Individual 24 Claudio Rodrigues Coraçao - SBPJor
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Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo<br />
VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo<br />
UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), novembro de 2008<br />
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textual atrelado aos códigos jornalísticos, do que em uma configuração moldada à<br />
tradição de um estilo romanesco extremamente autônomo e arraigado.<br />
Entretanto, trata-se de um fenômeno envolto em um cenário muito sensível (os<br />
anos do regime ditatorial militar) em que os ingredientes temáticos desempenham<br />
fatores de resistências a modelos hegemônicos praticados 4 .<br />
Ferreira (2004), em referência a J.S. Faro, identifica o fenômeno do romancereportagem<br />
como o resgate de uma tradição literária brasileira pulsante, “bruta”,<br />
“cortante”, “política” 5 .<br />
Cosson (2005) ratifica o posicionamento de Ferreira quando diz que o romancereportagem<br />
se utiliza de um referencial narrativo oriundo de uma tradição naturalistarealista<br />
brasileira (sobretudo o regionalismo realista dos anos 30) e pontua que a matriz<br />
discursiva do romance-reportagem está fincada em três fatores decisivos: (1) o bloco<br />
temático do romance-reportagem é oriundo de um aspecto singular de envolvimento<br />
com uma “realidade” alijada dos processos de apreensão jornalísticos. Tais temas<br />
fazem parte, nesse contexto, de um ideário de tematização simbólica de representação<br />
nacional. Assim, há a confecção, por mais heterogênea que possa parecer, que evidencia<br />
a contextualização de temática discursiva; (2) a base jornalística, fincada na figura do<br />
repórter decodificando o real, é invadida pelos aportes da imaginação. Portanto, é dessa<br />
maneira que os aspectos de convergência entre literatura e jornalismo adquirem um<br />
status de posicionamento literário, visto que o jornalismo se estabelece como um<br />
modelo de narração estabelecido em diversos pontos de vista; (3) Cosson estabelece,<br />
pois, a configuração de um gênero híbrido – o romance-reportagem – marcado,<br />
evidentemente, pela verificação da “contaminação” da reportagem pela “fantasia<br />
ficcional”, a fim de que o preenchimento do acontecimento factual adquira angulações<br />
múltiplas.<br />
Com isso ocorre uma discussão envolta em tal fenômeno editorial e, também<br />
textual, em que o tom jornalístico é moto preponderante em sua análise. Assim, no<br />
4 Cosson (2005); “Uma das primeiras explicações para a existência do romance-reportagem no Brasil foi a ação da<br />
censura. Considerado como uma produção cultural específica de sua época, o romance-reportagem seria o resultado<br />
ou o sub-produto da censura e da repressão do regime ditatorial no campo do jornalismo. Essa origem, de cunho mais<br />
geral e por isso mesmo assimilada a uma tendência da década de 1970, toma como ponto de partida a estreita relação<br />
temática e formal atestada na época entre literatura e jornalismo. Essa relação íntima não se faz gratuitamente. De<br />
acordo com a crítica, o clima de jornal da literatura dos anos 1970 foi determinado pela ditadura militar”. (Cosson:<br />
2005, p.61).<br />
5 Ferreira (2004): “Para J.S. Faro (1982), apresentando interessante análise do desenvolvimento da literatura<br />
brasileira, a emergência explosiva da ficção nos anos 70 e o comportamento dessa produção literária indicam um<br />
“corpo a corpo” dos autores com a vida brasileira, que chega a ocupar o próprio papel da imprensa, a criar o romancereportagem,<br />
o testemunho, o documento. Faro liga tal desempenho diretamente a uma posição crítica – não cooptada<br />
pelo sistema -, de denúncia e, principalmente, de resistência”. (Ferreira: 2004, p.301).