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internacional
Bru n o Mo r e s c h i
O valor das novatas
Pesquisa mostra que Obama está certo ao investir nas
incubadoras como uma das saídas para a crise mundial
Sem esconder o apreço pela comparação,
o presidente norte-americano
Barack Obama sempre abre um largo sorriso
quando algum jornalista compara
seu plano anticrise ao de Franklin Delano
Roosevelt. Líder dos Estados Unidos de
1933 a 1945, Roosevelt foi audacioso e
certeiro ao injetar ainda mais dinheiro na
economia em detrimento de uma contenção
de gastos públicos durante a Grande
Depressão, a mais severa crise do século
XX. Passados 45 anos, Obama faz algo semelhante.
Em recente entrevista ao jornal
New York Times, afirmou a intenção de
shutterstock
construir estradas, erguer pontes, rasgar
o horizonte com arranha-céus tal qual
um Roosevelt contemporâneo. Todavia,
ele avisa: o plano não será uma simples
cópia do que fizeram no passado. Além
de investir na infraestrutura, o presidente
pretende também usar uma parte ainda
não especificada dos US$ 850 bilhões
destinados para a criação de empregos
num modelo de negócio de ótima relação
custo-benefício: as incubadoras.
Assim como no Brasil, nas incubadoras
norte-americanas novas empresas encontram
um espaço com infraestrutura, serviços
compartilhados, assessoria técnica e
jurídica, além de incentivos governamentais
que podem aliviar a alta carga de tributos.
Se depender de um estudo da National
Business Incubation Association
(NBIA), divulgado em janeiro deste ano,
Obama está absolutamente correto em investir
nesses espaços. De acordo com a
pesquisa, as incubadoras norte-americanas
produzem pelo menos 20 vezes mais
empregos do que a construção de portos,
hidrelétricas, estradas e outras grandes
obras. E mais: tudo isso com o governo
gastando muito menos. Para os cofres públicos,
o custo de um empregado nas incubadoras
varia entre US$ 144 a US$ 216,
enquanto no setor de infraestrutura pode
chegar a US$ 6,8 mil. Como se não bastasse,
estudos anteriores mostram que a cada
US$ 10 mil investidos pelo governo, as
empresas residentes em incubadoras são
capazes de produzir entre 46,3 a 69,4 novos
empregos – a taxa para empresas mais
maduras é de 2,2 a 5 empregos.
Números tão chamativos como esses
provam que as incubadoras podem ser vitais
neste momento, em que a taxa de desemprego
nos Estados Unidos beira os 8%.
Por telefone, a presidente da NBIA Dinah
Adkins afirma: “É claro que concordamos
que os investimentos devem ser feitos
também em obras. Entretanto, as incubadoras
merecem ser tratadas como a galinha
dos ovos de ouro neste momento tão
difícil para o mundo. Além de criarmos
muito mais empregos do que as empresas
maiores, nós também entregamos ao país
novos empreendedores que, no futuro,
propiciarão ainda mais vagas no mercado
de trabalho.” É uma espécie de círculo
virtuoso que não só ajuda os Estados Unidos
a saírem do buraco em que se encontram.
Grande parte das empresas que está
nas incubadoras atua em áreas inovadoras
e investir nelas pode ser o segredo para o
país se recuperar sem perder a primazia
que possui na economia global.
Adkins também destaca o orgulho das
incubadoras: 87% dos negócios gerados
O retorno do investimento
Tipo de
projeto
Postos de trabalho gerados
(a cada US$ 10 mil investidos)
nelas se tornaram empresas autônomas
que continuam em funcionamento nos
Estados Unidos. “Pode reparar no meu
tom de voz. Estou otimista, algo raro entre
o empresariado norte-americano. Vamos
vencer essa nova crise com um tipo
de negócio que não tínhamos na depressão
de 1929.”
No próximo semestre, a NBIA deve começar
uma extensa pesquisa sobre a participação
das incubadoras na economia
dos países da América Latina. Os números
que conhecemos até hoje provam que
ainda temos muito que aprender com os
norte-americanos. Por lá, há pelo menos
1.400 incubadoras. Nelas, concentram-se
27 mil empresas, que empregam mais de
100 mil funcionários e geram um rendimento
anual de 17 bilhões de dólares. No
Brasil, os números ainda são tímidos.
Segundo dados da Associação Nacional
de Entidades Promotoras de Empreendimentos
Inovadores (Anprotec), o país
possui cerca de 150 incubadoras, número
que não chegava a uma dezena em 1991.
“É preciso vocês, brasileiros, aterem-se
não apenas ao aumento de incubadoras,
mas na média de empresas que cada uma
delas comporta”, avisa Adkins. Ela tem
razão. Por aqui, cada incubadora possui
uma média de 10 empresas – número que
chega ao dobro nos Estados Unidos.
Custo por
emprego (US$)
Incubadoras
de empresas 46,3 a 69,4 144 a 216
Comércio 9,6 a 13,4 744 a 1.008
Rodovias e
transportes 4,4 a 7,8 1.291 a 2.293
Infraestrutura
industrial 5 a 7,3 1.377 a 1.999
Infraestrutura
comunitária 1,5 a 3,4 2.920 a 6.872
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