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E S P E C I A L<br />
Indústria está<br />
disposta a proteger<br />
atividades de P&D<br />
Adr i a n e Al i c e Pe r e i r a<br />
Crise: oportunidade e<br />
desafio para o Brasil inovador<br />
Turbulência econômica exige medidas específicas de<br />
apoio à inovação para garantir a competitividade do país<br />
Foi no seu discurso ao Congresso, <strong>em</strong><br />
24 de fevereiro, que o presidente dos<br />
Estados Unidos, Barack Obama, revelou a<br />
tônica da estratégia do seu governo para<br />
tirar o país da crise: investimentos <strong>em</strong> ciência<br />
e tecnologia. É pela inovação que<br />
Obama pretende recuperar as áreas de<br />
educação, energia e saúde, escolhidas<br />
como prioridades para garantir o futuro<br />
da economia norte-americana. Com investimentos<br />
<strong>em</strong> energias renováveis e<br />
pesquisas para aumentar a eficácia dos<br />
sist<strong>em</strong>as de saúde e educação, o presidente<br />
traçou o caminho para aumentar a<br />
competitividade e restaurar a supr<strong>em</strong>acia<br />
dos Estados Unidos.<br />
Outros países seguiram caminhos s<strong>em</strong>elhantes<br />
e a inovação assumiu papel de<br />
destaque nas agendas anticrise. No Brasil,<br />
ainda é tímida a estratégia para fortalecer<br />
o papel da inovação como ferramenta de<br />
combate aos efeitos da crise. Apesar de<br />
lançar pacotes como o de desoneração<br />
fiscal de alguns setores e outras medidas<br />
de curto prazo, o governo brasileiro ainda<br />
não deixou claro qual será a sua reação<br />
para proteger e estimular a inovação durante<br />
a crise econômica mundial.<br />
“A atuação do governo na área de Ciência,<br />
Tecnologia e Inovação (CT&I) ganha<br />
MIGUEL ANGELO/ CNI<br />
pro<strong>em</strong>inência <strong>em</strong> momentos de crise. Diferent<strong>em</strong>ente<br />
de outras áreas, não houve<br />
como consequência da crise econômica<br />
lançamento de políticas ou mesmo r<strong>em</strong>odelamento<br />
de mecanismos já existentes<br />
para CT&I no Brasil. Pelo contrário, o<br />
corte no orçamento do Ministério da Ciência<br />
e Tecnologia é um indicador (negativo)<br />
das prioridades do país”, avalia José<br />
Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento<br />
de Competitividade e Tecnologia<br />
da Federação das Indústrias do Estado de<br />
São Paulo (Fiesp).<br />
Coelho se refere ao corte de aproximadamente<br />
R$ 1,2 bilhão no orçamento do<br />
MCT, o equivalente a 18% do total proposto<br />
no orçamento para a pasta <strong>em</strong><br />
2009. Duramente criticado pela comunidade<br />
científica, o corte no orçamento foi<br />
minimizado pelo ministro Sérgio Rezende.<br />
De acordo com o ministro, o corte<br />
não prejudicaria as ações <strong>em</strong> andamento,<br />
como os Institutos Nacionais de Ciência<br />
e Tecnologia, o Sist<strong>em</strong>a Brasileiro de Tecnologia<br />
(Sibratec) e a subvenção econômica<br />
para as <strong>em</strong>presas.<br />
Ao agir na manutenção do aquecimento<br />
da d<strong>em</strong>anda interna, o governo começou<br />
a andar para trás na política de inovação.<br />
É o que afirma o economista<br />
Carlos Américo Pacheco, professor do<br />
Instituto de Economia da Universidade<br />
Estadual de Campinas (Unicamp). Para<br />
ele as políticas brasileiras de inovação e<br />
de desenvolvimento do setor produtivo<br />
precisam de adaptações. “São políticas<br />
consistentes e com bons acertos, mas voltadas<br />
para um contexto anterior. A crise<br />
compromete a eficiência dessas medidas<br />
e exige uma agenda mais criativa para a<br />
inovação”, afirma.<br />
O economista cita como ex<strong>em</strong>plo a Lei<br />
do B<strong>em</strong> (Lei 11.196/05), que trata de incentivos<br />
fiscais para pessoas jurídicas que<br />
realizam pesquisa e desenvolvimento de<br />
inovação tecnológica. “Os incentivos previstos<br />
na Lei do B<strong>em</strong> envolv<strong>em</strong> deduções<br />
no Imposto de Renda e na Contribuição<br />
Social sobre Lucro Líquido (CSLL). Nesse<br />
momento de crise o lucro das <strong>em</strong>presas<br />
será drasticamente comprometido e a lei<br />
perde seu efeito”, diz Pacheco.<br />
A adaptação da Lei do B<strong>em</strong> é um dos<br />
t<strong>em</strong>as que a Associação Nacional de Pesquisa<br />
e Desenvolvimento das Empresas<br />
Inovadoras (Anpei) já está debatendo<br />
com o governo na busca de medidas anticrise<br />
de estímulo à inovação. “Como a<br />
Lei se torna inócua quando as <strong>em</strong>presas<br />
têm prejuízo, estamos solicitando ao governo<br />
que as deduções possam ser acumuladas<br />
para os anos seguintes”, explica<br />
Maria Angela do Rego Barros, presidente<br />
da Anpei.<br />
A Fiesp também propõe mudanças para<br />
ampliar o acesso das <strong>em</strong>presas aos benefícios<br />
da Lei do B<strong>em</strong>. “É necessário que o<br />
governo crie mecanismos que permitam a<br />
utilização da lei pelas <strong>em</strong>presas que declaram<br />
com lucro presumido, <strong>em</strong> geral<br />
micro e pequenas. Outra proposta da<br />
Fiesp é que o governo permita o uso<br />
de créditos tributários acumulados <strong>em</strong><br />
qualquer tributo federal para aplicações<br />
comprovadas <strong>em</strong> P&D ou <strong>em</strong> projetos estruturantes<br />
de interesse da política industrial”,<br />
sugere Coelho.<br />
Dinheiro para inovar<br />
Para o economista Carlos Américo Pacheco,<br />
as políticas produtivas também<br />
precisam ser adaptadas para o momento<br />
onde há menos volúpia de investimento<br />
privado. “É necessária uma revisão dos<br />
instrumentos de apoio à inovação para<br />
não retirar o investimento das <strong>em</strong>presas<br />
nesse momento <strong>em</strong> que elas mais precisam”,<br />
explica Pacheco.<br />
Manter e ampliar o crédito para a inovação<br />
durante a crise também é uma das<br />
preocupações da Financiadora de Estudos<br />
e Projetos do Ministério da Ciência e<br />
Tecnologia (Finep), de acordo com o diretor<br />
de inovação do órgão, Eduardo<br />
Costa. “Nesse cenário de crise a d<strong>em</strong>anda<br />
por financiamento aumentou muito,<br />
não apenas por que o crédito no sist<strong>em</strong>a<br />
Obama: investimentos<br />
<strong>em</strong> C&T para fortalecer<br />
a economia americana<br />
Coelho, da Fiesp:<br />
Lei do B<strong>em</strong> precisa<br />
se adequar a micro e<br />
pequenas <strong>em</strong>presas<br />
FOTOS: DIVULGAÇÃO<br />
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Locus • Abril 2009<br />
Locus • Abril 2009<br />
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