análise dos dados referentes à aids no estado de são paulo
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Boletim Epi<strong>de</strong>miológico ANO XXV – Nº 1<br />
ensaios clínicos termina<strong>dos</strong> antes do previsto <strong>de</strong>vido aos benefícios<br />
encontra<strong>dos</strong> (Montori et al., 2005) indica que os resulta<strong>dos</strong><br />
<strong>de</strong>sses estu<strong>dos</strong> <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> com cuidado e crítica.<br />
De 143 estu<strong>dos</strong> i<strong>de</strong>ntifica<strong>dos</strong> na revisão, a maioria <strong>de</strong>les (92) era<br />
<strong>de</strong> medicamentos financia<strong>dos</strong> pela indústria em câncer, cardiologia<br />
e HIV. Os autores observaram que a proporção <strong>de</strong> ensaios<br />
clínicos que terminam antes tem aumentado significativamente:<br />
<strong>de</strong> 0,5% em 1990-1994 para 1,2% em 2000-2004.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista metodológico a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> terminar<br />
os ensaios clínicos mais cedo também é controversa. Pocock<br />
(2005) recomenda que a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> terminar um ensaio clínico<br />
tenha um limite estatístico do resultado primário pré-<strong>de</strong>fi nido<br />
e que esse limite seja rigoroso (por exemplo, evidência muito<br />
forte das diferenças do tratamento com um valor <strong>de</strong> p muito<br />
peque<strong>no</strong>). Além disso, os benefícios <strong>dos</strong> estu<strong>dos</strong> que terminam<br />
antes, frequentemente não se mantêm se avalia<strong>dos</strong> por mais<br />
tempo e os efeitos do tratamento são geralmente superestima<strong>dos</strong><br />
(Montori et al., 2005). No caso <strong>dos</strong> ensaios clínicos sobre a<br />
circuncisão po<strong>de</strong>-se argumentar que não se sabe se os efeitos<br />
encontra<strong>dos</strong> se manteriam caso os estu<strong>dos</strong> continuassem por<br />
mais tempo.<br />
Efeito Protetor da Circuncisão Masculina – Mecanismos<br />
biológicos<br />
Os mecanismos biológicos consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> responsáveis<br />
pelo efeito protetor da circuncisão <strong>no</strong>s homens parecem estar<br />
associa<strong>dos</strong> a dois fatores biológicos: a remoção das células <strong>de</strong><br />
Langerhans do prepúcio e a queratinização da mucosa da glan<strong>de</strong><br />
do pênis (Quinn, 2007).<br />
Remoção das células <strong>de</strong> Langerhans: A face interna do<br />
prepúcio contém células <strong>de</strong> Langerhans, que são ricas em receptores<br />
do vírus. A circuncisão removeria o local <strong>de</strong> entrada do HIV<br />
(Quinn, 2007). No entanto, <strong>de</strong> acordo com Cold & Taylor (1999) a<br />
circuncisão não remove totalmente essas células e mesmo após<br />
o procedimento há células <strong>de</strong> Langerhans na haste peniana.<br />
Queratinização: a circuncisão leva a um aumento da queratinização<br />
da mucosa da glan<strong>de</strong>, cobrindo toda a superfície<br />
do pênis. Como a glan<strong>de</strong> se torna mais seca e dura, diminui o<br />
atrito e fornece uma barreira protetora contra a infecção pelo<br />
HIV (Quinn, 2007).<br />
Há ainda um terceiro mecanismo indireto consi<strong>de</strong>rado<br />
protetor. A circuncisão diminui o risco <strong>de</strong> úlcera genital, que está<br />
associada com aumento do risco <strong>de</strong> infecção e transmissão<br />
do HIV (Weiss, Thomas, Munabi, & Hayes, 2006), portanto a<br />
circuncisão diminuiria o risco do HIV.<br />
Circuncisão e Doenças Sexualmente Transmissíveis<br />
Os estu<strong>dos</strong> sobre a associação da circuncisão com as<br />
DST são contraditórios. Uma revisão bibliográfi ca publicada<br />
em 1999 (van Howe, 1999) concluiu que não havia evidências<br />
epi<strong>de</strong>miológicas que indicassem que a circuncisão protegia<br />
contra as DST. Já a revisão <strong>de</strong> Weiss et al. (2006) mostra que<br />
os homens circuncida<strong>dos</strong> apresentavam me<strong>no</strong>s risco para úlcera<br />
genital e sífi lis, mas não para herpes simples. Por outro lado,<br />
não foram encontradas diferenças entre homens circuncida<strong>dos</strong><br />
e não circuncida<strong>dos</strong> e presença <strong>de</strong> DST em um estudo realizado<br />
na Nova Zelândia (Dickson, van Roo<strong>de</strong>, Herbison, & Paul, 2008).<br />
Homens nasci<strong>dos</strong> em 1972 e 1973 foram entrevista<strong>dos</strong> na ida<strong>de</strong><br />
adulta aos 18, 21, 26 e 32 a<strong>no</strong>s. A porcentagem <strong>de</strong> homens que<br />
tiveram alguma DST foi praticamente a mesma: 23,4% para toda<br />
a coorte, 23,4% para os circuncida<strong>dos</strong> e 23,5% para os não<br />
circuncida<strong>dos</strong>. Também não houve diferenças entre os grupos<br />
para DST específi cas.<br />
Estu<strong>dos</strong> realiza<strong>dos</strong> em outros países oci<strong>de</strong>ntais como os<br />
Esta<strong>dos</strong> Uni<strong>dos</strong> (Laumann, Masi, & Zuckerman, 1997), Grã Bretanha<br />
(Dave et al., 2003) e Austrália (Richters, Smith, <strong>de</strong> Visser,<br />
Grulich, & Rissel, 2006) para avaliar os efeitos da circuncisão e<br />
DST também não encontraram diferenças entre homens circuncida<strong>dos</strong><br />
e não circuncida<strong>dos</strong> para adquirir DST.<br />
Circuncisão e prevenção <strong>de</strong> DST/HIV nas mulheres<br />
Um número me<strong>no</strong>r <strong>de</strong> estu<strong>dos</strong> discute o efeito da circuncisão<br />
masculina como forma <strong>de</strong> prevenção para as mulheres.<br />
Em um estudo realizado em Uganda e <strong>no</strong> Zimbábue (Turner<br />
et al., 2007) não foi encontrada associação entre o risco <strong>de</strong><br />
HIV em mulheres e a circuncisão <strong>de</strong> seus parceiros principais.<br />
As análises não ajustadas indicaram que as mulheres com<br />
parceiros circuncida<strong>dos</strong> tinham me<strong>no</strong>s risco para HIV do que<br />
aquelas com parceiros não circuncida<strong>dos</strong>. No entanto, o efeito<br />
protetor <strong>de</strong>sapareceu nas análises ajustadas para outros fatores<br />
<strong>de</strong> risco. Já um estudo caso-controle <strong>no</strong> Quênia indicou que<br />
as mulheres que tinham parceiros não circuncida<strong>dos</strong> tinham<br />
o risco para HIV aumentado em três vezes (Hunter, Maggwa,<br />
Mati, Tukei, & Mbugua, 1994).<br />
A análise <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> estu<strong>dos</strong> caso-controle sobre os<br />
efeitos da circuncisão e infecção por HPV em homens e o risco<br />
<strong>de</strong> câncer cervical das suas parceiras indicou que a circuncisão<br />
po<strong>de</strong> ter um efeito protetor (Castellsagué et al., 2002). O HPV foi<br />
<strong>de</strong>tectado em 19,6% <strong>dos</strong> homens não circuncida<strong>dos</strong> e em 5,5%<br />
<strong>dos</strong> circuncida<strong>dos</strong> (p