Ed. 116 - NewsLab
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Introdução<br />
Os Enterococcus spp são<br />
bactérias dispostas aos pares<br />
ou cadeias, apresentam<br />
cor violeta na coloração de Gram,<br />
são catalase-negativas e toleram<br />
elevadas temperaturas e variação<br />
de pH. Vivem de forma comensal no<br />
trato gastrintestinal, vesícula biliar<br />
e em menor proporção na vagina e<br />
canal uretral masculino. Também são<br />
encontradas no solo, água, plantas<br />
cruas como a batata, mandioca,<br />
salsa, repolho e produtos de origem<br />
animal como a carne crua, leite e<br />
queijo colonial (1, 2).<br />
Devido à facilidade de adquirir<br />
mecanismos de resistência, os Enterococcus<br />
ssp surgiram nos últimos anos<br />
como agentes etiológicos de infecções<br />
comunitárias e nosocomiais sérias,<br />
causando principalmente infecções<br />
urinárias, bacteremia, septicemia,<br />
endocardite infecciosa e infecções de<br />
feridas em indivíduos idosos, imunocomprometidos,<br />
com doenças ou<br />
condições primárias, internados por<br />
um grande período, com passagem<br />
por unidade de tratamento intensivo,<br />
internados próximos a indivíduos<br />
infectados, colonizados por micro-<br />
-organismo multirresistente ou que<br />
foram tratados com antimicrobianos<br />
de forma imprudente (1, 3, 4, 5).<br />
Furumura et al. (6) observaram<br />
que o Enterococcus faecalis tem<br />
capacidade de formar biofilmes em<br />
poliestireno e sugerem que o principal<br />
mecanismo de virulência desta bactéria<br />
consiste na produção dos mesmos<br />
e concomitantemente liberação de<br />
hemolisina, caseinase e lípase que<br />
danificam a célula do hospedeiro.<br />
Os Enterococcus spp exibem mecanismos<br />
de resistência para a maioria<br />
dos antimicrobianos utilizados nos tratamentos<br />
atualmente. Tal resistência<br />
pode ser constitutiva, intrínseca nos<br />
cromossomos, como para as lincosaminas,<br />
cefalosporinas, estreptograminas<br />
e aos betalactâmicos pela reduzida<br />
afinidade das proteínas ligantes<br />
de penicilinas (PBPs) e a baixos níveis<br />
de aminoglicosídeos decorrentes da<br />
minimizada permeabilidade celular ou<br />
alteração de sítio ligante ribossomal.<br />
A resistência adquirida ocorre por<br />
mutação ou obtenção de material genético<br />
externo, através de plasmídeos<br />
e transposons, como nos casos de<br />
resistência a altos níveis de betalactâmicos,<br />
glicopeptídeos, e resistência<br />
a altas concentrações dos aminoglicosídeos<br />
gentamicina e estreptomicina<br />
(HLAR). Somente a estreptomicina<br />
(HLR-ST) ou a gentamicina (HLR-GE)<br />
que decorre da síntese de enzimas<br />
modificadoras de aminoglicosídeos<br />
inativa o fármaco antes da ligação no<br />
receptor ribossômico (7-10).<br />
O método mais comumente aplicado<br />
no tratamento de infecções por<br />
Enterococcus spp é o sinergismo entre<br />
um antimicrobiano que atua na parede<br />
celular, como os betalactâmicos ou<br />
glicopeptídeos e um aminoglicosídeo,<br />
como a gentamicina, porém com o<br />
atual quadro de ascensão HLAR por<br />
parte do mesmo, esta terapia combinada<br />
tornou-se ineficaz, gerando um<br />
grande desafio no tratamento destas<br />
bactérias multirresistentes. Cepas<br />
resistentes produtoras de betalactamases<br />
podem ser tratadas com gentamicina,<br />
ampicilina-clavulanato ou<br />
vancomicina. Para os isolados HLAR<br />
a monoterapia com vancomicina produz<br />
efeito bacteriostático, porém não<br />
é muito recomendada pela possível<br />
aquisição de resistência ao mesmo;<br />
se suscetível, utiliza-se ampicilina,<br />
penicilina ou piperacilina (1, 9).<br />
Os Enterococcus spp resistentes<br />
à vancomicina (VRE) podem ser<br />
suscetíveis à ampicilina, tetraciclina,<br />
cloranfenicol, em combinação de dois<br />
a três antimicrobianos. Atualmente a<br />
alternativa para esses casos é a administração<br />
de linezolida, quinupristina-<br />
-dalfopristina e daptomicina. A escolha<br />
do antimicrobiano não leva em conta<br />
apenas a susceptibilidade, mas o tipo<br />
de infecção, a severidade e a resposta<br />
clínica do paciente (4, 7, 8, 9).<br />
Realizou-se a caracterização fenotípica<br />
das espécies de Enterococcus<br />
spp, prevalência de resistência HLAR,<br />
HLR-ST, HLR-GE e perfil de resistência<br />
aos antimicrobianos de uso comum,<br />
bem como o espécime clínico mais<br />
frequente, fonte de isolamento de<br />
Enterococcus. Os testes de resistência<br />
foram realizados pelo método de<br />
discodifusão no Hospital da Cidade de<br />
Passo Fundo.<br />
Devido ao aumento de isolamentos<br />
deste organismo, à importância na<br />
farmacoterapia, à resistência crescente<br />
e à ausência de dados sobre o<br />
isolamento de Enterococcus spp HLAR<br />
na região, justifica-se a realização<br />
desta pesquisa.<br />
Material e Métodos<br />
Realizou-se um estudo observacional<br />
descritivo e experimental, após<br />
a aprovação pelo Comitê de Ética<br />
em Pesquisa em Seres Humanos e<br />
Animais da Universidade Luterana do<br />
Brasil, sob protocolo número 2010-<br />
309H. No período de julho à metade<br />
de novembro de 2010 foram coletadas<br />
amostras de Enterococcus spp, de<br />
origem nosocomial e comunitária de<br />
diferentes espécimes clínicos, oriundos<br />
do Laboratório de Análises Clínicas<br />
do Hospital da Cidade de Passo Fundo.<br />
Após identificação do gênero<br />
por testes convencionais, as cepas<br />
gentilmente cedidas foram inoculadas<br />
em Ágar Soja-Tripticaseína<br />
<strong>NewsLab</strong> - edição <strong>116</strong> - 2013<br />
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