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Ano V • nº 98 • 25 de maio a 7 de junho • R$ 3,50 - Roteiro Brasília

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LUZ CÂMERA AÇÃOA primaziada imagemDIVULGAÇÃOArte em Movimento exibe filmes que têmna fotografia a essência <strong>de</strong> sua linguagemOrson Welles no clássicoCidadão Kane, <strong>de</strong> 1941SÉRGIO MORICONIExperiência audiovisual porexcelência, com a consolidação ehegemonia <strong>de</strong> Hollywood a partir dosanos 30, o cinema foi pouco a pouco<strong>de</strong>sandando para uma espécie <strong>de</strong>primo pobre do teatro e da literatura.Vilões da chamada sétima arte, osexecutivos dos gran<strong>de</strong>s estúdios norteamericanostinham como dogma “umbom filme nada mais é do que uma boahistória bem contada”. Parcialmenteverda<strong>de</strong>iro, lei suprema da narrativaclássica, o lema acabou por <strong>de</strong>ixar numplano absolutamente secundário emenor a dimensão plástica das obrascinematográficas. Felizmente, parasatisfação daqueles que acreditam num“cinema puro” – ou menos impuro–, autônomo em relação a outraslinguagens narrativas (por isso ele seriauma “sétima arte”), a imagem nãorecebeu a sua extrema-unção.Arte em Movimento, mostraque tem a curadoria do jornalista ecineasta Gustavo Galvão, apresentainúmeros exemplos <strong>de</strong> filmes, dos maisdiferentes períodos históricos, em quea fotografia é elemento fundamentalna composição e no conceito da obraem si. Ela não é apenas a cereja do boloou a azeitona da empada. Dois bonsexemplos são os longas mais antigosda mostra, o brasileiro Limite (1931),<strong>de</strong> Mário Peixoto, e O Atalante (1934),do francês Jean Vigo. Cada um à suamaneira, eles se filiam à vanguardafrancesa dos anos 20 e 30, movimentoque reuniu realizadores oriundos dasartes plásticas, da poesia, da fotografia,<strong>de</strong> expressões visuais abstratas <strong>de</strong>um modo geral – como Man Ray, JeanCocteau, Fernand Léger, GermaineDulac etc – e que reivindicava o cinemacomo uma expressão livre, não-realista,muito mais próxima da pinturanão-figurativa do que <strong>de</strong> qualquerlinguagem narrativa convencional.EMBORA TENHAM PARTICIPADO domovimento da avant-gar<strong>de</strong> francesa <strong>de</strong>forma apenas parcial (caso <strong>de</strong> Vigo) ouapenas por afinida<strong>de</strong> (caso <strong>de</strong> Peixoto),seus filmes tiram sua força muito maisdaquilo que vemos do que daquilo queé dito em diálogos que, supostamente,guiariam a narrativa. Charles Chaplinfoi um dos primeiros criadores adizer que a fala seria o atestado <strong>de</strong>óbito do cinema baseado na poesiadas imagens. Com o distanciamentohistórico, só não po<strong>de</strong>mos dizer queele estava inteiramente certo porque,embora a indústria <strong>de</strong> cinema tenhatransformado os filmes em teatroilustrado, muitos dos mais criativosrealizadores se <strong>de</strong>dicaram a preservarem seus filmes a fotografia como um doselementos fundamentais <strong>de</strong> suas obras.O norte-americano Orson Welles é umdos que se valeram do aperfeiçoamentodas lentes gran<strong>de</strong>-angulares para criarum dos paradigmas fotográficos docinema mo<strong>de</strong>rno, baseado em planossequênciacomplicadíssimos, queexigiam gran<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> focoem cenas praticamente filmadas àmeia-luz. Em Cidadão Kane (1941),auxiliado pelo genial fotógrafo GreggToland, Welles concretizaria muitodo que estava apenas esboçado emA Regra do Jogo (1939), obra-primado diretor Jean Renoir. Esteticamente,esses dois filmes rompiam com aescola russa dos anos 20, a vanguardasoviética, que tem em Eisenstein o seu<strong>maio</strong>r representante. O EncouraçadoPotemkin (19<strong>25</strong>), reconhecidamente umdos filmes mais influentes da históriado cinema mundial, estabeleceu,com sua intricada justaposição <strong>de</strong>planos muito próximos, nem tãopróximos, muito abertos e assim pordiante – como se fossem fotos fixascom movimento e cujas partes só sefaziam compreen<strong>de</strong>r inteiramenteem conjunto – uma poética quaseconcretista das imagens.30

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