29.12.2014 Views

Aspectos Legais para Abertura de Laboratórios de ... - NewsLab

Aspectos Legais para Abertura de Laboratórios de ... - NewsLab

Aspectos Legais para Abertura de Laboratórios de ... - NewsLab

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Artigo<br />

<strong>Aspectos</strong> <strong>Legais</strong> <strong>para</strong> <strong>Abertura</strong> <strong>de</strong> Laboratórios <strong>de</strong> Análises<br />

Clínicas e Responsabilida<strong>de</strong> Técnica dos Exames<br />

Adriana Antônia da Cruz Furini 1 , Margarete Teresa Gottardo <strong>de</strong> Almeida 2<br />

1 - Centro Universitário <strong>de</strong> Rio Preto – Unirp<br />

2 - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> São José do Rio Preto – Famerp<br />

Resumo<br />

Summary<br />

<strong>Aspectos</strong> legais <strong>para</strong> abertura <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> análises<br />

clínicas e responsabilida<strong>de</strong> técnica dos exames<br />

A presente revisão preten<strong>de</strong> fornecer informações sobre as<br />

condições e os aspectos legais estabelecidos <strong>para</strong> abertura <strong>de</strong><br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas. As informações são ampliadas<br />

nas especificações <strong>de</strong> normas, legislações <strong>para</strong> instalações, organização,<br />

funcionamento e procedimentos operacionais padrão,<br />

<strong>para</strong> que um panorama global possa ser apreciado pelo leitor<br />

quanto à abrangência <strong>de</strong>ste tema. Destacam-se também aspectos<br />

como a responsabilida<strong>de</strong> legal e ética dos resultados dos exames<br />

laboratoriais, <strong>de</strong> acordo com os respectivos Conselhos Regionais<br />

<strong>de</strong> Farmácia, Medicina, Biologia e Biomedicina. A atuação dos<br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas é ferramenta <strong>de</strong> real suporte técnico<br />

aos diagnósticos médicos, favorecendo o direcionamento das<br />

ações voltadas <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong>, o bem-estar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Legal aspects established for the opening of clinical<br />

analysis laboratory and technical responsibility<br />

of the tests<br />

This literature revision provi<strong>de</strong>s information about conditions<br />

and legal aspects established for the opening of Clinical<br />

Analysis Laboratory. That information are amplified on rules<br />

and legislations specifications for installation, organization<br />

and functioning procedures, so a global panorama can be appreciate<br />

by rea<strong>de</strong>r about the embrace for this theme. This text<br />

also approach, the ethical and legal responsibilities concerning<br />

the results of the laboratory exams, according to the respective<br />

professional councils. The activation of these Clinical Analysis<br />

Laboratories is an instrument of real technical support to medicals<br />

diagnostics, supporting the direction actions by the health and<br />

for a quality of live.<br />

Palavras-chave: Laboratório <strong>de</strong> análises clínicas, procedimentos<br />

operacionais padrões, diagnósticos<br />

Keywords: Clinical analysis laboratory, standards operational<br />

procedures, diagnostics<br />

Introdução<br />

A<br />

s condições e aspectos legais<br />

estabelecidos <strong>para</strong> a<br />

abertura <strong>de</strong> um laboratório<br />

<strong>de</strong> análises clínicas e a responsabilida<strong>de</strong><br />

legal e ética dos resultados dos<br />

exames possuem nítida importância,<br />

<strong>de</strong>vido a serem encontradas escassas<br />

bibliografias sobre o assunto na<br />

revisão da literatura.<br />

A responsabilida<strong>de</strong> legal e ética<br />

dos resultados dos exames é conferida<br />

a médicos, biólogos, biomédicos<br />

e farmacêuticos-bioquímicos, <strong>de</strong><br />

acordo com seus respectivos Conselhos,<br />

que estabelecem condições<br />

<strong>para</strong> ativida<strong>de</strong> do profissional.<br />

A excelência em exames laboratoriais<br />

é adquirida <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong><br />

conceitos e postulados estritamente<br />

científicos, através <strong>de</strong> rigorosos controles<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> dos processos,<br />

equipe profissional altamente treinada<br />

através <strong>de</strong> cursos, palestras e<br />

congressos, equipamentos <strong>de</strong> última<br />

geração e melhoria contínua dos<br />

métodos <strong>de</strong> trabalho.<br />

As exigências legais <strong>para</strong> abertura<br />

<strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> análises<br />

contribuem <strong>para</strong> excelência <strong>de</strong><br />

exames laboratoriais, na medida<br />

em que Decretos-Lei <strong>de</strong>vem ser<br />

seguidos igualmente por todos os<br />

estabelecimentos <strong>para</strong> certificações<br />

e acreditações, num processo contí-<br />

194<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


nuo <strong>de</strong> aperfeiçoamento pela busca<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.<br />

O objetivo <strong>de</strong>sta revisão bibliográfica<br />

é especificar as condições e<br />

aspectos legais estabelecidos <strong>para</strong><br />

abertura <strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> análises<br />

clínicas; abrangendo também<br />

a responsabilida<strong>de</strong> legal e ética dos<br />

resultados dos exames.<br />

Descrição do serviço<br />

Recorrendo às orientações <strong>de</strong><br />

Oliveira (2006), laboratório é qualquer<br />

estrutura que realiza exames<br />

complementares em amostras provenientes<br />

<strong>de</strong> seres vivos <strong>para</strong> fins<br />

preventivos, diagnósticos, prognósticos<br />

e <strong>de</strong> monitorização na preservação<br />

da vida.<br />

A abrangência <strong>de</strong>ste serviço é<br />

compatível com a classificação dada<br />

a cada tipo <strong>de</strong> laboratório.<br />

Os laboratórios são classificados<br />

em: laboratório <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>stinado<br />

<strong>para</strong> fins didáticos e treinamento; e<br />

em laboratório clínico <strong>de</strong> Patologia,<br />

Análises Clínicas, Anatomia, Citopatologia,<br />

Microbiologia, Micologia,<br />

Virologia, Parasitologia, Imunologia,<br />

Bioquímica, Toxicologia, Urinálise,<br />

Endocrinologia, Radiobioensaios,<br />

Histocompatibilida<strong>de</strong>, Citogenética,<br />

Hematologia, Imunohematologia,<br />

Genética Clínica, Biologia Molecular<br />

(Oliveira, 2006).<br />

Normas <strong>para</strong> licenciamento <strong>de</strong> um<br />

laboratório <strong>de</strong> análises clínicas<br />

No licenciamento <strong>de</strong> laboratórios<br />

<strong>de</strong> análises clínicas, segundo a Portaria<br />

nº. 1884 <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1994, todos os projetos <strong>de</strong> estabelecimento<br />

direcionados à área <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>verão ser elaborados em<br />

conformida<strong>de</strong>s com códigos, leis<br />

e normas pertinentes ao assunto;<br />

quer na esfera Municipal, Estadual<br />

ou Fe<strong>de</strong>ral (Oliveira, 2006).<br />

De acordo com o Decreto-Lei<br />

nº. 217/99 (1999), do Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>, os laboratórios <strong>de</strong>vem<br />

observar vários requisitos quanto<br />

às instalações, organização e<br />

funcionamento, contribuindo <strong>para</strong><br />

garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> técnica e assistencial<br />

<strong>de</strong>stes estabelecimentos.<br />

O citado Decreto-Lei orienta quanto<br />

ao pedido <strong>de</strong> licenciamento <strong>de</strong> um<br />

laboratório <strong>de</strong> análises clínicas, o<br />

qual <strong>de</strong>ve ser efetuado mediante<br />

um requerimento dirigido ao Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>.<br />

No referido requerimento <strong>de</strong>ve<br />

constar a <strong>de</strong>nominação social ou<br />

nome e elementos i<strong>de</strong>ntificativos do<br />

requerente, indicações da se<strong>de</strong> ou<br />

residência, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, número fiscal<br />

dos contribuintes, localização da unida<strong>de</strong><br />

e sua <strong>de</strong>signação, i<strong>de</strong>ntificação<br />

da direção técnica e do serviço que<br />

se propõe a prestar.<br />

Conforme o artigo 12º do Decreto-Lei<br />

nº. 217/99, o requerimento<br />

ainda <strong>de</strong>ve ser acompanhado <strong>de</strong> certidão<br />

atualizada do registro comercial,<br />

relação <strong>de</strong>talhada do pessoal<br />

e respectivo mapa, certificados <strong>de</strong><br />

habilitações literárias dos profissionais;<br />

progresso funcional, memória<br />

<strong>de</strong>scritiva e projeto <strong>de</strong> instalações<br />

em que o laboratório <strong>de</strong>ve funcionar<br />

assinado por técnico habilitado, impresso<br />

<strong>de</strong> licença <strong>de</strong> funcionamento<br />

<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo normatizado e projeto <strong>de</strong><br />

regularida<strong>de</strong> interna.<br />

A licença <strong>de</strong> funcionamento é<br />

atribuída mediante idoneida<strong>de</strong> do<br />

requerente e do diretor técnico e<br />

<strong>de</strong>mais profissionais da saú<strong>de</strong>, qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> instalações, equipamentos e<br />

organização.<br />

A atribuição da licença <strong>de</strong> funcionamento<br />

é precedida <strong>de</strong> vistorias pela<br />

Comissão <strong>de</strong> Verificação Técnica (CVT).<br />

Efetuada a vistoria, o processo <strong>de</strong>ve ser<br />

informado ao diretor geral da saú<strong>de</strong>.<br />

Instalações<br />

S e g u n d o o D e c r e t o - L e i n º .<br />

217/99, do Ministério da Saú<strong>de</strong>, a<br />

ativida<strong>de</strong> laboratorial <strong>de</strong>ve ser realizada<br />

em áreas exclusivamente <strong>de</strong>stinadas<br />

a esse fim; os laboratórios<br />

<strong>de</strong> análises clínicas po<strong>de</strong>m mediante<br />

autorização do ministro da saú<strong>de</strong><br />

instalar postos <strong>para</strong> a colheita <strong>de</strong><br />

produtos biológicos em local externo<br />

ao estabelecimento.<br />

As instalações dos laboratórios<br />

<strong>de</strong> análises clínicas <strong>de</strong>vem ter, no<br />

conjunto, uma dimensão mínima <strong>de</strong><br />

120 m 2 , incluindo zona <strong>de</strong> circulação;<br />

recepção <strong>de</strong> produtos, setor <strong>de</strong><br />

atendimento <strong>de</strong> pacientes, arquivos<br />

<strong>de</strong> resultados, sala <strong>de</strong> espera com<br />

instalações sanitárias, salas <strong>de</strong><br />

colheita, zona <strong>de</strong> lavagem e esterilização<br />

<strong>de</strong> materiais, área <strong>para</strong><br />

execução <strong>de</strong> análises (Decreto-Lei<br />

nº. 217/99).<br />

De acordo com a Comissão Interna<br />

<strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes<br />

(CIPA), artigo 170, as edificações<br />

<strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer aos requisitos que<br />

garantam segurança aos que nela<br />

trabalham. O artigo 171 estabelece<br />

que os locais <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vam ter<br />

no mínimo 3 metros <strong>de</strong> pé direito,<br />

assim consi<strong>de</strong>rados altura livre do<br />

piso do teto, po<strong>de</strong>ndo ser reduzido<br />

esse mínimo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que atendidas<br />

condições <strong>de</strong> iluminação e conforto<br />

térmico compatíveis com a natureza<br />

do trabalho.<br />

Conforme o artigo 172 da CIPA,<br />

os pisos dos locais <strong>de</strong> trabalho não<br />

<strong>de</strong>verão apresentar saliências nem<br />

<strong>de</strong>pressões que prejudiquem a circulação<br />

<strong>de</strong> pessoas ou a movimentação<br />

<strong>de</strong> materiais.<br />

O artigo 174 da CIPA estabelece<br />

que as escadas, pare<strong>de</strong>s, rampas <strong>de</strong><br />

acesso, passarelas, pisos e corredores<br />

<strong>de</strong>vam ser mantidos em estados<br />

<strong>de</strong> conservações e limpeza.<br />

196<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Segundo Oliveira (2006) os<br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas<br />

<strong>de</strong>verão ter um programa básico <strong>de</strong><br />

instalações elétricas, on<strong>de</strong> constem<br />

a localização e características da<br />

re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong><br />

energia elétrica, tensão local do<br />

fornecimento <strong>de</strong> energia elétrica,<br />

entrada, transformação, medição e<br />

distribuição <strong>de</strong> energia.<br />

O sistema <strong>de</strong> proteção contra<br />

<strong>de</strong>scargas atmosféricas, localização<br />

e característica da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong><br />

telefonia, <strong>de</strong>scrição do sistema <strong>de</strong><br />

geração <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> emergência<br />

(baterias <strong>de</strong> geradores) e <strong>de</strong>scrição<br />

do sistema <strong>de</strong> alarme contra incêndio<br />

<strong>de</strong>vem ser documentados e<br />

conhecidos (Oliveira, 2006).<br />

O artigo 175 da CIPA estabelece<br />

que os locais <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vam<br />

ter iluminação a<strong>de</strong>quada, natural<br />

ou artificial, sendo uniformemente<br />

distribuída, geral e difusa a fim <strong>de</strong><br />

evitar reflexos incômodos, sombras<br />

e contrastes excessivos.<br />

Para Oliveira (2006), as instalações<br />

hidráulicas <strong>de</strong>verão ser<br />

<strong>de</strong>senvolvidas <strong>de</strong> acordo com um<br />

programa básico, composto pela<br />

localização da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> fornecimento<br />

<strong>de</strong> água, indicação <strong>de</strong> poço<br />

artesiano, <strong>de</strong>scrição do sistema <strong>de</strong><br />

abastecimento <strong>de</strong> água e combate a<br />

incêndio, localização da re<strong>de</strong> pública<br />

<strong>de</strong> fornecimento <strong>de</strong> gás combustível<br />

e gás engarrafado e localização da<br />

re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> esgoto.<br />

Os laboratórios <strong>de</strong>vem cumprir<br />

as normas do Decreto-Lei 217/99<br />

quanto às instalações técnicas e<br />

equipamentos a<strong>de</strong>quados, pois <strong>de</strong>vem<br />

contribuir e ter capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong><br />

assegurar a qualida<strong>de</strong> técnica dos<br />

exames. As instalações técnicas e<br />

equipamentos abrangem instalações<br />

elétricas, climatização, <strong>de</strong>sinfecção e<br />

esterilização <strong>de</strong> materiais, gestão <strong>de</strong><br />

resíduos, equipamentos frigoríficos, clínica, exames complementares,<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong> água e segurança<br />

contra incêndio.<br />

a exercer. O exame médico <strong>de</strong>ve ser<br />

aptidão física e mental <strong>para</strong> função<br />

renovado <strong>de</strong> seis em seis meses nas<br />

A Comissão Interna <strong>de</strong> Prevenção<br />

<strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes (CIPA) e o uso anualmente nos <strong>de</strong>mais casos e na<br />

ativida<strong>de</strong>s e operações insalubres e<br />

<strong>de</strong> equipamentos especiais cessação do contrato <strong>de</strong> trabalho.<br />

De acordo com a CIPA (NR5, O estabelecimento <strong>de</strong>ve possuir<br />

2004), as empresas privadas e material necessário à prestação <strong>de</strong><br />

públicas que possuem empregados primeiros socorros médicos.<br />

regidos pela consolidação das leis do Os laboratórios on<strong>de</strong> se manuseiam<br />

produtos tóxicos, irritantes ou<br />

trabalho ficam obrigadas a manter<br />

uma comissão <strong>de</strong> riscos no ambiente<br />

<strong>de</strong> trabalho, solicitando medidas emergência, pois trata <strong>de</strong> exigências<br />

corrosivos <strong>de</strong>vem possuir ducha <strong>de</strong><br />

<strong>para</strong> reduzí-los ou neutralizá-los, presentes no Decreto-Lei 217/99.<br />

orientando os trabalhadores quanto As doenças profissionais e produzidas<br />

em virtu<strong>de</strong> das condições<br />

à prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.<br />

O artigo 166 referente às medidas especiais <strong>de</strong> trabalho, comprovadas<br />

preventivas da medicina do trabalho <strong>de</strong> objetivos <strong>de</strong> suspeita, <strong>de</strong>vem ser<br />

estabelece o exame médico obrigatório,<br />

on<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>rá investigação 196 da CIPA. A empresa é obrigada<br />

notificadas, <strong>de</strong> acordo com o artigo<br />

Tabela 1. Ambientes do laboratório<br />

Unida<strong>de</strong>/Ambiente<br />

Dimensão<br />

Urinálise 10,0 m 2<br />

Bioquímica Enzimologia 15,0 m 2<br />

Virologia Imuno/Sorologia 15,0 m 2<br />

Parasitologia Clínica 10,0 m 2<br />

Hematologia/Coagulação 15,0 m 2<br />

Reprodução Humana 10,0 m 2<br />

Microbiologia Clínica 15,0 m 2<br />

Micologia Clínica 10,0 m 2<br />

Biologia Molecular 10,0 m 2<br />

Recepção e Coleta 60,0 m 2<br />

Triagem <strong>de</strong> Material 15,0 m 2<br />

Lavagem e Esterilização 10,0 m 2<br />

Emissão <strong>de</strong> Laudos 10,0 m 2<br />

Sala <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação 15,0 m 2<br />

Fonte: Prof. Carlos Jorge Rocha <strong>de</strong> Oliveira. Gestão Laboratorial p.12<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

197


a fornecer aos empregados, gratuitamente,<br />

equipamento <strong>de</strong> proteção<br />

individual a<strong>de</strong>quado ao risco <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<br />

e danos à saú<strong>de</strong> dos mesmos,<br />

segundo o artigo 166 da CIPA.<br />

A CIPA é obrigatória <strong>para</strong> empresas<br />

que possuam empregados com<br />

vínculo <strong>de</strong> emprego (NR5, 2004).<br />

Para os servidores públicos, <strong>de</strong>vido<br />

à falta <strong>de</strong> regulamentação constitucional,<br />

não é <strong>de</strong>finido a quem cabe<br />

regulamentar questões <strong>de</strong> segurança<br />

<strong>para</strong> essa categoria.<br />

Ambientes do laboratório<br />

A existência ou não <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

ambiente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da execução<br />

da ativida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte.<br />

Na avaliação do projeto aceitam-se<br />

variações <strong>de</strong> até 5% nas dimensões<br />

dos ambientes, principalmente<br />

<strong>para</strong> modulações arquitetônicas e<br />

estruturais, conforme ilustrado no<br />

Apêndice A (Oliveira, 2006).<br />

“Todos os ambientes estão sujeitos<br />

à a<strong>de</strong>quação das edificações<br />

e do mobiliário urbano, à pessoa<br />

<strong>de</strong>ficiente, segundo a ABNT” (Oliveira,<br />

2006).<br />

Organização e funcionamento<br />

• Regulamento interno<br />

Em conformida<strong>de</strong> com o Decreto-<br />

Lei nº. 217/99 do Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong>, os laboratórios <strong>de</strong> análises<br />

clínicas <strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> um regulamento<br />

interno <strong>de</strong>finido pelo diretor<br />

técnico, on<strong>de</strong> conste a i<strong>de</strong>ntificação<br />

do diretor técnico e do seu substituto,<br />

bem como dos especialistas e<br />

colaboradores da estrutura organizacional,<br />

<strong>de</strong>veres gerais dos profissionais,<br />

funções e competências<br />

por grupos <strong>de</strong> profissionais; normas<br />

<strong>de</strong> funcionamento, localização das<br />

unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colheita e i<strong>de</strong>ntificação<br />

do pessoal que realiza a colheita <strong>de</strong><br />

material biológico; laboratórios com<br />

os quais tem colaboração; normas<br />

relativas aos utilizadores.<br />

• Pessoal<br />

Conforme o artigo 30 do Decreto-<br />

Lei nº. 217/99, os laboratórios <strong>de</strong><br />

análises clínicas <strong>de</strong>vem dispor no<br />

exercício <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> especialistas<br />

habilitados e <strong>de</strong> pessoal<br />

técnico com formação a<strong>de</strong>quada,<br />

<strong>de</strong> acordo com os exames executados.<br />

Em princípio o laboratório<br />

<strong>de</strong> análises clínicas <strong>de</strong>ve dispor <strong>de</strong><br />

pelo menos um especialista inscrito<br />

<strong>para</strong> cada seis técnicos, em tempo<br />

completo. A administração por via<br />

endovenosa <strong>de</strong> drogas <strong>para</strong> avaliações<br />

analíticas, as punções arteriais,<br />

medulares e as biopsias somente<br />

po<strong>de</strong>rão ser executadas por médicos<br />

ou sob vigilância médica.<br />

Esse <strong>de</strong>creto ainda informa que<br />

laboratórios que utilizam radioisótopos<br />

<strong>para</strong> realização <strong>de</strong> análises<br />

<strong>de</strong>vem dispor <strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong>vidamente<br />

habilitado na área e segurança<br />

radiológica.<br />

• I<strong>de</strong>ntificação<br />

Por força do citado Decreto-Lei<br />

(217/99), os laboratórios <strong>de</strong>vem ser<br />

i<strong>de</strong>ntificados em tabuleta exterior<br />

com indicação do nome e habilitação<br />

profissional do diretor técnico. Os<br />

postos <strong>de</strong> colheita <strong>de</strong>vem ser i<strong>de</strong>ntificados<br />

em tabuleta exterior com<br />

a indicação e a localização do laboratório<br />

<strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m e do respectivo<br />

diretor técnico, mencionando<br />

suas habilitações profissionais.<br />

• Informações aos pacientes<br />

O horário <strong>de</strong> funcionamento e a<br />

licença <strong>de</strong> autorização <strong>de</strong> funcionamento<br />

<strong>de</strong>vem ser afixados em local<br />

visível e acessível aos pacientes, e<br />

a tabela <strong>de</strong> preços <strong>de</strong>ve estar obrigatoriamente<br />

disponível à consulta<br />

pelos utilizadores. Trata-se <strong>de</strong> respeito<br />

ao público e <strong>de</strong> norma presente<br />

no Decreto- Lei 217/99.<br />

As normas também se esten<strong>de</strong>m<br />

a <strong>de</strong>talhes, como a disposição <strong>de</strong><br />

livro <strong>de</strong> reclamações <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />

normatizado, insusceptível <strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>svirtuado, com termo <strong>de</strong> abertura<br />

datado e assinado pela Vigilância<br />

Sanitária. Estas reclamações <strong>de</strong>vem<br />

ser enviadas mensalmente a este órgão,<br />

as quais <strong>de</strong>vem obter resposta<br />

no prazo máximo <strong>de</strong> 30 dias.<br />

• Transportes <strong>de</strong> produtos<br />

biológicos<br />

O acondicionamento e o transporte<br />

<strong>de</strong> produtos biológicos <strong>para</strong> os<br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas <strong>de</strong>vem<br />

ser efetuados em condições térmicas<br />

e <strong>de</strong> estabilização a<strong>de</strong>quadas,<br />

em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> colheita, <strong>de</strong>vendo<br />

ser efetuado por pessoal qualificado,<br />

sendo vedada a utilização <strong>de</strong><br />

transportes públicos. Os produtos<br />

<strong>de</strong>stinados a exames anatomopatológicos<br />

<strong>de</strong>vem ser transportados<br />

em meios <strong>de</strong> fixação apropriados e<br />

<strong>de</strong>vidamente acondicionados em recipientes<br />

<strong>de</strong>stinados <strong>para</strong> esse fim;<br />

estas orientações também estão<br />

presentes no Decreto-Lei 217/99.<br />

• Conservação <strong>de</strong> arquivo<br />

As orientações governamentais<br />

aos laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas<br />

quanto à manutenção <strong>de</strong> dados é a<br />

<strong>de</strong> que <strong>de</strong>vem conservar, por qualquer<br />

processo, pelo menos durante<br />

cinco anos seus arquivos, sem prejuízo<br />

<strong>de</strong> outros prazos que venham<br />

a ser estabelecidos pelo Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>.<br />

De acordo com situações específicas<br />

<strong>de</strong>vem ser conservados<br />

documentos tais como resultados<br />

nominativos dos exames analíticos<br />

198<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


ealizados, resultados dos programas<br />

<strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, resultado<br />

das vistorias da Vigilância Sanitária,<br />

contrato celebrado com a empresa<br />

coletora dos resíduos, acordos relativos<br />

à aquisição <strong>de</strong> equipamentos e<br />

reagentes; protocolos <strong>de</strong> colaboração<br />

com outros laboratórios.<br />

Procedimentos Operacionais<br />

Padrão<br />

Os procedimentos operacionais<br />

escritos <strong>de</strong>finem como realizar a<br />

ativida<strong>de</strong> laboratorial em toda a sua<br />

extensão, sendo exigidos por todos<br />

os regulamentos existentes das<br />

Boas Práticas Laboratoriais (BPL).<br />

Estes procedimentos escritos são<br />

<strong>para</strong> diversas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rotina<br />

envolvidas na realização <strong>de</strong> tarefas<br />

a serem cumpridas.<br />

Constituem os Procedimentos<br />

Operacionais Padrões (POPs) instruções<br />

aprovadas pela gerência e ou<br />

orientadores <strong>de</strong> ensino, necessários<br />

ao cientista <strong>para</strong> <strong>de</strong>sempenhar sua<br />

ativida<strong>de</strong> e efetuar ação corretiva,<br />

caso ocorra algo errado, em locais<br />

múltiplos por diversos cientistas.<br />

Os POPs <strong>de</strong>vem ser redigidos <strong>de</strong> tal<br />

forma que seja suficientemente geral<br />

<strong>para</strong> permitir a utilização <strong>de</strong> técnicas<br />

familiares <strong>para</strong> cada cientista e/ou<br />

pesquisador (Oliveira, 2006).<br />

Para elaboração dos POPs, po<strong>de</strong>m<br />

ser utilizados como suplemento livros<br />

textos, artigos, fichas, resumos<br />

e literatura técnica. Os sumários<br />

<strong>de</strong>stes po<strong>de</strong>m ser usados como referência<br />

nas bancadas <strong>para</strong> orientação<br />

dos profissionais.<br />

Certificação<br />

Segundo Oliveira (2006), as empresas<br />

buscam a certificação <strong>para</strong><br />

regulamentarem-se, normatizando<br />

suas ativida<strong>de</strong>s e processos. Os<br />

serviços ou processos certificados<br />

recebem o selo da entida<strong>de</strong> Internacional<br />

Organization for Standardization<br />

- ISO, da qual o Brasil participa<br />

por meio da Associação Brasileira <strong>de</strong><br />

Normas Técnicas (ABNT).<br />

O processo <strong>de</strong> certificação <strong>de</strong>mora<br />

no mínimo seis meses, sendo<br />

um processo contínuo, que começa<br />

com uma auditoria inicial e semestralmente<br />

os auditores fazem manutenção<br />

<strong>para</strong> avaliar se o programa<br />

está sendo cumprido rigorosamente.<br />

O selo é recebido após serem cumpridos<br />

todos os requisitos solicitados<br />

pelas normas. A certificação po<strong>de</strong><br />

ser feita com auxílio <strong>de</strong> uma consultoria<br />

(Oliveira, 2006).<br />

Acreditação<br />

De acordo com Oliveira (2006),<br />

acreditação é um programa <strong>de</strong><br />

reconhecimento da competência<br />

técnica dos laboratórios, através<br />

do atendimento a requisitos préestabelecidos,<br />

valiosos quando é<br />

necessário comprovar boas práticas<br />

a autorida<strong>de</strong>s sanitárias, consumidores<br />

e compradores <strong>de</strong> serviços.<br />

Os programas nacionais <strong>de</strong> acreditação,<br />

promovidos por socieda<strong>de</strong>s<br />

científicas, são <strong>de</strong>nominados: Programa<br />

<strong>de</strong> Acreditação <strong>de</strong> Laboratórios<br />

Clínicos (PALC), da Socieda<strong>de</strong><br />

Brasileira <strong>de</strong> Patologia Clínica e<br />

Departamento <strong>de</strong> Inspeção e Cre<strong>de</strong>nciamento<br />

da Qualida<strong>de</strong> (DICQ)<br />

da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Análises<br />

Clínicas (SBAC).<br />

Internacionalmente o cre<strong>de</strong>nciamento<br />

po<strong>de</strong> ser pelo Colégio Americano<br />

<strong>de</strong> Patologia (CAP).<br />

Em todos os processos <strong>de</strong> acreditação<br />

os programas são semelhantes.<br />

Após a a<strong>de</strong>quação das<br />

exigências, o laboratório passa pelas<br />

auditorias específicas, e aten<strong>de</strong>ndo<br />

os requisitos, é concedido ou não o<br />

certificado. A Acreditação é anual<br />

<strong>de</strong>vendo ser renovada sempre com<br />

nova auditoria.<br />

Controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

O controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>, <strong>para</strong> Oliveira<br />

(2006), visa à auto-avaliação,<br />

capacitação técnica, i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> problemas e correções quando<br />

necessárias nos ambientes <strong>de</strong> trabalho.<br />

Os programas existentes são da<br />

Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Patologia<br />

Clínica, sendo o Programa <strong>de</strong> Excelência<br />

<strong>para</strong> Laboratórios Médicos<br />

(PELM) e pela Socieda<strong>de</strong> Brasileira<br />

<strong>de</strong> Análises Clínicas, o Programa Nacional<br />

<strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Qualida<strong>de</strong>.<br />

Os ensaios controlados <strong>de</strong>vem<br />

fazer parte da rotina do laboratório,<br />

sendo realizados com a mesma metodologia<br />

e equipamentos utilizados<br />

nos exames dos clientes. O controle<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> interna e externa é<br />

complementar e um não substitui<br />

o outro. O controle interno informa<br />

o comportamento das análises dos<br />

ensaios <strong>de</strong> todos os dias e o controle<br />

externo fornece o quanto o laboratório<br />

está <strong>de</strong> acordo segundo os outros<br />

laboratórios.<br />

A execução do programa é <strong>de</strong><br />

responsabilida<strong>de</strong> do pessoal interno<br />

do laboratório, sendo que a instituição<br />

provedora do programa se compromete<br />

a fornecer o material <strong>para</strong><br />

teste. Os programas básicos são das<br />

áreas <strong>de</strong> bioquímica, coagulação,<br />

hormônios, drogas terapêuticas,<br />

eletroforese <strong>de</strong> proteínas, gasometria,<br />

imunologia e uroanálise<br />

(Oliveira, 2006).<br />

O laboratório clínico e a eliminação<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos e<br />

infecciosos<br />

A resolução nº. 283/12 <strong>de</strong> julho<br />

<strong>de</strong> 2001, do Conselho Nacional do<br />

Meio Ambiente - Conama refere-se<br />

200<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


ao tratamento e <strong>de</strong>stinação final dos<br />

resíduos dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, com<br />

vistas a preservar a saú<strong>de</strong> pública e<br />

o meio ambiente. Para efeitos <strong>de</strong>sta<br />

resolução os resíduos <strong>de</strong> serviços<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> são aqueles provenientes<br />

<strong>de</strong> qualquer unida<strong>de</strong> que execute<br />

ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> natureza médicoassistencial<br />

humana ou animal e<br />

aqueles provenientes <strong>de</strong> centros<br />

<strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong>senvolvimento ou<br />

experimentação na área <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

e Farmacologia.<br />

O Plano <strong>de</strong> Gerenciamento <strong>de</strong><br />

Resíduos <strong>de</strong> Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> –<br />

PGRSS é um documento integrante<br />

do processo <strong>de</strong> licenciamento<br />

ambiental, baseado nos princípios<br />

da não geração <strong>de</strong> resíduos e na<br />

minimização <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> resíduos,<br />

contemplando os aspectos<br />

referentes à geração, segregação,<br />

acondicionamento, coleta, armazenamento,<br />

transporte, tratamento e<br />

disposição final, bem como proteção<br />

a saú<strong>de</strong> pública. Esse plano <strong>de</strong>ve ser<br />

elaborado pelo gerador <strong>de</strong> resíduos,<br />

<strong>de</strong> acordo com critérios estabelecidos<br />

pelos Órgãos <strong>de</strong> Vigilância Sanitária<br />

e Órgãos Ambientais, em suas<br />

esferas Fe<strong>de</strong>ral, Estadual e Municipal<br />

(Resolução 283/2001).<br />

A resolução 283/2001 do Conama<br />

classifica os resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> em grupos A, B, C e D. Os<br />

resíduos dos laboratórios <strong>de</strong> análises<br />

clínicas estão no grupo A e C. No<br />

grupo A estão resíduos que apresentam<br />

risco potencial à saú<strong>de</strong> e ao<br />

meio ambiente <strong>de</strong>vido à presença <strong>de</strong><br />

materiais biológicos, como inóculos,<br />

misturas <strong>de</strong> microrganismos e meios<br />

<strong>de</strong> cultura provenientes <strong>de</strong> laboratório<br />

<strong>de</strong> análises clínicas. Os resíduos<br />

do grupo A <strong>de</strong>vem ser submetidos a<br />

processos <strong>de</strong> tratamento específicos,<br />

<strong>de</strong> maneira a torná-los resíduos comuns<br />

do Grupo D.<br />

No grupo C estão rejeitos radionuclí<strong>de</strong>os,<br />

provenientes <strong>de</strong> laboratórios<br />

<strong>de</strong> análises clínicas, serviços<br />

<strong>de</strong> medicina nuclear e radioterapia<br />

que obe<strong>de</strong>cerão às exigências <strong>de</strong>finidas<br />

pela Comissão Nacional <strong>de</strong><br />

Energia Nuclear – CNEN (Resolução<br />

283/2001).<br />

A Agência Americana <strong>de</strong> Proteção<br />

ao Meio Ambiente, Envirommental<br />

Protection Agency (EPA), iniciou<br />

seus trabalhos em 1976, regulamentando<br />

a manipulação e <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tritos perigosos sob supervisão do<br />

RCRA, Resource Conservation and<br />

Recovery. De acordo com Sannazzaro<br />

(1989), os <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />

são <strong>de</strong>finidos como espécimes<br />

clínicos, culturas que contenham<br />

microrganismos capazes <strong>de</strong> causar<br />

doenças em humanos, elementos<br />

contun<strong>de</strong>ntes que tiveram contato<br />

com pacientes e/ou espécimes, pipetas<br />

e tubos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> sangue<br />

<strong>de</strong>scartáveis, frascos vazios e alguns<br />

TIPO<br />

Detritos microbiológicos<br />

(culturas, etc.)<br />

Sangue/produtos do<br />

sangue<br />

CDC<br />

Infeccioso<br />

Sim<br />

casos carcaças e partes <strong>de</strong> animais<br />

<strong>de</strong> laboratório.<br />

Para este teórico nos Estados<br />

Unidos, a Joint Comission Accreditation<br />

of Hospitals (JCAGH) tem<br />

influência nos cuidados com a saú<strong>de</strong>,<br />

principalmente na administração <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>tritos microbiológicos, sangue e<br />

agulhas usadas. O College of American<br />

Pathologist (CAP), <strong>para</strong> creditar<br />

um laboratório exige que exista local<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>pósito dos <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />

e haja o cumprimento das regras<br />

estabelecidas pelo E.P.A., e pelo<br />

Center for Disease Control (CDC)<br />

(Sannazzaro, 1989).<br />

A Tabela 2 classifica os <strong>de</strong>tritos<br />

infecciosos segundo o Envirommental<br />

Protection Agency e Center for<br />

Disease Control (CDC), agências<br />

americanas <strong>de</strong> proteção ao meio<br />

ambiente.<br />

Segundo a legislação americana,<br />

recomenda-se que na coleta e<br />

transporte <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />

Tabela 2. Classificação dos <strong>de</strong>tritos infecciosos pelo EPA e CDC (*)<br />

Detritos isolados <strong>de</strong><br />

doenças comunicáveis<br />

Detritos patológicos<br />

(materiais <strong>de</strong> autópsia)<br />

Detritos <strong>de</strong> Espécimes <strong>de</strong><br />

Laboratórios<br />

Sim<br />

Sim<br />

Sim<br />

Não<br />

EPA<br />

Infeccioso<br />

Sim<br />

Sim<br />

Sim<br />

Sim<br />

Opcional<br />

Detritos Cirúrgicos Não Opcional<br />

(*) CDC = US Center for Disease Control<br />

EPA = US Environmental Protection Agency<br />

Fonte: Sannazzaro. O laboratório clínico e a eliminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos. p.64<br />

202<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Tabela 3. Recomendações da EPA e CDC <strong>para</strong> <strong>de</strong>tritos infecciosos<br />

Tipo <strong>de</strong> Detrito EPA CDC<br />

Material cortante/ou contun<strong>de</strong>nte Esterilização a vapor incineração Esterilização a vapor incineração<br />

Microbiológico<br />

Esterilização a vapor incineração<br />

Desinfecção química<br />

Esterilização a vapor incineração<br />

Sangue e produtos do sangue Esterilização a vapor incineração-esgoto Esterilização a vapor Esgoto<br />

Carcaça <strong>de</strong> animais ou partes Esterilização a vapor incineração N.A.**<br />

Outros <strong>de</strong>tritos Esterilização a vapor incineração N.A.**<br />

** = N.A. = Não aplicável<br />

Fonte: Sannazzaro. O laboratório clínico e a eliminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos. P.66<br />

sejam usados sacos plásticos vermelhos<br />

grossos e resistentes, caixa<br />

plástica em material rígido e resistente<br />

<strong>para</strong> preservar os <strong>de</strong>tritos<br />

durante a estocagem e transporte.<br />

Os materiais cortantes <strong>de</strong>vem ser<br />

coletados em saco vermelho rígidos,<br />

à prova <strong>de</strong> furos, e os <strong>de</strong>tritos<br />

líquidos <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>scartados<br />

em recipientes selados. Todos os<br />

recipientes <strong>de</strong>vem estar gravados<br />

<strong>de</strong> maneira visível as palavras “Detritos<br />

Infecciosos e Detritos Perigosos”<br />

(Sannazzaro, 1989).<br />

A Tabela 3 ilustra as recomendações<br />

do EPA e CDC <strong>para</strong> a <strong>de</strong>stinação<br />

final <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos.<br />

Responsabilida<strong>de</strong> legal dos<br />

exames<br />

Segundo a Socieda<strong>de</strong> Brasileira<br />

<strong>de</strong> Análises Clínicas (SBAC), somente<br />

o biomédico, o farmacêutico<br />

especializado em análises clínicas e<br />

o médico patologista clínico po<strong>de</strong>m<br />

exercer responsabilida<strong>de</strong>s técnicas<br />

em análises clínicas, fornecendo<br />

laudos diagnósticos.<br />

A Lei Municipal nº. 8.764, <strong>de</strong> 18<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1978, impossibilitou<br />

os farmacêuticos <strong>de</strong> assumirem<br />

a chefia do serviço <strong>de</strong> Patologia<br />

Clínica, pois <strong>de</strong>stinou o cargo a<br />

médicos, regularmente inscritos<br />

no Conselho Regional <strong>de</strong> Medicina,<br />

mas a chefia dos laboratórios <strong>de</strong><br />

análises clínicas não é privativa<br />

<strong>de</strong> médicos. Segundo o Conselho<br />

Regional <strong>de</strong> Medicina do Estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo - Cremesp (1983),<br />

esses serviços, quer no âmbito do<br />

po<strong>de</strong>r público, quer na iniciativa<br />

privada, po<strong>de</strong>rão ser executados<br />

pelos farmacêuticos-bioquímicos<br />

<strong>de</strong>vidamente inscritos no Conselho<br />

Regional <strong>de</strong> Farmácia, estando inclusive<br />

qualificados <strong>para</strong> o exercício<br />

dos cargos <strong>de</strong> chefia ou direção.<br />

De acordo com a Resolução<br />

nº78, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2002 do<br />

Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Biomedicina, o<br />

biomédico po<strong>de</strong>rá ser responsável<br />

técnico em laboratório <strong>de</strong> análises<br />

clínicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que comprovada a<br />

realização do estágio com duração<br />

igual ou superior a quinhentas<br />

horas em instituições oficiais ou<br />

particulares, reconhecidas pelo<br />

órgão competente no Ministério da<br />

Educação ou em laboratório conveniado<br />

com instituições <strong>de</strong> nível<br />

superior, ou cursos <strong>de</strong> especialização<br />

reconhecido pelo MEC. Exige-se<br />

também que possua as disciplinas<br />

<strong>de</strong> Patologia Clínica, Parasitologia,<br />

Microbiologia, Imunologia, Hematologia,<br />

Bioquímica, Banco <strong>de</strong> Sangue<br />

e outras especialida<strong>de</strong>s.<br />

O profissional biomédico com<br />

habilitação em análises clínicas tem<br />

competência legal <strong>para</strong> assumir<br />

e executar o processamento <strong>de</strong><br />

sangue, suas sorologias e exames<br />

pré-transfusionais e é capacitado<br />

legalmente <strong>para</strong> assumir chefias<br />

técnicas, assessorias e direção<br />

<strong>de</strong>stas ativida<strong>de</strong>s.<br />

A R e s o l u ç ã o n º . 0 1 2 d e<br />

19/07/1993, do Conselho Regional<br />

<strong>de</strong> Biologia, <strong>de</strong>liberou que o profissional<br />

legalmente habilitado em<br />

Ciências Biológicas po<strong>de</strong>rá solicitar<br />

aos Conselhos Regionais <strong>de</strong> Biologia<br />

o Termo <strong>de</strong> Responsabilida<strong>de</strong> Técnica<br />

em Análises Clínicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tenha<br />

como experiência profissional estágio<br />

supervisionado em análises clínicas<br />

com duração mínima <strong>de</strong> 360 horas.<br />

A Resolução 296/96 do Conselho<br />

Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Farmácia normatiza o<br />

exercício das análises clínicas pelo<br />

farmacêutico- bioquímico.<br />

Nos requerimentos <strong>para</strong> registros <strong>de</strong><br />

204<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas, o mesmo<br />

<strong>de</strong>verá ser registrado no conselho<br />

que o profissional responsável esteja<br />

inscrito, sendo este <strong>de</strong> Biomedicina, <strong>de</strong><br />

Medicina, <strong>de</strong> Farmácia e Biologia.<br />

Em Portugal, o Estado reconhece<br />

às or<strong>de</strong>ns dos farmacêuticos e<br />

dos médicos a competência <strong>para</strong> a<br />

atribuição <strong>de</strong> títulos <strong>de</strong> especialistas<br />

na área <strong>de</strong> análises. Somente estes<br />

especialistas po<strong>de</strong>m ser diretores <strong>de</strong><br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas.<br />

Os títulos <strong>de</strong> especialistas atribuídos<br />

pela Or<strong>de</strong>m dos Farmacêuticos<br />

<strong>de</strong> Portugal (2003) exigem<br />

do candidato aprovação no exame<br />

realizado na Or<strong>de</strong>m, com provas<br />

teóricas, práticas e análise <strong>de</strong> currículo,<br />

perante um júri nacional constituído<br />

por especialistas pertencentes<br />

ao colégio da Especialida<strong>de</strong> em<br />

Análises Clínicas da Or<strong>de</strong>m. Após<br />

formação universitária <strong>de</strong> cinco<br />

anos, <strong>de</strong>ve seguir-se uma formação<br />

especializada <strong>de</strong> pelo menos quatro<br />

anos, realizada na Universida<strong>de</strong> e<br />

em laboratórios hospitalares ou<br />

privados reconhecidos.<br />

Contudo, o título <strong>de</strong> especialista<br />

obtido com esta formação não permite<br />

aos farmacêuticos assumirem<br />

a direção técnica dos laboratórios<br />

privados, nem a chefia dos laboratórios<br />

públicos, reservadas apenas<br />

aos médicos que, por sua vez, estão<br />

integrados nas carreiras médicas.<br />

Discussão<br />

O presente artigo apresentou-se<br />

como um breve manual <strong>para</strong> consulta<br />

em relação a normas <strong>para</strong> laboratórios<br />

<strong>de</strong> análises clínicas. É importante<br />

ressaltar que os tópicos apresentados<br />

não preten<strong>de</strong>m esgotar as possibilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> consultas e avaliações nesta<br />

temática e sim contribuir <strong>para</strong> revisão<br />

bibliográfica. Novos estudos <strong>de</strong>vem<br />

ser <strong>de</strong>senvolvidos na presente temática<br />

<strong>para</strong> que haja aprofundamento e<br />

maior compreensão do assunto.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

Adriana Antônia da Cruz Furini<br />

adriana@unirpnet.com.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

9.<br />

10.<br />

11.<br />

12.<br />

Oliveira CJR. Manual <strong>de</strong> Boas Práticas – Laboratórios clínicos. 1. ed. São Paulo: Ponto Crítico, 2006. 144p.<br />

Brasil. Decreto – Lei n.217/99, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 99/2000. Desenvolve o regime jurídico criado pelo Decreto – Lei nº. 19/93, no<br />

que concerne ao licenciamento dos laboratórios. Disponível em: http://www.or<strong>de</strong>mdosmedicos.pt/ie/ institucional/CNE/legislacao/<br />

Declei217_99. Acesso em: 22 out. 2003.<br />

Comissão Interna <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>nte. Disponível em: http://www.puc-rio.br/parcerias/cipa/clt/sec05.html . Acesso em: 05 mar.<br />

2004.<br />

Manual CIPA. A nova NR5. A CIPA é obrigatória <strong>para</strong> empresas que possuam empregados com vínculo <strong>de</strong> emprego. Disponível<br />

em: www.ib.unicamp.br/institucional/ib/cipa/manual.pdf. Acesso: em 18 mar. 2004<br />

Brasil. Resolução n 283, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2001. Dispõe sobre o tratamento e a <strong>de</strong>stinação final dos resíduos <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

Diário Oficial da União, Brasília, p.1-5.<br />

Sannazzaro CAC, Coelho LT, Lima VC et al. O laboratório clínico e a eliminação <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos perigosos. Laes/Haes, 10(60): 60-67.<br />

1989.<br />

Cremesp. Disponível em: http://www.cremesp.org.br/legislacao/pareceres/parcrn/1453-34_1983.htm. Acesso em: 20 set. 2003.<br />

Conselho Regional <strong>de</strong> Biomedicina. Ato Profissional Biomédico. Disponível em: http://www.crbm1.com.br/bio47/rev16.asp. Acesso em:<br />

10 set. 2003.<br />

O Biomédico. Disponível em: http://www.25.brinkster.com/agab/bio.htm. Acesso em: 10 set. 2003.<br />

Nossa história, mensagem do presi<strong>de</strong>nte, referimento do CRBIO – 2 símbolo do biólogo. Disponível em: http://www.abio2.org.br/<br />

renducao.asp. Acesso em: 28 jan. 2004.<br />

Brasil. Conselho Regional <strong>de</strong> Farmácia. Deliberação n.535, <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2001. Dispõe sobre o Exercício Profissional <strong>de</strong> Farmacêuticos-<br />

Bioquimicos em Laboratórios <strong>de</strong> Análises Clinicas. CRF/PR, Paraná, p.1-4. Disponível em: http://www.crfpr.org.br/legislacao/legisprofissional/<br />

<strong>de</strong>ll535analcli.htm. Acesso em: 10 set. 2003.<br />

Portugal. Or<strong>de</strong>m dos Farmacêuticos. Análises Clínicas. Disponível em: www.or<strong>de</strong>mfarmaceuticos.pt/frontffice/pager/<strong>de</strong>faultcatgory/.<br />

Acesso em: 05 set. 2003.<br />

206<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Artigo<br />

Avaliação do Conhecimento sobre Biossegurança em<br />

Trabalhadores <strong>de</strong> Laboratórios <strong>de</strong> Análises Clínicas<br />

Tatiana Barbaresco 1 , Jorge Luiz Freire Pinto 2 , Alexandre Luiz Affonso Fonseca 2 ,<br />

Luciana Zambeli Caputo 2 , Juliana Pereira 2 , Fernando Luiz Affonso Fonseca 2,3<br />

1 - Aluna do Curso <strong>de</strong> Especialização Lato Sensu em Análises Clínicas - IPESSP<br />

2 - Professores do Curso <strong>de</strong> Especialização Lato Sensu em Análises Clínicas - IPESSP<br />

3 - Professor do Curso <strong>de</strong> Ciências Farmacêuticas da FMABC, Chefe do Laboratório <strong>de</strong> Análises Clínicas da FMABC<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Avaliação do conhecimento sobre biossegurança em<br />

trabalhadores <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas<br />

Biossegurança ou segurança biológica refere-se à aplicação do<br />

conhecimento, técnicas e equipamentos com finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir<br />

a exposição do trabalhador, laboratório e ambiente a agentes potencialmente<br />

infecciosos que possam ser seguramente manipulados e<br />

contidos <strong>de</strong> forma segura. Este artigo trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa com<br />

trabalhadores da área da saú<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> se submeteram a respon<strong>de</strong>r<br />

um questionário referente a conhecimentos e práticas <strong>de</strong> biossegurança.<br />

Percebe-se que muitos dos profissionais avaliados conhecem as<br />

práticas e normas <strong>de</strong> biossegurança, porém nem sempre as utilizam<br />

e outros não as utilizam corretamente.<br />

Palavras-chave: Análises clínicas, risco ocupacional,<br />

segurança biológica<br />

Evaluation of the knowledge about biological security<br />

among clinical laboratories workers<br />

Biological security refers to the use of knowledge, techniques<br />

and equipment to prevent the exposal of workers, laboratories<br />

and environments to potentially infectious agents that can be<br />

safely manipulated and contained. This article is based on a<br />

questionnaire about biological security knowledge and procedures<br />

that was answered by health care workers. It conclu<strong>de</strong>s<br />

that most of the professionals know proper biological security,<br />

but not often make correct use of them.<br />

Keywords: Clinical analysis, occupational risk, biological<br />

security<br />

Introdução<br />

No Brasil, a legislação <strong>de</strong><br />

Biossegurança foi criada em<br />

1995 e, apesar da gran<strong>de</strong><br />

incidência <strong>de</strong> doenças ocupacionais<br />

em profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, englobava<br />

apenas a tecnologia <strong>de</strong> engenharia<br />

genética, estabelecendo os requisitos<br />

<strong>para</strong> o manejo <strong>de</strong> organismos geneticamente<br />

modificados (Funasa – Vigilância<br />

Epi<strong>de</strong>miológica, 2001).<br />

Biossegurança ou segurança biológica<br />

refere-se à aplicação do conhecimento,<br />

técnicas e equipamentos com<br />

a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir a exposição<br />

do trabalhador, laboratório e ambiente<br />

a agentes potencialmente infecciosos<br />

ou biorriscos. Biossegurança <strong>de</strong>fine as<br />

condições sobre as quais os agentes<br />

infecciosos po<strong>de</strong>m ser seguramente<br />

manipulados e contidos <strong>de</strong> forma segura<br />

(Mastroeni, 2006).<br />

A lógica da construção do conceito<br />

<strong>de</strong> biossegurança teve seu inicio<br />

na década <strong>de</strong> 1970 na reunião <strong>de</strong><br />

Asilomar na Califórnia, on<strong>de</strong> a comunida<strong>de</strong><br />

científica iniciou a discussão<br />

sobre os impactos da engenharia<br />

genética na socieda<strong>de</strong>. Foi a primeira<br />

vez que se discutiram os aspectos<br />

<strong>de</strong> proteção aos pesquisadores e<br />

<strong>de</strong>mais profissionais envolvidos nas<br />

áreas on<strong>de</strong> se realiza o projeto <strong>de</strong><br />

pesquisa. A partir daí o termo biossegurança,<br />

vem, ao longo dos anos,<br />

sofrendo alterações.<br />

O foco <strong>de</strong> atenção voltava-se <strong>para</strong><br />

a saú<strong>de</strong> do trabalhador frente aos riscos<br />

biológicos no ambiente ocupacional.<br />

Já na década <strong>de</strong> 1980, a própria<br />

OMS (WHO, 1993) incorporou a essa<br />

<strong>de</strong>finição os chamados riscos periféricos<br />

presentes em ambientes laboratoriais<br />

que trabalhavam com agentes<br />

112<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


patogênicos <strong>para</strong> o homem, como os<br />

riscos químicos, físicos, radioativos e<br />

ergonômicos. Nos anos 1990, verificamos<br />

que a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> biossegurança<br />

sofre mudanças significativas.<br />

As infecções contraídas em um laboratório<br />

têm sido <strong>de</strong>scritas por meio<br />

da história da microbiologia. Os relatórios<br />

<strong>de</strong> microbiologia publicados<br />

na virada do século <strong>de</strong>screvem casos<br />

<strong>de</strong> tifo, cólera, mormo, brucelose e<br />

tétano associados a laboratórios. Em<br />

1941, Meyer e Eddie publicaram uma<br />

pesquisa <strong>de</strong> 74 casos <strong>de</strong> brucelose<br />

associados a laboratórios, ocorridos<br />

nos Estados Unidos, e concluíram<br />

que “a manipulação <strong>de</strong> culturas ou<br />

espécimes ou ainda a inalação da<br />

poeira contendo bactéria Brucella<br />

é eminentemente perigosa <strong>para</strong> os<br />

trabalhadores <strong>de</strong> um laboratório”.<br />

Inúmeros casos foram atribuídos à<br />

falta <strong>de</strong> cuidados ou a uma técnica<br />

<strong>de</strong> manuseio ruim <strong>de</strong> materiais infecciosos<br />

(Funasa – Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica,<br />

2001).<br />

Em, 1949, Sulkim e Pike publicaram<br />

a primeira <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong><br />

pesquisas sobre infecções associadas<br />

a laboratórios. Em 1951, Sulkim<br />

e Pike publicaram a segunda <strong>de</strong> uma<br />

série <strong>de</strong> pesquisas baseada em um<br />

questionário a 5.000 laboratórios.<br />

A brucelose era a infecção mais<br />

freqüentemente encontrada nos relatórios<br />

em relação às infecções contraídas<br />

em um laboratório. O índice<br />

total <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> era <strong>de</strong> 3% e<br />

somente 16% <strong>de</strong> todas as infecções<br />

relatadas estavam associadas a um<br />

aci<strong>de</strong>nte documentado. A maioria<br />

<strong>de</strong>stes estava relacionada ao uso<br />

<strong>de</strong> pipetas, seringas e agulhas. Em<br />

1974, Skinholj publicou os resultados<br />

<strong>de</strong> uma pesquisa segundo a<br />

qual os funcionários dos laboratórios<br />

clínicos dinamarqueses apresentavam<br />

uma alta incidência <strong>de</strong> hepatite<br />

(2,3 casos ao ano por 1.000<br />

funcionários), sete vezes maior que<br />

a população em geral. A hepatite B<br />

e a shigelose também eram conhecidas<br />

por serem um contínuo risco<br />

ocupacional (Costa, 2000).<br />

Na opinião <strong>de</strong> especialistas que<br />

discutem a biossegurança, o gran<strong>de</strong><br />

problema não está nas tecnologias<br />

disponíveis <strong>para</strong> eliminar ou minimizar<br />

os riscos e, sim, no comportamento<br />

dos profissionais (Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

Pública, 2005).<br />

Os trabalhadores que manipulam<br />

agentes infecciosos <strong>de</strong>vem receber<br />

treinamento e atualizações constantes<br />

em relação às técnicas <strong>de</strong> biossegurança.<br />

Cada laboratório e/ou instituição<br />

<strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver seu próprio<br />

manual <strong>de</strong> biossegurança, i<strong>de</strong>ntificando<br />

os riscos e procedimentos <strong>de</strong><br />

contorná-los, <strong>de</strong> forma a garantir a<br />

segurança ao trabalhador, ambiente<br />

e processo (Mastroeni, 2006)<br />

Quando as práticas laboratoriais<br />

padrões não forem suficientes <strong>para</strong><br />

controlar os perigos associados a um<br />

agente ou a um procedimento laboratorial<br />

em partículas, medidas adicionais<br />

po<strong>de</strong>rão ser necessárias. O diretor do<br />

laboratório será o responsável pela<br />

seleção das práticas adicionais <strong>de</strong> segurança<br />

que <strong>de</strong>vem estar relacionadas<br />

aos riscos associados aos agentes ou<br />

aos procedimentos (Funasa – Vigilância<br />

Epi<strong>de</strong>miológica, 2001).<br />

A equipe, as práticas <strong>de</strong> segurança<br />

e as técnicas laboratoriais <strong>de</strong>verão<br />

ser complementadas com um projeto<br />

apropriado das instalações e<br />

das características da arquitetura,<br />

do equipamento <strong>de</strong> segurança e das<br />

práticas <strong>de</strong> gerenciamento (Funasa –<br />

Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica, 2001). Os<br />

equipamentos <strong>de</strong> segurança são consi<strong>de</strong>rados<br />

barreiras primárias, visando<br />

a proteger o trabalhador e o ambiente<br />

laboratorial (Mastroeni, 2006).<br />

Segundo o Ministério do Trabalho<br />

e Emprego (MTE), na Norma Regulamentadora<br />

6 (NR 6), da Portaria<br />

3.214, consi<strong>de</strong>ra-se Equipamento<br />

<strong>de</strong> Proteção Individual (EPI) todo<br />

dispositivo ou produto, <strong>de</strong> uso individual<br />

utilizado pelo trabalhador,<br />

<strong>de</strong>stinado à proteção <strong>de</strong> riscos<br />

suscetíveis <strong>de</strong> ameaçar a segurança<br />

e a saú<strong>de</strong> no trabalho. Já os<br />

equipamentos <strong>de</strong> proteção coletiva<br />

(EPC), como o próprio nome sugere,<br />

dizem respeito ao coletivo, <strong>de</strong>vendo<br />

proteger todos os trabalhadores expostos<br />

a <strong>de</strong>terminado risco (http://<br />

www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/<br />

bisbiogr.htm).<br />

Conforme as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas<br />

no laboratório, <strong>de</strong>vem ser<br />

disponíveis aos seguintes EPC: cabine<br />

<strong>de</strong> segurança biológica, cabine<br />

<strong>de</strong> segurança química, chuveiro <strong>de</strong><br />

emergência, lava-olhos, equipamento<br />

<strong>de</strong> combate a incêndio e kit <strong>para</strong><br />

<strong>de</strong>rramamento <strong>de</strong> produtos químicos.<br />

Todos estes equipamentos <strong>de</strong>vem<br />

ser mantidos em boas condições <strong>de</strong><br />

funcionamento, sendo recomendado<br />

um programa <strong>para</strong> inspeção periódica<br />

(Mastroeni, 2006). As barreiras<br />

secundárias nos laboratórios po<strong>de</strong>m<br />

incluir o isolamento da área <strong>de</strong> trabalho<br />

<strong>para</strong> o acesso público, a disponibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pendência <strong>para</strong><br />

<strong>de</strong>scontaminação (por exemplo, uma<br />

autoclave) e as <strong>de</strong>pendências <strong>para</strong> a<br />

lavagem das mãos.<br />

Existem quatro níveis <strong>de</strong> segurança<br />

classificados conforme a ativida<strong>de</strong><br />

e o microrganismo <strong>de</strong> maior risco<br />

envolvido no trabalho (Oplustil, C.P;<br />

et al. 2004). O nível <strong>de</strong> Biossegurança<br />

1 é o <strong>de</strong> contenção laboratorial, que<br />

se aplica aos laboratórios <strong>de</strong> ensino<br />

básico, on<strong>de</strong> são manipulados os microrganismos<br />

pertencentes a classe<br />

<strong>de</strong> risco 1. Não é requerida nenhuma<br />

característica <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, além <strong>de</strong><br />

114<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


um bom planejamento espacial e<br />

funcional e a adoção <strong>de</strong> boas práticas<br />

laboratoriais. O risco individual e <strong>para</strong><br />

a comunida<strong>de</strong> é ausente ou muito baixo,<br />

ou seja, são microrganismos que<br />

têm baixa probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> provocar<br />

infecções no homem ou em animais.<br />

Exemplos: Bacillus subtilis. (http://<br />

www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/<br />

bisbiogr.htm).<br />

O nível <strong>de</strong> Biossegurança 2 diz<br />

respeito ao laboratório em contenção,<br />

on<strong>de</strong> são manipulados microrganismos<br />

da classe <strong>de</strong> risco 2. É<br />

aplicado aos laboratórios clínicos ou<br />

hospitalares <strong>de</strong> níveis primários <strong>de</strong><br />

diagnóstico, sendo necessário, além<br />

da adoção das boas práticas, o uso<br />

<strong>de</strong> barreiras físicas primárias (cabine<br />

<strong>de</strong> segurança biológica e equipamentos<br />

<strong>de</strong> proteção individual) e<br />

secundárias (<strong>de</strong>senho e organização<br />

do laboratório). O vírus da hepatite<br />

B, o HIV, a salmonela e o Toxoplasma<br />

spp. são exemplos <strong>de</strong> microrganismos<br />

<strong>de</strong>signados <strong>para</strong> esse nível <strong>de</strong><br />

contenção. O nível <strong>de</strong> Biossegurança<br />

2 é a<strong>de</strong>quando <strong>para</strong> qualquer trabalho<br />

que envolva sangue humano,<br />

líquidos corporais, tecidos ou linhagens<br />

<strong>de</strong> células humanas primárias<br />

em que a presença <strong>de</strong> um agente<br />

infeccioso po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sconhecida.<br />

Os perigos primários em relação aos<br />

funcionários que trabalham com esses<br />

agentes estão relacionados com<br />

aci<strong>de</strong>ntes percutâneos das exposições<br />

da membrana mucosa ou com<br />

a ingestão <strong>de</strong> materiais infecciosos.<br />

(http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/bisbiogr.htm).<br />

O nível <strong>de</strong> Biossegurança 3 é<br />

<strong>de</strong>stinado ao trabalho com microrganismos<br />

da classe <strong>de</strong> risco 3 ou <strong>para</strong><br />

manipulação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s volumes e<br />

altas concentrações <strong>de</strong> microrganismos<br />

da classe <strong>de</strong> risco 2. Para este<br />

nível <strong>de</strong> contenção são requeridos<br />

além dos itens referidos no nível 2,<br />

<strong>de</strong>senho e construção laboratoriais<br />

especiais. Deve ser mantido controle<br />

rígido quanto à operação, inspeção e<br />

manutenção das instalações e equipamentos<br />

e o pessoal técnico <strong>de</strong>ve<br />

receber treinamento específico sobre<br />

procedimentos <strong>de</strong> segurança <strong>para</strong> a<br />

manipulação <strong>de</strong>stes microrganismos<br />

(http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/bisbiogr.htm).<br />

O nível <strong>de</strong> Biossegurança 4, ou<br />

laboratório <strong>de</strong> contenção máxima,<br />

<strong>de</strong>stina-se à manipulação <strong>de</strong> microrganismos<br />

da classe <strong>de</strong> risco 4, on<strong>de</strong><br />

há o mais alto nível <strong>de</strong> contenção,<br />

além <strong>de</strong> representar uma unida<strong>de</strong><br />

geográfica e funcionalmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

<strong>de</strong> outras áreas. Esses<br />

laboratórios requerem, além dos<br />

requisitos físicos e operacionais<br />

dos níveis <strong>de</strong> contenção 1, 2 e 3,<br />

barreiras <strong>de</strong> contenção (instalações,<br />

<strong>de</strong>senho equipamentos <strong>de</strong><br />

proteção) e procedimentos especiais<br />

<strong>de</strong> segurança. Os riscos primários<br />

aos trabalhadores que manuseiam<br />

agentes do nível <strong>de</strong> Biossegurança 4<br />

incluem a exposição respiratória aos<br />

aerossóis infecciosos, a exposição<br />

da membrana mucosa e/ou da pele<br />

lesionada às gotículas infecciosas e<br />

a auto-inoculação.<br />

O risco individual e <strong>para</strong> a comunida<strong>de</strong><br />

é elevado. São microrganismos<br />

que representam sério risco <strong>para</strong> o<br />

homem e <strong>para</strong> os animais, sendo<br />

altamente patogênicos, <strong>de</strong> fácil propagação,<br />

não existindo medidas profiláticas<br />

ou terapêuticas. Exemplos:<br />

Vírus Marburg e Vírus Ebola (http://<br />

www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/<br />

bisbiogr.htm).<br />

Uma das ativida<strong>de</strong>s mais importantes<br />

<strong>para</strong> manter a área física e os<br />

equipamentos em condições a<strong>de</strong>quadas<br />

é a limpeza geral do laboratório.<br />

A limpeza inclui o cuidado com as<br />

superfícies e com o resíduo gerado<br />

<strong>de</strong>ntro do laboratório. A ação do <strong>de</strong>sinfetante<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da natureza do material<br />

<strong>de</strong>rramado e da superfície a ser<br />

<strong>de</strong>scontaminada. Materiais com alta<br />

concentração <strong>de</strong> proteínas (sangue e<br />

soro) po<strong>de</strong>m inativar o <strong>de</strong>sinfetante<br />

(Oplustil, C.P; et al. 2004).<br />

Sabe-se que existem normas regulatórias,<br />

bem como classificações dos<br />

níveis <strong>de</strong> segurança, porém percebemos<br />

que nem todos os profissionais<br />

atuantes em análises clínicas possuem<br />

conhecimento ou ainda não são treinados<br />

<strong>para</strong> evitarem riscos e posteriores<br />

aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho. Dessa maneira,<br />

o estudo teve como objetivo avaliar<br />

o conhecimento <strong>de</strong> biossegurança<br />

dos profissionais que atuam na área<br />

técnica e administrativa em diferentes<br />

laboratórios <strong>de</strong> análises clínicas da<br />

cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Materiais e Métodos<br />

Foi <strong>de</strong>senvolvido um questionário<br />

com 20 questões, pelas quais obtivemos<br />

dados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a formação do trabalhador<br />

até conhecimentos básicos<br />

e específicos sobre Biossegurança.<br />

O questionário aplicado também foi<br />

capaz <strong>de</strong> extrair conhecimento sobre<br />

medidas a serem tomadas caso ocorra<br />

um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho e a existência<br />

<strong>de</strong> protocolo que evite aci<strong>de</strong>ntes<br />

(Anexo 1).<br />

Um total <strong>de</strong> 33 profissionais atuantes<br />

em diferentes laboratórios <strong>de</strong><br />

análises clínicas distribuídos na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> São Paulo foi entrevistado pela pesquisadora<br />

(TB). A pesquisadora fazia<br />

contato telefônico com os laboratórios<br />

que foram escolhidos aleatoriamente<br />

e agendava a entrevista. A entrevista<br />

foi realizada no local <strong>de</strong> trabalho dos<br />

entrevistados em sala fechada com<br />

duração média <strong>de</strong> 30 minutos.<br />

116<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Resultados e<br />

Discussão<br />

Foram entrevistados 33 profissionais<br />

da área laboratorial e administrativa,<br />

<strong>de</strong>ntre os quais possuíam as seguintes<br />

formações: 36% biomédicos,<br />

9% biólogos, 3% farmacêuticos e 52%<br />

outros (auxiliares técnicos e técnicos<br />

<strong>de</strong> laboratório). A avaliação consistiu<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes no<br />

local <strong>de</strong> trabalho até a classificação<br />

do risco ocupacional.<br />

Quando perguntados sobre a<br />

ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho,<br />

30% dos entrevistados respon<strong>de</strong>ram<br />

que já sofreram algum tipo <strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>nte (Gráfico 1). Sendo estes<br />

aci<strong>de</strong>ntes ocorrendo na sua maioria<br />

das vezes no manuseio do material<br />

no próprio laboratório (70% das<br />

respostas), os outros 30% estão<br />

distribuídos entre ambulatório e enfermaria<br />

(no momento da coleta <strong>de</strong><br />

material biológico). Verificamos que<br />

apesar do risco ser maior quando se<br />

manuseia material perfucortante, o<br />

número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes é maior na fase<br />

analítica <strong>de</strong> realização dos exames<br />

laboratoriais. Isso ocorre muito provavelmente<br />

pela ausência <strong>de</strong> cuidado<br />

ou ainda ausência <strong>de</strong> protocolo <strong>de</strong><br />

manuseio <strong>de</strong> amostras nessa fase<br />

do exame.<br />

Verificamos também que quando<br />

ocorre um aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho, a sorologia<br />

é realizada <strong>de</strong> imediato, porém<br />

muitas vezes esse resultado não é<br />

acompanhado e é negligenciado pelo<br />

próprio aci<strong>de</strong>ntado. Isso se <strong>de</strong>ve pela<br />

ausência <strong>de</strong> protocolos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção, que apesar <strong>de</strong> serem<br />

exigidos, alguns laboratórios não os<br />

possuem ocasionando em um aumento<br />

do risco <strong>de</strong> exposição do trabalhador<br />

e negligenciando o seu tratamento<br />

frente a um problema adquirido no<br />

local <strong>de</strong> trabalho (Gráficos 2 e 3).<br />

Gráfico 1. Ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho<br />

Gráfico 2. Existência <strong>de</strong> protocolo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção em ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

Gráfico 3. Protocolo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes ocupacionais em ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

118<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Existem profissionais que não<br />

tiveram orientação ao ingressar na<br />

área técnica sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vacinação (6% dos entrevistados). A<br />

carteira <strong>de</strong> vacinação <strong>de</strong>veria estar<br />

completa, mas não é isto que ocorre<br />

com os profissionais da área laboratorial,<br />

conforme mostra o Gráfico<br />

4. O gráfico nos mostra que 3% dos<br />

entrevistados alegaram não saber a<br />

informação perguntada.<br />

Quando questionados se foram<br />

submetidos corretamente à vacinação<br />

contra hepatite B, verificamos<br />

que muitos dos entrevistados foram<br />

vacinados somente até a segunda<br />

dose (15%). Porém, 3% relataram<br />

verificação <strong>de</strong> soroconversão e<br />

ainda dose extra <strong>para</strong> hepatite B<br />

(Gráfico 5). Importante ressaltar<br />

que todos que respon<strong>de</strong>ram quanto<br />

ao conhecimento da soroconversão<br />

pertenciam ao mesmo local <strong>de</strong> trabalho<br />

com protocolo <strong>de</strong> vacinação<br />

bem <strong>de</strong>scrito.<br />

Em termos <strong>de</strong> contaminação, a <strong>de</strong><br />

maior periculosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stina-se à hepatite<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se tenha a vacina<br />

em dia e a soroconversão confirmada,<br />

mas não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar<br />

as outras patologias, conforme mostra<br />

o Gráfico 6.<br />

Referente ao uso <strong>de</strong> Equipamentos<br />

<strong>de</strong> Proteção Individual (EPI), o que<br />

seria <strong>de</strong> extrema obrigatorieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntre do ambiente <strong>de</strong> trabalho e<br />

exigido pelas normas <strong>de</strong> segurança,<br />

9% dos entrevistados alegam não<br />

utilizar estes equipamentos, os outros<br />

91% que utilizam relacionaram os<br />

equipamentos que são mais utilizados<br />

(Gráfico 7).<br />

Conforme os entrevistados, a classificação<br />

<strong>de</strong> risco em seus ambientes<br />

<strong>de</strong> trabalho é <strong>de</strong> alto risco (43%). O<br />

Gráfico 8 mostra a distribuição referente<br />

à classificação <strong>de</strong> risco. Interessantemente,<br />

com esse dado verificamos<br />

Gráfico 4. Conhecimento sobre a carteira <strong>de</strong> vacinação<br />

Gráfico 5. Conhecimento sobre vacinação contra a hepatite B<br />

Gráfico 6. Patologias com maior periculosida<strong>de</strong><br />

120<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Gráfico 7. Distribuição dos tipos <strong>de</strong> EPI utilizados pelos entrevistados<br />

Gráfico 8. Classificação do risco <strong>de</strong> trabalho pelos entrevistados<br />

que o trabalhador possui consciência<br />

em relação à exposição, porém não<br />

possui preocupação em relação ao uso<br />

dos equipamentos <strong>de</strong> proteção.<br />

A conscientização <strong>para</strong> uma melhora<br />

na biossegurança laboratorial não<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> somente dos profissionais<br />

envolvidos, mas também das instituições,<br />

dando-lhes boas condições <strong>de</strong><br />

trabalho e exigindo-os a segurança<br />

necessária <strong>para</strong> uma boa prática laboratorial,<br />

pois o risco existente em<br />

laboratórios clínicos e suas <strong>de</strong>pendências<br />

é alto.<br />

O caráter silencioso e a ausência<br />

<strong>de</strong> evidências em aci<strong>de</strong>ntes com agentes<br />

biológicos em laboratórios clínicos<br />

po<strong>de</strong>m contribuir <strong>para</strong> a não realização<br />

<strong>de</strong> procedimentos estabelecidos.<br />

As normas exigidas pelos órgãos<br />

responsáveis <strong>de</strong> Biossegurança só<br />

ten<strong>de</strong>m a minimizar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aci<strong>de</strong>ntes e ainda provêem subsídios<br />

<strong>para</strong> agir <strong>de</strong> maneira objetiva frente<br />

aos mesmos. Uma das alternativas<br />

seriam os programas <strong>de</strong> conscientização<br />

ao trabalhador com o objetivo <strong>de</strong><br />

explicar os riscos a que está exposto<br />

e como ele po<strong>de</strong> evitar esses riscos. A<br />

vulnerabilida<strong>de</strong> ao aci<strong>de</strong>nte po<strong>de</strong> ser<br />

atenuada com medidas <strong>de</strong> educação<br />

e conscientização.<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

Richmond JY, Mckunney R. Biossegurança em Laboratórios Biomédicos e <strong>de</strong> Microbiologia – Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica . Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong> Fundação Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (Funasa), 2001. p. 1-30.<br />

2.<br />

3.<br />

Mastroeni MF. Biossegurança Aplicada a Laboratórios e Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, 2ª Ed. – São Paulo. Ed. Atheneu, 2006. p. 3-18<br />

Oplustil CP, Zoccoli CM, Toboti NR, Sinto SI. Procedimentos Básicos em Microbiologia Clínica, 2ª Ed. – São Paulo. Ed. Sarvier,<br />

2004 p. 2-9.<br />

4.<br />

Legislação. Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Publica vol.39 nº. 6. São Paulo, Dec/2005.<br />

5. Disponível: < http://www.ib.unicamp.br/institucional/cibio/cartilha.html#introducao> Acessado em 06 Nov. 2006.<br />

6. Disponível: < http://www.geocities.com/exp_animal/Biosseguranca.htm> Acessado em 15 Out. 2006.<br />

7. Disponível: < http://inforum.insite.com.br/biosseguranca-laboratorial> Acessado em 07 Dez. 2006.<br />

8. Disponível: < http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/bisbiogr.htm> Acessado em 06 Nov. 2006.<br />

122<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Anexo I<br />

Questionário referente à Biossegurança<br />

1 – Qual sua profissão <br />

_______________________________________________________<br />

2 – Você já sofreu algum aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho <br />

( ) Sim ( ) Não<br />

3 – Caso tenha sofrido algum aci<strong>de</strong>nte, em qual tempo foi realizada a sorologia<br />

( ) Imediatamente ( ) após 2 horas ( ) dia seguinte<br />

( ) outro _________________________<br />

4 – Qual local você sofreu o aci<strong>de</strong>nte<br />

( ) Posto <strong>de</strong> coleta ( ) Laboratório ( ) Enfermaria ( ) Leito do paciente<br />

5 – Verificou se houve conversação após a vacinação<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />

6 – Ao entrar na área profissional foi <strong>de</strong>vidamente aconselhado a tomar as vacinas pertinentes<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

7 – Sua carteira <strong>de</strong> vacinação está em dia<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />

8 – Quantas doses tomou <strong>para</strong> a vacina <strong>de</strong> hepatite B<br />

( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) nenhuma<br />

9 – Tem conhecimento sobre EPI (Equipamento <strong>de</strong> Proteção Individual)<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

10 – Utiliza os equipamentos <strong>de</strong> Proteção Individual em seu local <strong>de</strong> trabalho<br />

( ) Sim ( )Não<br />

11 – Se sim, assinale quais equipamentos abaixo você utiliza em seu local <strong>de</strong> trabalho<br />

( ) Jaleco ( ) Luvas ( ) Óculos ( ) Máscara ( ) Cabine <strong>de</strong> Proteção (capela)<br />

( ) Gorro ( ) PróPrés<br />

12 – On<strong>de</strong> é feito o <strong>de</strong>scarte <strong>de</strong> material perfurocortante<br />

__________________________________________________________________<br />

13 – Qual álcool é utilizado <strong>para</strong> fazer anti-sepsia do ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

( ) Álcool 100% ( ) Álcool 70% ( ) Álcool 95% ( ) Álcool 80%<br />

( ) Álcool 92,8%<br />

14 – Existe protocolo padronizado referente à <strong>de</strong>sinfecção no seu local <strong>de</strong> trabalho<br />

( ) Sim ( ) Não<br />

15 - E protocolo referente a aci<strong>de</strong>ntes, existe no seu local <strong>de</strong> trabalho<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />

16 – Descreva como <strong>de</strong>ve agir se quebrar algum tubo com sangue _____________________________________<br />

________________________________<br />

17 – Em sua opinião qual das doenças abaixo po<strong>de</strong> oferece maior risco<br />

( ) HIV ( ) Hepatite ( ) Sífilis ( ) Rubéola ( ) Sarampo<br />

( ) Caxumba ( ) Chagas<br />

18 – Você utiliza um par <strong>de</strong> luvas <strong>para</strong> cada procedimento<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) Nem Sempre<br />

19 – Conhece todos os riscos ocupacionais que po<strong>de</strong>m ocasionar em seu ambiente <strong>de</strong> trabalho<br />

( ) Sim ( ) Não ( ) Não Sei<br />

20 – Como você classificaria seu risco ocupacional<br />

( ) Muito Alto ( ) Alto ( ) Médio ( ) Baixo ( ) Muito Baixo<br />

124<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Artigo<br />

Análise dos Hemogramas Solicitados por Suspeita <strong>de</strong><br />

Dengue com Sorologias Positivas e Negativas, no Laboratório<br />

Clínico <strong>de</strong> Campinas, Nova Veneza, Sumaré, SP<br />

Gislaine Vieira<br />

Biomédica, Mestranda em Fisiopatologia Médica, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas, UNICAMP<br />

Trabalho realizado no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Análise dos hemogramas solicitados por suspeita <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ngue com sorologias positivas e negativas, no Laboratório<br />

Clínico <strong>de</strong> Campinas, Nova Veneza, Sumaré, SP<br />

Foram coletadas, no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas (Labclin),<br />

localizado em Nova Veneza, Sumaré-SP, 257 sorologias <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue.<br />

Tais coletas - <strong>de</strong> pacientes que apresentavam sintomas clínicos<br />

<strong>para</strong> a doença - foram feitas no período <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> março a 16 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Durante a coleta <strong>de</strong> dados, observamos que das sorologias<br />

negativas 63,3% dos hemogramas apresentavam dois ou mais<br />

índices compatíveis com <strong>de</strong>ngue. Dentre eles, contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />

menor que 100.000mm 3 , leucopenia, linfocitose com ou<br />

sem linfócitos atípicos e hematócrito aumentado em 20% ou mais<br />

em relação ao valor basal. Além disso, observamos que em alguns<br />

hemogramas, ainda que não houvesse plaquetopenia igual ou menor<br />

que 100.000mm 3 , havia uma diminuição na contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />

(menor que 150.000 e maior 100.000mm 3 ).<br />

Dos hemogramas que tiveram sorologias positivas, 47,62% apresentaram<br />

contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior a 150.000mm 3 , <strong>de</strong>stes,<br />

34,7% apresentavam plaquetopenias entre 100.000 e 50.000mm 3 ;<br />

80% leucopenia (leucócitos inferior a 5.000), 71,4% apresentavam<br />

linfocitose e <strong>de</strong>stes linfócitos 86,6% eram atípicos, 58,4% tinham<br />

dosagem <strong>de</strong> hematócritos discretamente elevados.<br />

Dos hemogramas, que tiveram sorologia consi<strong>de</strong>rada negativa<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue, 63,6% apresentavam índices compatíveis com a<br />

<strong>de</strong>ngue (além do sintoma clínico, requisito <strong>para</strong> coleta, e residir em<br />

região <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia <strong>para</strong> a doença). O que nos leva a crer que a<br />

sorologia po<strong>de</strong> ter sido feita fora do período recomendado (5° dia<br />

após a presença dos sintomas) pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo<br />

ser, portanto, resultados falsos-negativos.<br />

Palavras-chave: Hemograma, <strong>de</strong>ngue, sorologia falsanegativa,<br />

plaquetopenia, linfopenia, linfocitose<br />

Analysis of blood tests requested for suspicion of<br />

<strong>de</strong>ngue fever in the Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas,<br />

Nova Veneza, Sumaré, Brazil<br />

Two hundred and fifty-seven Dengue fever tests were evaluated<br />

in the Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas (Labclin), located in Nova<br />

Veneza, Sumaré. These samples, from patients who presented with<br />

clinical symptoms of the disease, were collected in the period from<br />

March 1 st to February 16 th 2007.<br />

During data analysis, it was observed that 63.3% of the negative<br />

results presented two or more in<strong>de</strong>xes compatible with Dengue fever.<br />

These in<strong>de</strong>xes inclu<strong>de</strong>d platelet counts of less than 100,000/mm 3 ,<br />

leukopenia, lymphocytosis with or without atypical lymphocytes and<br />

hematocrit levels 20% higher than the basal level or more. Additionally,<br />

in some blood tests, even when the platelet count was greater<br />

than 100,000/mm 3 , there was a reduced platelet count (between<br />

150,000 and 100,000/mm 3 ).<br />

Of the positive blood tests, 47.62% presented platelet counts less<br />

than 150,000/mm 3 and of these 34.7% presented counts between<br />

100,000 and 150,000/mm 3 ; 80% presented with leukopenia<br />

(leukocyte count less than 5,000/mm 3 ), 71.4% with lymphocytosis<br />

and of these 86.6% were atypical and 58.4% had slightly higher<br />

hematocrit levels.<br />

Of the blood tests that were consi<strong>de</strong>red negative, 63.6% presented<br />

in<strong>de</strong>xes compatible with Dengue fever (the patients also had<br />

clinical symptoms, the reason for testing, and lived in an en<strong>de</strong>mic<br />

region). This leads us to believe that the tests were performed outsi<strong>de</strong><br />

the period (5 th day after the presence of symptoms) recommen<strong>de</strong>d by<br />

the Health Ministry and so may be false-negative results.<br />

Keywords: Blood test, Dengue fever, false-negative serology,<br />

thrombocytopenia, lymphopenia, lymphocytosis<br />

Introdução<br />

A<strong>de</strong>ngue é um dos principais<br />

problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública no<br />

mundo. A Organização Mundial<br />

da Saú<strong>de</strong> (1) estima que entre 50 a<br />

100 milhões <strong>de</strong> pessoas se infectem<br />

anualmente, em mais <strong>de</strong> 100 países,<br />

em todos os continentes, exceto Europa.<br />

Cerca <strong>de</strong> 550 mil doentes necessitam<br />

<strong>de</strong> hospitalização e 20 mil morrem<br />

em conseqüência da <strong>de</strong>ngue (2).<br />

As condições socioambientais <strong>de</strong><br />

nosso país, tais como: estrutura urbana<br />

<strong>de</strong> saneamento, aspectos socioeconômicos<br />

e culturais das comunida<strong>de</strong>s,<br />

são favoráveis à expansão do Ae<strong>de</strong>s<br />

aegypti e possibilitaram a dispersão<br />

do vetor e o avanço da doença (3).<br />

Programas com baixíssima ou mesmo<br />

nenhuma participação da comunida<strong>de</strong>,<br />

224<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


e com pequena utilização do instrumental<br />

epi<strong>de</strong>miológico, mostraram-se<br />

incapazes <strong>de</strong> conter um vetor com<br />

altíssima capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação ao<br />

novo ambiente criado pela urbanização<br />

acelerada e pelos novos hábitos. (2).<br />

Segundo a Secretaria <strong>de</strong> Vigilância<br />

em Saú<strong>de</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong>, no<br />

período <strong>de</strong> janeiro a julho <strong>de</strong> 2007,<br />

houve 438.949 casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue clássica,<br />

926 casos <strong>de</strong> febre hemorrágica<br />

da <strong>de</strong>ngue e a ocorrência <strong>de</strong> 98 óbitos<br />

no país (1).<br />

A região Su<strong>de</strong>ste concentrou 33%<br />

dos casos <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue (146.352), sendo<br />

que houve maior transmissão nos municípios<br />

<strong>de</strong> médio porte, com população<br />

acima <strong>de</strong> 100 mil habitantes, a exemplo<br />

dos registros nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Serra/<br />

ES, Teófilo Otoni/MG, Niterói/RJ, São<br />

José do Rio Preto/SP, Campinas/SP,<br />

Sumaré/SP e Ribeirão Preto/SP (1).<br />

O <strong>de</strong>ngue é uma doença infecciosa<br />

aguda causada por um arbovírus, do<br />

gênero Flavivírus (sorotipos: 1, 2, 3<br />

e 4) (Sucem). Po<strong>de</strong> apresentar <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

uma forma assintomática até o quadro<br />

clínico conhecido como Dengue Hemorrágico<br />

(Dengue Hemorragic Fever<br />

ou DHF) e/ou Síndrome <strong>de</strong> Choque da<br />

Dengue (Dengue Shock Syndrome ou<br />

DSS). DHF/DSS se caracterizam por<br />

hemorragias, plaquetopenia *100000/<br />

mm 3 , <strong>de</strong>ficiências na coagulação, vasculopatia<br />

e coagulação intravascular<br />

disseminada; po<strong>de</strong> haver um aumento<br />

da permeabilida<strong>de</strong> vascular resultando<br />

em <strong>de</strong>rrames cavitários e elevação do<br />

hematócrito (*20% valores basais) e/<br />

ou choque hipovolêmico (4).<br />

É transmitida principalmente pelo<br />

mosquito Ae<strong>de</strong>s aegypti infectado, mas<br />

também, pelo Ae<strong>de</strong>s albopictus (1,2).<br />

As epi<strong>de</strong>mias geralmente ocorrem<br />

no verão, durante ou imediatamente<br />

após períodos chuvosos. A <strong>de</strong>ngue<br />

está se expandindo rapidamente e<br />

a gran<strong>de</strong> preocupação é que nos<br />

próximos anos a transmissão aumente<br />

por todas as áreas tropicais<br />

do mundo se medidas eficientes não<br />

forem tomadas <strong>para</strong> a contenção das<br />

epi<strong>de</strong>mias (1).<br />

Objetivo<br />

O objetivo do presente trabalho foi<br />

correlacionar dados <strong>de</strong> hemogramas,<br />

(plaquetas, leucócitos, hematócrito e linfócitos)<br />

solicitados por suspeita <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue<br />

com resultados <strong>de</strong> sorologia positivas,<br />

cujas amostras foram coletadas e processadas<br />

no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas<br />

e no Laboratório <strong>de</strong> apoio Rhesus.<br />

Materiais e Métodos<br />

Realizou-se uma análise retrospectiva<br />

dos dados <strong>de</strong> hemogramas<br />

coletados por suspeita <strong>de</strong> <strong>de</strong>ngue e<br />

resultados das respectivas sorologias.<br />

Os hemogramas foram realizados<br />

neste serviço, Laboratório Clínico <strong>de</strong><br />

Campinas (Labclin), no aparelho Coulter<br />

e corados pelo método <strong>de</strong> Leishman. As<br />

sorologias foram realizadas no serviço <strong>de</strong><br />

apoio: Rhesus Medicina Laboratorial.<br />

Os dados analisados estão arquivados<br />

no Laboratório Clínico <strong>de</strong> Campinas,<br />

Nova Veneza, Sumaré.<br />

Resultados e<br />

Discussão<br />

Foram coletadas, no Laboratório<br />

Clínico <strong>de</strong> Campinas (Labclin), localizado<br />

em Nova Veneza, Sumaré-SP, 257<br />

sorologias <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue. Tais coletas<br />

- <strong>de</strong> pacientes que apresentavam sintomas<br />

clínicos <strong>para</strong> a doença - foram<br />

feitas no período <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> março a 16<br />

<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007.<br />

Das 257 amostras analisadas foram<br />

excluídas as sorologias que não tinham<br />

resultado <strong>para</strong> hemograma, já que o<br />

intuito do presente trabalho era correlacionar<br />

sorologias <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue com<br />

dados do hemograma. É importante<br />

salientar que os resultados analisados<br />

estão arquivados no Labclin.<br />

Das sorologias realizadas, 115 foram<br />

positivas <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue, ou seja, 44,7%<br />

(Gráfico 1). Todos os casos tiveram<br />

evolução benigna. Ainda que o Labclin<br />

tenha atendido pacientes com quadro<br />

clínico compatível com o da <strong>de</strong>ngue e<br />

estes pacientes fossem oriundos <strong>de</strong> uma<br />

região epidêmica <strong>para</strong> esta enfermida<strong>de</strong>,<br />

55,3% das amostras analisadas apresentaram<br />

resultado negativo.<br />

Destas sorologias negativas, 63,6%<br />

dos hemogramas foram compatíveis<br />

com <strong>de</strong>ngue (Gráfico 2). A coleta <strong>de</strong><br />

amostra <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong>ve ser feita no<br />

quinto dia a partir da presença dos<br />

sintomas; caso a coleta seja realizada<br />

fora do período i<strong>de</strong>al po<strong>de</strong> ocorrer uma<br />

sorologia falso-negativa, on<strong>de</strong> o paciente<br />

apesar <strong>de</strong> apresentar sintomas<br />

clínicos e hemograma característico <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ngue a sorologia é negativa (1).<br />

Durante a coleta <strong>de</strong> dados, observamos<br />

que das sorologias negativas,<br />

63,3% dos hemogramas apresentavam<br />

dois ou mais índices compatíveis com<br />

<strong>de</strong>ngue. Dentre eles, contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />

menor que 100.000mm 3 , leucopenia,<br />

linfocitose com ou sem linfócitos<br />

atípicos e hematócrito aumentado em<br />

20% ou mais em relação ao valor basal.<br />

Além disso, observamos que em alguns<br />

hemogramas, ainda que não houvesse<br />

plaquetopenia igual ou menor que<br />

100.000mm 3 , havia uma diminuição<br />

na contagem <strong>de</strong> plaquetas (menor que<br />

150.000 e maior 100.000mm 3 ).<br />

Dos hemogramas, cujas sorologias<br />

foram negativas, 13% apresentavam<br />

contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior<br />

a 150.000mm 3 e 6,15% menor que<br />

100.000 mm 3 ; 66,4% do total <strong>de</strong>stes<br />

hemogramas apresentavam diminuição<br />

na contagem total <strong>de</strong> leucócitos. Dos que<br />

apresentavam contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />

menor que 150.000mm 3 , 15,6% eram<br />

leucopênicos e dos que tinham a contagem<br />

inferior a 100.00 mm 3 , 5,38%<br />

apresentaram leucopenia (Gráfico 3).<br />

Dentre os indivíduos com sorologia<br />

negativa, 38,46 % apresentaram<br />

linfócitos atípicos. Dentre estes: 64%<br />

apresentam raros linfócitos atípicos;<br />

20% apresentam até 10% <strong>de</strong> linfócitos<br />

atípicos em relação ao total <strong>de</strong> linfócitos;<br />

16% apresentaram entre 10 e 15% <strong>de</strong><br />

linfócitos atípicos em relação ao total <strong>de</strong><br />

linfócitos (Gráfico 4).<br />

Destas amostras que apresentaram<br />

226<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


1<br />

2<br />

Gráfico 1<br />

Sorologia Positiva<br />

Sorologia Negativa<br />

Gráfico 2. Hemogramas que tiveram sorologia negativa <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue (63,3<br />

% dos hemogramas apresentavam dados compatíveis com <strong>de</strong>ngue)<br />

16,00%<br />

14,00%<br />

12,00%<br />

10,00%<br />

8,00%<br />

6,00%<br />

4,00%<br />

2,00%<br />

0,00%<br />

Gráfico 3<br />

1<br />

1. Leucopenia e<br />

2<br />

2. Leucopenia e<br />

Plaquetopenia <<br />

100.000 mm 3<br />

S1<br />

70%<br />

60%<br />

50%<br />

40%<br />

30%<br />

20%<br />

10%<br />

0%<br />

Raros<br />

linfócitos<br />

atipícos<br />

Até 10%<br />

<strong>de</strong> linfócitos<br />

atipícos<br />

Entre 10 e 15%<br />

<strong>de</strong> linfócitos<br />

atípicos<br />

Plaquetopenia < 150.000 mm 3 <strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

Gráfico 4. Sorologias Negativas, cujos hemogramas apresentaram<br />

linfócitos atipícos<br />

linfócitos atípicos, 12,3% apresentavam<br />

contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior<br />

a 150.000mm 3 e leucopenia; 1,54%<br />

apresentavam plaquetopenia menor<br />

que 100.000mm 3 e leucopenia;<br />

19,24% somente leucopenia e 12,3%<br />

não apresentavam diminuição na<br />

contagem <strong>de</strong> plaquetas, leucócitos e<br />

aumento na dosagem <strong>de</strong> hematócrito<br />

(Tabela 1).<br />

Dos hemogramas que tiveram<br />

sorologias positivas, 47,62% apresentaram<br />

contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior<br />

a 150.000mm 3 , 80% leucopenia<br />

(leucócitos inferior a 5.000), 71,4%<br />

apresentavam linfocitose e, <strong>de</strong>stes<br />

linfócitos, 86,6% eram atípicos, 58,4%<br />

tinham dosagem <strong>de</strong> hematócritos discretamente<br />

elevados (Gráfico 5). No<br />

<strong>de</strong>ngue os valores <strong>para</strong> hematócritos<br />

são: 20% maior que o valor basal ou:<br />

crianças: Ht > 38%; mulheres: Ht ><br />

40% e homens: Ht > 45%.<br />

Dentre os indivíduos com sorologia<br />

positiva, 73,45% apresentavam hemograma<br />

com leucopenia (contagem<br />

<strong>de</strong> leucócitos inferior a 5.000mm 3 ),<br />

sendo que 2,6% tinham valor menor<br />

que 2.000mm 3 ; 43,4% apresentavam<br />

contagem <strong>de</strong> plaquetas inferior a<br />

150.000 mm 3 , <strong>de</strong>stes, 34,7% apresentavam<br />

valores entre 100.000 e<br />

150.000.000mm 3 e 65,3% valores<br />

entre 100.000 e 50.000mm 3 (Gráfico<br />

6). Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />

(1, 2) plaquetopenia entre 100.000 e<br />

50.000mm 3 é classificado como <strong>de</strong>ngue<br />

mo<strong>de</strong>rada e o paciente <strong>de</strong>ve ter<br />

acompanhamento ambulatorial.<br />

Para estes pacientes com <strong>de</strong>ngue<br />

confirmada, 39,82% tinham contagem<br />

<strong>de</strong> plaquetas inferior a 150.000 mm 3<br />

acompanhado <strong>de</strong> leucopenia; 50,4%<br />

apresentavam linfocitose; <strong>de</strong>stes linfócitos,<br />

66,6% eram atípicos. Dos hemogramas<br />

que não apresentavam linfocitose,<br />

7,9 % tinham linfócitos atípicos, exceto<br />

um caso on<strong>de</strong> 10% do total <strong>de</strong> linfócitos<br />

eram atípicos. Em estudo realizado<br />

por Jampangern et al (5) observou-se<br />

um aumento significante na contagem<br />

absoluta <strong>de</strong> linfócitos atípicos no dia da<br />

febre e um dia após a febre durante a<br />

infecção viral aguda, especialmente em<br />

pacientes que evoluíram <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue<br />

hemorrágica. Estes pesquisadores tam-<br />

Tabela 1. Hemogramas cujas sorologias foram negativas <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue.<br />

Nº <strong>de</strong> plaquetas Leucopenia Linfócitos Atipícos<br />

< que 150.000 mm 3 Sim 12,3%<br />

< que 100.000 mm 3 Sim 1,54%<br />

Normal Sim 19,24%<br />

Sem alteração no hemograma Não 6,92%<br />

228


Dengue.<br />

80,00%<br />

70,00%<br />

60,00%<br />

50,00%<br />

40,00%<br />

30,00%<br />

20,00%<br />

10,00%<br />

0,00%<br />

Contagem<br />

<strong>de</strong> plaquetas<br />

inferior a<br />

150.000mm 3<br />

Leucopenia<br />

Linfocitose<br />

Hematócrito<br />

20% maior que<br />

o valor basal<br />

Gráfico 5. Hemogramas cuja sorologia foi positiva <strong>para</strong><br />

<strong>de</strong>ngue<br />

80,0%<br />

60,0%<br />

40,0%<br />

20,0%<br />

0,0%<br />

S1<br />

Contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />

entre 50.000 e Contagem <strong>de</strong> plaquetas<br />

100.000mm 3<br />

entre 100.000 e<br />

150.000mm 3<br />

Gráfico 6. Hemograma com plaquetopenia (sorologia <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue positiva)<br />

bém concluíram que linfócitos atípicos<br />

po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> contagem<br />

<strong>de</strong> plaquetas e leucócitos, como<br />

uma boa ferramenta no diagnóstico <strong>para</strong><br />

infecção por <strong>de</strong>ngue.<br />

Para a dosagem <strong>de</strong> hematócrito,<br />

58,4% apresentaram um leve aumento<br />

em relação ao valor basal (obe<strong>de</strong>cendo<br />

ao critério <strong>de</strong>terminado pelo Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>: crianças: Ht > 38%;<br />

mulheres: Ht > 40% e homens: Ht ><br />

45%.). Destes pacientes não houve<br />

nenhum caso <strong>de</strong> evolução <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue<br />

hemorrágica e todos os casos tiveram<br />

evolução benigna.<br />

A média <strong>de</strong> dosagem <strong>de</strong> hematócrito<br />

<strong>de</strong> pacientes com sorologia positiva<br />

foi <strong>de</strong>: 42,54%, enquanto que a média<br />

<strong>para</strong> pacientes com sorologia negativa<br />

foi <strong>de</strong> 43,5%, não havendo em média<br />

diferença significativa na dosagem <strong>de</strong><br />

hematócrito.<br />

Conclusão<br />

A análise <strong>de</strong> dados, referente aos<br />

resultados dos hemogramas e suas<br />

respectivas sorologias, mostrounos<br />

que 55,3% são negativos <strong>para</strong><br />

<strong>de</strong>ngue. Dentre estes hemogramas,<br />

que tiveram sorologia consi<strong>de</strong>rada<br />

negativa, 63,6% apresentavam<br />

índices compatíveis com a <strong>de</strong>ngue<br />

(sintoma clínico, requisito <strong>para</strong> coleta,<br />

residir em região <strong>de</strong> epi<strong>de</strong>mia<br />

<strong>para</strong> a doença).<br />

O que nos leva a crer que a sorolo-<br />

1. Dosagem <strong>de</strong> hematócrito <strong>de</strong> paciente com<br />

sorologia <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue positiva<br />

2. Dosagem <strong>de</strong> hematócrito <strong>de</strong> paciente com<br />

sorologia <strong>para</strong> <strong>de</strong>ngue negativa<br />

Gráfico 7<br />

gia po<strong>de</strong> ter sido feita fora do período<br />

recomendado (5° dia após a presença<br />

dos sintomas) pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser, portanto, resultados<br />

falsos-negativos.<br />

Agra<strong>de</strong>cimentos:<br />

Ao Dr. Rui Macedo, Dra Denise Chenubill,<br />

Rosiney, Carla, Lara, Dra. Cristina<br />

Rosa, Jenifer, Sueli (funcionários do<br />

Labclim) e Erika Anne (Unicamp) por<br />

terem tornado possível a realização<br />

<strong>de</strong>ste trabalho.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

Gislaine Vieira<br />

gvieira@fcm.unicamp.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

Referências Bibliográficas<br />

1. http://www.cetesb.sp.gov.br/Institucional/<strong>de</strong>ngue.asp<br />

2. www.sau<strong>de</strong>.gov.br<br />

3. Donalisio MR, Glasser CM. Vigilância<br />

entomológica e controle <strong>de</strong> vetores do<br />

<strong>de</strong>ngue. Rev. Epi<strong>de</strong>miol. Vol. 5 n: 3 São<br />

Paulo Dec. 2002<br />

4. Kubelka C. Febre do Dengue e Dengue<br />

Hemorrágico. Depto <strong>de</strong> Virologia, IOC,<br />

Fiocruz, RJ.<br />

5. Jampangern W, Vongthoung K, et al<br />

.Characterization of Atypical Lymphocytes<br />

and Immunophenotypes of<br />

Lymphocytes in Patients with Dengue<br />

Virus Infection. Asian Pacific Journal<br />

Of Allergy and Immunology (2007)<br />

25: 27-36<br />

6. Serufo JC, Nobre V, Rayes A, Marcial<br />

TM, Lambertucci JR. Dengue: uma<br />

nova abordagem. Rev. Soc. Bras. Méd.<br />

Trop. Vol. 33 n.5, 2000.<br />

7. Saú<strong>de</strong> Fund Nac. Dengue: Diagnótico<br />

e Manejo Clínico. Man. Vol II, Min. da<br />

Saú<strong>de</strong> 2002.<br />

8. Saú<strong>de</strong> Fund Nac. Programa nacional<br />

<strong>de</strong> controle da Dengue: amparo legal<br />

à execução das ações <strong>de</strong> campo: imóveis<br />

fechados, abandonados ou com<br />

acesso não permitido pelo morador.<br />

Funasa 2002.<br />

9. Teixeira, MLGC. Dengue e espaços<br />

intra-urbanos: dinâmica <strong>de</strong> transmissão<br />

viral e efetivida<strong>de</strong> das ações <strong>de</strong><br />

combate vetorial. Tese dout. UFBA,<br />

2000.<br />

10. Espinosa NJ, Dantes HG, Quintal JCQ,<br />

Martinez JLV. Clinical profile of <strong>de</strong>ngue<br />

hemorrhagic fever case in México.<br />

Salud pública Méx: 47(3): 193-200,<br />

maio-jun.2005.<br />

230<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Artigo<br />

Exame Citopatológico e Inspeção Visual com<br />

Ácido Acético e Lugol no Rastreamento <strong>de</strong> Lesões Cervicais<br />

Genara dos Santos 1 , Fabiane Andra<strong>de</strong> Vargas 2 e Vera Regina Andra<strong>de</strong> Vargas 3<br />

1 - Aluna do Curso <strong>de</strong> Farmácia Bioquímica Clínica<br />

2 - Médica, especialista em Ginecologia e Obstetrícia<br />

3 - Mestre em Gerontologia Biomédica; Pós-Graduada em Citologia Clínica, Professora <strong>de</strong> Citologia Clínica <strong>de</strong> Curso <strong>de</strong> Farmácia<br />

Universida<strong>de</strong> Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus <strong>de</strong> Santo Ângelo,<br />

Departamento <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>, Curso <strong>de</strong> Farmácia Bioquímica Clínica<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Exame Citopatológico e Inspeção Visual com Ácido<br />

Acético e Lugol no Rastreamento <strong>de</strong> Lesões Cervicais<br />

O câncer do colo uterino é o segundo câncer mais comum na<br />

população feminina mundial. O programa <strong>de</strong> rastreamento <strong>de</strong> lesões<br />

cervicais e <strong>de</strong> câncer é realizado pela citologia, colposcopia e histopatologia.<br />

No entanto, existem outros métodos alternativos, como: inspeção<br />

visual com ácido acético e teste <strong>de</strong> lugol. Os objetivos <strong>de</strong>ste estudo foram<br />

correlacionar os resultados dos exames citopatológicos com a inspeção<br />

visual com ácido acético (IVA) e lugol (IVL) em <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong><br />

mulheres do Município <strong>de</strong> Santo Ângelo/RS, com os resultados dos exames<br />

<strong>de</strong> Papanicolaou, além <strong>de</strong> caracterizar as mulheres participantes do<br />

estudo. A amostra foi constituída por mulheres que fizeram os exames<br />

na Liga Feminina <strong>de</strong> Combate ao Câncer, no período <strong>de</strong> abril a junho<br />

<strong>de</strong> 2006. Das 41 mulheres estudadas, a ida<strong>de</strong> média foi <strong>de</strong> 38,36<br />

anos; a maioria era casada (63,41%); gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las tinha <strong>de</strong> dois<br />

a quatro filhos (41,46%); o início da ativida<strong>de</strong> sexual <strong>para</strong> a maioria<br />

foi acima dos 18 anos (53,65%) e os exames <strong>de</strong> Papanicolaou, IVA<br />

e IVL foram negativos <strong>para</strong> a maioria das participantes <strong>de</strong>sse estudo.<br />

Na associação dos resultados dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou com IVA<br />

e IVL foi observada uma pobre concordância.<br />

Palavras-chave: Citopatologia, inspeção visual com ácido<br />

acético, inspeção visual com lugol, câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero<br />

PAP Smear and Visual Inspection with Acetic Acid<br />

and Lugol in Screening of Cervical Cancer<br />

The cervical cancer is the second more frequent malignant diseases<br />

world-wi<strong>de</strong> among the female population. The screening programs<br />

of cervical lesion and cancer was based on the use of the cytological<br />

(Pap) smear, colposcopy and histopathology. However, there are other<br />

methods, so as the visual inspection with acetic acid and lugol. The<br />

aim of this study was to correlate the results of the cytological smear<br />

with the visual inspection with acetic acid and lugol in <strong>de</strong>termined<br />

group of women on Santo Ângelo/RS city, and to characterize the<br />

women. The sample was constituted by women that submitted on<br />

the Liga Feminina <strong>de</strong> Combate ao Câncer, between April and June<br />

2006. From 41 women studied, the mean was of 38,36 years old;<br />

most of them were married (63,41%); the most part had 2-4 children<br />

(41,46%); the precocity age of sexual for the major was 18 years<br />

old (53,65%), cytological smear and the visual inspection with acetic<br />

acid and lugol were negative for the major participants of this study.<br />

In the association of the results Pap smear with visual inspection with<br />

acetic acid and lugol was observed one poor agreement.<br />

Keywords: Pap smear, colposcopy, histopathology, visual inspection<br />

with acetic acid, visual inspection with lugol, cervical cancer<br />

Introdução<br />

O<br />

câncer <strong>de</strong> colo do útero é o<br />

segundo mais comum entre<br />

mulheres no mundo, sendo<br />

responsável por cerca <strong>de</strong> 470 mil<br />

casos novos e pelo óbito <strong>de</strong> 230 mil<br />

mulheres por ano. Quase 80% dos<br />

casos novos ocorrem em países em<br />

<strong>de</strong>senvolvimento on<strong>de</strong>, em algumas<br />

regiões, é o câncer mais comum entre<br />

as mulheres. A incidência por este<br />

tipo <strong>de</strong> câncer torna-se evi<strong>de</strong>nte na<br />

faixa etária <strong>de</strong> 20 a 29 anos e o risco<br />

aumenta até atingir seu pico na faixa<br />

etária <strong>de</strong> 45 a 49 anos (Flores et. al,<br />

2002; Gomes et al., 2002; Pinho &<br />

Mattos, 2002; Duarte & Soares, 2003;<br />

Santos et al., 2003; Varela & Rojas,<br />

2003; Men<strong>de</strong>s et al., 2004; Brasil,<br />

2006a).<br />

128<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


No Brasil, o número <strong>de</strong> casos novos<br />

<strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> colo do útero esperados<br />

<strong>para</strong> o ano <strong>de</strong> 2006 foi <strong>de</strong> 19.260, com<br />

um risco estimado <strong>de</strong> 20 casos a cada<br />

100 mil mulheres. O Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

tem uma taxa estimada <strong>de</strong> 30,9 casos<br />

<strong>para</strong> cada 100.000 mulheres. Esses<br />

casos são encontrados em estágios<br />

relativamente avançados em mais <strong>de</strong><br />

80%. Em muitos países <strong>de</strong>senvolvidos,<br />

o <strong>de</strong>clínio na incidência da mortalida<strong>de</strong><br />

causada por este tipo <strong>de</strong> câncer tem sido<br />

observado, nas últimas três décadas, <strong>de</strong>vido<br />

a programas <strong>de</strong> rastreamento populacional.<br />

No entanto, estes programas,<br />

em muitos países em <strong>de</strong>senvolvimento,<br />

não existem ou não são tão efetivos em<br />

reduzir a incidência <strong>de</strong>sta doença (Febrasgo,<br />

1997; Hass et. al, 2003; Varela<br />

& Rojas, 2003; Brasil, 2006b).<br />

O principal fator <strong>de</strong> risco <strong>para</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong><br />

útero é a infecção pelo Papilomavírus<br />

Humano (HPV). Outros fatores importantes<br />

associados a esta neoplasia estão<br />

relacionados com o início precoce da<br />

ativida<strong>de</strong> sexual, com múltiplos parceiros<br />

e com a promiscuida<strong>de</strong> do parceiro<br />

sexual. Além <strong>de</strong>stes, outros fatores, tais<br />

como: hábitos <strong>de</strong> vida, fatores sociais e<br />

ambientais, também contribuem <strong>para</strong> o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> câncer<br />

(Febrasgo, 1997; Halbe, 1998; Carrillo<br />

et al, 2004; Brasil, 2006c).<br />

O HPV po<strong>de</strong> infectar diferentes partes<br />

do organismo, tais como: as mãos<br />

e os pés, pelo aparecimento <strong>de</strong> verrugas<br />

plantares; a face com papilomas<br />

orais e laríngeos e o trato anogenital<br />

com condilomas acuminados planos<br />

e invertidos. As alterações <strong>de</strong> maior<br />

freqüência causadas pelo HPV na<br />

região anogenital são os condilomas<br />

acuminados. As lesões planas e invertidas<br />

po<strong>de</strong>m passar <strong>de</strong>spercebidas ao<br />

exame clínico, sendo que, nestes casos,<br />

outros exames contribuem <strong>para</strong> o<br />

diagnóstico <strong>de</strong>ssa infecção. A progressão<br />

lenta da lesão pré-neoplásica até<br />

o estágio <strong>de</strong> câncer cervical permite<br />

uma janela <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos ou mais <strong>para</strong><br />

a <strong>de</strong>tecção e tratamento das mesmas<br />

(Chuichetta et al., 2001; Serman,<br />

2002; Carrillo et al., 2004; Silva et al.,<br />

2004; Hyppolito et al. 2005).<br />

O rastreamento e o diagnóstico<br />

<strong>de</strong> lesões pré-cancerosas e <strong>de</strong> câncer<br />

<strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero são realizados pela<br />

citologia, colposcopia e histopatologia.<br />

No entanto, existem outros métodos<br />

alternativos que possuem gran<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>,<br />

que po<strong>de</strong>m ser utilizados em<br />

populações on<strong>de</strong> a prevalência <strong>de</strong>ssas<br />

lesões é elevada, <strong>para</strong> suprirem falhas<br />

e obstáculos inerentes a estes programas.<br />

A inspeção visual do colo uterino,<br />

após aplicação <strong>de</strong> ácido acético (IVA)<br />

e <strong>de</strong> lugol (IVL), parecem ser métodos<br />

promissores, pois po<strong>de</strong>m reduzir custos<br />

e ampliar a cobertura da população<br />

nos programas <strong>de</strong> rastreamento.<br />

Esses métodos são simples, requerem<br />

mínima infra-estrutura e poucos equipamentos,<br />

po<strong>de</strong>ndo ser realizados por<br />

profissionais não-médicos da equipe <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> em unida<strong>de</strong>s básicas (Cor<strong>de</strong>iro<br />

et. al., 2005; Gontijo et. al, 2005).<br />

A citologia cérvico-vaginal foi introduzida,<br />

na década <strong>de</strong> 1940, por<br />

Papanicolaou e Traut, e representa<br />

um gran<strong>de</strong> avanço no controle do<br />

carcinoma cervical e na redução da<br />

incidência e da mortalida<strong>de</strong> por este<br />

tipo <strong>de</strong> câncer. No Brasil, este exame<br />

vem sendo utilizado como o principal<br />

teste <strong>de</strong> rastreamento <strong>para</strong> a sua <strong>de</strong>tecção.<br />

A alta especificida<strong>de</strong> do teste<br />

permite a inclusão entre os casos<br />

suspeitos, <strong>de</strong> um baixo número <strong>de</strong><br />

mulheres sem a doença, evitando a<br />

sobrecarga <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda no sistema<br />

<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública (Chiuchetta et al.,<br />

2002; Pinho & Matos, 2002; Silva et<br />

al., 2002; Duarte & Soares, 2003;<br />

Men<strong>de</strong>s et al., 2004; Gontijo, et al.,<br />

2005; Hyppolito et al., 2005).<br />

A colposcopia é um método rápido,<br />

realizado com um aparelho conhecido<br />

como colposcópio, que permite visualizar<br />

o colo uterino com um aumento<br />

<strong>de</strong> 10 a 40 vezes, ampliando assim<br />

uma pequena lesão não visualizada<br />

pela inspeção visual (Febrasgo, 1997;<br />

Gontijo et. al., 2004).<br />

O diagnóstico histopatológico é realizado<br />

com amostras retiradas da lesão e<br />

está baseado em critérios morfológicos<br />

da arquitetura celular, sendo consi<strong>de</strong>rado<br />

uma técnica padrão ouro do diagnóstico<br />

morfológico (Febrasgo, 1997).<br />

A inspeção visual com ácido acético<br />

(IVA) e com lugol (IVL) é uma<br />

técnica utilizada <strong>para</strong> reduzir as taxas<br />

<strong>de</strong> carcinomas cervicais nos lugares<br />

on<strong>de</strong> os programas <strong>de</strong> rastreamento,<br />

baseados em citologia, não são<br />

a<strong>de</strong>quados, <strong>de</strong>vendo ser usada como<br />

método associado à citologia. No método<br />

<strong>de</strong> IVA é aplicada uma solução<br />

<strong>de</strong> ácido acético a 5% no colo e a<br />

cérvice é observada a olho nu. Para<br />

o teste IVL, é aplicada solução <strong>de</strong><br />

iodo, sendo o colo do útero observado<br />

novamente. Estes métodos são simples,<br />

possuem resultados imediatos<br />

e po<strong>de</strong>m ser utilizados em unida<strong>de</strong>s<br />

básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (Gontijo et. al,<br />

2004; Hyppolito et al. 2005).<br />

Os objetivos <strong>de</strong>ste estudo foram<br />

correlacionar os resultados dos exames<br />

citopatológicos com a inspeção<br />

visual com ácido acético (IVA) e lugol<br />

(IVL) em <strong>de</strong>terminado grupo <strong>de</strong> mulheres<br />

do Município <strong>de</strong> Santo Ângelo/<br />

RS, com os resultados dos exames <strong>de</strong><br />

Papanicolaou, além <strong>de</strong> caracterizar as<br />

mulheres participantes do estudo.<br />

Metodologia<br />

Foi realizado um estudo observacional,<br />

transversal e prospectivo. A<br />

amostra foi constituída pelas mulheres<br />

130<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


que fizeram coleta <strong>de</strong> exame citopatológico<br />

<strong>de</strong> rotina no serviço da Liga<br />

Feminina <strong>de</strong> Combate ao Câncer, do<br />

Município <strong>de</strong> Santo Ângelo, no período<br />

<strong>de</strong> abril a junho <strong>de</strong> 2006. Foram incluídas<br />

no estudo as mulheres maiores<br />

<strong>de</strong> 18 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, assintomáticas,<br />

com útero íntegro e sem diagnóstico<br />

anterior <strong>de</strong> lesões pré-cancerosas ou<br />

câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero. As mulheres<br />

foram informadas sobre os <strong>de</strong>talhes<br />

e propósitos do estudo e as que concordaram<br />

em participar assinaram o<br />

termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido<br />

e respon<strong>de</strong>ram a um questionário<br />

com alguns dados clínicos.<br />

As participantes do estudo foram<br />

submetidas ao exame, com a utilização<br />

<strong>de</strong> espéculo <strong>de</strong> Collins, <strong>para</strong><br />

avaliação do canal vaginal e da cérvice<br />

uterina. Foram coletadas duas<br />

amostras, <strong>para</strong> o esfregaço citológico,<br />

representativo da endocérvice com a<br />

escova endocervical e da ectocérvice<br />

com a espátula <strong>de</strong> Ayre.<br />

Os esfregaços do exame citopatológico<br />

foram pre<strong>para</strong>dos na forma<br />

convencional e os laudos foram expressos<br />

utilizando a nomenclatura <strong>de</strong><br />

Bethesda <strong>de</strong> 2001. Após a coleta da<br />

citologia, foi realizada a inspeção com<br />

ácido acético (IVA). Para a realização<br />

da IVA, foi aplicada uma solução <strong>de</strong><br />

ácido acético a 5% no colo do útero e,<br />

após um minuto, o colo foi iluminado<br />

com lâmpada elétrica <strong>de</strong> 100 wats e<br />

examinado a olho nu. Para o teste com<br />

lugol (IVL), foi aplicada uma solução<br />

<strong>de</strong> iodo e, novamente, o colo do útero<br />

foi observado.<br />

Definição dos resultados<br />

A citologia foi consi<strong>de</strong>rada positiva<br />

quando a amostra apresentava<br />

resultados <strong>de</strong> células escamosas<br />

atípicas <strong>de</strong> significado in<strong>de</strong>terminado<br />

(atypical squamous cells of un<strong>de</strong>termined<br />

significance, ASC-US); células<br />

escamosas atípicas, não excluem lesão<br />

<strong>de</strong> alto grau (atypical squamous<br />

cells, don’t exclu<strong>de</strong> high-gra<strong>de</strong> lesion,<br />

ASC-H); lesão intra-epitelial escamosa<br />

<strong>de</strong> baixo grau (low-gra<strong>de</strong> squamous<br />

intraepithelial lesion, LSIL); lesão<br />

intra-epitelial escamosa <strong>de</strong> alto grau<br />

(high-gra<strong>de</strong> squamous intraepithelial<br />

lesion, HSIL); carcinoma <strong>de</strong> células<br />

escamosas; células glandulares atípicas<br />

(atypical glandular cells, AG) e<br />

a<strong>de</strong>nocarcinoma in situ. Foi consi<strong>de</strong>rada<br />

negativa quando o resultado era<br />

negativo <strong>para</strong> lesões intra-epiteliais<br />

ou malignida<strong>de</strong> (NM), ou seja, na presença<br />

<strong>de</strong> achados normais, alterações<br />

reativas, inflamatórias e re<strong>para</strong>tivas.<br />

A inspeção visual com ácido acético<br />

a 5% foi consi<strong>de</strong>rada positiva<br />

quando foi observada a presença <strong>de</strong><br />

qualquer lesão aceto-branca, opaca<br />

ou brilhante, plana ou sobrelevada, <strong>de</strong><br />

aspecto verrucoso ou não, no colo do<br />

útero. Foi consi<strong>de</strong>rada negativa se o<br />

colo permanecesse com sua coloração<br />

normal (rósea, lisa e uniforme), após<br />

a aplicação da solução.<br />

O teste <strong>de</strong> inspeção visual com lugol<br />

(IVL) foi consi<strong>de</strong>rado positivo com<br />

áreas iodo-negativo (não coradas pela<br />

solução), ou se ficasse amarelo. Foi<br />

consi<strong>de</strong>rado negativo se o colo inteiro<br />

se corasse <strong>de</strong> marrom.<br />

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê<br />

<strong>de</strong> Ética em Pesquisa da URI (COBE),<br />

cadastro número 117-4/TCH/05 e<br />

CAAE número 0238.0.232.000-05.<br />

Foi realizada uma análise <strong>de</strong>scritiva<br />

dos dados e análise estatística com<br />

teste <strong>de</strong> Kappa, intervalo <strong>de</strong> confiança<br />

<strong>de</strong> 95%. Esse teste está disponível<br />

no site www.lee.dante.br/pesquisa/<br />

kappa. O Kappa é uma medida que<br />

me<strong>de</strong> o grau <strong>de</strong> concordância além do<br />

que seria esperado tão somente pelo<br />

acaso. Esta medida tem como valor<br />

máximo o 1, on<strong>de</strong> esse representa total<br />

concordância e os valores próximos<br />

e até abaixo <strong>de</strong> 0 indicam nenhuma<br />

concordância. Os valores entre 0 e<br />

0,39 sugerem uma fraca concordância,<br />

entre 0,40 e 0,59 sugerem uma<br />

mo<strong>de</strong>rada concordância, entre 0,60 e<br />

0,79 sugerem uma substancial concordância<br />

e entre 0,80 e 1 sugerem<br />

uma concordância quase perfeita.<br />

Resultados<br />

Antes <strong>de</strong> serem excluídas as participantes<br />

que apresentaram dados<br />

incompletos ou resultados anteriores<br />

<strong>de</strong> lesões, a amostra era constituída<br />

<strong>de</strong> 41 mulheres com ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong><br />

38,36 anos, variando <strong>de</strong> 21 anos a<br />

65 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Destas, 36,58%<br />

(15/41) mulheres estavam na faixa<br />

etária <strong>de</strong> 21-30 anos. A maioria das<br />

mulheres (63,41%, 26/41) era casada<br />

ou unida, 41,46% (17/41) tinham <strong>de</strong><br />

dois a quatro filhos. Das mulheres<br />

que partici<strong>para</strong>m do estudo, o início<br />

da ativida<strong>de</strong> sexual variou dos 13<br />

aos 30 anos, sendo que <strong>para</strong> 4,87%<br />

(2/41) foi com ida<strong>de</strong> menor que 14<br />

anos (Tabela 1).<br />

Durante o período do estudo, foram<br />

realizados os exames <strong>de</strong> inspeção visual<br />

com ácido acético a 5% e com solução<br />

<strong>de</strong> lugol (teste <strong>de</strong> Schiller) e foram<br />

coletadas as amostras <strong>para</strong> o exame<br />

citológico. Das 41 mulheres que aceitaram<br />

participar do estudo, seis foram<br />

excluídas. Destas, quatro mulheres<br />

foram excluídas por não ter resultado<br />

<strong>de</strong> IVA e IVL e duas por ter diagnóstico<br />

anterior <strong>de</strong> lesão escamosa <strong>de</strong> colo <strong>de</strong><br />

útero. Depois <strong>de</strong> excluídas, 35 mulheres<br />

permaneceram no estudo.<br />

No exame citopatológico, o resultado<br />

foi consi<strong>de</strong>rado negativo<br />

em 65,71% (23/35) e positivo em<br />

34,29% (12/35) dos casos, on<strong>de</strong> foram<br />

encontradas células anormais. Os<br />

resultados positivos foram distribuídos<br />

132<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


em 20% (7/35) <strong>de</strong> células escamosas<br />

atípicas <strong>de</strong> significado in<strong>de</strong>terminado<br />

(ASC-US), 5,71% (2/35) <strong>de</strong> lesão<br />

intra-epitelial escamosa <strong>de</strong> baixo grau<br />

(LSIL). Não foram encontrados lesão<br />

intra-epitelial escamosa <strong>de</strong> alto grau<br />

(HSIL) e câncer cervical (Tabela 2).<br />

Quando foram associados os resultados<br />

positivos e negativos dos<br />

exames <strong>de</strong> Papanicolaou, IVA e IVL,<br />

os índices foram: 34,28% (12/35)<br />

positivos e 65,71% (23/35) negativos.<br />

A inspeção visual com ácido acético<br />

(IVA) foi consi<strong>de</strong>rada positiva em<br />

22,85% (8/35) e negativa em 77,14%<br />

(27/35) dos casos. O teste <strong>de</strong> lugol<br />

(IVL) foi positivo em 17,14% (6/35)<br />

e negativo em 82,85% (29/35) das<br />

pacientes (Tabela 3).<br />

Quando foi realizada uma associação<br />

dos resultados dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou<br />

com IVA e IVL foi observada<br />

uma pobre concordância (Tabela 3).<br />

A Tabela 4 mostra a distribuição<br />

dos resultados dos três exames entre<br />

as participantes do estudo. Em<br />

48,57% (17/35) todos os testes foram<br />

negativos e em 5,71% (2/35) foram<br />

positivos nos três testes. No caso do<br />

IVL negativo e Papanicolaou e IVA<br />

positivo e o no caso <strong>de</strong> IVL positivo e<br />

Papanicolaou e IVA negativo não foi<br />

registrado em nenhum caso.<br />

Quando foram associados os resultados<br />

dos exames com as características<br />

das participantes, algumas<br />

apresentaram mo<strong>de</strong>rada e substancial<br />

concordância, com intervalo <strong>de</strong> 95%<br />

<strong>de</strong> confiança do Kappa, quando foi<br />

associada com os resultados das IVA,<br />

IVL e Citologia como a faixa etária <strong>de</strong><br />

41-50, ser solteira ou se<strong>para</strong>da/viúva<br />

e início da ativida<strong>de</strong> sexual <strong>de</strong> 15-17<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Apresentaram uma<br />

fraca concordância <strong>para</strong> 21-30 anos,<br />

nas mulheres casadas e nas mulheres<br />

com início da ativida<strong>de</strong> sexual maior<br />

ou igual a 18 anos (Tabela 5).<br />

Tabela 1. Perfil das participantes da pesquisa atendidas na Liga Feminina <strong>de</strong> Combate<br />

ao Câncer, Santo Ângelo-RS, 2006<br />

Perfil das Participantes N (%)<br />

Faixa Etária das Pacientes<br />

21-30 15 (36,58)<br />

31-40 08 (19,51)<br />

41-50 09 (21,95)<br />

>51 09 (21,95)<br />

Estado Civil<br />

Solteira 10 (24,39)<br />

Casada/unida 26 (63,41)<br />

Se<strong>para</strong>da/viúva 04 (9,75)<br />

Início Ativida<strong>de</strong> Sexual<br />

≤14 2 (4,87)<br />

15-17 17 (41,46)<br />

≥18 22 (53,65)<br />

Parida<strong>de</strong><br />

Nenhum 07 (17,70)<br />

1 11 (26,82)<br />

2 -4 17 (41,46)<br />

Mais <strong>de</strong> 4 06 (14,63)<br />

Tabela 2. Resultados dos exames citológicos das participantes do estudo<br />

Papanicolaou n %<br />

NM 23 65,71<br />

ASC-US 6 17,14<br />

ASC-US/AG 1 2,85<br />

ASC-H 2 2,85<br />

AG 1 2,85<br />

LSIL 2 5,71<br />

Tabela 3. Resultados positivos e negativos dos exames citológicos, IVA e IVL das<br />

participantes do estudo<br />

Papanicolaou n %<br />

Positivo 12 34,28<br />

Negativo 23 65,71<br />

IVA (ácido acético)<br />

Positivo 08 22,85<br />

Negativo 27 77,14<br />

IVL (lugol)<br />

Positivo 06 17,14<br />

Negativo 29 82,85<br />

K = 0.373, intervalo <strong>de</strong> confiança <strong>de</strong> 95%<br />

134<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Tabela 4. Distribuição dos resultados dos exames positivos e negativos<br />

Papanicolaou IVA Schiller n (%)<br />

+ + + 2 (5,71)<br />

+ + - 0 (0)<br />

+ - + 2 (5,71)<br />

+ - - 8 (22,85)<br />

- + + 2 (5,71)<br />

- + - 4 (11,42)<br />

- - + 0 (0)<br />

- - - 17 (48,57)<br />

Total 35<br />

Tabela 5. Distribuição percentual <strong>de</strong> algumas características das participantes do estudo com relação ao resultado da Citologia,<br />

IVA e Schiller<br />

IVA IVL CITOLOGIA<br />

+ - + - + - n k<br />

Ida<strong>de</strong><br />

21 – 30 anos 5 10 2 15 13 4 11 0,209<br />

31 – 40 anos 1 3 2 4 2 4 0 0.537<br />

41 – 50 anos 2 5 1 7 6 2 5 0.903<br />

>51 anos 0 9 1 9 8 2 7 0.497<br />

Estado Civil<br />

Solteira 4 5 3 9 6 2 7 0.711<br />

Casada 4 19 2 23 21 8 15 0.388<br />

Se<strong>para</strong>da/ Viúva 0 3 1 3 2 2 1 0.653<br />

Início Ativida<strong>de</strong> Sexual<br />

≤14 0 2 0 2 2 0 2 *<br />

15-17 4 9 3 13 10 6 7 0.631<br />

≥18 4 16 3 20 17 6 14 0.211<br />

Parida<strong>de</strong><br />

Nenhum 3 2 2 5 3 2 3 0.447<br />

1 1 9 0 10 10 2 8 *<br />

2 a 4 3 11 1 14 13 5 9 *<br />

Mais <strong>de</strong> 4 1 5 3 6 3 3 3 0.532<br />

Intervalo <strong>de</strong> 95% <strong>de</strong> confiança do Kappa.<br />

* Não é interpretável e não se aplica teste <strong>de</strong> significância<br />

Discussão Discussáo<br />

No estudo <strong>de</strong> Roteli-Martins et<br />

al., em 2003, sobre rastreamento <strong>de</strong><br />

câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero com mulheres<br />

brasileiras e argentinas, a ida<strong>de</strong> média<br />

das mulheres foi <strong>de</strong> 36,9 anos (16-62<br />

anos) e 71,50% das mulheres eram<br />

casadas ou unidas. Cor<strong>de</strong>iro et al.,<br />

em 2005, estudaram 893 com ida<strong>de</strong><br />

média <strong>de</strong> 32 anos (18-65 anos), on<strong>de</strong><br />

66,62% eram casadas, pouco mais <strong>de</strong><br />

60% tinham dois ou mais filhos e com<br />

início das ativida<strong>de</strong>s sexuais e primeiro<br />

parto a partir dos 16 anos.<br />

Na pesquisa realizada por Gontijo<br />

et al., em 2005, com mulheres<br />

<strong>de</strong> 18 a 60 anos, observaram que<br />

136<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


62% tinham menos <strong>de</strong> 35 anos, 71%<br />

eram casadas ou unidas, 54% com<br />

dois ou mais filhos e 60% iniciaram<br />

sua ativida<strong>de</strong> sexual com menos <strong>de</strong><br />

18 anos. Shastri et al., em 2005, em<br />

Mumbai, Índia, realizaram um estudo<br />

com 4.039 mulheres com ida<strong>de</strong>s<br />

entre 30 a 65 anos; <strong>de</strong>stas, 84% das<br />

mulheres tinham ida<strong>de</strong>s entre 30 e 49<br />

anos e 6% com ida<strong>de</strong>s entre 60 e 65<br />

anos. Com relação à parida<strong>de</strong>, 64,5%<br />

tinham <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> três filhos.<br />

No nosso estudo, a ida<strong>de</strong> média<br />

das mulheres foi <strong>de</strong> 38,36 anos (21-<br />

65 anos), o início da ativida<strong>de</strong> sexual<br />

variou dos 13 aos 30 anos, sendo que<br />

4,87% (4/41) foi com ida<strong>de</strong> menor ou<br />

igual a 14 anos, 41,46% (17/41) o<br />

início ocorreu na faixa <strong>de</strong> 15-17 anos<br />

e <strong>para</strong> 53,65% (22/41) foi maior ou<br />

igual a 18 anos, 63,41% (26/41) eram<br />

casadas ou unidas e 41,46% (17/41)<br />

tiveram <strong>de</strong> dois a quatro filhos. Conforme<br />

o perfil das mulheres analisadas, os<br />

dados são semelhantes aos encontrados<br />

na literatura com relação às ida<strong>de</strong>s<br />

e estado civil e diferem em relação ao<br />

início da ativida<strong>de</strong> sexual e parida<strong>de</strong>.<br />

Isto po<strong>de</strong> ser explicado pelo fato <strong>de</strong> que<br />

no presente estudo foi estudada uma<br />

pequena amostra (Roteli-Martins et al.,<br />

2003; Cor<strong>de</strong>iro et al., 2005; Gontijo et<br />

al., 2005; Shastri et al., 2005).<br />

Cor<strong>de</strong>iro et al., ao avaliarem os<br />

resultados da citologia, observaram<br />

que, o exame foi consi<strong>de</strong>rado negativo<br />

em 99,3% das mulheres, 0,7% dos<br />

exames foram distribuídos em 0,1% <strong>de</strong><br />

ASCUS, 0,5% <strong>de</strong> LSIL e 0,1% <strong>de</strong> HSIL.<br />

No estudo <strong>de</strong> Gontijo et al., em 2004, a<br />

citologia apresentou resultado negativo<br />

em 90,8% das mulheres, apresentando<br />

atipias celulares em 9,2% dos<br />

resultados, sendo 6,5% <strong>de</strong> ASC-US,<br />

0,5% <strong>de</strong> AG, 1,5% <strong>de</strong> LSIL e 0,7%<br />

<strong>de</strong> HSIL. Em outro estudo <strong>de</strong> Gontijo<br />

et al., em 2005, foi observado 10,4%<br />

com atipias celulares, sendo 7,3% <strong>de</strong><br />

ASC-US, 0,1% AG, 2,2% <strong>de</strong> LSIL 0,7%<br />

<strong>de</strong> HSIL. Roteli-Martins et al., em um<br />

trabalho com exames <strong>de</strong> Papanicolaou,<br />

observaram que 92% dos exames foram<br />

normais. Das amostras analisadas,<br />

4,2% apresentaram ASC-US, 1,4%<br />

LSIL, 0,57% HSIL e 0,83% com carcinoma<br />

<strong>de</strong> células escamosas.<br />

No presente estudo, <strong>para</strong> o exame<br />

citopatológico, o resultado foi consi<strong>de</strong>rado<br />

negativo em 65,71% (23/35)<br />

e positivo em 34,29% (12/35). Os<br />

resultados positivos foram distribuídos<br />

em: 17,14% (6/35) com células<br />

escamosas atípicas <strong>de</strong> significado in<strong>de</strong>terminado<br />

(ASC-US), 5,71% (2/35)<br />

com lesão intra-epitelial escamosa <strong>de</strong><br />

baixo grau (LSIL). Não foram encontrados<br />

lesão intra-epitelial escamosa<br />

<strong>de</strong> alto grau (HSIL) e câncer cervical.<br />

Esses dados diferem dos dados <strong>de</strong> outros<br />

autores. Essa diferença po<strong>de</strong> ser<br />

explicada pelo fato <strong>de</strong> que na nossa<br />

população o início da ativida<strong>de</strong> sexual<br />

ocorreu dos 14 aos 17 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

<strong>para</strong> 46,33% (Roteli-Martins et al.,<br />

2003; Gontijo et al., 2004; Gontijo et<br />

al., 2005; Cor<strong>de</strong>iro et al.,2005).<br />

Gontijo et al., em 2004, observaram<br />

que em relação a IVA, 10,9% das<br />

mulheres apresentaram o resultado<br />

positivo. Em outro estudo, realizado<br />

em 2005, pelos mesmos pesquisadores,<br />

foi verificado que 8% das<br />

mulheres apresentaram resultado do<br />

IVA positivo. Roteli-Martins et al., ao<br />

analisarem a inspeção visual com ácido<br />

acético (IVA), observaram que 13%<br />

foram anormais e 0,13% sugestivos <strong>de</strong><br />

câncer. No estudo <strong>de</strong> Bellinson et al.,<br />

ao analisarem os resultados <strong>de</strong> 1997<br />

mulheres, o resultado <strong>de</strong> IVA foi normal<br />

em 72%. Nos estudos <strong>de</strong> Shastri et al.<br />

e <strong>de</strong> Sarian et al., os resultados positivos<br />

da inspeção visual com lugol foram<br />

<strong>de</strong> 17% e 23%, respectivamente.<br />

Na nossa casuística, a IVA foi consi<strong>de</strong>rada<br />

negativa em 77,14% (27/35)<br />

dos casos e positiva em 22,85% (8/35).<br />

Com relação a esses dados, são compatíveis<br />

com o estudo <strong>de</strong> Bellinson et<br />

al., e com relação a IVA e IVL não estão<br />

conformes a outros autores pesquisados.<br />

Da mesma forma, ao associarmos<br />

os resultados dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou<br />

do nosso estudo com os resultados<br />

dos IVA e IVL observamos uma pobre<br />

concordância, diferindo do estudo <strong>de</strong><br />

Rotelli-Martins et al. que <strong>de</strong>screveram<br />

uma associação estatisticamente significativa.<br />

Isto po<strong>de</strong> ser explicado pelo<br />

fato <strong>de</strong> que no presente estudo foi estudada<br />

uma pequena amostra (Bellinson<br />

et al., 2001; Roteli-Martins et al., 2003;<br />

Gontijo et al., 2004; Shastri et al., 2005;<br />

Sarian et al., 2005).<br />

A distribuição dos resultados dos<br />

três exames, no presente estudo,<br />

mostrou que em 48,57% (17/35) <strong>de</strong><br />

todos os testes foram negativos e em<br />

5,71% (2/35) foram positivos nos três<br />

testes. No caso do teste IVL negativo<br />

Papanicolaou positivo e IVA positivo<br />

e IVL positivo, Papanicolaou negativo<br />

e IVA negativo não foram registrados<br />

em nenhum dos casos. Apesar da pequena<br />

amostra estudada no presente<br />

estudo, estes dados estão <strong>de</strong> acordo<br />

com o estudo <strong>de</strong> Blumenthal et al.<br />

(Blumenthal et al., 2000).<br />

No estudo <strong>de</strong> Roteli-Martins et al.,<br />

foi achada correlação significativa somente<br />

com relação ao início precoce<br />

da ativida<strong>de</strong> sexual, sendo que <strong>para</strong> as<br />

outras características não houve correlação<br />

significativa com os resultados<br />

dos exames. No presente estudo, o<br />

início precoce da ativida<strong>de</strong> sexual foi<br />

observado uma substancial concordância<br />

<strong>para</strong> a faixa etária dos 15-17<br />

anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, estando <strong>de</strong> acordo com<br />

o estudo <strong>de</strong> Roteli-Martins et al.. Como<br />

somente duas pacientes tiveram início<br />

da ativida<strong>de</strong> sexual com menos <strong>de</strong> 14<br />

anos, não foi possível interpretar este<br />

dado (Roteli-Martins et al., 2003).<br />

138<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Conclusão<br />

Com base nos resultados, po<strong>de</strong>mos<br />

concluir que, das 41 mulheres<br />

estudadas, a ida<strong>de</strong> média foi <strong>de</strong> 38,36<br />

anos, variando <strong>de</strong> 21 a 65 anos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong>; a maioria era casada ou unida,<br />

e gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>las tinha <strong>de</strong> dois a<br />

quatro filhos; o início da ativida<strong>de</strong><br />

sexual variou dos 13 aos 30 anos; os<br />

exames <strong>de</strong> Papanicolaou, IVA e IVL<br />

foram negativos <strong>para</strong> a maioria das<br />

participantes; quando foi realizada<br />

uma associação geral dos resultados<br />

dos exames <strong>de</strong> Papanicolaou com<br />

IVA e IVL foi observada uma pobre<br />

concordância; a distribuição dos resultados<br />

positivos e negativos <strong>para</strong> os<br />

três exames mostrou que em gran<strong>de</strong><br />

parte <strong>de</strong>les foi negativa.<br />

Correspondência <strong>para</strong>:<br />

Prof a Vera Regina Andra<strong>de</strong> Vargas<br />

vvargas@urisan.tche.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1. Belinson JL, Pretorius RG, Zhang WH, Wu LY, Qiao YL, Elson P. Cervical Cancer Screening by Simple Visual Inspection after Acetic Acid.<br />

The American College of Obstetricians and Gynecologists. 2001, 98(3): 441-444.<br />

2. Blumental PD, Gaffikin L, Chirenje ZM, Mcgrath J, Womack S, Shah K. Adjunctive testing for cervical cancer in low resourse settings<br />

with visual inspection, HPV, and the Pap smear. International Journal of Ginecology & Obstetrics. 2000, 72: 47-53.<br />

3. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Câncer do colo do útero. Disponível em: < http://www.inca.gov.br/><br />

Acesso em 07 jun. 2006a.<br />

4. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Epi<strong>de</strong>miologia. Disponível em: < http://www.inca.gov.br/> Acesso em<br />

07 jun. 2006b.<br />

5. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Instituto Nacional do Câncer (INCA). Fatores <strong>de</strong> risco Disponível em: < http://www.inca.gov.br/> Acesso<br />

em 07 jun. 2006c.<br />

6. Carillo A, Mohar A, Menezes A, Mendivil MF, Solorza G, Lizano M. Utilidad en la conbinación <strong>de</strong> oligonucleótidos universales <strong>para</strong> la<br />

<strong>de</strong>tección <strong>de</strong>l vírus <strong>de</strong> papiloma humano en cáncer cervicouterino y lesiones premeligras. Salud Pública <strong>de</strong> México, México. 2004;<br />

46(1): 7-15 jan.-fev.<br />

7. Chiucheta GIR, Ruggueri LS, Piva S, Irie MMT, Suzuki LE, Consolaro MEL. Determinação dos aspectos citológicos e epi<strong>de</strong>miológicos das<br />

lesões cervicais e sua associação com Papilomavírus humano (HPV). Revista Brasileira <strong>de</strong> Análises Clínicas. 2001; 33(1): 39-44.<br />

8. Chiucheta GIR, Ruggueri LS, Consolaro MEL. Estudo das infamações e infecções cérvico-vaginais diagnosticadas pela citologia. Arq.<br />

Ciências da Saú<strong>de</strong> - Unipar. 2002; 6(2): 123-128, maio-ago.<br />

9. Comissão <strong>de</strong> Educação Continuada da Febrasgo. Tratado <strong>de</strong> Ginecologia. V. 2. Editores: Hidalberto Carneiro <strong>de</strong> Oliveira, Ivan Lemgrube,<br />

Osmar Teixeira Costa. Editora Revinter: Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1997.<br />

10. Cor<strong>de</strong>iro MRA, Costa H <strong>de</strong> LF, Andra<strong>de</strong> RP <strong>de</strong>, Brandão VRA, Santana R. Inspeção visual do colo uterino após aplicação <strong>de</strong> ácido acético<br />

no rastreamento das neoplasias intra-epiteliais e lesões induzidas por HPV. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ginecologia e Obstetrícia. 2005;<br />

27(2): 51-57.<br />

11. Duarte RA, Soares CP. Evolução no diagnóstico citológico do câncer do colo uterino – novas tecnologias <strong>para</strong> o rastreamento citológico<br />

cervical. Revista <strong>de</strong> Ciências Farmacêuticas. 2003; 24(1): 7-13.<br />

12. 12. Flores Y, Shah K, Lazcano E, Hernán<strong>de</strong>z M, Bishai D, Ferris DG, Lorincz A, Hernán<strong>de</strong>z P, Salmerón J. Design ando methods of the<br />

evolution of an HPV – basead cervical cancer screening strategy in Mexico: the morelos HPV study. Salud Pública <strong>de</strong> México. 2002;<br />

44(4). jul-ago.<br />

13. Gomes DH, Bidoia CCG, Irie MMT, Suzuki LE, Consolaro MEL, Kaneshima EN. Padronização da técnica da Reação em Ca<strong>de</strong>ia da<br />

Polimerase (PCR) <strong>para</strong> o diagnóstico da infecção pelo Papilimavírus humano (HPV) em amostras endocervicais <strong>de</strong> pacientes portadores<br />

<strong>de</strong> lesões pré-cancerosas ou cancerosas atendidas no LEPAC/UEM <strong>de</strong> Maringá, PR. Revista Brasileira <strong>de</strong> Análises Clínicas. 2002;<br />

34(2): 89-93.<br />

14. Gontijo RC, Derchain SFM, Martins CR, Sarian LOZ, Bragança JF, Zeferino LC, Silva SM da. Avaliação <strong>de</strong> método alternativo à citologia<br />

no rastreamento <strong>de</strong> lesões cervicais: Detecção <strong>de</strong> DNA – HPV e inspeção visual. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ginecologia e Obstetrícia. 2004;<br />

26(4): 269-275.<br />

15. Gontijo RC, Derchain SFM, Montemor EBL, Sarian LOZ, Serra MMP, Zeferino LC, Syrjanem KJ. Citologia Oncológica, captura <strong>de</strong> Híbridos<br />

II e Inspeção Visual no rastreamento <strong>de</strong> lesões cervicais .Revista Brasileira <strong>de</strong> Ginecologia e Obstetrícia. 2005; 21(1): 141-149.<br />

16. Halbe HW. Tratado <strong>de</strong> Ginecologia. São Paulo: Vol. 2. Roca, 1998<br />

17. Haas P, Paludo RF, Savi LA, Miranda ML. Vantagens da citologia <strong>de</strong> monocamada em preventivos <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero. Revista<br />

Brasileira <strong>de</strong> Análises Clínicas. 2003; 35(3): 137-142.<br />

18. Hyppólito SB, Franco ES, Franco RGFM, Albuquerque CM, Nunes GC. Câncer Cervical: prevenção primária ou secundária DST-Jornal<br />

Brasileiro Doenças Sexualmente Transmissíveis. 2005; 17(2): 157- 160.<br />

140<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


19. 19. Roteli-Martins CM, Filho AL, Galvane JO, Martinez<br />

EZ, Loreto C, Utagawa AFC, Pereira SMM, Martins<br />

LM, Pittoli JE, Figueiredo SF, Aguiar LS, Maeda MYS,<br />

Syrjanen KJ. Rastreamento <strong>de</strong> Câncer <strong>de</strong> colo uterino<br />

em São Paulo: Resultados parciais em 3.000 mulheres.<br />

Jornal Brasileiro Doenças Sexualmente Transmissíveis.<br />

2003; 15(4): 12-16.<br />

20. Men<strong>de</strong>s JC, Silveira LMS, Pare<strong>de</strong>s AO. Lesão intraepitelial<br />

cervical 3 existe correlação entre o tempo <strong>de</strong><br />

realização do exame <strong>de</strong> Papanicolau e o aspecto do<br />

colo uterino <strong>para</strong> o aparecimento da lesão Revista<br />

brasileira <strong>de</strong> Análises clínicas. 2004; 36(4): 191-196.<br />

21. Pinho AAE, Matos MCFI. Valida<strong>de</strong> da citologia cervicovaginal<br />

na <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> lesões pré-neoplásicas <strong>de</strong><br />

colo do útero. Jornal Brasileiro <strong>de</strong> Patologia e Medicina<br />

Laboratorial. 2002; 38(3): 225-231.<br />

22. Santos ALF, Derchain SFM, Calvert EB, Martins MR,<br />

Dufloth RM, Martinez EZ. Desempenho do exame<br />

colpocitológico com revisão por diferentes observadores<br />

e da captura híbrida II no diagnóstico da<br />

neoplasia intra-epitelial cervical graus 2 e 3. Ca<strong>de</strong>rno<br />

<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, Rio <strong>de</strong> Janeiro. 2003; 19(4): 1029-<br />

1037, jul.-ago.<br />

23. Sarian LO, Derchain SF, Naud P, Roteli-Martins C,<br />

Longato FA, Tatti S, Branca M, Erzen M, Matos J,<br />

Gontijo R, Bragança Jf, Lima TP, Maeda MY, Dores<br />

GB, Costa S, Syrjanen S, Syrjanen K. Evaluation of<br />

visual inspection with acetic acid (VIA), lugol-iodine<br />

(VILI), cervical citology and HPV testing as cervical<br />

screening tools in Latin América.J Méd Screen. 2005;<br />

12(3): 142-149.<br />

24. Shastri SS, Dinshaw K, Amin G, Goswami S, Patil S,<br />

Chinoy R, Kane S, Kelkar R, Muwonge R, Mahé C, Ajit D,<br />

Sankaranarayanan R. Concurrent evaluation of visual,<br />

cytological and HPV testing as screening methods for<br />

the early <strong>de</strong>tection of cervical neoplasia in Mumbai,<br />

Índia. Bulletin of the world Health Organization. 2005;<br />

83(3): 186-194.<br />

25. Serman F. Cáncer Cervicouterino: Epi<strong>de</strong>miologia, história<br />

natural y rol <strong>de</strong>l virus Papiloma Humani. Perspectivas<br />

en prevención y tratamiento. Revista Chilena <strong>de</strong><br />

Obstetrícia e ginecologia. 2002; 67(4): 318-323.<br />

26. Silva EDC, Smanioto R, Campos SF, Haas P. Papilomavírus<br />

humano. Revista brasileira <strong>de</strong> Análises clínicas.<br />

2004; 36(1): 137-142.<br />

27. Silva HA, Silveira LMS, Pinheiro VMF, Men<strong>de</strong>s APS,<br />

Ribeiro VR, Souza-Junior MF. Papilomavírus Humano e<br />

lesões intra-epiteliais cervicais: estudo colpocitológico<br />

retrospectivo. Revista Brasileira <strong>de</strong> Análises Clínicas.<br />

2002; 35(3): 117-121.<br />

28. Varela JP, Rojas RR. Infeccion por vírus papiloma humano<br />

persistente y neoplasia cervicouterina. Revista Chilena <strong>de</strong><br />

Obstetricia y Ginecologia. 2003; 68(5): 371-375.<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

141


Artigo<br />

Análise da Fertilização e Efeitos Teratogênicos<br />

em Ratos Wistars Tratados com Amoxicilina<br />

Andrea Sayuri Suguino, Swelen Gouvêa<br />

Trabalho realizado na Uniara - Centro Universitário <strong>de</strong> Araraquara, Departamento <strong>de</strong> Ciências Biológicas e da Saú<strong>de</strong>, Curso <strong>de</strong> Farmácia<br />

Orientadora: Profª. Drª. Renata Dellalibera-Joviliano<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Análise da Fertilização e Efeitos Teratogênicos em<br />

Ratos Wistars Tratados com Amoxicilina<br />

A infertilida<strong>de</strong> é uma condição que acomete muitos casais, tendo<br />

conseqüências econômicas, psicológicas, <strong>de</strong>mográficas e médicas<br />

importantes. Existem fármacos e substâncias tóxicas em nosso meio que<br />

po<strong>de</strong>m causar infertilida<strong>de</strong>, seja por efeito direto sobre os testículos, ou<br />

por afetar os hormônios envolvidos na produção dos espermatozói<strong>de</strong>s.<br />

As gonadotoxinas mais perigosas são: radiação, medicamentos usados<br />

na quimioterapia (câncer), pesticidas, calor excessivo, nicotina, álcool<br />

em excesso, maconha e os anabolizantes. Existem ainda outros medicamentos<br />

que diminuem a fertilida<strong>de</strong>, entre eles <strong>de</strong>stacam-se alguns<br />

antibióticos, anti-hipertensivos, medicamentos usados no tratamento<br />

da <strong>de</strong>pressão, etc. O antibiótico em estudo é usado em tratamento<br />

alternativo <strong>para</strong> infecções genitais. A amoxicilina é um antibiótico<br />

ß-lactâmico <strong>de</strong> amplo espectro, que atua sobre bactérias sensíveis,<br />

interferindo na biossíntese do peptidioglicano (pare<strong>de</strong> celular). Este<br />

trabaho tem por objetivo a análise da fertilização e possíveis efeitos<br />

teratogênicos em ratos Wistars tratados com amoxicilina. Para a<br />

realização do experimento, foram utilizados ratos machos e fêmeas<br />

Wistars, sob os quais foram administrados o medicamento nas doses<br />

<strong>de</strong> 125 mg e 250 mg através do método <strong>de</strong> gavagem, e submetidos<br />

ao cruzamento. Posteriormente, observou-se a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acasalamento<br />

e malformações congênitas. Após as análises iniciais dos dados,<br />

verificamos que os diversos grupos <strong>de</strong> animais conseguiram realizar<br />

acasalamento, porém observamos que nas fêmeas que receberam<br />

250mg <strong>de</strong> amoxicilina, houve a presença <strong>de</strong> filhotes mortos após o<br />

nascimento (n=5) e encurtamento dos membros inferiores. Com isso<br />

po<strong>de</strong>mos concluir que a amoxicilina em concentrações terapêuticas<br />

elevadas po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar efeitos teratogênicos, porém não afeta a<br />

fertilida<strong>de</strong> em mo<strong>de</strong>los experimentais <strong>de</strong> ratos Wistars.<br />

Analysis of the fertilization and possible teratogenical<br />

effects in mices Wistars treated with amoxilin<br />

The infertility is a condition that affects many couples and<br />

brings economical, psychological, <strong>de</strong>mographic and medical<br />

consequences. There are many medicines and toxic substances<br />

that are used daily, which can cause infertility, affecting directly<br />

the testicles or affecting the hormones involved on the production<br />

of the spermatozoon. The most dangerous gonad toxin are:<br />

radiation, medicines used in chemotherapy (cancer), pestici<strong>de</strong>,<br />

excessive heat, nicotine, alcohol in excess, marijuana and anabolic<br />

steroids. There are, also, medicines that reduce the fertility, like<br />

some antibiotics, anti hypertensive, medicines used in <strong>de</strong>pression<br />

treatment, etc. The antibiotic analyzed is used in alternative treatment<br />

of genital infection. The amoxilin is a ß-lactamic antibiotic<br />

with wi<strong>de</strong> spectrum, that acts on sensitive bacteria, interfering in<br />

the biosynthesis of the pepti<strong>de</strong>oglican (cellular wall). This work<br />

focus on the analysis of the fertilization and possible teratogenical<br />

effects in mices wistars treated with amoxilin. To realize the<br />

experiment were used in males and females wistars mices doses<br />

of 125mg and 250 mg of amoxilin by gavages method and after<br />

submitted to the crossing. Later it was observed the capacity of<br />

mating and bad congenital formation. After initial data analyses,<br />

were observed that several groups of animals got mate, although<br />

in females that received 250 mg of amoxilin some mices died after<br />

birth ( n = 5 ) and shortening of the inferior members. Therefore,<br />

we can conclu<strong>de</strong> that the amoxilin in high therapeutic concentrations<br />

can unchain teratogenical effects, besi<strong>de</strong>s it doesn’t effect the<br />

fertility in experimental mo<strong>de</strong>ls of mice wistars.<br />

Keywords: Antibiotic, amoxilin, infertility<br />

Palavras-chave: Antibiótico, amoxicilina, infertilida<strong>de</strong><br />

178<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Introdução<br />

Os agentes antibacterianos<br />

situam-se entre as mais importantes<br />

<strong>de</strong>scobertas terapêuticas<br />

do século 20, tendo modificado<br />

dramaticamente o curso <strong>de</strong> muitas<br />

doenças, com redução da mortalida<strong>de</strong><br />

humana. Por outro lado, os antibióticos<br />

estão entre os agentes mais indiscriminadamente<br />

prescritos, sendo o uso<br />

aleatório um importante fator <strong>de</strong> contribuição<br />

<strong>para</strong> o crescente problema <strong>de</strong><br />

resistência bacteriana (16).<br />

Ao contrário <strong>de</strong> outros agentes,<br />

entretanto, seu uso excessivo e<br />

<strong>de</strong>snecessário acarreta, além <strong>de</strong> aumento<br />

<strong>de</strong> risco <strong>de</strong> eventos adversos e<br />

excesso <strong>de</strong> custo, comprometimento<br />

<strong>de</strong> sua própria eficácia, em gran<strong>de</strong><br />

parte pela adaptação microbiana aos<br />

mesmos por mecanismos variados<br />

<strong>de</strong> resistência. Em razão disso, o uso<br />

racional (que muitas vezes, mas não<br />

exclusivamente, significa restrição ao<br />

uso ou acesso) <strong>de</strong> antimicrobianos é<br />

<strong>de</strong> interesse vital <strong>de</strong> hospitais e mais<br />

recentemente <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> planejamento<br />

<strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (3).<br />

A preocupação dos órgãos sanitários,<br />

entre eles a Organização Mundial <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong> (OMS), o Ministério da Saú<strong>de</strong> e<br />

o Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Farmácia (CFF), é<br />

traduzida em números. Segundo dados<br />

da OMS, 75% dos antibióticos são prescritos<br />

inapropriadamente, acarretando<br />

o crescimento da resistência da maioria<br />

dos germes causadores <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s<br />

infecciosas <strong>de</strong>vido ao seu uso excessivo.<br />

Com isto, cresce a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

investir na qualificação profissional dos<br />

farmacêuticos que atuam nos estabelecimentos<br />

públicos e privados, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> se estabelecer uma assistência<br />

farmacêutica <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> como parte<br />

integrante e essencial dos processos <strong>de</strong><br />

atenção à saú<strong>de</strong> em todos os níveis <strong>de</strong><br />

complexida<strong>de</strong> (1).<br />

CH 3<br />

HO<br />

CHCONH<br />

H H<br />

S<br />

CH .3 H<br />

NH 3<br />

2<br />

O<br />

2<br />

N<br />

O<br />

COOH<br />

Amoxicilina<br />

Figura 1. Estrutura da amoxicilina triidratada. Ácido [2S-[2α,5α,6ß(S*)]]-6-[[amino(4-<br />

hidroxifenil)acetil]amino]-3,3-dimetil-7-oxo-4-tia-1-azabiciclo[3.2.0]heptano-2-carboxílico<br />

triidratado - “Fonte: Farmacopéia Brasileira (2000)”<br />

De acordo com Katzung e Silva<br />

(1998), os mecanismos <strong>de</strong> ação dos<br />

antibióticos po<strong>de</strong>m ser divididos em<br />

quatro tipos: inibição da síntese da<br />

pare<strong>de</strong> celular; alteração da permeabilida<strong>de</strong><br />

da membrana e do transporte<br />

ativo através da membrana celular;<br />

inibição da síntese protéica; inibição<br />

da síntese <strong>de</strong> ácidos nucléicos.<br />

As penicilinas constituem um dos<br />

grupos mais importantes <strong>de</strong> antibióticos,<br />

sentar ativida<strong>de</strong> sobre germes Grampositivos<br />

e cocos Gram-negativos em<br />

concentrações baixas, situadas entre<br />

0,01 e 0,1 μg/mL. Para os bacilos<br />

Gram-negativos sensíveis a concentração<br />

inibitória mínima situa-se entre<br />

0,5 e 5,0 μg/mL. Em geral, os bacilos<br />

Gram-negativos resistentes e o estafilococos<br />

produtor <strong>de</strong> penicilase são<br />

resistentes a concentrações superiores<br />

a 250 μg/mL (23).<br />

apesar <strong>de</strong> terem sido produzidos<br />

outros numerosos agentes antimicrobianos<br />

Farmacocinética<br />

(9). A penicilina foi <strong>de</strong>scober-<br />

ta por Alexan<strong>de</strong>r Fleming em 1928<br />

como um subproduto do Penicillium<br />

notatum, da qual originou o nome do<br />

medicamento. As penicilinas consistem<br />

<strong>de</strong> um anel β-lactâmico fundido<br />

a um anel sulfúrico <strong>de</strong> cinco membros<br />

contendo tiazolidina (16).<br />

Particularmente, a amoxicilina é<br />

uma penicilina semi-sintética sensível<br />

à penicilase, com proximida<strong>de</strong> químicofarmacológica<br />

a ampicilina. Sendo estável<br />

em meio ácido e projetada <strong>para</strong><br />

uso oral. Os máximos <strong>de</strong> concentração<br />

plasmática da amoxicilina são entre<br />

duas vezes e meia maiores do que os<br />

da ampicilina após a administração oral<br />

<strong>de</strong> uma dose idêntica (9).<br />

A amoxicilina é caracterizada por<br />

ter estabilida<strong>de</strong> em meio ácido e apre-<br />

Tem característica <strong>de</strong> ser resistente<br />

à ação do suco gástrico e sua absorção<br />

pelo trato gastrintestinal atinge 75 a<br />

90% da dose oral (20). As concentrações<br />

séricas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> dose única<br />

<strong>de</strong> 500mg são <strong>de</strong> 3 μg/mL após 45<br />

minutos, 7 a 7,5 μg/mL após 1 a 2<br />

horas e traços após 8 horas. O volume<br />

da distribuição é <strong>de</strong> 0,25 a 0,42 L/kg<br />

(10). A alimentação não interfere, <strong>de</strong><br />

maneira significativa, na absorção do<br />

antibiótico, motivo pelo qual é preferido<br />

por alguns autores em lugar da<br />

ampicilina, por via oral (20).<br />

Amoxicilina se liga às proteínas<br />

plasmáticas na taxa <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong><br />

20%. Distribui-se, primariamente, no<br />

líquido extracelular, e atinge elevadas<br />

concentrações na bile e na urina (20).<br />

180<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Cerca <strong>de</strong> 5% da dose administrada é<br />

eliminada pela bile sob a forma ativa,<br />

havendo concentração dos antibióticos<br />

neste líquido; nos pacientes com obstrução<br />

do canal biliar, o fármaco não<br />

é encontrado na bile (23).<br />

É eliminada rapidamente por<br />

secreção tubular renal, sendo que<br />

cerca <strong>de</strong> 50 a 70% são excretadas<br />

pela urina, sob a forma inalterada<br />

(20). Sofre biotransformação apenas<br />

parcial (10%), resultando em ácido<br />

penicilóico correspon<strong>de</strong>nte inativo<br />

(10). Nos pacientes com função renal<br />

normal, a meia-vida na fase beta <strong>de</strong><br />

eliminação dura aproximadamente 1<br />

hora. A meia-vida é prolongada nos<br />

anúricos, <strong>de</strong> 8 a 16 horas, exigindo<br />

ajuste <strong>de</strong> posologia (20).<br />

É capaz <strong>de</strong> manter concentrações<br />

terapêuticas sobre germes muito<br />

sensíveis até por 8 horas (23). É removível<br />

por hemodiálise e excretada<br />

pelo leite (10). Atravessa a barreira<br />

placentária, atingindo níveis terapêuticos<br />

no feto e no líquido amniótico<br />

em torno <strong>de</strong> 60% dos níveis maternos,<br />

atravessando também a barreira<br />

hematoencefálica em pacientes com<br />

meningoencefalites (23).<br />

Mecanismo <strong>de</strong> ação da amoxicilina<br />

Pelo fato <strong>de</strong> ser uma penicilina<br />

semi-sintética, apresenta as mesmas<br />

proprieda<strong>de</strong>s antimicrobianas e farmacodinâmicas<br />

da ampicilina (22).<br />

A fim <strong>de</strong> se protegerem as bactérias,<br />

biossintetizam membranas plasmáticas,<br />

pare<strong>de</strong>s celulares e cápsula. Tal<br />

proteção se faz necessária <strong>para</strong> seu<br />

crescimento e <strong>de</strong>senvolvimento porque<br />

o interior bacteriano é hiperosmolar em<br />

relação ao meio extracelular. Sem ela,<br />

a célula se <strong>de</strong>sintegraria. A rigi<strong>de</strong>z da<br />

pare<strong>de</strong> celular bacteriana é proporcionada<br />

por um peptidioglicano, formado<br />

<strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ias dissacarí<strong>de</strong>as, ligadas entre<br />

si por intermédio <strong>de</strong> pontes peptídicas.<br />

A amoxicilina atua sobre bactérias<br />

sensíveis, interferindo na biossíntese<br />

<strong>de</strong>sse peptidioglicano (9).<br />

Na primeira etapa da biossíntese do<br />

peptidioglicano da pare<strong>de</strong> bacteriana,<br />

forma-se um precursor que se acumula<br />

no citoplasma da célula bacteriana,<br />

chamada uridinodifosfato-muramilpentapeptídio.<br />

Na formação <strong>de</strong>ste produto,<br />

ocorre a adição <strong>de</strong> um dipeptídio,<br />

a D-alanina-D-alanina. Na síntese <strong>de</strong>sse<br />

dipeptídio, observam-se a racemização<br />

(por uma racemase) da L-alanina e uma<br />

con<strong>de</strong>nsação catalisada pela D-alanina-<br />

D-alanina sintetase (20).<br />

Na segunda etapa <strong>de</strong>ste processo,<br />

o UDP-muramil-pentapeptídio se liga<br />

a UDP-acetilglicosamina, liberando os<br />

nucleotí<strong>de</strong>os uridínicos. Este <strong>de</strong>rivado<br />

dissacarídico-peptídico é ligado a um<br />

lipí<strong>de</strong>o transportador. Ocorre, então, a<br />

adição <strong>de</strong> uma ponte <strong>de</strong> pentaglicina à<br />

lisina <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>ia pentapeptídica. Neste<br />

momento, libera-se o lipí<strong>de</strong>o transportador<br />

e, <strong>de</strong>sse modo, se forma a<br />

unida<strong>de</strong> do enorme polímero que é o<br />

peptidioglicano. Esta unida<strong>de</strong> é levada<br />

<strong>para</strong> a extremida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crescimento<br />

da pare<strong>de</strong> bacteriana, aumentando a<br />

ca<strong>de</strong>ia polissacarídica em <strong>de</strong>senvolvimento<br />

(20).<br />

Na terceira etapa, ocorre a ligação<br />

cruzada peptídica dos polímeros lineares<br />

<strong>de</strong> peptidioglicano, através <strong>de</strong><br />

uma reação <strong>de</strong> transpeptidação que se<br />

verifica do lado <strong>de</strong> fora da membrana<br />

plasmática, à custa <strong>de</strong> uma transpeptidase,<br />

enzima localizada na membrana<br />

plasmática. A transpeptidação é<br />

realizada pela ponte <strong>de</strong> pentaglicina,<br />

que se liga ao quarto componente<br />

(D-alanina) do pentapeptídio original,<br />

liberando neste ataque o seu quinto<br />

componente (também D-alanina).<br />

Esse passo terminal da biossíntese<br />

do peptidioglicano é bloqueado pelos<br />

antibióticos β-lactâmicos (20).<br />

Indicação<br />

A amoxicilina po<strong>de</strong> ser indicada<br />

<strong>para</strong> o tratamento <strong>de</strong>:<br />

• Otite média aguda, sinusite aguda<br />

• Tratamento <strong>de</strong> mordida <strong>de</strong> cão<br />

(cobertura <strong>de</strong> Pasteurella multocida)<br />

• Amigdalite<br />

• Infecções pulmonares<br />

• Infecção do trato geniturinário<br />

• Infecção respiratória alta<br />

• Exacerbações bacterianas da<br />

bronquite crônica<br />

• Infecções do trato biliar<br />

• Infecções <strong>de</strong> feridas causadas<br />

por queimaduras da pele e do<br />

tecido mole<br />

• Febre Tifói<strong>de</strong> (2,5,14,17)<br />

Infertilida<strong>de</strong><br />

A infertilida<strong>de</strong> é uma condição<br />

que acomete muitos casais e que<br />

tem consequências econômicas,<br />

psicológicas, <strong>de</strong>mográficas e médicas<br />

importantes (6).<br />

O homem impotente é tecnicamente<br />

infértil (se sua impotência for<br />

temporária ou curável) ou estéril (se<br />

ela for <strong>de</strong>finitiva). Mas o homem infértil<br />

não é necessariamente impotente.<br />

Na maioria dos casos, a infertilida<strong>de</strong><br />

do homem <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> fatores que<br />

não afetam seu <strong>de</strong>sejo sexual e nem<br />

sua capacida<strong>de</strong> normal <strong>de</strong> satisfazêlo.<br />

A infertilida<strong>de</strong> do homem significa<br />

apenas a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fecundar<br />

mulheres normalmente férteis (18).<br />

Classifica-se a infertilida<strong>de</strong> em<br />

primária (quando não houve geração<br />

<strong>de</strong> filhos) e secundária (quando há<br />

dificulda<strong>de</strong>s em se conseguir uma<br />

gravi<strong>de</strong>z subseqüente) (11).<br />

Um casal é consi<strong>de</strong>rado infértil se<br />

não conseguir a gravi<strong>de</strong>z após cerca<br />

<strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> relacionamento sexual<br />

182<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


ativo, sem uso <strong>de</strong> qualquer método anticoncepcional.<br />

O processo <strong>de</strong> produção<br />

dos espermatozói<strong>de</strong>s, amadurecimento,<br />

transporte, bem como a própria ejaculação<br />

também sofrem interferência <strong>de</strong><br />

alguns hormônios produzidos no nosso<br />

organismo. Assim sendo, qualquer interferência<br />

em alguma <strong>de</strong>ssas etapas po<strong>de</strong><br />

causar infertilida<strong>de</strong> masculina (7).<br />

Teratogênese<br />

A teratologia é a ciência que se<br />

preocupa em estudar o <strong>de</strong>senvolvimento<br />

humano anormal e suas causas<br />

(agentes teratogênicos). No <strong>de</strong>senvolvimento<br />

anormal, costuma-se usar o<br />

termo malformações congênitas, que<br />

representa as anomalias morfológicas<br />

presentes ao nascimento (12).<br />

Distúrbios do <strong>de</strong>senvolvimento são<br />

reconhecidos há séculos, mas uma relação<br />

direta entre os teratógenos ambientais<br />

e <strong>de</strong>feitos congênitos humanos<br />

só foi <strong>de</strong>monstrada em 1941 (4).<br />

Na análise da teratogenicida<strong>de</strong>,<br />

reconhecem-se fatores importantes:<br />

• Época da exposição ao teratógeno:<br />

esses exercem seus efeitos<br />

quando a diferenciação e morfogênese<br />

estão no auge<br />

• Dosagem: há poucas informações<br />

sobre a dosagem nos estudos<br />

humanos, mas pesquisas<br />

em animais mostraram a relação<br />

dose-resposta prevista. A dose<br />

que atinge o feto é parcialmente<br />

<strong>de</strong>terminada pela capacida<strong>de</strong><br />

materna <strong>de</strong> metabolizar a substância<br />

tóxica, que por sua vez<br />

é influenciada pelo genótipo da<br />

mãe<br />

• Genótipo do feto: existem muitos<br />

exemplos comprocados em<br />

animais <strong>de</strong> laboratório e vários<br />

exemplos humanos suspeitados,<br />

<strong>de</strong> diferenças genéticas na resposta<br />

a um teratógeno<br />

• Genótipo materno: pouco se<br />

estudou o efeito teratogênico<br />

do genétipo materno sobre as<br />

crianças expostas in utero. Qualquer<br />

efeito <strong>de</strong>ste tipo resultaria<br />

das conseqüências metabólicas<br />

anormais <strong>de</strong> um <strong>de</strong>feito genético<br />

materno (24).<br />

O <strong>de</strong>senvolvimento anormal resulta<br />

<strong>de</strong> influências ambientais sobrepostas<br />

às suscetibilida<strong>de</strong> genética. Os fatores<br />

envolvidos no <strong>de</strong>senvolvimento anormal<br />

incluem ida<strong>de</strong>, raça, país, nutrição<br />

e época do ano (4).<br />

Fatores genéticos são causadores<br />

<strong>de</strong> um número significante <strong>de</strong> <strong>de</strong>feitos<br />

congênitos. Um número anormal <strong>de</strong><br />

cromossomos está associado à morte<br />

pré-natal e à síndromes <strong>de</strong> estruturas<br />

normais. Causas comuns <strong>de</strong> anomalias<br />

são as monossomais e as trissomias, que<br />

geralmente resultam <strong>de</strong> não-disjunção<br />

durante a meiose. Outras malformações<br />

têm como base a estrutura cromossomal.<br />

Certas malformações baseiam-se<br />

em mutações genéticas (4).<br />

Entre os fatores ambientais que levam<br />

a um <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>feituoso<br />

estão infecções maternas, teratógenos<br />

químicos, fatores físicos, tais como<br />

radiação ionizante, fatores maternos<br />

e fatores mecânicos (4).<br />

Uma anomalia congênita é qualquer<br />

tipo <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong> estrutural;<br />

entretanto, nem todas as variações do<br />

<strong>de</strong>senvolvimento são anomalias. Há<br />

quatro tipos <strong>de</strong> anomalias congênitas<br />

clinicamente significantes: malformação,<br />

perturbação, <strong>de</strong>formação e<br />

displasia (13).<br />

A incidência global das malformações<br />

congênitas variam <strong>de</strong> uma<br />

pesquisa <strong>para</strong> outra, não apenas por<br />

serem os dados colhidos em populações<br />

diferentes, mas também por<br />

variarem os métodos <strong>de</strong> averiguação<br />

e os critérios <strong>de</strong> observação e classificação<br />

(15).<br />

Calcula-se que no Brasil cerca<br />

<strong>de</strong> 7% das crianças apresentam algum<br />

tipo <strong>de</strong> malformação, mas esse<br />

percentual po<strong>de</strong> ser aumentado se<br />

consi<strong>de</strong>rarmos que 20% dos abortos<br />

espontâneos são <strong>de</strong> crianças malformadas<br />

e ainda que uma boa parte<br />

das crianças malformadas apresente<br />

anomalias que não são visíveis ao nascimento<br />

(12). Os <strong>de</strong>feitos congênitos<br />

humanos são resultante <strong>de</strong> ações perturbadoras<br />

<strong>de</strong> drogas, vírus e outros<br />

fatores ambientais (13).<br />

A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> uma quantida<strong>de</strong><br />

consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> pesquisas durante<br />

os últimos 50 anos, a causa <strong>de</strong><br />

pelo menos 50% das malformações<br />

congênitas humanas ainda permanece<br />

<strong>de</strong>sconhecida. Dos outros 50%,<br />

aproximadamente 25% têm base<br />

genética (<strong>de</strong>feitos cromossomais ou<br />

mutantes com base em genéticas<br />

men<strong>de</strong>liana) e menos <strong>de</strong> 10% são<br />

atribuídos a fatores ambientais ou<br />

teratógenos físicos ou químicos.<br />

Causas multifatoriais completam o<br />

restante (4).<br />

Materiais e Métodos<br />

Materiais<br />

Os animais utilizados neste experimento<br />

foram provenientes <strong>de</strong> cruzamentos<br />

<strong>de</strong> ratas fêmeas doadas do<br />

biotério da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong><br />

São Paulo (Unesp) campus Araraquara<br />

com machos pertencentes ao biotério<br />

da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Araraquara (Uniara).<br />

As linhagens foram cruzadas,<br />

simultaneamente, <strong>de</strong> modo que os<br />

mesmos não apresentassem grau<br />

<strong>de</strong> parentesco durante a realização<br />

<strong>de</strong>ste protocolo experimental. O projeto<br />

foi submetido ao Comitê <strong>de</strong> Ética<br />

em Pesquisa (CEP) do HCFMRP-USP,<br />

sendo aprovado sob ofício no 1787/07<br />

– Processo HCRP no 1801/07.<br />

184<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Foi utilizado um total <strong>de</strong> 52 ratos<br />

Wistars adultos distribuídos em<br />

machos (n=26) e fêmeas (n=26),<br />

on<strong>de</strong> os mesmos foram divididos em<br />

12 grupos.<br />

Nos animais tratados <strong>de</strong> ambos os<br />

sexos, foi administrado o antibiótico<br />

amoxicilina diluída em 1 mL <strong>de</strong> solução<br />

salina 0,9%, por via oral, através do<br />

método <strong>de</strong> gavagem. As concentrações<br />

farmacológicas utilizadas <strong>para</strong> a<br />

realização do experimento objetivou<br />

dois aspectos: (1) alta concentração<br />

farmacológica; (2) concentração elevada<br />

nos animais, porém, que não<br />

provocassem mortes dos mesmos.<br />

A concentração <strong>de</strong> 125 mg foi dada<br />

através <strong>de</strong> uma única administração,<br />

enquanto a dose <strong>de</strong> 250 mg foi distribuída<br />

em duas administrações em<br />

dias consecutivos.<br />

Para a diluição do medicamento<br />

utilizamos eppendorffes e com auxílio<br />

<strong>de</strong> pipeta automática <strong>de</strong> 1 mL,<br />

adicionou-se a solução salina 0,9%.<br />

Na administração do medicamento<br />

foram usadas cânulas <strong>de</strong> irrigação<br />

revestidas com dispositivo plástico,<br />

acopladas às seringas <strong>de</strong> 1 mL.<br />

Realizou-se uma abertura cirúrgica<br />

em duas ratas. Para a visualização dos<br />

órgãos internos, utilizamos o anestésico<br />

Ketamina (10%) e o relaxante muscular<br />

Xilazina, ambos na concentração<br />

<strong>de</strong> 0,1 mL/100g <strong>de</strong> peso (i.m.). Para a<br />

realização da cirurgia usamos a mesa<br />

cirúrgica, tesoura, bisturi e seringa<br />

com agulha <strong>para</strong> a administração dos<br />

medicamentos supracitados.<br />

Métodos<br />

Antes da administração do medicamento,<br />

todos os animais que foram submetidos<br />

ao teste não se alimentaram<br />

por um período <strong>de</strong> aproximadamente<br />

5 horas que antecedia a administração<br />

do mesmo, objetivando a eficiência no<br />

mecanismo <strong>de</strong> absorção intestinal.<br />

Os animais tratados com uma dose<br />

única <strong>de</strong> 125 mg do antibiótico foram<br />

submetidos ao acasalamento após 24<br />

horas da administração farmacológica.<br />

Já aqueles que foram tratados com 250<br />

mg do antibiótico, a dose foi dividida em<br />

dois dias consecutivos, e somente após<br />

24 horas ao término da administração<br />

farmacológica é que esses animais<br />

foram submetidos ao acasalamento<br />

por um período <strong>de</strong> aproximadamente<br />

15 dias. Após esse período, foi observada<br />

a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acasalamento e<br />

prenhez das fêmeas. Todos os animais<br />

recém-nascidos foram contabilizados e<br />

avaliados quanto ao peso, tamanho e<br />

morfologia externa.<br />

Os animais recém-nascidos tiveram<br />

acompanhamento no <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro dia <strong>de</strong> vida até<br />

completarem, aproximadamente, 30<br />

dias, on<strong>de</strong> nesse período, realizaramse<br />

pesagens dos mesmos.<br />

Após o período <strong>de</strong> acasalamento, todos<br />

os ratos machos foram sacrificados<br />

com CO 2<br />

. As fêmeas e seus filhotes só<br />

foram sacrificados quando eles estavam<br />

com um mês <strong>de</strong> vida, em média.<br />

Particularmente, a fêmea 3 (que<br />

apresentou nascimento <strong>de</strong> todos<br />

ratos mortos) foi submetida à ação<br />

cirúrgica (Figura 2), sob o efeito<br />

do anestésico, on<strong>de</strong> uma abertura<br />

na região abdominal foi realizada,<br />

verificando-se ainda a presença <strong>de</strong><br />

fetos intra-uterinos mortos.<br />

Figura 2. Rata 3 após cirurgia, mostrando<br />

na figura seu útero contendo dois filhotes<br />

mortos, sendo um <strong>de</strong>les com malformação<br />

Resultados e<br />

Discussão<br />

Para a compreensão dos resultados,<br />

elaboramos no Quadro 1 os<br />

cruzamentos realizados associando<br />

os animais que receberam ou não<br />

a amoxicilina nas concentrações <strong>de</strong><br />

125 ou 250 mg/oral. Além disso, este<br />

mesmo Quadro 1 ilustra o período<br />

<strong>de</strong> gestação contabilizado a partir do<br />

início do período <strong>de</strong> acasalamento,<br />

número <strong>de</strong> filhotes vivos, mortos e<br />

aqueles que apresentaram efeito <strong>de</strong><br />

teratogenicida<strong>de</strong>. O peso e tamanho<br />

dos animais estão apresentados neste<br />

trabalho no formato <strong>de</strong> Anexo, <strong>para</strong><br />

que possa ser apreciado.<br />

Posto que há dificulda<strong>de</strong> na observação<br />

do momento exato do<br />

acasalamento machos e fêmeas, os<br />

resultados dos dias <strong>de</strong> gestação das<br />

fêmeas são uma estimativa, pois não<br />

tem como haver um monitoramento<br />

constante 24h. É importante ressaltar<br />

que todos os ratos (machos e fêmeas)<br />

ficaram submetidos ao acasalamento<br />

durante um período <strong>de</strong> 15 dias.<br />

Analisando as médias feitas dos<br />

resultados (Quadro 2), no grupo A<br />

po<strong>de</strong>mos observar que a média do<br />

número <strong>de</strong> filhotes está <strong>de</strong>ntro do<br />

<strong>de</strong>svio permitido, e em relação à média<br />

dos dias <strong>de</strong> gestação verificou-se<br />

que está abaixo da variação permitida<br />

pelo <strong>de</strong>svio, porém, <strong>de</strong> acordo<br />

com conceitos literários está <strong>de</strong>ntro<br />

do padrão.<br />

Os grupos B e C foram os que<br />

apresentaram valores <strong>de</strong>ntro do padrão<br />

segundo a média <strong>de</strong> gestação e<br />

média do número <strong>de</strong> filhotes nascidos.<br />

Porém, no grupo C os machos (n=5)<br />

tratados com 250mg do medicamento,<br />

observou-se uma redução significativa<br />

do número <strong>de</strong> filhotes resultantes do<br />

cruzamento C9 quando com<strong>para</strong>do<br />

com a média do número <strong>de</strong> filhotes<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

185


Quadro 1. Resultados observados nos cruzamentos entre machos e fêmeas que receberam amoxicilina em diferentes concentrações<br />

Cruzamento<br />

Período <strong>de</strong> Nº total<br />

Macho<br />

Fêmea gestação (dias) filhotes<br />

Filhotes mortos Teratogenicida<strong>de</strong><br />

C 1 --- 250 mg 22 13 2 ---<br />

C 2 --- 250 mg 22 10 --- ---<br />

C 3 --- 250 mg 22 7 7 2<br />

C 4 --- 125 mg 22 13 --- ---<br />

C 5 --- 125 mg 25 11 --- ---<br />

C 6 --- 125 mg --- --- --- ---<br />

C 7 250 mg --- 23 15 --- ---<br />

C 8 250 mg --- 21 13 --- ---<br />

C 9 250 mg --- 23 6 --- ---<br />

C 10 125 mg --- 23 3 --- ---<br />

C 11 125 mg --- 34 14 --- ---<br />

C 12 --- 250 mg 21 14 --- ---<br />

C 13 --- 250 mg 23 13 --- ---<br />

C 14 --- 250 mg 23 11 --- ---<br />

C 15 250 mg --- 21 14 1 ---<br />

C 16 250 mg --- 27 12 --- ---<br />

C 17 125 mg --- 21 16 --- ---<br />

C 18 125 mg --- --- --- --- ---<br />

C 19 2 mL (sol.<br />

salina)<br />

--- 21 11 1 ---<br />

C 20 1 mL (sol.<br />

salina)<br />

--- 21 13 --- ---<br />

C 21 --- 2 mL (sol. salina) 21 13 --- ---<br />

C 22 --- 1 mL (sol. salina) 21 13 --- ---<br />

C 23 250 mg 250 mg 27 11 --- ---<br />

C 24 250 mg 125 mg 27 14 1 ---<br />

C 25 125 mg 125 mg 26 11 --- ---<br />

C 26 125 mg 250 mg 27 12 2 ---<br />

Média 24 12 ---<br />

(n=12). Po<strong>de</strong>mos sugerir que neste<br />

momento po<strong>de</strong>m existir fatores atribuídos<br />

pela ação farmacológica, que<br />

possa estar influenciando na espermatogênese<br />

dos animais machos.<br />

No grupo D, verificou-se a redução<br />

relativamente gran<strong>de</strong> do número<br />

<strong>de</strong> filhotes provenientes <strong>de</strong> um dos<br />

cruzamentos (C10) sendo este pertencente<br />

ao grupo <strong>de</strong> machos (n=4)<br />

tratados com 125mg <strong>de</strong> amoxicilina.<br />

A média do número <strong>de</strong> filhotes está<br />

<strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>svio permitido e a média<br />

do período <strong>de</strong> gestação está exce<strong>de</strong>ndo<br />

a variação permitida, todavia, está<br />

<strong>de</strong> acordo com a análise estatística<br />

o geral, estando então, <strong>de</strong>ntro do<br />

padrão permitido.<br />

Os grupos E, F, G e H são os do<br />

grupo controle on<strong>de</strong> macho ou fêmea<br />

recebem dosagens diferentes <strong>de</strong> solução<br />

salina (0,9%). Os resultados <strong>de</strong>sses<br />

grupos estão <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>svio padrão<br />

permitido.<br />

Quando observamos os grupos (I, J,<br />

K e L) em que ambos os animais foram<br />

tratados com AMX, <strong>de</strong> acordo com a<br />

média feita po<strong>de</strong>mos sugerir que aumentou<br />

o tempo do acasalamento pelo<br />

fato <strong>de</strong> uma possível libido alterada, e<br />

com isso observamos um tempo maior<br />

gestacional, similar aos resultados observado<br />

no grupo D.<br />

186<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Quadro 2. Grupos e seus respectivos cruzamentos, relacionando média <strong>de</strong> gestação e média do número <strong>de</strong> filhotes nascidos<br />

Grupos Cruzamentos Média <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> gestação Média do número <strong>de</strong> filhotes<br />

nascidos<br />

Grupo A C1, C2, C3, C12, C13 e C14 22 11<br />

Grupo B C4, C5 e C6 23 12<br />

Grupo C C7, C8, C9, C15 e C16 23 12<br />

Grupo D C10, C11, C17 e C18 26 11<br />

Grupo E C22 21 13<br />

Grupo F C21 21 13<br />

Grupo G C20 21 13<br />

Grupo H C19 21 11<br />

Grupo I C24 27 14<br />

Grupo J C25 26 11<br />

Grupo K C23 27 11<br />

Grupo L C26 27 12<br />

Resultados quanto às mortes e<br />

teratogenicida<strong>de</strong> dos filhotes<br />

Observando os resultados do grupo<br />

A, on<strong>de</strong> as fêmeas foram tratadas com<br />

250 mg <strong>de</strong> AMX, foi possível verificar<br />

em duas gestações (C1 e C3) nove<br />

filhotes mortos. Além disso, dois filhotes<br />

apresentavam encurtamento dos<br />

membros inferiores, sugerindo teratogenicida<strong>de</strong><br />

(Figuras 3, 4 e 5). Dentro<br />

<strong>de</strong>ste grupo <strong>de</strong> fêmeas analisadas,<br />

uma <strong>de</strong>las não apresentou nenhum<br />

filhote vivo quando com<strong>para</strong>do às<br />

<strong>de</strong>mais fêmeas pertencentes.<br />

No grupo B outra alteração que<br />

pô<strong>de</strong> ser observada foi a ausência <strong>de</strong><br />

prenhez em uma das fêmeas (C6),<br />

sugerindo a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fecundação<br />

ou fertilização.<br />

Durante o acompanhamento do crescimento<br />

dos filhotes provenientes do C15<br />

houve a morte <strong>de</strong> um filhote, sendo este<br />

cruzamento pertencente ao grupo C.<br />

No grupo D, a fêmea do C18, no<br />

período previsto <strong>para</strong> o nascimento <strong>de</strong><br />

seus filhotes observou-se sangue na<br />

serragem da caixa, sugerindo aborto<br />

espontâneo. Devido a este fato ocorrido<br />

foi realizada uma cirurgia no animal<br />

Figura 3. Filhote proveniente do C3, apresentando encurtamento dos membros inferiores<br />

Figura 4. Filhotes nascidos<br />

mortos (extra-uterino),<br />

provenientes do C3. Da<br />

esquerda <strong>para</strong> direita, um filhote<br />

aparentemente normal e o outro<br />

apresentando encurtamento dos<br />

membros inferiores<br />

Figura 5. Filhotes nascidos mortos extra-uterino, provenientes do C3<br />

188<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


<strong>para</strong> verificar a possível alteração. A<br />

mesma apresentou uma resistência<br />

ao efeito do anestésico após sua administração,<br />

tendo que administrar uma<br />

dosagem maior que a recomendada.<br />

Após a cirurgia, verificou-se que os<br />

órgãos da fêmea não apresentavam<br />

nenhuma alteração. O macho que<br />

recebeu 125mg <strong>de</strong> AMX, que veio a<br />

cruzar com essa fêmea, provavelmente<br />

apresentava comprometimento na espermatogênese<br />

ou redução da libido,<br />

não fecundando a fêmea, <strong>de</strong>scartando<br />

então, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aborto espontâneo.<br />

No grupo H, seis dias após o nascimento<br />

dos filhotes do C19, observouse<br />

a morte <strong>de</strong> um dos filhotes.<br />

No grupo I, em que tratamos<br />

tanto o macho quanto a fêmea, com<br />

Figura 6. Filhotes nascidos mortos do C1,<br />

com características aparentemente normais<br />

dosagens respectivas <strong>de</strong> 250mg e<br />

125 mg do antibiótico em estudo,<br />

verificamos após sete dias do nascimento<br />

dos filhotes <strong>de</strong>sse cruzamento<br />

(C24) um filhote morto.<br />

O grupo L, em que o macho recebeu<br />

125 mg do medicamento e fêmea<br />

250 mg, observou-se que, após sete<br />

dias do nascimento <strong>de</strong> seus filhotes,<br />

a morte <strong>de</strong> dois <strong>de</strong>les.<br />

Os outros grupos que não foram<br />

citados não houve alterações quanto à<br />

morte ou teratogenicida<strong>de</strong> dos filhotes<br />

provenientes dos cruzamentos.<br />

Assim, concluímos que a amoxicilina<br />

em concentrações terapêuticas<br />

elevadas po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar efeitos<br />

teratogênicos, sugerindo, porém que<br />

não afeta diretamente a fertilida<strong>de</strong> em<br />

mo<strong>de</strong>los experimentais <strong>de</strong> ratos Wistars,<br />

consi<strong>de</strong>rando que, praticamente<br />

todos os casais <strong>de</strong> animais foram capazes<br />

<strong>de</strong> promover prenhez.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

Andrea Sayuri Suguino<br />

asuguino@yahoo.com.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

9.<br />

10.<br />

11.<br />

12.<br />

13.<br />

14.<br />

15.<br />

16.<br />

17.<br />

18.<br />

19.<br />

20.<br />

21.<br />

22.<br />

23.<br />

24.<br />

Antibióticos: uso incorreto compromete tratamento. Disponível em . Acesso:<br />

08 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.<br />

Barretto C, Maluche ME, Hoehn M. Amoxicilina. Disponível em .<br />

Acesso em 04 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Camargo LFA. Controle <strong>de</strong> antibióticos: mais que retórica, necessida<strong>de</strong> baseada em Evidências. Disponível em . Acesso: 08 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003.<br />

Carlson BM. Embriologia Humana e Biologia do Desenvolvimento. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 408 p.<br />

Corrêa JC, Corrêa VLF. Antibióticos no dia-a-dia. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livraria Rubio, 2001. 310 p.<br />

Duncan BB, Schimidt MI, Giugliane ERJ. Medicina Ambulatorial: Condutas <strong>de</strong> atenção primária baseadas em evidências. 3 ed. Porto<br />

Alegre, RS: Artmed, 2005. 1600 p.<br />

Esteves S. Enten<strong>de</strong>ndo a infertilida<strong>de</strong> masculina. Disponível em . Acesso<br />

em: 19 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Farmacopéia Brasileira, Parte II, Fascículo 2/ Comissão Permanente <strong>de</strong> Revisão <strong>de</strong> Farmacopéia Brasileira 4 Ed São Paulo: Atheneu, 2000.<br />

Gilman GA et.al. Goodman & Gilman: As Bases Farmacológicas da Terapêutica. 9 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: McGraw-Hill, 1996. 1436 p.<br />

Korolkovas A, França FFAC. Dicionário Terapêutico Guanabara. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 2002/2003.<br />

López M, Laurentys-Me<strong>de</strong>iros J. Semiologia Médica – As bases do diagnóstico clínico. Vol 2. 4 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Livraria e Editora<br />

Revinter Ltda, 1999. 1436 p.<br />

Mello RA. Embriologia Humana. São Paulo: Atheneu, 2000. 346 p.<br />

Moore KL, Persaud TVN. Embriologia Clínica. 6 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. 543 p.<br />

Neto VA et.al. Antibiótico na Prática Médica. 4 ed. São Paulo: Roca Ltda, 1994.<br />

Otto PG, Otto PA, Trota-Pessoa O. Genética Humana e Clínica. 1 ed. São Paulo: Roca, 1998. 333 p.<br />

Page C et.al. Farmacologia Integrada. 2 ed. Barueri, SP: Manole, 2004. 671 p.<br />

Pedrosa ERP, Rocha MOC. Enciclopédia da saú<strong>de</strong>: Antibioticoterapia. Volume 4. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Medsi Editora Médica e Científica LTDA,<br />

2001. 997 p.<br />

Pereira A. Enciclopédia do Amor e do Sexo. Volume 2. São Paulo: Abril Cultura, 1981.<br />

Porto CC. Semiologia Médica. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. 1317 p. Ramos SP. Tratamento da Infertilida<strong>de</strong>. Disponível<br />

em . Acesso: 08 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007.<br />

Silva P. Farmacologia. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 1998. 1314 p.<br />

Smith RP. Ginecologia e Obstetrícia <strong>de</strong> Netter. Porto Alegre, RS: Artmed, 2004. 592 p.<br />

Tavares W. Manual <strong>de</strong> Antibióticos <strong>para</strong> Estudantes <strong>de</strong> Medicina. 3 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Atheneu, 1986. 374 p.<br />

Tavares W. Manual <strong>de</strong> Antibióticos Quimioterápicos Antiinfecciosos. 2 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Atheneu, 1999. 792 p.<br />

Thompson MW, Macinnes RR, Willard HF. Genética Médica – Thompson & Thompson. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.<br />

333 p.<br />

190<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Artigo<br />

Kit <strong>para</strong> I<strong>de</strong>ntificação Bioquímica <strong>de</strong> Enterococos<br />

Isolados <strong>de</strong> Espécimes Clínicos Humanos<br />

Carlos Henrique Pessôa <strong>de</strong> Menezes e Silva, Alessandro Pereira Lins<br />

Farmacêuticos-Bioquímicos, Centro Tecnológico <strong>de</strong> Análises (CETAN), Vila Velha-ES<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Kit <strong>para</strong> I<strong>de</strong>ntificação Bioquímica <strong>de</strong> Enterococos<br />

Isolados <strong>de</strong> Espécimes Clínicos Humanos<br />

O aparecimento <strong>de</strong> resistência a drogas antimicrobianas nos<br />

isolados <strong>de</strong> enterococos faz com que seja necessária a diferenciação<br />

a<strong>de</strong>quada das espécies <strong>de</strong>ste gênero daquelas dos estreptococos<br />

do grupo D. Procedimentos bioquímicos tradicionais <strong>para</strong><br />

a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos são complexos, pois<br />

muitas são as espécies encontradas como patógenos humanos. Tal<br />

fato po<strong>de</strong> gerar resultados ina<strong>de</strong>quados, os quais po<strong>de</strong>m levar à<br />

antibioticoterapia imprópria. O kit miniaturizado e <strong>de</strong>sidratado<br />

proposto neste estudo mostrou-se confiável e prático <strong>para</strong> uso<br />

nos laboratórios clínicos. Cepas <strong>de</strong> referência e isolados clínicos<br />

foram i<strong>de</strong>ntificados com 100% <strong>de</strong> acurácia. O sistema <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong>scrito permite aos microbiologistas i<strong>de</strong>ntificar a maioria<br />

das espécies <strong>de</strong> Enterococcus com um número mínimo <strong>de</strong> provas<br />

bioquímicas convencionais.<br />

Kit for Biochemical I<strong>de</strong>ntification of Enterococci Isolated<br />

from Human Clinical Sources<br />

Emerging drug resistance of the enterococci necessitates<br />

differentiation from group D streptococci and accurate species<br />

i<strong>de</strong>ntification. Current biochemical procedures for the i<strong>de</strong>ntification<br />

of the enterococci species are overly complex for the large number<br />

of species encountered as human pathogen. This may result in an<br />

inaccurate report which could lead to improper antibiotic therapy.<br />

The proposed miniaturized <strong>de</strong>hydrated kit was shown to be both<br />

reliable and practical for use in the diagnostic laboratory. Reference<br />

strains and clinical isolates were i<strong>de</strong>ntified and the overall accuracy<br />

of i<strong>de</strong>ntification was 100%. The i<strong>de</strong>ntification system <strong>de</strong>scribed will<br />

enable microbiologists to accurately i<strong>de</strong>ntify most Enterococcus species<br />

with a minimal number of conventional physiologic tests.<br />

Keywords: Enterococcus, i<strong>de</strong>ntification, biochemical tests<br />

Palavras-Chaves: Enterococcus, i<strong>de</strong>ntificação, testes<br />

bioquímicos<br />

Introdução<br />

A<br />

taxonomia dos Streptococcus<br />

tem mudado drasticamente<br />

ao longo dos últimos 20 anos.<br />

Baseado em estudos <strong>de</strong> homologia<br />

<strong>de</strong> DNA, o gênero foi dividido em três<br />

outros: Enterococcus, Lactococcus e<br />

Streptococcus (2, 10, 12, 18). Espécies<br />

adicionais têm sido <strong>de</strong>scritas<br />

e novas <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> espécies já<br />

conhecidas também. Estudos usando<br />

hibridização <strong>de</strong> DNA <strong>para</strong> diferenciar<br />

as espécies tem sido usados em combinação<br />

aos testes bacteriológicos<br />

convencionais, bem como o uso <strong>de</strong><br />

testes miniaturizados <strong>de</strong>sidratados<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>screver fenotipicamente novas<br />

espécies (4, 24, 25).<br />

O gênero Enterococcus é formado<br />

por bactérias Gram-positivas, anaeróbias<br />

facultativas, em forma <strong>de</strong> cocos<br />

ligeiramente ovais e po<strong>de</strong>m aparecer<br />

microscopicamente como ca<strong>de</strong>ias<br />

curtas, aos pares ou como células<br />

isoladas. Como os estreptococos,<br />

estas bactérias também são oxidase<br />

e catalase negativos. São ubíquos e<br />

po<strong>de</strong>m ser encontrados no solo, em<br />

plantas, em produtos industrializados<br />

a base <strong>de</strong> carne e leite e como parte da<br />

microbiota normal do trato gastrointestinal<br />

<strong>de</strong> humanos, cães, pássaros,<br />

ruminantes, suínos e outros animais.<br />

Os Enterococcus po<strong>de</strong>m causar infecções<br />

em uma ampla varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sítios anatômicos no homem, incluindo<br />

o trato urinário, corrente sanguínea,<br />

coração e infecções do trato biliar e<br />

intestinal, bem como feridas cirúrgicas<br />

e após queimaduras (17).<br />

Collins et al. (4) incluíram as<br />

210<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


espécies E. avium, E. casseliflavus,<br />

E. durans e E. gallinarum à lista das<br />

espécies clinicamente importantes<br />

pertencentes ao gênero Enterococcus.<br />

Posteriormente, 12 novas espécies<br />

foram <strong>de</strong>scritas. E. dispar, E. hirae,<br />

E. flavescens, E. mundtii e E. raffinosus<br />

têm sido isoladas <strong>de</strong> espécimes<br />

clínicos humanos e <strong>de</strong> outras fontes<br />

ambientais (11, 16). E. pseudoavium<br />

e E. saccharolyticus têm sido isolados<br />

<strong>de</strong> gado bovino e outros mamíferos.<br />

E. columbae e E. cecorum têm sido<br />

isolados <strong>de</strong> pombos e galinhas, respectivamente.<br />

E. sulfureus tem sido<br />

isolado <strong>de</strong> plantas (16). E. solitarius,<br />

isolado <strong>de</strong> otites <strong>de</strong> pacientes admitidos<br />

em um hospital público (16) e<br />

também a partir <strong>de</strong> ruminantes (20)<br />

é agora <strong>de</strong>nominado Tetragenococcus<br />

halophilus (27). Da mesma forma, E.<br />

seriolicida, isolado <strong>de</strong> peixes e mastite<br />

bovina, é agora <strong>de</strong>nominado Lactococcus<br />

garviae (26).<br />

Os estreptococos possuidores <strong>de</strong><br />

antígeno do grupo D <strong>de</strong> Lancefield<br />

eram, no passado, divididos em duas<br />

categorias: os enterococos e os nãoenterococos.<br />

Com a alocação dos<br />

enterococos em uma novo gênero,<br />

os estreptococos do grupo D são,<br />

atualmente, em termos <strong>de</strong> importância<br />

médica, representados pelo<br />

Streptococcus bovis. Esses microrganismos<br />

são positivos <strong>para</strong> o teste <strong>de</strong><br />

bile-esculina mas em geral negativos<br />

<strong>para</strong> os testes <strong>de</strong> crescimento na<br />

presença <strong>de</strong> 6,5% <strong>de</strong> NaCl e hidrólise<br />

do ácido piroglutâmico β-naftilamida,<br />

PYR (reações bioquímicas classicamente<br />

utilizadas <strong>para</strong> caracterizar os<br />

enterococos) (22).<br />

Apresentam sensibilida<strong>de</strong> a muitos<br />

antimicrobianos, sendo encontrados<br />

normalmente no trato gastrointestinal.<br />

Existe uma tendência <strong>de</strong> se encontrar<br />

o S. bovis associado ao câncer <strong>de</strong> intestino<br />

grosso e endocardite infecciosa<br />

(16). Além disso, outros cocos Grampositivos<br />

catalase(-) como Lactococcus<br />

e Leuconostoc também hidrolisam<br />

a esculina e po<strong>de</strong>m crescer em meio<br />

contendo 6,5% <strong>de</strong> NaCl. Procedimentos<br />

atuais <strong>para</strong> a diferenciação entre<br />

estas espécies são complexos e como<br />

consequência, muitos laboratórios não<br />

estão familiarizados principalmente<br />

com as várias espécies <strong>de</strong> enterococos<br />

e ten<strong>de</strong>m a i<strong>de</strong>ntificá-los incorretamente,<br />

pois muitos laboratórios não<br />

possuem testes <strong>de</strong> maior acurácia<br />

<strong>para</strong> a correta i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>stas<br />

espécies (21).<br />

Nos laboratórios clínicos, os enterococos<br />

têm sido i<strong>de</strong>ntificados presuntivamente<br />

durante anos pela sua<br />

aparência microscópica e em meios <strong>de</strong><br />

cultura sólidos, além da sua habilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> hidrolisar a esculina na presença <strong>de</strong><br />

bile e <strong>de</strong> crescer na presença <strong>de</strong> 6,5%<br />

<strong>de</strong> NaCl (7). Entretanto, pelo fato <strong>de</strong><br />

alguns enterococos necessitarem <strong>de</strong><br />

até 48 horas <strong>de</strong> incubação <strong>para</strong> que a<br />

reação ocorra corretamente (1) e ainda<br />

por ser freqüentemente necessária<br />

a sua rápida i<strong>de</strong>ntificação em casos<br />

como sepsis e endocardites, testes<br />

mais rápidos tem sido <strong>de</strong>scritos como<br />

forma <strong>de</strong> triagem <strong>para</strong> caracterizar<br />

se o coco Gram-positivo isolado é um<br />

enterococo ou não.<br />

Um <strong>de</strong>stes testes <strong>de</strong> triagem rápida<br />

utiliza esculina a 0,2% em uma solução<br />

tamponada <strong>de</strong> NaCl a 6,5%, com a<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> 239 (100%) enterococos<br />

positivos após 2 horas <strong>de</strong> incubação<br />

observando, também, que os S. bovis<br />

testados geraram resultados positivos<br />

somente após 6 horas <strong>de</strong> incubação<br />

(23). Muitos outros sistemas <strong>de</strong> triagem<br />

utilizam a habilida<strong>de</strong> dos enterococos<br />

<strong>de</strong> hidrolisar o PYR. Bosley et al. (1)<br />

relataram que todos os 78 enterococos<br />

testados (incluindo 32 E. faecalis, 28<br />

E. faecium, 13 E. avium e 5 E. durans)<br />

foram positivos após 4 horas <strong>de</strong> incubação.<br />

Várias formulações <strong>de</strong>ste teste tem<br />

sido sugeridas, resultando em reações<br />

positivas <strong>para</strong> os enterococos em até<br />

10 minutos (26). No entanto, trata-se<br />

<strong>de</strong> um teste que, quando usado isoladamente<br />

ou em conjunção somente<br />

com os testes <strong>de</strong> rotina (bile-esculina<br />

e NaCl 6,5%) não fornece informações<br />

úteis com relação a i<strong>de</strong>ntificação da<br />

espécie em estudo.<br />

Kits <strong>para</strong> realizar i<strong>de</strong>ntificações bioquímicas<br />

<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos<br />

raramente são fabricados no Brasil e,<br />

portanto, até o momento, a maioria<br />

é importada, elevando sobremaneira<br />

o custo final do exame, muitas vezes<br />

impraticável pelo retorno financeiro<br />

recebido da maioria dos convênios <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>. Exemplos <strong>de</strong>stes kits (manuais<br />

e automatizados) são: API 20 Strep e<br />

Rapid ID 32 Strep (bioMérieux, França),<br />

Strep-Zym (Rosco, Dinamarca), Pos<br />

Combo 21 (Da<strong>de</strong> Behring, EUA) (21).<br />

Material e Métodos<br />

Culturas<br />

Foram utilizados 128 isolados clínicos<br />

humanos <strong>de</strong> enterococos neste<br />

estudo (48 E. faecalis, 27 E. faecium,<br />

18 E. gallinarum, 12 E. casseliflavus, 8<br />

E. avium, 4 E. mundtii, 3 E. hirae, 2 E.<br />

durans, 2 E. raffinosus, 2 E. solitarius,<br />

2 E. malodoratus). Cepas padrão ATCC<br />

(American Type Culture Collection) foram<br />

incluídas em todos os testes como<br />

referência e controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (E.<br />

faecalis ATCC 29212, E. faecium ATCC<br />

27270, E. casseliflavus ATCC 25788,<br />

E. durans ATCC 49135, E. avium ATCC<br />

49464, E. gallinarum ATCC 49573, E.<br />

hirae ATCC 10541).<br />

Incluímos, ainda, 14 isolados clínicos<br />

<strong>de</strong> Streptococcus bovis e duas cepas<br />

padrão ATCC <strong>de</strong> S. bovis (ATCC 33317<br />

e 49133) como referência. Os isolados<br />

clínicos e as cepas padrão ATCC foram<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

211


semeados em placas <strong>de</strong> ágar sangue <strong>de</strong><br />

carneiro a 5% <strong>para</strong> checar sua pureza<br />

e repicadas <strong>para</strong> tubos contendo caldo<br />

Todd-Hewitt (Difco).<br />

Estoques das cepas foram mantidos<br />

a -70 o C em caldo Todd-Hewitt.<br />

A reativação das cepas do estoque<br />

ocorreu em caldo BHI (Difco) com<br />

incubação aeróbica a 35 o C. Após 18<br />

horas as amostras foram repicadas<br />

em placas <strong>de</strong> ágar sangue <strong>de</strong> carneiro<br />

a 5%, reincubadas aerobicamente a<br />

35 o C durante 24 horas e estas foram<br />

utilizadas <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong> todos<br />

os testes (8).<br />

Testes fisiológicos<br />

a) Triagem: tubos <strong>de</strong> poliestireno<br />

estéreis com 2 mL <strong>de</strong> meio <strong>de</strong><br />

triagem, <strong>de</strong>nominado ágar esculinasal-azida<br />

e outros contendo 1 mL <strong>de</strong><br />

ácido piroglutâmico β-naftilamida a<br />

0,01% em caldo Todd-Hewitt (Difco)<br />

foram utilizados <strong>para</strong> triagem dos enterococos<br />

(29). O meio <strong>de</strong> triagem foi<br />

<strong>de</strong>senvolvido a partir dos estudos <strong>de</strong><br />

Qadri et al. (23) modificado em nosso<br />

laboratório <strong>para</strong> obtenção <strong>de</strong> resultados<br />

positivos em menor tempo (1 a 2<br />

horas). O meio <strong>de</strong> esculina possui a<br />

seguinte formulação: esculina monohidratada<br />

(2,0 g), citrato férrico amoniacal<br />

(0,05 g), NaCl (65,0 g), peptona<br />

<strong>de</strong> caseína (10,0 g), azida sódica (0,2<br />

g) e ágar (13,0 g) em 1.000 mL <strong>de</strong><br />

água <strong>de</strong>ionizada. Ambos os meios <strong>de</strong><br />

triagem foram esterilizados a 121 o C<br />

durante 15 minutos antes <strong>de</strong> serem<br />

colocados assepticamente nos tubos<br />

<strong>de</strong> poliestireno, estes previamente<br />

esterilizados por óxido <strong>de</strong> etileno. Todas<br />

as cepas testadas (incluindo os S.<br />

bovis) foram inoculados nestes caldos,<br />

perfazendo suspensões com turbi<strong>de</strong>z<br />

equivalente ao tubo 3 da escala <strong>de</strong><br />

MacFarland e incubados em estufa<br />

bacteriológica a 35 o C durante 1 a 2<br />

horas. Após este período, as bactérias<br />

A<br />

A) Meio sem inocular<br />

B) E. gallinarum após 1hora <strong>de</strong><br />

incubação a 35-37 o C<br />

C) E. gallinarum após 2 horas <strong>de</strong><br />

incubação a 35-37 o C<br />

Figura 1. Reações dos enterococos no ágar<br />

esculina-sal-azida<br />

A<br />

B<br />

Figura 2. Reações dos enterococos<br />

no meio contendo ácido piroglutâmico<br />

ß-naftilamida<br />

que apresentaram coloração preta no<br />

ágar esculina-sal-azida (Figura 1) e<br />

hidrolisaram o PYR (aparecimento <strong>de</strong><br />

coloração vermelha (Figura 2) após a<br />

adição <strong>de</strong> uma gota <strong>de</strong> p-dimetilaminocinamal<strong>de</strong>ído)<br />

foram consi<strong>de</strong>radas<br />

presuntivamente como pertencentes<br />

ao gênero Enterococcus.<br />

b) Série bioquímica miniaturizada<br />

<strong>de</strong>sidratada: Cocos Grampositivos,<br />

catalase(-), cujos meios<br />

B<br />

A) E. faecalis (reação positiva)<br />

B) S. bovis (reação negativa)<br />

C<br />

apresentaram triagem positiva <strong>para</strong><br />

enterococos foram então inoculados<br />

no sistema miniaturizado proposto.<br />

Este sistema consiste em uma base<br />

plástica (placa <strong>de</strong> poliestireno estéril<br />

<strong>de</strong> 96 cavida<strong>de</strong>s com fundo “U”)<br />

contendo os substratos <strong>de</strong>sidratados<br />

(kit <strong>de</strong>nominado Enterococcus-ID).<br />

Escolhemos as provas que melhor<br />

diferenciassem as espécies <strong>de</strong> enterococos<br />

<strong>para</strong> a composição <strong>de</strong>ste kit<br />

(hidrólise da arginina, fermentação<br />

<strong>de</strong> arabinose, sorbitol, rafinose, lactose,<br />

sacarose e manitol). Os substratos<br />

foram <strong>de</strong>sidratados (Figura<br />

3) através <strong>de</strong> procedimento criado<br />

em nosso laboratório. O caldo <strong>para</strong><br />

a fermentação dos carboidratos foi<br />

formulado em nosso laboratório,<br />

consistindo em: peptona <strong>de</strong> caseína<br />

(10,0 g), extrato <strong>de</strong> levedura (3,0<br />

g), NaCl (5,0 g), vermelho <strong>de</strong> fenol<br />

(0,02 g), carboidrato (10,0 g), água<br />

<strong>de</strong>ionizada (1.000mL). A solução foi<br />

aquecida <strong>para</strong> a dissolução <strong>de</strong> todos<br />

os ingredientes e o pH foi ajustado a<br />

7,8 com solução <strong>de</strong> NaOH 1M. Todas<br />

as soluções foram esterilizadas por<br />

filtração (filtro <strong>de</strong> 0,22 µm, Millipore).<br />

Todos os isolados clínicos e as cepas<br />

<strong>de</strong> controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> foram inoculados<br />

em triplicata e incubados em<br />

estufa bacteriológica regulada a 35 o C<br />

durante 18-24 horas e os resultados<br />

foram interpretados e registrados<br />

(Figura 4).<br />

c) Provas bioquímicas convencionais:<br />

Foram utilizados os<br />

testes tradicionais empregados pela<br />

maioria dos laboratórios clínicos (ágar<br />

bile-esculina [Difco], caldo arginina<br />

<strong>de</strong>hidrolase segundo Moeller [Difco] e<br />

caldo nutriente [Merck] com 6,5% <strong>de</strong><br />

NaCl). Todos os isolados clínicos e as<br />

cepas <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> foram<br />

inoculados em triplicata e incubados<br />

em estufa bacteriológica regulada a<br />

35 o C durante 18-24 horas.<br />

212<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


A) Verso da placa B) Frente da placa<br />

Figura 3. Placa contendo os testes <strong>de</strong>sidratados<br />

Figura 5. Produção <strong>de</strong> pigmento amarelo<br />

por E. casseliflavus em meio sólido<br />

1) E. faecalis; 2) E. faecium; 3) E. casseliflavus;<br />

4) E. gallinarum; 5) E. durans; 6) E. avium<br />

Figura 4. Reações dos isolados no kit Enterococcus-ID<br />

Resultados<br />

Os resultados obtidos pelo kit miniaturizado<br />

proposto neste estudo foram<br />

consistentes com os dados da literatura<br />

(1, 8, 11, 14, 22) tanto <strong>para</strong> as cepas<br />

padrão ATCC usadas como controle<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> (Tabela 1) quanto <strong>para</strong><br />

aquelas isoladas <strong>de</strong> espécimes clínicos<br />

humanos (Tabelas 2, 3 e 4). Os testes<br />

<strong>de</strong> fermentação <strong>de</strong> carboidratos produziram<br />

uma cor amarela nítida <strong>para</strong> os<br />

resultados positivos e vermelha <strong>para</strong> os<br />

resultados negativos. O teste <strong>de</strong> hidrólise<br />

da arginina produziu cor vermelha<br />

<strong>para</strong> os resultados positivos e amarela<br />

<strong>para</strong> os resultados negativos.<br />

Resultados similares po<strong>de</strong>m ser encontrados<br />

com as provas bioquímicas<br />

do kit Enterococcus-ID quando são isolados<br />

E. faecium ou E. gallinarum como<br />

i<strong>de</strong>ntificados na Figura 4. No entanto, a<br />

cepa testada <strong>de</strong> E. faecium <strong>de</strong>monstrou<br />

reação atípica <strong>para</strong> a fermentação do<br />

sorbitol (somente 30% <strong>de</strong>stas espécies<br />

fermentam este carboidrato).<br />

Apesar <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> reação<br />

atípica, quando isso ocorreu pô<strong>de</strong>-se<br />

diferenciar as duas espécies utilizandose<br />

uma simples prova <strong>de</strong> motilida<strong>de</strong>,<br />

idêntica à usada em kits <strong>para</strong> i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> enterobactérias, uma vez<br />

que E. gallinarum apresenta reação (+)<br />

(móvel) e E. faecium é imóvel. Outra<br />

situação que po<strong>de</strong> ocorrer é a i<strong>de</strong>ntificação<br />

bioquímica <strong>de</strong> E. faecium e E.<br />

casseliflavus simultaneamente quando<br />

ambos fermentam o sorbitol. Apesar <strong>de</strong><br />

atípica, esta situação po<strong>de</strong> ser contornada<br />

com a i<strong>de</strong>ntificação correta <strong>de</strong> E.<br />

casseliflavus, pois esta espécie produz<br />

um pigmento amarelo quando um swab<br />

<strong>de</strong> algodão é passado sobre as colônias<br />

crescidas no meio sólido, principalmente<br />

no caso <strong>de</strong> isolamento primário em<br />

ágar sangue <strong>de</strong> carneiro (Figura 5).<br />

O grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> do teste<br />

<strong>de</strong> arginina é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do meio<br />

utilizado. Embora a maioria dos E.<br />

faecalis e E. faecium produzam reações<br />

positivas em meios convencionais<br />

como os <strong>de</strong> Falkow e Moeller, outros<br />

enterococos tem <strong>de</strong>monstrado reações<br />

tardias nestes meios, com relatos <strong>de</strong><br />

positivida<strong>de</strong> somente após 48 horas <strong>de</strong><br />

incubação (4, 12, 24), o que também<br />

foi evi<strong>de</strong>nciado neste estudo pela utilização<br />

do caldo <strong>de</strong> arginina <strong>de</strong>hidrolase<br />

segundo Moeller na bateria <strong>de</strong> testes<br />

convencionais com<strong>para</strong>tivos.<br />

214<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Tabela 1. Resultados dos testes bioquímicos das cepas padrão ATCC usadas como controle <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

Testes<br />

E. faecalis<br />

ATCC++<br />

29212<br />

E.<br />

faecium<br />

ATCC<br />

27270<br />

E.<br />

casseliflavus<br />

ATCC 25788<br />

E.<br />

durans<br />

ATCC<br />

49135<br />

E. avium<br />

ATCC<br />

49464<br />

E.<br />

gallinarum<br />

ATCC<br />

49573<br />

E. hirae<br />

ATCC<br />

10541<br />

S. bovis<br />

ATCC<br />

33317<br />

S.<br />

bovis<br />

ATCC<br />

49133<br />

Provas<br />

convencionais<br />

Ágar bileesculina<br />

+ + + + + + + + +<br />

(24 h)<br />

Caldo nutriente + + + + + + + + - -<br />

NaCl 6,5% (24 h)<br />

Kit proposto<br />

Triagem:<br />

ESC*-NaCl<br />

+ + + + + + + - -<br />

6,5% 1-2 h<br />

PYR** 1-2 h + + + + + + + - -<br />

Confirmativo:<br />

Arginina + + + + - + +<br />

Manitol + + + - + + -<br />

Arabinose - + + - + + -<br />

Sorbitol + - + - + - -<br />

Rafinose - + + - - + +<br />

Sacarose + + + - + + +<br />

Lactose + + + + + + +<br />

Adicional<br />

Pigmento - - + - - - -<br />

+: reação positiva (> 90%); -: reação negativa (< 10%); v: variável (+ ou -); *: ágar esculina-sal-azida; **: hidrólise do ácido piroglutâmico ß-naftilamida;<br />

++: cepa padrão (American Type Culture Collection)<br />

Tabela 2. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes em grupos #<br />

Provas bioquímicas (% positivos) a<br />

Espécies N o <strong>de</strong> isolados clínicos testados Grupo Manitol Sorbitol Arginina<br />

E. avium 12 1 + (100) + (97) - (0)<br />

E. raffinosus<br />

E. malodoratus<br />

E. faecalis 111 2 + (99) v (63) + (94)<br />

E. solitariusb<br />

E. gallinarum<br />

E. faecium<br />

E. casseliflavus<br />

E. mundtii<br />

E. durans 5 3 - (7) - (0) + (100)<br />

E. hirae<br />

#<br />

adaptado da referência (8) ; a +: reação positiva; -: reação negativa; v: reação variável (algumas cepas + e outras -); b nova <strong>de</strong>nominação: Tetragenococcus<br />

halophilus<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

215


Todas as cepas <strong>de</strong> E. mundtii e<br />

E. casselifalvus (incluindo as cepas<br />

padrão ATCC) apresentaram reação<br />

positiva no meio <strong>de</strong> Moeller somente<br />

após 48 horas <strong>de</strong> incubação, ao passo<br />

que todas foram positivas após 18-24<br />

horas <strong>de</strong> incubação no kit miniaturizado<br />

proposto, evi<strong>de</strong>nciando que a<br />

modificação da formulação foi extremamente<br />

benéfica e influenciou positivamente<br />

a performance do teste.<br />

Classicamente, os laboratórios clínicos<br />

que utilizam somente os testes <strong>de</strong><br />

bile-esculina e caldo nutriente com 6,5%<br />

<strong>de</strong> NaCl ten<strong>de</strong>m a classificar a bactéria<br />

em estudo como “estreptococo do grupo<br />

D – enterococo” quando ocorrem reações<br />

positivas em ambos os testes e como<br />

“estreptococo do grupo D – não enterococo”<br />

quando somente a reação <strong>de</strong> bileesculina<br />

é positiva. Entretanto, esta classificação<br />

mínima po<strong>de</strong> ser perigosamente<br />

falha, uma vez que diversos estudos já<br />

relataram cepas <strong>de</strong> E. faecalis, E. faecium<br />

e E. avium incapazes <strong>de</strong> crescer em caldo<br />

nutriente contendo 6,5% <strong>de</strong> NaCl após 24<br />

horas <strong>de</strong> incubação (11, 13, 14).<br />

Com o uso do teste <strong>de</strong> PYR aliado<br />

ao meio esculina-azida-sal conforme<br />

proposto neste estudo, 100% das<br />

cepas pu<strong>de</strong>ram ser presuntivamente<br />

classificadas como pertencentes aos<br />

gênero Enterococcus. Todas as cepas<br />

<strong>de</strong> S. bovis (incluindo as <strong>de</strong> controle<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>) geraram resultados<br />

negativos em ambos os testes <strong>de</strong><br />

triagem e, portanto, foram excluídas<br />

da inoculação na bateria <strong>de</strong> provas<br />

posterior.<br />

Facklam et al. (8) também propuseram<br />

a utilização <strong>de</strong> um esquema simplificado<br />

<strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies<br />

<strong>de</strong> Enterococcus, utilizando um número<br />

maior <strong>de</strong> testes bioquímicos. Com o kit<br />

miniaturizado proposto neste estudo,<br />

pô<strong>de</strong>-se dividir as espécies mais importantes<br />

clinicamente <strong>para</strong> o homem em<br />

três grupos, utilizando um número me-<br />

Tabela 3. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes pertencentes ao grupo 1 #<br />

Espécies<br />

N o <strong>de</strong> isolados<br />

clínicos testados<br />

Provas bioquímicas (% positivos) a<br />

Manitol Sorbitol Arginina Arabinose Rafinose<br />

E. avium 8 + (100) + (100) - (0) + (99) - (0)<br />

E. raffinosus 2 + (100) + (100) - (0) + (100) + (100)<br />

E. malodoratus 2 + (100) + (100) - (0) + (100) + (100)<br />

#<br />

adaptado da referência (8); a +: reação positiva; -: reação negativa<br />

Tabela 4. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes pertencentes ao grupo 2 #<br />

Espécies<br />

N o <strong>de</strong> isolados<br />

clínicos testados<br />

Provas bioquímicas (% positivos) a<br />

Manitol Arginina Arabinose Sorbitol Lactose Pigmento<br />

E. faecalis 48 + (100) + (96) - (0) + (98) + (100) - (0)<br />

E. solitariusb 2 + (98) + (94) - (0) + (98) - (30) - (0)<br />

E. gallinarum 18 + (100) + (94) + (100) - (0) + (100) - (0)<br />

E. faecium 27 + (100) + (92) + (100) v (30)c + (100) - (0)<br />

E. casseliflavus 12 + (98) + (94) + (100) v (48) + (100) + (100)<br />

E. mundtii 4 + (100) + (96) + (100) v (51) - (0) + (100)<br />

#<br />

adaptado da referência (8) ; a +: reação positiva; -: reação negativa; v: reação variável (algumas cepas + e outras -) ; b nova <strong>de</strong>nominação: Tetragenococcus halophilus<br />

c<br />

nos casos <strong>de</strong> reação negativa, a diferenciação <strong>de</strong> E. gallinarum se dá pelo uso da prova <strong>de</strong> motilida<strong>de</strong> (E. faecium é imóvel e E. gallinarum é móvel)<br />

Tabela 5. Diferenciação das espécies <strong>de</strong> Enterococcus clinicamente relevantes pertencentes ao grupo 3 #<br />

Espécies<br />

N o <strong>de</strong> isolados<br />

clínicos<br />

testados<br />

Provas bioquímicas (% positivos) a<br />

Manitol Sorbitol Arginina Sacarose Rafinose<br />

E. durans 2 - (8) - (0) + (100) - (0) - (0)<br />

E. hirae 3 - (6) - (0) + (100) + (88) v (75)<br />

#<br />

adaptado da referência (8); a +: reação positiva; -: reação negativa; v: reação variável (algumas cepas + e outras -)<br />

216<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


nor <strong>de</strong> provas. A partir das informações<br />

preliminares <strong>de</strong> fermentação do manitol<br />

e do sorbitol e da hidrólise da arginina<br />

(Tabela 2) pô<strong>de</strong>-se dividir as espécies em<br />

três grupos distintos e somente a utilização<br />

das provas <strong>de</strong> cada grupo (Tabelas<br />

3, 4 e 5) é suficiente <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />

da espécie em estudo. A utilização dos<br />

dados apresentados nas Tabelas 2, 3 e<br />

4 permitiram a i<strong>de</strong>ntificação correta <strong>de</strong><br />

100% das espécies avaliadas.<br />

Discussão<br />

Nos anos 1970 e 1980 os enterococos<br />

foram reconhecidos como<br />

patógenos importantes causadores <strong>de</strong><br />

infecções hospitalares. Eles são intrinsecamente<br />

resistentes a muitos antimicrobianos<br />

(como cefalosporinas, sulfas<br />

e clindamicina), com as concentrações<br />

inibitórias mínimas <strong>de</strong>stas drogas sendo<br />

muito maiores do que <strong>para</strong> a maioria<br />

dos estreptococos. Eles também são<br />

resistentes a baixos níveis <strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os<br />

e têm adquirido resistência<br />

ao cloranfenicol e eritromicina (21).<br />

Em 1973 foram <strong>de</strong>scritos os primeiros<br />

casos <strong>de</strong> enterococos resistentes a altos<br />

níveis <strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os, bem como<br />

às combinações sinérgicas <strong>de</strong> aminoglicosí<strong>de</strong>os<br />

e inibidores da formação <strong>de</strong><br />

pare<strong>de</strong> celular (19). A aquisição <strong>de</strong> genes<br />

<strong>de</strong> resistência a vancomicina, droga<br />

usada <strong>para</strong> tratar infecções causadas<br />

por cocos Gram-positivos resistentes<br />

a outros antibióticos, tem sido <strong>de</strong>scrita<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início dos anos 80 (22).<br />

Inicialmente três tipos <strong>de</strong> resistência<br />

foram bem estudados e <strong>de</strong>scritos<br />

(VanA, VanB e VanC) (28). A resistência<br />

adquirida <strong>de</strong> E. faecalis e E. faecium é<br />

<strong>de</strong>vida principalmente a VanA, VanB e<br />

VanD. A resistência adquirida <strong>de</strong>vida a<br />

VanA também tem sido encontrada em<br />

E. avium, E. durans, E. hirae, E. mundtii<br />

e E. raffinosus. A resistência <strong>de</strong> E.<br />

gallinarum, E. casseliflavus e E. flavescens<br />

a vancomicina po<strong>de</strong> ser intrínseca<br />

<strong>de</strong>vido a presença <strong>de</strong> VanC1 e VanC2 ou<br />

adquirida <strong>de</strong>vido a VanA (19). A correta<br />

i<strong>de</strong>ntificação das espécies <strong>de</strong> enterococos<br />

(e, portanto, possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma<br />

correta intervenção terapêutica), tais<br />

como E. gallinarum e E. casseliflavus,<br />

tem tido cada vez mais importância no<br />

laboratório clínico, principalmente <strong>de</strong>vido<br />

a resistência intrínseca <strong>de</strong> baixo nível aos<br />

glicopeptí<strong>de</strong>os apresentada por estas espécies<br />

e a dificulda<strong>de</strong> em diferenciá-las<br />

<strong>de</strong> E. faecium somente com os testes <strong>de</strong><br />

rotina. Além disso, os testes <strong>de</strong> discodifusão<br />

convencionais não <strong>de</strong>tectam este<br />

nível <strong>de</strong> resistência.<br />

Alternativas <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos têm sido<br />

propostas (3, 4, 8, 12), baseadas nos<br />

testes <strong>de</strong> motilida<strong>de</strong> e produção <strong>de</strong> pigmento<br />

pelas colônias. E. casseliflavus,<br />

por exemplo, é móvel e produz colônias<br />

com pigmento amarelo; E. mundtii<br />

também produz pigmento amarelo<br />

mas é imóvel; E. gallinarum é também<br />

imóvel mas não produz pigmento amarelo<br />

e outras espécies <strong>de</strong> enterococos<br />

apresentam resultados negativos <strong>para</strong><br />

ambos os testes (3, 5).<br />

Outros testes como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

crescimento em pH 9,6 em meios hipertônicos,<br />

redução do azul <strong>de</strong> metileno<br />

em caldo a base <strong>de</strong> leite, resistência ao<br />

telurito <strong>de</strong> potássio, redução do cloreto<br />

<strong>de</strong> 2,3,5 trifenil tetrazólio (TTC), <strong>de</strong>scarboxilação<br />

da tirosina, produção <strong>de</strong> ácido<br />

a partir <strong>de</strong> metil-α-D-glicopiranosí<strong>de</strong>o e<br />

susceptibilida<strong>de</strong> a efrotomicina também<br />

tem sido <strong>de</strong>scritos e oficialmente aceitos<br />

(15). No entanto, <strong>para</strong> o laboratório clínico<br />

<strong>de</strong> rotina, estes testes po<strong>de</strong>m gerar<br />

gran<strong>de</strong> variação em sua performance<br />

além <strong>de</strong> serem <strong>de</strong> difícil execução e<br />

padronização (5,6).<br />

A habilida<strong>de</strong> dos enterococos em<br />

crescer sob condições particulares é<br />

amplamente usada em seu isolamento<br />

seletivo. Estas características permitem<br />

a <strong>de</strong>tecção e enumeração dos<br />

enterococos utilizando meios seletivos<br />

(por exemplo, ágar M-Enterococcus ou<br />

ágar KF-Streptococcus) e ainda pelo<br />

uso <strong>de</strong> ágar bile-esculina-azida sódica<br />

como teste posterior confirmatório.<br />

Embora estes procedimentos possam<br />

distinguir os enterococos <strong>de</strong> outras<br />

bactérias, muitos isolados po<strong>de</strong>m ser<br />

incorretamente i<strong>de</strong>ntificados (6). Além<br />

disso, outras espécies (como S. bovis,<br />

Lactococcus e Leuconostoc) também<br />

são capazes <strong>de</strong> crescer nestes meios,<br />

apresentando resultados similares<br />

àqueles dos enterococos. Recentemente,<br />

muitos autores tem <strong>de</strong>scrito métodos<br />

moleculares <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> enterococos, baseados<br />

principalmente no uso <strong>de</strong> sondas <strong>de</strong><br />

oligonucleotí<strong>de</strong>os marcadas (2, 18, 26).<br />

No entanto, os métodos convencionais<br />

ainda são baseados em características<br />

fisiológicas, especialmente pelo fato<br />

<strong>de</strong> a gran<strong>de</strong> maioria dos laboratórios<br />

clínicos não terem condições financeiras<br />

<strong>para</strong> implementar tais sistemas <strong>de</strong><br />

biologia molecular em seus serviços<br />

microbiológicos <strong>de</strong> rotina (21).<br />

Não fosse pelos testes <strong>de</strong> triagem,<br />

o kit proposto neste estudo não po<strong>de</strong>ria<br />

evitar erros <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do gênero<br />

Enterococcus pois foi <strong>de</strong>senvolvido <strong>para</strong><br />

a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> espécies. Portanto, a<br />

inclusão dos testes <strong>de</strong> triagem tornouse<br />

fundamental <strong>para</strong> a correta acurácia<br />

do kit como um todo, evitando principalmente<br />

a i<strong>de</strong>ntificação incorreta <strong>de</strong><br />

S. bovis como pertencente ao gênero<br />

Enterococcus. Com o uso dos testes<br />

<strong>de</strong> rotina ainda hoje utilizados por<br />

muitos laboratórios, esta bactéria é<br />

facilmente confundida com um enterococo,<br />

levando a erros grosseiros <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntificação, po<strong>de</strong>ndo ocasionar confusão<br />

no antibiograma a ser liberado<br />

<strong>para</strong> o médico e até mesmo influenciar<br />

negativamente a correta instalação da<br />

terapêutica antibiótica.<br />

218<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Conclusão<br />

O kit miniaturizado e <strong>de</strong>sidratado<br />

proposto neste estudo, aliado aos testes<br />

<strong>de</strong> triagem com o meio esculina-azida-sal<br />

e caldo Todd-Hewitt com ácido piroglu-<br />

tâmico β-naftilamida, gerou resultados<br />

consistentes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação das espécies<br />

avaliadas, sendo uma forma confiável,<br />

econômica e rápida <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />

bioquímica <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> Enterococcus<br />

clinicamente relevantes <strong>para</strong> o homem.<br />

En<strong>de</strong>reço <strong>para</strong> correspondência:<br />

Prof. Carlos Henrique Pessôa<br />

<strong>de</strong> Menezes e Silva<br />

carloshenrique@cetan.com.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

2.<br />

3.<br />

4.<br />

5.<br />

6.<br />

7.<br />

8.<br />

9.<br />

10.<br />

11.<br />

12.<br />

13.<br />

14.<br />

15.<br />

16.<br />

17.<br />

18.<br />

19.<br />

20.<br />

21.<br />

22.<br />

23.<br />

24.<br />

25.<br />

26.<br />

27.<br />

28.<br />

29.<br />

Bosley GS, Facklam RR, Grossman D. Rapid i<strong>de</strong>ntification of enterococci. J. Clin. Microbiol. 18:1275-1277, 1983.<br />

Coykendall AL, Gustafson KB. Deoxyribonucleic acid hybridizations among strains of Streptococcus salivarius and Streptococcus bovis.<br />

Int. J. Syst. Bacteriol. 35:274-280, 1985.<br />

Collins MD, Farrow JAE, Jones D. Enterococcus mundtii sp. nov. Int. J. Syst. Bacteriol. 36:8-12, 1986.<br />

Collins MD. et al. Enterococcus avium nom. rev., comb. nov.: E. casseliflavus nom. rev., comb. nov.; E. durans nom. rev., comb. nov.; E. gallinarum<br />

comb. nov.; and E. malodoratus sp. nov. Int. J. Syst. Bacteriol. 34:220-223, 1984.<br />

Deibel RH, Lake DE, Niven Jr. CF. Physiology of the enterococci as related to their taxonomy. J. Bacteriol. 86:1275-1282, 1963.<br />

Facklam RR. Comparison of several laboratory media for presumptive i<strong>de</strong>ntification of enterococci and group D streptococci. Appl.<br />

Microbiol. 26:138-145, 1973.<br />

Facklam RR. Recognition of group D streptococcal species of human origin by biochemical and physiological tests. Appl. Microbiol.<br />

23:1131-1139, 1972.<br />

Facklam RR, Collins MD. I<strong>de</strong>ntification of Enterococcus species isolated from human infections by a conventional test scheme. J. Clin.<br />

Microbiol. 27:731-734, 1989.<br />

Fay GD, Barry AL. Rapid ornithine <strong>de</strong>carboxylase test for the i<strong>de</strong>ntification of Enterobacteriaceae. Appl. Microbiol. 23:710-713, 1972.<br />

Facklam RR. The major differences in the American and British Streptococcus taxonomy schemes with special reference to Streptococcus<br />

milleri. Eur. J. Clin. Microbiol. 3:91-93, 1984.<br />

Facklam RR, Sahm DF. Enterococcus, p. 308-314. In P. R. Murray, E. J. Baron, M. A. Pfaller, F. C. Tenover, and R. H. Yolken (ed.), Manual of<br />

clinical microbiology, 6th ed. American Society for Microbiology, Washington, D.C., 1995.<br />

Farrow JAE, Collins MD. Enterococcus hirae, a new species that inclu<strong>de</strong>s amino acid assay strain NCDO 1258 and strains causing<br />

growth <strong>de</strong>pression in young chickens. Int. J. Syst. Bacteriol. 35:73-75, 1985.<br />

Gross KC, Houghton MP, Senterfit LB. Presumptive speciation of Streptococcus bovis and other group D streptococci from human<br />

sources by using arginine and pyruvate tests. J. Clin. Microbiol. 1:54-60, 1975.<br />

Giglio MS et al. I<strong>de</strong>ntification of Enterococcus species from clinical samples and their antimicrobial susceptibility. Rev. Med. Chile<br />

124:70-76, 1996.<br />

Holt JG et al. Bergey’s manual of <strong>de</strong>terminative bacteriology (international edition). 9th ed. Baltimore, William & Wilkins, 1994.<br />

Janda WM. 1994. Streptococci and “Streptococcus-like” bacteria: old friends and new species. Clin. Microbiol. Newsl. 16:161-170.<br />

Jett BD, Huycke MM, Gilmore MS. Virulence of enterococci. Clin. Microbiol. Rev. 7:462-478, 1994.<br />

Knight RG, Shlaes DM, Messineo L. Deoxyribonucleic acid relatedness among major human enterococci. Int. J. Syst. Bacteriol. 34:327-<br />

331, 1984.<br />

Leclercq R, Courvalin P. Resistance to glycopepti<strong>de</strong>s in enterococci. Clin. Infect. Dis. 24:545-556, 1997.<br />

Laukova A, Koniarova I. Survey of urease activity in ruminal bacteria isolated from domestic and wild ruminants. Microbios 84:7-11,<br />

1995.<br />

Menezes e Silva CHP, Neufeld PM. Bacteriologia e Micologia <strong>para</strong> o laboratório clínico. 1ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Ed. Revinter, 2006.<br />

Murray BE. The life and times of the Enterococcus. Clin. Microbiol. Rev. 3:46-65, 1990.<br />

Qadri SMH, Flournoy DJ, Qadri SGM. Sodium chlori<strong>de</strong>-esculin hydrolysis test for rapid i<strong>de</strong>ntification of enterococci. J. Clin. Microbiol.<br />

25:1107-1108, 1987.<br />

Schieifer KH, Kilpper-Balz R. Transfer of Streptococcus faecalis and Streptococcus faecium to the genus Enterococcus nom. rev. as<br />

Enterococcus faecalis comb. nov. and Enterococcus faecium comb. nov. Int. J. Syst. Bacteriol. 34:31-34, 1984.<br />

25. Schieifer KH et al. Transfer of Streptococcus lactis and related streptococci to the genus Lactococcus gen. nov. Syst. Apple. Microbiol.<br />

6:183-195, 1985.<br />

Teixeira LM et al. Phenotypic and genotypic characterization of atypical Lactococcus garvieae strains isolated from water buffalos with<br />

subclinical mastitis and confirmation of L. garvieae as a senior subjective synonym of Enterococcus seriolicida. Int. J. Syst. Bacteriol.<br />

46:664-668, 1996.<br />

Williams AM, Rodrigues UM, Collins MD. Intrageneric relationships of enterococci as <strong>de</strong>termined by reverse transcriptase sequencing<br />

of small-subunit rRNA. Res. Microbiol. 142:67-74, 1991.<br />

Woodford N et al. Current perspectives on glycopepti<strong>de</strong> resistance. Clin. Microbiol. Rev. 8:585-615, 1995.<br />

Wellstood SA. Rapid, cost-effective i<strong>de</strong>ntification of group A streptococci and enterococci by pyrrolidonyl-3-naphthylami<strong>de</strong> hydrolysis. J.<br />

Clin. Microbiol. 25:1805-1806, 1987.<br />

220<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Artigo<br />

Leishmaniose Visceral em Sergipe:<br />

Perfil Epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong> 2001 a 2006<br />

Ana Maria Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Brito 1 , Ana Cláudia <strong>de</strong> Brito Câmara 2 , Sheyla Alves Rodrigues 3 , Verônica <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Scierpe Jeraldo 4<br />

1 - Mestre em Saú<strong>de</strong> e Ambiente. Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes, Professora <strong>de</strong> Parasitologia da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes<br />

2 - Acadêmica do Curso <strong>de</strong> Medicina da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alagoas<br />

3 - Doutoranda pelo Curso <strong>de</strong> Doutorado em Biotecnologia da Re<strong>de</strong> Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Biotecnologia. Professora da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes.<br />

Pesquisadora do Instituto <strong>de</strong> Tecnologia e Pesquisa – ITP<br />

4 - Doutora em Parasitologia, Professora da Universida<strong>de</strong> Tira<strong>de</strong>ntes. Pesquisadora do Instituto <strong>de</strong> Tecnologia e Pesquisa – ITP<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Leishmaniose visceral em Sergipe: perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />

<strong>de</strong> 2001 a 2006<br />

Este trabalho objetivou <strong>de</strong>screver o perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />

da leishmaniose visceral em Sergipe, Brasil, <strong>de</strong> 2001 a 2006.<br />

Os dados foram obtidos no Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Agravos<br />

Notificados (SINAN). Observaram-se 230 casos <strong>de</strong> leishmaniose<br />

visceral, distribuídos em 41 municípios, sendo que as maiores<br />

incidências foram em Aracaju (85) e Estância (31). A faixa etária<br />

mais acometida foi <strong>de</strong> um a cinco anos (28,26%), seguida <strong>de</strong><br />

20 a 40 anos (25,65%). As técnicas utilizadas <strong>para</strong> diagnóstico<br />

laboratorial foram <strong>para</strong>sitológica e imunológica. Quanto à<br />

zona <strong>de</strong> residência dos portadores, foi notificada como urbana<br />

(50%). A raça/cor <strong>de</strong> maior ocorrência foi a parda (59,10%). A<br />

escolarida<strong>de</strong> dos portadores <strong>de</strong>stacou-se <strong>de</strong> quatro a sete anos<br />

concluídos (47,85%). Quanto ao <strong>de</strong>sfecho da doença, evoluíram<br />

<strong>para</strong> cura 76,96%. O perfil epi<strong>de</strong>miológico obtido neste estudo<br />

servirá como base <strong>para</strong> justificar a adoção <strong>de</strong> estratégias visando<br />

à profilaxia, controle dos reservatórios e vetores da leishmaniose<br />

visceral em Sergipe.<br />

Palavras-chave: Leishmaniose visceral, perfil epi<strong>de</strong>miológico,<br />

Sergipe<br />

Visceral leishmaniasis in Sergipe: epi<strong>de</strong>miological<br />

profile from 2001 to 2006<br />

This paper inten<strong>de</strong>d to <strong>de</strong>scribe the epi<strong>de</strong>miological profile of<br />

visceral leishmaniasis in Sergipe, Brazil from 2001 to 2006. The<br />

data was obtained from the Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Agravos<br />

Notificados (SINAN). There were 230 cases of visceral leishmaniasis,<br />

spread in 41 towns, with the greatest impact in Aracaju<br />

(85) and Estância (31). The age bracket most affected was 1 to 5<br />

years old (28.26%), followed by 20 to 40 years old (25,65%). The<br />

techniques used for laboratory diagnosis were <strong>para</strong>sitological and<br />

immunological. Concerning the area of resi<strong>de</strong>nce for those people<br />

was notified as urban (50%). The race/color of greater occurrence<br />

was the brown color (59,10%). Their schooling is mostly from 4 to<br />

7 years completed (47.85%). Regarding the outcome of the disease,<br />

evolved for cure (76.96%). The epi<strong>de</strong>miological profile obtained<br />

in this study will serve as basis to justify the adoption of strategies<br />

aimed at prophylaxis, control of reservoirs and vectors of visceral<br />

leishmaniasis in Sergipe.<br />

Keywords: Visceral leishmaniasis, epi<strong>de</strong>miological profile,<br />

Sergipe<br />

Introdução<br />

A<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento tem sido<br />

historicamente atribuída a<br />

incumbência <strong>de</strong> melhorar a<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das comunida<strong>de</strong>s.<br />

Entretanto, no Brasil, o que se tem<br />

observado é o aumento da incidência<br />

<strong>de</strong> doenças infecciosas que estão<br />

diretamente atreladas às precárias<br />

condições <strong>de</strong> vida e sua disseminação<br />

está relacionada com a <strong>de</strong>gradação ambiental,<br />

permitindo maior circulação dos<br />

<strong>para</strong>sitos (Tavares; Tavares , 1999).<br />

O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento<br />

atualmente adotado tem se caracterizado<br />

pela ausência <strong>de</strong> políticas que<br />

levem em consi<strong>de</strong>ração as condições<br />

em que vive a população brasileira<br />

e que promovam a organização do<br />

espaço social. Sem isso, o que tem<br />

144<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


ocorrido é a ocupação <strong>de</strong> novas áreas<br />

e a invasão do ambiente natural<br />

<strong>de</strong> forma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada, promovendo<br />

mudanças que acarretam em<br />

<strong>de</strong>sequilíbrio ecológico, expondo<br />

as populações ao risco <strong>de</strong> contrair<br />

infecções por microrganismos que<br />

circulam nos focos naturais (Mello,<br />

1991).<br />

Des<strong>de</strong> 1934, casos <strong>de</strong> leishmaniose<br />

visceral (LV) humana vêm sendo<br />

registrados no estado <strong>de</strong> Sergipe.<br />

Em 1936, no município <strong>de</strong> Aracaju,<br />

o Dr. Evandro Chagas diagnosticou<br />

o primeiro caso, em vida, da doença<br />

no Brasil. Tratava-se <strong>de</strong> um indivíduo<br />

<strong>de</strong> 16 anos, em cuja família havia<br />

ocorrido dois óbitos, com os mesmos<br />

sintomas (Chagas, 1936).<br />

Segundo Michalick e Genaro<br />

(2005), a LV é uma doença sistêmica<br />

que atinge as células do<br />

sistema mononuclear fagocitário<br />

do homem, sendo os órgãos mais<br />

afetados o baço, fígado, linfonodos,<br />

medula óssea e pele. Outros órgãos<br />

e tecidos po<strong>de</strong>m também ser atingidos,<br />

por exemplo, o intestino e<br />

os pulmões. Em casos avançados<br />

da doença praticamente todos os<br />

órgãos são acometidos. Afirmam<br />

ainda os autores que se trata <strong>de</strong><br />

uma doença grave, <strong>de</strong> alta letalida<strong>de</strong>,<br />

sendo que sua mortalida<strong>de</strong> nos<br />

casos humanos não tratados po<strong>de</strong><br />

alcançar <strong>de</strong> 70% a 90%.<br />

A LV possui como agente etiológico<br />

um protozoário que nas Américas a<br />

espécie responsabilizada <strong>de</strong>nomina-se<br />

Leishmania chagasi, transmitida ao<br />

homem pela picada <strong>de</strong> artrópodas fêmeas<br />

infectadas da espécie Lutzomyia<br />

longipalpis presentes em todos os<br />

países da América Latina, exceto no<br />

Chile (Canela et al., 2004; Camargo;<br />

Langone, 2006).<br />

Em 1983 foi realizado o levantamento<br />

e mapeamento das espécies<br />

flebotomínicas existentes em Sergipe,<br />

sendo constatado que o vetor<br />

Lutzomyia longipalpis encontrava-se<br />

disseminado em 38 municípios distribuídos<br />

em todas as regiões do estado<br />

(Aguiar, 1983).<br />

De acordo com o Ministério da<br />

Saú<strong>de</strong> (2003), o Brasil enfrenta atualmente<br />

a expansão e urbanização da<br />

LV com casos humanos e gran<strong>de</strong> número<br />

<strong>de</strong> cães positivos (consi<strong>de</strong>rado<br />

este último o principal reservatório no<br />

Brasil) em várias cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> e<br />

médio portes. O ciclo <strong>de</strong> transmissão<br />

que anteriormente ocorria no ambiente<br />

silvestre e rural, hoje também se<br />

<strong>de</strong>senvolve em centros urbanos.<br />

Duas décadas após o registro da<br />

primeira epi<strong>de</strong>mia urbana em Teresina<br />

(PI), o processo <strong>de</strong> urbanização<br />

se intensificou com a ocorrência <strong>de</strong><br />

importantes epi<strong>de</strong>mias em várias<br />

cida<strong>de</strong>s da região Norte (Boa Vista e<br />

Santarém), Su<strong>de</strong>ste (Belo Horizonte<br />

e Montes Claros), Centro-Oeste<br />

(Cuiabá e Campo Gran<strong>de</strong>) e Nor<strong>de</strong>ste<br />

(São Luis e Natal). Em Sergipe, a<br />

ocorrência <strong>de</strong> casos autóctones já<br />

foi notificada em 67 dos 75 municípios,<br />

distribuídos nas diferentes<br />

regiões, on<strong>de</strong> se encontra uma gran<strong>de</strong><br />

diversida<strong>de</strong> quanto aos aspectos<br />

ambientais.<br />

Mediante o exposto, o presente estudo<br />

objetivou avaliar o perfil da leishmaniose<br />

visceral no Estado <strong>de</strong> Sergipe<br />

entre os anos <strong>de</strong> 2001 e 2006.<br />

Metodologia<br />

Foi realizado um estudo longitudinal,<br />

<strong>de</strong>scritivo e retrospectivo da<br />

leishmaniose visceral no período <strong>de</strong><br />

2001 a 2006 no estado <strong>de</strong> Sergipe.<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>senvolvida na Coor<strong>de</strong>nação<br />

<strong>de</strong> Vigilância Epi<strong>de</strong>miológica<br />

da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong><br />

Sergipe (SES-SE), através da análise<br />

dos dados informatizados consolidados<br />

no Sistema <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong><br />

Agravos Notificáveis (SINAN), que<br />

é um software disponibilizado pelo<br />

Ministério da Saú<strong>de</strong> <strong>para</strong> todos os<br />

estados e municípios brasileiros, com<br />

a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informar as patologias<br />

elencadas como <strong>de</strong> notificação<br />

compulsória.<br />

Os dados avaliados foram: número<br />

total <strong>de</strong> casos confirmados,<br />

procedência dos casos, faixas etárias<br />

e gênero dos portadores, técnicas<br />

utilizadas <strong>para</strong> diagnóstico, zona <strong>de</strong><br />

residência, raça/cor, escolarida<strong>de</strong> dos<br />

acometidos e <strong>de</strong>sfecho dos casos. A<br />

análise dos dados constou <strong>de</strong> distribuições<br />

<strong>de</strong> freqüências, apresentadas<br />

em gráficos e tabelas.<br />

Resultados<br />

No período <strong>de</strong> 2001 a 2006<br />

foram registrados 230 casos <strong>de</strong><br />

leishmaniose visceral no estado <strong>de</strong><br />

Sergipe, distribuídos em 41 municípios<br />

(Tabela 1). Os municípios com<br />

maior número <strong>de</strong> casos notificados<br />

foram, respectivamente, Aracaju<br />

(58), Estância (31), Canindé do São<br />

Francisco (16), Lagarto e Aquidabã<br />

(7) e Gararu (6).<br />

Os <strong>de</strong>mais variaram <strong>de</strong> um a cinco<br />

casos (Tabela 1). Em relação ao número<br />

<strong>de</strong> casos notificados ao longo<br />

dos anos (Figura 1), observou-se que<br />

os maiores ocorreram em 2005 (44) e<br />

2006 (51) e, o menor, em 2003, com<br />

17 casos notificados.<br />

No que concerne ao gênero dos<br />

portadores, 60,43% (139) foram<br />

masculinos (Figura 2). A faixa etária<br />

mais acometida foi <strong>de</strong> um a cinco<br />

anos [28,26% (36)] e, a menor, em<br />

indivíduos maiores <strong>de</strong> 70 anos [0,46%<br />

(01)] (Tabela 2).<br />

146<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Tabela 1. Casos confirmados <strong>de</strong> leishmaniose visceral por município <strong>de</strong> procedência em Sergipe <strong>de</strong> 2001-2006<br />

Municípios 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total<br />

Amparo <strong>de</strong> S. Francisco 1 - 1 - - - 2<br />

Aquidabã 2 5 - - - - 7<br />

Aracaju 7 11 7 15 20 25 85<br />

Areia Branca - - - 2 2 - 4<br />

Barra do Coqueiro - - - - 1 2 3<br />

Boquim - - - - 1 - 1<br />

Brejo Gran<strong>de</strong> 1 - - - - - 1<br />

Campo do Brito 1 - - - - 1 2<br />

Canindé do S. Francisco 2 6 1 1 3 3 16<br />

Capela - - 1 - - - 1<br />

Carira - 1 - 1 1 - 3<br />

Divina Pastora - - - - - 1 1<br />

Estância 7 2 3 7 5 7 31<br />

Feira Nova - 1 - - - - 1<br />

Gararu - - - 1 4 1 6<br />

Indiaroba 1 - - - - - 1<br />

Itabaiana 1 1 1 - - - 3<br />

Itabaianinha - - - - 1 - 1<br />

Itabi - - - - - 1 1<br />

Itaporanga D’Juda 2 1 - - - 1 4<br />

Jaboatão 1 2 - - - - 3<br />

Ja<strong>para</strong>tuba - - 1 - - - 1<br />

Lagarto 4 1 - - 1 1 7<br />

Laranjeira - 1 1 - - - 2<br />

Macambira - 2 - - - - 2<br />

Maruim 2 1 - - - 1 4<br />

N. S. Aparecida 2 1 - - - - 3<br />

N. S. da Glória - - - - - 1 1<br />

N. S. do Socorro - - - 2 1 2 5<br />

Neópolis 3 - 1 1 - 1 6<br />

Pacatuba 2 - - - - - 2<br />

Pirambu - - - 2 - - 2<br />

Poço Redondo 2 - - - 1 - 3<br />

Própria 2 - - - - - 2<br />

Riachão do Danta 1 - - - - - 1<br />

Ribeirópolis - - - 2 - - 2<br />

S. Cristóvão 2 - - - - 2 4<br />

Simão Dias 1 - - - - - 1<br />

St. Amaro da Brota - - - - 2 - 2<br />

Stª. Luzia do Itanhi - - - - - 1 1<br />

Tobias Barreto 1 - - - 1 - 2<br />

Total 48 36 17 34 44 51 230<br />

Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

148<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


2001 2002 2003 2004 2005 2006<br />

Figura 1. Distribuição proporcional <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong><br />

leishmanioses em Sergipe por ano <strong>de</strong> ocorrência<br />

Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Figura 2. Distribuição percentual <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV em<br />

Sergipe, <strong>de</strong> acordo com o gênero dos portadores <strong>de</strong> 2001 a 2006<br />

Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Tabela 2. Distribuição proporcional <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV em Sergipe, conforme faixa etária<br />

Faixa etária<br />

(anos)<br />

2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total %<br />

< 1 1 - - 2 5 1 9 3,91<br />

1 - 5 17 8 4 12 10 14 65 28,26<br />

5 - 10 11 5 5 2 4 9 36 15,65<br />

10 - 20 7 9 4 2 10 4 36 15,65<br />

20 - 40 9 9 3 9 12 17 59 25,65<br />

40 - 60 3 5 1 5 2 4 20 8,70<br />

60 - 70 - - - 1 1 2 4 1,74<br />

> 70 - - - 1 - - 1 0,43<br />

Total 48 36 17 34 44 51 230 100,00<br />

Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Para confirmação do diagnóstico<br />

laboratorial, as técnicas utilizadas<br />

foram a <strong>para</strong>sitológica, realizada<br />

em todos os portadores (230), e a<br />

reação <strong>de</strong> imunofluorescência indireta<br />

(RIFI). Nesta última pô<strong>de</strong>-se<br />

observar que parte dos portadores<br />

não realizou (83) e em alguns casos<br />

(11) os resultados constavam como<br />

negativos (Tabela 3).<br />

Na distribuição proporcional <strong>de</strong> casos<br />

confirmados <strong>de</strong> LV por zona resi<strong>de</strong>ncial<br />

do portador (Figura 3), notou-se que a<br />

zona urbana apresentou 50% (115) e<br />

a rural 45,66% (105). Ressalta-se que<br />

os casos ignorados foram <strong>de</strong> 3,04% (7)<br />

e, urbano/rural, <strong>de</strong> 1,3% (3).<br />

No que se refere à raça/cor dos<br />

portadores, tem-se que a cor parda<br />

representou 59,10% (136), a cor<br />

branca 14,78% (36), a cor negra<br />

9,70% (22) e a cor amarela 1,30% (3)<br />

e notificados como indígenas 0,42%<br />

(1). Enfatiza-se que esse dado foi cadastrado<br />

como ignorado em 14,78%<br />

(34) dos casos (Figura 4).<br />

Em relação à escolarida<strong>de</strong> dos<br />

acometidos (Figura 5), avaliou-se<br />

que a maioria, 47,85% (110), possuía<br />

entre quatro e sete anos concluídos,<br />

seguidos <strong>de</strong> 13,47% (31) com<br />

um a três anos, 13,04% (30) com<br />

oito a 11 anos, 11,30% (26) com<br />

nenhum ano concluído e em 8,69%<br />

(20) dos acometidos esse dado foi<br />

ignorado.<br />

A Figura 6 avaliou o <strong>de</strong>sfecho da<br />

doença, don<strong>de</strong> 76,96% (177) dos<br />

acometidos evoluíram <strong>para</strong> a cura e<br />

11,74% (27) <strong>para</strong> óbito. É necessário<br />

salientar que esse dado foi ignorado em<br />

11,30% (26) dos casos notificados.<br />

150<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Tabela 3. Distribuição proporcional <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV segundo a técnica usada <strong>para</strong> diagnóstico<br />

Técnica <strong>de</strong> Tipo <strong>de</strong><br />

diagnóstico notificação<br />

2001 2002 2003 2004 2005 2006 Total<br />

Positivo 48 36 17 34 44 51 230<br />

Parasitológica<br />

Negativo - - - - - - 0<br />

Ignorado - - - - - - 0<br />

Positivo 16 22 5 20 31 44 138<br />

Imunológica (RIFI)<br />

Negativo 1 3 1 5 1 11<br />

Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Ignorado 31 11 11 14 8 6 81<br />

Figura 3. Percentual <strong>de</strong> casos confirmados <strong>de</strong> LV por zona <strong>de</strong><br />

residência do portador - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Figura 4. Distribuição percentual dos casos confirmados <strong>de</strong> LV por<br />

raça/cor do portador - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Figura 5. Distribuição percentual dos casos confirmados <strong>de</strong> LV por<br />

escolarida<strong>de</strong> do portador - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

Figura 6. Distribuição em percentual dos casos confirmados <strong>de</strong> LV<br />

que evoluíram <strong>para</strong> cura, óbito ou ignorado, em Sergipe <strong>de</strong> 2001<br />

a 2006 - Fonte: SINAN/SES/SE (2001-2006)<br />

152<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Discussáo Discussão<br />

Nesta pesquisa se constatou que<br />

foram notificados e confirmados 230 casos<br />

<strong>de</strong> leishmaniose visceral em Sergipe<br />

no período <strong>de</strong> 2001 a 2006, oriundos <strong>de</strong><br />

41 municípios dos 75 que compõem o<br />

Estado, ou seja, 54,66% apresentaram<br />

esse agravo à saú<strong>de</strong>.<br />

Conforme Correia (1998), uma<br />

importante característica da LV é que,<br />

quanto maior a incidência da doença,<br />

maior o risco <strong>para</strong> as crianças mais<br />

jovens, fato já documentado no Brasil,<br />

on<strong>de</strong> a preferência da <strong>para</strong>sitose pela<br />

população infantil vem se mantendo<br />

ao longo dos anos. Essa característica<br />

também foi observada nesse estudo,<br />

no qual a infecção predominou nos<br />

primeiros cinco anos <strong>de</strong> vida.<br />

Para Badaró et al. (1986), já que<br />

a imunida<strong>de</strong> duradoura se <strong>de</strong>senvolve<br />

com a ida<strong>de</strong>, é provável que a maior<br />

incidência da doença no grupo <strong>de</strong> menor<br />

ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>penda da maior suscetibilida<strong>de</strong><br />

à infecção e da <strong>de</strong>pressão da imunida<strong>de</strong><br />

observada nessa faixa etária. Entretanto,<br />

nesse estudo, houve também a<br />

ocorrência <strong>de</strong> um elevado número <strong>de</strong><br />

casos na faixa etária <strong>de</strong> 20 a 40 anos.<br />

Esse fenômeno talvez esteja atrelado<br />

às ativida<strong>de</strong>s laborais dos portadores<br />

e uma maior exposição aos fatores <strong>de</strong><br />

risco, a exemplo, contato com os artrópo<strong>de</strong>s<br />

vetores.<br />

Vale ressaltar que na literatura consultada<br />

tem-se uma gama <strong>de</strong> trabalhos<br />

publicados referentes a estudos na faixa<br />

etária <strong>de</strong> até 15 anos, sendo priorida<strong>de</strong><br />

pesquisas que abranjam outras faixas<br />

etárias.<br />

Segundo Pastorino et al. (2002), a<br />

literatura aponta o gênero masculino<br />

como o mais susceptível ao adoecimento<br />

por LV. Neste trabalho, o gênero<br />

masculino foi o mais acometido. Costa<br />

et al. (1990) afirmaram, todavia, que o<br />

problema da maior prevalência da enfermida<strong>de</strong><br />

entre as pessoas do gênero<br />

masculino ainda não está completamente<br />

elucidado. Complementam os<br />

autores que se postula a existência <strong>de</strong><br />

um fator hormonal ligado ao gênero ou<br />

a exposição.<br />

As técnicas utilizadas <strong>para</strong> diagnóstico<br />

laboratorial da LV em Sergipe<br />

foram a <strong>para</strong>sitológica e imunológica.<br />

No banco <strong>de</strong> dados do SINAN, porém,<br />

não consta a origem do material que<br />

foi colhido <strong>para</strong> a execução da técnica.<br />

No entanto, segundo Melo (2004) a<br />

<strong>de</strong>monstração do <strong>para</strong>sito através <strong>de</strong><br />

técnicas <strong>para</strong>sitológicas, tais como,<br />

esfregaço por aposição, cultura ou<br />

inoculação em animais ainda são os<br />

melhores testes laboratoriais <strong>para</strong><br />

diagnosticar LV a partir <strong>de</strong> material <strong>de</strong><br />

biópsia ou punção aspirativa <strong>de</strong> tecidos,<br />

com o baço sendo mais sensível que <strong>de</strong><br />

medula óssea.<br />

Quanto ao imunológico o teste <strong>de</strong><br />

escolha foi a reação <strong>de</strong> imunofluorescência<br />

indireta (RIFI). Conforme<br />

Canela et al. (2004), é a mais utilizada<br />

na rotina <strong>para</strong> pesquisa <strong>de</strong> anticorpos<br />

antileishmania. Sundar et al. (2002)<br />

enfatizaram que essa técnica por utilizar<br />

antígenos brutos <strong>de</strong> leishmania torna-se<br />

limitada em temos <strong>de</strong> especificida<strong>de</strong> e<br />

reprodutibilida<strong>de</strong>.<br />

A incidência <strong>de</strong> LV em Sergipe foi<br />

mais elevada na Zona Urbana que na<br />

Rural. Essa mudança <strong>de</strong> Zona Rural <strong>para</strong><br />

Urbana é um fato epi<strong>de</strong>miológico que<br />

vem sendo analisado pelos pesquisadores,<br />

a exemplo <strong>de</strong> Costa et al. (1990) e<br />

Moreira et al. (2005), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década<br />

<strong>de</strong> 1970. Conforme Melo (2004), a<br />

proximida<strong>de</strong> entre as habitações, a<br />

alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional e a gran<strong>de</strong><br />

susceptibilida<strong>de</strong> das pessoas à infecção<br />

contribuíram <strong>para</strong> a rápida expansão<br />

da doença no ambiente urbano. Afirma<br />

ainda a autora que pelo fato da urbanização<br />

ser um fenômeno relativamente<br />

novo, pouco ainda se conhece sobre a<br />

epi<strong>de</strong>miologia da LV nos focos urbanos,<br />

visto que as relações entre os componentes<br />

da ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> transmissão no<br />

cenário urbano parecem ser bem mais<br />

complexas e variadas que no rural.<br />

Quanto ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos<br />

portadores, se percebeu que a maioria<br />

possuía <strong>de</strong> quatro a sete anos conclu-<br />

ídos, ou seja, o ensino fundamental<br />

incompleto, <strong>de</strong>notando a urgência <strong>de</strong><br />

políticas educacionais no estado <strong>de</strong> Sergipe<br />

e programas continuados voltados<br />

<strong>para</strong> educação em saú<strong>de</strong>.<br />

No que concerne aos portadores<br />

<strong>de</strong> LV quanto à raça/cor, prevaleceu<br />

a cor parda. No Brasil a cor da pele é<br />

um parâmetro bastante controverso,<br />

visto que não existe estabelecido um<br />

conceito <strong>de</strong>terminando as diferenças<br />

<strong>de</strong> cor <strong>para</strong> cútis.<br />

Em relação ao <strong>de</strong>sfecho dos casos, a<br />

evolução <strong>para</strong> cura foi bastante acentuada<br />

no período em estudo, mostrando a<br />

provável procura por serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pelos supostos portadores antes do<br />

agravamento da doença, bem como a<br />

possível precocida<strong>de</strong> no diagnóstico e<br />

tratamento. Mas o número <strong>de</strong> casos<br />

ignorados foi bastante preocupante.<br />

Conclusão<br />

Os resultados apresentados nesse<br />

estudo <strong>de</strong>monstraram o perfil epi<strong>de</strong>miológico<br />

da leishmaniose visceral em<br />

Sergipe, que segundo a Organização<br />

Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar<br />

alta morbimortalida<strong>de</strong>.<br />

Acredita-se que, levando em consi<strong>de</strong>ração<br />

a importância médica social<br />

e econômica da leishmaniose visceral<br />

e também as falhas <strong>de</strong>tectadas na alimentação<br />

do SINAN, a criação <strong>de</strong> um<br />

sistema <strong>de</strong> registro e acompanhamento<br />

estadual traria uma melhora no atendimento<br />

e na qualida<strong>de</strong> dos serviços<br />

prestados à comunida<strong>de</strong>, reduzindo<br />

custos e principalmente agilizando o<br />

diagnóstico da doença e tratamento<br />

precoce dos casos humanos, bem como<br />

a diminuição dos riscos <strong>de</strong> transmissão<br />

mediante controle da população <strong>de</strong><br />

reservatórios e vetores.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

Prof a . Ana Maria Gue<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Brito<br />

profanague<strong>de</strong>s@yahoo.com.br<br />

154<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Referências Bibliográficas<br />

1. Aguiar cp. Relatório técnico da campanha contra a Leishmaniose, Ministério da Saú<strong>de</strong>/SUCAM. Aracaju, 1983 (mimeo).<br />

2. Badaró R, Jones TC, Lourenço BA. Prospective study of visceral leishmaniasis in an en<strong>de</strong>mic area of Brazil, J. Infect. Dis., 154: 639-649, 1986.<br />

3. Camargo LB, Langoni h. Impact of Leishmaniasis on Public Health, J. Venomur. Anim. Toxins Inci. Trop. Dis., 12(4): 527-548, 2006.<br />

4. Canela JR, Alves CJM, Rodrigues GC. Diagnostic profile of visceral leishmaniasis in adult patients at Clemente <strong>de</strong> Faria University Hospital, Unimontes<br />

Científica, 6 (2): 107-111, 2004.<br />

5. Chagas e. Primeira verificação em indivíduo vivo da leishmania visceral no Brasil, Brasil-Médico, 11(11): 221-222, 1936.<br />

6. Correia jb. Epi<strong>de</strong>miology of visceral leishmaniasis in Pernambuco, North-East of Brazil and the use of a látex agglutination test in urine for its<br />

diagnosis. M.S. Dissertation, Liverpool School of Tropical Medicine, Liverpool, ING, 1998.<br />

7. Costa HNC, Pereira HF, Araújo MV. Epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> leishmaniose visceral no estado do Piauí, Brasil, 198-1986, Revista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública, 24 (5):361-<br />

372, 1990.<br />

8. Mello DA. Parasitic diseases in Brazil and the role of wild mammals: an analysis based on leishmaniasis, Chagas Disease an Schistosomíasis<br />

mansoni, Ciência e Cultura, 43(4): 274-278, 1991.<br />

9. Mello MN. Leishmaniose visceral no Brasil: <strong>de</strong>safios e perspectivas, Rev. Parasitol. Vet., 23(1): 41-45, 2004.<br />

10. Michalick MSM, Genaro o. Leishmaniose visceral Americana. In: Neves DP. Parasitologia Humana, 11ª ed. Atheneu: São Paulo, p. 184-193, 2005.<br />

11. Ministério da Saú<strong>de</strong> – Manual <strong>de</strong> vigilância e controle da leishmaniose visceral, Brasília, 2003.<br />

12. Moreno EC, Melo MN, Genaro O, Lambertucci JCS, Andra<strong>de</strong> ASR, Antunes CMF, Carneiro m. Risk factors for Leishmania chagasi infection in an<br />

urban area of Minas Gerais State, Revista da Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Medicina Tropical, 38(6):456-463, 2005.<br />

13. Pastorino AC, Jacob CMA, Oselka GW, Sampaio MMC. Leishmaniose visceral: aspectos clínicos e laboratoriais, Journal of Pediatric, 78: 120-127,<br />

2002.<br />

14. Sundar S, Pai K, Sahu m. Immunochromatographic strip test <strong>de</strong>tection af anti k39 antibody in Indian visceral leishmaniasis, Rev. Trop. Med. Parasitol.,<br />

96: 19-23, 2002.<br />

15. Tavares LMSA, Tavares ED. Incidência, distribuição e aspectos ambientais das áreas endêmicas da leishmaniose visceral em Sergipe, Informe<br />

Epi<strong>de</strong>miológico do SUS, 8(1): 47-52, 1999.<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

155


Artigo<br />

Mapeamento do Grupo Sanguíneo <strong>de</strong><br />

Doadores Voluntários <strong>de</strong> Sangue do Serviço <strong>de</strong><br />

Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira, na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Limeira<br />

Benedito Aparecido Brandino 1 , Fabio José Della Piazza 2 , Mariella Chequi Della Piazza 3 , Luis Fernando Cestari4, Ariane Menegalle 5<br />

1 - Biomédico Gerente do Centro <strong>de</strong> Medicina Laboratorial <strong>de</strong> Limeira – SP<br />

2 - Médico Hematologista e Patologista Clínico do CML, Limeira – SP<br />

3 - Acadêmica <strong>de</strong> Medicina da PUC, Campinas – SP<br />

4 – Farmacêutico-bioquímico do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP<br />

5 - Biomédica do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP<br />

Trabalho realizado no Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Irmanda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Misericórdia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira, SP<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Mapeamento do Grupo Sanguíneo <strong>de</strong> Doadores Voluntários<br />

<strong>de</strong> Sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa<br />

Casa <strong>de</strong> Limeira, na Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Limeira<br />

Objetivo: Mapear os tipos sanguíneos <strong>de</strong> doadores voluntários<br />

<strong>de</strong> sangue entre as populações locais e regionais, quanto ao sistema<br />

ABO e fator RH, <strong>para</strong> a formação <strong>de</strong> um banco <strong>de</strong> dados que possa<br />

ajudar no encontro <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sangue raras, agilizando e racionalizado<br />

<strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quado a procura, inclusive com métodos<br />

estatísticos, ajudando a medicina transfusional da região e do país.<br />

Casuística e Métodos: Foram estudados 19.277 doadores<br />

<strong>de</strong> sangue, voluntários, <strong>de</strong> ambos os sexos, do Serviço<br />

<strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP, entre janeiro<br />

<strong>de</strong> 2005 e novembro <strong>de</strong> 2006. Partici<strong>para</strong>m <strong>de</strong>sta pesquisa<br />

os doadores consi<strong>de</strong>rados aptos após triagem clínica e laboratorial,<br />

<strong>de</strong> acordo com os critérios <strong>para</strong> aceitação <strong>de</strong> doadores<br />

<strong>de</strong> sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa<br />

<strong>de</strong> Limeira. Todos os testes laboratoriais imuno-hematológicos<br />

foram realizados no Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa<br />

<strong>de</strong> Limeira. A tipagem eritrocitária foi realizada pelo emprego<br />

da técnica em tubo, usando reagentes anti-A, anti-B e anti-AB<br />

(Ebram Produtos Laboratoriais Ltda) e reagentes <strong>de</strong> hemácias<br />

A1 e B (ASEM-NPBI) e o reagente Anti D monoclonal Igm+Igg<br />

combinados (Ebram Produtos Laboratoriais Ltda) foram empregados<br />

conforme recomendações do fabricante.<br />

Resultados: Obtivemos os seguintes resultados na distribuição<br />

dos grupos sanguíneos dos doadores voluntários <strong>de</strong> sangue do Serviço<br />

<strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira: 51,28% O; 34,84%<br />

A; 10,65% B; 3,23% AB. Desse total, 12,66% são Rh negativo. A<br />

distribuição na população brasileira dos grupos sanguíneos varia <strong>de</strong><br />

acordo com a origem étnica, mas é <strong>de</strong> aproximadamente: 45% O ;<br />

40% A; 10% B; 5% AB. Desse total, 15% são Rh negativo.<br />

Mapping of a group of voluntary blood donors in<br />

the Hemotherapy Service of Santa Casa in Limeira,<br />

Brazil<br />

Aim: To map the blood types of volunteer blood donors of local<br />

and regional populations in respect to the ABO system and Rh factors.<br />

The data will be used to create a database that will help to locate<br />

rare blood units, thereby organizing and speeding up the search,<br />

and inclu<strong>de</strong> statistical methods to help transfusional medicine in the<br />

region and in the country as a whole.<br />

Patients and Methods: A total of 19,277 male and female<br />

volunteer blood donors were studied in the Hemotherapy Service<br />

of Santa Casa in Limeira, Brazil from January 2005 to November<br />

2006. Donors consi<strong>de</strong>red suitable for blood donation after<br />

clinical and laboratorial screening according to the acceptance<br />

criteria of the gui<strong>de</strong>lines of the Hemotherapy Service of Santa<br />

Casa in Limeira were inclu<strong>de</strong>d in the study. Red blood cell typing<br />

was achieved utilizing the tube technique using anti-A, anti-B<br />

and anti-AB reagents (Ebram Produtos Laboratoriais Ltda), A1<br />

and B red blood cell reagents (ASEM-NPBI) and the combined<br />

IgM+IgG monoclonal Anti-D reagent (Ebram Produtos Laboratoriais<br />

Ltda) were employed according to the recommendations of<br />

the manufacturers.<br />

Results: The following results relating to the distribution of the<br />

blood groups were obtained for the volunteer blood donors: Group<br />

O 51.28%; A 34.84%; B 10.65% and AB 3.23%. Of this total,<br />

12.66% were Rh negative. The distribution of the blood groups in<br />

the Brazilian population varies <strong>de</strong>pending on the ethnic background<br />

but is approximately: Group O 45%; A 40%; B 10% and AB 5%<br />

with 15% being Rh negative.<br />

Conclusions: The advantages of having a database of the<br />

168<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Conclusões: São evi<strong>de</strong>ntes as vantagens <strong>de</strong> ter um banco <strong>de</strong><br />

dado com os tipos sangüíneos dos doadores voluntários <strong>de</strong> sangue,<br />

pois apesar do estudo nos mostrar que os dados encontrados são<br />

parecidos com os já existentes no país, existem algumas características<br />

próprias <strong>de</strong> cada região, o que em caso <strong>de</strong> um aci<strong>de</strong>nte, com<br />

hemorragia grave, ajudaria a ganhar um tempo precioso com a<br />

simples informação da freqüência fenotípica contida nesse banco e<br />

com métodos estatísticos é possível saber qual é a melhor conduta<br />

a ser seguida.<br />

Palavras-chave: Grupo sanguíneo, Fator RH, doadores <strong>de</strong><br />

sangue.<br />

blood types of volunteer blood donors is obvious, as although<br />

the study <strong>de</strong>monstrated that the data found are similar to<br />

existing data for the country, there are some region-specific<br />

characteristics and so in the case of acci<strong>de</strong>nts involving severe<br />

hemorrhages, the simple information of phenotypic frequency<br />

contained in this database may help to save precious time. Using<br />

statistical methods it will be possible to know which conduct is<br />

the best to be followed.<br />

Keywords: Blood group, Rh factor, blood donors<br />

Introdução<br />

O<br />

sangue é um tecido vivo que<br />

circula ininterruptamente<br />

pelas nossas artérias e veias,<br />

levando oxigênio e nutrientes a todos<br />

os órgãos do corpo e trazendo o gás<br />

carbônico. É composto por plasma,<br />

plaquetas, hemácias e leucócitos. O<br />

sangue é produzido na medula óssea<br />

dos ossos chatos, vértebras, costelas,<br />

quadril, crânio e esterno.<br />

Em 1900 foram <strong>de</strong>scobertos nas células<br />

sangüíneas humanas (hemácias)<br />

certos componentes, então i<strong>de</strong>ntificados<br />

com as letras A e B. Verificou-se,<br />

ainda, que uma mesma hemácia po<strong>de</strong>ria<br />

conter ambos os elementos ou<br />

nenhum <strong>de</strong>les. Foram, <strong>de</strong>ssa maneira,<br />

i<strong>de</strong>ntificados quatro tipos <strong>de</strong> sangue:<br />

A, B, AB e O, que são classificados segundo<br />

a presença ou ausência <strong>de</strong> antígenos<br />

(Ag) na superfície das hemácias<br />

ou <strong>de</strong> anticorpos (Ac) no plasma.<br />

As pessoas que têm sangue do grupo<br />

A apresentam anticorpos chamados<br />

<strong>de</strong> “anti B”, ou seja, são incompatíveis<br />

com o sangue do grupo B e vice-versa.<br />

Já as do grupo O, como não têm na<br />

membrana da sua hemácia essas<br />

características <strong>de</strong> A e <strong>de</strong> B, possuem,<br />

no entanto, ambos os anticorpos. Por<br />

último, as pessoas do grupo AB têm<br />

características tanto <strong>de</strong> A quanto <strong>de</strong><br />

B e não possuem anticorpos. Essa é a<br />

primeira seleção no sangue em função<br />

do grupo sangüíneo ABO.<br />

Além do tipo <strong>de</strong> sangue A, B, AB ou<br />

O, há o fator Rh. O termo Rh origina-se<br />

do nome <strong>de</strong> um macaco, Rhesus, on<strong>de</strong><br />

originalmente esse antígeno foi encontrado.<br />

As pessoas que possuem esse<br />

antígeno são classificadas como Rh positivas<br />

(Rh+) e as que não possuem esse<br />

fator são <strong>de</strong>nominadas Rh negativas<br />

(Rh-). A gran<strong>de</strong> maioria da população<br />

mundial é Rh+ porque esse genótipo é<br />

dominante em relação ao grupo Rh-.<br />

O fator Rh tem gran<strong>de</strong> importância<br />

clínica, pois uma pessoa com Rh- recebendo<br />

sangue <strong>de</strong> um doador com Rh+<br />

po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar a produção <strong>de</strong><br />

anticorpos anti-Rh. Isso também po<strong>de</strong><br />

ocorrer em casos <strong>de</strong> mães Rh- e pais<br />

Rh+ que geram crianças Rh+.<br />

Principalmente na época do parto<br />

as mães po<strong>de</strong>m ser expostas ao<br />

sangue do bebê. Isso po<strong>de</strong> acarretar<br />

a produção <strong>de</strong> anticorpos anti-Rh<br />

quando a presença do bebê estimula<br />

a produção <strong>de</strong> anticorpos da mãe. Os<br />

anticorpos po<strong>de</strong>m chegar até ao feto,<br />

prejudicando sua saú<strong>de</strong> por <strong>de</strong>senvolver<br />

a eritroblastose fetal ou doença<br />

hemolítica do recém-nascido. Um<br />

médico po<strong>de</strong> contornar esse problema<br />

acompanhando a gravi<strong>de</strong>z da mãe<br />

com Rh- e administrando a<strong>de</strong>quadamente<br />

imunoglobulina anti-Rh.<br />

Os outros grupos também são importantes<br />

e são pesquisados rotineiramente.<br />

Os mais freqüentes, porém, não<br />

estão em pauta no presente trabalho.<br />

Casuística e Métodos<br />

Foram estudados 19.277 doadores<br />

<strong>de</strong> sangue, voluntários, <strong>de</strong> ambos os<br />

sexos, do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da<br />

Santa Casa <strong>de</strong> Limeira – SP, entre<br />

janeiro <strong>de</strong> 2005 a novembro <strong>de</strong> 2006.<br />

Foram coletadas informações sociais<br />

<strong>de</strong> cada doador <strong>de</strong> sangue voluntário<br />

(nome, data <strong>de</strong> nascimento, ida<strong>de</strong>,<br />

sexo), procedência, procedência dos<br />

pais e avós, número <strong>de</strong> doador, en<strong>de</strong>reço,<br />

bairro, CEP, telefone (resi<strong>de</strong>ncial<br />

e comercial), profissão, antece<strong>de</strong>ntes<br />

transfusionais, uso <strong>de</strong> medicamentos<br />

e antece<strong>de</strong>ntes gestacionais (<strong>para</strong> o<br />

sexo feminino).<br />

Partici<strong>para</strong>m <strong>de</strong>sta pesquisa os doadores<br />

consi<strong>de</strong>rados aptos após triagem<br />

clínica e laboratorial, <strong>de</strong> acordo com os<br />

critérios <strong>para</strong> aceitação <strong>de</strong> doadores <strong>de</strong><br />

sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da<br />

Santa Casa <strong>de</strong> Limeira e Normas Técnicas<br />

do Ministério da Saú<strong>de</strong>.<br />

170<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Testes Laboratoriais<br />

Todos os testes laboratoriais imuno-hematológicos<br />

foram realizados no<br />

Departamento <strong>de</strong> Imunohematologia<br />

do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa<br />

Casa <strong>de</strong> Limeira.<br />

A tipagem eritrocitária foi realizada<br />

empregando a técnica em tubo, usando<br />

reagentes anti-A, anti-B e anti-AB<br />

(Ebram Produtos Laboratoriais Ltda) e<br />

reagentes <strong>de</strong> hemácias A1 e B (ASEM<br />

-NPBI) e o reagemte Anti D monoclonal<br />

IgM+IgG combinados (Ebram Produtos<br />

Laboratoriais Ltda) foi empregado conforme<br />

recomendações do fabricante.<br />

Todos os testes laboratoriais foram<br />

realizados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> 1 até 12 horas após<br />

a coleta. Enquanto eram aguardados os<br />

resultados dos testes sorológicos <strong>para</strong><br />

doenças transmissíveis pelo sangue, as<br />

amostras foram mantidas a 4 o C.<br />

Resultados<br />

A Tabela 2 mostra os resultados<br />

obtidos na distribuição dos grupos<br />

sanguíneos dos doadores voluntários<br />

<strong>de</strong> sangue do Serviço <strong>de</strong> Hemoterapia<br />

da Santa Casa <strong>de</strong> Limeira.<br />

Tabela 1. Interpretação dos testes laboratoriais imuno-hematológicos<br />

Grupo<br />

sanguíneo<br />

Soro <strong>de</strong> Tipagem Hemácias <strong>de</strong><br />

Tipagem<br />

Antígeno<br />

Anticorpo<br />

Anti-A Anti-B A B<br />

A + - + + A Anti-B<br />

B - + - - B Anti-A<br />

AB + + + - A e B Ausente<br />

O - - - + - Anti-A e<br />

Anti-B<br />

Tabela 2. Distribuição dos grupos sanguíneos<br />

Grupo Sanguíneo Fator Rh Índice encontrado em<br />

Limeira<br />

O Positivo 44,03%<br />

A Positivo 31%<br />

B Positivo 9,57%<br />

AB Positivo 2,74%<br />

O Negativo 7,25%<br />

A Negativo 3,84%<br />

B Negativo 1,08%<br />

AB Negativo 0,49%<br />

O Gráfico 1 faz uma com<strong>para</strong>ção e o dados encontrados no Serviço<br />

entre a distribuição na população <strong>de</strong> Hemoterapia da Santa Casa <strong>de</strong><br />

brasileira dos grupos sanguíneos Limeira.<br />

Gráfico 1<br />

172<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Conclusão<br />

São evi<strong>de</strong>ntes as vantagens <strong>de</strong><br />

se ter um banco <strong>de</strong> dados com os<br />

tipos sangüíneos dos doadores voluntários<br />

<strong>de</strong> sangue, pois apesar do<br />

estudo nos mostrar que os dados<br />

encontrados são parecidos com os<br />

já existentes no país, existe alguma<br />

característica própria <strong>de</strong> cada<br />

região, o que em caso <strong>de</strong> situações<br />

on<strong>de</strong> a transfusão se torne imperiosa,<br />

isto ajuda a ganhar um tempo<br />

precioso com a simples informação<br />

da freqüência fenotípica contida<br />

no banco. Aliado a métodos estatísticos,<br />

é possível saber qual é a<br />

melhor conduta a ser seguida, ou<br />

seja, a convocação da população <strong>de</strong><br />

maneira geral ou procurar os doadores<br />

<strong>de</strong> forma mais específica <strong>para</strong><br />

a situação <strong>de</strong> emergência.<br />

Claro que os estudos nos mostram<br />

que a cada dia fica mais difícil manter<br />

os estoques <strong>de</strong> sangue em níveis aceitáveis,<br />

por isso a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada vez<br />

mais termos ferramentas que possam<br />

nos ajudar a superar essa situação.<br />

É necessário lembrar à população<br />

que a doação <strong>de</strong> sangue é muito<br />

importante. Ter metas somente é<br />

possível quando conhecemos o meio<br />

on<strong>de</strong> nós estamos inseridos. As<br />

ferramentas <strong>de</strong> estatística só funcionam<br />

quando temos dados confiáveis<br />

e, com isso, é possível alcançar o índice<br />

<strong>de</strong> coletas <strong>de</strong> bolsas correspon<strong>de</strong>nte<br />

a 2% da população (1,73%);<br />

atingir o índice <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong> doações<br />

espontâneas/reposição; atingir o<br />

índice <strong>de</strong> 11,3% <strong>de</strong> inaptidão.<br />

As metas já alcançadas foram<br />

a implantação do sistema <strong>de</strong> informação<br />

em 100% dos Serviços <strong>de</strong><br />

Hemoterapia. Hoje, no Serviço <strong>de</strong><br />

Hemoterapia a média <strong>de</strong> inaptidão<br />

sorológica é <strong>de</strong> 3,5%, <strong>de</strong>corrente do<br />

número <strong>de</strong> doadores voluntários que<br />

é maior <strong>de</strong> 70% e frente aos voluntários<br />

<strong>de</strong> repetição com <strong>de</strong>monstração.<br />

Outro índice já atingido é o <strong>de</strong> 70%<br />

<strong>de</strong> doadores <strong>de</strong> repetição/1ª vez.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

Benedito Aparecido Brandino<br />

laboratorio@santacasalimeira.com.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

Melo L e col. Imunohematologia Eritrocitária - STD - Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Hematologia e Hemoterapia, 1996.<br />

2.<br />

Ortho Diagnostics. Antígenos e anticorpos aplicados aos sistemas ABO e Rh, 3a edição, 1978.<br />

3.<br />

Oliveira MC, Góes SM. Imunologia Eritrocitária - Práticas, Rio <strong>de</strong> Janeiro, MEDSI, 1998.<br />

4.<br />

Salzano FM. Genetic polymorphisms in Brazilian populations. In: Salzano F.M. (ed.): The ongoing evolution of Latin American<br />

Populations. Springfield: Charles C. Thomas, 1971, p 631-655.<br />

5.<br />

Cliquet MG. Fundação Pró-Sangue / Hemocentro <strong>de</strong> São Paulo, 1990.<br />

6.<br />

Walker RH. (ed.) Technical Manual, 11 ed. Bethesda, Maryland: American Association of Blood Banks. 1993.<br />

7.<br />

Saldanha AS. ABO blood groups and salivary secretion of ABH substances among three racial groups in São Paulo City. Rev Bras<br />

Genet 1982, 5: 175-86.<br />

8.<br />

Sanchez-Mazas AS, Langsganey A. Common genetic pools between human populations. Hum Genet 1988, 78:161-8.<br />

9.<br />

Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Portaria no. 1.376, 19 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1993. Normas técnicas <strong>para</strong> Coleta, Processamento e Trans-<br />

fusão <strong>de</strong> Sangue, Componentes e Hemo<strong>de</strong>rivados. Diário Oficial [República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil], Brasília, 131, n.229:18405-15,<br />

2 <strong>de</strong>z. 1993, seção 1.<br />

174<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Artigo<br />

Ocorrência <strong>de</strong> Entero<strong>para</strong>sitoses no Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

Luciana dos Santos Dias<br />

Licenciada em Ciências Biológicas<br />

Trabalho realizado <strong>para</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> monografia <strong>para</strong> obtenção <strong>de</strong> título <strong>de</strong><br />

Licenciada em Ciências Biológicas, pelo Centro Universitário Augusto Motta, na cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no ano <strong>de</strong> 2006<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Ocorrência <strong>de</strong> Entero<strong>para</strong>sitoses no Estado do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro<br />

Foi realizado inquérito copro<strong>para</strong>sitológico <strong>de</strong> fevereiro a julho<br />

<strong>de</strong> 2006, visando estudar a ocorrência <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sitoses em uma<br />

comunida<strong>de</strong> laboratorial do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Foram submetidas a exame<br />

a fresco, método <strong>de</strong> Hoffman e Kato-Katz, 5.512 amostras <strong>de</strong> fezes<br />

indivíduos <strong>de</strong> ambos os sexos , com ida<strong>de</strong> entre 0 a 12 anos, 13 a<br />

20 anos, 21 a 60 anos e acima <strong>de</strong> 60 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Os resultados<br />

revelaram que 30,8% das amostras analisadas continham um ou mais<br />

<strong>para</strong>sitas intestinais, sendo a maioria (71,8%) mono<strong>para</strong>sitada. Os<br />

<strong>para</strong>sitas mais prevalentes foram Blastocystis hominis (41%), Endolimax<br />

nana (33,7%), Giardia lamblia (8,7%), Entamoeba coli (7,8%),<br />

Entamoeba histolytica (7,3%), Iodamoeba bütschilii (0,8%), Ancilostomí<strong>de</strong>o<br />

(0,05%), Tenia spp (0,05%), Ascaris lumbricói<strong>de</strong>s (0,4%),<br />

Enterobius vermiculares (0,1%), Trichiuris trichiura (0,1%). Estes dados<br />

<strong>de</strong>monstram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> profilaxia como melhoria<br />

das condições <strong>de</strong> saneamento básico e sanitárias e implementação<br />

<strong>de</strong> projetos educativos que <strong>de</strong>staquem a importância <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong><br />

higiene, <strong>para</strong> que seja interrompido o ciclo <strong>de</strong> tais <strong>para</strong>sitas.<br />

Palavras-chave: Parasitas intestinais, entero<strong>para</strong>sitose, Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, ocorrência<br />

The Prevalence of Entero<strong>para</strong>sites in the State of Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro<br />

A copro<strong>para</strong>sitological investigation was performed from February<br />

to July 2006 aiming at investigating the inci<strong>de</strong>nce of entero<strong>para</strong>sites<br />

in a laboratorial population in Rio <strong>de</strong> Janeiro. A total of 5512 samples<br />

from male and female individuals were submitted to examinations using<br />

the Hoffman and Kato-Katz methods. The participants were divi<strong>de</strong>d into<br />

four age groups: up to 12 years old; 13 to 20; 21 to 60; and over 60<br />

years old. The results <strong>de</strong>monstrated that 30.8% of the samples were<br />

infected by one or more intestinal <strong>para</strong>sites. The most prevalent <strong>para</strong>sites<br />

were Blastocystis hominis (41%), Endolimax nana (33.7%), Giardia<br />

lamblia (8.7%), Entamoeba coli (7.8%), Entamoeba histolytica (7.3%),<br />

Iodamoeba bütschilii (0.8%), Ancilostomí<strong>de</strong>o (0.05%), Tenia spp<br />

(0.05%), Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s (0.4%), Enterobius vermiculares (0.1%)<br />

and Trichiuris trichiura (0.1%). These data <strong>de</strong>monstrate the necessity for<br />

prophylactic measures with an improvement in the basic sanitary conditions<br />

and implementation of education projects that stress the importance<br />

of hygiene in or<strong>de</strong>r to interrupt the cycle of these <strong>para</strong>sites.<br />

Keywords: Intestinal <strong>para</strong>sites, entero<strong>para</strong>sites, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

inci<strong>de</strong>nce<br />

Introdução<br />

O<br />

mundo é entendido como um<br />

complexo ecossistema no<br />

qual os padrões <strong>de</strong> doenças<br />

variam gran<strong>de</strong>mente <strong>de</strong> um país <strong>para</strong><br />

outro. Os tipos e taxas <strong>de</strong> doenças<br />

em um país são uma espécie <strong>de</strong> “impressão<br />

digital”, que geralmente têm<br />

relação com a renda “per capita”, o<br />

estilo <strong>de</strong> vida, as ocupações predominantes<br />

e o clima (1).<br />

As helmintíases e protozooses constituem<br />

afecções <strong>de</strong> alta incidência, com<br />

gran<strong>de</strong> repercussão na saú<strong>de</strong> do indivíduo,<br />

sendo uma preocupação constante<br />

na saú<strong>de</strong> pública. Embora sejam<br />

cosmopolitas, a prevalência é maior em<br />

regiões tropicais, tendo uma estreita<br />

relação com a pobreza humana (2).<br />

Em países tropicais, o clima, associado<br />

à falta <strong>de</strong> conhecimento e condições<br />

sanitárias, favorece a disseminação das<br />

entero<strong>para</strong>sitoses que acometem gran<strong>de</strong><br />

parte da população. Esse quadro, além<br />

<strong>de</strong> mostrar um gran<strong>de</strong> problema <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> pública, caracteriza o sub<strong>de</strong>senvolvimento<br />

das populações com condições<br />

precárias <strong>de</strong> higiene, dificulda<strong>de</strong>s<br />

econômicas, <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> medidas<br />

preventivas, <strong>de</strong>snutrição e outras<br />

variáveis agravantes do problema, como<br />

a falta <strong>de</strong> ações na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> por<br />

parte das autorida<strong>de</strong>s (3).<br />

As infecções intestinais por helmintos<br />

e protozoários, do ponto <strong>de</strong><br />

102<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


vista sanitário, geralmente estão relacionadas<br />

ao sub<strong>de</strong>senvolvimento das<br />

populações, mas po<strong>de</strong>m ser encontradas<br />

em comunida<strong>de</strong>s com elevado<br />

padrão <strong>de</strong> vida e cultura (3). Contudo,<br />

as infecções <strong>para</strong>sitárias intestinais<br />

são em sua maioria assintomáticas e,<br />

quando <strong>de</strong>terminam alguma sintomatologia,<br />

esta é geralmente discreta e<br />

inespecífica, não sendo muitas vezes<br />

diagnosticada clinicamente.<br />

O objetivo <strong>de</strong>ste estudo foi relatar<br />

e analisar a prevalência das <strong>para</strong>sitoses<br />

intestinais causadas por protozoários<br />

e helmintos em uma comunida<strong>de</strong><br />

laboratorial do Rio <strong>de</strong> Janeiro, levando<br />

em consi<strong>de</strong>ração aspectos como sexo,<br />

faixa etária e a ocorrência <strong>de</strong> mono,<br />

bi e poli<strong>para</strong>sitismos.<br />

Material e Métodos<br />

Para este presente estudo foram<br />

utilizados como base os resultados <strong>de</strong><br />

5.512 exames copro<strong>para</strong>sitológicos,<br />

realizados no período compreendido<br />

entre fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006.<br />

Coleta do material<br />

As amostras foram coletadas <strong>de</strong><br />

forma espontânea, ou seja, sem nenhuma<br />

indução medicamentosa, e encaminhadas<br />

ao Setor <strong>de</strong> Parasitologia<br />

<strong>de</strong> um laboratório da re<strong>de</strong> privada do<br />

Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, provenientes<br />

das 26 filiais ambulatoriais, distribuídas<br />

por 22 bairros da cida<strong>de</strong> do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, além das intermunicipais:<br />

Duque <strong>de</strong> Caxias, Nilópolis, Nova<br />

Iguaçu e São João <strong>de</strong> Meriti.<br />

Métodos<br />

No Setor <strong>de</strong> Parasitologia foram<br />

utilizados três métodos <strong>de</strong> praxe <strong>para</strong><br />

todos os materiais remetidos: exame<br />

a fresco, o método <strong>de</strong> Hoffman e o <strong>de</strong><br />

Kato-Katz.<br />

Exame Parasitológico <strong>de</strong> Fezes<br />

● Exame a fresco: As amostras <strong>de</strong><br />

fezes foram submetidas ao exame a<br />

fresco, sendo o material fecal recentemente<br />

diluído em soro fisiológico,<br />

corado por lugol e examinado entre<br />

lâmina e lamínula sob microscopia óptica<br />

comum. Os esfregaços foram examinados<br />

sistemática e completamente<br />

através da objetiva do microscópio <strong>de</strong><br />

pequeno aumento (10X) e com pequena<br />

intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> luz. A confirmação<br />

dos <strong>para</strong>sitos foi realizada com a objetiva<br />

<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> aumento (40X).<br />

● Método <strong>de</strong> Hoffman: Consiste<br />

em um simples procedimento<br />

fundamentado na sedimentação<br />

espontânea em água, sendo uma<br />

combinação da gravida<strong>de</strong> e da sedimentação.<br />

Coloca-se cerca <strong>de</strong> 5g <strong>de</strong><br />

fezes frescas em copo graduado ou<br />

em beacker <strong>de</strong> 250ml, completando<br />

o volume <strong>de</strong> 50 a 60ml com água<br />

corrente misturando vigorosamente.<br />

Em seguida, pre<strong>para</strong>r a suspensão<br />

juntando 100ml <strong>de</strong> água corrente,<br />

filtrando a mesma em gaze dobrada<br />

duas vezes alojada em um funil,<br />

recebendo o filtrado em copo cônico<br />

com capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 125ml. Caso necessário,<br />

adiciona-se água corrente<br />

até completar ¾ do volume do copo<br />

cônico. A solução <strong>de</strong>ve permanecer<br />

em repouso durante uma ou duas<br />

horas. Após o repouso, com o auxílio<br />

<strong>de</strong> uma pipeta capilar fixada a um<br />

bulbo <strong>de</strong> borracha, colhe-se uma<br />

pequena porção do sedimentado na<br />

camada inferior, <strong>de</strong>positando-o sobre<br />

uma lâmina, acrescentando duas a<br />

três gotas <strong>de</strong> lugol <strong>para</strong> a coloração<br />

do precipitado, adicionando-se em<br />

seguida lamínula e levando-se ao<br />

microscópio óptico <strong>para</strong> análise e<br />

diagnóstico <strong>de</strong> ovos, larvas e cistos<br />

<strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas (4).<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

103


● Método <strong>de</strong> Kato-Katz: Este<br />

método é amplamente utilizado na<br />

rotina <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar quantitativamente<br />

o número <strong>de</strong> ovos <strong>de</strong> helmintos,<br />

sendo consi<strong>de</strong>rado por vários<br />

autores um procedimento simples e<br />

muito eficiente <strong>para</strong> <strong>de</strong>tectá-los (4).<br />

O método consiste em se<strong>para</strong>r uma<br />

pequena porção <strong>de</strong> fezes frescas sobre<br />

papel absorvente, comprimindo<br />

uma tela náilon medindo aproximadamente<br />

4cm x 2cm (<strong>de</strong> 105 malhas)<br />

sobre as fezes, fazendo com que<br />

parte passe através das malhas.<br />

Em seguida <strong>de</strong>ve-se remover essa<br />

parcela que atravessou a malha com<br />

palito <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e transferi-las <strong>para</strong><br />

o orifício <strong>de</strong> cartão retangular <strong>de</strong><br />

papelão (2cm x 4cm x 1,42cm), com<br />

pequeno orifício central, colocando<br />

sobre lâmina, on<strong>de</strong> então coloca-se<br />

sobre o material fecal raspado uma<br />

lamínula <strong>de</strong> celofane ume<strong>de</strong>cida no<br />

mínimo pelo período <strong>de</strong> 24 horas,<br />

previamente num pre<strong>para</strong>do <strong>de</strong> 1ml<br />

<strong>de</strong> solução aquosa <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> malaquita<br />

a 3% (m/v), 100ml solução<br />

aquosa <strong>de</strong> fenol a 6% (m/v) e 100ml<br />

<strong>de</strong> glicerina. Após este procedimento,<br />

<strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>ixar a pre<strong>para</strong>ção em<br />

repouso durante 30 minutos <strong>para</strong><br />

clarificação a uma temperatura <strong>de</strong><br />

34-40°C ou a temperatura ambiente<br />

por uma ou duas horas. Posteriormente<br />

a pre<strong>para</strong>ção estará pronta<br />

<strong>para</strong> leitura microscópica (4).<br />

solução é diluída na proporção <strong>de</strong><br />

1:5 em água <strong>de</strong>stilada-<strong>de</strong>ionizada.<br />

Indica-se a data <strong>de</strong> valida<strong>de</strong> no rótulo<br />

do frasco (4).<br />

● Solução <strong>de</strong> Ver<strong>de</strong> Malaquita:<br />

é utilizado 1ml <strong>de</strong> solução ver<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

malaquita a 3%, 100ml <strong>de</strong> solução<br />

<strong>de</strong> fenol a 6% e 100ml <strong>de</strong> glicerina.<br />

Embebe-se por mais <strong>de</strong> 24 horas, individualmente,<br />

as lamínulas <strong>de</strong> celofane<br />

nessa mistura (4).<br />

Metodologia da análise <strong>de</strong> dados<br />

A metodologia <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados<br />

foi fundamentada no trabalho realizado<br />

por Cantos et al (2005) on<strong>de</strong> se<br />

analisou a ocorrência <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sitoses<br />

em população ambulatorial <strong>de</strong><br />

Maringá-PR.<br />

Análise e interpretação dos dados<br />

No presente estudo foram analisados<br />

5.512 exames copro<strong>para</strong>sitológicos,<br />

realizados por um laboratório<br />

da re<strong>de</strong> privada do Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. O estudo epi<strong>de</strong>miológico <strong>de</strong><br />

quaisquer <strong>para</strong>sitos intestinais proporciona<br />

informações indicativas do<br />

grau <strong>de</strong> insalubrida<strong>de</strong> do meio, que<br />

<strong>de</strong>corre freqüentemente da poluição<br />

do solo, das águas ou dos alimentos<br />

por resíduos fecais; informa também<br />

sobre o nível e a extensão do<br />

saneamento ambiental e sobre os<br />

hábitos higiênicos <strong>de</strong> uma população<br />

(5). Nas amostras analisadas,<br />

30,8% continham ao menos um tipo<br />

<strong>de</strong> <strong>para</strong>sito (Figura 1), mostrando<br />

que essa população ainda necessita<br />

que sejam empregadas medidas que<br />

visam à promoção da saú<strong>de</strong>, em<br />

particular educação <strong>para</strong> a saú<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong> modo a evitar contaminação no<br />

solo com fezes e contato direto com o<br />

solo; melhoria dos hábitos higiênicos<br />

voltados <strong>para</strong> o preparo e manuseio<br />

<strong>de</strong> alimentos, especialmente vegetais<br />

e implementação <strong>de</strong> medidas<br />

<strong>de</strong> saneamento por parte do po<strong>de</strong>r<br />

público (6).<br />

Nesse trabalho também foi analisada<br />

a relação do grau <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitismo,<br />

on<strong>de</strong> na Figura 2 po<strong>de</strong> se observar que<br />

71,80% das amostras positivas analisadas<br />

continham um tipo <strong>de</strong> <strong>para</strong>sito,<br />

23,90% continham dois tipos <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos<br />

e 4,30% continham três ou mais<br />

tipos <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos. Estes dados estão <strong>de</strong><br />

acordo com os relatos <strong>de</strong> Cantos et al<br />

(2005), mostrando que o mono<strong>para</strong>sitismo<br />

é encontrado com maior freqüência<br />

nas populações analisadas.<br />

Soluções<br />

● Solução <strong>de</strong> Iodo <strong>de</strong> Lugol: <strong>para</strong><br />

essa solução é utilizado 10g <strong>de</strong> io<strong>de</strong>to<br />

<strong>de</strong> potássio dissolvido em água.<br />

Adiciona-se lentamente 5g <strong>de</strong> cristais<br />

<strong>de</strong> iodo e agita-se até a completa<br />

dissolução. Filtra-se e estoca-se<br />

em frasco <strong>de</strong> cor âmbar com tampa<br />

esmerilhada, ao abrigo da luz. Novas<br />

soluções são pre<strong>para</strong>das <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> 10 a 14 dias. Antes do uso essa<br />

Positivo<br />

30,8%<br />

Negativo<br />

60,2%<br />

Figura 1. Porcentagem <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitológicos positivos e negativos em 5.512 amostras analisadas<br />

104<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Outro dado analisado foi a ocorrência<br />

<strong>de</strong> <strong>para</strong>sitoses por sexo on<strong>de</strong><br />

61% das mulheres e 39% dos homens<br />

encontravam-se <strong>para</strong>sitados.<br />

Esses dados estão <strong>de</strong> acordo com os<br />

resultados encontrados por Cantos et<br />

al, (2005) em Maringá, on<strong>de</strong> 56,6%<br />

das mulheres e 43,4% dos homens<br />

encontravam-se <strong>para</strong>sitados respectivamente<br />

(Figura 3).<br />

Este estudo contemplou quatro<br />

faixas etárias. Indivíduos <strong>de</strong> 0 a 12<br />

anos, que se apresentaram 28,8%<br />

<strong>para</strong>sitados; <strong>de</strong> 13 a 20 anos, 6,6%<br />

<strong>para</strong>sitados; <strong>de</strong> 21 a 60 anos, 49%<br />

<strong>para</strong>sitados; >60 anos, 15,6% <strong>para</strong>sitados<br />

(Tabela 1).<br />

Em relação à distribuição das entero<strong>para</strong>sitoses<br />

(Tabela 2), a infecção por<br />

protozoários (99,30%) foi muito maior<br />

que a por helmintos (0,70%). Este fato<br />

provavelmente se explique <strong>de</strong>vido ao<br />

uso indiscriminado <strong>de</strong> vermífugos tomados<br />

pela população em geral (7); além<br />

disso, esses índices são pouco comparáveis<br />

a outros estudos realizados <strong>de</strong>vido<br />

à falta <strong>de</strong> critérios homogêneos <strong>para</strong> a<br />

escolha das amostras.<br />

Mono<strong>para</strong>sitismo Bi<strong>para</strong>sitismo Poli<strong>para</strong>sitismo<br />

23,90%<br />

71,80%<br />

4,30%<br />

Figura 2. Relação do grau <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitismo das amostras positivas da população analisada<br />

Homens<br />

39%<br />

Mulheres<br />

61%<br />

Figura 3. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitoses por sexo nos exames positivos analisados<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

105


Tabela 1. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas nas amostras positivas analisadas (fevereiro a julho<br />

<strong>de</strong> 2006)<br />

Ida<strong>de</strong> Total positivas Percentual positivas<br />

0 a 12 anos 631 28,8%<br />

13 a 20 anos 143 6,6%<br />

21 a 60 anos 1.073 49%<br />

> 60 anos 342 15,6%<br />

Total 2.189 100%<br />

Tabela 2. Ocorrência total <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas nas amostras positivas analisadas (fevereiro a<br />

julho <strong>de</strong> 2006)<br />

Protozoários Número absoluto Percentual<br />

Giardia duo<strong>de</strong>nalis 191 8,7%<br />

Blastocystis hominis 897 41%<br />

Endolimax nana 737 33,7%<br />

Entamoeba coli 170 7,8%<br />

Entamoeba histolytica 160 7,3%<br />

Iodamoeba bütschilii 18 0,8%<br />

Subtotal 1 2.173 99,3%<br />

Helmintos Número absoluto Percentual<br />

Ancilostomí<strong>de</strong>o 1 0,05%<br />

Enterobius vermiculares 3 0,1%<br />

Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s 8 0,4%<br />

Trichiuris trichiura 3 0,1%<br />

Tenia spp 1 0,05%<br />

Subtotal 2 16 0,7%<br />

Total 2.189 100%<br />

A alta prevalência <strong>de</strong> B. hominis<br />

(41%) entre os <strong>para</strong>sitas existentes<br />

neste estudo está <strong>de</strong> acordo com os<br />

relatos <strong>de</strong> Cimerman e Cimerman<br />

(2001), em que o B. hominis é freqüentemente<br />

o mais encontrado protozoário<br />

relatado em amostras fecais<br />

humanas, igualmente <strong>de</strong> pacientes<br />

sintomáticos e <strong>de</strong> indivíduos saudáveis.<br />

De qualquer maneira, não têm<br />

sido feitas tentativas <strong>para</strong> <strong>de</strong>terminar<br />

a verda<strong>de</strong>ira prevalência <strong>de</strong> B. hominis<br />

em humanos.<br />

Os dados <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> infecção<br />

pelo B. hominis não parecem<br />

estar restritos a condições climáticas<br />

ou a grupos socioeconômicos, nem a<br />

geográficas, com dados publicados<br />

indicando uma distribuição universal.<br />

A infecção provavelmente não difere<br />

sua prevalência em homens e mulheres,<br />

mas talvez seja influenciada<br />

pela ida<strong>de</strong> do paciente, sua condição<br />

imunológica e fatores relacionados<br />

à higiene.<br />

A ocorrência <strong>de</strong> Giárdia duo<strong>de</strong>nalis<br />

mostrou-se maior no grupo <strong>de</strong><br />

faixa etária <strong>de</strong> 0 a 12 anos (18,8%)<br />

do que nos outros grupos, como po<strong>de</strong><br />

ser observado nas Figuras A, B, C e<br />

D. Estes dados corroboram com as<br />

consi<strong>de</strong>rações feitas por Rey (2002)<br />

em que a incidência <strong>de</strong> Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />

aumenta nas crianças até a<br />

puberda<strong>de</strong> e cai <strong>de</strong>pois <strong>para</strong> taxas<br />

muito menores, não se sabendo se<br />

<strong>de</strong>vido à imunida<strong>de</strong> ou a outras condições<br />

fisiológicas.<br />

Os helmintos mais encontrados<br />

foram Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s, Trichiuris<br />

trichiura e Enterobius vermiculares. O<br />

Triciuris trichiura quase sempre segue<br />

<strong>para</strong>lelamente à prevalência <strong>de</strong> Ascaris<br />

lumbricoi<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vido a ser idêntico<br />

o modo <strong>de</strong> transmissão, gran<strong>de</strong> fertilida<strong>de</strong><br />

dos helmintos e semelhante à<br />

resistência dos ovos às condições do<br />

meio exterior. O alto índice <strong>de</strong> Enterobius<br />

vermicularis <strong>de</strong>ve-se ao tipo <strong>de</strong><br />

transmissão do <strong>para</strong>sitismo, que se dá<br />

geralmente pela inalação e ingestão<br />

<strong>de</strong> ovos disseminados por via aérea.<br />

Ocorre facilmente entre pessoas que<br />

dormem no mesmo quarto e, mais<br />

ainda, na mesma cama; também entre<br />

pessoas que freqüentam as mesmas<br />

instalações sanitárias, pois no ato<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>spir-se e vestir-se, <strong>de</strong>scobri-se<br />

e cobrir-se com os lençóis, a agitação<br />

da roupa contaminada lança gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ovos (8).<br />

A incidência <strong>de</strong>ste <strong>para</strong>sito po<strong>de</strong><br />

estar sendo subestimada, já que os<br />

exames <strong>de</strong> fezes, mesmo com enriquecimento,<br />

só revelam <strong>de</strong> 5 a 10%<br />

dos casos <strong>de</strong>sse <strong>para</strong>sitismo. A melhor<br />

forma <strong>de</strong> encontrá-los consiste na<br />

utilização do método da fita a<strong>de</strong>siva<br />

(transparente) ou método <strong>de</strong> Graham,<br />

on<strong>de</strong> ovos, quando presentes, a<strong>de</strong>rem<br />

à superfície da goma da fita. Depois<br />

<strong>de</strong> removida da pele a fita é colocada<br />

sobre lâmina <strong>de</strong> microscopia e examinada<br />

ao microscópio (8 e 9).<br />

Outro <strong>para</strong>sito que po<strong>de</strong> estar<br />

sendo subestimado, apesar <strong>de</strong> supostamente<br />

não haver nenhuma<br />

amostra contaminada pelo mesmo,<br />

106<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


46,5%<br />

26,1%<br />

18,8%<br />

6,6%<br />

5,0%<br />

1,0%<br />

Blastocystis hominis<br />

Endolimax nana<br />

Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />

Entamoeba coli<br />

Entamoeba histolytica<br />

Outros<br />

Figura A. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (0 a 12 anos) nas amostras positivas<br />

<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />

39,1%<br />

35,7%<br />

13,3%<br />

6,3%<br />

2,8%<br />

2,8%<br />

Outros<br />

Blastocystis hominis<br />

Endolimax nana<br />

Entamoeba histolytica<br />

Entamoeba coli<br />

Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />

Figura B. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (13 a 20 anos) nas amostras positivas<br />

<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />

é o Strongyloi<strong>de</strong>s stercoralis. O<br />

exame <strong>de</strong> fezes é o principal recurso<br />

<strong>para</strong> comprovar esse <strong>para</strong>sitismo,<br />

confirmando a presença <strong>de</strong> larvas<br />

nas mesmas, já que os ovos <strong>de</strong>sse<br />

<strong>para</strong>sita eclo<strong>de</strong>m logo <strong>de</strong>pois da oviposição,<br />

ainda na mucosa intestinal<br />

(8). Porém, a confirmação <strong>para</strong>sitológica<br />

da presença da infecção po<strong>de</strong><br />

ser dificultada pelo pequeno número<br />

<strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos, além da liberação <strong>de</strong><br />

larvas nas fezes ser mínima e irregular<br />

na infecção mo<strong>de</strong>rada. Nessas<br />

circunstâncias os métodos <strong>de</strong> rotina<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

107


41,1%<br />

36,3%<br />

9,1%<br />

7,7% 4,4%<br />

1,4%<br />

Blastocystis hominis<br />

Figura C. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (21 a 60 anos) nas amostras positivas<br />

<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />

38,6% 38,6%<br />

7,9%<br />

6,1% 6,1%<br />

1,0%<br />

Blastocystis hominis<br />

Endolimax nana<br />

Endolimax nana<br />

Entamoeba coli<br />

Entamoeba histolytica<br />

Entamoeba histolytica<br />

Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />

Giardia duo<strong>de</strong>nalis<br />

Entamoeba coli<br />

Outros<br />

Outros<br />

Figura D. Ocorrência <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitas por faixa etária (> 60 anos) nas amostras positivas<br />

<strong>de</strong> fevereiro a julho <strong>de</strong> 2006<br />

utilizados no presente estudo não lise <strong>de</strong> amostras fecais <strong>para</strong> diagnóstico<br />

são a<strong>de</strong>quados. Há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> das <strong>para</strong>sitoses, cada uma <strong>de</strong>las possui<br />

execução <strong>de</strong> métodos específicos. vantagens e <strong>de</strong>svantagens.<br />

Resultados <strong>para</strong>sitológicos negativos<br />

po<strong>de</strong>m não indicar ausência <strong>de</strong> exame simples e eficiente <strong>para</strong> o<br />

O Exame direto a fresco é um<br />

infecção (9).<br />

estudo <strong>de</strong> fezes permitindo observar<br />

os estágios <strong>de</strong> diagnóstico Com relação à metodologia <strong>de</strong> aná-<br />

dos<br />

protozoários e dos helmintos, porém<br />

apresenta <strong>de</strong>ficiência se o número<br />

<strong>de</strong> organismos for pequeno, po<strong>de</strong>ndo<br />

ser o exame <strong>de</strong> pequena quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fezes usada <strong>para</strong> a pre<strong>para</strong>ção do<br />

esfregaço a fresco insuficiente <strong>para</strong><br />

revelar a presença <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitos. O<br />

lugol, quando utilizado na coloração<br />

do exame direto a fresco, é útil <strong>para</strong><br />

corar cistos, porém, não é recomendado<br />

<strong>para</strong> a coloração <strong>de</strong> estágios<br />

vegetativos, já que todos os organismos<br />

vivos são mortos e distorcidos<br />

pelo corante.<br />

No Método <strong>de</strong> Hoffman, além<br />

da vantagem prática <strong>de</strong> ser necessário<br />

o mínimo <strong>de</strong> vidraria e <strong>de</strong> ser<br />

dispensável o uso <strong>de</strong> reagentes e<br />

centrifugação, a gran<strong>de</strong> vantagem<br />

do processo é que, em contraste às<br />

pequenas quantida<strong>de</strong>s usadas em outras<br />

técnicas, favorece um diagnóstico<br />

satisfatório e seguro, mesmo quando<br />

o número <strong>de</strong> organismos presente<br />

é pequeno. A <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong>sse<br />

processo <strong>de</strong> diagnóstico coprológico<br />

é a gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tritos<br />

fecais no sedimento, dificultando,<br />

com freqüência, a pre<strong>para</strong>ção e o<br />

exame <strong>de</strong> lâmina.<br />

O Método Kato-Katz é um procedimento<br />

simples e muito eficiente,<br />

já que <strong>de</strong>monstra possuir excelente<br />

sensibilida<strong>de</strong> e reprodutibilida<strong>de</strong>,<br />

<strong>para</strong> <strong>de</strong>tectar ovos <strong>de</strong> helmintos e<br />

protozoários.<br />

A gran<strong>de</strong> vantagem do método<br />

é o uso significativo <strong>de</strong> fezes (50 à<br />

60mg), qual é examinada diretamente<br />

sem o emprego <strong>de</strong> outros procedimentos<br />

<strong>de</strong> concentração. Nesse método<br />

é obrigatório o uso <strong>de</strong> amostras<br />

fecais frescas ou refrigeradas (por<br />

um período <strong>de</strong> tempo pequeno), não<br />

possibilitando o uso <strong>de</strong> espécimes<br />

preservados pelos fixadores tradicionais,<br />

os quais promovem liquefação<br />

e diluição, afetando, possivelmente,<br />

108<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> clarificação <strong>de</strong><br />

mistura <strong>de</strong> glicerina, prejudicando a<br />

ação do método (4).<br />

Conclusão<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista médico e social,<br />

as entero<strong>para</strong>sitoses representam importantes<br />

problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública<br />

que, além <strong>de</strong> ameaçarem constantemente<br />

a vida e o bem-estar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

parte da população, causam consi<strong>de</strong>ráveis<br />

perdas econômicas com assistência<br />

médica, redução da produtivida<strong>de</strong><br />

ou incapacitação <strong>para</strong> o trabalho.<br />

O alto percentual <strong>de</strong> <strong>para</strong>sitoses<br />

encontrado no presente estudo<br />

(30,8%) mostra a existência <strong>de</strong> focos<br />

<strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> helmintos e protozoários<br />

no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong>monstra<br />

também <strong>de</strong>ficiências higiênicas da<br />

população pesquisada e a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> profilaxia por parte<br />

das autorida<strong>de</strong>s como saneamento<br />

básico, educação sanitária <strong>para</strong> que a<br />

importância da higiene pessoal, com<br />

os alimentos e transmissão <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sitoses<br />

possa ser compreendida<br />

pela população.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

luciana.diaz@yahoo.com.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

Jekel JF, Elmore JG, Katez DL. Epi<strong>de</strong>miologia, bioestatística e medicina preventiva.<br />

Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.<br />

2.<br />

Sten<strong>de</strong>l M, Barreiros JT, Papp KM. Promovendo Saú<strong>de</strong> na Vila Aparecida Univer-<br />

sida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina. Santa Catarina. Disponível em: . Acesso em: Nove <strong>de</strong> setembro<br />

<strong>de</strong> 2006.<br />

3.<br />

Costa-Gurgel MS, Nunes MPO, Nunes JFL, Silva EMA. Prevalência <strong>de</strong> entero<strong>para</strong>sito-<br />

ses em Natal: rotina coproscópica da <strong>para</strong>sitologia clínica UFRN. Revista Brasileira<br />

<strong>de</strong> Análises Clínicas, vol 24: 103-107, 1992.<br />

4.<br />

De Carli GA. Parasitologia Clínica; Seleção <strong>de</strong> Métodos e Técnicas <strong>de</strong> Laboratório<br />

<strong>para</strong> o Diagnóstico das Parasitoses Humanas. São Paulo: Atheneu, 2001. 810 p.<br />

5.<br />

6.<br />

Rey L. Parasitologia. 3° ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 856p.<br />

Cimerman B, Cimerman S. Parasitologia Humana e seus Fundamentos Gerais. 2°<br />

ed. São Paulo: Atheneu, 2001. 390p.<br />

7.<br />

Cantos GA, Morais MM, Correa DC, Ishida N. Análise da Ocorrência <strong>de</strong> En-<br />

tero<strong>para</strong>sitoses em uma População Ambulatorial <strong>de</strong> Maringá-PR. Revista Laes e<br />

Haes, 3(76):90, 2001.<br />

8.<br />

Rey L. Bases da Parasitologia Médica. 2° ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan,<br />

2002. 379 p.<br />

9.<br />

Neves DP. Parasitologia Humana. 11° ed. São Paulo: Atheneu, 2005. 494p.<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

109


Artigo<br />

Triagem <strong>de</strong> Hemoglobinas Anormais<br />

em Doadores <strong>de</strong> Sangue no Estado do Amapá<br />

Al<strong>de</strong>nilson Pinheiro 1 , Clayton Joseph 1 , Ártemis Socorro do Nascimento Rodrigues 2<br />

1 - Hemocentro do Estado do Amapá<br />

2 - Professora da Disciplina Hematologia da Faculda<strong>de</strong> SEAMA, Macapá, AP<br />

Resumo<br />

Summary<br />

Triagem <strong>de</strong> Hemoglobinas Anormais em Doadores<br />

<strong>de</strong> Sangue no Estado do Amapá<br />

O Brasil apresenta alta prevalência <strong>de</strong> hemoglobina S, com nítidas<br />

diferenças regionais marcadas pelos processos <strong>de</strong> miscigenação da<br />

população. A presença <strong>de</strong>sta hemoglobina tem sido objeto <strong>de</strong> estudo,<br />

não só em pacientes com anemia falciforme, mas também em portadores<br />

<strong>de</strong>sta variante <strong>de</strong> hemoglobina em heterozigoze. A informação sobre o<br />

tipo <strong>de</strong> hemoglobina alterada e o suporte clínico, psicológico e genético<br />

ao portador e seus familiares é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância nesta área. De<br />

acordo com a portaria RDC 153 <strong>de</strong> 2004 <strong>para</strong> Normas técnicas <strong>de</strong><br />

coleta, processamento e transfusão <strong>de</strong> sangue, componentes e <strong>de</strong>rivados,<br />

do Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ser realizada a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> hemoglobinas<br />

anormais em doadores <strong>de</strong> sangue. Diante <strong>de</strong>sta normatização,<br />

objetivamos no presente trabalho a i<strong>de</strong>ntificação da hemoglobina S em<br />

doadores <strong>de</strong> sangue no estado do Amapá. Estudamos 888 amostras <strong>de</strong><br />

doadores voluntários <strong>de</strong> sangue, através <strong>de</strong> procedimentos eletroforéticos<br />

e bioquímica. Os resultados obtidos <strong>de</strong>monstraram uma gran<strong>de</strong> prevalência<br />

<strong>de</strong> indivíduos heterozigotos <strong>para</strong> anemia falciforme, <strong>de</strong>monstrando<br />

assim, a importância em se <strong>de</strong>terminar a prevalência <strong>de</strong> hemoglobina<br />

S em diferentes regiões do país, a fim <strong>de</strong> proporcionar esclarecimento<br />

necessário <strong>para</strong> essa alteração genética.<br />

Palavras-chaves: Doadores <strong>de</strong> sangue, traço falciforme,<br />

hemoglobina S<br />

Screening of Abnormal Hemoglobins of Blood Donors<br />

in the State of Amapá<br />

Brazil has a high prevalence of hemoglobin S, with clear regional<br />

differences marked by the process of population miscegenation. The<br />

presence of this hemoglobin has been the subject of studies, not<br />

only in sickle cell disease patients but also for the sickle cell trait.<br />

Information on the type of hemoglobin abnormality and clinical,<br />

psychological and genetic guidance for the affected individuals<br />

and their relatives is of great importance. According to the 2004<br />

government law (RDC 153) on the technical norms for the collection,<br />

processing and transfusion of blood, components and <strong>de</strong>rivatives<br />

issued by the Health Ministry, abnormal hemoglobins should be<br />

tested for in blood donors. The objective of this work was to i<strong>de</strong>ntify<br />

hemoglobin S in blood donors in the State of Amapá. A total of 888<br />

samples from volunteer blood donors were studied using electrophoresis<br />

and biochemical procedures. The results <strong>de</strong>monstrated a high<br />

prevalence of individuals with the sickle cell trait, thereby showing<br />

the importance of <strong>de</strong>termining the prevalence of hemoglobin S in<br />

different regions of the country in or<strong>de</strong>r to provi<strong>de</strong> the necessary<br />

awareness of this genetic alteration.<br />

Keywords: Blood donors, sickle cell disease, hemoglobin S<br />

Introdução<br />

As hemoglobinopatias, também<br />

conhecidas como distúrbios<br />

hereditários da hemoglobina<br />

humana, são doenças<br />

geneticamente <strong>de</strong>terminadas e<br />

apresentam morbida<strong>de</strong> significativa<br />

em todo o mundo (1). Milhões <strong>de</strong><br />

pessoas trazem em seu patrimônio<br />

genético, hemoglobinas anormais<br />

em várias combinações com conseqüências<br />

que variam das quase<br />

imperceptíveis às letais (2).<br />

O Brasil se caracteriza por significativa<br />

mistura racial on<strong>de</strong> o processo<br />

<strong>de</strong> colonização teve influência<br />

na dispersão dos genes anormais,<br />

principalmente talassemias e falcemias.<br />

Assim, a distribuição das hemoglobinas<br />

anormais, provenientes<br />

<strong>de</strong> formas variantes e talassemias,<br />

está relacionada com as etnias que<br />

compõem nossa população. Dentre<br />

96<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


as hemoglobinas variantes, as mais<br />

freqüentes na população brasileira<br />

são a hemoglobina S (HbS) e C<br />

(HbC), ambas <strong>de</strong> origem africana,<br />

mostrando a intensa participação do<br />

negro na composição populacional<br />

brasileira (2).<br />

A <strong>de</strong>nominação talassemia abrange<br />

um grupo heterogêneo <strong>de</strong> distúrbios<br />

genéticos da síntese <strong>de</strong> hemoglobina,<br />

caracterizado por redução<br />

na produção <strong>de</strong> uma ou mais ca<strong>de</strong>ias<br />

polipeptídicas <strong>de</strong> globina, que resulta<br />

no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> anemia<br />

microcítica e hipocrômica (3). As<br />

talassemias são mais freqüentes em<br />

regiões que tiveram maior participação<br />

da colonização italiana. Outras<br />

variantes raras como as hemoglobinas<br />

D, J, I, N e G são encontradas<br />

em diferentes localida<strong>de</strong>s (4).<br />

A hemoglobina S é a mais comum<br />

das alterações hematológicas<br />

hereditárias conhecidas no homem.<br />

É causada por mutação no gene beta<br />

da globina, produzindo alteração<br />

estrutural na molécula, on<strong>de</strong> há<br />

troca <strong>de</strong> uma base nitrogenada do<br />

códon GAG <strong>para</strong> GTG, resultando na<br />

substituição do ácido glutâmico pela<br />

valina na posição <strong>de</strong> número 6 (3).<br />

O gene Hb S foi introduzido no Brasil<br />

pelo tráfico <strong>de</strong> escravos, sendo encontrado<br />

predominantemente (mas<br />

não exclusivamente) entre negros<br />

e pardos. No Su<strong>de</strong>ste do país a<br />

prevalência média <strong>de</strong> heterozigotos<br />

em populações mistas é <strong>de</strong> cerca<br />

<strong>de</strong> 2%. Esta prevalência aumenta<br />

mo<strong>de</strong>radamente em populações do<br />

Nor<strong>de</strong>ste ou em grupos selecionados<br />

(como negros e pardos), po<strong>de</strong>ndo<br />

chegar a 6%. As formas com manifestações<br />

clínicas são conhecidas<br />

como doenças falciformes, incluindo<br />

a anemia falciforme (forma homozigótica)<br />

e as combinações com Hb C,<br />

β talassemias ou Hb D (5).<br />

A doença falciforme agrupa um<br />

conjunto <strong>de</strong> genótipos diferentes caracterizados<br />

pela concentração da Hb<br />

S estar acima <strong>de</strong> 50%. Nesse grupo<br />

<strong>de</strong>staca-se a anemia falciforme, geneticamente<br />

<strong>de</strong>terminada pela homozigose<br />

da hemoglobina S (Hb SS), que<br />

além <strong>de</strong> ser a forma mais prevalente<br />

entre as doenças falciformes é, em geral,<br />

a que apresenta maior gravida<strong>de</strong><br />

clínica e hematológica (6).<br />

O traço falciforme caracteriza o<br />

portador assintomático, heterozigoto<br />

<strong>para</strong> Hb S, representando laboratorialmente<br />

por Hb AS. Os portadores<br />

não apresentam a doença, nem possuem<br />

anormalida<strong>de</strong>s no número e<br />

formas <strong>de</strong> hemácias, geralmente evi<strong>de</strong>nciados<br />

por análises <strong>de</strong> rotina (7).<br />

É uma condição genética freqüente na<br />

população brasileira, afetando <strong>de</strong> 6 a<br />

10% dos negrói<strong>de</strong>s e cerca <strong>de</strong> 1% da<br />

população geral (8).<br />

Baseados em diversas técnicas,<br />

tem sido motivo <strong>de</strong> estudo no Brasil<br />

à <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> Hb S em doadores <strong>de</strong><br />

sangue, segundo portaria RDC no 153,<br />

<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004 (9). A importância<br />

<strong>de</strong> avaliações <strong>de</strong>stas hemoglobinas<br />

resi<strong>de</strong> na necessida<strong>de</strong> da melhoria,<br />

a cada dia, da qualida<strong>de</strong> do sangue<br />

a ser transfundido, além do aspecto<br />

educacional, cujos portadores <strong>de</strong>verão<br />

ser orientados sobre sua alteração<br />

genética e aconselhamentos a realizar<br />

exames em seus familiares (10).<br />

O presente estudo teve como<br />

objetivo principal realizar um levantamento<br />

da prevalência <strong>de</strong> hemoglobinas<br />

anormais em doadores sangue<br />

no estado do Amapá.<br />

Casauística e Métodos<br />

No período <strong>de</strong> 01 a 30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

2007 foram estudadas 888 amostras<br />

<strong>de</strong> doadores voluntários <strong>de</strong> sangue <strong>de</strong><br />

ambos os sexos e faixa etária <strong>de</strong> 18<br />

a 50 anos, atendidos no hemocentro<br />

do estado do Amapá.<br />

Os doadores foram escolhidos aleatoriamente<br />

<strong>de</strong> acordo com a época da<br />

doação. Todos os doadores assinaram<br />

o “Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e<br />

Esclarecido” segundo a Resolução<br />

196/96 do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,<br />

conforme orientação do Comitê<br />

<strong>de</strong> Ética em Pesquisa da Faculda<strong>de</strong><br />

SEAMA. As amostras <strong>de</strong> sangue foram<br />

colhidas por punção venosa durante<br />

o processo <strong>de</strong> doação em tubos com<br />

anticoagulantes (EDTA).<br />

Após o preparo, as amostras<br />

foram submetidas à eletroforese<br />

em pH alcalino em gel <strong>de</strong> agarose.<br />

Foram utilizadas amostras padrões<br />

contendo Hb AS, Hb SS e HbA <strong>para</strong><br />

a i<strong>de</strong>ntificação das hemoglobinas das<br />

amostras em estudo. A eletroforese<br />

foi realizada à temperatura ambiente,<br />

com voltagem <strong>de</strong> 300 V por<br />

20 minutos (11). As amostras que<br />

apresentaram migração semelhante<br />

à hemoglobina S foram submetidas<br />

ao teste <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> (12).<br />

Resultados e<br />

Discussão<br />

Foram estudadas 888 amostras<br />

<strong>de</strong> doadores voluntários <strong>de</strong> sangue<br />

<strong>de</strong> ambos os sexos. Todas as amostras,<br />

inicialmente, foram submetidas<br />

à eletroforese em pH alcalino em gel<br />

<strong>de</strong> agarose. Das 888 amostras, 30<br />

(3,38%) foram heterozigotas <strong>para</strong><br />

hemoglobina S, sendo essa a única<br />

hemoglobina anormal encontrada em<br />

nosso estudo, o restante das amostras<br />

foi homozigoto <strong>para</strong> hemoglobina A (Hb<br />

A) (Tabela1). Resultados semelhantes<br />

foram observados por Lima et al (5) em<br />

2006 em um estudo realizado em 320<br />

amostras <strong>de</strong> crianças e adolescentes.<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

97


Tabela 1. Prevalência <strong>de</strong> hemoglobinas anormais em 888 amostras <strong>de</strong> doadores voluntários <strong>de</strong> sangue<br />

Amostras A/A A/S<br />

888 858 (96,6%) 30 (3,38%)<br />

Todas as amostras que apresentaram<br />

padrão <strong>para</strong> a hemoglobina<br />

S foram estudadas pelo teste <strong>de</strong><br />

solubilida<strong>de</strong>, confirmando o resultado<br />

encontrado na eletroforese.<br />

O teste <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong> tem como<br />

princípio reduzir a Hb S, que é relativamente<br />

insolúvel no tampão<br />

inorgânico, enquanto que as outras<br />

hemoglobinas são solúveis. A lise<br />

dos eritrócitos, quando na mistura<br />

<strong>de</strong> ditionito <strong>de</strong> sódio no teste <strong>de</strong><br />

solubilida<strong>de</strong>, libera hemoglobina<br />

<strong>de</strong>soxigenada e a ca<strong>de</strong>ia beta <strong>de</strong><br />

cada molécula se <strong>de</strong>sloca lateralmente,<br />

causando “opacida<strong>de</strong>” na<br />

leitura do teste (2).<br />

De acordo com a portaria RDC<br />

153, <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2004, “todo sangue<br />

a ser coletado, processado<br />

e transfundido, <strong>de</strong>ve apresentar<br />

boa qualida<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>ndo ser,<br />

portanto, veículo <strong>de</strong> propagação<br />

<strong>de</strong> patologias”. Esta portaria recomenda<br />

também que seja realizada<br />

a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> Hb S em doadores<br />

<strong>de</strong> sangue (9).<br />

Diante <strong>de</strong>ste fato, a chance <strong>de</strong><br />

encontramos um receptor com traço<br />

falciforme no estado <strong>de</strong> Amapá<br />

é gran<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vido à constituição<br />

genética da população, formada<br />

principalmente por <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> africanos, sendo assim, isso<br />

diminuiria a eficácia da transfusão,<br />

on<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> células anormais<br />

faria com que, receptores com Hb<br />

AA, tivessem uma transfusão ineficiente,<br />

não cumprindo assim seu<br />

papel, e obteríamos uma transfusão<br />

com “vida mais curta”, uma vez<br />

que a concentração <strong>de</strong> Hb A seria<br />

menor. No paciente portador <strong>de</strong> Hb<br />

S, se transfundirmos sangue com<br />

Hb AS, estaremos aumentando a<br />

concentração <strong>de</strong> Hb S em torno <strong>de</strong><br />

90%, uma vez que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

S no portador AS é <strong>de</strong> 25 a 45%,<br />

portanto, diminuindo a sua oxigenação,<br />

po<strong>de</strong>ndo aumentar o risco<br />

<strong>de</strong> hemólise (13).<br />

Devido à alta prevalência <strong>de</strong><br />

hemoglobina S em nosso país, esta<br />

triagem permite esclarecimento e<br />

“aconselhamento” <strong>para</strong> portadores<br />

assintomáticos, não só <strong>para</strong> orientação<br />

<strong>de</strong> reprodução, mas também<br />

como orientação, uma vez que várias<br />

profissões ou esportes têm fator <strong>de</strong><br />

risco aumentando <strong>para</strong> Hb S, como<br />

vôo não pressurizado, pára-quedismo,<br />

esforço físico em gran<strong>de</strong>s altitu<strong>de</strong>s,<br />

ou mesmo em altitu<strong>de</strong> normal,<br />

ou após excesso <strong>de</strong> esforços físico.<br />

Há relato <strong>de</strong> morte súbita, após<br />

anestesia, quando em transfusão por<br />

sangue com Hb S (13, 14).<br />

A prevalência média <strong>de</strong> portadores<br />

<strong>de</strong> traço falciforme no Brasil é <strong>de</strong><br />

2,1%, com variações regionais po<strong>de</strong>ndo<br />

atingir valores acima <strong>de</strong> 5% (5,<br />

14). Nossos resultados encontram-se<br />

<strong>de</strong>ntro da faixa <strong>de</strong> percentagem <strong>de</strong>scrita<br />

por outros pesquisadores em<br />

outras regiões do Brasil (5, 14-17).<br />

Este foi o primeiro estudo feito no<br />

estado do Amapá <strong>para</strong> a i<strong>de</strong>ntificação<br />

<strong>de</strong> hemoglobinas anormais.<br />

A Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong><br />

recomenda a implantação <strong>de</strong> programas<br />

<strong>para</strong> prevenção e controle<br />

<strong>de</strong> hemoglobinopatias na América<br />

Latina, especialmente no Brasil. A<br />

organização <strong>de</strong> um programa preventivo<br />

requer suporte dos órgãos<br />

oficiais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, treinamento <strong>de</strong><br />

pessoal capacitado <strong>para</strong> diagnóstico,<br />

aconselhamento genético e clínico<br />

dos pacientes. O sucesso <strong>de</strong>stes<br />

programas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da receptivida<strong>de</strong>,<br />

disponibilida<strong>de</strong> e interesse da<br />

população a ser estudada (2).<br />

A <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> indivíduos portadores<br />

das formas imperceptíveis<br />

<strong>de</strong> hemoglobinopatias, os heterozigotos,<br />

é extremamente importante<br />

<strong>para</strong> saú<strong>de</strong> pública pois, além <strong>de</strong><br />

representarem fontes <strong>de</strong> novos<br />

heterozigotos, po<strong>de</strong>m, através <strong>de</strong><br />

casamentos entre portadores, originar<br />

indivíduos homozigotos e duplos<br />

heterozigotos como, por exemplo,<br />

os portadores <strong>de</strong> hemoglobina SC<br />

(Hb SC), que manifestam uma forma<br />

clínica.<br />

Os programas <strong>de</strong> prevenção<br />

colaboram <strong>para</strong> a conscientização<br />

dos heterozigotos fornecendo informações<br />

<strong>para</strong> que possam <strong>de</strong>cidir<br />

responsavelmente sobre o futuro <strong>de</strong><br />

seus <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes; favorecendo o<br />

direcionamento clínico nos casos<br />

mais brandos e indicar o acompanhamento<br />

a<strong>de</strong>quado aos portadores<br />

das formas mais grave da doença.<br />

É importante uma tecnologia<br />

a<strong>de</strong>quada <strong>para</strong> o diagnóstico, utilizando<br />

vários testes laboratoriais<br />

seletivos e <strong>de</strong> confirmação, dados<br />

clínicos e estudo familial, bem como<br />

a formação <strong>de</strong> pessoal capacitado<br />

<strong>para</strong> o diagnóstico laboratorial correto<br />

(2).<br />

98<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008


Conclusão<br />

● Em nosso estudo, a hemoglobina S<br />

foi a única hemoglobina anormal encontrada,<br />

com uma prevalência <strong>de</strong> 3,38%<br />

do total <strong>de</strong> amostras estudadas.<br />

● A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> novos heterozigotos<br />

(Hb AS) é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância<br />

<strong>para</strong> saú<strong>de</strong> pública, pois esses<br />

são fontes <strong>de</strong> novos heterozigotos e<br />

homozigotos.<br />

● Este foi o primeiro estudo realizado<br />

no estado Amapá <strong>para</strong> a <strong>de</strong>tecção<br />

<strong>de</strong> indivíduos com o traço falciforme.<br />

Além do enfoque social e clínico a<br />

i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>sses indivíduos portadores<br />

<strong>de</strong> hemoglobinas anormais<br />

é importante <strong>para</strong> a realização <strong>de</strong><br />

exames em seus familiares, visando<br />

melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Correspondências <strong>para</strong>:<br />

Profa. Dra. Ártemis Rodrigues<br />

asnrodrigues@seama.edu.br<br />

Referências Bibliográficas<br />

1.<br />

2.<br />

Thompson MW, Mclnmes RR, Willard HF. Genética médica. 5 ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.<br />

Orlando GM, Naoum PC, Siqueira FAM, Bonini-Domingos CR. Diagnóstico laboratorial <strong>de</strong> hemoglobinopatias em população<br />

diferenciada. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., 2000, 22(2): 111- 121.<br />

3.<br />

Tomé-Alves R, Marchi-Salvador DP, Orlando GM et.al. Hemoglobinas AS/Alfa-talassemia-importância diagnóstica. Rev. Bras.<br />

Hematol. Hemoter., 2000, 22 (3): 388-394.<br />

4.<br />

Naoum PC, Álvares Filho F, Domingos CRB, Ferrari F, Moreira HW, Sampaio ZA, Maziero PA, Castilho EM. Hemoglobinas<br />

anormais no Brasil: prevalência e distribuição geográfica. Res. Bras. Patol. Clin., 1987, 23(3): 68-72.<br />

5.<br />

6.<br />

Lima RCF, Castro EFP, Nóbrega MS, et.al. Triagem <strong>de</strong> hemoglobinas anormais em crianças e adolescentes. Newslab, 76: 130-140, 2006.<br />

Naoum PC. Interferentes eritrocitários eritrocitário e ambientais na anemia falciformes. Rev. Bras. Hematol. Hemoter., 22(1):<br />

05-22, 2000.<br />

7.<br />

8.<br />

Naoum PC. Eletroforese, técnicas e diagnóstico. 2 ed. São Paulo: Editora Santos, 1999.<br />

Silva RBP, Ramalho AS. Riscos e benefícios da triagem genética: o traço falciforme como mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> estudo em população<br />

brasileira. Cad. Saú<strong>de</strong> Pública, 1997, 13(2): 84-98.<br />

9.<br />

10.<br />

Brasil, Ministério da Saú<strong>de</strong>. RDC, n.153. Brasília, 2004.<br />

Prudêncio BCAB, Covas TC, Bonini-Domingos CR. Com<strong>para</strong>ção <strong>de</strong> metodologia utilizada <strong>para</strong> a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> hemoglobinas S<br />

(Hb S) em doadores <strong>de</strong> sangue. Rev. Bras. Hematolo. Hemoter., 22 (2): 99-109, 2000.<br />

11.<br />

12.<br />

Naoum PC. Hemoglobinopatias e Talassemias. São Paulo: Savier, 1997.<br />

Magalhães E, Arashiro DN. Um método simples <strong>para</strong> visualização da hemoglobina S em testes <strong>de</strong> solubilida<strong>de</strong>. Rev. Bras.<br />

Patol. Clin., 1977, 13: 133-134, 1977.<br />

13.<br />

Naoum PC, Bonini-Domingos CR. Doença falciforme no Brasil. Origem, genótipos, haplótipos e distribuição geográfica. Jorn.<br />

Bras. Patol., 1997 33(3): 145-153.<br />

14.<br />

Bonini-Domingos CR. Prevenção das hemoglobinopatias no Brasil. São José do Rio Preto, 1993. Tese (doutorado)-Instituto <strong>de</strong><br />

Biociências Letras e Ciências Exatas do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

15.<br />

Álvares Filho F. O gene beta S (hemoglobina S) no Brasil. Distribuição geográfica, etária e racial. São José do Rio Preto, 1990.<br />

Tese (doutorado)- Instituto <strong>de</strong> Biociências Letras e Ciências Exatas do Estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />

16.<br />

Daudt LE, Sechmaister D et. al. Triagem neonatal <strong>para</strong> hemoglobinopatias: um estudo piloto em Porto Alegre, Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul, Brasil. Cad. Saú<strong>de</strong> Pública, 2002, 18(3): 833-841.<br />

<strong>NewsLab</strong> - edição 89 - 2008<br />

99

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!