CL 07 . ANA LAURA COLOMBO DE FREITAS - SBPJor
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<strong>SBPJor</strong> – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo<br />
VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo<br />
USP (Universidade de São Paulo), novembro de 2009<br />
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peus (especialmente os alemães) e herdara a concepção da prática musical como sinônimo<br />
de educação refinada. Neste contexto, não é difícil depreender que a figura aparentemente<br />
sisuda do tradutor alemão refugiado no Brasil angariasse o respaldo da sociedade<br />
provinciana local.<br />
O espaço fixo de Caro no jornal, assim, configurava-se como um espaço ideal<br />
para a propagação do ideal de formação através das artes e ainda, no caso, na tese mais<br />
romântica, através da mais independente das artes, a música – de acordo com Vermes<br />
(20<strong>07</strong>). Neste território, Caro abraça a idéia de difusão da “música fina” (como se referia<br />
à tradição erudita européia na maioria de suas colunas). E, para tanto, vale-se de um<br />
viés popularizador como o faziam Steele e Addison no século XVIII e os homens de<br />
letras do século XIX, afirmando que essa arte podia ser acessível a todos. Na coluna de<br />
30 de março de 1968, no Caderno de Sábado, por exemplo, refere à cultura como um<br />
processo, de modo que a música erudita estaria ao alcance daquele que tivesse algum<br />
acesso: “Pois não é só de Roberto Carlos que vive o discófilo. Seu regime alimentar requer<br />
também algumas colheradas daquela música que erroneamente se costuma qualificar<br />
de “erudita”, apesar de ser apenas saudável e refrescante para as almas de quaisquer<br />
pessoas de cultura mediana”.<br />
Naquele mesmo texto acima referido, publicado em O Estado de São Paulo, Caro<br />
compara a música erudita com uma língua estrangeira:<br />
Música clássica é uma língua que se aprende aos poucos. Assim como nenhum<br />
estudante de inglês ou italiano tentará no primeiro ano ler Shakespeare<br />
ou Dante no idioma original, o calouro de música 'fina' não deverá iniciar sua<br />
discoteca com os últimos quartetos de Beethoven ou seus congêneres de Bártok<br />
e Schönberg, por mais que fascinem o 'melômano' traquejado (CARO,<br />
1983, p. 13).<br />
No sentido não pejorativo de ideologia proposto por Thompson (1995), portanto,<br />
a coluna Os melhores discos clássicos, de Herbert Caro, operou de forma a legitimar o<br />
sentido dominante de cultura como as artes e as humanidades. Incentivando a compra<br />
dos discos, à época, muito caros, reforçou a idéia de que a cultura é para poucos, no caso,<br />
os letrados leitores do jornal mais tradicional do Rio Grande do Sul.