Ano V • nº 98 • 25 de maio a 7 de junho • R$ 3,50 - Roteiro Brasília

FOTOS: CARLOS SILVAde todos os documentos referentesàs operações militares no Araguaia,documentos com os quais RonaldoDuque não pôde contar para, ao lado deGuilherme Reis e Paula Simas, escrevero roteiro do filme. O diretor e seuscolaboradores tiveram que contar comrelatos de alguns dos remanescentesdos acontecimentos do Araguaia, comoCriméia Alice, ao lado de Genoíno umadas poucas sobreviventes da trágicaexperiência de guerrilha rural que,entre os anos de 1970 e 1975, tiveramlugar num obscuro território fronteiriçoentre os Estados do Pará, Tocantins eMaranhão.Premiado em diversos festivaisinternacionais e nacionais (recebeuo Prêmio Especial do Júri do Festivalde Gramado em 2004, o troféu deMelhor Filme do New York BrazilianFilm Festival e o Prêmio Especial deLa Juria do 20º Festival do CinemaLatino Americano de Trieste, na Itália,ano passado), além de participaçãoassegurada em vários outros eventosde cinema este ano (vai estar em junhona mostra do Festival de Cinema deEstocolmo, na Suécia), Araguaia,a Conspiração do Silêncio tem suagrande força no fato de narrar históriasde vida reais. Oswaldão (NorthonNascimento) vive Oswaldo OrlandoCosta, estudante de engenharia quefez curso de guerrilha na China. Velho(Cacá Amaral) é Maurício Grabois,dirigente do PCdoB que foi deputadocomunista em 1946. Zé Carlos (DantonMello) é André Grabois, desaparecidona guerrilha aos 27 anos. Padre Chico(Stephane Brodt), figura central dofilme, é inspirado nos dominicanosAristides Camiou e François Gouriou,expulsos do país pelos militares.A IMPORTÂNCIA DO FILME para oresgate da memória político-social dopaís é inquestionável. Ele contextualizaa guerrilha do interior do país comouma conseqüência do quadro dasrevoltas urbanas que pipocaramnas principais capitais brasileirasdepois que o governo militar apertouo cerco da repressão. Os grupos deluta armada iniciaram suas primeirasações em 1968, apesar da oposição doPartidão (PCB), principal organizaçãode esquerda do país. Insatisfeito,Carlos Marighela forma a Aliançade Libertação Nacional (ALN) que,juntamente com outros grupos, comoa AP, o MR-8 e a VRP, parte para oconflito direto. Bombas colocadas emlugares estratégicos e as chamadas“expropriações” (assaltos a bancos parafinanciar a luta revolucionária) fazemos militares procurarem um pretextopara reforçar a linha dura.O pretexto foi o discurso dodeputado Márcio Moreira Alves,incitando a população a boicotar aparada militar de 7 de setembro. Aí veioRonaldo Duque: tal qual o alemão Werner Herzog,filmando em condições precárias na selva amazônicao AI-5. As ações de guerrilha urbana,porém, aumentaram significativamentea partir de 1969. A tortura passou a serum instrumento habitual da repressão.Os grupos armados adotaram entãoa tática do seqüestro de membros docorpo diplomático estrangeiro com oobjetivo de trocá-los por prisioneirospolíticos. Para os militares, a gotad’água foi o episódio com o embaixadornorte-americano Elbrick, trocado por15 militantes enviados para o México.O recrudescimento da repressão feza guerrilha urbana declinar. É nessemomento que o PCdoB resolve instalarum foco de guerrilha rural na região dochamado Bico do Papagaio. São seustrágicos desdobramentos que vemosretratados em Araguaia, a Conspiraçãodo Silêncio. Para o bem ou para o mal,são os heróis românticos do filme (eda vida real) os protagonistas de umaaventura que construiu e constitui umaparte indissociável do Brasil de hoje.Araguaya, a Conspiração do SilêncioDireção: Ronaldo Duque. Com NorthonNascimento, Françoise Forton, Danton Mello,Fernando Alves Pinto, Stephane Brodt, ThierryTremouroux, Cláudio Jaborandy, Narciza Leão,Fernanda Maiorano, Rosanne Holland, BrenoMoroni, Cacá Amaral, Rômulo Augusto, WilliamFerreira, Pablo Peixoto e Adriano Barroso.Em exibição no Cinemark Pier 21, EmbracineCasaPark e Circuito Academia.29