Individual 24 Claudio Rodrigues Coraçao - SBPJor
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Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo<br />
VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo<br />
UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), novembro de 2008<br />
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Fato e ficção<br />
Um dos estatutos da prática literária é a ficcionalização. O componente ficcional<br />
é um atributo essencial para o desenvolvimento de uma representação estética, por<br />
vezes, “fantasiosa” do real. Mais do que emoldurar um arsenal de simulações e<br />
intenções, a criação estética literária estabelece, em seu próprio corpo, portanto, um<br />
efeito de descontinuidade, de ruptura com acontecimentos ditos factuais e, sobretudo,<br />
verídicos.<br />
Embora a verossimilhança seja um elemento, principalmente no texto realistanaturalista,<br />
essencial para a decodificação dos objetos sociais, a ficção traz, em seu<br />
cerne, o advento da “invenção”, da “criação” estética. Utilizando-se os níveis de<br />
expressão e conteúdo respectivamente: as linguagens de denotação e conotação, quase<br />
por um impulso, categorizar-se-ia a arte literária como fruto conotativo:<br />
“A linguagem literária constitui, com efeito, uma linguagem de conotação,<br />
pois o seu plano da expressão é constituído por uma linguagem de<br />
denotação, que é o sistema lingüístico. Na produção do texto literário, o<br />
sistema lingüístico é conotado (...) por outros códigos: códigos retóricos,<br />
estilísticos, técnico-literários, ideológicos” (Aguiar e Silva: 1976, p.34).<br />
Ora, se a linguagem literária se desenvolve com os aparatos de uma falseação do<br />
teor denotativo, referencial, não se deve esquecer, por outro lado, da verificação<br />
pulsante que a envolve. Ou seja, ao se constituir em diversas camadas representativas, a<br />
criação literária e, especificamente, a ficção, adentra territórios sugestivos de ação<br />
verossímeis. Dessa maneira, elementos como a sonoridade, os gestos, as experiências,<br />
os fluxos, os pontos de vista se perambulam em diferentes representações com<br />
diferentes objetivos estéticos.<br />
Nesse contexto, a ficção se sedimenta como uma prática autônoma de forte<br />
caráter dialógico, de cunho predominantemente literário, já que seu funcionamento é<br />
condicionado no próprio exercer funcional da literatura. A ficção se constitui, pois, na<br />
chamada literariedade 3 .<br />
Mas, não seria o ato ficcional ambíguo, na medida em que os elementos devem<br />
ser verossímeis e “fantasiosos” ao mesmo tempo? Ou seja, devem se fazer<br />
3 Aguiar e Silva (1976): “A ciência da literatura [para os formalistas russos] deve estudar a literariedade, isto é, o que<br />
confere a uma obra a sua qualidade literária, aquilo que constitui o conjunto dos traços distintivos do objeto literário.<br />
Este princípio fundamental das suas doutrinas conduziu logicamente os formalistas à tarefa de definir os caracteres<br />
específicos do fato literário”. (Aguiar e Silva: 1976, p.559).