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Presença musical italiana na formação do teatro brasileiro - ArtCultura

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10PRADO, Décio de Almeida.Teatro de Anchieta a Alencar.São Paulo: Perspectiva, 1993,p. 121.11ALENCASTRO, Luiz Felipe.Vida privada e ordem privadano Império. In: ALENCAS-TRO (org.). História da vidaprivada no Brasil – Império: acorte e a modernidade <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.São Paulo: Companhiadas Letras, 1997, p. 47.12Ver MAUAD, A<strong>na</strong> Maria.Imagem e auto-imagem <strong>do</strong>Segun<strong>do</strong> Rei<strong>na</strong><strong>do</strong>. In: ALEN-CASTRO, Luiz Felipe (org.).História da vida privada no Brasil– Império: a corte e a modernidade<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l. São Paulo:Companhia das Letras, 1997,p. 181-231. A viagem que D.Pedro realizara pela provínciafluminense no verão de1848, diz a autora, “contribuírapara ajudar a classe senhoriala construir sua auto-imagemà semelhança da imagem<strong>do</strong> Império. E qual era essaimagem? A imagem <strong>do</strong> próprioimpera<strong>do</strong>r? (p.184). Paramais adiante afirmar: “o Impera<strong>do</strong>ré a imagem <strong>do</strong> Império<strong>na</strong>s exposições universais,e a fotografia possibilita essaidentificação.” (p.197).13Adelaide Ristori, célebreatriz <strong>italia<strong>na</strong></strong> <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> <strong>do</strong>Risorgimento, <strong>na</strong>scida de paisartistas (Friuli, 1822– Roma,1906), foi membro, “nume tutelar”,da importante CompagniaReale Sarda, instituídapor decreto real de 1820,mas que pouco relevo teve no<strong>teatro</strong> italiano da época, sesua existência e seus decretosforem compara<strong>do</strong>s às perspectivasteatrais institucio<strong>na</strong>isreforma<strong>do</strong>ras pensadas pelosjacobinos e às proposiçõesatoriais de Gustavo Mode<strong>na</strong>.A Ristori, casada com o marquêsGrillo, de Paris empreendeuviagens pelo mun<strong>do</strong>,duas das quais contemplaramapresentações <strong>na</strong> Corte <strong>do</strong> Riode Janeiro. Cf. COSTETTI,Giuseppe. La Compagnia RealeSarda e il Teatro Italiano dal 1821al 1855. Bolog<strong>na</strong>: Ar<strong>na</strong>l<strong>do</strong>Forni, 1979 (re-impressãoa<strong>na</strong>stática, Milano, 1893)14Carlotta Augusta Angeoli<strong>na</strong>Candiani <strong>na</strong>sce em Milão a 3de abril de 1820 e chega noBrasil em 1843, onde passa aviver, como cantora e atriz.Morre em 1890, no Rio de Janeiro.Oitocentos <strong>brasileiro</strong>, é, ao meu ver, fundamental para compreender osenti<strong>do</strong> e as várias facetas que a lírica <strong>italia<strong>na</strong></strong> apresentou ao manifestarseno interior da comédia de costume. Ao levar em conta que o <strong>teatro</strong>lírico italiano encantava a Corte brasileira desde o perío<strong>do</strong> joanino, eque continuou sen<strong>do</strong> muito aprecia<strong>do</strong> e cultiva<strong>do</strong> pelo impera<strong>do</strong>r D.Pedro II, o estu<strong>do</strong> das relações entre música e <strong>teatro</strong> daquele perío<strong>do</strong>solicita mais que nunca uma abordagem cultural e política. Nesta direção,porém, a discussão ditada estritamente por gêneros literários ouestilos de espetáculo ou de atuação teatral resulta insuficiente ou mesmopouco útil para a compreensão da formação <strong>do</strong> <strong>teatro</strong> em nosso séculoXIX.No Brasil <strong>do</strong> Oitocentos, o <strong>teatro</strong> <strong>na</strong>sce e se desenvolve sob os ditames<strong>do</strong> romantismo europeu, no senti<strong>do</strong> de que faz sistema também comaquela ideologia da formação de um <strong>teatro</strong> <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, como se lê nos principaisestu<strong>do</strong>s da bibliografia corrente. No entanto, não se pode deixarde levar em conta o fato que este romantismo chega e se realiza no Brasilde mo<strong>do</strong> bastante particular. Pois, se, “de repente, em 1836, chega ao<strong>teatro</strong> <strong>brasileiro</strong>”, “de cambulhada”, como nos diz Décio de AlmeidaPra<strong>do</strong> 10 , todavia não consegue interromper a avalanche <strong>do</strong>s dramas históricosdiante <strong>do</strong>s quais a classe dirigente e os jovens intelectuais “bacharéis”verão reafirma<strong>do</strong> seu ambíguo pertencimento a uma histórianão limitada à elite monárquica exclusiva <strong>do</strong> “Novo Mun<strong>do</strong>”; dramasde uma ce<strong>na</strong> mais ampla em que os atores, agora <strong>brasileiro</strong>s e negros emgrande parte, não adquirem ou assumem outra consciência política quenão aquela de senti<strong>do</strong> bastante restrito, isto é “patriótico”.O Segun<strong>do</strong> Rei<strong>na</strong><strong>do</strong>, que perdurou da declaração de maioridade,em 1840, até a proclamação da República, em 1889, estabeleci<strong>do</strong> apósum perío<strong>do</strong> de regência em que eclodiram rebeliões por to<strong>do</strong> o país, alcançoualguma estabilidade. Os recursos monetários e econômicos —especialmente advin<strong>do</strong>s da extinção <strong>do</strong> tráfico de escravos (em 1850, sobpressão da revolução industrial inglesa, lembre-se) — permitiriam à elitedirigente e à classe abastada da Corte e de algumas províncias a importaçãode vários bens, inclusive culturais. A entrada de pianos e de professoresde música e de canto fez com que fossem rapidamente considera<strong>do</strong>spresenças obrigatórias em palácios, palacetes, solares ou casas urba<strong>na</strong>smais prósperas, nos saraus, nos bailes, como coloração da maissimples recepção. O piano, que era “objeto de desejo <strong>do</strong>s lares patriarcais”11 <strong>do</strong> Brasil colônia e <strong>do</strong> primeiro Império — e que se transformou,vale lembrar, em corriqueiro e indispensável elemento de composição dece<strong>na</strong> em tanta comédia de costume <strong>do</strong> Oitocentos <strong>brasileiro</strong> -, tornou-seentão importante símbolo da modernidade possível ao país, e pareceuabundar subitamente <strong>na</strong>s casas mais importantes da Corte e das cidadesde província, onde preceitos e costumes reais chegavam junto com oimpera<strong>do</strong>r D. Pedro II em estudadas e freqüentes visitas políticas, ou denegócios, sempre úteis à propaganda e à reafirmação da imagem <strong>do</strong>Império. 12O impera<strong>do</strong>r admirava a recitação de Adelaide Ristori 13 , que seapresentou no Brasil em duas temporadas, 1869 e 1874, e com a qual omo<strong>na</strong>rca manteve correspondência por muitos anos. Mas o impera<strong>do</strong>rapreciava muitíssimo Augusta Candiani 14 , cantora lírica responsável peloque teria si<strong>do</strong> uma verdadeira “mania da Norma”, de Bellini que tomou68<strong>ArtCultura</strong>, Uberlândia, v. 9, n. 15, p. 61-81, jul.-dez. 2007

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