágar bile-esculina-azida sódica<br />
como teste posterior confirmatório.<br />
Embora estes procedimentos possam<br />
distinguir os enterococos <strong>de</strong> outras<br />
bactérias, muitos isolados po<strong>de</strong>m ser<br />
incorretamente i<strong>de</strong>ntificados (6). Além<br />
disso, outras espécies (como S. bovis,<br />
Lactococcus e Leuconostoc) também<br />
são capazes <strong>de</strong> crescer nestes meios,<br />
apresentando resultados similares<br />
àqueles dos enterococos. Recentemente,<br />
muitos autores tem <strong>de</strong>scrito métodos<br />
moleculares <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos, baseados<br />
principalmente no uso <strong>de</strong> sondas <strong>de</strong><br />
oligonucleotí<strong>de</strong>os marcadas (2, 18, 26).<br />
No entanto, os métodos convencionais<br />
ainda são baseados em características<br />
fisiológicas, especialmente pelo fato<br />
<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> maioria dos laboratórios<br />
clínicos não terem condições financeiras<br />
<strong>para</strong> implementar tais sistemas <strong>de</strong><br />
biologia molecular em seus serviços<br />
microbiológicos <strong>de</strong> rotina (21).<br />
Não fosse pelos testes <strong>de</strong> triagem,<br />
o kit proposto neste estudo não po<strong>de</strong>ria<br />
evitar erros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do gênero<br />
Enterococcus pois foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>para</strong><br />
a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies. Portanto, a<br />
inclusão dos testes <strong>de</strong> triagem tornouse<br />
fundamental <strong>para</strong> a correta acurácia<br />
do kit como um todo, evitando principalmente<br />
a i<strong>de</strong>ntificação incorreta <strong>de</strong><br />
S. bovis como pertencente ao gênero<br />
Enterococcus. Com o uso dos testes<br />
<strong>de</strong> rotina ainda hoje utilizados por<br />
muitos laboratórios, esta bactéria é<br />
facilmente confundida com um enterococo,<br />
levando a erros grosseiros <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntificação, po<strong>de</strong>ndo ocasionar confusão<br />
no antibiograma a ser liberado<br />
<strong>para</strong> o médico e até mesmo influenciar<br />
negativamente a correta instalação da<br />
terapêutica antibiótica.<br />
218<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Conclusão<br />
O kit miniaturizado e <strong>de</strong>sidratado<br />
proposto neste estudo, aliado aos testes<br />
<strong>de</strong> triagem com o meio esculina-azida-sal<br />
e caldo Todd-Hewitt com ácido piroglu-<br />
tâmico β-naftilamida, gerou resultados<br />
consistentes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação das espécies<br />
avaliadas, sendo uma forma confiável,<br />
econômica e rápida <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />
bioquímica <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> Enterococcus<br />
clinicamente relevantes <strong>para</strong> o homem.<br />
En<strong>de</strong>reço <strong>para</strong> correspondência:<br />
Prof. Carlos Henrique Pessôa<br />
<strong>de</strong> Menezes e Silva<br />
carloshenrique@cetan.com.br<br />
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220<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Artigo<br />
Leishmaniose Visceral em Sergipe:<br />
Perfil Epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong> 2001 a 2006<br />
Ana Maria Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Brito 1 , Ana Cláudia <strong>de</strong> Brito Câmara 2 , Sheyla Alves Rodrigues 3 , Verônica <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Scierpe Jeraldo 4<br />
1 - Mestre em Saú<strong>de</strong> e Ambiente. Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes, Professora <strong>de</strong> Parasitologia da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes<br />
2 - Acadêmica do Curso <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alagoas<br />
3 - Doutoranda pelo Curso <strong>de</strong> Doutorado em Biotecnologia da Re<strong>de</strong> Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Biotecnologia. Professora da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes.<br />
Pesquisadora do Instituto <strong>de</strong> Tecnologia e Pesquisa – ITP<br />
4 - Doutora em Parasitologia, Professora da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes. Pesquisadora do Instituto <strong>de</strong> Tecnologia e Pesquisa – ITP<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Leishmaniose visceral em Sergipe: perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />
<strong>de</strong> 2001 a 2006<br />
Este trabalho objetivou <strong>de</strong>screver o perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />
da leishmaniose visceral em Sergipe, Brasil, <strong>de</strong> 2001 a 2006.<br />
Os dados foram obtidos no Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Agravos<br />
Notificados (SINAN). Observaram-se 230 casos <strong>de</strong> leishmaniose<br />
visceral, distribuídos em 41 municípios, sendo que as maiores<br />
incidências foram em Aracaju (85) e Estância (31). A faixa etária<br />
mais acometida foi <strong>de</strong> um a cinco anos (28,26%), seguida <strong>de</strong><br />
20 a 40 anos (25,65%). As técnicas utilizadas <strong>para</strong> diagnóstico<br />
laboratorial foram <strong>para</strong>sitológica e imunológica. Quanto à<br />
zona <strong>de</strong> residência dos portadores, foi notificada como urbana<br />
(50%). A raça/cor <strong>de</strong> maior ocorrência foi a parda (59,10%). A<br />
escolarida<strong>de</strong> dos portadores <strong>de</strong>stacou-se <strong>de</strong> quatro a sete anos<br />
concluídos (47,85%). Quanto ao <strong>de</strong>sfecho da doença, evoluíram<br />
<strong>para</strong> cura 76,96%. O perfil epi<strong>de</strong>miológico obtido neste estudo<br />
servirá como base <strong>para</strong> justificar a adoção <strong>de</strong> estratégias visando<br />
à profilaxia, controle dos reservatórios e vetores da leishmaniose<br />
visceral em Sergipe.<br />
Palavras-chave: Leishmaniose visceral, perfil epi<strong>de</strong>miológico,<br />
Sergipe<br />
Visceral leishmaniasis in Sergipe: epi<strong>de</strong>miological<br />
profile from 2001 to 2006<br />
This paper inten<strong>de</strong>d to <strong>de</strong>scribe the epi<strong>de</strong>miological profile of<br />
visceral leishmaniasis in Sergipe, Brazil from 2001 to 2006. The<br />
data was obtained from the Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Agravos<br />
Notificados (SINAN). There were 230 cases of visceral leishmaniasis,<br />
spread in 41 towns, with the greatest impact in Aracaju<br />
(85) and Estância (31). The age bracket most affected was 1 to 5<br />
years old (28.26%), followed by 20 to 40 years old (25,65%). The<br />
techniques used for laboratory diagnosis were <strong>para</strong>sitological and<br />
immunological. Concerning the area of resi<strong>de</strong>nce for those people<br />
was notified as urban (50%). The race/color of greater occurrence<br />
was the brown color (59,10%). Their schooling is mostly from 4 to<br />
7 years completed (47.85%). Regarding the outcome of the disease,<br />
evolved for cure (76.96%). The epi<strong>de</strong>miological profile obtained<br />
in this study will serve as basis to justify the adoption of strategies<br />
aimed at prophylaxis, control of reservoirs and vectors of visceral<br />
leishmaniasis in Sergipe.<br />
Keywords: Visceral leishmaniasis, epi<strong>de</strong>miological profile,<br />
Sergipe<br />
Introdução<br />
A<br />
o <strong>de</strong>senvolvimento tem sido<br />
historicamente atribuída a<br />
incumbência <strong>de</strong> melhorar a<br />
qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das comunida<strong>de</strong>s.<br />
Entretanto, no Brasil, o que se tem<br />
observado é o aumento da incidência<br />
<strong>de</strong> doenças infecciosas que estão<br />
diretamente atreladas às precárias<br />
condições <strong>de</strong> vida e sua disseminação<br />
está relacionada com a <strong>de</strong>gradação ambiental,<br />
permitindo maior circulação dos<br />
<strong>para</strong>sitos (Tavares; Tavares , 1999).<br />
O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />
atualmente adotado tem se caracterizado<br />
pela ausência <strong>de</strong> políticas que<br />
levem em consi<strong>de</strong>ração as condições<br />
em que vive a população brasileira<br />
e que promovam a organização do<br />
espaço social. Sem isso, o que tem<br />
144<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
ocorrido é a ocupação <strong>de</strong> novas áreas<br />
e a invasão do ambiente natural<br />
<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, promovendo<br />
mudanças que acarretam em<br />
<strong>de</strong>sequilíbrio ecológico, expondo<br />
as populações ao risco <strong>de</strong> contrair<br />
infecções por microrganismos que<br />
circulam nos focos naturais (Mello,<br />
1991).<br />
Des<strong>de</strong> 1934, casos <strong>de</strong> leishmaniose<br />
visceral (LV) humana vêm sendo<br />
registrados no estado <strong>de</strong> Sergipe.<br />
Em 1936, no município <strong>de</strong> Aracaju,<br />
o Dr. Evandro Chagas diagnosticou<br />
o primeiro caso, em vida, da doença<br />
no Brasil. Tratava-se <strong>de</strong> um indivíduo<br />
<strong>de</strong> 16 anos, em cuja família havia<br />
ocorrido dois óbitos, com os mesmos<br />
sintomas (Chagas, 1936).<br />
Segundo Michalick e Genaro<br />
(2005), a LV é uma doença sistêmica<br />
que atinge as células do<br />
sistema mononuclear fagocitário<br />
do homem, sendo os órgãos mais<br />
afetados o baço, fígado, linfonodos,<br />
medula óssea e pele. Outros órgãos<br />
e tecidos po<strong>de</strong>m também ser atingidos,<br />
por exemplo, o intestino e<br />
os pulmões. Em casos avançados<br />
da doença praticamente todos os<br />
órgãos são acometidos. Afirmam<br />
ainda os autores que se trata <strong>de</strong><br />
uma doença grave, <strong>de</strong> alta letalida<strong>de</strong>,<br />
sendo que sua mortalida<strong>de</strong> nos<br />
casos humanos não tratados po<strong>de</strong><br />
alcançar <strong>de</strong> 70% a 90%.<br />
A LV possui como agente etiológico<br />
um protozoário que nas Américas a<br />
espécie responsabilizada <strong>de</strong>nomina-se<br />
Leishmania chagasi, transmitida ao<br />
homem pela picada <strong>de</strong> artrópodas fêmeas<br />
infectadas da espécie Lutzomyia<br />
longipalpis presentes em todos os<br />
países da América Latina, exceto no<br />
Chile (Canela et al., 2004; Camargo;<br />
Langone, 2006).<br />
Em 1983 foi realizado o levantamento<br />
e mapeamento das espécies<br />
flebotomínicas existentes em Sergipe,<br />
sendo constatado que o vetor<br />
Lutzomyia longipalpis encontrava-se<br />
disseminado em 38 municípios distribuídos<br />
em todas as regiões do estado<br />
(Aguiar, 1983).<br />
De acordo com o Ministério da<br />
Saú<strong>de</strong> (2003), o Brasil enfrenta atualmente<br />
a expansão e urbanização da<br />
LV com casos humanos e gran<strong>de</strong> número<br />
<strong>de</strong> cães positivos (consi<strong>de</strong>rado<br />
este último o principal reservatório no<br />
Brasil) em várias cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e<br />
médio portes. O ciclo <strong>de</strong> transmissão<br />
que anteriormente ocorria no ambiente<br />
silvestre e rural, hoje também se<br />
<strong>de</strong>senvolve em centros urbanos.<br />
Duas décadas após o registro da<br />
primeira epi<strong>de</strong>mia urbana em Teresina<br />
(PI), o processo <strong>de</strong> urbanização<br />
se intensificou com a ocorrência <strong>de</strong><br />
importantes epi<strong>de</strong>mias em várias<br />
cida<strong>de</strong>s da região Norte (Boa Vista e<br />
Santarém), Su<strong>de</strong>ste (Belo Horizonte<br />
e Montes Claros), Centro-Oeste<br />
(Cuiabá e Campo Gran<strong>de</strong>) e Nor<strong>de</strong>ste<br />
(São Luis e Natal). Em Sergipe, a<br />
ocorrência <strong>de</strong> casos autóctones já<br />
foi notificada em 67 dos 75 municípios,<br />
distribuídos nas diferentes<br />
regiões, on<strong>de</strong> se encontra uma gran<strong>de</strong><br />
diversida<strong>de</strong> quanto aos aspectos<br />
ambientais.<br />
Mediante o exposto, o presente estudo<br />
objetivou avaliar o perfil da leishmaniose<br />
visceral no Estado <strong>de</strong> Sergipe<br />
entre os anos <strong>de</strong> 2001 e 2006.<br />
Metodologia<br />
Foi realizado um estudo longitudinal,<br />
<strong>de</strong>scritivo e retrospectivo da<br />
leishmaniose visceral no período <strong>de</strong><br />
2001 a 2006 no estado <strong>de</strong> Sergipe.<br />
A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida na Coor<strong>de</strong>nação<br />
<strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica<br />
da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong><br />
Sergipe (SES-SE), através da análise<br />
dos dados informatizados consolidados<br />
no Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong><br />
Agravos Notificáveis (SINAN), que<br />
é um software disponibilizado pelo<br />
Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>para</strong> todos os<br />
estados e municípios brasileiros, com<br />
a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar as patologias<br />
elencadas como <strong>de</strong> notificação<br />
compulsória.<br />
Os dados avaliados foram: número<br />
total <strong>de</strong> casos confirmados,<br />
procedência dos casos, faixas etárias<br />
e gênero dos portadores, técnicas<br />
utilizadas <strong>para</strong> diagnóstico, zona <strong>de</strong><br />
residência, raça/cor, escolarida<strong>de</strong> dos<br />
acometidos e <strong>de</strong>sfecho dos casos. A<br />
análise dos dados constou <strong>de</strong> distribuições<br />
<strong>de</strong> freqüências, apresentadas<br />
em gráficos e tabelas.<br />
Resultados<br />
No período <strong>de</strong> 2001 a 2006<br />
foram registrados 230 casos <strong>de</strong><br />
leishmaniose visceral no estado <strong>de</strong><br />
Sergipe, distribuídos em 41 municípios<br />
(Tabela 1). Os municípios com<br />
maior número <strong>de</strong> casos notificados<br />
foram, respectivamente, Aracaju<br />
(58), Estância (31), Canindé do São<br />
Francisco (16), Lagarto e Aquidabã<br />
(7) e Gararu (6).<br />
Os <strong>de</strong>mais variaram <strong>de</strong> um a cinco<br />
casos (Tabela 1). Em relação ao número<br />
<strong>de</strong> casos notificados ao longo<br />
dos anos (Figura 1), observou-se que<br />
os maiores ocorreram em 2005 (44) e<br />
2006 (51) e, o menor, em 2003, com<br />
17 casos notificados.<br />
No que concerne ao gênero dos<br />
portadores, 60,43% (139) foram<br />
masculinos (Figura 2). A faixa etária<br />
mais acometida foi <strong>de</strong> um a cinco<br />
anos [28,26% (36)] e, a menor, em<br />
indivíduos maiores <strong>de</strong> 70 anos [0,46%<br />
(01)] (Tabela 2).<br />
146<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Tabela 1. Casos confirmados <strong>de</strong> leishmaniose visceral por município <strong>de</strong> procedência em Sergipe <strong>de</strong> 2001-2006<br />
Municípios 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total<br />
Amparo <strong>de</strong> S. Francisco 1 - 1 - - - 2<br />
Aquidabã 2 5 - - - - 7<br />
Aracaju 7 11 7 15 20 25 85<br />
Areia Branca - - - 2 2 - 4<br />
Barra do Coqueiro - - - - 1 2 3<br />
Boquim - - - - 1 - 1<br />
Brejo Gran<strong>de</strong> 1 - - - - - 1<br />
Campo do Brito 1 - - - - 1 2<br />
Canindé do S. Francisco 2 6 1 1 3 3 16<br />
Capela - - 1 - - - 1<br />
Carira - 1 - 1 1 - 3<br />
Divina Pastora - - - - - 1 1<br />
Estância 7 2 3 7 5 7 31<br />
Feira Nova - 1 - - - - 1<br />
Gararu - - - 1 4 1 6<br />
Indiaroba 1 - - - - - 1<br />
Itabaiana 1 1 1 - - - 3<br />
Itabaianinha - - - - 1 - 1<br />
Itabi - - - - - 1 1<br />
Itaporanga D’Juda 2 1 - - - 1 4<br />
Jaboatão 1 2 - - - - 3<br />
Ja<strong>para</strong>tuba - - 1 - - - 1<br />
Lagarto 4 1 - - 1 1 7<br />
Laranjeira - 1 1 - - - 2<br />
Macambira - 2 - - - - 2<br />
Maruim 2 1 - - - 1 4<br />
N. S. Aparecida 2 1 - - - - 3<br />
N. S. da Glória - - - - - 1 1<br />
N. S. do Socorro - - - 2 1 2 5<br />
Neópolis 3 - 1 1 - 1 6<br />
Pacatuba 2 - - - - - 2<br />
Pirambu - - - 2 - - 2<br />
Poço Redondo 2 - - - 1 - 3<br />
Própria 2 - - - - - 2<br />
Riachão do Danta 1 - - - - - 1<br />
Ribeirópolis - - - 2 - - 2<br />
S. Cristóvão 2 - - - - 2 4<br />
Simão Dias 1 - - - - - 1<br />
St. Amaro da Brota - - - - 2 - 2<br />
Stª. Luzia do Itanhi - - - - - 1 1<br />
Tobias Barreto 1 - - - 1 - 2<br />
Total 48 36 17 34 44 51 230<br />
Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
148<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
2001 2002 2003 2004 2005 2006<br />
Figura 1. Distribuição proporcional <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong><br />
leishmanioses em Sergipe por ano <strong>de</strong> ocorrência<br />
Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Figura 2. Distribuição percentual <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV em<br />
Sergipe, <strong>de</strong> acordo com o gênero dos portadores <strong>de</strong> 2001 a 2006<br />
Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Tabela 2. Distribuição proporcional <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV em Sergipe, conforme faixa etária<br />
Faixa etária<br />
(anos)<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total %<br />
< 1 1 - - 2 5 1 9 3,91<br />
1 - 5 17 8 4 12 10 14 65 28,26<br />
5 - 10 11 5 5 2 4 9 36 15,65<br />
10 - 20 7 9 4 2 10 4 36 15,65<br />
20 - 40 9 9 3 9 12 17 59 25,65<br />
40 - 60 3 5 1 5 2 4 20 8,70<br />
60 - 70 - - - 1 1 2 4 1,74<br />
> 70 - - - 1 - - 1 0,43<br />
Total 48 36 17 34 44 51 230 100,00<br />
Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Para confirmação do diagnóstico<br />
laboratorial, as técnicas utilizadas<br />
foram a <strong>para</strong>sitológica, realizada<br />
em todos os portadores (230), e a<br />
reação <strong>de</strong> imunofluorescência indireta<br />
(RIFI). Nesta última pô<strong>de</strong>-se<br />
observar que parte dos portadores<br />
não realizou (83) e em alguns casos<br />
(11) os resultados constavam como<br />
negativos (Tabela 3).<br />
Na distribuição proporcional <strong>de</strong> casos<br />
confirmados <strong>de</strong> LV por zona resi<strong>de</strong>ncial<br />
do portador (Figura 3), notou-se que a<br />
zona urbana apresentou 50% (115) e<br />
a rural 45,66% (105). Ressalta-se que<br />
os casos ignorados foram <strong>de</strong> 3,04% (7)<br />
e, urbano/rural, <strong>de</strong> 1,3% (3).<br />
No que se refere à raça/cor dos<br />
portadores, tem-se que a cor parda<br />
representou 59,10% (136), a cor<br />
branca 14,78% (36), a cor negra<br />
9,70% (22) e a cor amarela 1,30% (3)<br />
e notificados como indígenas 0,42%<br />
(1). Enfatiza-se que esse dado foi cadastrado<br />
como ignorado em 14,78%<br />
(34) dos casos (Figura 4).<br />
Em relação à escolarida<strong>de</strong> dos<br />
acometidos (Figura 5), avaliou-se<br />
que a maioria, 47,85% (110), possuía<br />
entre quatro e sete anos concluídos,<br />
seguidos <strong>de</strong> 13,47% (31) com<br />
um a três anos, 13,04% (30) com<br />
oito a 11 anos, 11,30% (26) com<br />
nenhum ano concluído e em 8,69%<br />
(20) dos acometidos esse dado foi<br />
ignorado.<br />
A Figura 6 avaliou o <strong>de</strong>sfecho da<br />
doença, don<strong>de</strong> 76,96% (177) dos<br />
acometidos evoluíram <strong>para</strong> a cura e<br />
11,74% (27) <strong>para</strong> óbito. É necessário<br />
salientar que esse dado foi ignorado em<br />
11,30% (26) dos casos notificados.<br />
150<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Tabela 3. Distribuição proporcional <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV segundo a técnica usada <strong>para</strong> diagnóstico<br />
Técnica <strong>de</strong> Tipo <strong>de</strong><br />
diagnóstico notificação<br />
2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total<br />
Positivo 48 36 17 34 44 51 230<br />
Parasitológica<br />
Negativo - - - - - - 0<br />
Ignorado - - - - - - 0<br />
Positivo 16 22 5 20 31 44 138<br />
Imunológica (RIFI)<br />
Negativo 1 3 1 5 1 11<br />
Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Ignorado 31 11 11 14 8 6 81<br />
Figura 3. Percentual <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV por zona <strong>de</strong><br />
residência do portador - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Figura 4. Distribuição percentual dos casos confirmados <strong>de</strong> LV por<br />
raça/cor do portador - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Figura 5. Distribuição percentual dos casos confirmados <strong>de</strong> LV por<br />
escolarida<strong>de</strong> do portador - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
Figura 6. Distribuição em percentual dos casos confirmados <strong>de</strong> LV<br />
que evoluíram <strong>para</strong> cura, óbito ou ignorado, em Sergipe <strong>de</strong> 2001<br />
a 2006 - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />
152<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Discussáo Discussão<br />
Nesta pesquisa se constatou que<br />
foram notificados e confirmados 230 casos<br />
<strong>de</strong> leishmaniose visceral em Sergipe<br />
no período <strong>de</strong> 2001 a 2006, oriundos <strong>de</strong><br />
41 municípios dos 75 que compõem o<br />
Estado, ou seja, 54,66% apresentaram<br />
esse agravo à saú<strong>de</strong>.<br />
Conforme Correia (1998), uma<br />
importante característica da LV é que,<br />
quanto maior a incidência da doença,<br />
maior o risco <strong>para</strong> as crianças mais<br />
jovens, fato já documentado no Brasil,<br />
on<strong>de</strong> a preferência da <strong>para</strong>sitose pela<br />
população infantil vem se mantendo<br />
ao longo dos anos. Essa característica<br />
também foi observada nesse estudo,<br />
no qual a infecção predominou nos<br />
primeiros cinco anos <strong>de</strong> vida.<br />
Para Badaró et al. (1986), já que<br />
a imunida<strong>de</strong> duradoura se <strong>de</strong>senvolve<br />
com a ida<strong>de</strong>, é provável que a maior<br />
incidência da doença no grupo <strong>de</strong> menor<br />
ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>penda da maior suscetibilida<strong>de</strong><br />
à infecção e da <strong>de</strong>pressão da imunida<strong>de</strong><br />
observada nessa faixa etária. Entretanto,<br />
nesse estudo, houve também a<br />
ocorrência <strong>de</strong> um elevado número <strong>de</strong><br />
casos na faixa etária <strong>de</strong> 20 a 40 anos.<br />
Esse fenômeno talvez esteja atrelado<br />
às ativida<strong>de</strong>s laborais dos portadores<br />
e uma maior exposição aos fatores <strong>de</strong><br />
risco, a exemplo, contato com os artrópo<strong>de</strong>s<br />
vetores.<br />
Vale ressaltar que na literatura consultada<br />
tem-se uma gama <strong>de</strong> trabalhos<br />
publicados referentes a estudos na faixa<br />
etária <strong>de</strong> até 15 anos, sendo priorida<strong>de</strong><br />
pesquisas que abranjam outras faixas<br />
etárias.<br />
Segundo Pastorino et al. (2002), a<br />
literatura aponta o gênero masculino<br />
como o mais susceptível ao adoecimento<br />
por LV. Neste trabalho, o gênero<br />
masculino foi o mais acometido. Costa<br />
et al. (1990) afirmaram, todavia, que o<br />
problema da maior prevalência da enfermida<strong>de</strong><br />
entre as pessoas do gênero<br />
masculino ainda não está completamente<br />
elucidado. Complementam os<br />
autores que se postula a existência <strong>de</strong><br />
um fator hormonal ligado ao gênero ou<br />
a exposição.<br />
As técnicas utilizadas <strong>para</strong> diagnóstico<br />
laboratorial da LV em Sergipe<br />
foram a <strong>para</strong>sitológica e imunológica.<br />
No banco <strong>de</strong> dados do SINAN, porém,<br />
não consta a origem do material que<br />
foi colhido <strong>para</strong> a execução da técnica.<br />
No entanto, segundo Melo (2004) a<br />
<strong>de</strong>monstração do <strong>para</strong>sito através <strong>de</strong><br />
técnicas <strong>para</strong>sitológicas, tais como,<br />
esfregaço por aposição, cultura ou<br />
inoculação em animais ainda são os<br />
melhores testes laboratoriais <strong>para</strong><br />
diagnosticar LV a partir <strong>de</strong> material <strong>de</strong><br />
biópsia ou punção aspirativa <strong>de</strong> tecidos,<br />
com o baço sendo mais sensível que <strong>de</strong><br />
medula óssea.<br />
Quanto ao imunológico o teste <strong>de</strong><br />
escolha foi a reação <strong>de</strong> imunofluorescência<br />
indireta (RIFI). Conforme<br />
Canela et al. (2004), é a mais utilizada<br />
na rotina <strong>para</strong> pesquisa <strong>de</strong> anticorpos<br />
antileishmania. Sundar et al. (2002)<br />
enfatizaram que essa técnica por utilizar<br />
antígenos brutos <strong>de</strong> leishmania torna-se<br />
limitada em temos <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> e<br />
reprodutibilida<strong>de</strong>.<br />
A incidência <strong>de</strong> LV em Sergipe foi<br />
mais elevada na Zona Urbana que na<br />
Rural. Essa mudança <strong>de</strong> Zona Rural <strong>para</strong><br />
Urbana é um fato epi<strong>de</strong>miológico que<br />
vem sendo analisado pelos pesquisadores,<br />
a exemplo <strong>de</strong> Costa et al. (1990) e<br />
Moreira et al. (2005), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década<br />
<strong>de</strong> 1970. Conforme Melo (2004), a<br />
proximida<strong>de</strong> entre as habitações, a<br />
alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional e a gran<strong>de</strong><br />
susceptibilida<strong>de</strong> das pessoas à infecção<br />
contribuíram <strong>para</strong> a rápida expansão<br />
da doença no ambiente urbano. Afirma<br />
ainda a autora que pelo fato da urbanização<br />
ser um fenômeno relativamente<br />
novo, pouco ainda se conhece sobre a<br />
epi<strong>de</strong>miologia da LV nos focos urbanos,<br />
visto que as relações entre os componentes<br />
da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> transmissão no<br />
cenário urbano parecem ser bem mais<br />
complexas e variadas que no rural.<br />
Quanto ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos<br />
portadores, se percebeu que a maioria<br />
possuía <strong>de</strong> quatro a sete anos conclu-<br />
ídos, ou seja, o ensino fundamental<br />
incompleto, <strong>de</strong>notando a urgência <strong>de</strong><br />
políticas educacionais no estado <strong>de</strong> Sergipe<br />
e programas continuados voltados<br />
<strong>para</strong> educação em saú<strong>de</strong>.<br />
No que concerne aos portadores<br />
<strong>de</strong> LV quanto à raça/cor, prevaleceu<br />
a cor parda. No Brasil a cor da pele é<br />
um parâmetro bastante controverso,<br />
visto que não existe estabelecido um<br />
conceito <strong>de</strong>terminando as diferenças<br />
<strong>de</strong> cor <strong>para</strong> cútis.<br />
Em relação ao <strong>de</strong>sfecho dos casos, a<br />
evolução <strong>para</strong> cura foi bastante acentuada<br />
no período em estudo, mostrando a<br />
provável procura por serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />
pelos supostos portadores antes do<br />
agravamento da doença, bem como a<br />
possível precocida<strong>de</strong> no diagnóstico e<br />
tratamento. Mas o número <strong>de</strong> casos<br />
ignorados foi bastante preocupante.<br />
Conclusão<br />
Os resultados apresentados nesse<br />
estudo <strong>de</strong>monstraram o perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />
da leishmaniose visceral em<br />
Sergipe, que segundo a Organização<br />
Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<br />
alta morbimortalida<strong>de</strong>.<br />
Acredita-se que, levando em consi<strong>de</strong>ração<br />
a importância médica social<br />
e econômica da leishmaniose visceral<br />
e também as falhas <strong>de</strong>tectadas na alimentação<br />
do SINAN, a criação <strong>de</strong> um<br />
sistema <strong>de</strong> registro e acompanhamento<br />
estadual traria uma melhora no atendimento<br />
e na qualida<strong>de</strong> dos serviços<br />
prestados à comunida<strong>de</strong>, reduzindo<br />
custos e principalmente agilizando o<br />
diagnóstico da doença e tratamento<br />
precoce dos casos humanos, bem como<br />
a diminuição dos riscos <strong>de</strong> transmissão<br />
mediante controle da população <strong>de</strong><br />
reservatórios e vetores.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
Prof a . Ana Maria Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Brito<br />
profanague<strong>de</strong>s@yahoo.com.br<br />
154<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Referências Bibliográficas<br />
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Epi<strong>de</strong>miológico do SUS, 8(1): 47-52, 1999.<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
155
Artigo<br />
Mapeamento do Grupo Sanguíneo <strong>de</strong><br />
Doadores Voluntários <strong>de</strong> Sangue do Serviço <strong>de</strong><br />
Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira, na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Limeira<br />
Benedito Aparecido Brandino 1 , Fabio José Della Piazza 2 , Mariella Chequi Della Piazza 3 , Luis Fernando Cestari4, Ariane Menegalle 5<br />
1 - Biomédico Gerente do Centro <strong>de</strong> Medicina Laboratorial <strong>de</strong> Limeira – SP<br />
2 - Médico Hematologista e Patologista Clínico do CML, Limeira – SP<br />
3 - Acadêmica <strong>de</strong> Medicina da PUC, Campinas – SP<br />
4 – Farmacêutico-bioquímico do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP<br />
5 - Biomédica do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP<br />
Trabalho realizado no Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Irmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Misericórdia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira, SP<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Mapeamento do Grupo Sanguíneo <strong>de</strong> Doadores Voluntários<br />
<strong>de</strong> Sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa<br />
Casa <strong>de</strong> Limeira, na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Limeira<br />
Objetivo: Mapear os tipos sanguíneos <strong>de</strong> doadores voluntários<br />
<strong>de</strong> sangue entre as populações locais e regionais, quanto ao sistema<br />
ABO e fator RH, <strong>para</strong> a formação <strong>de</strong> um banco <strong>de</strong> dados que possa<br />
ajudar no encontro <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sangue raras, agilizando e racionalizado<br />
<strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quado a procura, inclusive com métodos<br />
estatísticos, ajudando a medicina transfusional da região e do país.<br />
Casuística e Métodos: Foram estudados 19.277 doadores<br />
<strong>de</strong> sangue, voluntários, <strong>de</strong> ambos os sexos, do Serviço<br />
<strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP, entre janeiro<br />
<strong>de</strong> 2005 e novembro <strong>de</strong> 2006. Partici<strong>para</strong>m <strong>de</strong>sta pesquisa<br />
os doadores consi<strong>de</strong>rados aptos após triagem clínica e laboratorial,<br />
<strong>de</strong> acordo com os critérios <strong>para</strong> aceitação <strong>de</strong> doadores<br />
<strong>de</strong> sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa<br />
<strong>de</strong> Limeira. Todos os testes laboratoriais imuno-hematológicos<br />
foram realizados no Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa<br />
<strong>de</strong> Limeira. A tipagem eritrocitária foi realizada pelo emprego<br />
da técnica em tubo, usando reagentes anti-A, anti-B e anti-AB<br />
(Ebram Produtos Laboratoriais Ltda) e reagentes <strong>de</strong> hemácias<br />
A1 e B (ASEM-NPBI) e o reagente Anti D monoclonal Igm+Igg<br />
combinados (Ebram Produtos Laboratoriais Ltda) foram empregados<br />
conforme recomendações do fabricante.<br />
Resultados: Obtivemos os seguintes resultados na distribuição<br />
dos grupos sanguíneos dos doadores voluntários <strong>de</strong> sangue do Serviço<br />
<strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira: 51,28% O; 34,84%<br />
A; 10,65% B; 3,23% AB. Desse total, 12,66% são Rh negativo. A<br />
distribuição na população brasileira dos grupos sanguíneos varia <strong>de</strong><br />
acordo com a origem étnica, mas é <strong>de</strong> aproximadamente: 45% O ;<br />
40% A; 10% B; 5% AB. Desse total, 15% são Rh negativo.<br />
Mapping of a group of voluntary blood donors in<br />
the Hemotherapy Service of Santa Casa in Limeira,<br />
Brazil<br />
Aim: To map the blood types of volunteer blood donors of local<br />
and regional populations in respect to the ABO system and Rh factors.<br />
The data will be used to create a database that will help to locate<br />
rare blood units, thereby organizing and speeding up the search,<br />
and inclu<strong>de</strong> statistical methods to help transfusional medicine in the<br />
region and in the country as a whole.<br />
Patients and Methods: A total of 19,277 male and female<br />
volunteer blood donors were studied in the Hemotherapy Service<br />
of Santa Casa in Limeira, Brazil from January 2005 to November<br />
2006. Donors consi<strong>de</strong>red suitable for blood donation after<br />
clinical and laboratorial screening according to the acceptance<br />
criteria of the gui<strong>de</strong>lines of the Hemotherapy Service of Santa<br />
Casa in Limeira were inclu<strong>de</strong>d in the study. Red blood cell typing<br />
was achieved utilizing the tube technique using anti-A, anti-B<br />
and anti-AB reagents (Ebram Produtos Laboratoriais Ltda), A1<br />
and B red blood cell reagents (ASEM-NPBI) and the combined<br />
IgM+IgG monoclonal Anti-D reagent (Ebram Produtos Laboratoriais<br />
Ltda) were employed according to the recommendations of<br />
the manufacturers.<br />
Results: The following results relating to the distribution of the<br />
blood groups were obtained for the volunteer blood donors: Group<br />
O 51.28%; A 34.84%; B 10.65% and AB 3.23%. Of this total,<br />
12.66% were Rh negative. The distribution of the blood groups in<br />
the Brazilian population varies <strong>de</strong>pending on the ethnic background<br />
but is approximately: Group O 45%; A 40%; B 10% and AB 5%<br />
with 15% being Rh negative.<br />
Conclusions: The advantages of having a database of the<br />
168<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Conclusões: São evi<strong>de</strong>ntes as vantagens <strong>de</strong> ter um banco <strong>de</strong><br />
dado com os tipos sangüíneos dos doadores voluntários <strong>de</strong> sangue,<br />
pois apesar do estudo nos mostrar que os dados encontrados são<br />
parecidos com os já existentes no país, existem algumas características<br />
próprias <strong>de</strong> cada região, o que em caso <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte, com<br />
hemorragia grave, ajudaria a ganhar um tempo precioso com a<br />
simples informação da freqüência fenotípica contida nesse banco e<br />
com métodos estatísticos é possível saber qual é a melhor conduta<br />
a ser seguida.<br />
Palavras-chave: Grupo sanguíneo, Fator RH, doadores <strong>de</strong><br />
sangue.<br />
blood types of volunteer blood donors is obvious, as although<br />
the study <strong>de</strong>monstrated that the data found are similar to<br />
existing data for the country, there are some region-specific<br />
characteristics and so in the case of acci<strong>de</strong>nts involving severe<br />
hemorrhages, the simple information of phenotypic frequency<br />
contained in this database may help to save precious time. Using<br />
statistical methods it will be possible to know which conduct is<br />
the best to be followed.<br />
Keywords: Blood group, Rh factor, blood donors<br />
Introdução<br />
O<br />
sangue é um tecido vivo que<br />
circula ininterruptamente<br />
pelas nossas artérias e veias,<br />
levando oxigênio e nutrientes a todos<br />
os órgãos do corpo e trazendo o gás<br />
carbônico. É composto por plasma,<br />
plaquetas, hemácias e leucócitos. O<br />
sangue é produzido na medula óssea<br />
dos ossos chatos, vértebras, costelas,<br />
quadril, crânio e esterno.<br />
Em 1900 foram <strong>de</strong>scobertos nas células<br />
sangüíneas humanas (hemácias)<br />
certos componentes, então i<strong>de</strong>ntificados<br />
com as letras A e B. Verificou-se,<br />
ainda, que uma mesma hemácia po<strong>de</strong>ria<br />
conter ambos os elementos ou<br />
nenhum <strong>de</strong>les. Foram, <strong>de</strong>ssa maneira,<br />
i<strong>de</strong>ntificados quatro tipos <strong>de</strong> sangue:<br />
A, B, AB e O, que são classificados segundo<br />
a presença ou ausência <strong>de</strong> antígenos<br />
(Ag) na superfície das hemácias<br />
ou <strong>de</strong> anticorpos (Ac) no plasma.<br />
As pessoas que têm sangue do grupo<br />
A apresentam anticorpos chamados<br />
<strong>de</strong> “anti B”, ou seja, são incompatíveis<br />
com o sangue do grupo B e vice-versa.<br />
Já as do grupo O, como não têm na<br />
membrana da sua hemácia essas<br />
características <strong>de</strong> A e <strong>de</strong> B, possuem,<br />
no entanto, ambos os anticorpos. Por<br />
último, as pessoas do grupo AB têm<br />
características tanto <strong>de</strong> A quanto <strong>de</strong><br />
B e não possuem anticorpos. Essa é a<br />
primeira seleção no sangue em função<br />
do grupo sangüíneo ABO.<br />
Além do tipo <strong>de</strong> sangue A, B, AB ou<br />
O, há o fator Rh. O termo Rh origina-se<br />
do nome <strong>de</strong> um macaco, Rhesus, on<strong>de</strong><br />
originalmente esse antígeno foi encontrado.<br />
As pessoas que possuem esse<br />
antígeno são classificadas como Rh positivas<br />
(Rh+) e as que não possuem esse<br />
fator são <strong>de</strong>nominadas Rh negativas<br />
(Rh-). A gran<strong>de</strong> maioria da população<br />
mundial é Rh+ porque esse genótipo é<br />
dominante em relação ao grupo Rh-.<br />
O fator Rh tem gran<strong>de</strong> importância<br />
clínica, pois uma pessoa com Rh- recebendo<br />
sangue <strong>de</strong> um doador com Rh+<br />
po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar a produção <strong>de</strong><br />
anticorpos anti-Rh. Isso também po<strong>de</strong><br />
ocorrer em casos <strong>de</strong> mães Rh- e pais<br />
Rh+ que geram crianças Rh+.<br />
Principalmente na época do parto<br />
as mães po<strong>de</strong>m ser expostas ao<br />
sangue do bebê. Isso po<strong>de</strong> acarretar<br />
a produção <strong>de</strong> anticorpos anti-Rh<br />
quando a presença do bebê estimula<br />
a produção <strong>de</strong> anticorpos da mãe. Os<br />
anticorpos po<strong>de</strong>m chegar até ao feto,<br />
prejudicando sua saú<strong>de</strong> por <strong>de</strong>senvolver<br />
a eritroblastose fetal ou doença<br />
hemolítica do recém-nascido. Um<br />
médico po<strong>de</strong> contornar esse problema<br />
acompanhando a gravi<strong>de</strong>z da mãe<br />
com Rh- e administrando a<strong>de</strong>quadamente<br />
imunoglobulina anti-Rh.<br />
Os outros grupos também são importantes<br />
e são pesquisados rotineiramente.<br />
Os mais freqüentes, porém, não<br />
estão em pauta no presente trabalho.<br />
Casuística e Métodos<br />
Foram estudados 19.277 doadores<br />
<strong>de</strong> sangue, voluntários, <strong>de</strong> ambos os<br />
sexos, do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da<br />
Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP, entre<br />
janeiro <strong>de</strong> 2005 a novembro <strong>de</strong> 2006.<br />
Foram coletadas informações sociais<br />
<strong>de</strong> cada doador <strong>de</strong> sangue voluntário<br />
(nome, data <strong>de</strong> nascimento, ida<strong>de</strong>,<br />
sexo), procedência, procedência dos<br />
pais e avós, número <strong>de</strong> doador, en<strong>de</strong>reço,<br />
bairro, CEP, telefone (resi<strong>de</strong>ncial<br />
e comercial), profissão, antece<strong>de</strong>ntes<br />
transfusionais, uso <strong>de</strong> medicamentos<br />
e antece<strong>de</strong>ntes gestacionais (<strong>para</strong> o<br />
sexo feminino).<br />
Partici<strong>para</strong>m <strong>de</strong>sta pesquisa os doadores<br />
consi<strong>de</strong>rados aptos após triagem<br />
clínica e laboratorial, <strong>de</strong> acordo com os<br />
critérios <strong>para</strong> aceitação <strong>de</strong> doadores <strong>de</strong><br />
sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da<br />
Santa Casa <strong>de</strong> Limeira e Normas Técnicas<br />
do Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />
170<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Testes Laboratoriais<br />
Todos os testes laboratoriais imuno-hematológicos<br />
foram realizados no<br />
Departamento <strong>de</strong> Imunohematologia<br />
do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa<br />
Casa <strong>de</strong> Limeira.<br />
A tipagem eritrocitária foi realizada<br />
empregando a técnica em tubo, usando<br />
reagentes anti-A, anti-B e anti-AB<br />
(Ebram Produtos Laboratoriais Ltda) e<br />
reagentes <strong>de</strong> hemácias A1 e B (ASEM<br />
-NPBI) e o reagemte Anti D monoclonal<br />
IgM+IgG combinados (Ebram Produtos<br />
Laboratoriais Ltda) foi empregado conforme<br />
recomendações do fabricante.<br />
Todos os testes laboratoriais foram<br />
realizados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 1 até 12 horas após<br />
a coleta. Enquanto eram aguardados os<br />
resultados dos testes sorológicos <strong>para</strong><br />
doenças transmissíveis pelo sangue, as<br />
amostras foram mantidas a 4 o C.<br />
Resultados<br />
A Tabela 2 mostra os resultados<br />
obtidos na distribuição dos grupos<br />
sanguíneos dos doadores voluntários<br />
<strong>de</strong> sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia<br />
da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira.<br />
Tabela 1. Interpretação dos testes laboratoriais imuno-hematológicos<br />
Grupo<br />
sanguíneo<br />
Soro <strong>de</strong> Tipagem Hemácias <strong>de</strong><br />
Tipagem<br />
Antígeno<br />
Anticorpo<br />
Anti-A Anti-B A B<br />
A + - + + A Anti-B<br />
B - + - - B Anti-A<br />
AB + + + - A e B Ausente<br />
O - - - + - Anti-A e<br />
Anti-B<br />
Tabela 2. Distribuição dos grupos sanguíneos<br />
Grupo Sanguíneo Fator Rh Índice encontrado em<br />
Limeira<br />
O Positivo 44,03%<br />
A Positivo 31%<br />
B Positivo 9,57%<br />
AB Positivo 2,74%<br />
O Negativo 7,25%<br />
A Negativo 3,84%<br />
B Negativo 1,08%<br />
AB Negativo 0,49%<br />
O Gráfico 1 faz uma com<strong>para</strong>ção e o dados encontrados no Serviço<br />
entre a distribuição na população <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong><br />
brasileira dos grupos sanguíneos Limeira.<br />
Gráfico 1<br />
172<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Conclusão<br />
São evi<strong>de</strong>ntes as vantagens <strong>de</strong><br />
se ter um banco <strong>de</strong> dados com os<br />
tipos sangüíneos dos doadores voluntários<br />
<strong>de</strong> sangue, pois apesar do<br />
estudo nos mostrar que os dados<br />
encontrados são parecidos com os<br />
já existentes no país, existe alguma<br />
característica própria <strong>de</strong> cada<br />
região, o que em caso <strong>de</strong> situações<br />
on<strong>de</strong> a transfusão se torne imperiosa,<br />
isto ajuda a ganhar um tempo<br />
precioso com a simples informação<br />
da freqüência fenotípica contida<br />
no banco. Aliado a métodos estatísticos,<br />
é possível saber qual é a<br />
melhor conduta a ser seguida, ou<br />
seja, a convocação da população <strong>de</strong><br />
maneira geral ou procurar os doadores<br />
<strong>de</strong> forma mais específica <strong>para</strong><br />
a situação <strong>de</strong> emergência.<br />
Claro que os estudos nos mostram<br />
que a cada dia fica mais difícil manter<br />
os estoques <strong>de</strong> sangue em níveis aceitáveis,<br />
por isso a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada vez<br />
mais termos ferramentas que possam<br />
nos ajudar a superar essa situação.<br />
É necessário lembrar à população<br />
que a doação <strong>de</strong> sangue é muito<br />
importante. Ter metas somente é<br />
possível quando conhecemos o meio<br />
on<strong>de</strong> nós estamos inseridos. As<br />
ferramentas <strong>de</strong> estatística só funcionam<br />
quando temos dados confiáveis<br />
e, com isso, é possível alcançar o índice<br />
<strong>de</strong> coletas <strong>de</strong> bolsas correspon<strong>de</strong>nte<br />
a 2% da população (1,73%);<br />
atingir o índice <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> doações<br />
espontâneas/reposição; atingir o<br />
índice <strong>de</strong> 11,3% <strong>de</strong> inaptidão.<br />
As metas já alcançadas foram<br />
a implantação do sistema <strong>de</strong> informação<br />
em 100% dos Serviços <strong>de</strong><br />
Hemoterapia. Hoje, no Serviço <strong>de</strong><br />
Hemoterapia a média <strong>de</strong> inaptidão<br />
sorológica é <strong>de</strong> 3,5%, <strong>de</strong>corrente do<br />
número <strong>de</strong> doadores voluntários que<br />
é maior <strong>de</strong> 70% e frente aos voluntários<br />
<strong>de</strong> repetição com <strong>de</strong>monstração.<br />
Outro índice já atingido é o <strong>de</strong> 70%<br />
<strong>de</strong> doadores <strong>de</strong> repetição/1ª vez.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
Benedito Aparecido Brandino<br />
laboratorio@santacasalimeira.com.br<br />
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2 <strong>de</strong>z. 1993, seção 1.<br />
174<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Artigo<br />
Ocorrência <strong>de</strong> Entero<strong>para</strong>sitoses no Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />
Luciana dos Santos Dias<br />
Licenciada em Ciências Biológicas<br />
Trabalho realizado <strong>para</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> monografia <strong>para</strong> obtenção <strong>de</strong> título <strong>de</strong><br />
Licenciada em Ciências Biológicas, pelo Centro Universitário Augusto Motta, na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no ano <strong>de</strong> 2006<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Ocorrência <strong>de</strong> Entero<strong>para</strong>sitoses no Estado do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro<br />
Foi realizado inquérito copro<strong>para</strong>sitológico <strong>de</strong> fevereiro a julho<br />
<strong>de</strong> 2006, visando estudar a ocorrência <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sitoses em uma<br />
comunida<strong>de</strong> laboratorial do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Foram submetidas a exame<br />
a fresco, método <strong>de</strong> Hoffman e Kato-Katz, 5.512 amostras <strong>de</strong> fezes<br />
indivíduos <strong>de</strong> ambos os sexos , com ida<strong>de</strong> entre 0 a 12 anos, 13 a<br />
20 anos, 21 a 60 anos e acima <strong>de</strong> 60 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Os resultados<br />
revelaram que 30,8% das amostras analisadas continham um ou mais<br />
<strong>para</strong>sitas intestinais, sendo a maioria (71,8%) mono<strong>para</strong>sitada. Os<br />
<strong>para</strong>sitas mais prevalentes foram Blastocystis hominis (41%), Endolimax<br />
nana (33,7%), Giardia lamblia (8,7%), Entamoeba coli (7,8%),<br />
Entamoeba histolytica (7,3%), Iodamoeba bütschilii (0,8%), Ancilostomí<strong>de</strong>o<br />
(0,05%), Tenia spp (0,05%), Ascaris lumbricói<strong>de</strong>s (0,4%),<br />
Enterobius vermiculares (0,1%), Trichiuris trichiura (0,1%). Estes dados<br />
<strong>de</strong>monstram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> profilaxia como melhoria<br />
das condições <strong>de</strong> saneamento básico e sanitárias e implementação<br />
<strong>de</strong> projetos educativos que <strong>de</strong>staquem a importância <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong><br />
higiene, <strong>para</strong> que seja interrompido o ciclo <strong>de</strong> tais <strong>para</strong>sitas.<br />
Palavras-chave: Parasitas intestinais, entero<strong>para</strong>sitose, Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, ocorrência<br />
The Prevalence of Entero<strong>para</strong>sites in the State of Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro<br />
A copro<strong>para</strong>sitological investigation was performed from February<br />
to July 2006 aiming at investigating the inci<strong>de</strong>nce of entero<strong>para</strong>sites<br />
in a laboratorial population in Rio <strong>de</strong> Janeiro. A total of 5512 samples<br />
from male and female individuals were submitted to examinations using<br />
the Hoffman and Kato-Katz methods. The participants were divi<strong>de</strong>d into<br />
four age groups: up to 12 years old; 13 to 20; 21 to 60; and over 60<br />
years old. The results <strong>de</strong>monstrated that 30.8% of the samples were<br />
infected by one or more intestinal <strong>para</strong>sites. The most prevalent <strong>para</strong>sites<br />
were Blastocystis hominis (41%), Endolimax nana (33.7%), Giardia<br />
lamblia (8.7%), Entamoeba coli (7.8%), Entamoeba histolytica (7.3%),<br />
Iodamoeba bütschilii (0.8%), Ancilostomí<strong>de</strong>o (0.05%), Tenia spp<br />
(0.05%), Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s (0.4%), Enterobius vermiculares (0.1%)<br />
and Trichiuris trichiura (0.1%). These data <strong>de</strong>monstrate the necessity for<br />
prophylactic measures with an improvement in the basic sanitary conditions<br />
and implementation of education projects that stress the importance<br />
of hygiene in or<strong>de</strong>r to interrupt the cycle of these <strong>para</strong>sites.<br />
Keywords: Intestinal <strong>para</strong>sites, entero<strong>para</strong>sites, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
inci<strong>de</strong>nce<br />
Introdução<br />
O<br />
mundo é entendido como um<br />
complexo ecossistema no<br />
qual os padrões <strong>de</strong> doenças<br />
variam gran<strong>de</strong>mente <strong>de</strong> um país <strong>para</strong><br />
outro. Os tipos e taxas <strong>de</strong> doenças<br />
em um país são uma espécie <strong>de</strong> “impressão<br />
digital”, que geralmente têm<br />
relação com a renda “per capita”, o<br />
estilo <strong>de</strong> vida, as ocupações predominantes<br />
e o clima (1).<br />
As helmintíases e protozooses constituem<br />
afecções <strong>de</strong> alta incidência, com<br />
gran<strong>de</strong> repercussão na saú<strong>de</strong> do indivíduo,<br />
sendo uma preocupação constante<br />
na saú<strong>de</strong> pública. Embora sejam<br />
cosmopolitas, a prevalência é maior em<br />
regiões tropicais, tendo uma estreita<br />
relação com a pobreza humana (2).<br />
Em países tropicais, o clima, associado<br />
à falta <strong>de</strong> conhecimento e condições<br />
sanitárias, favorece a disseminação das<br />
entero<strong>para</strong>sitoses que acometem gran<strong>de</strong><br />
parte da população. Esse quadro, além<br />
<strong>de</strong> mostrar um gran<strong>de</strong> problema <strong>de</strong><br />
saú<strong>de</strong> pública, caracteriza o sub<strong>de</strong>senvolvimento<br />
das populações com condições<br />
precárias <strong>de</strong> higiene, dificulda<strong>de</strong>s<br />
econômicas, <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> medidas<br />
preventivas, <strong>de</strong>snutrição e outras<br />
variáveis agravantes do problema, como<br />
a falta <strong>de</strong> ações na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por<br />
parte das autorida<strong>de</strong>s (3).<br />
As infecções intestinais por helmintos<br />
e protozoários, do ponto <strong>de</strong><br />
102<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
vista sanitário, geralmente estão relacionadas<br />
ao sub<strong>de</strong>senvolvimento das<br />
populações, mas po<strong>de</strong>m ser encontradas<br />
em comunida<strong>de</strong>s com elevado<br />
padrão <strong>de</strong> vida e cultura (3). Contudo,<br />
as infecções <strong>para</strong>sitárias intestinais<br />
são em sua maioria assintomáticas e,<br />
quando <strong>de</strong>terminam alguma sintomatologia,<br />
esta é geralmente discreta e<br />
inespecífica, não sendo muitas vezes<br />
diagnosticada clinicamente.<br />
O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi relatar<br />
e analisar a prevalência das <strong>para</strong>sitoses<br />
intestinais causadas por protozoários<br />
e helmintos em uma comunida<strong>de</strong><br />
laboratorial do Rio <strong>de</strong> Janeiro, levando<br />
em consi<strong>de</strong>ração aspectos como sexo,<br />
faixa etária e a ocorrência <strong>de</strong> mono,<br />
bi e poli<strong>para</strong>sitismos.<br />
Material e Métodos<br />
Para este presente estudo foram<br />
utilizados como base os resultados <strong>de</strong><br />
5.512 exames copro<strong>para</strong>sitológicos,<br />
realizados no período compreendido<br />
entre fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006.<br />
Coleta do material<br />
As amostras foram coletadas <strong>de</strong><br />
forma espontânea, ou seja, sem nenhuma<br />
indução medicamentosa, e encaminhadas<br />
ao Setor <strong>de</strong> Parasitologia<br />
<strong>de</strong> um laboratório da re<strong>de</strong> privada do<br />
Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, provenientes<br />
das 26 filiais ambulatoriais, distribuídas<br />
por 22 bairros da cida<strong>de</strong> do Rio<br />
<strong>de</strong> Janeiro, além das intermunicipais:<br />
Duque <strong>de</strong> Caxias, Nilópolis, Nova<br />
Iguaçu e São João <strong>de</strong> Meriti.<br />
Métodos<br />
No Setor <strong>de</strong> Parasitologia foram<br />
utilizados três métodos <strong>de</strong> praxe <strong>para</strong><br />
todos os materiais remetidos: exame<br />
a fresco, o método <strong>de</strong> Hoffman e o <strong>de</strong><br />
Kato-Katz.<br />
Exame Parasitológico <strong>de</strong> Fezes<br />
● Exame a fresco: As amostras <strong>de</strong><br />
fezes foram submetidas ao exame a<br />
fresco, sendo o material fecal recentemente<br />
diluído em soro fisiológico,<br />
corado por lugol e examinado entre<br />
lâmina e lamínula sob microscopia óptica<br />
comum. Os esfregaços foram examinados<br />
sistemática e completamente<br />
através da objetiva do microscópio <strong>de</strong><br />
pequeno aumento (10X) e com pequena<br />
intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz. A confirmação<br />
dos <strong>para</strong>sitos foi realizada com a objetiva<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> aumento (40X).<br />
● Método <strong>de</strong> Hoffman: Consiste<br />
em um simples procedimento<br />
fundamentado na sedimentação<br />
espontânea em água, sendo uma<br />
combinação da gravida<strong>de</strong> e da sedimentação.<br />
Coloca-se cerca <strong>de</strong> 5g <strong>de</strong><br />
fezes frescas em copo graduado ou<br />
em beacker <strong>de</strong> 250ml, completando<br />
o volume <strong>de</strong> 50 a 60ml com água<br />
corrente misturando vigorosamente.<br />
Em seguida, pre<strong>para</strong>r a suspensão<br />
juntando 100ml <strong>de</strong> água corrente,<br />
filtrando a mesma em gaze dobrada<br />
duas vezes alojada em um funil,<br />
recebendo o filtrado em copo cônico<br />
com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 125ml. Caso necessário,<br />
adiciona-se água corrente<br />
até completar ¾ do volume do copo<br />
cônico. A solução <strong>de</strong>ve permanecer<br />
em repouso durante uma ou duas<br />
horas. Após o repouso, com o auxílio<br />
<strong>de</strong> uma pipeta capilar fixada a um<br />
bulbo <strong>de</strong> borracha, colhe-se uma<br />
pequena porção do sedimentado na<br />
camada inferior, <strong>de</strong>positando-o sobre<br />
uma lâmina, acrescentando duas a<br />
três gotas <strong>de</strong> lugol <strong>para</strong> a coloração<br />
do precipitado, adicionando-se em<br />
seguida lamínula e levando-se ao<br />
microscópio óptico <strong>para</strong> análise e<br />
diagnóstico <strong>de</strong> ovos, larvas e cistos<br />
<strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas (4).<br />
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103
● Método <strong>de</strong> Kato-Katz: Este<br />
método é amplamente utilizado na<br />
rotina <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar quantitativamente<br />
o número <strong>de</strong> ovos <strong>de</strong> helmintos,<br />
sendo consi<strong>de</strong>rado por vários<br />
autores um procedimento simples e<br />
muito eficiente <strong>para</strong> <strong>de</strong>tectá-los (4).<br />
O método consiste em se<strong>para</strong>r uma<br />
pequena porção <strong>de</strong> fezes frescas sobre<br />
papel absorvente, comprimindo<br />
uma tela náilon medindo aproximadamente<br />
4cm x 2cm (<strong>de</strong> 105 malhas)<br />
sobre as fezes, fazendo com que<br />
parte passe através das malhas.<br />
Em seguida <strong>de</strong>ve-se remover essa<br />
parcela que atravessou a malha com<br />
palito <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e transferi-las <strong>para</strong><br />
o orifício <strong>de</strong> cartão retangular <strong>de</strong><br />
papelão (2cm x 4cm x 1,42cm), com<br />
pequeno orifício central, colocando<br />
sobre lâmina, on<strong>de</strong> então coloca-se<br />
sobre o material fecal raspado uma<br />
lamínula <strong>de</strong> celofane ume<strong>de</strong>cida no<br />
mínimo pelo período <strong>de</strong> 24 horas,<br />
previamente num pre<strong>para</strong>do <strong>de</strong> 1ml<br />
<strong>de</strong> solução aquosa <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> malaquita<br />
a 3% (m/v), 100ml solução<br />
aquosa <strong>de</strong> fenol a 6% (m/v) e 100ml<br />
<strong>de</strong> glicerina. Após este procedimento,<br />
<strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>ixar a pre<strong>para</strong>ção em<br />
repouso durante 30 minutos <strong>para</strong><br />
clarificação a uma temperatura <strong>de</strong><br />
34-40°C ou a temperatura ambiente<br />
por uma ou duas horas. Posteriormente<br />
a pre<strong>para</strong>ção estará pronta<br />
<strong>para</strong> leitura microscópica (4).<br />
solução é diluída na proporção <strong>de</strong><br />
1:5 em água <strong>de</strong>stilada-<strong>de</strong>ionizada.<br />
Indica-se a data <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> no rótulo<br />
do frasco (4).<br />
● Solução <strong>de</strong> Ver<strong>de</strong> Malaquita:<br />
é utilizado 1ml <strong>de</strong> solução ver<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
malaquita a 3%, 100ml <strong>de</strong> solução<br />
<strong>de</strong> fenol a 6% e 100ml <strong>de</strong> glicerina.<br />
Embebe-se por mais <strong>de</strong> 24 horas, individualmente,<br />
as lamínulas <strong>de</strong> celofane<br />
nessa mistura (4).<br />
Metodologia da análise <strong>de</strong> dados<br />
A metodologia <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados<br />
foi fundamentada no trabalho realizado<br />
por Cantos et al (2005) on<strong>de</strong> se<br />
analisou a ocorrência <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sitoses<br />
em população ambulatorial <strong>de</strong><br />
Maringá-PR.<br />
Análise e interpretação dos dados<br />
No presente estudo foram analisados<br />
5.512 exames copro<strong>para</strong>sitológicos,<br />
realizados por um laboratório<br />
da re<strong>de</strong> privada do Estado do Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. O estudo epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong><br />
quaisquer <strong>para</strong>sitos intestinais proporciona<br />
informações indicativas do<br />
grau <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> do meio, que<br />
<strong>de</strong>corre freqüentemente da poluição<br />
do solo, das águas ou dos alimentos<br />
por resíduos fecais; informa também<br />
sobre o nível e a extensão do<br />
saneamento ambiental e sobre os<br />
hábitos higiênicos <strong>de</strong> uma população<br />
(5). Nas amostras analisadas,<br />
30,8% continham ao menos um tipo<br />
<strong>de</strong> <strong>para</strong>sito (Figura 1), mostrando<br />
que essa população ainda necessita<br />
que sejam empregadas medidas que<br />
visam à promoção da saú<strong>de</strong>, em<br />
particular educação <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> modo a evitar contaminação no<br />
solo com fezes e contato direto com o<br />
solo; melhoria dos hábitos higiênicos<br />
voltados <strong>para</strong> o preparo e manuseio<br />
<strong>de</strong> alimentos, especialmente vegetais<br />
e implementação <strong>de</strong> medidas<br />
<strong>de</strong> saneamento por parte do po<strong>de</strong>r<br />
público (6).<br />
Nesse trabalho também foi analisada<br />
a relação do grau <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitismo,<br />
on<strong>de</strong> na Figura 2 po<strong>de</strong> se observar que<br />
71,80% das amostras positivas analisadas<br />
continham um tipo <strong>de</strong> <strong>para</strong>sito,<br />
23,90% continham dois tipos <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos<br />
e 4,30% continham três ou mais<br />
tipos <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos. Estes dados estão <strong>de</strong><br />
acordo com os relatos <strong>de</strong> Cantos et al<br />
(2005), mostrando que o mono<strong>para</strong>sitismo<br />
é encontrado com maior freqüência<br />
nas populações analisadas.<br />
Soluções<br />
● Solução <strong>de</strong> Iodo <strong>de</strong> Lugol: <strong>para</strong><br />
essa solução é utilizado 10g <strong>de</strong> io<strong>de</strong>to<br />
<strong>de</strong> potássio dissolvido em água.<br />
Adiciona-se lentamente 5g <strong>de</strong> cristais<br />
<strong>de</strong> iodo e agita-se até a completa<br />
dissolução. Filtra-se e estoca-se<br />
em frasco <strong>de</strong> cor âmbar com tampa<br />
esmerilhada, ao abrigo da luz. Novas<br />
soluções são pre<strong>para</strong>das <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> 10 a 14 dias. Antes do uso essa<br />
Positivo<br />
30,8%<br />
Negativo<br />
60,2%<br />
Figura 1. Porcentagem <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitológicos positivos e negativos em 5.512 amostras analisadas<br />
104<br />
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Outro dado analisado foi a ocorrência<br />
<strong>de</strong> <strong>para</strong>sitoses por sexo on<strong>de</strong><br />
61% das mulheres e 39% dos homens<br />
encontravam-se <strong>para</strong>sitados.<br />
Esses dados estão <strong>de</strong> acordo com os<br />
resultados encontrados por Cantos et<br />
al, (2005) em Maringá, on<strong>de</strong> 56,6%<br />
das mulheres e 43,4% dos homens<br />
encontravam-se <strong>para</strong>sitados respectivamente<br />
(Figura 3).<br />
Este estudo contemplou quatro<br />
faixas etárias. Indivíduos <strong>de</strong> 0 a 12<br />
anos, que se apresentaram 28,8%<br />
<strong>para</strong>sitados; <strong>de</strong> 13 a 20 anos, 6,6%<br />
<strong>para</strong>sitados; <strong>de</strong> 21 a 60 anos, 49%<br />
<strong>para</strong>sitados; >60 anos, 15,6% <strong>para</strong>sitados<br />
(Tabela 1).<br />
Em relação à distribuição das entero<strong>para</strong>sitoses<br />
(Tabela 2), a infecção por<br />
protozoários (99,30%) foi muito maior<br />
que a por helmintos (0,70%). Este fato<br />
provavelmente se explique <strong>de</strong>vido ao<br />
uso indiscriminado <strong>de</strong> vermífugos tomados<br />
pela população em geral (7); além<br />
disso, esses índices são pouco comparáveis<br />
a outros estudos realizados <strong>de</strong>vido<br />
à falta <strong>de</strong> critérios homogêneos <strong>para</strong> a<br />
escolha das amostras.<br />
Mono<strong>para</strong>sitismo Bi<strong>para</strong>sitismo Poli<strong>para</strong>sitismo<br />
23,90%<br />
71,80%<br />
4,30%<br />
Figura 2. Relação do grau <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitismo das amostras positivas da população analisada<br />
Homens<br />
39%<br />
Mulheres<br />
61%<br />
Figura 3. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitoses por sexo nos exames positivos analisados<br />
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Tabela 1. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas nas amostras positivas analisadas (fevereiro a julho<br />
<strong>de</strong> 2006)<br />
Ida<strong>de</strong> Total positivas Percentual positivas<br />
0 a 12 anos 631 28,8%<br />
13 a 20 anos 143 6,6%<br />
21 a 60 anos 1.073 49%<br />
> 60 anos 342 15,6%<br />
Total 2.189 100%<br />
Tabela 2. Ocorrência total <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas nas amostras positivas analisadas (fevereiro a<br />
julho <strong>de</strong> 2006)<br />
Protozoários Número absoluto Percentual<br />
Giardia duo<strong>de</strong>nalis 191 8,7%<br />
Blastocystis hominis 897 41%<br />
Endolimax nana 737 33,7%<br />
Entamoeba coli 170 7,8%<br />
Entamoeba histolytica 160 7,3%<br />
Iodamoeba bütschilii 18 0,8%<br />
Subtotal 1 2.173 99,3%<br />
Helmintos Número absoluto Percentual<br />
Ancilostomí<strong>de</strong>o 1 0,05%<br />
Enterobius vermiculares 3 0,1%<br />
Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s 8 0,4%<br />
Trichiuris trichiura 3 0,1%<br />
Tenia spp 1 0,05%<br />
Subtotal 2 16 0,7%<br />
Total 2.189 100%<br />
A alta prevalência <strong>de</strong> B. hominis<br />
(41%) entre os <strong>para</strong>sitas existentes<br />
neste estudo está <strong>de</strong> acordo com os<br />
relatos <strong>de</strong> Cimerman e Cimerman<br />
(2001), em que o B. hominis é freqüentemente<br />
o mais encontrado protozoário<br />
relatado em amostras fecais<br />
humanas, igualmente <strong>de</strong> pacientes<br />
sintomáticos e <strong>de</strong> indivíduos saudáveis.<br />
De qualquer maneira, não têm<br />
sido feitas tentativas <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar<br />
a verda<strong>de</strong>ira prevalência <strong>de</strong> B. hominis<br />
em humanos.<br />
Os dados <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> infecção<br />
pelo B. hominis não parecem<br />
estar restritos a condições climáticas<br />
ou a grupos socioeconômicos, nem a<br />
geográficas, com dados publicados<br />
indicando uma distribuição universal.<br />
A infecção provavelmente não difere<br />
sua prevalência em homens e mulheres,<br />
mas talvez seja influenciada<br />
pela ida<strong>de</strong> do paciente, sua condição<br />
imunológica e fatores relacionados<br />
à higiene.<br />
A ocorrência <strong>de</strong> Giárdia duo<strong>de</strong>nalis<br />
mostrou-se maior no grupo <strong>de</strong><br />
faixa etária <strong>de</strong> 0 a 12 anos (18,8%)<br />
do que nos outros grupos, como po<strong>de</strong><br />
ser observado nas Figuras A, B, C e<br />
D. Estes dados corroboram com as<br />
consi<strong>de</strong>rações feitas por Rey (2002)<br />
em que a incidência <strong>de</strong> Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />
aumenta nas crianças até a<br />
puberda<strong>de</strong> e cai <strong>de</strong>pois <strong>para</strong> taxas<br />
muito menores, não se sabendo se<br />
<strong>de</strong>vido à imunida<strong>de</strong> ou a outras condições<br />
fisiológicas.<br />
Os helmintos mais encontrados<br />
foram Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s, Trichiuris<br />
trichiura e Enterobius vermiculares. O<br />
Triciuris trichiura quase sempre segue<br />
<strong>para</strong>lelamente à prevalência <strong>de</strong> Ascaris<br />
lumbricoi<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vido a ser idêntico<br />
o modo <strong>de</strong> transmissão, gran<strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong><br />
dos helmintos e semelhante à<br />
resistência dos ovos às condições do<br />
meio exterior. O alto índice <strong>de</strong> Enterobius<br />
vermicularis <strong>de</strong>ve-se ao tipo <strong>de</strong><br />
transmissão do <strong>para</strong>sitismo, que se dá<br />
geralmente pela inalação e ingestão<br />
<strong>de</strong> ovos disseminados por via aérea.<br />
Ocorre facilmente entre pessoas que<br />
dormem no mesmo quarto e, mais<br />
ainda, na mesma cama; também entre<br />
pessoas que freqüentam as mesmas<br />
instalações sanitárias, pois no ato<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>spir-se e vestir-se, <strong>de</strong>scobri-se<br />
e cobrir-se com os lençóis, a agitação<br />
da roupa contaminada lança gran<strong>de</strong><br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ovos (8).<br />
A incidência <strong>de</strong>ste <strong>para</strong>sito po<strong>de</strong><br />
estar sendo subestimada, já que os<br />
exames <strong>de</strong> fezes, mesmo com enriquecimento,<br />
só revelam <strong>de</strong> 5 a 10%<br />
dos casos <strong>de</strong>sse <strong>para</strong>sitismo. A melhor<br />
forma <strong>de</strong> encontrá-los consiste na<br />
utilização do método da fita a<strong>de</strong>siva<br />
(transparente) ou método <strong>de</strong> Graham,<br />
on<strong>de</strong> ovos, quando presentes, a<strong>de</strong>rem<br />
à superfície da goma da fita. Depois<br />
<strong>de</strong> removida da pele a fita é colocada<br />
sobre lâmina <strong>de</strong> microscopia e examinada<br />
ao microscópio (8 e 9).<br />
Outro <strong>para</strong>sito que po<strong>de</strong> estar<br />
sendo subestimado, apesar <strong>de</strong> supostamente<br />
não haver nenhuma<br />
amostra contaminada pelo mesmo,<br />
106<br />
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46,5%<br />
26,1%<br />
18,8%<br />
6,6%<br />
5,0%<br />
1,0%<br />
Blastocystis hominis<br />
Endolimax nana<br />
Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />
Entamoeba coli<br />
Entamoeba histolytica<br />
Outros<br />
Figura A. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (0 a 12 anos) nas amostras positivas<br />
<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />
39,1%<br />
35,7%<br />
13,3%<br />
6,3%<br />
2,8%<br />
2,8%<br />
Outros<br />
Blastocystis hominis<br />
Endolimax nana<br />
Entamoeba histolytica<br />
Entamoeba coli<br />
Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />
Figura B. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (13 a 20 anos) nas amostras positivas<br />
<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />
é o Strongyloi<strong>de</strong>s stercoralis. O<br />
exame <strong>de</strong> fezes é o principal recurso<br />
<strong>para</strong> comprovar esse <strong>para</strong>sitismo,<br />
confirmando a presença <strong>de</strong> larvas<br />
nas mesmas, já que os ovos <strong>de</strong>sse<br />
<strong>para</strong>sita eclo<strong>de</strong>m logo <strong>de</strong>pois da oviposição,<br />
ainda na mucosa intestinal<br />
(8). Porém, a confirmação <strong>para</strong>sitológica<br />
da presença da infecção po<strong>de</strong><br />
ser dificultada pelo pequeno número<br />
<strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos, além da liberação <strong>de</strong><br />
larvas nas fezes ser mínima e irregular<br />
na infecção mo<strong>de</strong>rada. Nessas<br />
circunstâncias os métodos <strong>de</strong> rotina<br />
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107
41,1%<br />
36,3%<br />
9,1%<br />
7,7% 4,4%<br />
1,4%<br />
Blastocystis hominis<br />
Figura C. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (21 a 60 anos) nas amostras positivas<br />
<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />
38,6% 38,6%<br />
7,9%<br />
6,1% 6,1%<br />
1,0%<br />
Blastocystis hominis<br />
Endolimax nana<br />
Endolimax nana<br />
Entamoeba coli<br />
Entamoeba histolytica<br />
Entamoeba histolytica<br />
Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />
Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />
Entamoeba coli<br />
Outros<br />
Outros<br />
Figura D. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (> 60 anos) nas amostras positivas<br />
<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />
utilizados no presente estudo não lise <strong>de</strong> amostras fecais <strong>para</strong> diagnóstico<br />
são a<strong>de</strong>quados. Há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> das <strong>para</strong>sitoses, cada uma <strong>de</strong>las possui<br />
execução <strong>de</strong> métodos específicos. vantagens e <strong>de</strong>svantagens.<br />
Resultados <strong>para</strong>sitológicos negativos<br />
po<strong>de</strong>m não indicar ausência <strong>de</strong> exame simples e eficiente <strong>para</strong> o<br />
O Exame direto a fresco é um<br />
infecção (9).<br />
estudo <strong>de</strong> fezes permitindo observar<br />
os estágios <strong>de</strong> diagnóstico Com relação à metodologia <strong>de</strong> aná-<br />
dos<br />
protozoários e dos helmintos, porém<br />
apresenta <strong>de</strong>ficiência se o número<br />
<strong>de</strong> organismos for pequeno, po<strong>de</strong>ndo<br />
ser o exame <strong>de</strong> pequena quantida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> fezes usada <strong>para</strong> a pre<strong>para</strong>ção do<br />
esfregaço a fresco insuficiente <strong>para</strong><br />
revelar a presença <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos. O<br />
lugol, quando utilizado na coloração<br />
do exame direto a fresco, é útil <strong>para</strong><br />
corar cistos, porém, não é recomendado<br />
<strong>para</strong> a coloração <strong>de</strong> estágios<br />
vegetativos, já que todos os organismos<br />
vivos são mortos e distorcidos<br />
pelo corante.<br />
No Método <strong>de</strong> Hoffman, além<br />
da vantagem prática <strong>de</strong> ser necessário<br />
o mínimo <strong>de</strong> vidraria e <strong>de</strong> ser<br />
dispensável o uso <strong>de</strong> reagentes e<br />
centrifugação, a gran<strong>de</strong> vantagem<br />
do processo é que, em contraste às<br />
pequenas quantida<strong>de</strong>s usadas em outras<br />
técnicas, favorece um diagnóstico<br />
satisfatório e seguro, mesmo quando<br />
o número <strong>de</strong> organismos presente<br />
é pequeno. A <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong>sse<br />
processo <strong>de</strong> diagnóstico coprológico<br />
é a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos<br />
fecais no sedimento, dificultando,<br />
com freqüência, a pre<strong>para</strong>ção e o<br />
exame <strong>de</strong> lâmina.<br />
O Método Kato-Katz é um procedimento<br />
simples e muito eficiente,<br />
já que <strong>de</strong>monstra possuir excelente<br />
sensibilida<strong>de</strong> e reprodutibilida<strong>de</strong>,<br />
<strong>para</strong> <strong>de</strong>tectar ovos <strong>de</strong> helmintos e<br />
protozoários.<br />
A gran<strong>de</strong> vantagem do método<br />
é o uso significativo <strong>de</strong> fezes (50 à<br />
60mg), qual é examinada diretamente<br />
sem o emprego <strong>de</strong> outros procedimentos<br />
<strong>de</strong> concentração. Nesse método<br />
é obrigatório o uso <strong>de</strong> amostras<br />
fecais frescas ou refrigeradas (por<br />
um período <strong>de</strong> tempo pequeno), não<br />
possibilitando o uso <strong>de</strong> espécimes<br />
preservados pelos fixadores tradicionais,<br />
os quais promovem liquefação<br />
e diluição, afetando, possivelmente,<br />
108<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> clarificação <strong>de</strong><br />
mistura <strong>de</strong> glicerina, prejudicando a<br />
ação do método (4).<br />
Conclusão<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista médico e social,<br />
as entero<strong>para</strong>sitoses representam importantes<br />
problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />
que, além <strong>de</strong> ameaçarem constantemente<br />
a vida e o bem-estar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
parte da população, causam consi<strong>de</strong>ráveis<br />
perdas econômicas com assistência<br />
médica, redução da produtivida<strong>de</strong><br />
ou incapacitação <strong>para</strong> o trabalho.<br />
O alto percentual <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitoses<br />
encontrado no presente estudo<br />
(30,8%) mostra a existência <strong>de</strong> focos<br />
<strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> helmintos e protozoários<br />
no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>monstra<br />
também <strong>de</strong>ficiências higiênicas da<br />
população pesquisada e a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> profilaxia por parte<br />
das autorida<strong>de</strong>s como saneamento<br />
básico, educação sanitária <strong>para</strong> que a<br />
importância da higiene pessoal, com<br />
os alimentos e transmissão <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sitoses<br />
possa ser compreendida<br />
pela população.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
luciana.diaz@yahoo.com.br<br />
Referências Bibliográficas<br />
1.<br />
Jekel JF, Elmore JG, Katez DL. Epi<strong>de</strong>miologia, bioestatística e medicina preventiva.<br />
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De Carli GA. Parasitologia Clínica; Seleção <strong>de</strong> Métodos e Técnicas <strong>de</strong> Laboratório<br />
<strong>para</strong> o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. São Paulo: Atheneu, 2001. 810 p.<br />
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Cimerman B, Cimerman S. Parasitologia Humana e seus Fundamentos Gerais. 2°<br />
ed. São Paulo: Atheneu, 2001. 390p.<br />
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Cantos GA, Morais MM, Correa DC, Ishida N. Análise da Ocorrência <strong>de</strong> En-<br />
tero<strong>para</strong>sitoses em uma População Ambulatorial <strong>de</strong> Maringá-PR. Revista Laes e<br />
Haes, 3(76):90, 2001.<br />
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Rey L. Bases da Parasitologia Médica. 2° ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan,<br />
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9.<br />
Neves DP. Parasitologia Humana. 11° ed. São Paulo: Atheneu, 2005. 494p.<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
109
Artigo<br />
Triagem <strong>de</strong> Hemoglobinas Anormais<br />
em Doadores <strong>de</strong> Sangue no Estado do Amapá<br />
Al<strong>de</strong>nilson Pinheiro 1 , Clayton Joseph 1 , Ártemis Socorro do Nascimento Rodrigues 2<br />
1 - Hemocentro do Estado do Amapá<br />
2 - Professora da Disciplina Hematologia da Faculda<strong>de</strong> SEAMA, Macapá, AP<br />
Resumo<br />
Summary<br />
Triagem <strong>de</strong> Hemoglobinas Anormais em Doadores<br />
<strong>de</strong> Sangue no Estado do Amapá<br />
O Brasil apresenta alta prevalência <strong>de</strong> hemoglobina S, com nítidas<br />
diferenças regionais marcadas pelos processos <strong>de</strong> miscigenação da<br />
população. A presença <strong>de</strong>sta hemoglobina tem sido objeto <strong>de</strong> estudo,<br />
não só em pacientes com anemia falciforme, mas também em portadores<br />
<strong>de</strong>sta variante <strong>de</strong> hemoglobina em heterozigoze. A informação sobre o<br />
tipo <strong>de</strong> hemoglobina alterada e o suporte clínico, psicológico e genético<br />
ao portador e seus familiares é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância nesta área. De<br />
acordo com a portaria RDC 153 <strong>de</strong> 2004 <strong>para</strong> Normas técnicas <strong>de</strong><br />
coleta, processamento e transfusão <strong>de</strong> sangue, componentes e <strong>de</strong>rivados,<br />
do Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ser realizada a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> hemoglobinas<br />
anormais em doadores <strong>de</strong> sangue. Diante <strong>de</strong>sta normatização,<br />
objetivamos no presente trabalho a i<strong>de</strong>ntificação da hemoglobina S em<br />
doadores <strong>de</strong> sangue no estado do Amapá. Estudamos 888 amostras <strong>de</strong><br />
doadores voluntários <strong>de</strong> sangue, através <strong>de</strong> procedimentos eletroforéticos<br />
e bioquímica. Os resultados obtidos <strong>de</strong>monstraram uma gran<strong>de</strong> prevalência<br />
<strong>de</strong> indivíduos heterozigotos <strong>para</strong> anemia falciforme, <strong>de</strong>monstrando<br />
assim, a importância em se <strong>de</strong>terminar a prevalência <strong>de</strong> hemoglobina<br />
S em diferentes regiões do país, a fim <strong>de</strong> proporcionar esclarecimento<br />
necessário <strong>para</strong> essa alteração genética.<br />
Palavras-chaves: Doadores <strong>de</strong> sangue, traço falciforme,<br />
hemoglobina S<br />
Screening of Abnormal Hemoglobins of Blood Donors<br />
in the State of Amapá<br />
Brazil has a high prevalence of hemoglobin S, with clear regional<br />
differences marked by the process of population miscegenation. The<br />
presence of this hemoglobin has been the subject of studies, not<br />
only in sickle cell disease patients but also for the sickle cell trait.<br />
Information on the type of hemoglobin abnormality and clinical,<br />
psychological and genetic guidance for the affected individuals<br />
and their relatives is of great importance. According to the 2004<br />
government law (RDC 153) on the technical norms for the collection,<br />
processing and transfusion of blood, components and <strong>de</strong>rivatives<br />
issued by the Health Ministry, abnormal hemoglobins should be<br />
tested for in blood donors. The objective of this work was to i<strong>de</strong>ntify<br />
hemoglobin S in blood donors in the State of Amapá. A total of 888<br />
samples from volunteer blood donors were studied using electrophoresis<br />
and biochemical procedures. The results <strong>de</strong>monstrated a high<br />
prevalence of individuals with the sickle cell trait, thereby showing<br />
the importance of <strong>de</strong>termining the prevalence of hemoglobin S in<br />
different regions of the country in or<strong>de</strong>r to provi<strong>de</strong> the necessary<br />
awareness of this genetic alteration.<br />
Keywords: Blood donors, sickle cell disease, hemoglobin S<br />
Introdução<br />
As hemoglobinopatias, também<br />
conhecidas como distúrbios<br />
hereditários da hemoglobina<br />
humana, são doenças<br />
geneticamente <strong>de</strong>terminadas e<br />
apresentam morbida<strong>de</strong> significativa<br />
em todo o mundo (1). Milhões <strong>de</strong><br />
pessoas trazem em seu patrimônio<br />
genético, hemoglobinas anormais<br />
em várias combinações com conseqüências<br />
que variam das quase<br />
imperceptíveis às letais (2).<br />
O Brasil se caracteriza por significativa<br />
mistura racial on<strong>de</strong> o processo<br />
<strong>de</strong> colonização teve influência<br />
na dispersão dos genes anormais,<br />
principalmente talassemias e falcemias.<br />
Assim, a distribuição das hemoglobinas<br />
anormais, provenientes<br />
<strong>de</strong> formas variantes e talassemias,<br />
está relacionada com as etnias que<br />
compõem nossa população. Dentre<br />
96<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
as hemoglobinas variantes, as mais<br />
freqüentes na população brasileira<br />
são a hemoglobina S (HbS) e C<br />
(HbC), ambas <strong>de</strong> origem africana,<br />
mostrando a intensa participação do<br />
negro na composição populacional<br />
brasileira (2).<br />
A <strong>de</strong>nominação talassemia abrange<br />
um grupo heterogêneo <strong>de</strong> distúrbios<br />
genéticos da síntese <strong>de</strong> hemoglobina,<br />
caracterizado por redução<br />
na produção <strong>de</strong> uma ou mais ca<strong>de</strong>ias<br />
polipeptídicas <strong>de</strong> globina, que resulta<br />
no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> anemia<br />
microcítica e hipocrômica (3). As<br />
talassemias são mais freqüentes em<br />
regiões que tiveram maior participação<br />
da colonização italiana. Outras<br />
variantes raras como as hemoglobinas<br />
D, J, I, N e G são encontradas<br />
em diferentes localida<strong>de</strong>s (4).<br />
A hemoglobina S é a mais comum<br />
das alterações hematológicas<br />
hereditárias conhecidas no homem.<br />
É causada por mutação no gene beta<br />
da globina, produzindo alteração<br />
estrutural na molécula, on<strong>de</strong> há<br />
troca <strong>de</strong> uma base nitrogenada do<br />
códon GAG <strong>para</strong> GTG, resultando na<br />
substituição do ácido glutâmico pela<br />
valina na posição <strong>de</strong> número 6 (3).<br />
O gene Hb S foi introduzido no Brasil<br />
pelo tráfico <strong>de</strong> escravos, sendo encontrado<br />
predominantemente (mas<br />
não exclusivamente) entre negros<br />
e pardos. No Su<strong>de</strong>ste do país a<br />
prevalência média <strong>de</strong> heterozigotos<br />
em populações mistas é <strong>de</strong> cerca<br />
<strong>de</strong> 2%. Esta prevalência aumenta<br />
mo<strong>de</strong>radamente em populações do<br />
Nor<strong>de</strong>ste ou em grupos selecionados<br />
(como negros e pardos), po<strong>de</strong>ndo<br />
chegar a 6%. As formas com manifestações<br />
clínicas são conhecidas<br />
como doenças falciformes, incluindo<br />
a anemia falciforme (forma homozigótica)<br />
e as combinações com Hb C,<br />
β talassemias ou Hb D (5).<br />
A doença falciforme agrupa um<br />
conjunto <strong>de</strong> genótipos diferentes caracterizados<br />
pela concentração da Hb<br />
S estar acima <strong>de</strong> 50%. Nesse grupo<br />
<strong>de</strong>staca-se a anemia falciforme, geneticamente<br />
<strong>de</strong>terminada pela homozigose<br />
da hemoglobina S (Hb SS), que<br />
além <strong>de</strong> ser a forma mais prevalente<br />
entre as doenças falciformes é, em geral,<br />
a que apresenta maior gravida<strong>de</strong><br />
clínica e hematológica (6).<br />
O traço falciforme caracteriza o<br />
portador assintomático, heterozigoto<br />
<strong>para</strong> Hb S, representando laboratorialmente<br />
por Hb AS. Os portadores<br />
não apresentam a doença, nem possuem<br />
anormalida<strong>de</strong>s no número e<br />
formas <strong>de</strong> hemácias, geralmente evi<strong>de</strong>nciados<br />
por análises <strong>de</strong> rotina (7).<br />
É uma condição genética freqüente na<br />
população brasileira, afetando <strong>de</strong> 6 a<br />
10% dos negrói<strong>de</strong>s e cerca <strong>de</strong> 1% da<br />
população geral (8).<br />
Baseados em diversas técnicas,<br />
tem sido motivo <strong>de</strong> estudo no Brasil<br />
à <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> Hb S em doadores <strong>de</strong><br />
sangue, segundo portaria RDC no 153,<br />
<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004 (9). A importância<br />
<strong>de</strong> avaliações <strong>de</strong>stas hemoglobinas<br />
resi<strong>de</strong> na necessida<strong>de</strong> da melhoria,<br />
a cada dia, da qualida<strong>de</strong> do sangue<br />
a ser transfundido, além do aspecto<br />
educacional, cujos portadores <strong>de</strong>verão<br />
ser orientados sobre sua alteração<br />
genética e aconselhamentos a realizar<br />
exames em seus familiares (10).<br />
O presente estudo teve como<br />
objetivo principal realizar um levantamento<br />
da prevalência <strong>de</strong> hemoglobinas<br />
anormais em doadores sangue<br />
no estado do Amapá.<br />
Casauística e Métodos<br />
No período <strong>de</strong> 01 a 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />
2007 foram estudadas 888 amostras<br />
<strong>de</strong> doadores voluntários <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong><br />
ambos os sexos e faixa etária <strong>de</strong> 18<br />
a 50 anos, atendidos no hemocentro<br />
do estado do Amapá.<br />
Os doadores foram escolhidos aleatoriamente<br />
<strong>de</strong> acordo com a época da<br />
doação. Todos os doadores assinaram<br />
o “Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e<br />
Esclarecido” segundo a Resolução<br />
196/96 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />
conforme orientação do Comitê<br />
<strong>de</strong> Ética em Pesquisa da Faculda<strong>de</strong><br />
SEAMA. As amostras <strong>de</strong> sangue foram<br />
colhidas por punção venosa durante<br />
o processo <strong>de</strong> doação em tubos com<br />
anticoagulantes (EDTA).<br />
Após o preparo, as amostras<br />
foram submetidas à eletroforese<br />
em pH alcalino em gel <strong>de</strong> agarose.<br />
Foram utilizadas amostras padrões<br />
contendo Hb AS, Hb SS e HbA <strong>para</strong><br />
a i<strong>de</strong>ntificação das hemoglobinas das<br />
amostras em estudo. A eletroforese<br />
foi realizada à temperatura ambiente,<br />
com voltagem <strong>de</strong> 300 V por<br />
20 minutos (11). As amostras que<br />
apresentaram migração semelhante<br />
à hemoglobina S foram submetidas<br />
ao teste <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> (12).<br />
Resultados e<br />
Discussão<br />
Foram estudadas 888 amostras<br />
<strong>de</strong> doadores voluntários <strong>de</strong> sangue<br />
<strong>de</strong> ambos os sexos. Todas as amostras,<br />
inicialmente, foram submetidas<br />
à eletroforese em pH alcalino em gel<br />
<strong>de</strong> agarose. Das 888 amostras, 30<br />
(3,38%) foram heterozigotas <strong>para</strong><br />
hemoglobina S, sendo essa a única<br />
hemoglobina anormal encontrada em<br />
nosso estudo, o restante das amostras<br />
foi homozigoto <strong>para</strong> hemoglobina A (Hb<br />
A) (Tabela1). Resultados semelhantes<br />
foram observados por Lima et al (5) em<br />
2006 em um estudo realizado em 320<br />
amostras <strong>de</strong> crianças e adolescentes.<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
97
Tabela 1. Prevalência <strong>de</strong> hemoglobinas anormais em 888 amostras <strong>de</strong> doadores voluntários <strong>de</strong> sangue<br />
Amostras A/A A/S<br />
888 858 (96,6%) 30 (3,38%)<br />
Todas as amostras que apresentaram<br />
padrão <strong>para</strong> a hemoglobina<br />
S foram estudadas pelo teste <strong>de</strong><br />
solubilida<strong>de</strong>, confirmando o resultado<br />
encontrado na eletroforese.<br />
O teste <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> tem como<br />
princípio reduzir a Hb S, que é relativamente<br />
insolúvel no tampão<br />
inorgânico, enquanto que as outras<br />
hemoglobinas são solúveis. A lise<br />
dos eritrócitos, quando na mistura<br />
<strong>de</strong> ditionito <strong>de</strong> sódio no teste <strong>de</strong><br />
solubilida<strong>de</strong>, libera hemoglobina<br />
<strong>de</strong>soxigenada e a ca<strong>de</strong>ia beta <strong>de</strong><br />
cada molécula se <strong>de</strong>sloca lateralmente,<br />
causando “opacida<strong>de</strong>” na<br />
leitura do teste (2).<br />
De acordo com a portaria RDC<br />
153, <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004, “todo sangue<br />
a ser coletado, processado<br />
e transfundido, <strong>de</strong>ve apresentar<br />
boa qualida<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>ndo ser,<br />
portanto, veículo <strong>de</strong> propagação<br />
<strong>de</strong> patologias”. Esta portaria recomenda<br />
também que seja realizada<br />
a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> Hb S em doadores<br />
<strong>de</strong> sangue (9).<br />
Diante <strong>de</strong>ste fato, a chance <strong>de</strong><br />
encontramos um receptor com traço<br />
falciforme no estado <strong>de</strong> Amapá<br />
é gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à constituição<br />
genética da população, formada<br />
principalmente por <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> africanos, sendo assim, isso<br />
diminuiria a eficácia da transfusão,<br />
on<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> células anormais<br />
faria com que, receptores com Hb<br />
AA, tivessem uma transfusão ineficiente,<br />
não cumprindo assim seu<br />
papel, e obteríamos uma transfusão<br />
com “vida mais curta”, uma vez<br />
que a concentração <strong>de</strong> Hb A seria<br />
menor. No paciente portador <strong>de</strong> Hb<br />
S, se transfundirmos sangue com<br />
Hb AS, estaremos aumentando a<br />
concentração <strong>de</strong> Hb S em torno <strong>de</strong><br />
90%, uma vez que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
S no portador AS é <strong>de</strong> 25 a 45%,<br />
portanto, diminuindo a sua oxigenação,<br />
po<strong>de</strong>ndo aumentar o risco<br />
<strong>de</strong> hemólise (13).<br />
Devido à alta prevalência <strong>de</strong><br />
hemoglobina S em nosso país, esta<br />
triagem permite esclarecimento e<br />
“aconselhamento” <strong>para</strong> portadores<br />
assintomáticos, não só <strong>para</strong> orientação<br />
<strong>de</strong> reprodução, mas também<br />
como orientação, uma vez que várias<br />
profissões ou esportes têm fator <strong>de</strong><br />
risco aumentando <strong>para</strong> Hb S, como<br />
vôo não pressurizado, pára-quedismo,<br />
esforço físico em gran<strong>de</strong>s altitu<strong>de</strong>s,<br />
ou mesmo em altitu<strong>de</strong> normal,<br />
ou após excesso <strong>de</strong> esforços físico.<br />
Há relato <strong>de</strong> morte súbita, após<br />
anestesia, quando em transfusão por<br />
sangue com Hb S (13, 14).<br />
A prevalência média <strong>de</strong> portadores<br />
<strong>de</strong> traço falciforme no Brasil é <strong>de</strong><br />
2,1%, com variações regionais po<strong>de</strong>ndo<br />
atingir valores acima <strong>de</strong> 5% (5,<br />
14). Nossos resultados encontram-se<br />
<strong>de</strong>ntro da faixa <strong>de</strong> percentagem <strong>de</strong>scrita<br />
por outros pesquisadores em<br />
outras regiões do Brasil (5, 14-17).<br />
Este foi o primeiro estudo feito no<br />
estado do Amapá <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />
<strong>de</strong> hemoglobinas anormais.<br />
A Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />
recomenda a implantação <strong>de</strong> programas<br />
<strong>para</strong> prevenção e controle<br />
<strong>de</strong> hemoglobinopatias na América<br />
Latina, especialmente no Brasil. A<br />
organização <strong>de</strong> um programa preventivo<br />
requer suporte dos órgãos<br />
oficiais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, treinamento <strong>de</strong><br />
pessoal capacitado <strong>para</strong> diagnóstico,<br />
aconselhamento genético e clínico<br />
dos pacientes. O sucesso <strong>de</strong>stes<br />
programas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da receptivida<strong>de</strong>,<br />
disponibilida<strong>de</strong> e interesse da<br />
população a ser estudada (2).<br />
A <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> indivíduos portadores<br />
das formas imperceptíveis<br />
<strong>de</strong> hemoglobinopatias, os heterozigotos,<br />
é extremamente importante<br />
<strong>para</strong> saú<strong>de</strong> pública pois, além <strong>de</strong><br />
representarem fontes <strong>de</strong> novos<br />
heterozigotos, po<strong>de</strong>m, através <strong>de</strong><br />
casamentos entre portadores, originar<br />
indivíduos homozigotos e duplos<br />
heterozigotos como, por exemplo,<br />
os portadores <strong>de</strong> hemoglobina SC<br />
(Hb SC), que manifestam uma forma<br />
clínica.<br />
Os programas <strong>de</strong> prevenção<br />
colaboram <strong>para</strong> a conscientização<br />
dos heterozigotos fornecendo informações<br />
<strong>para</strong> que possam <strong>de</strong>cidir<br />
responsavelmente sobre o futuro <strong>de</strong><br />
seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes; favorecendo o<br />
direcionamento clínico nos casos<br />
mais brandos e indicar o acompanhamento<br />
a<strong>de</strong>quado aos portadores<br />
das formas mais grave da doença.<br />
É importante uma tecnologia<br />
a<strong>de</strong>quada <strong>para</strong> o diagnóstico, utilizando<br />
vários testes laboratoriais<br />
seletivos e <strong>de</strong> confirmação, dados<br />
clínicos e estudo familial, bem como<br />
a formação <strong>de</strong> pessoal capacitado<br />
<strong>para</strong> o diagnóstico laboratorial correto<br />
(2).<br />
98<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008
Conclusão<br />
● Em nosso estudo, a hemoglobina S<br />
foi a única hemoglobina anormal encontrada,<br />
com uma prevalência <strong>de</strong> 3,38%<br />
do total <strong>de</strong> amostras estudadas.<br />
● A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novos heterozigotos<br />
(Hb AS) é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />
<strong>para</strong> saú<strong>de</strong> pública, pois esses<br />
são fontes <strong>de</strong> novos heterozigotos e<br />
homozigotos.<br />
● Este foi o primeiro estudo realizado<br />
no estado Amapá <strong>para</strong> a <strong>de</strong>tecção<br />
<strong>de</strong> indivíduos com o traço falciforme.<br />
Além do enfoque social e clínico a<br />
i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sses indivíduos portadores<br />
<strong>de</strong> hemoglobinas anormais<br />
é importante <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong><br />
exames em seus familiares, visando<br />
melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />
Correspondências <strong>para</strong>:<br />
Profa. Dra. Ártemis Rodrigues<br />
asnrodrigues@seama.edu.br<br />
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2.<br />
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<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />
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